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A pandemia e a gestão dos canais de denúncias das empresas

25/04/2020 - O avanço do coronavírus (covid-19) no Brasil impõe uma série de desafios para as
áreas de compliance das empresas, na medida em que a atual conjuntura intensifica os riscos
relacionados à prática de atos de corrupção e fraude de naturezas diversas. Neste cenário, o canal de
denúncias pode se tornar um importante instrumento de enfrentamento à pandemia, enquanto
contribui para o desenvolvimento de um ambiente empresarial pautado na ética e no combate à
corrupção.
A legislação brasileira não obriga as empresas a instituírem canais de denúncias, exceto nos casos
de companhias abertas listadas no segmento do Novo Mercado, que são submetidas a critérios de
governança corporativa mais rigorosos. No entanto, há um incentivo legal para a sua adoção,
previsto no texto do Decreto nº 8.420/2015, que regulamentou a Lei Anticorrupção. O canal de
denúncia é considerado um dos requisitos para a adoção de um programa de integridade efetivo,
devendo ser aberto e amplamente divulgado a funcionários e a terceiros, e conter mecanismos
destinados à proteção de denunciantes de boa-fé.
Ao comprovarem que possuem programas de integridade efetivos, as empresas fazem jus à redução
das sanções aplicáveis no caso de violações da legislação anticorrupção, variando de 1 a 4% no
valor da multa administrativa que vier a ser aplicada. Mas para além do incentivo pecuniário
previsto em lei, um canal de denúncias bem divulgado, e que preserve o anonimato de forma eficaz,
pode ser um importante mecanismo para que empresas tomem conhecimento rápido de eventuais
violações legais ou de políticas internas, sobretudo em momentos de crise.
Nas últimas semanas, órgãos reguladores no Brasil e no exterior criaram canais exclusivos (ou
incluíram seções específicas nos canais preexistentes) para o recebimento de denúncias relacionadas
ao COVID-19, como o Departamento de Justiça norte-americano (DoJ), e a Controladoria-Geral da
União (CGU). O canal da CGU, ‘Fala.BR’, apresentou um aumento de cerca de 50% nos relatos
entre março e abril de 2020, se comparado ao seu histórico. Tanto a CGU quanto o DoJ
aprimoraram seus sistemas, tornando mais rápido o atendimento de denúncias relacionadas à
pandemia.
A devida atenção aos canais de denúncias pode representar uma oportunidade para as empresas
durante a pandemia provocada pela covid-19. A identificação e tratamento tempestivo dos novos
riscos impostos às empresas será fundamental para manter a alta administração informada,
garantindo um processo decisório consciente e evitando reações tardias ou reativas.
Fonte:https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/a-pandemia-e-a-gestao-dos-canais-de-denuncias-das-
empresas/

O difícil caminho da denúncia na iniciativa privada


24/04/2017 - A jornada de uma denúncia até chegar a uma solução não é simples, e depende de
quão organizada, e interessada, a empresa está em resolver seus problemas internos. Segundo Edson
Cedraz, sócio da área de consultoria em gestão de riscos empresariais da Deloitte, que administra,
de forma independente, canais de denúncia de diversas empresas como Queiroz Galvão, Brasilata,
Grupo Anglo American e CSE Energia, os relatos chegam à auditoria por diversos canais como
telefone, e-mail e até mesmo redes sociais. "Fazemos, por exemplo, um rastreamento de forma pró-
ativa, capturando publicações em mídias sociais que possam ser indícios de futuras denúncias",
explica Cedraz.
Uma vez que a acusação deu entrada na empresa, um sistema classifica o evento de acordo com o
assunto: comportamental (como casos de assédio) ou financeiro (como corrupção e fraude); e
criticidade - uma denúncia de assédio sexual, como a feita pela figurinista Susllem Tonani contra o
global José Mayer, por exemplo, teria prioridade na apuração.
"A partir daí enviamos para um resolvedor dentro da empresa, que terá um prazo, de 24 horas até 30
dias, para estabelecer uma solução, seja ela medida disciplinar, desligamento, nova sanção ou
mudança de política, de forma que a resposta volte para o sistema e fique disponível ao
denunciante", explica.
Cedraz admite que a prática está mais evoluída em outros países, como Estados Unidos, onde o
denunciante pode até receber algum benefício financeiro por sua colaboração. "No Brasil tivemos
casos raros e pontuais em que uma empresa recebeu denúncia identificada, não anônima, e como o
denunciante colaborou no processo, ele recebeu parte do que foi recuperado. Mas isso é algo difícil
de ser implementado. Hoje não temos legislação e nem clima para algo assim."
Foi nos Estados Unidos que a Deloitte experimentou de seu próprio remédio. No ano passado, a
empresa foi pega por uma investigação do Public Company Accounting Oversight Board (ou
PCAOB) - entidade norte-americana sem fins lucrativos que fiscaliza auditores -, por fraude na
emissão de pareceres das demonstrações financeiras da Gol Linhas Aéreas, em 2010. E foi
justamente a "delação" de um funcionário, que gravou conversas entre seus pares mostrando a
fraude, que possibilitou a resolução do caso. A empresa foi condenada a pagar multa de US$ 8
milhões nos EUA e mais R$ 5,36 milhões à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), entidade que
fiscaliza o mercado financeiro no Brasil. A empresa ainda afastou 12 pessoas envolvidas, dentre
sócios e funcionários.
Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/20/politica/1492717433_572175.html

1) Os canais de denúncia possuem o objetivo de acolher opiniões, críticas, reclamações e denúncias,


contribuindo para o combate a fraudes e corrupção. Apesar de sua importância, é correto afirmar
que eles são uma ferramenta obrigatória que deve estar presente em todas as empresas brasileiras?
2) Quais são os possíveis custos e benefícios gerados às empresas ao estabelecerem canais de
denúncia?
3) Os canais de denúncia devem ser estabelecidos por meios formais, além de buscar garantir o
anonimato do denunciante. Nesse sentido, é correto afirmar que apenas canais de denúncia
gerenciados por empresas externas (terceiras) seriam capazes de garantir o anonimato do
denunciante? Liste os exemplos de canais formais de denúncia e fontes de informação sobre fraudes
relatados nas reportagens.

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