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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA

MARIA GABRIELE DE ACIOLI SERPA

RELATÓRIO 1
SÍNTESE DO ÁCIDO ACETILSALICÍLICO (ASPIRINA)

Recife, 19 de dezembro de 2022.


1. INTRODUÇÃO

O ácido acetilsalicílico (AAS) é o princípio ativo da Aspirina®, que visa efeitos


analgésicos, antipiréticos e anti-inflamatórios. Segundo a bula da empresa farmacêutica EMS,
o ácido acetilsalicílico é parcialmente hidrolisado a ácido salicílico (AS) no organismo para
desencadear efeitos terapêuticos (BULA, 2016). Pensando nisso como uma reação de
equilíbrio, também se pode utilizar o ácido salicílico para formação do ASS, tendo em vista
que é uma reação produto-favorecida devido ao pKa do ácido acetilsalicílico ser 3,48 e ao
pKa do ácido salicílico ser 2,98 (HAYNES et al., 2014; SOLOMONS e FRUHLE, 2012).
Uma possível rota de síntese é encontrada no Esquema 1, em que o ácido salicílico reage
com o anidrido acético, catalisado por um ácido que possa doar prótons, para formar o ácido
acetilsalicílico e o ácido acético.

Esquema 1 – Reação de acetilação do ácido salicílico via catálise ácida

Fonte: Me Salva

Sendo assim, a reação de acetilação do ácido salicílico é importante ao abordar


técnicas de síntese baseadas nas propriedades dos reagentes e produtos, bem como suas
influências no rendimento (DOMINGUES et al.,2022).

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 MATERIAIS
- Ácido Salicílico;
- Anidrido Acético PA;
- Ácido Fosfórico 15M;
- Água Destilada;
- Gelo;
- 02 Erlenmeyers 150 mL;
- 02 Béqueres 500 mL;
- 01 Bastão de Vidro;
- 01 Proveta de 25 mL;
- 01 Balança Analítica;
- 01 Funil Pequeno;
- 01 Disco de Papel de Filtro;
- 01 Chapa de Aquecimento;
- 01 Conta-gotas;

2.2 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

Inicialmente, adicionou-se 2,009 g de ácido salicílico em um erlenmeyer de 150 mL,


seguido de 5 mL de anidrido acético e 5 gotas de ácido fosfórico 15M. Deixou-se a mistura
reacional em banho de vapor (70-80ºC) com agitações periódicas durante 15 minutos até
completa homogeneização. Após essa etapa e adequação do frasco a temperatura ambiente,
adicionou-se 2 mL de água destilada de forma a consumir todo anidrido acético. Em seguida,
adicionou-se 20 mL de água destilada para precipitação do ASS, submetendo o frasco
posteriormente a banho de gelo para aceleração da cristalização. Terminada a cristalização da
aspirina, os cristais foram filtrados a vácuo e postos em dessecador para eliminação de toda
umidade. Depois de pesados, o ASS foi recristalizado em uma solução de 35 mL de etanol e
água em 1:1 de volume, que em seguida foi resfriada. Por fim, após filtração a vácuo e
secagem dos cristais, eles foram pesados para realização do cálculo de rendimento.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Após adição dos reagentes e do catalisador, observou-se que o ácido salicílico não se
solubilizou em meio aquoso como se pode ver na Figura 1, já que sua solubilidade ocorre em
acetato, etanol e ácido acético (HAYNES et al., 2014).
Figura 1 – Ácido salicílico insolúvel no meio reacional.

Fonte: A autora (2022)


Conforme a mistura foi submetida ao aumento de temperatura e leves agitações,
observou-se que o sólido foi solubilizado e notou-se um cheiro característico de ácido acético
(Figura 2).
Figura 2 – Meio reacional homogêneo.

Fonte: A autora (2022)

Essas evidências demonstram que a formação do ácido acetilsalicílico aconteceu,


visto que o ASS aumenta sua solubilidade em água de acordo com aumento da temperatura, e
o AS é insolúvel em água (HAYNES et al., 2014). Ainda, o cheiro de ácido acético reforça
essa hipótese, já que ele é um dos produtos dessa reação. Além disso, a diferença de
solubilidade permite a purificação do ácido acetilsalicílico a partir de técnicas de cristalização
e recristalização.
Pensando nisso, após adição de 20 mL de água destilada, pôde-se notar a formação de
pequenos cristais de ASS (Figura 3a). Enquanto após o banho de gelo, notou-se uma grande
quantidade de cristais (Figura 3b), demonstrando que a diminuição da temperatura acelera a
cristalização da aspirina.
Figura 3 – Cristais de aspirina antes (a) e após (b) o banho de gelo.

Fonte: A autora (2022)


Prosseguiu-se para obtenção dos cristais de aspirina através de filtração a vácuo,
seguida de secagem em dessecador (Figura 4).
Figura 4 – Cristais de aspirina após filtração e secagem.

Fonte: A autora (2022)

A massa de ASS foi de 2,183 g, apresentando rendimento de 83,32% conforme os


cálculos na Figura 5.
Figura 5 – Cálculos de rendimento teórico e real da aspirina.

Fonte: A autora (2022)

Aqui, é importante avaliar que a reação entre o AS e o ASS é de equilíbrio com


constantes de acidez próximas, de forma que o ácido salicílico restante também pode
cristalizar nessa etapa devido sua insolubilidade em água, mesmo que parte dele possa ficar
solúvel no ácido acético formado. Por isso, realizou-se a técnica de recristalização:
solubilizou-se os cristais em etanol, já que ambos compostos são muito solúveis nesse
solvente, e adicionou-se água destilada na proporção 1:1 de volume, resfriando
posteriormente a solução para a cristalização do ASS, que é insolúvel em água gelada
(HAYNES et al., 2014). Dessa forma, permite-se que o ácido salicílico permaneça solúvel no
etanol e que os cristais de ASS sejam obtidos por filtração a vácuo e secos no dessecador
(Figura 6).
Figura 6 – Cristais de aspirina após a recristalização.

Fonte: A autora (2022)

A massa dos cristais de aspirina nessa etapa foi de 1,743 gramas, equivalente a
66,53% de rendimento, conforme os cálculos da Figura 7. A partir disso, é possível discutir
que a diferença de massa entre a primeira cristalização e a segunda deve-se pelo excesso de
reagente na primeira cristalização (cerca de 16,79%), visto que se trata de uma reação de
equilíbrio apesar de produto-favorecida.
Figura 7 – Cálculos de rendimento da aspirina após a recristalização.

Fonte: A autora (2022)

Por isso, o conhecimento de técnicas de síntese e purificação baseadas nas


propriedades dos produtos e reagentes se fazem necessárias para que se tenha um produto
limpo e um rendimento mais próximo do real, já que 16,79% do que se obteve de cristais
inicialmente era do reagente AS.
CONCLUSÃO

O estudo da reação de acetilação do ácido salicílico é importante para o conhecimento


de técnicas de laboratório de síntese que utilizam das propriedades e reatividades dos
reagentes e produtos. Em reações de equilíbrio, essas técnicas se fazem necessárias devido a
parte dos reagentes que não puderam reagir, ou foram formados novamente, permanecerem
no meio como impureza. Nesse caso, a técnica de cristalização do ácido acetilsalicílico não
foi suficiente para obtenção de um produto puro, tendo em vista as constantes de acidez
próximas entre o AS e o ASS. Sendo assim, foi necessário o uso da técnica de recristalização,
de forma que sua aplicação resultou na eliminação de 16,79% de ácido salicílico restante da
primeira cristalização. Por isso, o estudo das propriedades dos compostos envolvidos na
reação e das técnicas de síntese influenciam diretamente no rendimento da reação.
REFERÊNCIAS

BULA DE MEDICAMENTO NA INTERNET. Ácido Acetilsalicílico. Responsável técnico


Dr. Ronoel Caza de Dio. São Paulo: EMS S/A; 2016. Disponível em:
https://www.ems.com.br/arquivos/produtos/bulas/bula_acido_acetilsalicilico_10425_1501.pd
f. Acesso em: 16 dez. 2022.

DOMINGUES, L. A.; MAGALHÃES, C. G.; SANDRI, M. C. M. Síntese do Ácido


Acetilsalicílico: Uma proposta para Laboratórios de Graduação empregando a Química
Verde. Química Nova Escola. Vol. 44, Nº 2, p. 105-114, 2012.

HAYNES, W. M.; LIDE, D. R.; BRUNO, T.J. Handbook of Chemistry and Physics.
Washington D. C.: CRC – Press, p. 94-103, 2014.

SOLOMONS, T. W. G.; FRUHLE, C. B. Química Orgânica. 10ª edição, Rio de Janeiro: LTC
– Livros Técnicos e Científicos Editora LTDA, p. 111-116, 2012.

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