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CAPÍTULO III: SUPERVISÃO COMO PROCESSO

Os objetivos da supervisão não se alcançam de uma só vez, pois tem-se em conta


que os mecanismos de assimilação e acomodação do sujeito em que se assentam
as teorias psicológicas de Piaget e Brunner, posto à prova em qualquer situação
nova que lhe é apresentada tem como objectivo a adaptação à realidade após a
resolução de problemas em concreto.

Existem por isso três elementos principais do processo de supervisão:

 Os sujeitos (que correspondem a todas as entidades que serão envolvidas no


processo de supervisão);
 As tarefas a realizar (das quais faz parte o conjunto de actividades
necessárias para a efetivação da supervisão).
 Os conhecimentos a adquirir ou a mobilizar e a atmosfera envolvente.

A compreensão da supervisão como processo, não levara a análise de diversos


mecanismos pelos quais se pode efectivar e os diversos passos que devem ser
seguidos para um bom processo de supervisão, ou seja, ciclo da supervisão.

3.1. Assistência as aulas

A observação de aula o que é? quais são os aspectos a considerar na assistência as


aulas?

A aula é resultado dentre outras factores, daquilo que se aprende e de forma como
se organiza o processo de ensino-aprendizagem.

A assistência as aulas devem ser comunicadas com antecedência ao professor pois,


não se trata de inspeção, mas sim da superação das dificuldades e apoio com vista
a melhorar o desempenho do professor na sala de aula. Nesta a observação
constitui uma estratégia fundamental.

Para tornar mais objectiva a observação é necessária definir objetivos e identificar


aspectos a observar. Isto significa, estruturar a observação para lhe dar uma
orientação mais especifica. Esta orientação pode assumir diferentes graus de
incidência, dando origem a dois tipos de observação:

 Observação global- é centrada na aula em geral, onde são expressas as


opiniões gerais das aulas quer pelo supervisor quer pelo supervisionado. é a
fase que se cria uma atmosfera de confiança mutua, eleva-se a autoconfiança
do supervisionado.
 Observação focalizada- Incide sobre aspectos específicos da aula. Por
exemplo: planificação da aula, objetivos da aula, conteúdos, metodologias;
estratégias, materiais, avaliação, etc.

3.1.1. Importância das assistências as aulas

Existem diversas razoes que fundamentam a necessidade das visitas de


assistências as aulas nas escolas. Eis algumas:

 Contribuir para uma visão global da vida da escola;


 Permitir avaliar a qualidade do trabalho realizado;
 Proporcionar uma troca de experiência entre os professores;

3.2. Ciclo da Supervisão

Os objetivos da supervisão não se alcançam duma só vez, por isso mesmo


parecem-nos que nunca é demais realçar que a supervisão é uma ação
multifacetada, faseada, continuada e cíclica. Este processo de crescimento
profissional se desenrola em movimentos helicoidais. Por isso mesmo a sua
realização implica o seguimento de passos fundamentais.

Para efeito da sistematização, consideramos as fases seguintes no ciclo da


supervisão: Encontro Pré-observação; Observação Propriamente dita; Analise de
dados; e Encontro de Pôs – Observação.

3.2.1. Encontro de Pré – Observação

Este encontro entre supervisor e supervisionado/ formando tem lugar antes da


observação de uma atividade educativa, e visa:

 Ajudar o professor na análise e tentativa de resolução de problemas que lhe


deparam, de encorajar, de preparar matéria ate outro qualquer assunto que
merece ser analisado, observado/ resolvido;
 Analisar a planificação da aula a observar, antecipando problemas de
aprendizagem em discutir algumas formas de solucionar os problemas
encontrados;
 Clarificar o procedimento de observação, isto é, identificar o foco e os
instrumentos da observação;
 Apreciar e discutir questões do ensino-aprendizagem (objetivos, estratégias,
avaliação, aula a observar);
 Decidir que aspectos vai/ vão ser observados. Chamamos a atenção para as
necessidades de estabelecer uma comunicação natural, afim de que todo
este processo dê resultados positivos.

O encontro prê-observação visa fundamentalmente identificar o problema em


estudo, planificar conjuntamente a estratégia de observar.

Convém debruçar-nos um pouco sobre os elementos que impedem ou facilitam a


comunicação. Entre os elementos que impedem uma boa comunicação podemos
citar a ansiedade e desconhecimento do papel exacto que cada pessoa tem num
determinado processo, nesta fase do ciclo da supervisão é fundamental que o
supervisor seja bem claro relactivamente à sua concepção de supervisão, aos seus
objetivos e a sua atitude para com o profissional/ Formando. A clareza, a
transparência e a falta de ambiguidade são as palavras de ordem, as padras de
toque.

Hennings (1975) citado por ALARCAO & TAVARES (2003: 82), discute algumas
barreiras à comunicação e identifica três tipos que denomina por mascaras,
divagações e filtros. Sobre a designação de máscara analisa os casos em que os
participantes disfarçam os seus sentimentos e pensamentos autênticos. As
divagações a prejudicam, acontecem quando as nossas preocupações quando as
nossas preocupações num determinado momento estão longe do que está a discutir
e inibe a capacidade de atenção e concentração. Filtros, relactivamente a estes
Hennings considera que as nossas atitudes, os nossos valores, gostos e
preferencias são fatores determinantes na captação do significado das palavras do
nosso interlocutor.

Para que a supervisão ocorra numa perspectiva de resolução de problemas é


necessário que se estabeleça entre o professor e o supervisor uma relação de
trabalho, isenta de tensões, e baseada numa confiança solida e fiável, pois deste
modo será possível que o professor confie ao supervisor as suas preocupações e
dificuldades.
3.2.2. Observação Propriamente dita

Por observação neste contexto entende-se como conjunto de actividades destinadas


a obter dados e informações sobre o que se passa no processo de ensino-
aprendizagem, com a finalidade de mais tarde, proceder uma análise do processo
numa ou noutra variável em foco. Quer dizer então que, o objectivo da observação
pode recair num ou noutro aspecto: aluno, professor, na interação professor-aluno,
no ambiente físico da sala de aula, no ambiente sócio-racional na utilização de
matérias de ensino, nas características dos sujeitos, etc.

A observação é o ponto de incidência do processo de supervisão. Nesta fase, o


supervisor lança um olhar atento sobre os aspectos escolhidos durante a pré-
observação. É o momento de recolha de informação em volta de todo pormenor
ligado ao assunto escolhido a ser supervisionado. Aqui o supervisor deve ser
provado de um caderno de registo dos aspectos mais importantes. O registo pode
seguir uma espécie de apontamentos desde momento que estes sejam fáceis de
interpretar posteriormente.

A observação compreende duas fases: O registo de que se vê e interpretação do


sentido do que se viu. Um dos problemas que se põem ao supervisor é saber como
deve observar e que estratégia de observação pode usar.

As estratégias de observação devem depender dos objectivos que se pretendem


atingir, do objetivo que se quer observar e da natureza da observação.

Observar para avaliar é realmente um dos grandes objetivos da supervisão que


praticamos na formação inicial. Só que a avaliação pode ser diagnostica, formativa,
ou sumativa. E a prática destes três tipos de avaliação, bem como os objetivos que
lhe estão subjacentes são muitas vezes confundidos por supervisores e
supervisionados- formandos.

3.2.3. Análise de Dados

Esta fase do ciclo da supervisão requer maior envolvimento por parte do


supervisionando dado que este deve relatar todos factos que ocorrem no processo
de ensino. É mediante o relacto dos factos que o supervisor saberá como melhorar a
carreira profissional do supervisionado.
Uma vez colhido os dados no decurso da observação é necessário que os mesmos
sejam analisados para se atribuir o significado. O supervisor analisa o registo que
fez a quando da observação para posteriormente a manter um encontro com o
professor supervisionado. No tratamento de dados de uma observação quantitativa
descritiva, impõe-se uma leitura muito atenta das notas tiradas durante a aula ou do
registo da aula e a identificação dos aspectos significativos.

3.2.4. Encontro Pós- Observação

É o encontro final do ciclo da supervisão pedagógica. Nesta fase o supervisor reúne-


se com o professor supervisionado com o objectivo de:

 Analisar e interpretarem conjuntamente a informação colhida no decurso da


supervisão;
 Analisar os dados recolhidos segundo os objetivos definidos no encontro pré-
observação;
 Verificar se os objetivos da aula foram atingidos;
 Confrontar os dados recolhidos com os de observação anteriores;
 Apurar as experiências positivas e contribuir para a sua divulgação a nível da
escola e da ZIP;

Neste encontro deve dar-se a possibilidade do professor supervisionado exprimir as


suas opiniões em relação a aula que acaba de ministrar.

O supervisor e o supervisionado partilham constatações e experiências na tentativa


de potenciar os aspectos positivos e minimizar os problemas que tenham sido
constatados durante a observação.

Na pós observação define-se novas estratégias de intervenção do professor no


processo de ensino-aprendizagem e se possível marca-se a atividade seguinte de
supervisão que fica ao critério do professor e do supervisor.

3.3. Etapas essenciais da supervisão

O trabalho da supervisão desenvolve-se através de três etapas que são:


Planificação, acompanhamento e controle.
3.3.1. Planificação

Representa o momento em que se desenha o roteiro de actividades. Refere-se a


que e como fazer o acompanhamento à execução e o controle. A planificação da
supervisão deve descrever o objectivo do trabalho, isto é, deve ser exequível e
flexível a fim de poder ajustar a novas necessidades que surjam e as modificações
que possam ocorrer na vida escolar.

A supervisão planificada ajuda-nos a ultrapassar tantas dificuldades, pois, dela


prevemos as visitas nas ZIP’s prevemos métodos/ técnicas que iremos usar na
supervisão, temos técnicas indirectas que consistem em recolha de informação
através de documentos.

Alguns aspectos que interessam a planificação da supervisão:

 Previsão para cooperação na elaboração dos planos de ensino nas diversas


actividades, áreas e disciplinas;
 Previsão quanto aos métodos e técnicas de ensino que devem ser
estimulados, no campo das actividades, áreas de ensino e disciplinas;
 Incentivos as actividades extra-classes;
 Estudo de plano de recuperação dos educandos.

3.3.2. Acompanhamento

É a 2ª etapa do trabalho de supervisão dá-se uma continuidade das atividades que


nos outros ficou com problema, o acompanhamento deve ser por todos períodos
lectivos a fim de providenciar planificarão, quando necessário.

O acompanhamento garante, também a unidade e a continuidade nas actividades


escolares. Observa o desempenho dos professores, orienta e coordena os trabalhos
dos mesmos. O acompanhamento preocupa-se em fazer com que todas as
planificações sejam executadas com eficiência.

3.3.3. Controle e Avaliação

É a fase do trabalho de supervisão escolar sobre os resultados do trabalho


realizado, afim de prevenir desvios, efectuarretificações e/ou mesmo alterações que
melhor ajustam a ação da escola à necessidade do educando.
Avaliação é um instrumento necessário na supervisão da eficácia escolar. Muitos
diretores das escolas só controlam os alunos para ver se podem ir aos exames, mas
ignoram por exemplo, os relatórios dos inspectores. Para eles os exames constituem
a avaliação, e os resultados dos exames são o fim do processo.

A avaliação abrange todo o processo escolar, para descobrir porque certas coisas
aconteceram e/ou o que deve ser feito para melhorar um desempenho fraco. Para
que um projecto de avaliação escolar seja eficaz, diretor e o corpo docente devem
cooperar e trabalhar em equipa.

O controle por sua vez fornece dados, que também influenciarão as planificações,
visando torna-las mais objectivas, programáticos e eficientes, o controle visa assim,
a:

 Avaliação do rendimento escolar;


 Ajustamento quanto a eficiência do ensino;
 Observação quanto à mudança de comportamento dos educandos;
 Tratamento e análise dos dados recolhidos;
 Recomendações das medidas que visam sanar as deficiências constatadas,
tendo em vista melhorar o processo de ensino-aprendizagem.

3.4. O Papel do Supervisor e os estilos de Supervisão

O processo de supervisão tem como objectivo optimizar a acção do professor (ou


formando), pessoal e profissionalmente, no sentido de desenvolver competências
que potenciem a aprendizagem dos seus alunos. Blumberg (citado por Alarcão &
Tavares, 2003), refere que este mesmo processo deve ser orientado segundo três
tarefas fundamentais: fornecimento de informação apropriada à resolução dos
problemas pedagógicos do formando, promoção do seu envolvimento na tomada de
decisões e desenvolvimento da sua autonomia com base em escolhas devidamente
fundamentadas.

Nesse sentido, assentará não só numa “observação para não deixar passar
despercebidos os fenómenos na sua dimensão observável” (p.71) ao que os dois
autores intitulam de dimensão analítica e de investigação, mas também numa
“reflexão e intuição necessárias para compreender as razões e o alcance dos
fenómenos observados e as motivações dos sujeitos implicados” (Alarcão &
Tavares, op. cit, pp.71-72), sendo esta última uma dimensão de experimentação,
avaliação e formação.

Ainda que o professor (ou formando) seja a figura central deste processo, cabe ao
Supervisor conduzir a sua acção para que o desenvolvimento do primeiro seja
concretizado da forma mais correcta e eficaz, assumindo também ele um papel de
destaque, ainda maisquando a própria relação inter-pessoal entre estes dois
agentes será tida como variável para esse mesmo sucesso. Desta forma, iremos
centrar o nosso estudo também na figura do Supervisor e no seu papel inerente ao
processo de supervisão.

Tentando definir o papel, ou a função, de supervisor, Sá Chaves (1999) evidencia


que este “não é considerado apenas, e como seria previsível, como aquele que
supervisiona (ou seja, dirige, orienta e/ou inspecciona a partir de uma posição
superior), mas também como aquele que aconselha” (p.13). Também neste sentido,
Alarcão e Tavares (2003) estabelecem objectivos que o supervisor deverá levar em
linha de conta no desenvolvimento dos seus formandos, ao nível das suas
capacidades e atitudes. São eles:

1) Espírito de auto-formação e desenvolvimento.

2) Capacidade de identificar, aprofundar, mobilizar e integrar os conhecimentos


subjacentes ao exercício da docência.

3) Capacidade de resolver problemas e tomar decisões esclarecidas e acertadas.

4) Capacidade de experimentar e inovar numa dialéctica entre a prática e a teoria.

5) Capacidade de reflectir e fazer críticas e autocríticas de modo construtivo.

6) Consciência da responsabilidade que coube ao professor no sucesso, ou no


insucesso, dos seus alunos.

7) Entusiasmo pela profissão que exerce e empenhamento nas tarefas inerentes.

8) Capacidade de trabalhar com os outros elementos envolvidos no processo


educativo.” (p.72).

Relativamente à própria figura do supervisor e as características que este deverá


demonstrar, os dois autores invocam um estudo conduzido por Mosher e Purpel que,
em 1972, identificaram seis áreas de características que o supervisor deveria
manifestar, sendo elas: “a) sensibilidade para se aperceber dos problemas e das
suas causas; b) capacidade para analisar, dissecar e conceptualizar os problemas e
hierarquizar as causas que lhes deram origem; c) capacidade para estabelecer uma
comunicação eficaz a fim de perceber as opiniões e os sentimentos dos professores
e exprimir as suas próprias opiniões e sentimentos; d) competência em
desenvolvimento curricular e em teoria e prática de ensino; e) skills de
relacionamento interpessoal; f) responsabilidade social assente em noções bem
claras sobre os fins da educação” (Alarcão & Tavares, op. cit, p.73).

Por “skills de relacionamento interpessoal” dever-se-á entender um conjunto de


atitudes que mais tarde Glickman, em 1985 (citado por Alarcão &Tavares, 2003),
vem enumerar e, consequentemente, categorizar como princípio do supervisor:

1) Prestar atenção. O supervisor atende ao que o professor lhe diz e exprime a sua
atenção através de manifestações verbais (...) geralmente acompanhadas de outras
manifestações de atenção de tipo não-verbal.

2) Clarificar. O supervisor interroga e faz afirmações que ajudam a clarificar e


compreender o pensamento do professor (...).

3) Encorajar. O supervisor manifesta interesse em que o professor continue a falar


ou a pensar em voz alta (...).

4) Servir de espelho. O supervisor parafraseia ou resume o que o professor disse


afim de verificar se entendeu bem (...).

5) Dar opinião. O supervisor dá a sua opinião e apresenta ideias sobre o assunto


que está a ser discutido (...).

6) Ajudar a encontrar soluções para os problemas. Depois de o assunto ter sido


discutido, o supervisor toma a iniciativa e pede sugestões para possíveis soluções
(...).

7) Negociar. O supervisor desloca o foco da discussão do estudo das soluções


possíveis para as soluções prováveis e ajuda a ponderar os prós e os contra das
soluções apresentadas (...).

8) Orientar. O supervisor diz ao professor o que este deve fazer (...).


9) Estabelecer critérios. O supervisor concretiza os planos de acção, põe limites
temporais para a sua execução (...).

10) Condicionar. O supervisor explicita as consequências do cumprimento ou não


cumprimento das orientações (...).”

Através das atitudes apresentadas, Glickman (citado por Alarcão & Tavares, 2003)
chega à definição de “estilos de supervisão”, tendo em conta a frequência e
importância dada às mesmas, pelo supervisor. Estes estilos poderão ser de três
tipos distintos: não-directivo, de colaboração e directivo.

No primeiro, o supervisor é tido como “aquele que manifesta desejo e capacidade de


atender ao mundo do professor, de o escutar, de esperar que seja ele a tomar as
iniciativas” (Alarcão & Tavares, op. cit, p.75), ou seja, vai materializando as ideias
que o professor vai tendo, encorajando-o e clarificando a sua linha de pensamento.
Numa abordagem colaborativa, ou de colaboração, existe uma troca de informações
e consequente complementaridade por parte do supervisor, “faz sínteses das
sugestões e dos problemas apresentados, ajuda a resolvê-los” (Alarcão & Tavares,
idem, ibidem). Finalmente temos osupervisor directivo que, ao contrário do que
acontece nos estilos anteriores, orienta otrabalho do professor, condicionando as
suas atitudes.

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