O autor inicia o capítulo argumentando que a estrutura da proposta de pesquisa varia de
acordo com a utilização do método: quantitativo, qualitativo ou misto. Os tópicos da proposta de pesquisa devem estar correlacionados e fornecerem uma visão concisa do todo. Citando Maxwell (2005), o autor aponta que a proposta deve conter nove argumentos centrais, independentemente do método escolhido: 1. “O que os leitores precisam para entender melhor o seu tópico? 2.O que os leitores sabem pouco em termos do seu tópico? 3. O que você se propõe a estudar? 4. Qual é o cenário e quem são as pessoas que você estudará: 5. Quais métodos você planeja usar para fornecer dados? 6.Como você analisará os dados? 7.Como você validará suas descobertas? 8. Que questões éticas seu estudo apresentará? 9. O que os resultados preliminares mostram sobre a viabilidade e valor do estudo proposto?”. Creswell propõe dois modelos para um projeto em pesquisa qualitativa: 1. Perspectiva construtivista/ interpretivista: Introdução; apresentação do problema; objetivo do estudo e sua delimitação/; questões de pesquisa; procedimentos; pressupostos filosóficos da pesquisa qualitativa; estratégia de pesquisa qualitativa; papel do pesquisador; procedimento de coleta de dados; estratégias para validar descobertas; estrutura narrativa proposta do estudo; questões éticas; resultados esperados; apêndices (roteiro de entrevista, formulários de observação, cronograma e orçamento proposto). 2. Defesa/ participação da pesquisa qualitativa: Introdução; apresentação do problema; objetivo e delimitações do estudo; questões de pesquisa; procedimentos; pressupostos filosóficos da pesquisa qualitativa; estratégia da pesquisa qualitativa; papel do pesquisador; procedimentos de coleta, de registro e de análise dos dados; estratégias para validar descobertas; estrutura narrativa; questões éticas antecipadas; descobertas preliminares; mudanças esperadas de defesa/ participação; apêndices (roteiro de entrevista, formulários de observação, cronograma e orçamento proposto). Este formato tem alguns pontos semelhantes com a proposta anterior, mas se distingue porque o pesquisador identifica uma questão específica de defesa/participação que será explorada no estudo, realiza uma forma de coleta de dados colaborativa e pontua as mudanças que, possivelmente, ocorrerão no estudo. O autor sugere também um formato para um projeto com o método quantitativo e para métodos mistos: 1. Método quantitativo Introdução; apresentação do problema; objetivo e delimitações do estudo; referencial teórico hipóteses de pesquisa; revisão de literatura; métodos; tipo de projeto; população, amostra e participantes; instrumentos, variáveis e materiais de coleta de dados; procedimentos de análise de dados; questões éticas; estudos preliminares; anexos (instrumentos, cronograma e proposta orçamentária). 2. Métodos mistos: O pesquisador inclui abordagens de ambos os métodos, sendo importante apontar, no início do projeto, as razões para o uso de métodos mistos: Introdução; problema de pesquisa; pesquisas anteriores sobre o problema e suas falhas, bem como a necessidade de nova coleta de dados quantitativos e qualitativos; o público que se beneficiará com o estudo; objetivo e a justificativa para a escolha do método misto; hipóteses; bases filosóficas para o estudo com métodos mistos; o tipo de pesquisa; os desafios do uso de métodos mistos e como serão explanados; inclusão de um diagrama visual; coleta e análise de dados quantitativos; coleta e análise de dados qualitativos; procedimentos de análise de dados de métodos mistos; recursos e habilidades do pesquisador; questões éticas; cronograma; referências e apêndices. Para projetar a estrutura geral de uma proposta de pesquisa, o autor fornece algumas sugestões: Confecção de um esboço com as seções do projeto e analisá-lo em conjunto com o orientador, e observar se a instituição de ensino fornece capacitação em metodologia de pesquisa. Sobre a escrita, Creswell aponta que as ideias sejam trabalhadas em vários rascunhos, ao invés de se tentar aprimorar um único rascunho. Dessa forma, as ideias são vistas com mais clareza e podem ser mais bem aperfeiçoadas. A escrita sobre a proposta também necessita ser realizada de forma contínua e planejada, onde um tempo diário precisa ser dedicado para esta atividade. As ideias, na proposta, devem ser apresentadas de forma ordenada e coerente, sendo conectadas por meio de palavras de transição. Termos consistentes devem ser apresentados, e, sempre que uma variável (estudo quantitativo) ou fenômeno central (estudo qualitativo) forem citados, o mesmo termo precisa ser utilizado. É necessário também que sinônimos desses termos sejam evitados a fim de facilitar a compreensão do leitor. O projeto deve conter as ideias centrais que se está tentando transmitir, além de ideias específicas que reforçam as ideias centrais e ideias que mantenham a atenção do leitor. As ideias necessitam ser repassadas de forma lógica, sendo que cada ideia deve ser uma sequência da que a precedeu. Palavras desnecessárias precisam ser retiradas e deve-se evitar o uso da voz passiva. Frases repetitivas e citações muito extensas também necessitam ser evitadas. Creswell afirma que, na escrita acadêmica, a voz ativa deve ser utilizada. O tempo verbal a ser utilizado na revisão de literatura é o pretérito, sendo que o tempo futuro deve ser utilizado nas outras fases do projeto. Em estudos concluídos, o tempo presente é o mais indicado, sendo que, na descrição dos resultados é utilizado o tempo pretérito. A respeito das questões éticas, o autor aponta para a necessidade de proteção das pessoas envolvidas de do uso dos resultados da pesquisa. As questões éticas mais comuns atualmente correspondem a “divulgação pessoal, autenticidade e credibilidade do relatório de pesquisa, o papel do pesquisador em contextos interculturais e questões de privacidade pessoal por meio de formas de coletas de dados na internet”. Creswell pontua ainda a existência de códigos de conduta em cada área do conhecimento. Ressalta que a ética na pesquisa não está relacionada apenas à observância de códigos de conduta, mas diz respeito à antecipação e abordagens das questões éticas e dilemas que podem surgir durante a pesquisa. Salienta também que o problema de pesquisa apresentado não marginalize os seus participantes. Os objetivos da pesquisa devem ser transmitidos aos integrantes, a fim de estabelecer uma relação de confiança. Durante a coleta de dados, o pesquisador não pode expor os participantes a situações de risco e deve ainda respeitar as populações vulneráveis, considerando-as em suas necessidades. O pesquisador também deve desenvolver um termo de consentimento para que os participantes assinem antes da pesquisa. Tal documento atesta o direito dos indivíduos de que seus dados serão preservados durante a pesquisa. O local de realização da pesquisa também precisa ser respeitado, sendo que o pesquisador deve interferir o mínimo possível no ambiente. Além disso, a pesquisa deve trazer benefícios para todos os envolvidos. Em casos com o uso de entrevistas, os entrevistadores necessitam refletir sobre como a entrevista pode melhorar a situação do indivíduo, e sobre as consequências da entrevista para os participantes e para os grupos que integram. No procedimento de análise dos dados, o pesquisador necessita utilizar meios para proteger a identidade dos participantes, como a adoção de pseudônimos, por exemplo. Após analisados, os dados devem ser guardados por um período de 5 a 10 anos, e depois descartados. Na interpretação dos dados, as informações devem ser transmitidas de forma precisa. Na divulgação da pesquisa, a linguagem utilizada não poderá favorecer a discriminação de pessoas por qualquer motivo (raça, gênero, orientação sexual, deficiência, etc.), e deve ser imparcial. Deve-se também evitar o uso de termos estereotipados. Práticas fraudulentas como a omissão ou falsificação de descobertas para atender às necessidades da pesquisa configuram má conduta, e não são aceitas pela comunidade científica.