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FORMAÇÃO DE CALCULISTA - Cálculos Trabalhistas

Módulo I – Remuneração

Conteudista: Carlos Alberto Paes M. de Oliveira

REMUNERAÇÃO

Costumo utilizar dois conceitos para remuneração:

1. Salário e demais parcelas salariais pagas com habitualidade - Trata-se


de conceito bastante subjetivo quanto à definição das parcelas
salariais, bem como quanto ao conceito de habitualidade. No momento
em que o processo é formado, o advogado definirá, conforme sua
concepção, quais serão as parcelas salariais pagas com habitualidade, a
fim de que sirva para o cálculo das verbas, que pleiteará na ação
trabalhista.

2. Salário e demais parcelas deferidas em sentença - Este conceito é o


mais apropriado para a liquidação de sentença. Devemos ter uma
interpretação restritiva da sentença. Qualquer entendimento diferente
do restrito, deverá ser devidamente exposto na sentença. Se o
magistrado entender que remuneração abarca salário, periculosidade,
adicional por tempo de serviço etc, deverá expor na sentença, já que
entendimentos são subjetivos e cada uma das partes terá o seu, assim
como o magistrado que julgará os recursos posteriores.

SALÁRIO

Como conceito de salário, temos a contraprestação em espécie por um serviço


prestado, lembrando que, para o empregado que recebe salário fixo, o salário
remunerará também o dia de descanso.

Para analisarmos esse assunto, é necessário observarmos qual era o salário no


período anterior à Constituição de 1988, pois havia uma proporcionalidade
entre jornada legal e horas de divisor, em que pese não haver ligação direta
entre elas.

Vejamos:

Considera-se, para efeito de pagamento de salários, o mês civil, ou seja, o


salário remunera trinta dias no mês, independentemente de o mês ser, por
exemplo, julho ou fevereiro.

Antes da promulgação da Constituição de 1988, a jornada legal era de 8 (oito)


horas por dia, paga pelo salário.

Assim, o salário correspondia ao pagamento de 8 (oito) horas por dia em 30


(trinta) dias no mês, ou seja, 240 (duzentas e quarenta) horas era o seu
divisor.

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Naquela época, para encontrar o valor de uma hora normal de trabalho,


dividia-se o salário por 240 e encontrava-se o valor do salário-hora.

Outras proporcionalidades existentes:

• 8 (oito) horas por dia multiplicado por 6 (seis) dias = 48 (quarenta e


oito) horas na semana. Exatamente a jornada legal semanal.

Vale a pena falarmos um pouco sobre jornada!

Devemos lembrar que, antes da Constituição de 1988, assim como nos dias de
hoje, não existia jornada estipulada por quantidade de dias, mas sim por
quantidade de horas. Isso, necessariamente, não implicará que a jornada legal
semanal corresponda a todos os dias da semana.

A Lei 605/49 estabelece que o empregado tem direito a uma folga por
semana, preferencialmente aos domingos, ou seja, o empregado, legalmente,
deverá trabalhar 6 (seis) dias por semana, razão pela qual a jornada de 48
(quarenta e oito) horas não poderá se referir a 7 (sete) dias na semana.
Veremos mais sobre o assunto, quando falarmos sobre horas extras.

Voltando a nossa paridade, tínhamos 6 (seis) dias de 8 (oito) horas,


perfazendo 48 (quarenta e oito) horas, e 8 (oito) horas por 30 (trinta) dias,
resultando em 240 (duzentas e quarenta) horas, que, divididas por 30 (trinta)
dias, resultava em 8 (oito) horas por dia.

Vejamos a jornada diária por semana:

Segunda 8
Terça 8
Quarta 8
Quinta 8
Sexta 8
Sábado 8
Domingo 8

As horas pagas pelo salário, em cada um dos 7 (sete) dias da semana,


compõem o divisor de salário, que era de 240 (duzentas e quarenta) horas.

Vejamos:

O empregado mensalista recebia 8 (oito) horas, em todos os dias trabalhados,


e 8 (oito) horas no dia descanso. Outra característica do mensalista é que seu
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salário, por remunerar 30 (trinta) dias, remunerará tanto os dias efetivos de


trabalho, quanto os dias destinados ao descanso.

No quadro acima, podemos observar que o domingo está sendo remunerado


por 8 (oito) horas, assim como todos os outros dias da semana.

Suponhamos que, agora, esse empregado mensalista tenha faltado um dia de


trabalho. Como descontar esse dia de trabalho do empregado?

Temos duas opções: ou dividimos o salário por 30 (trinta) e deduzimos 1 (um)


dia do seu salário, ou dividimos o salário por 240 (duzentas e quarenta) horas
e deduzimos 8 (oito) horas de salário.

Se o empregado faltar 2 (dois) dias de trabalho, o procedimento será o


mesmo.

Para encontrarmos o salário-hora, dividiremos o salário pelo divisor 240


(duzentos e quarenta) e multiplicaremos pelo número de horas
correspondentes aos dias faltantes.

Aplicaremos esse critério para qualquer quantidade de dias faltantes, ou seja,


deveremos, independentemente da quantidade de dias de trabalho faltados,
dividir o salário pelo divisor mensal, que era de 240 (duzentas e quarenta)
horas.

Esse raciocínio vai contra a súmula 431 do TST:

TST - Súmula 431 - Para os empregados a que alude o art. 58, caput, da
CLT, quando sujeitos a 40 horas semanais de trabalho, aplica-se o
divisor 200 (duzentos) para o cálculo do valor do salário-hora.

O fato do empregado não ter trabalhado as 48 (quarenta e oito) horas na


semana, mas tão somente 40 (quarenta) horas, não deverá implicar em divisor
inferior a 240. Vejamos abaixo:

Segunda 8
Terça 8
Quarta 8
Quinta 8
Sexta 8
Sábado 8
Domingo 8

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Observe que o salário remunera todas as 8 (oito) horas diárias, em todos os 7


(sete) dias da semana. Se o empregado não trabalhou no dia de sábado, por
exemplo, por dispensa da empresa, não sofrerá desconto. O salário desse
empregado continuará remunerando 8 (oito) horas por esse dia.

Sendo mais radical, se o empregado trabalhou apenas 3 (três) dias na semana


e a empresa entendeu que não deverá descontar dele o salário, ele continuará
sendo remunerado por esses dias, e o seu divisor continuará sendo o de 240
horas (antes da Constituição).

Chegamos à conclusão, com essa análise, que a jornada de trabalho não está
diretamente ligada ao divisor de salário. Jornada de trabalho diz respeito à
quantidade de horas normais que o salário remunera em determinada
quantidade de dias na semana. O divisor refere-se ao total de horas na
semana.

O fato de não existir jornada em determinado dia não implica redução do


divisor, já que esse dia continua a ser remunerado pelo salário.

Voltaremos, agora, ao período posterior à Constituição.

Não entrando no mérito da redução ocorrida no divisor de salário,


atualmente, o divisor de salário corresponde a 220 (duzentas e vinte) horas.

Com esse novo divisor, perdemos a paridade que existia, anteriormente, entre
salário dia e jornada de trabalho.

A Constituição de 1988 estabeleceu que a jornada legal será de 8 (oito) horas


diárias e 44 (quarenta e quatro) horas semanais.

Dessa forma, a paridade da própria jornada deixa de existir. Sendo assim, 40


(quarenta) horas semanais divididas por 8 (oito) horas diárias, não
corresponderá a 6 (seis) dias da semana, excluído o repouso.

Da mesma forma, 44 (quarenta e quatro) horas semanais (legais) divididas por


6 (seis) dias, não corresponderá a 8 (oito) horas diárias (legais), assim como as
220 (duzentas e vinte) horas mensais divididas por 30 (trinta) dias no mês,
também não corresponderá à jornada legal.

Demonstração:

220h : 30 dias = 7,33 horas


44h : 6 dias = 7,33 horas

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Reparem que o divisor estabelecido de 220h não condiz com a previsão do art.
64 da CLT:
Art. 64 - O salário-hora normal, no caso de empregado mensalista, será
obtido dividindo-se o salário mensal correspondente à duração do
trabalho, a que se refere o art. 58, por 30 (trinta) vezes o número de
horas dessa duração.

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