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Tosse e Dispneia

Liga Acadêmica de Raciocínio Clínico - LARC JULIA SCHUSTER DALACORTE E LETÍCIA OLIVEIRA
Tosse
Definição - inspiração rápida e profunda, seguida de fechamento da glote e contração dos
músculos expiratórios, terminando com uma expiração forçada, após abertura súbita da glote.

Estimulação dos receptores da mucosa das vias respiratórias - natureza inflamatória,


mecânica, química ou térmica.

Mecanismo de alerta ou defesa das vias respiratórias, no entanto, pode se tornar nociva em
virtude do excessivo aumento da pressão na árvore brônquica.

Avaliação semiológica:
Frequência;
Intensidade;
Tonalidade;
Presença ou não de expectoração;
Relação com o decúbito e período que predomina.
Tosse - classificação
Tosse seca ou improdutiva: pode ter origem em áreas fora da árvore brônquica, como o
canal auditivo externo, a faringe, os seios paranasais, o palato mole, a pleura parietal e o
mediastino

Tosse produtiva: é a que se acompanha de expectoração

Tosse rouca: comum nos tabagistas, é indicativa de laringite crônica. Ocorre também na
laringite aguda

Tosse metálica: áspera (tosse de cachorro), indica edema da laringe e dos tecidos
circundantes
Tosse - classificação
Tosse bitonal: deve-se à paresia ou paralisia de uma das cordas vocais, que pode traduzir
compressão do nervo laríngeo inferior (recorrente), situado à esquerda do mediastino
médio inferior

Tosse quintosa: caracteriza-se por surgir em acessos, mais frequentes de madrugada, com
intervalos curtos de acalmia, acompanhada de vômitos e sensação de asfixia. É sugestiva de
coqueluche, mas pode ocorrer em outras infecções respiratórias

Tosse-síncope: aquela que, após crise intensa de tosse, resulta na perda de consciência

Tosse crônica: é a que persiste mais do que 3 meses.


Tosse - expectoração
A expectoração é consequência da tosse - tosse produtiva.

Escarro dos pacientes possui dados importantes para o diagnóstico, sendo importante
examiná-lo.

Características semiológicas:
Volume, cor, odor, transparência e consistência do material eliminado.

Composição:
Serosa - contém água, eletrólitos, proteínas e é pobre em células;
Mucoide - além de muita água, contém proteínas, como a mucina, substância pegajosa,
incluindo mucoproteínas, eletrólitos, sendo baixo o número de células;
Purulenta - é rica em piócitos e tem celularidade alta;
Hemoptoica - contém sangue.
Tosse - expectoração
Edema pulmonar agudo - expectoração de aspecto seroso, coloração rósea e rica em espuma.

Asma - mucóide, alta viscosidade, semelhante a clara de ovo ("escarro perolado").

Bronquite - fase inicial é mucóide, com o passar do tempo torna-se mucopurulenta.

Enfisema - enfisematoso tipo "magro" quase não expectora, já o tipo "gordo" é constante.

Gotejamento pós-nasal - mucupurulenta, com tosse mais intensa à noite.

Tuberculose pulmonar - hemoptoica.


Expectoração desse tipo também é comum em: infarto pulmonar, bronquiectasias,
abscesso pulmonar, neoplasias, edema pulmonar agudo e nos distúrbios hemorrágicos.

A presença de expectoração contribui decisivamente para diferenciar as lesões alveolares


(pneumonias bacterianas) das intersticiais (pneumonias virais).
Tosse - vias aéreas superiores
Faringe Laringe

Hipertrofia amigdaliana - tosse crônica; Laringites;

Laringítes, traqueítes, laringotraqueítes e Comprometimento de cordas vocais - tosse


traqueobronquites "descendentes" - rouca;
acessos de tosse;
Região interaritenóidea - ponto vulnerável
Refluxo gastroesofágico; de despertar o reflexo da tosse.

Hábito de fumar - determina irritação crônica


da faringe.
Tosse - vias aéreas inferiores
Traqueia, brônquios, pulmões e pleuras

Asma - tosse seca, rebelde que não cede a medicação comum pode ser característica desse
quadro;

Tabagismo - causa mais comum de tosse crônica;

Enfisema pulmonar - tosse seca ou com expectoração escassa;

Bronquíte - tosse produtiva;

Alveolite alérgica, sarcoidos e fibrose idiopática - a tosse é um sinal precoce de doença


pulmonar intersticial;
Tosse - vias aéreas inferiores
Traqueia, brônquios, pulmões e pleuras

Embolia pulmonar - tosse improdutiva, mas ocorrendo infarto surge expectoração hemoptoica;

Edema pulmonar agudo - tosse é acompanhada de secreção espumosa e coloração rósea;

Após intubação traqueal, traqueostomia e em indivíduos portadores de hérnia hiatal,


megaesôfago ou acometidos por AVC - pode ocorrer tosse produtiva em consequência de
aspiração de resíduos gástricos.
Tosse - sistema cardiovascular
Insuficiência ventricular esquerda - tosse seca, mais intensa à noite, impedindo o paciente de
dormir.
Principalmente em pacientes idosos;
Pode estar relacionada aos esforços físicos e apresentar dispneia e palpitação.

Estenose mitral - tosse seca, mais intensa à noite, podendo surgir aos esforços.

Congestão pulmonar - quando existe expectoração é escassa, do tipo serosa, pouca


consistência, contém ar e é rica em albumina (aspecto espumoso).

Aneurismas de aorta, pericardite e grande dilatação do átrio esquerdo - acessos de tosse


por compressão brônquica, irritação do N. vago ou N. recorrente.

Expectoração sanguinolenta em pacientes cardíacos - passagem de eritrócitos de vasos


pulmonares congestos para os alvéolos e ruptura de vasos endobrônquicos dilatados, que
fazem conexão entre a circulação venosa brônquica e a pulmonar.
Tabela 1 - Quadro das principais causas de tosse. Fonte: Porto, Celmo, C. e Arnaldo Lemos Porto. Exame Clínico, 8ª edição .
Figura 1 - Causas dos principais tipos de tosse.
Fonte: Porto, Celmo, C. e Arnaldo Lemos Porto. Exame Clínico, 8ª edição .
Dispneia
Definição:
Sensação subjetiva de desconforto/dificuldade/esforço respiratório, podendo ser descrita
como uma sensação de aperto ou sufocamento.

Causas:
Baixa concentração de oxigênio no ar, como em grandes altitudes;
Obstrução das vias aéreas;
Doença cardíaca;
Problemas no pulmão;
Doenças neurológicas;
Medicamentos;
Entre outras como na anemia grave, sangramentos, obesidade e doenças hematológicas;
Geralmente é multifatorial, decorrente de um distúrbio cardiopulmonar causado pela
estimulação de receptores por alterações metabólicas, distensão do interstício pulmonar,
tensão dos músculos da respiração e alterações no sistema nervoso central.
Dispneia- Classificação
Aguda, crônica, dispneia de esforço, de repouso e suspirosa.
Aguda: súbita. Costuma ser desencadeada por quadro de infecção, trauma ou obstrução da
via respiratória;

Crônica: dispneia com a mesma intensidade ou com piora lenta e progressiva. Está mais
associada a doenças crônicas, como enfisema, nos tabagistas, asma crônica ou insuficiência
cardíaca;

de Esforço: associada a esforço físico ou a atividade física de grande rendimento;

de Repouso: dificuldade respiratória mesmo durante o repouso. É comum em pacientes


idosos, com doenças cardíacas graves, como a insuficiência cardíaca congestiva e também
em problemas pulmonares, como crise de asma, câncer de pulmão ou enfisema pulmonar;

Suspirosa: caracterizada pela sensação de falta de ar desencadeada por ansiedade ou


emoção forte, levando a inspirações profundas.
Dispneia- Classificação
Dispneia- Condições específicas
Ortopneia, DPN, platipneia, trepopneia
Ortopneia: surgimento ou ao agravamento da sensação de dispneia gerada a partir da
adoção da posição horizontal. Classicamente, a ortopneia surge em pacientes portadores de
insuficiência cardíaca, asmáticos, em casos de DPOC, entre outros.

Dispneia Paroxística Noturna: quando o paciente tem seu sono interrompido por uma
sensação súbita de falta de ar. Ocorre devido a reabsorção de edema periférico, que
provoca hipervolemia e congestão pulmonar. Comum em pacientes portadores de
Insuficiência Cardíaca Esquerda;

Platipneia: quando a sensação de dispneia surge ou é agravada na posição ortostática.


Ocorre geralmente em quadros de pericardite ou na presença de shunts direito-esquerdos;

Trepopneia: quando a sensação de dispneia que surge ou piora ao se adotar uma posição
lateral e desaparece ou melhora quando se institui o decúbito lateral oposto.
Causas de dispneia aguda:
Atentar-se para sinais como
taquipnéia, taquicardia, estridor,
uso de musculatura acessória,
agitação, letargia, movimento
abdominal paradoxal e
dificuldade de falar por dispneia.

Fonte: Sinais e sintomas na prática médica. Guia rápido.


Causas de dispneia crônica:
As causas mais comuns na prática clínica são
doença pulmonar obstrutiva crônica
(DPOC) e insuficiência cardíaca congestiva (ICC);

Classicamente, a ortopneia é correlacionada


com ICC. A presença de dispnéia
paroxística noturna reforça essa hipótese;
Ortopnéia não é uma manifestação
específica de ICC.

Dispnéia em pacientes cardiopatas pode


representar isquemia miocárdica.

Fonte: Sinais e sintomas na prática médica. Guia rápido.


Referências
Porto, Celmo, C. e Arnaldo Lemos Porto. Exame Clínico, 8ª edição .

Braunwald E. Anamese. In: Braunwald E, Zipes DP, Libby P, editors. Tratado de medicina
cardiovascular. 6. ed. São Paulo: Roca; 2003. p 31-48.

Dyspnea. Mechanisms, assessment, and management: a consensus statement. American


Thoracic Society. Am J Respir Crit Care Med. 1999 Jan;159 (1): 321-40.

Goroll AH, Mulley AG. Evaluation of chronic dyspnea. In: Goroll AH, May LA, Mulley AG
editors. Primary care medicine: office evaluation and management of the adult patien. 4th
ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2000. p 267-71.

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