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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA


TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Quinta Câmara Cível

ACÓRDÃO

Classe : Apelação nº 0008443-24.2004.8.05.0150


Foro de Origem : Foro de comarca Lauro De Freitas
Órgão : Quinta Câmara Cível
Relator : Des. Baltazar Miranda Saraiva
Apelante : Curador Especial da Defensoria Publica do Estado da Bahia Em Favor de
R. M. M.
Def. Público : Ramon Rondinelly Pereira Dutra
Apelado : Neuza da Silva Guimarães
Def. Público : Amabel Crysthina Mesquita Mota

Assunto : Adoção de Adolescente

APELAÇÃO CÍVEL. ADOÇÃO COM PEDIDO DE


DESTITUIÇÃO DE PODER FAMILIAR. NULIDADE DA
CITAÇÃO POR EDITAL. INOCORRÊNCIA. ESGOTAMENTO
DAS TENTATIVAS DE CITAÇÃO PESSOAL DA
DEMANDADA. NO MÉRITO, A PROVA PRODUZIDA NÃO
LASTREIA A PRETENSÃO RECURSAL DA CURADORIA
ESPECIAL. VÍNCULO SÓCIO-AFETIVO. PRINCÍPIOS DA
PROTEÇÃO INTEGRAL E DO MELHOR INTERESSE DO
MENOR. APELO IMPROVIDO.
1- Citação por edital válida quando foram esgotados todos os meios
para tentativa de localização da requerida.
2- A adolescente convive com a apelada desde o seu nascimento. Os
documentos comprovam que essa convivência está se desenvolvendo
em um ambiente com fortes vínculos afetivos com a Apelada. Não há
qualquer indicativo que possa embasar a pretensão recursal da
Curadoria Especial.
3- Os princípios da proteção integral e do melhor interesse da criança,
aliados à existência de vínculo sócio-afetivo, sobrepõe-se às
exigências legais para o procedimento da adoção, devendo nortear as
decisões judiciais. Estabelecido o vínculo afetivo da adotanda com a
família que lhe deu carinho, atenção e todos os cuidados de que
necessita para o seu desenvolvimento saudável, mantém-se a sentença
que deferiu a adoção.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


0008443-24.2004.8.05.0150, em que figuram, como Apelante, CURADORIA ESPECIAL
DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DA BAHIA em favor da genitora, ROSA
MARIA MOREIRA e, como Apelada, NEUZA DA SILVA GUIMARÃES,

ACORDAM os Desembargadores integrantes da Quinta Câmara Cível do

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Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, à unanimidade de votos, em CONHECER e


NEGAR PROVIMENTO à Apelação, e assim o fazem pelos motivos expendidos no voto do
eminente Desembargador Relator.

Sala das Sessões da Quinta Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do


Estado da Bahia, 21 de março do ano de 2017.

PRESIDENTE

DESEMBARGADOR BALTAZAR MIRANDA SARAIVA


RELATOR

PROCURADOR(A) DE JUSTIÇA

AL
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Quinta Câmara Cível

RELATÓRIO

Classe : Apelação nº 0008443-24.2004.8.05.0150


Foro de Origem : Foro de comarca Lauro De Freitas
Órgão : Quinta Câmara Cível
Relator : Des. Baltazar Miranda Saraiva
Apelante : Curador Especial da Defensoria Publica do Estado da Bahia Em Favor de
R. M. M.
Def. Público : Ramon Rondinelly Pereira Dutra
Apelado : Neuza da Silva Guimarães
Def. Público : Amabel Crysthina Mesquita Mota

Assunto : Adoção de Adolescente

Adoto como próprio o relatório da sentença de fls. 94/97.

Trata-se de Apelação interposta pela CURADORIA ESPECIAL DA


DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DA BAHIA em favor da genitora, requerida na
Ação de Adoção, ROSA MARIA MOREIRA, em face da sentença de fls. 94/97,
acrescentando, que o Juízo a quo julgou procedente o pedido da inicial, na forma do art. 296, I
do CPC/73, para conceder a NEUZA DA SILVA GUIMARÃES a adoção da adolescente
TAIANE MOREIRA, ficando a genitora biológica destituída do poder familiar, passando a
adolescente a chamar-se TAIANE DA SILVA GUIMARÃES.

No mais, a Magistrada singular determinou o cancelamento dos registros em


duplicidade existentes.

A CURADORIA ESPECIAL DA DEFENSORIA PÚBLICA DO


ESTADO DA BAHIA em favor da genitora requerida, ROSA MARIA MOREIRA,
interpôs o presente Apelo, com razões de fls. 102/109, alegando, preliminarmente, a nulidade
da citação por edital por conta do não cumprimento dos requisitos dos arts. 231, 232 e 233 do
CPC/73. No mérito, afirma ainda que merece reforma o decisum, porquanto o laudo de
avaliação psicossocial de fls. 62/66, de 19/09/2014 foi contrário ao deferimento da adoção
pleiteada e que não houve qualquer tentativa de manutenção da adotanda no seio de sua
família natural ou extensa. Nesse passo, requer que sejam julgados improcedentes os pedidos
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de adoção e destituição do poder familiar, com o provimento do recurso.

Intimada, a Apelada apresentou contrarrazões, representada pela Defensoria


Pública, às fls. 112/116.

Manifestação da promotoria à fl. 117, nesses termos: “ Razão assiste a digna


Defensora em seus argumentos, endossados por essa Promotoria”.

Em juízo de retratação, à fl. 118, nos termos do art. 198, VII do ECA, a
sentença foi mantida por seus próprios fundamentos, considerando que os requisitos do edital
foram devidamente cumpridos e não houve qualquer prejuízo à parte irresignada. Ao final,
determinou a subida dos autos.

Despacho à fl. 121, determinando vistas à Procuradoria.

Instada a se manifestar, a douta Procuradoria de Justiça emitiu Parecer


Ministerial nº 2.070/2016, às fls. 124/128 pelo improvimento do Apelo, mantendo irretocável
o entendimento singular.

Com este relato, nos termos do art. 931 do CPC/2015, encaminhem-se os


autos à Secretaria, para inclusão em pauta.

Destaca-se que neste processo cabe sustentação oral com base no art. 937, I,
do CPC/2015.

Salvador, 09 de março de 2017.

DESEMBARGADOR BALTAZAR MIRANDA SARAIVA


RELATOR

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VOTO

Classe : Apelação nº 0008443-24.2004.8.05.0150


Foro de Origem : Foro de comarca Lauro De Freitas
Órgão : Quinta Câmara Cível
Relator : Des. Baltazar Miranda Saraiva
Apelante : Curador Especial da Defensoria Publica do Estado da Bahia Em Favor de
R. M. M.
Def. Público : Ramon Rondinelly Pereira Dutra
Apelado : Neuza da Silva Guimarães
Def. Público : Amabel Crysthina Mesquita Mota

Assunto : Adoção de Adolescente

O apelo é tempestivo e preenche os demais pressupostos de admissibilidade


recursal, portanto, deve ser conhecido. Ambas as partes representadas pela Defensoria Pública
do Estado da Bahia.

Versam os autos sobre Apelação interposta em face da sentença proferida


nos autos da Ação de Adoção com pedido de destituição de poder familiar, ajuizada por
NEUZA DA SILVA GUIMARÃES, que requereu a adoção da menor ROSA MARIA
MOREIRA FILHA( fl. 28), que possui registro duplicado, constando outra certidão de
nascimento com o nome TAIANE MOREIRA (fl. 50).

O Juízo a quo julgou procedente o pedido da inicial, na forma do art. 296, I


do CPC/73 para conceder a NEUZA DA SILVA GUIMARÃES a adoção da adolescente
TAIANE MOREIRA, ficando a genitora biológica destituída do poder familiar, passando a
adolescente a chamar-se TAIANE DA SILVA GUIMARÃES. No mais, a Magistrada
singular determinou o cancelamento dos registros em duplicidade existentes.

A Curadoria da Defensoria Pública apelou, representando a genitora.

Inicialmente, quanto a preliminar de nulidade da citação por edital por


conta do não cumprimento dos requisitos dos arts. 231, 232 e 233 do CPC/73, a mesma não
prospera. Não há que se cogitar a nulidade da citação por edital quando se esgotam os meios
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para tentativa de localização da requerida. A mesma encontra-se em lugar incerto e não


sabido, conforme certidão à fl. 25-v e documento à fl. 07.

Compulsando os autos, verifica-se, inclusive, que há informação de contato


telefônico com a genitora, feito pelo defensor público que a representava, e a mesma se
comprometeu a comparecer à audiência, porém, mesmo garantindo que compareceria,
ausentou-se sem justificativa, conforme fl.54.

Dispõe a jurisprudência:

APELAÇÃO CÍVEL. ADOÇÃO COM PEDIDO DE DESTITUIÇÃO DE PODER


FAMILIAR. 1. NULIDADE DA CITAÇÃO POR EDITAL. INOCORRÊNCIA.
ESGOTAMENTO DAS TENTATIVAS DE CITAÇÃO PESSOAL DOS
DEMANDADOS. 2. NO MÉRITO, A PROVA PRODUZIDA NÃO LASTREIA A
PRETENSÃO RECURSAL. 1. Não há falar em nulidade da citação por edital
quando foram esgotados todos os meios para tentativa de localização dos
requeridos. 2. O conjunto probatório é robusto no sentido de manter a sentença. O
menino está na guarda dos apelados desde agosto de 2009. Os documentos
comprovam à exaustão que está se desenvolvendo em um ambiente saudável, com
fortes vínculos afetivos com o casal. Não há qualquer indicativo que possa embasar
a pretensão recursal. NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº
70062979802, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Felipe
Brasil Santos, Julgado em 07/05/2015).
(TJ-RS - AC: 70062979802 RS, Relator: LUIZ FELIPE BRASIL SANTOS, Data de
Julgamento: 07/05/2015, Oitava Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da
Justiça do dia 13/05/2015)

Nesse contexto, não há falar em nulidade da citação por edital aqui


procedida, porquanto foram esgotados todos os meios para tentativa de localização da
requerida, nos termos do que determina o art. 158, parágrafo único, do ECA. Rejeita-se,
portanto, a preliminar suscitada.

Tocante ao mérito, também não há como prosperar o Apelo.

O processo trata de pedido de adoção de adolescente, já com 16 anos, que


convive com a Apelada desde a infância e de cuja genitora não se tem notícias.

A adoção é ato jurídico acompanhado sempre pelo elemento “afetividade”.


Visando primordialmente os interesses da criança ou do adolescente, se preocupa o legislador
em regular a matéria de forma efetiva e satisfatória, com o objetivo de resguardar o próprio
adotando.
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O ECA prevê, dentre as regras para a adoção, o seguinte:

Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um


registro de crianças e adolescentes em condições de serem adotados e outro de
pessoas interessadas na adoção. (Vide Lei nº 12.010, de 2009)
(...)
§ 13. Somente poderá ser deferida adoção em favor de candidato domiciliado no
Brasil não cadastrado previamente nos termos desta Lei quando: (Incluído pela Lei
nº 12.010, de 2009) Vigência
I - se tratar de pedido de adoção unilateral; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Vigência
II - for formulada por parente com o qual a criança ou adolescente mantenha
vínculos de afinidade e afetividade; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda legal de criança maior de 3
(três) anos ou adolescente, desde que o lapso de tempo de convivência comprove a
fixação de laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada a ocorrência de má-
fé ou qualquer das situações previstas nos arts. 237 ou 238 desta Lei. (Incluído pela
Lei nº 12.010, de 2009)
(...)

Porém, não se deve interpretar o dispositivo excluindo a possibilidade de


adoção de fato, tão comum no país. O afeto é valorizado e o fato da adotante não estar inserida
previamente no cadastro intencional de adoção não a impediu de ter laços de afeto com a
menor, considerando-a como filha.

É o que se depreende da jurisprudência do STJ sobre adoção:

RECURSO ESPECIAL - AFERIÇÃO DA PREVALÊNCIA ENTRE O


CADASTRO DE ADOTANTES E A ADOÇÃO INTUITU PERSONAE -
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DO MENOR -
VEROSSÍMIL ESTABELECIMENTO DE VÍNCULO AFETIVO DA MENOR
COM O CASAL DE ADOTANTES NÃO CADASTRADOS - PERMANÊNCIA
DA CRIANÇA DURANTE OS PRIMEIROS OITO MESES DE VIDA - TRÁFICO
DE CRIANÇA - NÃO VERIFICAÇÃO - FATOS QUE, POR SI, NÃO DENOTAM
A PRÁTICA DE ILÍCITO - RECURSO ESPECIAL PROVIDO. I - A observância
do cadastro de adotantes, vale dizer, a preferência das pessoas cronologicamente
cadastradas para adotar determinada criança não é absoluta. Excepciona-se tal
regramento, em observância ao princípio do melhor interesse do menor, basilar e
norteador de todo o sistema protecionista do menor, na hipótese de existir vínculo
afetivo entre a criança e o pretendente à adoção, ainda que este não se encontre
sequer cadastrado no referido registro; II - E incontroverso nos autos, de acordo com
a moldura fática delineada pelas Instâncias ordinárias, que esta criança esteve sob a
guarda dos ora recorrentes, de forma ininterrupta, durante os primeiros oito meses
de vida, por conta de uma decisão judicial prolatada pelo i. desembargador-relator
que, como visto, conferiu efeito suspensivo ao Agravo de Instrumento n.
1.0672.08.277590-5/001. Em se tratando de ações que objetivam a adoção de
menores, nas quais há a primazia do interesse destes, os efeitos de uma decisão
judicial possuem o potencial de consolidar uma situação jurídica, muitas vezes,
incontornável, tal como o estabelecimento de vínculo afetivo; III - Em razão do

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convívio diário da menor com o casal, ora recorrente, durante seus primeiros oito
meses de vida, propiciado por decisão judicial, ressalte-se, verifica-se, nos termos
do estudo psicossocial, o estreitamento da relação de maternidade (até mesmo com o
essencial aleitamento da criança) e de paternidade e o conseqüente vínculo de
afetividade; IV - Mostra-se insubsistente o fundamento adotado pelo Tribunal de
origem no sentido de que a criança, por contar com menos de um ano de idade, e,
considerando a formalidade do cadastro, poderia ser afastada deste casal adotante,
pois não levou em consideração o único e imprescindível critério a ser observado,
qual seja, a existência de vínculo de afetividade da infante com o casal adotante,
que, como visto, insinua-se presente; V - O argumento de que a vida pregressa da
mãe biológica, dependente química e com vida desregrada, tendo já concedido,
anteriormente, outro filho à adoção, não pode conduzir, por si só, à conclusão de
que houvera, na espécie, venda, tráfico da criança adotanda. Ademais, o verossímil
estabelecimento do vínculo de afetividade da menor com os recorrentes deve
sobrepor-se, no caso dos autos, aos fatos que, por si só, não consubstanciam o
inaceitável tráfico de criança; VI - Recurso Especial provido.
(STJ - REsp: 1172067 MG 2009/0052962-4, Relator: Ministro MASSAMI
UYEDA, Data de Julgamento: 18/03/2010, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de
Publicação: DJe 14/04/2010)

Observa-se, a partir do exame dos autos e das razões recursais, diante de


questão de extrema importância para os envolvidos, que a prova dos autos é robusta no
sentido de manter a adolescente sob os cuidados da Apelada.

Ora, a adolescente possui dois registros de nascimento, com os nomes,


ROSA MARIA MOREIRA FILHA( fl. 28) e TAIANE MOREIRA (fl. 50) e convive com
a Apelada desde o seu nascimento, quando foi abandonada pela sua genitora, de quem não
tem notícias do paradeiro.

Ressalte-se que a necessidade estipulada pela lei, de oitiva da


adolescente, foi cumprida e a mesma se manifestou, à fl. 55, pelo desejo de ser adotada
pela Apelada.

Dispõe o ECA:

Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou


adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos
termos desta Lei.
(...)
§ 2o Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será necessário seu
consentimento, colhido em audiência.
(...)

Com a inicial, audiências e documentos juntados, apura-se que a adolescente

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de 16 anos foi cuidada pela adotante durante toda a vida, que a tratou sempre como se filha
biológica fosse. Declaração da adolescente à fl. 55 dos autos comprova a conclusão.

O estudo social realizado junto à Adotante, conforme o laudo de fls. 62/66,


apesar de constatar que o lar “não oferece conforto e comodidade satisfatórios” não deve ser
determinante para análise definitiva da adoção. A adolescente possui laços afetivos já
enraizados com a adotante, chamando-a, inclusive, de “mãe”, conforme relatório de fl. 71,
devendo essa realidade preponderar. Ninguém deve ser aquilatado por aportes materiais que
possui e sim pela capacidade, desejo e sentimentos demonstrados com relação aos seus
semelhantes. O princípio da Dignidade da Pessoa Humana deve sobrepor-se aos demais.

O melhor interesse da criança deve prevalecer, conforme a jurisprudência:

APELAÇÃO CÍVEL – NULIDADE DA SENTENÇA - PARCIALIDADE DO


MAGISTRADO INDEMONSTRADA – PRELIMINAR DE FALTA DE
PRESSUPOSTO PROCESSUAL REJEITADA – MÉRITO – ADOÇÃO DE
MENOR IMPÚBERE - EXISTÊNCIA DE ESTUDO PRÉVIO NA RESIDÊNCIA
DOS APELADOS - FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA INCONFIGURADA –
PREVALÊNCIA DO CADASTRO DE HABILITADOS - IRRELEVÂNCIA, IN
CASU, DA PREFERÊNCIA MANIFESTADA PELA MÃE BIOLÓGICA –
INADEQUADA CONSIDERAÇÃO SOBRE A POBREZA – RECURSO
IMPROVIDO. I- A sentença não foi fruto de uma construção emotiva do juiz a quo,
nem sua conclusão foi determinada por isso. Basta uma leitura singela do
instrumento que a contém, para se perceber que, bem posta em seus termos técnico-
jurídicos e se utilizando de suplementos argumentativos perfeitamente aceitáveis,
inexiste laivo sequer de parcialidade que possa afetar o requisito processual
subjetivo do julgador. Preliminar rejeitada. II- O Centro de Referência de
Assistência Social de Cícero Dantas realizou estudo prévio na residência dos
apelados, detentores da guarda para adoção, atestando ótimas condições de
habitabilidade do imóvel, que é composto de três quartos, banheiro, sala e cozinha,
estando limpo e organizado, dispondo de condições para abrigar a adotanda. III- O
pressuposto para a caracterização da filiação socioafetiva, é a existências de forte
vínculo de afeto formado entre o adotante e a adotanda, sendo de secundária
importância eventual proximidade entre os pais biológicos e quem queira adotar a
criança. IV- Na hipótese dos autos, inexiste família de formação socioafetiva,
constituída entre os apelantes e a adotanda, pois não houve consolidação afetiva
recíproca, considerando o breve espaço de tempo em que Maria de Fátima Gama
Neves esteve da guarda da criança, período compreendido entre 03/07/2014 a
28/08/2014. Conjugando a tenra idade da criança quando foi entregue aos apelantes,
nascida em 18/03/2014 (fls. 06), ainda, portanto, sem percepção segura dos fatos
que a circundam, com a circunstância de ter ela passado, apenas, 45 (quarenta e
cinco) dias na companhia dos recorrentes, pode-se concluir que não houve tempo
suficiente para que a criança pudesse estabelecer laços expressivos de afeto com
eles, a ponto de restar sedimentada a formação de vínculo com feição familiar. IV-
Conforme entendimento sacralizado no STJ, para que seja afastada a ordem do
cadastro de habilitados para adoção, com base na alegação de filiação socioafetiva, é
necessário forte vínculo afetivo entre a criança e o adotante (REsp 1347228/SC, Rel.
Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em 06/11/2012, DJe 20/11/2012).
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V- A preferência da genitora pelos apelantes, não pode ser levada em consideração,


porque destituída de credibilidade, haja vista ter o seu comportamento demonstrado
total ausência de sentimento para com a filha biológica, respondendo, com absoluta
indiferença, que a deu a "uma mulher", sem nenhuma preocupação com o que
poderia ter acontecido com a recém-nascida, inclusive sorrindo por diversas vezes,
mesmo diante da lastimável situação que expôs a criança. VI- As considerações
sobre a pobreza, feitas pelos apelantes, não se mostram adequadas a solucionar o
problema. Se por um lado a demonstração de que a adotanda terá um lar sem
aparentes desajustes capazes de prejudicar o seu desenvolvimento, por outro, não
passa de exercício de futurologia grosseira imaginar, como imaginam os apelantes,
que a criança será uma médica e terá um futuro brilhante, caso esteja integrada à sua
família. Além disso, sob o prisma da dignidade humana, núcleo essencial de todos
os direitos fundamentais, as pessoas não devem ser aquilatadas tomando por
parâmetro aportes materiais; o valor a ser prestigiado são as qualidades que revelam
a grandeza de saber tratar os outros como seus semelhantes, todos como iguais. VII-
PRELIMINAR REJEITADA. RECURSO IMPROVIDO.(TJ-BA - APL:
00019818720148050057, Relator: DINALVA GOMES LARANJEIRA
PIMENTEL, Segunda Câmara Cível, Data de Publicação: 12/08/2015)

ECA - APELAÇÃO CÍVEL - PEDIDO DE ADOÇÃO - EXTINÇÃO DO


PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO, ANTE A AUSÊNCIA DE
INSCRIÇÃO DOS ADOTANTES NO CADASTRO NACIONAL DE ADOÇÃO -
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA MENOR - LAÇOS
FAMILIARES ESTABELECIDOS COM OS PRETENSOS ADOTANTES -
GUARDA EXERCIDA PELO CASAL APELANTE DESDE O NASCIMENTO
DA CRIANÇA, COM A CONCORDÂNCIA DA MÃE BIOLÓGICA -
FLEXIBILIZAÇÃO DAS NORMAS LEGAIS - MANUTENÇÃO DA CRIANÇA
ONDE JÁ SE ENCONTRA, ATÉ QUE SE DECIDA A RESPEITO DA ADOÇÃO
- PRECEDENTES DESTA CORTE DE JUSTIÇA - RECURSO CONHECIDO E
PROVIDO. A observância do cadastro de adotantes, vale dizer, a preferência das
pessoas cronologicamente cadastradas para adotar determinada criança não é
absoluta. Excepciona-se tal regramento, em observância ao princípio do melhor
interesse do menor, basilar e norteador de todo o sistema protecionista do menor, na
hipótese de existir vínculo afetivo entre a criança e o pretendente à adoção, ainda
que este não se encontre sequer cadastrado no referido registro; (STJ; REsp
1172067/MG; Rel. Min. Massami Uyeda; DJ: 18/03/2010)(TJ-RN - AC: 49549 RN
2011.004954-9, Relator: Des. ADERSON SILVINO, Data de Julgamento:
14/06/2011, 2ª Câmara Cível)

Ou seja, a análise de todo o alegado e demonstrado, conclui pela extrema


vinculação afetiva entre a menor e a Apelada. Como se vê, o conjunto probatório se mostra
robusto, dando embasamento à conclusão sentencial. A Apelada tem alcançado à adolescente
as condições de vida que são possíveis dentro da limitação financeira da família. Além disso,
acrescente-se que, conforme apurado e bem observado no parecer ministerial, a adolescente
não está matriculada em instituição de ensino regular, muito mais em razão de sua própria
rebeldia do que por negligência da adotante. ( fl 127-v)

Destarte, o convívio com a adotante que a cria desde a infância, cercada de


afeto, atendendo aos seus interesses, notoriamente se sobressai aos demais argumentos. A
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adoção pleiteada é a melhor opção para a adolescente.

Nesse passo, sopesando o quanto sugerido pelo ilustre representante do


Ministério Público, bem como levando em consideração as condições da Apelada e o melhor
interesse da menor, entendo não merecer reforma a sentença atacada.

Diante do exposto, VOTO no sentido de CONHECER e NEGAR


PROVIMENTO ao Apelo, mantendo a sentença de primeiro grau integralmente, na forma
em que foi prolatada.

É como voto.

Sala das Sessões, 21 de março de 2017.

DESEMBARGADOR BALTAZAR MIRANDA SARAIVA


RELATOR

AL

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