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Aparelho Respiratório

1. Anamnese

A anamnese relativa ao aparelho respiratório deve focar os aspetos que vamos passar
a explicitar.

Antecedentes Pessoais

• Características dos ambientes de trabalho e de habitação – identificar exposição


a tóxicos/ poluentes/ poeiras orgânicas e o contacto com animais,
nomeadamente aves e cães;
• Doenças do aparelho locomotor – em particular, com repercussão na
conformação da caixa torácica;
• Intervenções cirúrgicas anteriores – potencialmente comprometedoras da
estática e dinâmica pulmonares;
• Doenças neurológicas – comprometedoras da expansão pulmonar ou da
deglutição e situações que inibam o reflexo da tosse, como o alcoolismo agudo
ou as anestesias;
• Doenças do esófago – que facilitem a regurgitação (estenoses, divertículos,
refluxo);
• Infeção tuberculosa prévia;
• Exposição passiva ou ativa ao fumo do tabaco:
o No fumador ativo: número de maços diários de tabaco x anos de hábito.
• Terapêuticas efetuadas:
o Anorexigénios – hipertensão pulmonar; Radioterapia – fibrose; Furadantina
– pneumonites.
• Deslocações.

Antecedentes Familiares

• Algumas patologias do sistema respiratório têm carácter hereditário: asma


brônquica e mucoviscidose;
• A exposição a ambientes patogénicos pode exprimir-se também na família –
exposição a poluentes, alergénios, etc.;
• Um ou mais membros da família podem veicular agentes patogénicos, como é o
caso da tuberculose.

Identificação dos sintomas

Quatro principais sintomas oriundos do aparelho respiratório:


• Tosse;
• Expetoração;
• Dispneia;
• Dor.
Tosse

Definição – consiste na seguinte sequência de fenómenos:

• Inspiração profunda (por vezes ausente);


• Encerramento da glote;
• Contração do diafragma e outros músculos respiratórios;
• Expiração brusca, espasmódica, que determina a abertura da glote.

Fisiopatologia – a tosse pode ser um ato voluntário ou um ato reflexo. O ato reflexo
é constituído por:

• Terminais sensíveis*, na faringe, laringe, bifurcação da traqueia, brônquios,


pleura, mediastino, peritoneu e, na criança, canal auditivo externo
• Vias aferentes: (consoante a zona estimulada) pneumogástrico, glossofaríngeo,
trigémeo, nervos sensitivos cutâneos, nervo de Arnold ou nervo auricular;
• Centro da tosse;
• Núcleo do pneumogástrico, situado, bilateralmente, no pavimento do 4º
ventrículo;
• Vias eferentes:
o Nervo laríngeo inferior – determina o encerramento da glote;
o Nervo frénico – contração do diafragma;
o Nervos raquidianos – contração dos músculos da caixa torácica e do
abdómen.

*Nota: ao nível da árvore pulmonar, a sensibilidade é tanto menor quanto mais


periférica for a zona considerada, sendo nula ao nível dos alvéolos pulmonares.

Caracterização – deve ter em conta os seguintes aspetos:

Fatores desencadeantes:

• Posições – significa depender da drenagem de supurações brônquicas;


• Ingestão alimentar – depende de fístulas esofagobrônquicas ou da falência do
reflexo da oclusão da glote no decurso da deglutição;
• Horário – matinal (DPOC) ou noturno (estase de secreções, posições de
drenagem, contato com alergénios, neoplasias do mediastino, neoplasias
pediculadas da árvore brônquica);
• Exposição a poluentes/ alergénios presentes no ambiente, em particular no leito
(almofada, colchão, cobertores, etc.);

Existência, ou não, de expetoração:

• Seca – sem emissão de expetoração (por estimulação de recetores


extrabrônquicos ou por estimulação da árvore respiratória, mas sem que esta
tenha conteúdo brônquico anormal);
• Produtiva

Características sonoras:

• Bitonal – de origem laríngea, deve-se à paralisia de uma corda vocal, geralmente


por paralisia de um nervo recorrente (cada corda vocal vibra a uma frequência
diferente, do que resulta a emissão simultânea de dois sons) – observa-se
sobretudo nos tumores do mediastino, que comprimem o nervo recorrente;
• Rouca ou canina – de origem laríngea, observa-se nos processos inflamatórios,
infeciosos ou neoplásicos da laringe;
• Afónica – processo semelhante à tosse rouca, mas mais grave, em que o
espessamento das cordas vocais impede a emissão de som.

Sequência temporal:

Tosse quintosa: sucessão de episódios separados por pequenos intervalos. Três grupos
de situações:

• Tosse convulsa;
• Processos irritativos vagais mediastínicos (tumores ou adenopatias);
• Estimulação muito intensa dos recetores sensitivos da árvore brônquica.

Fenómenos associados:

• Tosse emetizante – associada ao vómito;


• Tosse sincopal e tosse obnubilante – associada a perturbações da consciência,
deve-se à diminuição do débito cardíaco e isquemia cerebral determinadas pelas
manobras de Valsava associadas à tosse;
• Tosse reprimida – repressão da tosse quando esta desperta dor.

Expetoração

Definição: conteúdo proveniente das vias respiratórias inferiores, expelido pela boca.

Fisiopatologia: num indivíduo normal, o sistema ciliar das vias respiratórias drena até
100ml/dia que ascendem até à laringe, sendo deglutidos inconscientemente.

• Há indivíduos em que a expetoração pode chegar à boca sem tosse;


• Há indivíduos, sobretudo do sexo feminino e crianças, que não são capazes de
expetorar, engolindo o material que chega à boca.

O material expulso pode ter várias origens:

• Material com origem na árvore respiratória:


o Secreções brônquicas em excesso;
o Secreções patológicas: exsudado e pus.
• Material originado fora da árvore respiratória:
o No parênquima pulmonar;
o Na pleura;
o Nos gânglios linfáticos;
o No espaço subfrénico.

Caracterização

• Circunstâncias de aparecimento: posições ou no decurso de crises de dispneia


sibilante, por exemplo;
• Aspeto:
o Volume;
o Consistência e viscosidade;
o Transparência e cor;
o Presença ou ausência de estratificação (organização em várias camadas);
o Cheiro.

Há uma correlação entre o aspeto da expetoração e a sua fisiopatologia.

Tipo de expetoração Características Patologias associadas


Mucosa semelhante a clara de ovo aumento do volume de
(transparente, viscosidade secreção (devido a
variável, inodora) estímulos neurogénicos,
inflamatórios ou tóxicos);
Serosa baixa viscosidade,
amarelada (ou rosada, se transudação ao nível
contiver eritrócitos) alveolar, como no edema
frequentemente espumosa pulmonar
e inodora
Fibrinosa muito viscosa, aderindo às fases iniciais de
mucosas e recipientes, e pneumonias
de cor acinzentada pneumocócicas
Pseudomembranosa neoplasias do pulmão e
emissão de placas de patologias que
tecido necrosado determinam necrose
parenquimatosa
Hemoptoica*1 expetoração que contém
sangue; rósea se o sangue
estiver diluído, vermelho- Pneumonia lobar, entre
escuro se esteve retido variadas outras
antes da expetoração e patologias*2
cor de ferrugem/ tijolo
caracteristicamente na
pneumonia lobar
Purulenta cor amarelada, secundária a um processo
acastanhada ou infecioso. Bronquite aguda
esverdeada, viscosa, ou crónica e
inodora ou de cheiro bronquiectasias.
fétido. Existência de
numerosos leucócitos.
Pode observar-se
estratificação.
Antracótica Expetoração mucosa com Exposição a fumo do
componentes negros tabaco ou fumos
industriais
Vómica Súbita e abundante Drenagem, para a árvore
brônquica, de grande
volume de material aí
acumulada
(bronquiectasias) ou com
origem no pulmão (quistos
ou abcessos), na pleura
(empiema), no mediastino
(supuração mediastínica),
no espaço subfrénico
(abcessos), no fígado
(quistos ou abcessos), ou
em espaços para
vertebrais (abcessos
ossifluentes).

*1 Quando constituída exclusivamente por sangue, denomina-se hemoptise

*2 Causas de expetoração hemoptoica


Dor

A maior parte das estruturas do aparelho respiratório não são enervadas por nervos
sensitivos. Só a traqueia, os brônquios principais, a pleura, o diafragma e a caixa
torácica possuem terminais de nervos sensitivos.
Estruturas não pertencentes ao aparelho respiratório podem dar origem a estímulos
dolorosos que se projetam no tórax: coração e grandes vasos, esófago ou vísceras
abdominais.

Dor de Origem Pleural

Deve-se à estimulação mecânica, ou química, da


pleura parietal. Dor bem localizada, de topografia
correspondente à zona da pleura atingida1, descrita
pelos doentes como “facada” ou “pontada”.
Acentua-se com os movimentos respiratórios, tosse
ou espirro, determinando uma respiração superficial
e trepopneia, e levando, secundariamente, à
contração de músculos intercostais.

Algumas localizações pleurais projetam a dor de


forma particular:

• Pleura diafragmática central3 projeta-se no


território do frénico (ombro e nuca
homolaterais);
• Pleura diafragmática periférica4 projeta-se na
base do tórax ou na parede abdominal;
• Pleura cisural projeta-se em faixa, ao longo da
projeção da cisura em questão;
• Pleura mediastínica2 projeta-se no precórdio.

Dor de Origem Traqueal e Brônquica

• A dor de origem traqueal (figura da esquerda) projeta-se na face anterior do


pescoço e no terço superior da parede anterior e posterior do tórax, na sua parte
central; descrita como uma sensação de ardor ou queimadora e exacerbada com
a tosse, inalação de ar frio, fumos e outras substâncias irritantes;
• A dor com origem nos grandes brônquios (figura da direita) projeta-se na face
anterior do tórax, numa zona grosseiramente correspondente à zona da lesão
brônquica.
Dor de Origem Diafragmática

• Zona central do diafragma: recebe inervação do frénico; dor projetada na nuca e


ombro homolaterais;
• Zona periférica do diafragma: inervação sensitiva dos 5º e 6º intercostais; dor
projetada no epigastro, ao longo da margem costal ou na região lombar.

Dor viva, exacerbada com os movimentos do diafragma (respiração profunda).

Dispneia

Conforme a sua origem topográfica e fisiopatológica, as dispneias podem ter


características específicas.

Dispneias laríngeas

Múltiplas afeções da laringe podem determinar dispneia: processos inflamatórios


agudos, corpos estranhos, tumores, edema angioneurótico.

Trata-se, regra geral, de uma bradipneia inspiratória, com alguns aspetos


característicos:

• Som rouco inspiratório – estridor;


• Posição de hiperextensão da coluna cervical, adotada para aumentar o calibre
laríngeo;
• Tiragem – depressão inspiratória dos espaços moles da caixa torácica (fossas
supraclaviculares e supraesternais e espaços intercostais).

Dispneias traqueais

Semelhantes às dispneias laríngeas. Aspeto semiológico distintivo é a flexão anterior


da coluna cervical.
Dispneias brônquicas

Podem corresponder a dois processos:

• Asma: diminuição generalizada do calibre dos brônquios e bronquíolos pelo


edema e pela broncoconstrição. Bradipneia expiratória à qual podem surgir
associados tiragem e sibilos, predominantes na expiração. Pode ser precipitada
pela exposição a alergénios (mais frequente), esforço, riso, tosse ou emoções;
• Obstrução localizada: devido a tumor, estenose cicatricial ou corpo estranho;
pode haver diminuição da mobilidade homolateral e um sibilo localizado e
persistente, após o esforço da tosse

Dispneias pulmonares

Surgem quando a necessidade de fornecimento de O2 aos tecidos excede a capacidade


de trocas gasosas do pulmão. Começa por ser uma dispneia de esforço cujo limiar
diminui à medida que a patologia progride.

Pode ter aspetos particulares:

• Trepopneia: unilateral, a dispneia surge quando o decúbito lateral se faz para o


lado oposto;
• Platipneia: dispneia em ortostatismo, mas não em decúbito. Situações em que o
ortostatismo leva a perturbações das trocas gasosas, como na existência de
shunts arteriovenosos intrapulmonares.

Dispneias pleurais

A dispneia deve-se à diminuição da expansão pulmonar, devido a patologia pleural:


fibrose extensa (encarceração pulmonar), derrame ou pneumotórax. Pode determinar
trepopneia.

Sintomas Oriundos de Outros Aparelhos ou Sistemas

• Alterações da Emissão de Sons – Tosse e Voz Bitonal:


o quando o som emitido corresponde a duas vibrações bem distintas;
o paralisia de uma corda vocal, por lesão do nervo recorrente, leva a que
uma das cordas vocais vibre a uma frequência distinta, emitindo um som
distinto.
• Anorexia/ Astenia/ Adinamia:
o Sintomas muito inespecíficos, que podem acompanhar um grande número
de doenças;
o No aparelho respiratório, surgem sobretudo nos processos infeciosos
agudos, subagudos ou crónicos, nas neoplasias e como consequência da
insuficiência respiratória grave.
• Febre:
o Processos infeciosos, como nas patologias que determinam obstrução
(estenoses brônquicas neoplásicas, ou não) ou que podem
secundariamente abcedar (quistos, neoplasia);
o Ascensão fria rápida associada a calafrio nas pneumonias pneumocócicas.
• Sudação:
o Pode surgir associada à febre – sem significado particular;
o Predominância noturna – “suores noturnos”, geralmente de grande
intensidade, indicam possibilidade de tuberculose pulmonar.
• Insuficiência Cardíaca:
o Todas as patologias pulmonares que determinem hipertensão pulmonar
podem levar ao cor pulmonale – todos os sintomas de insuficiência cardíaca
direita podem surgir no contexto de uma doença pulmonar arrastada.

2. Exame Físico

• Inspeção;
• Palpação;
• Percussão;
• Auscultação.

Inspeção

A inspeção deve ser executada com o doente sentado, despido da cintura para cima e
sem roupas ou acessórios que dificultem os movimentos respiratórios. Pode ser útil a
incidência rasante de luz.

Inspecionar:

• Tipo constitucional: asténico (de predomínio longitudinal, com maior obliquidade


das costelas) e pícnico (de predomínio transversal, com costelas quase
horizontais);
• Deformações torácicas;
• Tórax em quilha (projeção do esterno para a frente) ou pectus escavatum
(retração esternal);
• Sulcos de Harrison – depressões lineares das costelas inferiores, dependentes de
contrações diafragmáticas particularmente poderosas sobre costelas normais
(asma grave em crianças muito jovens) ou de contrações de força normal em
indivíduos com raquitismo;
• Tórax em tonel ou tórax enfisematoso (figura) –
diâmetro ântero-posterior aumentado; deve-se à
insuflação pulmonar e encontra-se nos doentes
com enfisema pulmonar ou formas graves de
asma brônquica;
• Cifoses, escolioses ou cifoescolioses;
• Assimetrias torácicas – podem ser devidas a
processos pulmonares ou pleuríticos que alterem o volume de um pulmão;
• Tiragem* – retração inspiratória dos espaços intercostais ou dos escavados
supraclaviculares ou supraesternal.
• Cicatrizes – podem corresponder a cirurgias:
o das partes moles (sem implicações na função pulmonar);
o de remoção de parênquima (restrição pulmonar);
o em que o manuseamento da pleura levou à formação de aderências entre
os dois folhetos pleurais e perturbações da expansibilidade pulmonar.
• Circulação parietal exagerada (figura) –
existência de uma obstrução à drenagem
venosa, nomeadamente nas veias cava ou
subclávia, ou nos casos de hipotensão
portal;
• Edema da parede ou enfisema subcutâneo
(existência de ar no tecido celular
subcutâneo), se de grande magnitude.

*Numa inspiração normal, a expansão da caixa torácica determina uma diminuição da


pressão intratorácica, que leva a uma rápida entrada de ar pelas vias respiratórias, pelo
que a pressão intratorácica nunca é muito negativa em relação à pressão atmosférica.
No caso de obstrução localizada/ generalizada das vias aéreas:

pressão negativa
partes moles
débito máximo de gerada pela manutenção de
(deformáveis)
ar através das vias expansão do tórax uma pressão
encurvam para o
aéreas está não é compensada negativa
interior da caixa
diminuído pela entrada de ar importante
torácica
nos pulmões
Palpação

A palpação do tórax dá informações sobre as partes moles que recobrem a estrutura


músculo-esquelética, a estrutura músculo-esquelética e o próprio parênquima
pulmonar.

Avaliação da resistência da parede torácica: aposição das mãos sobre esta.

Permite identificar:
• Presença de edema da parede torácica;
• Existência de ar no tecido celular subcutâneo (sensação de crepitação à pressão);
• Nódulos da parede (lipomas, quistos);
• Diferenças de temperatura;
• Existência de dor à palpação (processos inflamatórios, infeciosos ou traumáticos)

Avaliação da transmissão das vibrações


vocais: pede-se ao doente para dizer “trinta e
três”, carregando no “R” e coloca-se o bordo cubital
da mão num espaço intercostal e recebe-se a
vibração que a atinge; repete-se a manobra em
todos os espaços intercostais e em toda a superfície
do tórax.

A emissão de ruídos pela glote gera ondas sonoras


que se propagam através do tecido pulmonar e que,
após percorrerem a espessura da parede torácica,
podem ser percetíveis à superfície.

• Ar e água transmitem as vibrações menos


eficazmente;
• Consolidações pulmonares transmitem
melhor as vibrações;
• A parede torácica espessada por depósitos de
gordura absorve muita energia (menor
transmissão).

Avaliação da expansibilidade inspiratória do tórax: o doente deve estar sentado,


sobre uma superfície dura; o observador coloca-se por trás do doente e apoia as mãos
na face posterior do tórax, como mostrado na imagem; pede-se ao doente para inspirar
profundamente. Regista-se se os polegares se afastam à mesma distância do ponto
original e a distância máxima obtida entre eles.

Normalidade: expansão simétrica igual ou superior a 5cm. Claramente anormal uma


expansão inferior a 2,5cm.
• Redução bilateral da expansão: problemas da caixa torácica ou anomalias difusas
do pulmão (fibroses pulmonares ou DPOC);
• Perturbações unilaterais da expansibilidade: lesões unilaterais da caixa torácica
ou doença unilateral do pulmão (derrames extensos, pneumotórax, processos
consolidantes ou fibrosantes).

Percussão

Método dígito-digital:
Coloca-se o dedo médio da mão esquerda sobre um espaço intercostal;
• Com o dedo médio da mão direita percute-se o dedo aposto sobre o tórax;
• Percutir com a ponta (não a polpa) na zona imediatamente acima da 2º
articulação interfalângica;
• A pancada deve ser breve;
• Percute-se toda a parede torácica de forma simétrica, não esquecendo os flancos.

Nota: dá informação sobre o volume de tórax nos 5cm adjacentes à zona percutida.

Método palmar: percute-se a parede torácica com quatro dedos da mão;


Noções para interpretação dos factos:

• Considera-se o tórax como sendo constituído por espaços com ar (alvéolos) e


espaços com água (septos, fibras e restantes estruturas sólidas);
• O som obtido depende da relação ar/líquido.

Ar/líquido > ar Aumento da Timpanismo / som Enfisema pulmonar


vibração hiperclaro / pneumotórax
Ar/líquido > Diminuição da Macicez Derrames
líquido vibração pulmonares
/consolidações,
pulmonares
Substituição total Ressonância Macicez
do ar praticamente nula
Substituição Som intermédio Submacicez
parcial do ar entre som claro
pulmonar e macicez

Há variações regionais da sonoridade:

• Na face posterior: macicez inicia-se mais acima à direita (diafragma mais alto);
o limite superior da macicez desloca-se para baixo com a inspiração cerca de
4cm;
• De cada lado do pescoço existem duas estreitas bandas de som claro pulmonar
(istmos de Kronig);
• A câmara de ar do estômago determina a existência de uma zona
hiperrressonante ou de timpanismo: espaço semilunar (área) de Traube.

Esta área deve ser pesquisada com o doente sentado ou semi-sentado, reclinado sobre
almofadas. O desaparecimento de timpanismo nesta área deve-se, geralmente, a
derrame pleural, ou a grande volume de conteúdo gástrico.
Área de Traube, limites:

• Baixo: rebordo costal;


• Cima: linha que vai do limite superior da macicez
esplénica à ponta do coração;
• Direita: bordo inferior do fígado;
• Esquerda: bordo interno da macicez esplénica.

(representado a vermelho na imagem)

Quando existe macicez, é importante identificar o seu limite superior:

• Derrame na cavidade pleural livre: a tendência expansiva do pulmão leva a que


o derrame se disponha segundo uma curva de convexidade superior, em que o
ponto mais elevado se situa no flanco – linha de Ellis-Damoiseau (marca a
separação entre o som claro pulmonar, acima do derrame, e macicez), figuras da
esquerda;
• Derrame pleural que coexiste com pneumotórax: limite de separação entre
sonoridade à percussão e macicez é horizontal, figura da direita;
• Derrame pleural em pleura com aderências prévias: disposição depende da
localização das aderências.
Auscultação

Deve ser feita com o doente sentado em superfície rígida, de forma que a sua postura
não induza assimetrias estáticas nem dinâmicas. O tórax deve estar descoberto. Utilizar
o diafragma do estetoscópio (audição de sons mais agudos).

• Fase posterior: doente deve adotar uma posição que proporcione uma maior área
auscultável – mãos na cintura, cotovelos afastados e pescoço ligeiramente
fletido;
• Face anterior: o doente deve projetar os ombros para trás;
• Flancos: o doente deve colocar as mãos na cabeça.

Podem auscultar-se sons normais e anormais. Os sons anormais podem dever-se a


uma anormal transmissão de sons normais (ruídos de transmissão) ou a sons gerados
por processos patológicos (ruídos adventícios).

Sons normais

São produzidos pela passagem do ar turbulento nos brônquios lobares e segmentares.


O parênquima pulmonar transmite melhor as frequências mais baixas (sons mais
graves). Podem identificar-se três tipos de sons:

• Murmúrio vesicular: suave, grave, audível durante toda a inspiração e fase


inicial da expiração; ouve-se nas porções periféricas do pulmão;
• Ruído brônquico: mais agudo e intenso que o anterior, sobretudo na expiração;
ouve-se sobre o manúbrio;
• Ruído bronco vesicular: sobreposição dos dois anteriores, ouve-se igualmente
na inspiração e expiração; ouve-se no 1º e 2º espaços intercostais.

Sons anormais

Fervores

Devem-se à súbita igualização da pressão em territórios em que há colapso das


pequenas vias aéreas (bronquíolos terminais e alvéolos). Também podem depender do
borbulhar do ar através de secreções fluidas, nas vias de maior calibre (traqueia e
grandes brônquios).

Fervores inspiratórios precoces: origem em vias aéreas de maior calibre; pouco


numerosos e não se estendem até ao final da inspiração; ouvem-se bem na boca e nas
bases; característicos da asma e da bronquite crónica;

Fervores inspiratórios tardios: origem em vias aéreas mais distais; numerosos e


prolongam-se até ao final da inspiração; não se transmitem para a boca; processos
transudativos ou exsudativos (pneumonias, edema pulmonar, enfarte pulmonar,
fibrose intersticial);
Fervores que se ouvem nas duas fases da respiração: surgem nas pneumonias, nas
dilatações brônquicas, na bronquite crónica, na tuberculose e no edema pulmonar.

Fervores crepitantes: fervores inspiratórios;

Fervores subcrepitantes ou fervores bolhosos: abrangem os fervores audíveis na


inspiração ou expiração e modificam-se com a tosse;

Fervores de estase: fervores inspiratórios finos audíveis nas zonas mais baixas do
tórax;

Crepitações: sons breves e de alta frequência, semelhantes a “fechos de velcro a


serem abertos”, característicos da fibrose pulmonar.

Sibilos e Roncos

Sons musicais, contínuos, que se devem à vibração da parede brônquica adjacente a


uma estenose quase completa de um brônquio de calibre maior ou menor. A frequência
depende do grau de estenose, e não do calibre do brônquio. Sibilos têm frequência
elevada e roncos baixa. A análise deve ter em conta:

• Frequência;
• Fase respiratória em que se observam;
• Duração;
• Serem únicos ou múltiplos;
• Comportamento com a tosse.

Estridor

Som agudo, de grande intensidade (ouve-se sem estetoscópio), de frequência


constante, e inspiratório. Deve-se a processos obstrutivos da laringe ou da traqueia.

Atritos

Sons irregulares, não musicais, audíveis na inspiração e na expiração, não alteráveis


com a tosse, mas que podem mudar com as mudanças de posição do doente. Devem-
se ao deslizamento das superfícies visceral e parietal da pleura, espessadas por
processos inflamatórios ou pela metastização tumoral.

Sinal de Hamman

Fervores síncronos com os movimentos cardíacos, audíveis no precórdio. Deve-se à


existência de ar no mediastino (enfisema mediastínico).
Ruídos de Transmissão

Auscultação da voz

• Pectoriloquia: audição distinta das palavras pronunciadas;


• Pectoriloquia áfona: quando a voz apenas murmurada dá origem a palavras
nitidamente percetíveis. Costuma ser mais frequente na porção superior dos
derrames pleurais;
• Broncofonia: quando a voz se ouve com alguma intensidade, mas sem capacidade
de distinção clara das palavras pronunciadas;
• Egofonia: alteração da voz, de forma a parecer o balir de uma cabra. Observa-se
na porção superior dos derrames pleurais. Pedir ao doente para dizer o som “i”;
no caso de egofonia o som audível será um “ei”;
• Voz cavernosa: voz soa grave, como ressoando numa caverna;
• Voz anfórica: grandes coleções de ar sob tensão, faz com que o som auscultado
evoque a ressonância da voz projetada para o interior de uma ânfora.

3. Exame Objetivo Extratorácico

Deve contemplar:

• Cianose;
• Aparelho cardiovascular;
• Sistema osteoarticular – processos supurativos crónicos e neoplasias brônquicas
podem determinar de osteo-artropatia hipertrófica (hipocratismo digital – “dedos
em baqueta de tambor”);
• Fígado.

4. Grandes Síndromes Semiológicas Pulmonares

Síndrome de Condensação

Condensação: substituição da normal estrutura do pulmão por diminuição total ou


parcial do conteúdo gasoso, originando uma estrutura densa e compacta.

• Condensações retráteis: diminuição do volume do pulmão consolidado;


processos de obstrução brônquica; aumento do pulmão não afetado e:
o Empurramento do mediastino para o lado da atelectasia
o Desvio da traqueia para o lado lesado;
o Desvio do choque de ponta e dos focos auscultatórios para o lado lesado;
o Hipersonoridade à percussão sobre as regiões não atingidas.
• Condensações não retráteis: não determinam diminuição do volume;
exemplo: pneumonia lobar.

Síndrome de Rarefação Pulmonar

Situações em que há aumento do conteúdo gasoso do pulmão, por insuflação ou por


destruição dos septos interalveolares. Determina a horizontalização dos arcos costais e
subida do esterno.

• Forma transitória: asma e bronquite;


• Forma permanente: enfisema pulmonar.

Síndrome de Derrame Pleural

Derrame pleural: presença de líquido na cavidade pleural. Pode ser devido a:

• Aumento da pressão hidrostática (p.e. na insuficiência cardíaca);


• Diminuição da pressão oncótica (p.e. na síndrome nefrótica);
• Aumento da permeabilidade vascular (p.e. tumores ou processos inflamatórios);
• Diminuição da capacidade de drenagem linfática (p.e. invasão neoplásica dos
linfáticos mediastínicos);
• Passagem transdiafragmática de líquido peritoneal (p.e. ascite).

Síndrome Brônquica

Depende de processos inflamatórios brônquicos desencadeados por qualquer estímulo


(infeção viral ou bacteriana, poluentes, etc).

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