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indigenas-matematica
Publicado em NOVA ESCOLA 12 de Abril | 2023

Anos Iniciais

A Geometria presente na
arte dos povos indígenas
Confira sugestões para aliar a Matemática, por meio da
Geometria, às comemorações do Dia dos Povos Indígenas
Selene Coletti

Indígena guarani com pintura facial. Foto: Getty Images


A chegada de abril traz reflexões sobre os povos indígenas. É certo que muito
vem sendo desconstruído quando se fala nos povos originários. Por exemplo:
pintar o rosto imitando indígenas ou mesmo construir cocares similares são
pontos a serem (re)pensados por todos os profissionais da Educação.
Dessa maneira, é importante levar para a sala momentos nos quais as turmas
possam conhecer a cultura indígena a fim de respeitar as suas diferentes
manifestações. Conforme as especificidades de cada turma, vamos
aprofundando os temas. Já trouxemos neste espaço uma conversa sobre as
relações étnico-raciais e abordamos um pouco os povos indígenas.
Leia também: Como trabalhar as relações étnico-raciais nas aulas de
Matemática
Porém vamos agora direcionar nosso olhar para um dos aspectos da cultura
dos povos originários, a partir da Matemática, que é a Geometria presente na
arte dos povos indígenas.
Retomando um pouco
Vale relembrar que, de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC),
“a Geometria envolve o estudo de um amplo conjunto de conceitos e
procedimentos necessários para resolver problemas do mundo físico e de
diferentes áreas do conhecimento” (p. 269). Essa unidade temática propõe o
estudo da “posição e deslocamento no espaço, formas e relações entre
elementos de figuras planas e espaciais”, o que possibilita o desenvolvimento
do pensamento geométrico dos alunos.
O documento ainda destaca a importância de se “considerar o aspecto
funcional que deve estar presente no estudo da Geometria: as transformações
geométricas, sobretudo as simetrias” (p. 269).
A arte indígena está carregada de possibilidades para trabalhar a Geometria em
sala de aula, principalmente no que se refere às formas, relações entre os
elementos das figuras e simetria. A partir disso, entra em cena o trabalho com
os padrões, que ganhará maior significado.
Começando sempre com uma boa conversa
Uma boa roda de conversa é sempre um excelente início. Começar com uma
leitura em voz alta, então, melhor ainda.
Na nossa escola, temos o livro Viagem ao mundo indígena, da Coleção Pawana,
de Luís Donisete Benzi Grupioni. A obra reúne histórias sobre a vida cotidiana
dos indígenas de diferentes etnias e permite uma aproximação do leitor com a
cultura indígena.
Um dos textos, intitulado “A arte de pintar”, conta como a pintura corporal,
técnica desenvolvida entre as mulheres Xikrin, no sul do Pará, faz parte da
rotina de suas vidas.
Jogo para explorar os grafismos na arte dos povos
indígenas
A partir dessa leitura, é possível explorar os grafismos presentes nas pinturas
corporais indígenas. Os grafismos são linhas que compõem padrões
geométricos e simétricos usados tanto na pintura corporal quanto na cerâmica
e na cestaria. São inspirados na natureza, aparecendo em diferentes linhas
(retas, paralelas, curvas, perpendiculares) e formando diferentes desenhos e
formas (triângulos, retângulos, quadrados etc.).
Cada grupo possui o seu próprio grafismo. Você poderá explorá-los
apresentando algumas imagens para que a turma perceba a variedade e seus
significados. Trago alguns exemplos que podem ser usados na forma de um
jogo da memória.

Jogo da memória com grafismos indígenas


Este jogo da memória utiliza artes inspiradas em grafismos
indígenas de uma série de povos originários brasileiros. O
material é gratuito e pode ser usado na Educação Infantil e
nos Anos Iniciais do Fundamental. Deixe o ensino da
Geometria ainda mais dinâmico!
ACESSE O MATERIAL

Proponho explorar as cartas para que possam familiarizar-se com os grafismos


identificando as formas que aparecem. Como há mais de um tipo de etnia, é
possível comparar as semelhanças e diferenças entre elas. Depois, é hora de
perceber os grafismos que aparecem nas imagens das cerâmicas e das
cestarias.
Após a exploração, é hora de jogar. Organize a turma em grupos, leia as regras
do jogo (ou solicite que leiam e explorem o que entenderam) e observe as
dificuldades encontradas. Se for um 1º ano do Fundamental, provavelmente um
dos desafios será organizar as peças em linhas e colunas, para facilitar a
localização dos pares. Observe como jogam e, depois, leve algumas
problematizações referentes às cartas ou mesmo às jogadas para os alunos,
como, por exemplo:
Ao final do jogo, Pedro tinha 12 pares e seu colega, dez. Quantas cartas os dois
tinham ao final? Como você fez para descobrir isso?
João tinha 18 pares de cartas e seu colega tinha 14 cartas. Quantas cartas João
tinha a mais (ou a menos) que seu colega?
Ana estava jogando com Luís. Ela tinha dez pares, enquanto Luís tinha 14.
Quantos pares Ana precisa ter para passar à frente de Luís?
O importante nessas problematizações é a socialização das ideias de como cada
um as resolveu. Este momento é bastante rico para que todos aprendam novas
formas de resolver problemas para além daquilo que cada aluno fez.
Criando grafismos indígenas
Além da exploração das cartas para que a turma possa se familiarizar com as
diferentes pinturas indígenas, disponibilize vídeos sobre artes indígenas ou
proponha que pesquisem sobre elas. Abaixo, deixo duas sugestões:
Grafismos Mbyá-Guarani

Vídeo: https://www.youtube.com/embed/8QSiukuMnKs
Grafismo Indígena: Asurini do Xingu

Vídeo: https://www.youtube.com/embed/onah4R4uhUE

Lembre-se sempre de explorar os diferentes tipos de linha que aparecem nas


manifestações estudadas. Depois de a turma estar bem familiarizada com eles,
proponha que cada um crie uma pintura para si.
Para isso, peça que contornem a própria mão em uma folha de sulfite e
escolham os motivos que queiram representar para si. Observe enquanto
realizam a proposta e questione os tipos de linha e figuras utilizadas. Depois,
organize uma exposição com os trabalhos, que certamente ficarão lindos!
Reproduzindo e criando padrões
Como mencionei anteriormente, é possível trabalhar os padrões geométricos.
Você poderá propor inicialmente que a turma – dividida em duplas – dê
continuidade ao padrão geométrico indígena iniciado por você. Em seguida,
será a vez de as duplas criarem os padrões para trocarem entre si. Uma dupla
cria e a outra dá continuidade. Neste link, você encontra algumas inspirações
para planejar esse trabalho.
Planeje um momento para que as duplas possam explicar como pensaram a
continuidade do padrão recebido. Leve também as anotações que você realizou
enquanto observava e/ou intervinha durante o trabalho da turma.
Trançado indígena
A cestaria indígena é outra arte que pode ser explorada nas aulas de
Matemática, a partir da “imitação” do trançado, utilizando papéis de cores
diferentes, o que permite trabalhar as sequências e o ordenamento do próprio
trançar.
Eu costumava apresentar o trançado e deixar que as crianças o manuseassem
para construírem um próprio. Para trabalhar as medidas, disponibilizava papéis
coloridos para medirem, recortarem e montarem o trançado.
Também deixava, no momento da atividade diversificada, um trançado já
iniciado para, depois, os alunos construírem os seus a partir do modelo
disponibilizado, conforme é possível ver na foto abaixo. Você pode dar o passo
a passo por escrito. Anote as dificuldades e facilidades dos alunos para planejar
as próximas atividades. Por fim, organize uma mostra dos trabalhos.
Exemplo de atividade com trançado indígena. Foto: Acervo da autora
Como você pode ver, sua turma encontrará novos significados para a cultura
indígena e uma forma diferente para trabalhar o Dia dos Povos Indígenas, além,
é claro, de levar a Matemática para sala de aula com mais significado.
Vamos investir nessas ideias?
Um abraço e até a próxima!
Selene
Selene Coletti é professora na rede pública há 40 anos. Atuou na Educação
Infantil e foi alfabetizadora por dez anos, lecionando do 1º ao 5º ano. Em 2016,
foi uma das ganhadoras do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor
Civita, com o projeto Mapas do Tesouro que São um Tesouro, na área de
Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio Gestão para o
Sucesso Escolar, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como
coordenadora do Núcleo de Formação Continuada e também como formadora
da Educação Infantil na Prefeitura de Itatiba (SP). Atualmente é vice-diretora da
EMEB Philomena Zupardo, em Itatiba.

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