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RESENHA Cap.

4 - Estratégias de redação e considerações éticas

O autor inicia o capítulo argumentando que a estrutura da proposta de pesquisa varia de


acordo com a utilização do método: quantitativo, qualitativo ou misto. Os tópicos da proposta de
pesquisa devem estar correlacionados e fornecerem uma visão concisa do todo. Citando Maxwell
(2005), o autor aponta que a proposta deve conter nove argumentos centrais, independentemente
do método escolhido: 1. “O que os leitores precisam para entender melhor o seu tópico? 2.O que
os leitores sabem pouco em termos do seu tópico? 3. O que você se propõe a estudar? 4. Qual é
o cenário e quem são as pessoas que você estudará: 5. Quais métodos você planeja usar para
fornecer dados? 6.Como você analisará os dados? 7.Como você validará suas descobertas? 8.
Que questões éticas seu estudo apresentará? 9. O que os resultados preliminares mostram sobre
a viabilidade e valor do estudo proposto?”.
Creswell propõe dois modelos para um projeto em pesquisa qualitativa:
1. Perspectiva construtivista/ interpretivista: Introdução; apresentação do problema; objetivo do
estudo e sua delimitação/; questões de pesquisa; procedimentos; pressupostos filosóficos da
pesquisa qualitativa; estratégia de pesquisa qualitativa; papel do pesquisador; procedimento de
coleta de dados; estratégias para validar descobertas; estrutura narrativa proposta do estudo;
questões éticas; resultados esperados; apêndices (roteiro de entrevista, formulários de
observação, cronograma e orçamento proposto).
2. Defesa/ participação da pesquisa qualitativa: Introdução; apresentação do problema; objetivo e
delimitações do estudo; questões de pesquisa; procedimentos; pressupostos filosóficos da
pesquisa qualitativa; estratégia da pesquisa qualitativa; papel do pesquisador; procedimentos de
coleta, de registro e de análise dos dados; estratégias para validar descobertas; estrutura
narrativa; questões éticas antecipadas; descobertas preliminares; mudanças esperadas de
defesa/ participação; apêndices (roteiro de entrevista, formulários de observação, cronograma e
orçamento proposto). Este formato tem alguns pontos semelhantes com a proposta anterior, mas
se distingue porque o pesquisador identifica uma questão específica de defesa/participação que
será explorada no estudo, realiza uma forma de coleta de dados colaborativa e pontua as
mudanças que, possivelmente, ocorrerão no estudo.
O autor sugere também um formato para um projeto com o método quantitativo e para métodos
mistos:
1. Método quantitativo Introdução; apresentação do problema; objetivo e delimitações do estudo;
referencial teórico hipóteses de pesquisa; revisão de literatura; métodos; tipo de projeto;
população, amostra e participantes; instrumentos, variáveis e materiais de coleta de dados;
procedimentos de análise de dados; questões éticas; estudos preliminares; anexos (instrumentos,
cronograma e proposta orçamentária).
2. Métodos mistos: O pesquisador inclui abordagens de ambos os métodos, sendo importante
apontar, no início do projeto, as razões para o uso de métodos mistos: Introdução; problema de
pesquisa; pesquisas anteriores sobre o problema e suas falhas, bem como a necessidade de
nova coleta de dados quantitativos e qualitativos; o público que se beneficiará com o estudo;
objetivo e a justificativa para a escolha do método misto; hipóteses; bases filosóficas para o
estudo com métodos mistos; o tipo de pesquisa; os desafios do uso de métodos mistos e como
serão explanados; inclusão de um diagrama visual; coleta e análise de dados quantitativos; coleta
e análise de dados qualitativos; procedimentos de análise de dados de métodos mistos; recursos
e habilidades do pesquisador; questões éticas; cronograma; referências e apêndices.
Para projetar a estrutura geral de uma proposta de pesquisa, o autor fornece algumas
sugestões: Confecção de um esboço com as seções do projeto e analisá-lo em conjunto com o
orientador, e observar se a instituição de ensino fornece capacitação em metodologia de
pesquisa. Sobre a escrita, Creswell aponta que as ideias sejam trabalhadas em vários rascunhos,
ao invés de se tentar aprimorar um único rascunho. Dessa forma, as ideias são vistas com mais
clareza e podem ser mais bem aperfeiçoadas. A escrita sobre a proposta também necessita ser
realizada de forma contínua e planejada, onde um tempo diário precisa ser dedicado para esta
atividade. As ideias, na proposta, devem ser apresentadas de forma ordenada e coerente, sendo
conectadas por meio de palavras de transição. Termos consistentes devem ser apresentados, e,
sempre que uma variável (estudo quantitativo) ou fenômeno central (estudo qualitativo) forem
citados, o mesmo termo precisa ser utilizado. É necessário também que sinônimos desses termos
sejam evitados a fim de facilitar a compreensão do leitor. O projeto deve conter as ideias centrais
que se está tentando transmitir, além de ideias específicas que reforçam as ideias centrais e
ideias que mantenham a atenção do leitor. As ideias necessitam ser repassadas de forma lógica,
sendo que cada ideia deve ser uma sequência da que a precedeu. Palavras desnecessárias
precisam ser retiradas e deve-se evitar o uso da voz passiva. Frases repetitivas e citações muito
extensas também necessitam ser evitadas.
Creswell afirma que, na escrita acadêmica, a voz ativa deve ser utilizada. O tempo verbal a
ser utilizado na revisão de literatura é o pretérito, sendo que o tempo futuro deve ser utilizado nas
outras fases do projeto. Em estudos concluídos, o tempo presente é o mais indicado, sendo que,
na descrição dos resultados é utilizado o tempo pretérito.
A respeito das questões éticas, o autor aponta para a necessidade de proteção das
pessoas envolvidas de do uso dos resultados da pesquisa. As questões éticas mais comuns
atualmente correspondem a “divulgação pessoal, autenticidade e credibilidade do relatório de
pesquisa, o papel do pesquisador em contextos interculturais e questões de privacidade pessoal
por meio de formas de coletas de dados na internet”. Creswell pontua ainda a existência de
códigos de conduta em cada área do conhecimento. Ressalta que a ética na pesquisa não está
relacionada apenas à observância de códigos de conduta, mas diz respeito à antecipação e
abordagens das questões éticas e dilemas que podem surgir durante a pesquisa. Salienta
também que o problema de pesquisa apresentado não marginalize os seus participantes.
Os objetivos da pesquisa devem ser transmitidos aos integrantes, a fim de estabelecer
uma relação de confiança. Durante a coleta de dados, o pesquisador não pode expor os
participantes a situações de risco e deve ainda respeitar as populações vulneráveis,
considerando-as em suas necessidades. O pesquisador também deve desenvolver um termo de
consentimento para que os participantes assinem antes da pesquisa. Tal documento atesta o
direito dos indivíduos de que seus dados serão preservados durante a pesquisa. O local de
realização da pesquisa também precisa ser respeitado, sendo que o pesquisador deve interferir o
mínimo possível no ambiente. Além disso, a pesquisa deve trazer benefícios para todos os
envolvidos. Em casos com o uso de entrevistas, os entrevistadores necessitam refletir sobre
como a entrevista pode melhorar a situação do indivíduo, e sobre as consequências da entrevista
para os participantes e para os grupos que integram.
No procedimento de análise dos dados, o pesquisador necessita utilizar meios para
proteger a identidade dos participantes, como a adoção de pseudônimos, por exemplo. Após
analisados, os dados devem ser guardados por um período de 5 a 10 anos, e depois
descartados. Na interpretação dos dados, as informações devem ser transmitidas de forma
precisa. Na divulgação da pesquisa, a linguagem utilizada não poderá favorecer a discriminação
de pessoas por qualquer motivo (raça, gênero, orientação sexual, deficiência, etc.), e deve ser
imparcial. Deve-se também evitar o uso de termos estereotipados. Práticas fraudulentas como a
omissão ou falsificação de descobertas para atender às necessidades da pesquisa configuram
má conduta, e não são aceitas pela comunidade científica.

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