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Síndrome Conversiva

Definição

é uma doença de sintomas ou déficits que afetam funções motoras ou sensoriais voluntárias,
sugerindo outra condição clínica, mas que aparenta ser causada por fatores psicológicos, pois
é precedida por conflitos ou outros estressores.

Os sintomas ou déficits do transtorno conversivo não são produzidos de modo intencional e


não são causados pelo uso de substância, não estão limitados a sintomas dolorosos ou sexuais,
e o ganho é primariamente psicológico, e não social, financeiro ou legal.

Etiologia

Fatores psicanalíticos

De acordo com a teoria psicanalítica, o transtorno conversivo é causado pela repressão de um


conflito intrapsíquico inconsciente e pela conversão da ansiedade em um sintoma físico. O
conflito acontece entre um impulso instintivo (p. ex., agressão ou sexualidade) e a proibição de
sua expressão.

Os sintomas possibilitam a expressão parcial do desejo ou ímpeto proibidos, mas a disfarçam,


de modo que os pacientes podem evitar o confronto consciente com seus impulsos
inaceitáveis; isto é, o sintoma do transtorno conversivo tem uma relação simbólica com o
conflito inconsciente – por exemplo, vaginismo protege a paciente de expressar desejos
sexuais inaceitáveis. Esses sintomas também permitem aos pacientes comunicarem sua
necessidade de atenção e de tratamento especiais.

Teoria da aprendizagem

Um sintoma conversivo pode ser visto como um comportamento aprendido condicionado


classicamente; os sintomas de doença, aprendidos na infância, são suscitados como um meio
de enfrentamento de uma situação que de outra forma seria impossível

Fatores biológicos

Os sintomas podem ser causados por uma excitação cortical excessiva que desencadeia
circuitos de retorno negativo entre o córtex cerebral e a formação reticular do tronco
encefálico. Por sua vez, níveis elevados de débito corticofugal inibem a consciência do paciente
da sensação corporal, o que pode explicar os déficits sensoriais observados em alguns
indivíduos afetados.

Epidemiologia

. Os sintomas são mais comuns no lado esquerdo do que no lado direito do corpo em mulheres

. Homens com transtorno conversivo com frequência estiveram envolvidos em acidentes


ocupacionais ou militares.

. O início do transtorno se dá geralmente no fim da infância até o início da idade adulta, sendo
raro antes dos 10 anos de idade ou após os 35 anos. Quando os sintomas sugerem um
transtorno conversivo com início na meia-idade ou na velhice, a probabilidade de uma
condição neurológica ou outra condição clínica oculta é alta. Sintomas conversivos em crianças
com menos de 10 anos costumam estar limitados a problemas com a marcha ou convulsões.
. Mais comum entre as populações rurais, pessoas com baixo grau de instrução, com baixo
quociente de inteligência, em grupos com nível socioeconômico baixo e em militares que
foram expostos a situações de combate.

. Acomete mais mulheres do que em homens

Manifestações

- Sintomas motores:

Movimentos involuntários, tiques, blefarospasmo, torcicolo, opistótono, convulsões, marcha


anormal, quedas, astasia-abasia, fraqueza, afonia, coordenação ou equilíbrio prejudicado,
dificuldade para engolir ou bolo na garganta

Tremores rítmicos grosseiros, movimentos coreiformes, tiques e espasmos podem estar


presentes. Os movimentos costumam piorar quando a atenção é voltada para eles. Um
distúrbio da marcha visto no transtorno conversivo é astasia-abasia, que é uma marcha
extremamente atáxica e cambaleante acompanhada por movimentos truncais grosseiros,
irregulares, movimentos espasmódicos truncais e de balanço dos braços. Os pacientes com os
sintomas raramente caem; se isso ocorre, em geral não se machucam.

Paralisia e paresia envolvendo um, dois ou os quatro membros, Os reflexos permanecem


normais; os pacientes não têm fasciculações ou atrofia muscular (exceto depois de paralisia
conversiva de longa data); os achados eletromiográficos são normais.

- Déficits sensoriais:

Anestesia, especialmente das extremidades, Anestesia na linha média, Cegueira, Visão de


túnel, Surdez, alucinações, perda de sensação de tato ou de dor, visão dupla, (Esses sintomas
podem ser unilaterais ou bilaterais, mas a avaliação neurológica revela caminhos sensoriais
intactos) parestesias

Assim, os clínicos podem ver a característica anestesia tipo meia-e-luva das mãos ou dos pés
ou a hemianestesia do corpo começando precisamente ao longo da linha média.

- Sintomas viscerais:

Vômito psicogênico, Pseudociese, Globo faríngeo, Desmaio ou síncope, Retenção urinária,


Diarreia

- Sintomas de transtornos depressivo e de ansiedade com frequência acompanham os


sintomas do transtorno conversivo, e os pacientes afetados estão em risco de suicídio.

- Sintomas convulsivos:

Pseudoconvulsão, Morder a língua, incontinência urinária e lesões após uma queda podem
ocorrer em pseudoconvulsões.

- Ganho primário

Os pacientes obtêm ganho primário ao manter os conflitos internos fora de sua consciência

- Ganho secundário

Os pacientes acumulam vantagens e benefícios tangíveis como resultado de estarem doentes;


por exemplo, ser dispensado de obrigações e situações vitais difíceis, recebendo apoio e
assistência que de outra forma não estariam disponíveis e controlando o comportamento de
outras pessoas.

- La belle indifférence

Uma atitude inapropriadamente arrogante de um paciente em relação a sintomas graves; isto


é, ele parece estar despreocupado com o que parece ser um prejuízo importante.

Diagnóstico

. Os médicos devem resistir a um diagnóstico irrefletido de transtorno conversivo quando


frente a sintomas difíceis de interpretar. A ocorrência de aparentes sintomas conversivos exige
uma avaliação completa para possível explicação física subjacente. Tal estudo pode incluir
exames físicos e psiquiátricos, raios X e testes de sangue e urina conforme os sintomas e sinais.

Critérios Diagnósticos

A. Um ou mais sintomas de função motora ou sensorial alterada.

B. Achados físicos evidenciam incompatibilidade entre o sintoma e as condições médicas ou


neurológicas encontradas.

C. O sintoma ou déficit não é mais bem explicado por outro transtorno mental ou médico.

D. O sintoma ou déficit causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no


funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo ou
requer avaliação médica.

Especificar o tipo de sintoma

Especificar se: Episódio agudo - Sintomas presentes há menos de seis meses ou Persistente-
Sintomas ocorrendo há seis meses ou mais.

Especificar se: Com estressor psicológico (especificar estressor) ou sem estressor psicológico

Diagnóstico diferencial

Distúrbios neurológicos (p. ex., demência e outras doenças degenerativas), tumores cerebrais
e doença dos gânglios da base.

As doenças a serem consideradas incluem: esclerose múltipla (incluir cegueira secundária a


neurite óptica com fundos inicialmente normais), miastenia grave, paralisia periódica, miopatia
mioglobinúrica, polimiosite, outras miopatias adquiridas (todas podem envolver fraqueza
substancial na presença de reflexos tendíneos profundos normais) e síndrome de Guillain-
Barré

Prognóstico

Os sintomas ou déficits são, em geral, de curta duração, e cerca de 95% dos casos agudos têm
remissão espontânea, geralmente em duas semanas em pacientes hospitalizados. Se os
sintomas estão presentes há seis meses ou mais, o prognóstico para sua resolução é menos do
que 50% e vai diminuindo conforme o tempo que estiverem presentes. Um episódio é um
preditor de episódios futuros.

Paralisia, afonia e cegueira estão associadas a bom prognóstico, enquanto tremor e convulsões
são fatores para mau prognóstico.
Tratamento

Uma abordagem conservadora de tranquilização e relaxamento é efetiva

Terapia de apoio orientada para o insight: os pacientes exploram conflitos intrapsíquicos e o


simbolismo dos sintomas do transtorno conversivo.

Terapia comportamental.

Narcoanálise (p. ex., entrevista com amobarbital): o amobarbital ou outro agente sedativo-
hipnótico, como lorazepam, é administrado por via intravenosa ao ponto de sonolência. Às
vezes, isso é seguido pelo uso de uma substância estimulante como metanfetamina. O
paciente é, então, estimulado a discutir estressores e conflitos. Não foi demonstrado que esse
procedimento seja especialmente eficaz com sintomas conversivos mais crônicos.

Hipnose: os sintomas podem ser removidos durante um estado hipnótico, com a sugestão de
que eles melhorarão de forma gradual após a sessão. A informação sobre estressores e
conflitos também pode ser explorada. Acredita-se que a hipnoterapia seja particularmente
efetiva nos sintomas motores.

Existem relatos informais de resposta positiva a tratamentos somáticos como fenotiazinas, lítio
e mesmo eletroconvulsoterapia (ECT).

Agentes antidepressivos podem ser úteis

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