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RESUMO
O desenvolvimento de novos produtos tem um papel estratégico cada vez maior nas empresas, sendo
o aprimoramento dos produtos existentes e a introdução de inovações fundamentais para um bom
desempenho competitivo. Nesse sentido, um ponto importante a ser destacado é a necessidade de
integração entre as funções envolvidas no processo de desenvolvimento de produto. O objetivo deste
artigo é discutir a importância da integração funcional no desenvolvimento de novos produtos,
analisando o efeito da departamentalização sobre a mesma. Para isto, este trabalho traz uma
discussão teórica sobre o tema e também os resultados de uma pesquisa de campo em duas grandes
empresas brasileiras, líderes de mercado nos seus respectivos setores (petroquímica e
eletrodomésticos).
Palavras-Chave: Integração funcional. Desenvolvimento de Produto. Departamentalização.
1. INTRODUÇÃO
O desenvolvimento de novos produtos tem um papel estratégico cada vez maior nas
empresas, especialmente nos setores mais dinâmicos tecnologicamente e nos que há uma
concorrência mais acirrada. Com isso, o aprimoramento dos produtos existentes e a
introdução de inovações passam a ser fundamentais para um bom desempenho competitivo.
De acordo com PONDÉ (2002), o desenvolvimento de um novo produto requer o
preciso monitoramento da evolução das necessidades dos prováveis consumidores e a
identificação de oportunidades de mercado não aproveitadas por empresas rivais, a
combinação das capacitações incorporadas nas equipes de P&D com informações técnicas e
científicas obtidas externamente, a transformação de protótipos em bens com qualidade e
baixo custo e a adaptação do processo produtivo e das características da mão-de-obra ao novo
produto. Além disso, acrescenta este autor, a estratégia de marketing e os canais de
distribuição devem ser adequados e eficazes, serviços pós-venda de suporte devem ser
criados, quando necessários, e muitas vezes é crucial o acompanhamento do produto em
condições reais de utilização junto aos usuários, para garantir um incremento gradativo do seu
desempenho.
O processo de desenvolvimento de produto (PDP), pela sua própria natureza, tem um
caráter multidisciplinar e multifuncional, sendo necessários conhecimentos técnicos
especializados, próprios de diversas áreas. Dada a divisão usual das empresas em diversos
departamentos ou funções, cada um deles especializado num processo/área específico, um
PDP bem sucedido requer uma boa integração entre as funções envolvidas. E a complexidade
do projeto pode aumentar se o seu escopo envolver também atividades de pesquisa (básica
e/ou aplicada).
O objetivo deste artigo é discutir a importância da integração funcional no
desenvolvimento de novos produtos, analisando o efeito da departamentalização sobre a
mesma. Para isto, este trabalho traz uma discussão teórica sobre o tema e também os
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NECESSIDADES
Marketing
Desenvolvimentos técnicos
e científicos, produtos dos Pressões de custos,
concorrentes
P&D Produção compatibilidade produto/processo,
regularidade da demanda
Gestão
estratégica
FIGURA 1 - Um modelo simplificado de relacionamento entre uma empresa inovadora e seu ambiente
barreiras significativas. A organização interna das empresas pode ser um fator que favorece ou
dificulta a existência dessas barreiras. Conforme DOUGHERTY, citado por BROWN &
EISENHARDT (1995), indivíduos de departamentos diferentes compreendem aspectos
diferentes do desenvolvimento de produto e entendem esses aspectos de modos diferentes,
levando a interpretações diversas de uma mesma informação.
Dentre os aspectos que se deve compreender para buscar uma integração efetiva, um
ponto importante é entender o efeito da divisão das atividades entre as diversas funções ou
departamentos. A departamentalização, também segundo CHIAVENATO (2001), é uma
divisão do trabalho em termos de diferenciação entre os diversos tipos de tarefas executadas.
O departamento designa uma área ou um segmento distinto de uma empresa.
O agrupamento de atividades de acordo com a especialização do trabalho busca
garantir adequadas coordenação e integração das mesmas. Predomina, conforme
CHIAVENATO (2001), o princípio da homogeneidade, no qual as funções devem ser
designadas a unidades organizacionais na base da homogeneidade de conteúdo. A
departamentalização é, então, um meio para se obter homogeneidade de tarefas e atividades
em cada órgão. E seus principais tipos, também de acordo com o mesmo autor, são:
* Departamentalização por funções: agrupamento das tarefas e atividades de acordo
com as funções principais desenvolvidas dentro da empresa. É o critério mais utilizado
para organizar as atividades empresariais.
* Departamentalização por produtos ou serviços: diferenciação e agrupamento de
atividades de acordo com o produto fabricado ou serviço realizado.
* Departamentalização por localização geográfica: de acordo com a localização
onde o trabalho será desempenhado. Utilizada pelas multinacionais fora dos seus
países de origem.
* Departamentalização por clientes: diferenciação e agrupamento das atividades de
acordo com o tipo de pessoas ou clientes para quem o trabalho é executado.
* Departamentalização por fases do processo (ou processamento): de acordo com a
seqüência do processo produtivo ou operacional. É o processo de produção dos bens
ou serviços que determina a estratégia de diferenciação e agrupamento.
* Departamentalização por projetos: diferenciação e agrupamento das atividades de
acordo com as saídas e resultados relativos a um ou vários projetos da empresa.
Requer uma estrutura organizacional flexível e mutável, capaz de se adaptar às
necessidades de cada projeto.
Dentre os tipos de departamentalização enumerados por CHIAVENATO (2001),
destaca-se, no contexto deste trabalho, a funcional, na qual a divisão das tarefas ocorre
conforme as principais funções desenvolvidas dentro da empresa. Este mesmo autor, com
base em outros autores, enumera diversas vantagens para a departamentalização funcional,
dentre elas: o agrupamento de especialistas sob uma chefia comum; o máximo de utilização
das habilidades técnicas das pessoas; e orientação das pessoas para uma atividade específica,
concentrando sua competência de maneira eficaz e simplificando o treinamento do pessoal.
Por outro lado, há na departamentalização funcional desvantagens como a redução da
cooperação interdepartamental (pela criação de barreiras devido à ênfase nas especialidades);
inadequação a situações em que a tecnologia e as circunstâncias externas são mutáveis ou
imprevisíveis; além de fazer com que as pessoas focalizem seus esforços sobre suas próprias
especialidades em detrimento do objetivo global da empresa.
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4. PESQUISA DE CAMPO
Através dessa pesquisa de campo, busca-se confrontar a teoria vista com a realidade
empírica das empresas, aumentando o conhecimento sobre a questão da integração. Nas duas
empresas pesquisadas, foram entrevistadas pessoas (gerentes e/ou engenheiros) ligadas às
atividades de pesquisa e/ou desenvolvimento de produto. Entretanto, mesmo tendo havido por
parte de duas das empresas uma boa receptividade para colaborar com as questões da
pesquisa, não foi possível explorar assuntos mais confidenciais ou estratégicos por conta das
naturais restrições impostas pelas empresas à divulgação de informações sigilosas. Por
questão de confidencialidade, as empresas serão chamadas de “A” e “B”.
Para atingir os objetivos a que se propõe o trabalho, a metodologia escolhida foi a de
estudo de casos. Como já citado, de acordo com GODOY (1995), essa metodologia visa
analisar profundamente o objeto de estudo, descrevendo um determinado fenômeno que pode
ser típico (similar a outros casos) ou excepcional. É utilizada preferencialmente quando se
procura responder a razão por que certos fenômenos acontecem e como isto ocorre, quando o
foco de interesse é sobre eventos atuais e quando não há muita possibilidade de controle sobre
estes eventos.
Este projeto tem também um caráter exploratório. Conforme MARCONI &
LAKATOS (2003), estudos exploratórios são investigações de pesquisa empírica cujo
objetivo é a formulação de questões ou de um problema com tripla finalidade: (1) desenvolver
hipóteses; (2) aumentar o conhecimento do pesquisador sobre um ambiente ou fato, para a
realização de uma pesquisa futura mais precisa; ou (3) modificar e clarificar conceitos. Cabe
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P&D-PDP. Alguns aspectos como conhecimento das atividades do outro e confiança mútua
foram avaliados como regulares por ambos.
Se com o Marketing o relacionamento vai de regular a bom, o mesmo não acontece no
caso da Produção. No caso Desenvolvimento de Produto-Produção, algumas questões
importantes como abertura de informações, definição conjunta de metas, confiança mútua,
concordância com decisões tomadas e compartilhamento de conhecimentos, foram avaliadas
como regulares.
Se no caso do Desenvolvimento de Produto-Produção predominou a avaliação regular,
os resultados sobre a relação P&D-Produção indicam diversos pontos negativos. Falta de
abertura de informações e de compartilhamento de conhecimentos, falta de concordância com
decisões tomadas e falta de compartilhamento de responsabilidade com os resultados, além de
níveis ruins de intercâmbio de pessoas e trabalho em grupo, evidenciam a necessidade de
melhoria em diversos aspectos desse relacionamento.
Numa empresa com um PDP tão bem estruturado, é surpreendente essa interação
predominantemente regular da Produção com o Desenvolvimento de Produto e
predominantemente ruim entre P&D e Produção.
fase (ou função) para outra durante o processo. Como meios para a transmissão de
informações e resultados são apontados relatórios técnicos, seminários, treinamentos, além do
contato direto com as pessoas envolvidas.
As atividades de P&D na empresa “A” são realizadas por um departamento próprio,
enquanto o desenvolvimento de novos produtos é organizado com base em projetos com
estruturas de equipe “peso-leve” ou “peso-pesado” (segundo a tipologia de CLARK &
WHEELWRIGHT (1993)). Nesse contexto, claramente P&D e PDP são processos distintos e
deve haver uma boa integração entre os mesmos para se ter um projeto bem sucedido, apesar
de que a importância que a função P&D pode ter no contexto do PDP depende das
características de cada projeto. E essa integração deve acontecer também com outras funções,
como Marketing e Produção.
Os resultados de uma investigação mais detalhada da relação entre essas funções na
empresa “A”, entretanto, mostraram níveis diferentes de integração entre os diversos pares.
Tanto a função P&D quanto o Desenvolvimento de Produto avaliaram positivamente o
relacionamento entre ambos. No caso da relação destes com o setor de Marketing não foram
evidenciados graves problemas de integração, mas alguns aspectos foram avaliados como
regulares, indicando uma oportunidade de melhoria nesses pontos. O fato do setor de
Marketing, nesse casso, estar localizado em outra região pode ser uma das dificuldades para
um relacionamento mais próximo.
A proximidade física entre as funções, entretanto, não chega a ser um fator decisivo na
qualidade do relacionamento, dada a avaliação que P&D e Desenvolvimento de Produto
fizeram da relação entre cada um e o setor de Produção (estando este último localizado na
mesma fábrica).
Uma série de aspectos (abertura de informações; compartilhamento de conhecimentos;
concordância com as decisões tomadas; confiança mútua; responsabilidade compartilhada
pelos resultados) foram considerados ruins pela engenheira de P&D e regulares pelo
engenheiro de Desenvolvimento de Produto no relacionamento destes setores com a
Produção. Na relação P&D-Produção, foram também considerados ruins o trabalho em grupo
e o intercâmbio de pessoas. Vários desses aspectos, avaliados como regulares ou ruins,
precisariam ser melhorados. A adoção de equipes multifuncionais no PDP, nesse caso, pode
diminuir algumas barreiras, dada a participação do pessoal de Produção nas mesmas.
Mesmo considerando que a relevância de determinadas funções é maior em uma fase
específica do projeto (Marketing e P&D são mais importantes nas fases iniciais, Produção
mais importante nas fases finais), se P&D e Produção não têm um bom relacionamento, a
troca de informações pode ficar prejudicada nas fases inicial e final do projeto, o que pode
comprometer o desempenho e o resultado do mesmo. É importante conhecer as limitações e
oportunidades da produção, além de trabalhar conjuntamente nas últimas fases do processo. O
entendimento das razões desses relacionamentos regulares ou ruins com a Produção requereria
uma investigação mais aprofundada, o que não pôde ser feito.
Como aponta CALABRESE (1997), é difícil conseguir a comunicação e a colaboração
interfuncional. De certa forma, os resultados da pesquisa de campo na empresa “A”
demonstram essa dificuldade, mostrando um relacionamento de regular a ruim entre Pesquisa
Aplicada e Produção e também regular em alguns pontos da relação Desenvolvimento de
Produto-Produção. Desconhecimento do trabalho do outro e falta de confiança mútua foram
apenas dois dos (reais ou potenciais) problemas detectados.
Entretanto, ao contrário do que seria esperado, foram detectados mais problemas de
integração numa estrutura matricial que numa estrutura funcional. Pelos resultados de
DOUGHERTY, citado por BROWN & EISENHARDT (1995), produtos fracassados se
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caracterizam por atenção seqüencial dos grupos funcionais, de forma que cada visão
departamental dominou uma fase particular do projeto. Os resultados desta pesquisa
exploratória, entretanto, mostram uma realidade diferente.
5. CONCLUSÃO
Numa análise geral dos dois casos, mesmo considerando as diferenças naturais entre
os mesmos por conta de fatores como tipo de produto/mercado, tamanho de empresa e
estratégias competitiva/tecnológica, alguns pontos podem ser destacados pela sua importância
na questão da integração funcional. Nas duas empresas pesquisadas, a função P&D é
responsabilidade de um setor especializado, sendo feita de forma contínua, o que não é o
padrão da maioria das empresas brasileiras, conforme os dados da PINTEC (IBGE (2005)).
E a forma como as atividades de desenvolvimento de produto estão divididos,
entretanto, é diferente nos dois casos, sendo no caso “A” é baseadas em equipes
multifuncionais com dedicação parcial, no caso “B” numa estrutura é funcional. Cada uma
dessas configurações determina um grau diferente de integração.
No caso da estrutura funcional, há interação entre as funções durante o processo, não
havendo os “feudos” típicos dessa estrutura. E apesar das especificidades do caso, não foram
detectados problemas significativos de integração. Já na estrutura matricial, o processo
conduzido em equipes tem a vantagem de manter uma maior continuidade do pessoal e
simplificar a transmissão de informações e conhecimentos entre as diversas fases do processo,
mas o caso “B” mostrou problemas mais significativos de integração entre as funções
envolvidas no PDP.
Ao contrário do que seria esperado, foram detectados mais problemas de integração
numa estrutura matricial que numa estrutura funcional. Pelas limitações à continuidade da
pesquisa, não foi possível investigar de forma mais profunda as causas dos problemas, mas,
pelo caráter exploratório da pesquisa, foi possível detectar a existência do problema.
7. REFERÊNCIAS
BROWN, S.L., EISENHARDT, K.M. Product development: past research, present findings,
and future directions. Academy of Management Review, v. 20, n. 2, p. 343-378, 1995.
CLARK, K.B., WHEELWRIGHT, S.C. Managing new product and process development:
text and cases. New York: Free Press, 1993.
COOMBS, R., SAVIOTTI, P., WALSH, V. Economics and technological change. London:
Macmillan Education, 1988.
IBGE. Pesquisa industrial de inovação tecnológica 2003. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística, 2005.
PONDÉ, J.L. Organização das grandes corporações. In: KUPFER, D., HASENCLEVER, L.
(org.) Economia industrial. Rio de Janeiro: Campus, 2002. p. 287-306.
SONG, X.M., NEELEY, S.M., ZHAO, Y. Managing R&D-marketing integration in the new
product development process. Industrial Marketing Management, v. 25, p. 545-553, 1996.