AMAMENTAÇÃO
prematuro
1. Tipos de aleitamento materno
A OMS classifica o aleitamento
humano em 5 tipos:
• Aleitamento materno exclusivo (AME):
quando a criança recebe somente leite
materno, direto da mama ou ordenhado,
ou leite humano de outra fonte, sem
outros líquidos ou sólidos, com exceção
de gotas ou xaropes contendo vitaminas,
sais de reidratação oral, suplementos
minerais ou medicamentos.
• Aleitamento materno predominante:
quando a criança recebe, além do leite
materno, água ou bebidas à base de água
(água adocicada, chás, infusões), sucos
de frutas.
• Aleitamento materno: quando a criança
recebe leite materno (direto da mama ou
ordenhado), independentemente de
receber ou não outros alimentos.
• Aleitamento materno complementado:
quando a criança recebe, além do leite
materno, qualquer alimento sólido ou
semissólido com a finalidade de
complementá-lo, e não de substituí-lo.
• Aleitamento materno misto ou parcial:
quando a criança recebe leite materno e
outros tipos de leite.
2. Características e Funções do
leite materno
O leite materno apresenta altas
concentrações de anticorpos (IgA, IgM, IgE e
IgD), além de conter células
polimorfonucleares (macrófagos, neutrófilos e
eosinófilos). Existe também a presença de
substâncias com propriedades probióticas e
antibióticas como a lactoferrina, lisozima.
A composição do leite é semelhante para
todas as mulheres, porém o leite produzido
por uma mãe de uma criança prematura é
um pouco diferente, justamente para
atender as necessidades do recém-nascido
O leite humano contém 3 fases:
colostro, leite de transição e leite maduro.
• Colostro (1º ao 5º dia): produzido nos
primeiros dias após o parto, possui maior
concentração de proteína, minerais e
vitaminas lipossolúveis (A e E
principalmente), tem menor quantidade de
lactose, lipídeos e vitaminas do complexo
B. É rico em imunoglobulinas (maior
parte da fração proteica) e outros agentes
antimicrobianos, substâncias
imunomoduladoras, fatores de
crescimento ou tróficos, e ainda
leucócitos.
• Leite de transição: tem sua produção
entre a fase do colostro e do leite maduro.
• Leite maduro (posterior ao 15º dia):
composto por água, lipídeos, proteínas,
vitaminas, hidratos de carbono, minerais,
agentes de defesa.
Proteínas do leite materno: inclui a α-
lactalbumina e β-lactoglobulina, lactoferrina,
lisozima, soroalbumina, as imunoglobulinas;
• Em relação à caseína: a caseína é
encontrada em concentrações variáveis
nas diferentes espécies de mamíferos. Do
conteúdo proteico no leite humano, 80% é
lactoalbumina, enquanto no leite de vaca
essa proporção é de caseína. A caseína
tem a propriedade de formar micelas
estáveis com o P e o Ca2+ (confere
aparência branca do leite), tais micelas
favorecem o transporte desses minerais
bem maiores do que seria possível
apenas através de solubilidade. As
micelas do leite humano são pequenas
(complexos insolúveis mais tênues e
frágeis). Deste modo, a baixa
concentração de caseína no leite humano
resulta na formação de coalho gástrico
mais leve, com flóculos de mais fácil
digestão e com reduzido tempo de
esvaziamento gástrico.
• O leite humano contém também,
diferentemente do leite de vaca, maiores
concentrações de aminoácidos
 essenciais de alto valor biológico
(taurina e cistina) que são fundamentais
ao desenvolvimento do sistema nervoso
central.
• O leite materno apresenta mais de 40
enzimas, muitas ainda com efeito
fisiológico desconhecido;
Carboidratos: lactose e lipases (lipase estimulada por sais
oligossacarídeos.
• A lactose constitui 70% do conteúdo de
carboidratos; este carboidrato é de suma
importância para o RN, pois seu produto
metabólico, a galactose, entra na
constituição dos integrantes do SNC;
• Os lactentes e RN são capazes de
absorver 90% do conteúdo da lactose do
leite. Pequena quantidade que
permanece na luz intestinal traz
consequências benéficas para eles, tais
como eliminação de fezes mais
amolecidas (reduz obstipação); formação
de fator bífido (oligossacarídeos +
peptídeos), produção de ácido lático,
diminuindo o pH, desfavorecendo o
crescimento de bactérias patogênicas;
ação facilitadora para absorção de Ca 2+ e
P.
• Oligossacarídeos possuem atividade
antiaderente para inúmeros
microrganismos.
Lipídios: constituem a maior fonte de
energia do leite materno. No leite maduro, o
conteúdo é de 3-4 g/dL. Cerca de 50% do
valor calórico total do leite humano é
proveniente da gordura, que é fonte de
colesterol, ácidos graxos essenciais e
vitaminas lipossolúveis.
• A gordura láctea é formada por lipídios
circulantes (derivados da dieta e/ou
depósitos maternos); pode ser formado a
partir da glicose também (AG saturado);
• As células alveolares secretam os lipídios
para a luz do alvéolo sob a forma de
glóbulos de gordura;
• Os TAGs compreendem 98% do teor de
gorduras do leite materno; o restante
corresponde a fosfolipídios, colesterol, AG
livres.
• Os lipídeos são de fácil digestão e
absorção – organização em glóbulo de
gordura, composição dos AG e
comprimento de suas cadeias, atividades
enzimáticas; o leite apresenta duas
biliares e lipase lipoproteica);
• A mucina é uma proteína presente no
colostro ligada aos glóbulos de gordura.
Sua principal função é inibir a adesão
bacteriana ao epitélio intestinal;
A composição nutricional do leite
humano, especialmente em relação ao
componente lipídico, apresenta variações
biológicas inerentes ao processo da lactação.
• O leite do início da mamada, chamada
leite anterior, apresenta alto teor de água
e anticorpos. O leite do final da mamada,
chamado leite posterior é mais amarelado
- durante a mamada existe uma elevação
significativa do conteúdo de gorduras,
possuindo o leite ou posterior por volta
de 3x a concentração lipídica do leite
inicial ou anterior. Há controvérsias, porém
o MS ainda utiliza esta referência.
• Alguns dos fatores de proteção do leite
materno são total ou parcialmente
destruídos pelo calor, razão pela qual o
leite humano pasteurizado (submetido a
uma temperatura de 62,5ºC por 30
minutos) não tem o mesmo valor biológico
que o leite cru.
Micronutrientes: incluem sódio, potássio,
cloreto, cálcio, magnésio, fósforo e sulfato;
microminerais como zinco, cobre, ferro,
manganês, selênio, iodeto, fluoreto, crômio;
• RN pré-termo necessita de
suplementação.
Vitaminas: um dos fatores mais importantes
que afetam o conteúdo vitamínico do leite
materno é o estado nutricional da mãe.
3. Propriedades anti-infecciosas do
leite materno
• Células polimorfonucleares, linfócitos,
macrófagos, nucleotídeos, plasmócitos
e células epiteliais - fagocitose e
produção de fatores do complemento
• IgA, IgM, IgD, IgE, IgG. A IgA representa
90% das imunoglobulinas presente no
colostro e leite maduro. Ela impede a
aderência de microrganismos patogênicos
nas superfícies mucosas, formando um
revestimento protetor das superfícies; age
também através da aglutinação de
microrganismos e neutralização de
enterotoxinas. Desta forma, por estar
presente nas superfícies mucosas,
protege/ previne contra infecções
respiratórias, colite e diarreia,
• A lisozima além de potencializar os
efeitos da IgA, é responsável pela lise da
parede celular de bactérias.
• A lactoferrina (glicoproteína) possui a
propriedade quelar o Fe2+, impedindo que
as bactérias utilizem este mineral;
• O leite materno também possui citocinas.
As citocinas IL-4, IL-5 e IL-13, mais
envolvidas com a produção de IgE e
indução de resposta de eosinófilos,
podem proteger o lactente contra doenças
respiratórias;
• O CD14 está presente em altas
concentrações no leite materno e tem
importante papel na indução da resposta
de linfócitos T auxiliares a bactérias,
podendo também proteger contra o
desenvolvimento de alergias.
• Vale destacar também o papel dos
probióticos presentes no leite materno,
que são os lactobacilos e bifidobacterias.
Eles contribuem para o equilíbrio da flora
intestinal e seu crescimento é estimulado
pelo fator bífido. A produção de ácido
acético, ácido lático, H2O2 inibe a
multiplicação de bactérias patogênicas
(ph diminui), além disso os lactobacilos
concorrem com estes microrganismos
patogênicos na ligação a receptores na
superfície da mucosa.
4. Benefícios do leite materno
• Protege contra pneumonia, diarreia e
infecções de ouvido (otite)
• Previne algumas doenças do futuro, como
obesidade, asma e diabetes; e favorece o
desenvolvimento físico, emocional e a
inteligência.
• Os movimentos que a criança faz para
retirar o leite do peito são um exercício
importante para os músculos do rosto e
irão ajudar a criança a não ter problemas
com a mastigação, fala, deglutição e
respiração, além de promover o
crescimento harmônico da face do bebê.
• Involução do útero mais rápida e
recuperação corporal e prevenção de
mastite puerperal;
• Oferta de os nutrientes necessários para
o bebê, assim como hidratação correta,
passagem de células de defesa e
anticorpos.
5. Lactogênese
A lactação depende de um equilíbrio
delicado entre vários hormônios, e a
integridade do eixo hipotálamo-hipófise é
essencial para seu início e manutenção.
Hormônios envolvidos:
• Progesterona
• Prolactina;
• Estrógeno
• Hormônio lactogênio placentário
• Cortisol;
• Insulina.
6. Duração da amamentação
O aleitamento pode ser estendido até os
2 anos, e o AME deve ser pelo menos até o
6º mês. O desmame precoce é definido pelo
MS como a interrupção do aleitamento antes
do 6º mês de vida do bebê, independente do
motivo da interrupção.
Alimentos complementares devem ser
introduzidos por volta dos 6 meses de
idade, com a continuação do aleitamento
materno até 1 ano e depois;
 Não há vantagens em iniciar a
alimentação complementar antes do 6º
mês de vida do bebê, pois:
• Há maior nº de episódios de diarreia;
• Maior nº de hospitalizações por doença
respiratória
• Maior risco de desnutrição caso os
alimentos introduzidos forem
nutricionalmente inferiores ao aleitamento
materno
• Menor absorção de nutrientes
importantes, como ferro e zinco;
• Menor eficácia da amamentação como
método contraceptivo.
• Menor duração do aleitamento materno
7. Alimentação Complementar
Saudável
Idade de introdução e frequência:
• Após os 6 meses, a criança amamentada
deve receber 3 refeições ao dia (2 papas
de fruta e 1 papa salgada/comida de
panela);
• Após completar 7 meses de vida, a 2ª
papa salgada/comida de panela pode ser
introduzida (arroz, feijão, carne, legumes
e verduras);
• Com 12 meses a criança já deve receber,
no mínimo, 5refeições ao dia;
8. Técnica para Amamentação
As orientações sobre o preparo das
mamas e amamentação devem ser ofertadas
já nas consultas de pré-natal.
Posição da mãe e bebê: mãe deve estar
com as mamas expostas, em posição
confortável e relaxada; o rosto do bebê deve
ficar de frente para mama, com o nariz na
altura do mamilo e sua barriga próximo ao
corpo da mãe; a mãe segura a aréola em
forma de C para que o bebê consiga
abocanhar a região;
Pega adequada: o bebê precisa
abocanhar o mamilo e a aréola, para formar
um lacre entre a boca e a mama (má pega
dificulta o esvaziamento da mama e machuca
os mamilos); deve-se sobrar mais aréola
acima do que abaixo da boca do bebê, seu
queixo precisa tocar a mama e o lábio inferior
deve ficar invertido.
• O ciclo de movimentos mandibulares
(para baixo, para a frente, para cima e
para trás) promove o crescimento
harmônico da face do bebê – importante
para os músculos do rosto, ajuda a
criança a não ter problemas com a
mastigação, fala, deglutição e respiração;
• Se for preciso interromper a mamada:
introduzir do dedo indicador ou mínimo
pela comissura labial (canto) da boca do
bebê, de maneira que a sucção seja
interrompida antes de a criança ser
retirada do seio;
Postos-chave do posicionamento
adequado
1. Rosto do bebê de frente para a mama,
com nariz na altura do mamilo;
2. Corpo do bebê próximo ao da mãe;
3. Bebê com cabeça e tronco alinhados
(pescoço não torcido);
4. Bebê bem apoiado.
Postos-chave da pega adequada:
1. Mais aréola visível acima da boca do
bebê;
2. Boca bem aberta;
3. Lábio inferior virado para fora;
4. Queixo tocando a mama.
Os seguintes sinais são indicativos de
técnica inadequada de amamentação:
• Bochechas do bebê encovadas a cada
sucção;
• Ruídos da língua;
• Mama aparentando estar esticada ou
deformada durante a mamada;
• Mamilos com estrias vermelhas ou áreas
esbranquiçadas ou achatadas quando o
bebê solta a mama;
• Dor na amamentação.
Quando a mama está muito cheia, a
aréola pode estar tensa, endurecida e pode
dificultar a pega, neste caso, é recomendado
realizar a ordenha manual antes da mamada.
Para ordenha manual: fazer massagens
circulares com as polpas dos dedos indicador
médio na região mamilo-areolar, progredindo
até as áreas mais afastadas e intensificando
nos pontos mais dolorosos; retirar o leite com
os dedos indicador e polegar posicionando
no limite da região areolar e realizar
compressão.
• O leite ordenhado pode ser oferecido a
criança no mesmo dia ou guardado na
geladeira até 12h. Pode ser congelado,
com validade de 15 dias.
9. Aconselhamento em
amamentação nos diferentes
momentos
• Praticar a comunicação não-verbal;
• Remover barreiras como mesa e papéis –
maior aproximação com a mulher
• Usar linguagem simples;
• Dar espaço mulher falar;
• Demonstrar empatia;
• Evitar julgamentos;
• Aceitar e respeitar os sentimentos e as
opiniões das mães;
• Reconhecer e elogiar.
Número de mamadas por dia:
• Frequência mínima prevista de
aleitamento é de 8 vezes/24 horas; um
bebê em AME pode mamar até 12
vezes/24h.
• O tempo de permanecia na mama em
cada mamada não deve ser fixado.
• Como já descrito, o leite materno contém
todos os nutrientes necessários, e por
isso, o uso de chás, água e outros
líquidos devem ser evitados;
• A mamadeira é fonte de contaminação e
o uso de chupetas pode interferir na
amamentação (crianças que chupam
chupetas mamam menos, além de poder
comprometer a produção de leite).
10. Prevenção e Manejo dos
Principais Problemas
relacionados à Amamentação
• Bebê que não suga ou tem sucção
fraca – pode estar associado a pega e
posição inadequada, uso de chupetas e
mamadeira, formado dos mamilos da mãe
ou ingurgitamento e endurecimento das
mamas.
• Demora na descida do leite – a
apojadura só ocorre alguns dias após o
parto. Deve-se orientar medidas de
estimulação das mamas;
• Mamilos planos ou invertidos – podem
dificultar um pouco a pega;
• Ingurgitamento mamário – ser for
patológico recomenda-se ordenha
manual, se ela estiver tensa, antes da
mamada; mamadas frequentes;
massagens delicadas nas mamas
(movimentos circulares) particularmente
na região ingurgitada (leite fica mais fluido
e promove síntese de ocitocina); uso de
analgésicos/AINE;
• Dor nos mamilos/ mamilos
machucados – no começo das mamadas
é comum discreta ou moderada dor. As
lesões e dor aguda ocorre principalmente
por má pega e posição inadequada. Há
 outras causas, como uso impróprio de
bombas de sucção, não interrupção
adequada da criança quando for
necessário retirá-la do peito.

• Dificuldade em amamentar relacionada

a trauma: orientar sobre acomodação
adequada e variação de posição da
puérpera ao amamentar; iniciar a
amamentação pela mama menos
comprometida; usar protetores mamários
que permitem ventilação; banho de sol
nas mamas por 15’; esvaziamento
completo das mamas e realização da
ordenha manual para estimular o reflexo
de ejeção do leite.

• Cuidados com o mamilo: não passar

pomadas, óleos, sabão, antissépticos ou
creme (tira a lubrificação natural
produzida pelos tubérculos de
Montgomery); evitar umidade, trocando os
forros quando ocorrer vazamento e lavar
apenas com água e secar delicadamente.
• Fenômeno de Raynaud – isquemia
intermitente causada por vasoespasmo
(acomete principalmente dedos dos pés e
das mãos) pode acometer as mamas.
Está ligado a trauma mamilar importante,
compressão anormal do mamilo e
exposição ao frio.

• Mastite – processo inflamatório que pode

progredir para infecção bacteriana.
Orientar o esvaziamento adequado das
mamas; antibioticoterapia nos sintomas
graves; analgésicos e anti-inflamatórios.

• Pouco leite.

• Para aumentar a produção de leite, as

seguintes medidas são úteis: melhorar
o posicionamento e a pega do bebê,
quando não adequados; aumentar a
frequência das mamadas; oferecer as
duas mamas em cada mamada; após a
mamada, ordenhar o leite residual. Evitar
o uso de mamadeiras, chupetas e
protetores (intermediários) de mamilos.
Consumir dieta balanceada e ingestão
hídrica adequada;

• Em alguns casos, é necessário uso de

galactogogos. As drogas mais utilizadas
são metoclopramida e domperidona.