Você está na página 1de 20

Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação a Distancia

Turma: A, Sala Santa Virgem Maria

Empreendedorismo Nos Países Em Via De Desenvolvimento


Célia Eusébio Paiva Alice
Código: 708207150

Curso: Licenciatura em Administração publica. 4º Ano


Disciplina: Empreendedorismo
Docente: Moniz Falaque

Quelimane, Abril de 2023


Nome do estudante: Célia Eusébio Paiva Alice Ano de frequência: 4º
Especialização: Licenciatura em Administração Publica Turma: A Sala Santa Virgem
Maria
Trabalho de: Empreendedorismo Código de estudante: 708207150
Dirigido ao docente: Moniz Falaque Numero de paginas:20
Confirmação pelo Responsável do CED Data entrega::
Aspetos a Considerar na Correção Classificação
Pontuação Nota
Categorias Indicadores Padrões do Subtotal
máxima
tutor
Estrutura  Capa 0,5
 Índice 0,5
Aspetos  Introdução 0,5
organizacionais  Discussão 0,5
 Conclusão 0,5
 Bibliografia 0,5
Conteúdo Contextualização (indicação clara 1,0
do problema)
Introdução Descrição dos objetivos 1,0
Metodologia adequada aos objeto 2,0
de trabalho
Articulação e domínio do discurso
académico (expressão escrita 2,0
Analise e cuidada, coerência/coesão textual)
Revisão bibliográfica nacional e
discussão internacional relevantes a área de 2,0
estudo.
Exploração de dados 2,0
Conclusão Contributos teórico práticos 2,0
Aspetos Paginação, tipo e tamanho de letra,
Formatação parágrafo, espaçamento entre linha 1,0
gerais
Referencias Normas APA Rigor e coerência das
6ª edição em citações/referencias bibliográficas 4,0
bibliográficas
citações e
bibliografia
Folha feedback
Recomendações de melhoria

………………………………………………………………………………………………………
………………………………………………………………………………………………………
………………………………………………………………………………………………………
………………………………………………………………………………………………………
………………………………………………………………………………………………………
………………………………………………………………………………….
Índice pág.
1. Introdução.................................................................................................................................5
1.1. Objetivos............................................................................................................................6
1.1.1. Geral...........................................................................................................................6
1.1.2. Específicos..................................................................................................................6
1.2. Metodologias de Pesquisa..................................................................................................6
2. Contextualização: O empreendedorismo..................................................................................7
2.1. Conceitos e definições.......................................................................................................7
2.2. Importância Do Empreendedorismo Nos Países Em Vias De Desenvolvimento............10
2.2.2. Empreendedorismo em Moçambique.......................................................................16
3. Considerações finais................................................................................................................19
4. Referencias bibliográficas.......................................................................................................20
5

1. Introdução

O empreendedorismo é considerado uma força motriz do crescimento económico, ao


introduzir no mercado inovações que tornam obsoletos os produtos e as tecnologias já existentes.
Porém, apesar de criar emprego e gerar riqueza, os estudos apresentam resultados não
consensuais.

Muitos países ainda possuem uma série de barreiras institucionais que atravancam o
desenvolvimento do empreendedorismo, isto é, impacta diretamente na criação de novos
negócios. Referindo-se ao caso PVDs, convém destacar a dificuldade de abertura de um novo
negócio, decorrente da enorme burocracia, a regulamentação estatal, a dificuldade de acesso ao
crédito bancário, a alta carga tributária, entre outros fatores

As pesquisas GEM classificam a motivação que leva o individuo a empreender em duas


categorias: empreendedor por oportunidade, aquele indivíduo motivado pela percepção de um
nicho de mercado em potencial, e o empreendedor por necessidade, ou seja, aquele motivado pela
falta de alternativa satisfatória de trabalho e renda
6

1.1. Objetivos
1.1.1. Geral
 Estudar o efeito do empreendedorismo nos países em vias de desenvolvimento.
1.1.2. Específicos
 Contextualizar e definir o termo empreendedorismo;
 Destacar a importância do empreendedorismo nos países em vias de desenvolvimento;
 Discutir sobre o empreendedorismo na economia de Moçambique.
1.2. Metodologias de Pesquisa

A metodologia adotada para a realização da presente pesquisa compreende a observação


de procedimentos que podem ser divididos duas fases principais:

A primeira fase compreende um levantamento bibliográfico referente ao


empreendedorismo, discutida pelos principais estudiosos desta área. Os dados utilizados foram
obtidos através de teses e dissertações, periódicos, revistas especializadas, internet, relatórios

A segunda etapa da pesquisa incluiu a observação do empreendedorismo no contexto da


sociedade contemporânea, através do diagnóstico no mundo e países em vias de
desenvolvimento, A última fase foi a reunião das informações coletadas, divididas por tema, para
que se possa compreender a interação dos assuntos.
7

2. Contextualização: O empreendedorismo.
2.1. Conceitos e definições

O empreendedorismo tem vindo a suscitar cada vez mais atenção por parte dos
académicos e, os estudos sobre o empreendedorismo resultaram numa variedade de definições e
pontos de vista. Contudo, apesar da atualidade do tema, Thurik e Wennekers (1999) sublinham
que o empreendedorismo teve origem no termo francês “entrepreneur” e a sua primeira utilização
terá surgido nos finais do século XVII e é atribuída a Cantillon (1755).

Segundo Thurik e Wennekers (1999), Cantillon caracterizou o empreendedor como


alguém que assume o risco, na medida em que adquire recursos a um valor certo para mais tarde
o vender a um valor incerto.

Existe uma clara diversidade no conceito do empreendedorismo, o que demonstra a sua


interdisciplinaridade e a complexidade da sua definição. Desta diversidade nasceram, segundo
Hebert e Link (1989) as três doutrinas intelectuais nesta área de investigação. Assim, a primeira
doutrina foi desenvolvida por Schumpeter (1934), a segunda provém da tradição neoclássica de
Chicago, por intermédio de Knight (1921) e Schultz (1975), e finalmente a terceira cujo pioneiro
é o austríaco Kirzner (1979).

Schumpeter foi um dos autores destacados na área da economia, que ficou muito
conhecido pelos seus trabalhos nas questões ligadas ao empreendedorismo. Em 1934, publicou a
obra “The theory of economic development”, em que enfatiza o papel do empreendedorismo
como o principal motor do desenvolvimento económico, e que inspirou muitos estudos neste
campo de investigação. Ele considera o empreendedor como um criador de instabilidade e de
destruição criativa, já que este muda as "regras de concorrência" para a indústria (Schumpeter,
1934). A peça fundamental da destruição criativa é a inovação, que o autor considera como a
principal fonte de crescimento económico. Ela revoluciona a estrutura económica a partir de
dentro, incessantemente destruindo o antigo, criando um novo (Schumpeter, 1934). A inovação é
uma parte importante deste processo e sem ela o empreendedorismo gera pouco benefício para a
economia. Daí um dos pontos mais relevantes da sua posição, o conceito da inovação. Dois
aspetos devem ser relevados desta definição:
8

 Só se pode ser considerado empreendedor quando se está realmente a criar algo


novo, no caso contrário não se trata de um empreendedor.
 E mesmo inovando, uma vez implantado o negócio, o proprietário deixa de ser
empreendedor.

A segunda doutrina, teve origem em Knight (1921) e foi aprofundada mais tarde por
Schultz (1975). Este segundo autor apoia-se no capital humano para explicar o
empreendedorismo. A sua abordagem através do capital humano rejeita a ideia das recompensas
empresariais, assim como do retorno do risco assumido. Ainda de acordo com este autor, o risco
não é um atributo exclusivo dos empreendedores, já que os não empreendedores também podem
assumir riscos (Schultz, 1980). A contribuição deste autor articula-se essencialmente em torno de
dois aspetos:

 Primeiro, ele redefiniu o empreendedorismo como a capacidade de lidar com os


desequilíbrios económicos.
 E em segundo lugar, ele produziu evidências empíricas sobre a capacidade de
reação das pessoas face a esses desequilíbrios.

No entanto, da escola Austríaca de pensamento económico também viria a surgir uma


outra abordagem do empreendedorismo, tendo Kirzner (1973) como um dos maiores precursores.
Kirzner (1973) apresenta um conceito mais estrito de empreendedor, que apenas considera os
indivíduos que realizam descobertas e conseguem obter lucros. A atitude dos empreendedores,
mais do que qualquer outro profissional, é incentivada pelo lucro. Para ele, o empreendedor
ocupa uma posição chave na economia de mercado, visto que a sua capacidade de vigilância é
essencial para descobrir as falhas nos padrões existentes de coordenação entre as decisões de
mercado. Contudo, os empreendedores também cometem erros nas suas avaliações de
oportunidades. Estes erros conduzem ao aparecimento de novas oportunidades de negócios,
porém novos erros serão cometidos no futuro e consequentemente, novas oportunidades vão
surgir (Kirzner, 1973). Deste modo, para ele o processo de mercado é constituído pela sequência
sistemática de erros de avaliação das oportunidades de lucro. O empreendedor idealizado por este
autor não requer nenhuma capacidade ou personalidade para desempenhar a função, e pode
mesmo contratar todos os trabalhadores necessários e os talentos de negócios. O fator chave
necessário ao empreendedorismo reside em saber onde procurar o conhecimento. Esse
9

conhecimento fundamenta-se sobretudo na atitude vigilante do empreendedor, permitindo a


antecipação e a exploração de novas oportunidades para fazer lucro.

Apesar das diferentes abordagens do tema, nesta dissertação adotamos a definição


proposta por Wennekers et al. (1997), por ser simples e direta, e de sintetizar os principais
aspetos avançados pelos outros autores: o risco, a incerteza, a inovação, a perceção das
oportunidades e a mudança. Assim, para estes autores, o empreendedorismo compreende a
habilidade e o interesse de indivíduos (quer dentro de uma organização ou independentemente)
em:

 Identificar e criar novas oportunidades de negócios


 Introduzir essas ideias no mercado, enfrentando riscos, incertezas e obstáculos
referentes à localização, forma e à utilização de recursos e instituições.
 Competir com os outros pelo controlo das parcelas de mercado.

O empreendedorismo é um fenómeno multidisciplinar, razão pela qual os académicos


procuraram explicá-lo através de diferentes abordagens, tais como sociológica, económica e
psicológica (Wennekers et al., 2002).

Nesse sentido, apresenta-se abaixo um comentário acerca do conceito de


empreendedorismo do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), que representa, portanto, de
certa forma, um consenso entre vários autores consultados:

Tendo como foco principal o comportamento do indivíduo, a pesquisa


GEM adota como definição de empreendedorismo: qualquer tentativa de criação
de um novo negócio ou novo empreendimento, como, por exemplo, uma atividade
autônoma, uma nova empresa ou a expansão de um empreendimento existente por
um indivíduo, grupos de indivíduos ou por empresas já estabelecidas (IBPQ,
2009). (Souza; Lopes Junior, 2011, p.125).
As pesquisas GEM classificam a motivação que leva o individuo a empreender em duas
categorias: empreendedor por oportunidade, aquele indivíduo motivado pela percepção de um
nicho de mercado em potencial, e o empreendedor por necessidade, ou seja, aquele motivado pela
falta de alternativa satisfatória de trabalho e renda. (Grecco et al, 2010).

Tais pesquisas têm mostrado ainda uma diferença na natureza do empreendedorismo nos
países considerados desenvolvidos e em desenvolvimento, que consiste no fato de que os países
10

desenvolvidos possuem menores Taxa Total Empreendedora (TEA), e esta taxa é caracterizada
pelo empreendedorismo por oportunidade e que os países em desenvolvimento possuem uma
maior TEA, e nestes países esta taxa é formada por uma proporção maior de empreendedorismo
por necessidade do que nos países desenvolvidos (De Souza, 2021 p.3).

2.2. Importância Do Empreendedorismo Nos Países Em Vias De


Desenvolvimento.

O processo empreendedor, visto como o processo que envolve todas as funções,


atividades e ações associadas com a criação de novos empreendimentos, tem sua importância
assegurada como impulsionador do desenvolvimento econômico (Dornelas, 2008).

Neste contexto, conforme argumentam Baggio e Baggio (2014), os economistas passaram


a identificar o empreendedor como um fator essencial ao processo de desenvolvimento
econômico, em cuja avaliação leva-se em conta os sistemas de valores sociais, nos quais são
considerados fundamentais os comportamentos individuais dos seus integrantes.

Dito de outra maneira, passaram a reconhecer que o desenvolvimento econômico depende


da existência e atuação de líderes empreendedores. Este ponto de vista é corroborado e ampliado
por Hisrich e Peter (2004) ao salientarem que o empreendedorismo possui um importante papel
no desenvolvimento econômico.

Entretanto, sua importância vai além do mero aumento da produção e da renda per capita,
mas também impulsionar e constituir mudanças na estrutura do negócio e da sociedade.

Também Dornelas (2008) reconhece a importância do processo empreendedor, do


empreendedorismo e dos empreendedores para a transformação da economia contemporânea,
especialmente impulsionados pela grande competição econômica, que obrigou os empresários a
buscar paradigmas diferentes. De acordo com o autor supracitado:

Por isso, o momento atual pode ser chamado de a era do


empreendedorismo, pois são os empreendedores que estão eliminando barreiras
comerciais e culturais, encurtando distâncias, globalizando e renovando os
conceitos econômicos, criando novas relações de trabalho e novos empregos,
quebrando paradigmas e gerando riqueza para a sociedade. A chamada nova
economia, a era da internet e das redes sociais, mostrou recentemente, e ainda tem
mostrado, que boas ideias inovadoras, know-how, um bom planeamento e,
principalmente, uma equipe competente e motivada são ingredientes poderosos
11

que, quando somados no momento adequado, acrescidos do combustível


indispensável à criação de novos negócios — o capital — podem gerar negócios
grandiosos em curto espaço de tempo. Isso era algo inconcebível há alguns anos.
O contexto atual é propício para o surgimento de um número cada vez maior de
empreendedores. (Dornelas, 2008, p. 9).
A importância do processo empreendedor para a sociedade contemporânea não passou
despercebida aos governos nacionais, convertendo o empreendedorismo em política pública na
maioria dos países, especialmente a partir na década de 1990 e, ainda mais, na década de 2000
(Dornelas, 2008). O reconhecimento da importância do empreendedorismo pode ser medido ao se
considerar o aumento das ações desenvolvidas por países em todo o mundo com relacionadas ao
tema.

Alguns exemplos são: programas de incubação de empresas e parques


tecnológicos; desenvolvimento de currículos integrados que estimulem o
empreendedorismo em todos os níveis, da educação fundamental à pós-
secundária; programas e incentivos governamentais para promover a inovação e a
transferência de tecnologia; subsídios governamentais para criação e
desenvolvimento de novas empresas; criação de agências de suporte ao
empreendedorismo e à geração de negócios; programas de desburocratização e
acesso ao crédito para pequenas empresas; desenvolvimento de instrumentos para
fortalecer o reconhecimento da propriedade intelectual, entre outros. (Dornelas,
2008, p. 10).
A importância do processo empreendedor pode ser concebida ainda a partir das
considerações das etapas que ele envolve, a saber: a identificação e avaliação da oportunidade; o
desenvolvimento do Plano de Negócios; a determinação dos recursos necessários; e a gestão da
empresa.

No que tange à identificação e avaliação da oportunidade, primeira etapa do processo


empreendedor, se mostra vital para o surgimento do próprio empreendimento. Significa dizer
que, por meio dela, o empreendedor passa a testar sua ideia ou conceito de negócio junto de
potenciais clientes. Trata-se de avaliar a disposição dos mesmos em adquirir seu produto ou
serviço através de pesquisas de mercado. Conforme pontua Cruz (2021), esta sondagem é
fundamental, pois lhe proverá uma ideia do tamanho do mercado, se este encontra-se em
crescimento, estabilizado ou estagnado, além de possibilitar identificar a concorrência e quais são
seus pontos fortes e fracos, suas ameaças e oportunidades.
12

Já no que concerne ao plano de negócios, este é visto por muitos autores como a principal
ferramenta para o sucesso empreendedor e do novo empreendimento (Dornelas, 2008; Baggio;
Baggio, 2014). Assinala Pereira (2021, p. 1) que o plano de negócios contém:

[...] todas as informações detalhadas deste empreendimento, assim como as


estratégias que serão atreladas a este. Definir o mercado alvo e saber qual a
necessidade deste, as estratégias de marketing, incluindo até suas projeções
financeiras, significa trabalhar com riscos calculados. Portanto, o Plano de
Negócio estabelece como o empreendedor deverá agir quando seu
empreendimento esta sendo planejado e construído, tornando a ideia em realidade
Dito de outra maneira, um novo empreendimento tem no plano de negócios um forte
aliado, o qual maximizará suas chances de sucesso no competitivo mercado contemporâneo.

Atualmente, a relação entre empreendedorismo e crescimento econômico é incontestável,


de modo que são reconhecidos inúmeros canais por meio dos quais o empreendedorismo pode
afetar o crescimento econômico, a saber: a criação de emprego, o aumento da competitividade, o
progresso tecnológico, além do avanço na produtividade (Menezes, 2015; Amaghouss; Ibourk,
2012; Janssen, 2010).

2.2.1. O Empreendedorismo Africano.

De acordo com Pereira, (2022) o empreendedorismo em África é visto como uma peça
central do desenvolvimento económico no continente. O empreendedorismo tem um papel
positivo na criação de emprego, no aumento do rendimento e na melhoria da qualidade de vida.
Reconhece-se que “o potencial do empreendedorismo em África reside na possibilidade de se
transformar a ingenuidade e a desenvoltura dos indivíduos em poderosos agentes de progresso
para as sociedades africanas.

Assim, investigar em empreendedorismo africano implica perceber as diferenças e as


particularidades da atividade empreendedora no continente e compreender que existem razões
suficientes para identificar um tipo de empreendedorismo específico, contextualizado e fora dos
modelos ocidentais, onde esta disciplina tem as suas origens e o essencial da sua produção
científica (Pereira, 2022 p.23).

Este tipo particular de empreendedorismo é antes de mais moldado pela austeridade, uma
austeridade causada, entre outros fatores, pela enorme escassez de recursos e pelas significativas
limitações estruturais que caracterizam o continente, tais como a prevalência de uma base de
13

capital humano pouco qualificado para quem pretenda lançar um negócio e o consequente
predomínio de parentes e amigos nas iniciativas empreendedoras.

Também sofre da pouca e difícil disponibilidade de capital semente e de capital de risco


no sistema financeiro formal, e da alternativa forçada de recurso ao microcrédito e a fundos
comunitários pouco eficazes.

É ainda afetado pela falta de densidade e de eficiência dos mercados locais e dos
acrescidos riscos de investimento que lhes estão associados, e pelo padrão estabelecido dos
empreendedores desenvolverem compulsivamente vários negócios ao mesmo tempo, chamados
de “empreendedores de carteira”1 (Mol et al., 2017).

Recentemente, a diáspora africana começou a desempenhar um papel positivo criando


iniciativas empreendedoras de maior valor acrescentado através do desenvolvimento de redes
transfronteiriças. Esta nova geração de pessoas que estudaram fora do continente e que criaram
fortes ligações internacionais tem uma perspetiva global do desenvolvimento de negócios e segue
uma lógica de construção de redes de empreendedores de âmbito nacional, regional e pan-
africano (McDade & Spring, 2005).

Na mais recente compilação homónima sobre empreendedorismo africano, Dana et al.


(2018, p.1) clarifica que “os empreendedores em África desenvolvem as suas iniciativas
empresariais no intuito de construírem recursos3 que tenham potencial de ganhos futuros”. Para
que esses recursos possam ser construídos, é necessária flexibilidade no processo de gestão das
oportunidades de mercado e uma compreensão do risco que esses empreendedores
frequentemente não têm (Ratten & Jones, 2018).

Esta importante característica do empreendedorismo africano está associada à prevalência


de “empreendedorismo forçado”, também conhecido como “empreendedorismo de necessidade”,
elevadas taxas de desemprego e contextos institucionais pouco favoráveis.

As particularidades da cultura africana, com muitas tradições ancestrais que encaram a


atividade empresarial de forma diferente da dos países desenvolvidos ajudam também a compor a
natureza singular do fenómeno.

Entre os fatores que desempenham um papel significativo no status quo do


empreendedorismo africano, Dana et al. (2018) refere os seguintes: extremas desigualdades de
14

rendimento; enorme diversidade cultural, linguística e étnica; pesado legado colonial; fortes
desequilíbrios políticos; significativa diversidade climatérica; estruturas sociais fortemente
autoritárias e hierarquizadas; elevado controlo governamental sobre a economia; esmagadora
burocracia; excessiva quantidade de empresas públicas; falta de empresas privadas de grande
dimensão; exponencial desemprego jovem; insignificante oferta de cursos de gestão e de
empreendedorismo; baixa valorização social do empreendedorismo; e fracas instituições4 da
sociedade civil.

Anteriormente, já Spring e McDade (1998) tinha identificado os seguintes determinantes


do empreendedorismo africano: sobrepeso do setor informal na economia; persistência da
discriminação de género e de classe; relação conflituante entre empresas públicas e privadas; e
insuficiente disponibilidade de infraestruturas básicas (eletricidade, água, estradas, etc.), e
instalações e equipamentos para incubação5 e desenvolvimento do empreendedorismo.

Assim sendo, somos forçados a concluir que “os sistemas políticos e económicos em
muitas zonas de África têm sido incompatíveis com o empreendedorismo porque o foco está no
governo e não nas empresas privadas” (Ratten & Jones, 2018, p. 12).

Ao mesmo tempo, África é um enorme mercado emergente suportado em diversos e


potencialmente poderosos motores de crescimento económico: abundância de recursos naturais;
crescimento da população em geral e da classe média em particular, sendo que mais de metade da
população africana tem menos de 25 anos de idade; alguns interessantes casos de sucesso
empresarial com significativo reconhecimento regional; maior pressão internacional no sentido
da transparência e uma crescente disponibilidade de fundos para o desenvolvimento dos países
menos desenvolvidos; maior integração económica regional; entre outros (Pereira, 2022 p.26).

Na maioria dos países da África Subsariana, o empreendedorismo de necessidade


significa autoemprego na economia informal com o único propósito de garantir a
autossubsistência (Brixiova, 2010; Brixiová et al., 2015). Pessoas que não têm lugar no mercado
de trabalho devido à falta de qualificações profissionais ou porque o mercado de trabalho é
simplesmente inexistente ou totalmente ineficiente, como em cenários de pós-guerra ou de pós-
conflito, conseguem lograr a sobrevivência económica através da “opção empreendedora”.
15

Entre os fatores com maior responsabilidade pela indisponibilidade de recursos


financeiros para o empreendedorismo em muitos países africanos, contam-se: instabilidade
política e intermináveis conflitos armados em vastas áreas territoriais (que são, infelizmente, mais
comuns na África Subsariana do que noutras regiões do mundo); crescente insegurança alimentar
e dificuldade de acesso a água relacionadas com as rápidas alterações climáticas e os aumentos da
população total e da população urbana; e rápida degradação ambiental que reduz as áreas
disponíveis para a agricultura e outras atividades económicas.

O empreendedorismo de oportunidade, também conhecido como empreendedorismo


produtivo, surge de lacunas económicas dos mercados enquanto o empreendedorismo de
necessidade não decorre de uma ambição empresarial pré-existente ou de uma oportunidade de
mercado identificada (Hilson et al., 2018).

As oportunidades normalmente emergem de uma de três possibilidades diferentes, de


impacto crescente no processo de criação de valor económico: identificação, descoberta ou
criação (Sarasvathy et al., 2003).

Ács e Varga (2005) afirma que o empreendedorismo de oportunidade tem um


significativo efeito (positivo) no desenvolvimento económico enquanto o empreendedorismo de
necessidade não tem quase impacto nenhum. Esta relação de causalidade é mediada pelo
crescimento económico e materializa-se por via da criação de emprego, do desenvolvimento de
tecnologias inovadoras e do aumento da eficiência de mercado (Brixiova, 2010).

Para que o crescimento económico possa ser uma realidade em África, o


empreendedorismo de oportunidade tem que se consolidar (Rodrik, 2016). O principal problema
do empreendedorismo africano, especialmente na África Subsariana, é a falta de iniciativas
baseadas em inovação (altamente) diferenciadora que possa aspirar a um crescimento “de elevada
escala”, ou empreendedorismo de “topo da pirâmide”, na oportuna expressão de Klingebiel e
Stadler (2017).

Avaliar o impacto real do empreendedorismo na economia exige a identificação de


variáveis que impactem elas mesmas a atividade empreendedora e a sua influência relativa na
atividade económica, que em conjunto compõem o “ecossistema” ou contexto do empreendedor.
Ndulu et al. (2007) identifica as seguintes variáveis contextuais: envolvente institucional, política
16

e regulatória; quadro legal da atividade económica; qualidade e adequação das infraestruturas;


estabilidade macroeconómica; nível de proteção da propriedade industrial; qualidade do sistema
financeiro.

Na África Subsariana, os elevados custos de energia, transporte, telecomunicações e


segurança influenciam negativamente a concretização de iniciativas empreendedoras. E as
elevadas pautas aduaneiras; as generalizadas necessidades de licenciamento administrativo para
se desenvolver qualquer atividade económica; e quadros legais pouco amigos dos investidores
estrangeiros, desempenham também um papel negativo sobre o empreendedorismo.

Finalmente, a corrupção, entendida como o uso indevido de um cargo público para


obtenção de ganhos privados tem também um impacto muito significativo no insucesso
empreendedor (Burgis, 2019; Williams & Kedir, 2016).

2.2.2. Empreendedorismo em Moçambique.

Apesar da relevância da sua área e da sua população, Moçambique é ainda um país pouco
estudado no âmbito do empreendedorismo. Nunca foi objeto de qualquer investigação exaustiva
sobre esta temática e não encontrámos qualquer registo de trabalhos sobre empreendedorismo de
“topo da pirâmide” (Pereira, 2022 p.26).

Moçambique nunca participou no Adult Population Survey (APS) do GEM ou em


qualquer outro estudo international de grande profundidade sobre atividade empreendedora.

Moçambique tem dependido muito de fontes externas para financiar o seu orçamento do
estado, apesar de ter experimentado, entre 1993 e 2019, um período de crescimento económico
contínuo, só interrompido em 2020 pela pandemia da Covid-19, e apesar também da forte bolha
especulativa que se instalou no país na última década como resultado da descoberta de
impressionantes reservas de gás natural na bacia do rio Rovuma, na província nortenha de Cabo
Delgado, perto da fronteira com a Tanzânia.

A luta para ultrapassar o quadro de pobreza extrema persistente e a perspetiva da primeira


recessão económica em mais de trinta anos, devido às consequências da atual pandemia de
Covid-1914 e de vários problemas domésticos perturbadores, como o agravamento dos ataques
terroristas em Cabo Delgado, as incursões da milícia dissidente da Renamo em Sofala e Manica,
e frequentes desastres naturais como o ciclone Idai e o furacão Kenneth, aumentam o consenso
17

em torno da importância de se desenvolver o empreendedorismo no país e criam o impulso para


uma nova abordagem a este assunto (Pereira, 2022 p.111).

Para além do GEM, muitos outros organismos internacionais têm recolhido


sistematicamente dados sobre a temática do empreendedorismo no mundo e têm mesmo sido
disponibilizados indicadores e índices de âmbito empreendedor, de forma continuada, para
muitos países. O mais conhecido desses índices é o GEI - Global Entrepreneurship Index,
desenvolvido pelos Professores Zoltán J. Ács (George Mason University, EUA), László Szerb
(Universidade de Pecs, Hungria) e Esteban Lafuente (Universidade Politécnica da Catalunha,
Espanha) para o GEDI - The Global Entrepreneurship and Development Institute (Pereira, 2022
p.109).

O GEDI é um centro de investigação baseado em Washington D. C. que junta alguns dos


principais investigadores do mundo na área do empreendedorismo à volta do propósito da criação
de um índice de qualidade e dinâmica dos ecossistemas empreendedores com abrangência
nacional e regional.

Efetivamente, a equipa nacional de Moçambique nunca conseguiu obter os patrocínios


necessários à participação no APS, que representa um esforço financeiro de enorme envergadura.
Todavia, conseguiu participar por uma vez no NES.

Em Moçambique, e de acordo com o mesmo estudo (Herrington & Coduras, 2019),


verificava-se uma falta de subsídios governamentais e uma dificuldade de acesso a investidores
em iniciativas empreendedoras, como business angels, fundos de capital de risco e mercado de
capitais (IPO94), e mesmo a disponibilidade de investidores informais situava-se abaixo do
número desejável.

As condições de acesso ao financiamento estão divididas, de acordo com especialistas,


entre fontes tradicionais e fontes mais sofisticadas, verificando-se uma preponderância dos canais
tradicionais que explicam cerca de 58% da variância dessa componente.

Os especialistas consultados revelam que as políticas públicas relativas ao


empreendedorismo são essencialmente explicadas pelos apoios governamentais e pelo quadro
regulatório, impostos e burocracia. O painel é especialmente crítico da qualidade das políticas
públicas, nomeadamente no que toca ao impacto negativo da burocracia, licenciamento e quadro
18

regulatório sobre o lançamento de empresas, o chamado efeito “red tape”, que é extremamente
difícil de remover devido a todas as ineficiências do sistema, à falta de experiência apropriada
dos atores públicos e também por causa da corrupção.

Moçambique necessitava que fosse dada mais ênfase à melhoria do quadro regulatório
para favorecer uma intervenção mais apoiada do governo em matéria de empreendedorismo e
lançamento de novas empresas, uma vez que este quadro regulatório é mais determinante no país
do que o apoio governamental (Pereira, 2022 p.112).

Relativamente aos programas governamentais, os resultados do NES moçambicano


revelam que a falta de experiência na gestão dos mesmos e a sua falta de financiamento são os
principais constrangimentos, acompanhados da falta de divulgação e de informação dos
instrumentos desenvolvidos. Mas, efetivamente, a restrição com maior impacto é a penúria de
recursos para estimular o empreendedorismo.

Os especialistas consultados revelam que a qualidade da educação empreendedora nos


níveis primário e secundário de ensino é claramente insuficiente em Moçambique e que o sistema
de ensino não transmite adequadamente os princípios fundamentais da economia de mercado nem
prepara os jovens para prescindirem do mercado de trabalho formal e optarem pelo
empreendedorismo.

A educação empreendedora na escola e no ensino universitário carece de uma muito


maior atenção do que propriamente a formação específica em criação de empresas. Relativamente
aos indicadores 5. – Transferência de Tecnologia, 6. – Infraestruturas Comerciais e Profissionais,
7. a) – Facilidade de Entrada: Dinâmica do Mercado, 7. b) – Facilidade de Entrada: Bloqueios e
Regulação, 8. – Infraestruturas Físicas, e 9. – Normas Sociais e Culturais, nenhuma análise foi
feita em Herrington e Coduras (2019). Por esta razão, e considerando ainda que não é possível
utilizar-se as escalas completas do NES nos 3 anos seguintes à recolha dos dados, neste caso até
31/12/2021, bem como a já aludida ausência de participação no APS, torna-se necessário avançar
para um estudo empírico que complemente a informação existente e nos permita melhor
compreender os meandros do empreendedorismo moçambicano.
19

3. Considerações finais

Os estudos sobre a relação entre o empreendedorismo e o crescimento económico


forneceram até hoje resultados contraditórios (Reynolds et al., 1999 e Stel et al., 2005, por
exemplo). Enquanto de um lado se sugere que existe uma relação positiva entre estes dois
fenómenos (Reynolds et al., 1999), do outro defendem que o impacto da atividade
empreendedora varia consoante o nível de desenvolvimento do país (Stel et al., 2005).

Através da implementação de dois modelos empíricos, demonstramos tal como Stel et al.
(2005) que apesar do empreendedorismo conduzir ao crescimento económico nos países
desenvolvidos, o mesmo não acontece nas economias subdesenvolvidas, das quais fazem parte os
membros da nossa amostra. A atividade empreendedora nestes países é mais motivada pela
necessidade do que propriamente por uma oportunidade apercebida, criando pouco valor e
riqueza para a economia.

Os fatores específicos que condicionam a atividade empreendedora em Moçambique, quer


ao nível contextual quer ao nível dos próprios empreendedores, foi respondida, também, através
da combinação de uma análise aos dados divulgados em Herrington e Coduras (2019) com
trabalho empírico original e propositadamente desenvolvido para o efeito junto de uma amostra
de empreendedores moçambicanos.

A antepenúltima questão de investigação, relativa ao quadro político e ideológico


subjacente às opções públicas e privadas em matéria de empreendedorismo em Moçambique foi
respondida através de uma revisão de literatura sobre economia política moçambicana em três
períodos possíveis de divisão da história económica contemporânea do país.
20

4. Referencias bibliográficas

Baggio, Adelar Francisco; Baggio, Daniel Knebel. Empreendedorismo: Conceitos Definições.


Rev. De Empreendedorismo, Inovação E Tecnologia, 1(1), Pp. 25-38, 2014
Burgis, T. (2019). The Looting Machine. 4th Edition. Public Affairs, New York.
GRECO, Simara Maria De Souza Silveira Et Al. Empreendedorismo No Brasil: 2010.Curitiba:
IBPQ, 2010
Dornelas, José Carlos De Assis. Empreendedorismo: Transformando Ideias Em Negócios.3. Ed.
5. Rio De Janeiro: Elsevier, 2008.
Dornelas, José Carlos De Assis. Empreendedorismo: Transformando Ideias Em Negócios. Rio
De Janeiro: Elsevier, 2012
Drucker, P. (1993). Innovation And Entrepreneurship. Harper Business, New York
Hebert, F. & Link, N. (1989). In Search Of Meaning Of Entrepreneurship. Small Business
Economics, 1 (1), 39-49
Kirzner, I. (1973). Competition And Entrepreneurship. University Of Chicago Press, Chicago.
Pereira, R.T.F.B. (2022). Inovação, Empreendedorismo E Desenvolvimento Económico Em
África: Uma Abordagem Pós-Positivista E "Topo Da Pirâmide" Para Moçambique- Tese
De Doutoramento Em Estudos Africanos
Schumpeter, J. (1934). The Theory Of Economic Development. Harvard University Press,
Cambridge,
Schultz, T. (1975). The Value Of The Ability To Deal With Disequilibria. Journal Of Economics
Literature, 13 (3), 827-46.
Schultz, T. (1980). Investment In Entrepreneurial Ability. Scandinavian Journal Of Economics,
82 (1), 437-448.
Wennekers, S., Uhlaner, L. & Thurik, R. (2002). Entrepreneurship And Its Conditions. A Macro
Perspective. Journal Of Entrepreneurial Education, 1 (1), 25-68.
Williams, C. C., & Kedir, A. M. (2016). The Impacts Of Corruption On Firm Performance: Some
Lessons From 40 African Countries. Journal Of Developmental Entrepreneurship, 21(4),

Você também pode gostar