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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ

INSTITUTO DE RECURSOS NATURAIS


CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA
LABORATÓRIO DE ENGENHARIA QUÍMICA I

EXPERIÊNCIA DE REYNOLDS

Itajubá, 05 de setembro de 2022.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ
INSTITUTO DE RECURSOS NATURAIS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA
LABORATÓRIO DE ENGENHARIA QUÍMICA I

EXPERIÊNCIA DE REYNOLDS

ANA JULIA MACIEL FERREIRA – 2019008179


TARCÍSIO DE OLIVEIRA KLEIN – 2019002630
VICTORIA DE SOUZA GONÇALVES - 2019010990

Professora: MAISA TONON BITTI PERAZZINI

Itajubá, 05 de setembro de 2022.


RESUMO

O experimento de Reynolds permite verificar empiricamente o tipo de


escoamento em um processo. Tendo sido realizado o experimento no
Laboratório de Engenharia Química, objetivou-se determinar valores do
número Reynolds para diferentes vazões e compará-los aos dados obtidos
pela observação do escoamento. A partir de um sistema já montado dentro do
laboratório, abriu-se uma válvula permitindo o escoamento do fluido através
de uma tubulação transparente, cronometrando-se e pesando-se a vazão de
líquido em determinado tempo, sendo que, após a realização em triplicata,
abriu-se a válvula que permite a fluência de corante para a tubulação principal
garantindo o vislumbre do escoamento associado a vazão escolhida. Com
base nos dados coletados observou-se a relação linear entre vazão e Reynolds
e as particularidades referentes ao experimento, associadas principalmente ao
escoamento transicional e turbulento, cujos o primeiro é mal representado por
cálculos enquanto que o segundo é de difícil visualização. Enfim, verifica-se
que o método empírico, quando unido aos modelos teóricos favorece a
confirmação do tipo de escoamento com o qual se está lidando, descrevendo
o processo em menor escala auxiliando-se no controle de um processo
industrial que ocorreria nas mesmas condições ambientes.

PALAVRAS-CHAVE: Reynolds; escoamento; vazão; experimento.

Objetivos: Analisar o tipo de escoamento que ocorre em diferentes vazões. Calcular o


número de Reynolds através de dados empíricos. Observar a olho nu o escoamento
dentro da tubulação.
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1. INTRODUÇÃO

Ao tratar-se da Engenharia Química, alguns conceitos são importantes para ter-se


controle dos processos industriais de uma planta e conhecer o comportamento dos
equipamentos quando operados em diferentes condições.
Em relação aos fluidos, os estudos buscando compreender a forma como se
comportam partem de Arquimedes, cerca de 285 a.C., transpassando por importantes
nomes da ciência como Isaac Newton, que explorou quantidade de movimento de gases
e líquidos, descrevendo-os como newtonianos, denominação que ainda se mantém em
uso na atualidade.
Recentemente, ainda do olhar histórico, o “pai da mecânica dos fluidos moderna”,
Ludwig Prandtl, desenvolveu a Teoria da Camada Limite e os sistemas de escoamento
passaram a ser analisados pela dinâmica dos fluidos computacional, permitindo avanços
e entendimentos mais profundos de sistemas específicos operando em diferentes
condições.
Desta maneira, verifica-se, segundo Heilmann (2017, p. 23), que “os escoamentos
de fluidos são divididos em duas categorias: escoamentos lentos e escoamentos
turbulentos.”, sendo assim, com relação a determinados parâmetros dentro de um
processo, pode-se haver variações no transporte do fluido, havendo a possibilidade de
favorecimento de algumas operações, se estas ocorrerem na faixa turbulenta, por
exemplo.
Pensando-se para os escoamentos, tem-se como ferramenta essencial para
reconhecer-se o comportamento do fluido, o número de Reynolds, verificando-se que, do
âmbito empírico, a determinação desse valor crítico para a movimentação de gases e
líquidos é realizada através do chamado experimento de Reynolds, cujo “o propósito [...]
é ilustrar a transição entre os escoamentos laminar e turbulento em tubos e determinar em
quais condições cada um desses tipos de escoamento ocorre.” (HEILMANN, 2017, p.
43).
Ademais, Reynolds pode ser determinado através da Equação 1:

𝜌. 𝑣⃗. 𝐷
𝑅𝑒 = (1)
𝜇
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Sendo densidade [𝜌] dada em [kg/m³], velocidade [𝑣⃗] em [m/s], diâmetro do tubo
[D] em [m] e viscosidade dinâmica [𝜇] em [𝑃𝑎. 𝑠].
Enfim, a partir dos valores obtidos utilizando-se o adimensional de Reynolds,
pode-se escolher os melhores modelos e equações para descrever um escoamento, e ainda,
torna compreensível os resultados de análises de fluidodinâmica computacional, elemento
amplamente empregado em pesquisas e na indústria para observar o escoamento de
fluidos nas mais variadas condições.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1. Materiais

Os materiais utilizados para a execução do procedimento estão apresentados


abaixo:
• Água;
• Balança analítica;
• Termômetro de vidro;
• Béquer 1000 ml;
• Corante azul;
• Balde de plástico;
• Celular;

Para minimizar a ocorrência de erros durante a realização dos cálculos, utilizou-


se o software Microsoft Excel.

2.2. Metodologia

No laboratório estava pronta a estação que se utilizou para a realização do


experimento, como apresentado na Figura 1.
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Figura 1. Esquemático do sistema utilizado para a realização do experimento de Reynolds.

Fonte: Elaboração própria.

Iniciou-se a primeira parte do experimento, realizando-se a medição da temperatura


da água que estava no reservatório (utilizando o termômetro de vidro) e, em seguida,
pesou-se a massa do béquer vazio (utilizando uma balança analítica), a fim de analisar a
diferença da massa do recipiente vazio e com o fluido que escoou e foi coletado.

Após realizar as pesagens e medição de temperatura (que foi feita no decorrer de todo
o experimento), abriu-se a válvula de controle do fluido até visualizar-se uma pequena
vazão que fosse representativa. Ajustou-se o cronômetro e iniciou-se a coleta do fluido
no béquer por alguns segundos e, logo após, pesou-se a massa do béquer contendo água.

Depois de realizar três medidas com tempos similares e após a denotação dos valores
obtidos, abriu-se a válvula que controla a vazão do corante para observar, fotografar e
anotar o comportamento do escoamento através da tubulação.

É importante ressaltar que esse procedimento foi realizado em triplicata para cinco
valores diferentes de vazão, ou seja, após cada triplicata aumentou-se a vazão
gradativamente.

Após a obtenção de todos os valores experimentais desejados, montou-se a Tabela 1


com os dados obtidos determinou-se inicialmente a quantidade de fluido coletada em cada
repetição através da diferença de massa entre o béquer com fluido e o béquer vazio.
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Tabela 1. Dados obtidos experimentalmente em laboratório para diferentes vazões de água.

Tempo (s) Temperatura (°C) M vazio (g) M água (g)


5,54 24,5±0,5 230,0±0,5 272,0±0,5
1 5,45 24,5±0,5 230,0±0,5 270,0±0,5
5,73 24,5±0,5 232,0±0,5 272,0±0,5
7,35 24,5±0,5 230,0±0,5 328,0±0,5
2 7,40 24,0±0,5 232,0±0,5 326,0±0,5
7,65 24,0±0,5 232,0±0,5 328,0±0,5
4,55 24,5±0,5 230,0±0,5 396,0±0,5
3 4,34 24,5±0,5 232,0±0,5 384,0±0,5
4,46 24,5±0,5 232,0±0,5 382,0±0,5
3,13 24,0±0,5 230,0±0,5 446,0±0,5
4 3,55 24,0±0,5 232,0±0,5 470,0±0,5
3,81 24,0±0,5 232,0±0,5 472,0±0,5
2,48 23,5±0,5 232,0±0,5 676,0±0,5
5 2,55 23,5±0,5 232,0±0,5 620,0±0,5
2,57 23,5±0,5 232,0±0,5 578,0±0,5
Fonte: Elaboração própria, 2022.

Na sequência, determinou-se com base na Tabela 2 e através da média de


temperaturas obtidas do experimento, realizando-se uma interpolação linear, a densidade
do fluido (997,23 kg/m³), que nesse caso era água.

Tabela 2. Densidade em relação a temperatura para a água.

Temperatura (°C) Densidade (kg/m³)


21 998,0
22 997,8
23 997,5
24 997,3
25 997,0
26 996,8

Fonte: Gelson, 2018.

Determinado o valor da densidade e utilizando os dados experimentais, obteve-se


a velocidade de escoamento do fluido através da Equação 2.

𝑚̇
Vb = (2)
𝜌. 𝐴
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m
Sendo que, nesse caso, 𝑉𝑏 seria a velocidade do fluido, cuja é dada em [ s ] e

dependeria da vazão mássica [𝑚̇] com unidade de [𝑚3 /𝑠], densidade do fluido [𝜌] em
[𝑘𝑔/𝑚³] e também da área da seção da tubulação [A], cuja já havia sido determinada
previamente com base no diâmetro do tubo de 21,25±0,01mm.
Seguindo adiante, para determinar o valor do número de Reynolds, que seria o
principal objetivo do experimento, obteve-se o valor da viscosidade da água na
temperatura média do experimento com base na interpolação de valores da Tabela 3.

Tabela 3. Valores de viscosidade dinâmica da água com relação a temperatura.


Viscosidade
Temperatura (°C)
(N.s/m²)
15 1,139 × 10−3
20 1,002 × 10−3
25 8,900 × 10−4
30 7,980 × 10−4

Fonte: Houghtalen et. al, 2012.

Em posse de todos os elementos necessários, determinou-se os valores de


Reynolds e a média de cada triplicata verificando-se ao fim se o comportamento teórico,
seguindo a regra da Tabela 4, encontrava-se com aquele observado no escoamento do
corante.

Tabela 4. Regra para determinar o tipo de escoamento segundo o valor de Reynolds.


Reynolds Tipo de Escoamento
<2100 Laminar
<4000 Transição
>4000 Turbulento
Fonte: Elaboração própria, 2022.

Assim, tabulou-se todos os dados de relevância para o experimento e realizou-se


uma análise de teor qualitativo e quantitativo buscando compreender melhor os
mecanismos físicos operando em torno do escoamento e suas variáveis.
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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Resultados e tratamento estatístico

Os valores determinados de Reynolds e velocidade do fluido no escoamento,


assim como a vazão em cada repetição do experimento estão descritos na Tabela 5:

Tabela 5. Valores determinados através das equações para Reynolds e outras variáveis de
interesse.
M vazio-M Velocidade Reynolds
Vazão (kg/s) Reynolds
água (kg) (m/s) Médio
0,042 0,008 2,14 × 10−2 499,308
0,040 0,007 2,08 × 10−2 483,384 480,819
0,040 0,007 1,97 × 10−2 459,763
0,098 0,013 3,77 × 10−2 878,148
0,094 0,013 3,59 × 10−2 836,614 847,085
0,096 0,013 3,55 × 10−2 826,493
0,166 0,036 1,03 × 10−1 2402,845
0,152 0,035 9,90 × 10−2 2306,657 2308,187
0,150 0,034 9,51 × 10−2 2215,060
0,216 0,069 1,95 × 10−1 4545,049
0,238 0,067 1,90 × 10−1 4415,478 4369,753
0,240 0,063 1,78 × 10−1 4148,732
0,444 0,179 5,06 × 10−1 11791,265
0,388 0,152 4,30 × 10−1 10021,222 10226,464
0,346 0,135 3,81 × 10−1 8866,906
Fonte: Elaboração própria, 2022.

Nota-se, nesse caso, que devido à simplicidade do experimento, houve


concordância entre teoria e prática, apesar de haver certa dificuldade na identificação de
uma região de transição teórica, visto que, empiricamente as ondulações permitem
identificar mais facilmente a variação do tipo de escoamento, como apresentado na Figura
2.

Figura 2. Observação do comportamento do fluido com corante para um o tipo de escoamento laminar
(teórico).

Fonte: Elaboração própria, 2022.


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Tem-se então que o escoamento, quando analisado empiricamente pode apresentar


propriedades que não são relacionadas por Reynolds e que em certa escala podem
ocasionar um tipo de escoamento diferente daquele obtido através de cálculos.
Logo, com base no comportamento do fluido de observação relacionou-se o tipo
de escoamento empírico ao escoamento teórico, cujos estão descritos na Tabela 6.

Tabela 6. Escoamento empírico relacionado ao teórico no experimento.


Teórico Experimental

Laminar Laminar

Laminar Transição

Transição Turbulento

Turbulento Turbulento

Turbulento Turbulento

Fonte: Elaboração própria, 2022.

A partir da relação entre o teórico e experimental verifica-se que o adimensional


de Reynolds não descreve bem o trecho de transição de laminar para turbulento dos
fluidos, logo, pode-se não ser ideal trabalhar nessa faixa sem uma observação empírica.
Ademais, como já se espera em relação ao aumento de vazão, verifica-se um
aumento gradativo do Reynolds de perfil linear como apresentado na Gráfico 1.

Gráfico 1. Relação linear entre vazão e número de Reynolds.

Vazão X Reynolds
15000,000

10000,000

5000,000

0,000
0,000 0,050 0,100 0,150 0,200

Fonte: Elaboração própria, 2022.


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Do Gráfico 1, garante-se experimentalmente uma linearidade entre os valores de


vazão e Reynolds, ocorrendo o mesmo para a velocidade de escoamento.
Além disso, pode-se verificar também que para valores muito elevados de vazão
como ocorre na última repetição do procedimento, o método do corante torna-se pouco
efetivo, uma vez que, a turbulência é tanta que há a dissolução completa da fluido de
observação assim que este é injetado na tubulação. Esse comportamento pode ser
verificado na Figura 3.

Figura 3. Corante se dissolvendo imediatamente ao ser injetado na tubulação.

Fonte: Elaboração própria, 2022.

Sendo assim, compreende-se que o método empírico de observação a olho nu não


é eficaz quando se trata de valores de turbulência muito elevados, ou seja, mesmo que
haja a injeção do corante na tubulação, a difícil observação diminui a confiança do
resultado, podendo ser necessários outros métodos de análise.

3.2 Causas de erro

Pode-se citar como erro uma leitura incorreta do termômetro associada a


ergonomia da medição, uma vez que, o reservatório era alto e dificultava uma leitura sem
reflexos da luz e na posição correta.

Também o controle das válvulas, sabendo que foram realizados de manualmente


influência na repetibilidade do experimento, visto que, quantidades diferentes de corante
eram utilizadas em cada repetição.
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Outro fator importante a ser levado em consideração estaria associado ao erro


intrínseco dos equipamentos como a escala do termômetro, a medição realizada pela
balança e a medida de diâmetro da tubulação que se propaga até o valor de Reynolds
calculado, entretanto nesse caso, pode-se calcular e encontrar uma variação para os
valores de Reynolds.

Nesse caso, baseando-se na Equação 3 para propagação do erro na soma e


subtração:

σc = √σ2a + σ2b (3)

E na Equação 4 para propagar erros de multiplicação e divisão:

σc σ𝑎 2 σ𝑏 2
= √( ) + ( ) (4)
𝐶 𝐴 𝐵

Determina-se o erro médio associado a velocidade e aos valores de Reynolds, cujo


apresenta-se na Tabela 7:

Tabela 7. Erros médios determinados para a velocidade e para Reynolds.

Variável
Erro Médio
Associada
Velocidade 2,65 × 10−2
Reynolds 9,20 × 10−1
Fonte: Elaboração própria, 2022.

3. 3 Nomenclatura

Adimensional - que pode ser expresso por um número simples sem dimensão (diz-
se de grandeza física).

4. CONCLUSÃO

Como observa-se na discussão dos resultados, verifica-se que, o método empírico


de determinação do número de Reynolds é uma importante ferramenta em situações nas
quais precisa-se confirmar se o fluido escoa segundo o padrão de transição, sabendo que,
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através do valor teórico para Reynolds, muitas vezes as simplificações ocasionam perda
de informações.

Todavia, quando a vazão cresce, torna-se inviável a visualização a olho nu de


como o fluido está escoando, logo, faz-se necessário a confirmação dos resultados através
de outras ferramentas ou modelos teóricos para garantir o escoamento turbulento.

Diz-se ainda que, existe uma relação linear entre a vazão e os valores de Reynolds,
ou seja, é possível, através de poucos experimentos, extrapolar a reta e determinar os
valores de Reynolds para diferentes valores de vazão.

Por fim, compreende-se que, ao verificar a dimensão dos erros, tem-se que para a
velocidade de escoamento menor confiabilidade dos resultados do que para as dimensões
de Reynolds, todavia, o efeito causado pela presença destas incertezas poderia ser
minimizado utilizando uma balança mais precisa e aumentando a quantidade de
repetições para cada vazão escolhida.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HEILMANN, A. Introdução aos fenômenos de transporte: características e dinâmica


dos fluidos. Editora Intersaberes, 1ª Ed. 2017. São Paulo, SP.

HOUGHTALEN, R. J., AKAN, A. O., HWANG, N. H. C. Engenharia Hidráulica.


Pearson Education do Brasil, 4ª Ed., 2012. São Paulo, SP.

LUZ, G. Massa específica da Água (kg/m³, g/cm³, g/ml, g/L e meu Infográfico!).
Materiais por Gelson Luz, [s. l], 2018. Disponível em: < https://www.
materiais.gelsonluz. com/2018/09/ massa-especifica-da-agua.html>. Acesso em: 04 de
set. de 2022.

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