Você está na página 1de 270

PERIGOSAS

PERIGOSAS
PERIGOSAS

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Copyright © 2019 Ivani Godoy

Capa: Barbara Dameto


Revisão e Diagramação: Carla Santos (2ª edição)

É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por


qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos
xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem permissão expressa da
autora (lei 9.610 de 19/02/1998).

Esta é uma obra de ficção. nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos são produtos da imaginação da autora.

Qualquer semelhança com acontecimentos reais é mera coincidência.

Todos os direitos desta edição reservados pela autora.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
PERIGOSAS
PERIGOSAS

Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Epílogo
Outras obras
Notas

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Mamãe, não me deixe casar — pedi a ela enquanto íamos visitar o


parque. — Eu tenho dez anos, e não posso me casar igual a Yala.

Yala era a filha da amiga da mamãe. Ela tinha a mesma idade que eu, e se
casou com um homem de vinte e quatro anos. Como isso pode ser possível?
Somos crianças, meu Deus! Por isso odiava esse mundo maldito. Por que tive
que nascer?

— Não diga isso, pois se o seu pai a ouvir, ele pode se irritar. Então
vamos apenas nos divertir hoje, tudo bem? — Sua voz estava um pouco
trêmula, mas ela olhava por todos os lados como se estivesse com medo de
sermos pegas ali.

— Mas, mamãe, eu tenho dez anos. Ainda sou criança para me casar, por
favor, me ajude — supliquei.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Ela não disse mais nada até chegarmos a uma loja de roupas.

— Eu vou ver o que posso fazer, mas pare de falar sobre isso aqui.
Vamos comprar vestidos, sim? — Sorriu para mim.

Ela era uma mulher linda. Eu me parecia com ela, morena e de cabelos
escuros.

— Prometo. — Sorri para ela.

Todos nós, papai, Giulia e Matteo, estávamos de férias na Rússia. Eu


queria ir para a Itália como no ano passado, mas mamãe não quis. Ela disse
que adoraria conhecer a Rússia.

Ela falou em russo com a mulher da loja, eu não sabia essa língua, mas a
moça foi e me trouxe vários vestidos bonitos. Mamãe me obrigou a vestir um
antes de chegar em casa, mas o que me estranhou foi que ela ficou com o
meu vestido antigo, pois isso era incomum nela já que a mesma jogava fora a
roupa antiga quando comprava uma nova.

Depois da loja, ela me levou a um parque bem afastado do centro. Eu


nem imaginava que ali seria a última vez que eu veria Giulia, minha mãe.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Samira? Vamos para a festa hoje, por favor? Eu sei que você não gosta
de baladas, mas hoje é meu aniversário — falou Mary junto com Anabelle.

Eu suspirei, porque não curtia festa. Gostava mais de ler livros e estudar.
Também não ligava muito para a aparência, embora minhas amigas se
vestissem na moda.

— Tudo bem, mas só porque é seu aniversário, ok? — falei, pois não
podia desapontá-las de forma alguma. Afinal de contas, elas eram minhas
melhores amigas.

Mary gritou animada batendo palmas.

— Oba! Como é meu aniversário, você vai me dar o meu presente?

Pisquei.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Claro, está na minha casa...

Ela sacudiu a cabeça.

— Não falo de objetos, estou falando de você fazer o que eu quiser. —


Ela pegou meu braço. — Vamos, Samira... — Fez biquinho. — Só por hoje
faça tudo o que eu disser.

— Um presente no qual você não poderá dizer não. Vamos nos divertir na
Times Square esta noite! — gritou Bella. — Noite das amigas. Natan liberou,
contanto que eu me comporte. Prometi ser uma santa.

Eu ri porque Anabelle e santa na mesma página não combinavam. Ela


namorava há um ano com Natan, meu chefe e dono da boate Luxe.

— Prometo fazer tudo o que vocês quiserem menos sexo, pois isso eu só
farei quando me interessar por alguém. Até então isso não aconteceu — falei.
Não queria sexo banal ou por obrigação.

Na máfia, eu sempre fui obrigada a fazer o que os outros queriam. Todos


os meus amigos sabiam que morei um tempo na Rússia, mas o que eles não
sabiam é que eu não havia nascido lá. Quando tinha dez anos fui abandonada
pela minha mãe verdadeira, Giulia. Lucy foi meu anjo da guarda tornando-se
a minha mãe adotiva. Ela tinha uma filha chamada Lúcia. A minha meia-
irmã, um amor de pessoa.

Lucy morreu há três anos, por isso foi difícil continuar na Rússia depois
da sua morte, então vim para os Estados Unidos estudar. Fazia uns três anos
que eu não ia para a Rússia. Esperava voltar no próximo ano, assim que eu

PERIGOSAS
PERIGOSAS

pegasse folga no trabalho de atendente na Luxe, e desse um tempinho na


faculdade.

Uma parte minha estava feliz por não participar da máfia, porque aquilo
não era lugar para mulheres nascerem, aliás, para ninguém nascer.

A máfia italiana tinha regras, uma delas era que as meninas, ou melhor,
crianças, porque com dez anos ainda era uma criança. Nessa idade, elas eram
obrigadas a casarem com pretendentes escolhidos por seus pais.

Suas infâncias eram perdidas. Eu odiava aquele mundo, e implorava a


minha mãe para não me deixar casar, mas, na época, ela disse que não podia
fazer nada. Algumas vezes eu pensava que ela tinha me deixado para que eu
não tivesse aquela vida. Acho que por isso eu não a odiava, mas tinha
ressentimentos. Afinal de contas, eu ainda era uma criança quando ela me
deixou sozinha na rua. Por que Giulia não me deixou na porta de uma pessoa
ou me entregou a um orfanato?

— Samira? — chamou Mary estalando os dedos na frente do meu rosto.


— Isso está proibido nesta noite. O sexo, eu vou tolerar até que ache o cara
certo.

— O quê? — sondei voltando ao presente. Por isso não queria fazer sexo
por fazer. Eu queria que fosse por amor, ou que, no mínimo, eu sentisse algo
pela pessoa, assim como senti pelo cara que conheci há algumas semanas.
Pois se um dia a minha família me encontrasse, eu perderia isso e seria
obrigada a voltar para minha origem e casar com quem eles me ordenassem.

Tentei não me sentir culpada por esconder das minhas amigas essa parte
sombria da minha vida, mas não podia contar e correr o risco de elas saírem
PERIGOSAS
PERIGOSAS

machucadas.

— Você, às vezes, fica longe, sabia? É como se sua mente não estivesse
aqui. Hoje, você precisa estar com a gente e não viajando nessa sua mente
linda. — Ela deu um tapinha de leve na minha cabeça.

— Prometo não viajar. Permanecerei com vocês duas. — Levantei minha


mão para firmar o juramento. — Uma promessa.

— Então vamos para o shopping nos divertir, e gastar dinheiro — falou


Mary, mostrando um cartão na bolsa. — Limite ilimitado hoje. Presente do
papai.

Mary era irmã de Jonathan, mais conhecido por Natan. Seus pais eram
juízes aposentados. Então a menina tinha grana. Embora os Salvatore
também tivessem, eu preferia a liberdade ao dinheiro.

Chegamos ao shopping, no centro da cidade, onde me levaram para


provar um monte de vestidos caros.

— Quem está fazendo aniversário é você e não eu — comentei saindo


com um vestido prata colado ao meu corpo quase virando uma segunda pele.
— Quem deveria estar provando roupa era você e não eu.

— O que eu pedi hoje? — perguntou ela rodopiando. A menina era linda.


Uma morena formosa e cheia de curvas. — Para que você faça o que eu
quiser sem reclamar. Quero que prove todos e leve o que eu lhe der.

Suspirei, mas deixei quieto, afinal de contas, eu havia prometido isso a


ela. E gostava de cumprir minhas promessas.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Você está linda, Samira! Deveria se vestir sempre assim, sabia? Você
fica se escondendo dentro dessas roupas largas e fora de moda, e com isso
deixa todo esse material lindo encoberto. — Ela gesticulou para o meu corpo.

— Nós não precisamos ir a Nova York para festejar — mudei de assunto.


Eu gostava de usar jeans e camiseta. — Por que não vamos ao Prisma? Todos
na faculdade gostam de lá. E já que vocês insistem para que eu me divirta,
então eu posso ter a opinião de irmos lá?

Há três semanas, eu vinha da faculdade à noite, pois ficava pintando lá até


tarde naquele dia. Foi quando passei em frente ao Prisma, e vi um homem
lindo. E não era só por ser formoso. Seus cabelos eram loiros, um pouco
curtos, e com uma pequena mecha no olho direito. Vestia um terno, muito
diferente dos adolescentes que eu conhecia e iam à boates. Esse parecia ser
um empresário, embora a sua aparência demonstrasse não passar de vinte e
quatro anos.

Não sei o que me chamou atenção nele, talvez o poder que demonstrava
ter, ou só seu sorriso sexy que quase me fez bater o carro. Ele me deixou
mole com apenas um sorriso, isso porque nem tinha me tocado, imagina se
tocasse?

— Você quer ir a um clube? Ora! Viva! — As duas bateram palmas.

— Então vamos ficar e nos divertir no Prisma. Eu sempre quis ir lá, mas
Natan acha uma traição se eu for à outra boate que não a dele, contudo essa é
a nossa noite. Vamos nos divertir. Ele não vai se importar com relação a isso.
Meu gato sabe que o amo.

Assenti, mas fiquei aliviada. Embora não contei o meu motivo para ir à
PERIGOSAS
PERIGOSAS

boate. Pela primeira vez na minha vida, um homem fez meu coração pular e
partes do meu corpo tremer. Estava parecendo uma adolescente na escola ao
se interessar por um garoto à primeira vista. Já vi isso acontecer em livros.

Chegamos lá por volta das nove da noite. O lugar era enorme, com três
andares. Ao que parecia estava lotado. Recuperei meu fôlego, afinal de
contas, eu o vi ali umas quatro vezes. A última havia sido há três dias. Não
sabia se ele vinha sempre, talvez fosse o acaso. Quem sabe? Ou talvez, ele já
tivesse namorada.

— Vamos beber! — gritou uma animada Mary. — Dançar e transar.

Eu corei, porque uma turma de garotos olhou para nós três com
expectativa.

— Você se lembra do que eu falei? O sexo está fora de cogitação. Eu só


transarei com o cara que me fizer perder o fôlego — falei baixo para ela.
Como, por exemplo, aquele loiro lindo que fantasiava com ele há semanas.
Isso se eu o encontrasse ali, e ele me quisesse, claro!

— Fica tranquila, pois você irá encontrá-lo hoje. Tem muito gato nessa
boate, e ouvi dizer que o dono desse lugar é da máfia, mas isso são boatos.
Ninguém comprova isso — falou Mary.

Essa palavra fez com que eu me arrependesse de ter vindo, porque se


fosse da máfia italiana, eu estava frita. Meu irmão, Matteo, e meu primo
Luca, poderiam estar envolvidos. Ou até meu pai.

— Sabe qual a máfia que eles falam que são? — sondei vendo os olhos
das duas, estreitos. — Tipo: russa, japonesa, italiana ou algo assim?
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Acho que russa — respondeu ela não notando meu nervosismo.

Suspirei aliviada por saber disso, e avaliando o lugar apimentado.


Chequei se eu o via em algum lugar, mas para a minha decepção não o vi.

— Espero que esse negócio de máfia não seja verdade, pois não quero ter
problemas hoje — falou Anabelle. — Afinal de contas, nós viemos aqui para
nos divertir, e não para sairmos fugidas de balas.

— Aqui não tem isso. Com certeza é mentira — afirmou Mary sentando
em uma mesa perto do bar e acenou para o barman. — Queremos
Cosmopolitan.

Sentei ao lado delas, logo o cara trouxe nossas bebidas.

— Sabe que sou fraca com bebidas — comentei, bebendo um gole. — Da


última vez, eu fiz striptease. O bom é que estávamos somente nós.

Elas riram.

— Não vou deixar você ficar nua, não se preocupe, minha querida, bom,
a não ser na frente do cara que for fazer sexo — falou Mary. — Só bebe e
vamos nos divertir.

Eu bebi mais alguns goles, mas estava com receio de fazer besteira.
Então, eu deixei isso por enquanto e continuei a procurar pelo cara lindo.

— Agora vamos dançar — chamou Anabelle ficando de pé.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Sim. Samira, olhe ao seu redor para ver se encontra um garoto que te
interesse. — Mary me olhou. — Porque hoje você vai, pelo menos, beijar na
boca.

Eu estava prestes a retrucar quando vi o alvo do meu desejo conversando


com dois homens. Algo em meu corpo acendeu ao olhá-lo de longe. Ele
estava de terno escuro, mas o loiro de seus cabelos o resplandecia na
escuridão.

— O que você tanto olha? — sondou Mary seguindo meu olhar. Já


estávamos quase na pista de dança, não muito longe dele.

— Não grita, Mary! — repreendi-a ao mesmo tempo que notei que ele me
olhou.

— Está a fim dele? Oh, meu Deus! Não acredito que se interessou por
alguém. — Sua voz se elevou bem na hora de uma passagem de música para
outra, tanto que todos olharam para ela, ou melhor, para nós. A menina não
tinha papas na língua.

Eu estava toda vermelha por ela e por mim, e para piorar, ela pegou meu
braço e me levou até ele.

— Minha amiga está a fim de você — disse ao cara. — Isso é um milagre


já que ela não se interessa por ninguém.

— Mary! — repreendi-a me soltando dela e olhei para ele, que nos fitava
com a sobrancelha erguida. — Não liga. Eu acredito que ela bebeu demais.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Eu não bebi e sabe disso — falou ela, teimosa. — Beije ele! Ou será
algum outro desse lugar. Meu aniversário, lembra? — Acrescentou assim que
eu ia retrucar.

— Ele pode ter namorada. Já pensou nisso? — Esquivei-me ou tentei.

— Você tem namorada? — sondou ela para ele.

Ele sorriu.

— Não, eu não tenho, e ficaria feliz em beijar você — disse para mim
com um sorriso sensual.

Seus olhos eram de um verde lindo, quase azul, ou talvez fossem as luzes
do lugar. Eu nem acreditava que estava ali perto dele. Por um momento
agradeci a Mary em pensamento pelo incentivo dela, ou eu ficaria sonhando
com ele de longe, porque jamais teria coragem de tomar a iniciativa.

— Ótimo! — Ela sorriu animada e beijou meu rosto. — Tire a teia de


aranha.

Sorte que ela disse esse final, baixo, só para que eu ouvisse. Eu não
estava querendo minha vida sexual aos ouvidos do povo. Não era puritana,
mas também não era atirada como Mary e Tabitta, minha amiga policial que
morava em Manhattan.

— Desculpe por isso — falei com ele assim que Mary foi dançar com
Anabelle.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Os homens que estavam falando com ele antes de chegarmos, sumiram.


Mas não liguei.

— Ela é bem direta e atirada — ele comentou chegando perto de mim.

— Mary é outra coisa, mas eu a amo — comentei sentindo minha pele


formigar com sua aproximação. Seu cheiro de perfume masculino me
consumiu.

— Você quer me beijar? — sondou passando os braços em minha cintura


e me puxando para ele me fazendo ofegar com seu peito duro.

— Sim... — Minha voz era falha ao olhar para seus lábios rosados e sexy,
e seus olhos brilhantes. — Mas só se você quiser.

Ele me beijou, aliás, consumiu a minha boca de forma que achei que
comeria meus lábios. Foi tão intenso que me deixou de pernas bambas. Achei
que estava em um sonho, aqueles que custamos a acreditar que seja real. Por
semanas, eu sonhei com esse homem e hoje, por obra de Mary, eu estava o
beijando.

Meu corpo estava como brasas vivas dos pés à cabeça, seu toque e cheiro
me deixavam eufórica, querendo mais dele do que o beijo. Um prazer que
nunca senti antes, sentimentos desconhecidos.

Gemi nos lábios dele, e apertei minhas pernas uma na outra tentando
controlar o atrito que estava no meu centro.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Quer sair comigo? Preciso passar em um lugar antes, depois podemos


fazer mais coisas além de beijos. Isso se você quiser. — Seu tom era
charmoso e rouco. Ele parecia estar com dificuldade de respirar.

Eu assenti muda, tentando me recuperar após aquele beijo bombástico.

— Mas antes eu preciso falar com as meninas — tentei ser coerente.

— Tudo bem. — Ele traçou com o dedo no meu nariz. — Enquanto isso,
eu resolvo uma coisa antes de irmos embora.

— Que beijo foi aquele? — questionou Mary pulando de tão feliz assim
que cheguei perto delas.

— Menina, ele parecia querer comer sua boca com uma fome selvagem
— comentou Anabelle.

— Acho que eu também. Estou até mole. — Suspirei. — Ele quer sair
para outro lugar. Acha que devo confiar em um estranho?

— Nikolai Dragon não é um estranho. Ele é dono deste lugar, e não é


mafioso, pois já pesquisei sobre ele — informou Mary.

— Pode ir em paz, mas só se sentir que está pronta...

Mary interrompeu Anabelle.

— Mas é claro que ela está. Quem não ficaria com um homem daquele?
Um Adônis.

— Eu já o tinha visto antes quando estava voltando da faculdade. Algo


PERIGOSAS
PERIGOSAS

nele me faz perder o fôlego e eu me sinto tonta... — sussurrei. — É o


primeiro cara que me faz querer e sentir coisas desconhecidas.

— Não são coisas desconhecidas, Samira, é tesão mesmo, minha amiga!


Um homem daquele você até goza sozinha ao imaginá-lo nu. — Sorriu Mary.
— Não liga para nós, pois vamos ficar bem. O meu desejo é que você se
divirta hoje à noite.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Nós dois saímos juntos e fomos para um restaurante longe da boate em


que estávamos. Parecia ser russo.

— Por que estamos em um restaurante? — sondei curiosa. Pensei que


íamos para um hotel em algum lugar, mas tudo bem.

— Tenho um compromisso aqui — respondeu Nikolai assim que


entramos no restaurante. — Eu vou entrar ali naquela sala para resolver algo
importante, mas não vou demorar. Pode se sentar à mesa e fazer seu pedido.
Eu já volto.

Eu não fiz perguntas. Que tipo de negócio ele teria em um restaurante


russo?

Um homem chegou até nós e ele falou em russo. Eu fiz cara de paisagem
como se não estivesse entendendo nada, mas entendi perfeitamente.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Vamos entrar. Nós temos mulheres que vão satisfazê-lo. — Os olhos


do homem pousaram em mim. — Mas acredito que isso não vai ser possível,
pois você já está com uma...

— Cuidado! Ela não é ninguém — falou Nikolai de modo frio.

Aquilo foi como um soco. Se eu não era ninguém, então o que estava
fazendo ali? Fiquei esperando-o entrar na tal sala e depois fui embora. Eu que
não ficaria ali o vendo ficar com outras mulheres, enquanto o esperava feito
uma idiota.

Não deixei a humilhação tomar conta de mim, mas confesso que meu
peito estava com um aperto insuportável. Eu que pensei que ficaria com ele,
mas, pelo visto, o mesmo arrumou coisa melhor para fazer fodendo adoidado
por aí.

Eu fui ligar para um táxi, mas esqueci minha bolsa no carro dele, então
desci alguns quarteirões para conseguir um telefone. Não confiava andar
nessas ruas sozinhas; uma, porque nunca estive por essa área, mas ouvi dizer
que a taxa de crime era alta. Acabei parando em uma barraca de cachorro-
quente.

— Oi, desculpe interromper, mas vocês podem me emprestar um


telefone? Preciso chamar um táxi — pedi ao senhor. — Esqueci o meu.

Ele me avaliou e, pelas roupas luxuosas que Mary comprou para mim,
notou que eu parecia ter grana. Meu vestido era vermelho de uma alça só e
batia nas coxas, os sapatos eram pretos de salto.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Claro. Só espera um segundo, pois preciso atender essa mesa e já pego


para você. — Eu assenti.

— Esse lugar não é para moças andarem sozinhas, ainda mais como você
— disse uma mulher. — Sou Bean e esse é meu marido Jean.

— Este lugar é de vocês? — sondei olhando para o trailer de cachorro-


quente.

— Sim, começamos há pouco tempo. E já fomos assaltados duas vezes.


Por isso que eu falo: aqui não é lugar para jovens como você — disse a
mulher.

— Vocês não deram parte na polícia? — Eu não estava sozinha e sim


com um cara que achei que estava a fim de mim, mas me enganei.

Ela riu amarga.

— Já, mas não resolveu muita coisa — falou Bean. — Senta que preparo
um cachorro-quente para você. Se você esperar fecharmos, nós te damos uma
carona. Mas se quiser um táxi, podemos ligar, embora seja difícil que eles
venham para essa área.

Eu gostei desse casal, e não achei justo eles serem assaltados e os


bandidos não serem punidos. Em que mundo vivemos?

— Por que não desenham a imagem de cachorro-quente no trailer? Fica


mais fácil de as pessoas saberem o que estão vendendo — falei olhando o
branco do trailer. Eu só soube que ali eles vendiam cachorro-quente, porque
vi uma mulher comendo.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Estávamos juntando para pagar alguém, mas como fomos assaltados,


isso prejudicou um pouco as coisas, mas logo vamos fazer — Bean falou
indo atender uma moça.

— Posso pintar para vocês caso tenham as tintas — ofereci.

Os dois ficaram atônitos.

— Você? — indagou o senhor, que aparentava ter uns quarenta e cinco


anos. — Desculpe, mas isso não parece com você.

— As aparências enganam — comentei pensando em Nikolai.

Eles me deram as tintas e eu fui pintar o trailer. Assim que terminasse, eu


ligaria para o táxi ou esperaria eles terminarem já que não tinha nada para
fazer mesmo.

— O que está fazendo? — sondou Nikolai ao meu lado com um tom de


poucos amigos.

— Se você olhar para minha mão com spray, e para o trailer vai notar que
estou pintando. — Meu tom saiu sarcástico.

— Engraçadinha! Estou perguntando o motivo de você ter saído do


restaurante sem me esperar. Sabe que este bairro é perigoso para uma garota
como você?

Eu suspirei dando os últimos retoques na arte, e depois o fuzilei.

— O quê? Iria me convidar para o seu harém? — rosnei em russo.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Harém? Você fala russo? — Amaldiçoou baixinho. — Então você


entendeu tudo?

— Que eu era uma qualquer para você? Sim, eu entendi muito bem. —
Suspirei. — Olha, você pode fazer o que pretendia. Esse casal adorável vai
me dar uma carona.

— Acha que vou deixá-la? O que queria que eu dissesse a ele?

— Sempre somos alguém para uma pessoa. Para este casal, eu sou
alguém que os ajudou hoje, e também fui alguém que beijou você. Se não
gostou, talvez não devesse ter me convidado para sair. — Suspirei magoada.

— Acha que eu deveria dizer quem era você para mim? Você não sabe
quem eu sou...

Cortei. Eu não sou de perder a cabeça, pois sou paciente até que chega ao
ponto de ruptura.

— Ouvi dizer que é algum chefe da máfia, mas não tinha certeza. No
restaurante que minhas desconfianças se concretizaram — falei baixo essa
parte.

— Por isso foi embora? Pelo que eu sou? — Seu tom tinha uma nuance
que não entendi.

— Não. Eu fui embora pelo seu comentário e as mulheres que iriam te


entreter nessa reunião. — Fui sincera tirando meu cabelo do rosto. Deveria
me importar já que não queria aquela vida, mas meu desejo por este homem

PERIGOSAS
PERIGOSAS

era mais forte do que querer ficar longe da máfia. Ainda mais depois de beijá-
lo.

— Eu falei que não era ninguém da conta dele. Eu não posso ser grosso
sempre, e também não posso demonstrar fraqueza, ou as pessoas me
comeriam inteiro. Eles são tubarões, Samira. — Seu tom era sério.

— Então você só disse aquilo para que ele não desconfiasse do seu
interesse por mim? E como sabe meu nome? Não falei para você.

— Sei tudo sobre você. Acha que não a vejo passando sempre devagar na
frente da boate a fim de me ver? — falou limpando algo no meu rosto. — Só
me mantive longe pelo que sou, mas não adiantou, pois você veio até mim.

Eu corei por ter sido pega no flagra.

— Então estava de olho em mim?

— Sim. Agora vamos embora, porque estou louco para possuí-la. A não
ser que não queira mais, aí eu te levo para casa.

— Ficou com alguma daquelas mulheres que o homem mencionou? —


sondei.

Ele riu beijando minha testa.

— Não. Eu só queria que a reunião acabasse logo para poder ficar com
você — respondeu e olhou para a arte do cachorro-quente. — Você tem
talento. Ficou lindo.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Obrigada. Vamos para onde você quiser ir, mas uma pergunta antes:
amanhã nós vamos ficar juntos de novo ou isso é só uma noite de sexo? —
Minha voz falhou.

— Você acha que vou ficar com você e depois deixá-la? Eu quero você,
Samira. Se você quiser amanhã ou depois, estarei aqui.

Depois de agradecer ao casal, nós fomos para um hotel chique no centro


da cidade.

— Se você fala russo é sinal de que morou lá ou tem parentes na Rússia


— sondei olhando ao redor do imenso salão requintado e coberto de vidros.

Ele suspirou.

— Tenho negócios aqui também, mas moro lá — respondeu ele entrando


comigo em um elevador.

Eu não vou perguntar que negócios eram esses, porque com certeza não
era legalizado, e eu era doida por entrar em um hotel com um homem desses.
Lindo sim, mas misterioso e intrigante. Será que foi por isso que fiquei
fascinada por ele? Mas gostei de saber que ele ficava de olho em mim quando
eu voltava da faculdade.

Ele me imprensou na parede do elevador e devorou minha boca, ou


melhor, a consumiu como se fosse sua comida favorita, e eu ia retribuir com
tamanho vigor, mas a porta se abriu e me afastei sem querer. Ele se separou
de mim, mas segurou minha mão.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Isso foi um enorme UAU! Bem mais impressionante do que na boate


— falei meio ofegante e com a mão em meu coração acelerado.

— Aquilo não chegou nem perto do que vou fazer com você —
respondeu com um sorriso de lobo. Suas palavras foram como um tiro no
meio das minhas pernas. Remexi-me incomodada.

— Está sentindo algo? — sondou com um sorriso na voz.

— Você, com certeza, sabe o efeito que tem nas mulheres, não é?

Ele deu de ombros.

— Não ligo para as outras mulheres, só com você. Mas minha presença
afeta você? — Arqueou suas sobrancelhas grossas.

— Demais. A primeira vez que o vi quase bati em um poste. Parecia que


eu estava bêbada. — Fui sincera.

— Gosto disso. — Ele abriu a porta e entramos em seu apartamento. Era


mais uma suíte máster.

A vista era magnífica e brilhante. Certamente que durante o dia era ainda
mais linda.

Eu não me impressionei com o luxo, porque, quando viajava com Giulia e


Matteo, nós ficávamos em hotéis assim. Fora as mansões que os Salvatore
tinham em vários lugares no mundo.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Você não sabe o que eu senti quando a vi hoje na boate. Tive vontade
de levá-la ao meu escritório para poder desfrutar de você inteira e nua! —
rosnou.

Ele mal fechou a porta e já me pegou pela cintura suspendendo-me do


chão e me beijando com vigor e fome. Eu agora retribuí com o mesmo
desejo. Minhas mãos foram para sua cintura por baixo da camiseta dele e a
outra em seus cabelos lindos e macios. Notei que ele tirou o terno quando me
encontrou na barraca de cachorro-quente.

— Gosto de como isso soa — sussurrei sem fôlego e corando.

Ele me levou para o quarto sem tirar os lábios dos meus, tão deliciosos
como morangos. Ficamos em silêncio, apenas nossos gemidos e o som dos
nossos beijos ecoavam pelo quarto. Eu tirei sua camiseta me afastando de sua
boca um segundo para fazer isso e tracei os dedos em suas costas apertando-o
mais contra mim.

— Tem certeza de que você quer isso? Se não quiser fale agora enquanto
pode. — Seus lábios foram para o meu pescoço.

— Estou pronta — garanti, enquanto tirava o meu vestido que caiu no


chão.

Não deixei a vergonha me dominar, apenas queria suas mãos por todo o
meu corpo, seu toque, seus beijos e ele dentro de mim, tanto que já estava
molhada para ele e com meu centro latejando.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu senti minhas costas no colchão macio como seda e ele pairou em cima
de mim ainda com seus lábios em minha pele fazendo-a tremular como
labaredas.

— Ótimo! Pois agora é tarde demais para mudar de ideia — falou rouco.

Ele seguiu seus lábios até meus seios desnudos e abocanhou um deles
com sua boca sugando-o com fome.

— Fabulosos!

— Nick... — Choraminguei abrindo minhas pernas querendo-o ali.

— Está querendo meu pau ou minha boca? Você escolhe, minha pequena
coelhinha — sussurrou na minha pele fazendo-a arrepiar.

— O que você quiser... — consegui dizer com dificuldade. — Os dois.


Pois você deve ser bom.

— Oh, eu vou mostrar a você, querida! Coloque suas pernas em volta do


meu pescoço.

— Sim...

— Adoro vê-la assim ansiando pelo meu toque. — Ele traçou a língua
entre meus seios e desceu para a barriga. Suas mãos seguraram meu quadril
mantendo-o no lugar já que o atrito era demais. Então seus lábios e língua
estavam me degustando e lambendo-me com fome.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu fiz o que ele mandou, ao mesmo tempo que ele colocou a boca em
minha boceta degustando-a, lambendo e sugando o meu clitóris fazendo-me
gritar por ele. O prazer era tanto que eu levantava o quadril querendo mais
dele. Seus lábios e língua me deixavam tão louca que eu remexia igual a uma
lagarta na areia quente.

Sempre ouvi Mary e Anabelle falando sobre o sexo oral, elas diziam que
era fenomenal. Contudo, sentindo cada lambida e pressão da língua do
Nikolai em meu broto rosa, isso passava do céu. Era como flutuar no espaço
cósmico me fazendo gritar. Eu levantei mais meu quadril ansiando mais dele,
era como se meu corpo tivesse vida própria.

— Oh, Deus! Isso é...

— Saborosa e suculenta — comentou dando um puxão em meu clitóris


me fazendo arquear o corpo fora da cama. — Isso, minha linda, se
desmanche nos meus braços e goza na minha boca.

Suas palavras foram como um raio direto ao meu centro.

— Agora, eu vou te mostrar o verdadeiro prazer, tanto que vai fazê-la


gritar ainda mais nesse quarto — sussurrou pairando em cima de mim.

— Os vizinhos não vão se incomodar? — sondei com o rosto em brasa.

— Não. Ninguém mora nesse andar, somente eu. — Nikolai riu e seu
hálito banhou minha pele, me fez remexer ainda mais na cama. Depois me
olhou com fervor, mas não parou por aí, colocou dois dedos em mim.

— Eu vou alargá-la para mim.


PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Como sabe que sou...

— Virgem? Por essa cor linda que aparece em sua pele sempre que fala
alguma palavra relacionada à intimidade do sexo. — Sua boca foi para o meu
seio sugando e mordiscando enquanto estocava-me com seus dedos mágicos.

Eu peguei suas calças e abri o zíper abaixando-a e apertando sua bunda.

— Nick, por favor... — gritei num clamor latente.

— O que você quer, coelhinha? — perguntou mordiscando meu peito me


levando ao céu, um lugar onde brilhava e explodia como o dia Quatro de
Julho.

— Eu quero você dentro de mim. Agora! — implorei puxando sua cabeça


e beijando seus lábios.

Ele se afastou após alguns segundos após os nossos amassos e gemidos.


Então, tirou o resto de suas roupas sem nunca desviar os olhos de mim, mas a
minha atenção estava em outra parte de seu corpo, uma que eu estava
ansiando e desejando desde que o havia beijado na boate. Seu pênis era bem-
dotado que só em vê-lo queimava tudo dentro de mim.

O toque deste homem era como imã, me chamava e me guiava ansiando


por ele ao ponto de suplicar caso precisasse.

— Gostando da vista? — sondou ele com um sorriso e se posicionando


em cima de mim.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Oh, é ainda melhor do que pensei que fosse — respondi corando e


sorrindo também.

— Fico feliz em ouvir isso — disse se encaixando em mim e beijando-me


com ferocidade e fome. — Eu vou devagar, ok?

Assenti e senti a sua invasão, mas seus beijos e carinho amenizaram a dor
e me trouxeram somente o prazer. Ele começou a acelerar os movimentos,
bombeando e me levando ao êxtase.

Minhas mãos se encontravam em suas costas apertando-o mais contra


mim. Ele estremeceu, mas não disse nada sobre o fato de minhas unhas
estarem machucando-o, apenas gemeu em minha boca e sugou meus lábios e
língua. Trancei minhas pernas em sua cintura fazendo-o entrar mais fundo em
mim. Eu estava no paraíso, ali eu estava no céu.

Nós devoramos um ao outro enquanto gozávamos e eu vi milhares de


estrelas, aliás, uma constelação inteira. Ele deu uma última estocada me
levando ao limite. Seus gemidos eram ferinos em meus ouvidos. Eu adorava
isso.

Só esperava que no outro dia, eu tivesse mais dele, porque estava longe
de ter meu desejo saciado.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu acordei tomada por êxtase devido à noite maravilhosa que tive nos
braços de Nick. Suas mãos em meu corpo, seus beijos e carícias, tanto na
hora do sexo quanto depois dele, quando dormiu ao meu lado, foi mágico.

Eu estava até meio dolorida, mas não liguei. O prazer que estava tendo
superava isso, aliás, superava tudo. Nem acreditava no quanto havia sido tola
em esperar pelo sexo por vinte e dois anos. Apesar de eu ter feito com o
homem que queria, o homem no qual pensei por semanas, desde a primeira
vez que o vi todo lindo na frente da boate.

Alguém bateu na porta me tirando do sonho que estava tendo com


Nikolai. Olhei ao redor para ver se o avistava em algum lugar. Queria checar
se ele estava tão entusiasmado quanto eu para mais sexo.

O quarto era grande e chique com vista para o centro. Estava claro lá fora,
mas eu não sabia o horário, porque só pensava na noite maravilhosa que tive.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Nikolai. — Eu me levantei da cama chamando por ele, mas só obtive o


silêncio.

Com assombro, eu percebi o que tinha acontecido comigo. Ele foi embora
sem dizer nada, nem ao menos um maldito adeus. Mas por que ele iria se dar
ao trabalho de fazer isso se foi só uma transa? Uma maldita foda! Foi só isso
que tivemos.

Eu vesti meu vestido da noite passada ignorando a nova muda de roupa


que estava em uma cadeira perto da cama. Eu tinha certeza de que havia sido
ele a deixar para mim. Não foi preciso olhar todo o lugar para saber que
Nikolai não estava ali. Com certeza já devia ter ido para a Rússia uma hora
dessas, ou para qualquer outro lugar longe de mim.

Eu estava me sentindo usada, mas não ia chorar, afinal de contas, eu sabia


que isso ia acontecer. Eu senti isso desde que resolvi vir com ele, certamente
foi uma premonição. Mas não lutei contra. Agora estava ali, sozinha e largada
por ele como se nossa noite não tivesse sido nada de importante. Talvez não
tivesse sido mesmo, afinal de contas, ele deveria ter mulheres como cardume.
Por que ia querer ficar com uma mulher inexperiente como eu?

O barulho da porta começou a soar mais forte. Eu respirei fundo e fui


abri-la para quem quer que fosse, talvez fosse até outra mulher, pensei
amarga.

Um senhor de meia-idade estava na porta e segurava uma caixinha azul


em suas mãos.

— O Sr. Dragon mandou entregar isto a senhorita — disse estendendo a


caixa para mim acompanhado com um bilhete.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Dragon? — Minha voz saiu rouca.

— Senhor Nikolai — respondeu e franziu a testa. — Não sabe quem é


ele?

— Sim, eu sei — falei.

“Um tremendo de um canalha, no qual, não queria ver nunca mais na


minha vida”, pensei. Embora o senhor não tivesse perguntado sobre esse
sentido. Eu não sabia nada de Nikolai e não queria saber também.

— Tem um carro esperando a senhorita para levá-la até sua casa.

Ali tinha um bilhete, mas o pior foi o que vi que mal ouvi o que o senhor
disse após abrir a caixinha e me deparar com uma joia de diamante, que
acreditei ser mais caro do que as que Giulia usava.

Samira,

Eu deixei essa joia pela noite que tivemos ontem. Como não usei
camisinha, e não sei se você toma algum contraceptivo, então comprei essa
pílula do dia seguinte. Isso vai evitar engravidá-la, porque não quero ser pai
tão cedo.

Nikolai.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu acho que se ele tivesse me batido doeria menos, porque naquele


momento eu fui mais do que humilhada, tanto pela joia que ele me deu, como
se fosse um pagamento pelo sexo que tivemos, quanto pelo fato de me deixar
esta pílula e me mandar tomar para não engravidar dele.

Eu não queria engravidar, claro, ainda mais de um cara que mal conhecia.
Mas essa não era só uma decisão dele, teríamos que tomar juntos. Mas eu era
culpada também. Por que não pensei em me prevenir? Estava tão ludibriada
por ele que me esqueci até do meu nome na hora.

— Senhorita? — chamou o senhor me trazendo de volta à realidade.

— Aqui, pegue e fique com isso. Pode fazer o que quiser. — Entreguei a
joia para ele.

Fiquei apenas com a caixinha da pílula do dia seguinte. Saí ignorando o


pobre senhor que, ao sair do seu transe, começou a gritar por mim, mas não
liguei. Eu só queria sumir daquele lugar e ir para onde não pensasse em
Nikolai, porque isso me deixava com mais raiva.

Peguei um táxi para ir embora, porque sem chance do inferno de eu


aceitar a carona do motorista que ele deixou. Eu estava grilada, mas não
chamaria as meninas, depois conversaria com elas.

Quem ele pensava que era para me tratar assim, como qualquer uma? Mas
a idiota sou eu, por ter acreditado nele sendo que nem o conhecia direito. Eu
fui para cama com um cara que tinha acabado de conhecer, no qual, pensei
que podia ser uma pessoa legal. Tanto que entreguei a ele algo que estava
guardando durante anos para a pessoa que eu sentisse meu coração balançar.
Ele foi o único que o fez, e no fim acabou me magoando enormemente.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

Pelo jeito, ele nem sentiu a necessidade de dizer adeus ou que gostou do
que tivemos, talvez nem tivesse gostado, porque me tratou como uma amante
ou prostituta.

Agora, eu estava me sentindo assim, um pano de chão. Na verdade, o


pano você lava e usa de novo, mas do jeito que eu estava me sentindo era
como um objeto descartável onde você usa e joga fora.

Se ao menos ele tivesse ficado e dito que tinha gostado, mas que não
poderíamos ficar juntos, eu teria aceitado na boa, pois assim ele teria dito
alguma coisa, ao invés de ter me deixado sozinha em um hotel com um
bilhete e uma joia como uma recompensa.

— Oh, merda! — Limpei as lágrimas de raiva e humilhação do meu


rosto.

Meu telefone tocou. Sabia que devia ser uma das meninas ou Taby.

— Alô? — falei com a voz mais composta que pude. Assim ninguém
saberia como fui humilhada.

— Você está bem? Parece rouca — falou Taby com um tom preocupado.

— Estou meio gripada, mas estou bem. — Estabilizei minha voz. — O


que houve?

— Nada. Estou sentindo sua falta já que não nos vemos mais com
frequência. Achei que viesse para o casamento de Angelina, pois assim nos
veríamos.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Eu vou recompensar este fim de semana, passarei aí com vocês —


falei.

Eu não queria sair de casa, mas era o casamento de Angelina, uma amiga
que fiz quando ela ficou com Tabitta, minha melhor amiga. Eu não sabia
direito o que tinha acontecido entre Angelina e seu namorado Ryan Donovan,
mas parece que eles haviam brigado porque ela veio se esconder com a Taby.

Depois de muitas reviravoltas, os dois se acertaram. Eu fiquei feliz com


isso, porque aqueles dois se amavam demais.

Outra que eu também estava muito feliz era por Taby, minha quase irmã.
Depois de muitos anos apaixonada pelo seu primeiro amor, agora os dois
estavam juntos e felizes.

Eu não tinha inveja, certo, um pouco. Eu queria que um homem me


olhasse da mesma forma que os namorados das minhas amigas olhavam para
elas. Eles as adoravam como se elas fossem o mundo deles. Eu queria ter isso
um dia, mas depois de ter sido rejeitada e abandonada pelo único homem que
senti algo e me deixei levar... precisava de tempo para montar uma expressão
branda na frente dos outros, assim ninguém saberia que tive problemas.
Deixaria isso para lidar depois.

— Jura?

— Sim — respondi. — Estou com saudade de Emily.

— Eu fiquei me sentindo uma amiga ruim, já que me mudei para longe de


você.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Você está feliz com Jason, e isso é o que conta — falei. — Estarei aí e
matarei as saudades de todas vocês e também da minha boneca, Emy.

Esqueceria meus problemas hoje e pensaria só na felicidade da Angelina.


E também seria bom que eu tirasse um tempo de folga da cidade. E se
Nikolai resolvesse aparecer? Acredito que o mandaria para o inferno!

Arrumei minha mala para ficar o fim de semana em Manhattan. Mas não
podia ir sem antes falar com a Mary e Anabelle. Precisava deixar as duas
tranquilas e dizer que eu estava bem.

— Meninas? Ocorreu tudo bem na noite anterior, mas depois nos


falamos. Agora, eu preciso ir a Manhattan para o casamento de uma amiga.
Ficarei este fim de semana fora, qualquer coisa me liguem. Amo vocês. —
Gravei um áudio e enviei para as duas.

Elas não precisavam saber do que aconteceu, isso era para o próprio bem
delas, e também para o meu, que não queria responder a nenhuma pergunta
relacionada ao assunto naquele momento.

Assim que cheguei onde seria realizado o casamento de Angelina, eu fui


até Emily, a minha princesinha linda.

— Oi, tia Samira, como estou? — Emily rodopiou com seu vestido de
dama de honra. Ela tinha cabelos castanho-claros, na altura das costas. Seus
olhos eram cor de chocolate, iguais ao de Jason. Tudo nela parecia mais com
ele do que com a Taby.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Linda, minha boneca — falei abraçando-a. — Senti sua falta.

— Eu também, sabia que meu pai comprou um cachorrinho para mim? É


tão fofinho. — Ela fez um gesto com as mãos como se estivesse apertando a
cara do animal.

— Fico feliz com isso, meu amor. Eu vou ficar aqui neste fim de semana,
então podemos passear no Central Park com ele. O que acha?

Ela deu um grito animado abraçando minha cintura. Depois foi para seus
amiguinhos, eu já fui procurar a noiva. Entrei no quartinho pequeno e a vi
toda linda de frente ao espelho, olhos negros brilhantes de puro êxtase. Rosto
corado, lábios com batom na cor cereja.

O vestido de noiva era tomara que caia, com detalhes em pérola. Ele
marcava bem as suas curvas deixando-a mais formosa.

— Está pronta? — perguntou Tabitta olhando de cima a baixo para


checar se não estava faltando algo. — Linda!

Angelina corou.

— Obrigada — sussurrou ela emocionada.

— Ainda dá tempo de mudar de ideia. — Taby fez uma careta linda.

Angelina sorriu, porque sabia que Taby não gostava de Ryan, pois ela o
culpava pelo fato de Angel ter quase morrido ao ficar grávida de Victoria.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

A filha dela era uma mistura dos dois, pele branca com cabelos negros,
mas com os olhos cor de caramelo iguais aos do pai. Linda garotinha!

— Meninas? Vamos logo com isso. — Samantha entrou no quarto com


seu vestido vermelho sangue que combinou com seus cabelos negros. Ela era
mulher de Lucky Donovan, irmão de Ryan.

— O Ryan está impaciente lá no altar, eu tive que dar Victoria para ele,
só para que não viesse até aqui procurá-la.

Tabitta sibilou.

— Se aquele desgraçado não me der ela na hora da cerimônia, eu vou


matá-lo. — Ela jogou seus cabelos loiros para trás das costas.

Tabitta era uma mulher linda, mas nesses meses eu estava notando que
seus olhos estavam mais brilhantes. O motivo disso se chamava Jason Falcon,
o amigo de Ryan. Ficava feliz por minha amiga.

Eu revirei os olhos, porque Ryan era bem obcecado pela sua bebezinha, e
não deixava ninguém a pegar. Angelina tinha que intervir na maioria das
vezes.

Nós estávamos no quartinho da igreja no qual seria realizado o


casamento. O quartinho era branco com um espelho grande.

Ela foi para o corredor que dava para a entrada do salão da igreja. Lira, a
irmã de Angelina de quatro anos, e Emily eram suas damas de honra e foram
na frente.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Johnny, o melhor amigo da Angelina, ia acompanhá-la até o altar, já que


ela não tinha família.

Eu fui para perto de Nasx, o MC da Fênix, o conheci há mais de três


meses, quando Angelina ficou na casa da Taby em Jersey. Fiquei amiga dele,
que, por sua vez, tentou ficar comigo algumas vezes na minha casa.

Nasx era o vice-presidente do MC. Um loiro de 1,89m, cabelos longos


nas costas. Seu corpo musculoso era forrado de tatuagens. Ele usava jaqueta
sem mangas de couro com o emblema da Fênix, e dava para ver os enormes
dragões tatuados em seus braços, mas eu acredito que ele tinha mais
tatuagens onde eu não pudesse ver. Seus olhos eram azuis-cobalto.
Conclusão: lindo!

Também conheci Daemon, o rastreador do MC. Eu não sabia seu nome,


apenas o apelido, mas o cara era um deus grego tatuado. Forte, 1,90m, olhos
caramelo ouro, cabelos curtos, e brincos em sua orelha direita e um alargador.
Ele tinha um brinco na língua que notei quando riu com Nasx. Isso era nos
lugares visíveis, mas posso jurar que tinha em outros lugares também. Não
que eu quisesse ver. Ele estava com jeans rasgado nos joelhos e uma camiseta
branca com um colete com o logotipo da Fênix. Ele usava uma corrente
grande no cós da calça, prendendo a sua carteira que estava no bolso da
frente. Na corrente tinha um par de soqueiras.

O salão da igreja estava todo decorado com flores de todas as cores e


tipos: rosas, tulipas e jasmim. Havia várias cores por causa delas: brancas,
vermelhas, azuis e rosa. No corredor, entre os bancos, foi preenchido de
flores coloridas. O aroma era de outro mundo.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

A igreja estava lotada de pessoas desconhecidas para mim, mas que eram
amigos de Ryan e Angelina.

Em um lado das cadeiras estavam os motoqueiros MC da Fênix de


Chicago. Dominic e sua esposa Evelyn. Os dois formavam um casal lindo. O
cara era um espetáculo de homem, moreno, alto, 1,88m, forte, olhos verde-
esmeralda, com cílios grossos e cabelos castanho-escuros. Ele tinha uma
tatuagem de cobra no braço direito como se ela estivesse subindo pelo braço,
e no braço esquerdo o nome Evelyn no antebraço. Mas tinha mais escondidas
pela camiseta e jaqueta sem mangas com emblema da Fênix. Seu apelido no
clube era Shadow. Eu acho que era pelos seus olhos, que pareciam mortais.
Já Evelyn, sua esposa, era uma ruiva deslumbrante com cabelos anelados e
olhos cor de ouro. A mulher tinha um maldito corpo sarado, deslumbrante.

— Mulher, você está um maldito avião — declarou Nasx assim que


chegou perto de mim.

— Obrigada. — Até minha voz era falha.

Eu estava com um vestido preto justo em meu corpo, e mostrando minhas


coxas torneadas e calcei um tamanco alto. Meus cabelos negros e anelados
estavam caindo em cascatas em minhas costas. Meus olhos eram de um preto
ônix.

— Como está? — sondou Nasx chegando perto de mim enquanto


avaliava meu rosto. — Parece que tem algo de errado. O que é?

Nesses meses em que nos conhecemos, ele parecia me ler fácil, talvez
fosse a sua especialidade ou, então, eu não estava escondendo o suficiente
dele o que aconteceu comigo. O bom foi que só ele notou.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Nada. — Mesmo assim menti.

— Samira, eu conheço você, então me fala o que houve.

Eu suspirei vendo Angelina cantar uma canção para seu futuro marido.
Uma declaração de amor. Assistindo aquilo, eu me arrependi de ter
acreditado em Nikolai. Poderia ter esperado pela pessoa certa, pois um dia ele
apareceria, mas me deixei levar pela tentação loira.

Michael Bolton soava na igreja All for love. A voz da mulher era
realmente linda. Angelina cantava muito bem.

Eles estavam declarando seus votos. Eu consegui escutar apenas uma


frase antes de pegar o braço de Nasx e levá-lo comigo para uma sala.

— Você me deu mais razões para viver nesse mundo, me deu uma filha
linda, um amor pelo qual quero lutar e viver — sussurrou Angelina com
emoção. — Eu amo você.

— Samira...

— Eu conheci um cara...

— Um cara? Ele te fez alguma coisa? Porque parece triste.

Suspirei.

— Há algumas semanas, eu o vi em frente à boate Prisma, em Trenton.


Não sei dizer, mas algo em mim mudou quando o vi e comecei a sonhar
direto com ele.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— O que aconteceu? Você saiu com esse cara? Ele foi educado e
respeitador?

Eu deveria me abrir para minhas amigas e não para um cara, mas com
Nasx era assim mesmo, nós conversávamos sobre tudo. Obviamente que
depois eu falaria com elas também.

— Ontem, quando eu saí para comemorar o aniversário de Mary, nós


fomos ao Prisma e ele estava lá. Então, como estávamos comemorando o dia
dela, ela falou que queria que eu fizesse tudo o que a mesma quisesse,
inclusive beijar este cara. Esse seria o meu presente para ela. — Suspirei e
contei o resto da história, só não os detalhes do sexo. Eu apenas disse que
ficamos juntos.

— Nikolai Dragon? Tem certeza? — indagou Nasx.

— Sim. Você o conhece? Ele é dono da boate no Prisma.

— Sim, ele é chefe da máfia russa, conhecido como Dark. Apesar de


novo, ele possui um grande império nas mãos. — Ele franziu a testa. —
Vocês... ficaram juntos?

Eu corei e assenti. Estava a ponto de responder quando seu telefone


tocou. Ele olhou a mensagem e amaldiçoou.

— Preciso ir, mas ainda não acabamos. Assim que eu fizer o que farei, eu
vou para a sua casa. Se quiser me esperar, eu te dou uma carona.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Estou com meu carro. Eu vou me despedir das meninas e vou embora.
Mas vou ficar na casa dos pais da Mary. Ela me deixou ficar lá. Então te
mando o endereço e o espero lá para conversarmos — falei a ele.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Tinha saído mais cedo do casamento depois de ter oferecido minhas


felicitações aos noivos.

Anabelle e Mary mandaram mensagens dizendo que foram para a fazenda


dos pais de Mary para terminarem de comemorar o aniversário dela. Ela
perguntou se eu queria ir, mas não estava no clima para festa.

Estava saindo do prédio da igreja quando fui abordada por três caras
armados até os dentes. Não reparei direito em suas fisionomias, mas notei
que eles usavam ternos caros, e eram todos tatuados onde mostravam sua pele
exposta, como pescoço e mãos, então, com certeza, deveriam ter mais por
baixo da roupa.

— Venha conosco! — ordenou um deles pegando meu braço de um jeito


nada amigável.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu estava tão em choque que nem pensei em gritar. Porém, se gritasse,


ele me fritaria inteira. Como podia lutar contra esses homens armados? Olhei
em volta à procura de ajuda, mas não avistei ninguém que pudesse me
socorrer e me livrar desses caras.

Eles cobriram minha cabeça com um saco de pano e me levaram embora


dali. Para onde? Não fazia ideia. Vi que andamos bastante, e todo o tempo
eles conversaram em russo. Aposto, porque pensavam que eu não sabia falar
neste idioma, mas eles estavam enganados em pensar assim.

Será que eram homens de Nikolai? Não, nós ficamos juntos ontem, ele
não poderia querer me fazer mal. Talvez tivesse a ver com o pai da Taby.
Soube que estavam tentando prender o Jacov, que, por sua vez, também era
chefe da máfia russa. Devia ter perguntado ao Nasx se ele achava se tinha
relação entre Andrey Jacov e Nikolai.

Meu coração acelerou também e por um breve segundo pensei que fosse a
minha verdadeira família que havia descoberto onde eu estava, mas isso era
impossível, não é? Giulia deixou bem claro que não me queria, por isso não
voltou. Eu sentia falta de Matteo... o meu irmão que sempre me amou e me
protegeu contra tudo e contra todos.

Esses caras eram mafiosos, mas não da máfia italiana e sim da máfia
russa. Papai era Capo, e tomava conta de todos da família Salvatore. Eu os
amava, mas nenhum deles me amou porque se não eles não teriam deixado
Giulia me abandonar sozinha quando eu tinha dez anos.

— Anda logo. — O cara me puxou forte para sair do carro, e me trouxe


de volta à realidade onde eu ia ser morta, ou pior, estuprada por eles.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Andamos alguns metros e depois senti que estava em um convés de navio


ou barco, eu não sei, mas o senti balançando com as ondas do mar. Isso me
deu mais frio por dentro, porque eu tinha pavor de rio e mar. Quando eu tinha
sete anos quase me afoguei por não saber nadar, e Matteo me salvou. Quando
pensava nele, o meu coração se apertava tanto que impedia do ar sair dos
meus pulmões. Tamanha era a falta que sentia dele.

Eles falavam em russo a minha volta, vozes diferentes estavam por toda a
parte. Mas tinha uma mais grossa do que as outras, esse cara me lembrou
meu pai, e pela sua autoridade, com certeza era o líder deles. Esperava que
não fosse o meu fim.

Alguém puxou o capuz da minha cabeça e pisquei para a claridade vendo


um mar de homens, todos de ternos e gravatas. Poder, ali tinha bastante disso,
principalmente, emanando do velho de uns cinquenta ou sessenta anos, eu
não sabia. Ele era o chefe, com certeza. Seus olhos frios estavam em mim.

— Não precisa temer, pois ninguém vai tocá-la. A não ser que sua amiga
não dê o eu quero. — Ele pegou um telefone e discou para alguém.

Eu tinha quase certeza de que ele se referia a Taby e ela tinha alguma
coisa que esse homem queria.

Eu não gostava de abuso de mulher, pois quando eu era pequena vi meu


tio Enzo bater em uma mulher, o velho asqueroso até me deu um tapa no
rosto, porque eu presenciei o ato. Ele só não fez pior comigo, porque minha
mãe chegou, mas suas mãos imundas ainda me davam arrepios. Eu não
gostava da forma como o velho barrigudo me olhava, não era como se eu

PERIGOSAS
PERIGOSAS

fosse sua sobrinha e criança, e sim uma mulher. Esperava nunca mais vê-lo
na minha vida ou que o mesmo morresse, mas coisa ruim não morre cedo,
pensei amarga.

— Fale com ela e diga que se ela não trouxer o pai dela aqui, você vai ser
uma ótima refeição para os meus homens antes de eu jogá-la ao mar — disse
o cara.

Saiu um ruído de choro da minha garganta e não consegui falar. Eu não


queria morrer, mas também não colocaria Taby nisso, porque esse cara queria
o fodido do pai dela, um ser pior que meu tio. Por que esse cara não ia atrás
dele, ao invés da Taby?

O homem mafioso colocou no viva-voz e ouvi a voz de minha amiga.


Meu peito doeu ao pensar no risco que ela poderia correr ali, sendo que no
dia anterior tinha descoberto que estava grávida. Nunca a vi tão feliz ao saber
disso. Eu que não ia trazê-la ali para esses caras a maltratarem, mas se eu não
dissesse alguma coisa, eles me matariam... talvez Taby não viesse, afinal de
contas, esse mafioso só queria o Sebastian Ruiz e não ela.

— Oi, Samira. Já chegou em casa? — Eu tentei segurar o choro assim


que um cara puxou meu cabelo para eu responder, mas minha voz não saiu.
— Samira?

— Fique calada ou sua amiguinha gostosa vai pagar por isso — rosnou o
mafioso me lançando um olhar ferino e mortal.

Oh, Deus! Não deixe com que me toquem. Precisava ser forte como a
Tabitta. Ela jamais ficaria choramingando por aí como uma pobre coitada, e
sim mandaria todos se foderem e irem para o inferno.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Não a machuquem, por favor — ela pediu suplicante. — O que você


quer?

— Nós dois sabemos o que eu quero, senhorita agente Rodrigues, então


vamos esquecer as formalidades e irmos direto ao assunto. O seu pai tem algo
que eu quero, provas contra mim, e eu preciso delas ainda hoje. Você terá
uma hora, ou a sua amiga vai pagar o preço.

— Não seria mais fácil eu levar o Sebastian até você? Assim você
pergunta diretamente a ele, e também terá a sua vingança. — Eu conhecia
aquele tom e sabia que ela estava tentando ganhar tempo para vir me resgatar
naquele lugar. Eu só esperava que ela não se machucasse ou eu nunca iria me
perdoar.

Ele riu.

— Você vai entregar o seu pai? Os filhos de hoje em dia não dão valor
aos pais como antigamente. — Seu ar era recriminador.

Como se esse fodido soubesse o que era isso. Acho que ele nunca soube e
jamais saberia, pois só amava a si mesmo e ao seu poder. Por isso estava
ameaçando para obter as provas que Sebastian tinha contra ele. Esses dois
vermes poderiam matar um ao outro, pois isso iria facilitar muita coisa para
todos nós.

— Sebastian não é meu pai, e sim um assassino que merece morrer —


sibilou ela com frieza.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Papai não fez o que esse Sebastian fez a minha amiga, ele matou a avó
dela e até hoje o chefe fodido do Cartel ainda não havia sido preso por falta
de provas. Mas eu soube que estavam tentando prendê-lo, acho que tinham
um plano, embora Taby não falasse sobre seu trabalho comigo e eu não
cobrava isso, pois eu também guardava segredos dela, mas para sua proteção.

— As horas estão correndo, agente Rodrigues, então vá buscar seu pai na


toca que ele estiver. Mandarei a localização por mensagem. — Ele suspirou
impaciente e desligou o telefone e acenou para o homem ao meu lado como
se fosse para me tirar da sua presença. Era como se não suportasse mais olhar
para mim. Eu até acharia bom se ele me mandasse embora, mas isso não
aconteceria.

O cara me levou para um quarto no barco e me olhou de lado com um


sorriso.

— Tire as roupas agora, garota, e sem choro, porque odeio garotas


choronas — ordenou ele arrumando umas correntes que estavam suspensas
no teto do navio.

Eu suspirei, mas não ia chorar por temer ser violentada por ele, embora
tudo dentro de mim temesse pelo pior e orava para ser salva.

Eu fiz o que ele mandou sem hesitar, pelo menos não demonstrei isso na
frente dele. Dizem que leões sentem as fraquezas de suas presas de longe. Se
fosse verdade, então este cara sentiria a minha, por isso me controlei e ignorei
a vergonha e raiva por ter de ficar nua na frente dele.

Ele veio e me puxou para baixo das correntes levantando meus braços
acima da cabeça e os deixou ali, suspensos e presos.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Não vai chorar? — sondou em tom de zombaria. — Isso não quer


dizer que alguém vai te ajudar aqui. Não se preocupe, pois assim que eu
terminar com você, nós vamos ver se não vai gritar ou chorar.

Outro cara chegou à porta e meu coração gelou, porque agora não seria
apenas um a abusar de mim e sim dois deles. Ou talvez mais? Eu confiava
que a Taby me tiraria dali, mas precisava ser forte até ela chegar.

O cara que entrou e falou com ele em russo, acredito para eu não entender
nada, disse que Jacov o proibiu de me tocar por eu ter parentesco com a
máfia italiana e até disse o nome do meu pai: Lorenzo Salvatore.

Um frio desceu pelo meu corpo, porque agora esse cara sabia que eu era
filha de Lorenzo e ia querer tirar vantagem comigo. Talvez me entregar ao
meu pai? Não, isso não podia acontecer, eu não queria voltar para a máfia,
porque com eles tinha um ditado, quem entra vivo dela só sai morto. Para
eles, eu sumi ou estou morta, quem sabe? Já que não vi ninguém vindo
procurar por mim, e torcia para que ninguém viesse descobrir onde eu estava
depois de tantos anos.

O homem ainda disse para o abusador de mulher sumir dali antes que
Jacov descobrisse o que ele pretendia fazer comigo, porque o velho tinha
planos para mim.

— Isso vai acabar logo — disse ele para mim. O cara era moreno e alto,
não parecia como os outros caras dali.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Quem é você? E o que esse homem quer comigo? — sondei ainda


encolhida e com medo do que Jacov fosse fazer comigo, agora que sabia
sobre eu ser uma Salvatore.

Ele suspirou, e pegou uma venda colocando-a nos meus olhos me


impossibilitando de ver alguma coisa.

— Na hora certa você saberá, mas agora fique quieta e tudo acabará em
poucas horas — disse e saiu da sala me deixando sozinha e trancada, nua.

Eu não sabia se podia confiar neste homem, mas ele sequer olhou para o
meu corpo nu como fez o fodido que disse para eu tirar as roupas do meu
corpo. Quem quer que ele fosse, eu agradeceria por ter me ajudado a não ser
estuprada por aquele animal.

A porta se abriu meia hora depois, e ouvi alguém falando em russo, com
um tom nada amigável. Maligno para ser exato. Essa voz era rouca e linda.
Uma que eu conhecia muito bem: Nikolai.

— Я нашел тебя кроликом (Eu achei você coelhinha). — Em seguida


falou no meu idioma: — Eu vou tirar você daqui. — Depois sussurrou
baixinho no meu ouvido: — Finja que não me conhece.

Eu trinquei os dentes com raiva. Além de ter me deixado, ele agora vinha
e me dizia para fingir que não existisse? Com muito prazer, pensei
amargamente.

Já que ele queria que eu fingisse, então vamos ver o que faria agora.
Ignorei a dor e a humilhação de estar ali, presa e nua na frente dele.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Você não ouse se aproximar de mim, seu tarado estuprador, pois eu


não vou deixá-lo me tomar à força e, se tentar, eu vou cortar seu pau pequeno
e o farei comê-lo inteiro, seu filho da puta! — berrei com raiva. Pelo menos,
a raiva não era mentira. Eu estava furiosa com ele por ter me deixado. Agora
aparecia para me salvar? Mas o medo sumiu após ele se aproximar de mim, e
fiquei feliz por ser ele a me salvar e não a Taby. Eu não a queria no meio
disso.

Ele grunhiu no meu ouvido. Mesmo vendada, eu sentia seu calor perto de
mim como labareda. Senti também suas mãos nas algemas no meu pulso.

Estremeci, mas não foi de medo dele, afinal de contas ele parecia estar me
salvando.

— Coelhinha, eu tomo conta de você — jurou ele baixinho.

Pela forma que ele falava, parecia ser real a sua proteção, mas também
podia estar falando isso só pelo fato de ter alguém olhando. Mas eu não fazia
ideia de quem era com ele. Ou talvez Nikolai estivesse sussurrando para os
bandidos não ouvirem.

— Lamento por você estar aqui. Eu preciso saber, algum deles a tocou?
— perguntou no meu ouvido, mas seu tom era mortal.

Pelo menos com sua presença ali, eu não sentia mais medo como antes.

— Não, pois um cara me salvou — murmurei.

— Hunter — afirmou.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu estava a ponto de perguntar quem era Hunter. Talvez fosse um aliado


de Nikolai, infiltrado, porque o homem parecia do bem.

— Samira? Sou eu aqui! Não liga para esse cara, ele não vai te fazer mal,
ok? Ele veio para nos tirar daqui — disse Taby perto de mim. Assim que ouvi
a voz dela, eu me senti aliviada, apesar de preocupada por ela estar ali.

— Oh, Taby, ainda bem que você está aqui. Eu sabia que viria para me
salvar — sussurrei com a voz fraca, mas firme.

— É claro que eu viria! Você e Angelina são como irmãs para mim — ela
declarou. Tabitta suspirou e depois falou para ele em um tom curioso: —
Qual é o seu nome? Você não me disse como se chama.

— Não disse e não vou dizer — respondeu ele e depois amaldiçoou


quando me pegou pela cintura. — Prende suas pernas na minha cintura.

Minha respiração engatou.

— Por quê? — Minha voz saiu fraca.

— As correntes estão esticadas demais, e eu preciso delas frouxas para


soltá-las. — Ele suspirou parecendo irritado com alguma coisa e colocou as
minhas pernas em volta do seu quadril.

Nikolai soltou uma das minhas mãos me fazendo sentir aliviada. Tentei
não corar com aquela posição, mas eu faria de tudo para sumir daquele lugar.
Inclusive não perguntar o motivo de ele não querer dizer seu nome para a
Taby.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu tirei minha venda e olhei para ele vestido todo de preto na minha
frente. Uma parte de mim ficou feliz por vê-lo ali diante de mim, mas a outra
estava com raiva pelo seu sumiço.

Notei que ele estava abrindo as algemas com um grampo de cabelo.

Taby gritou quando Nikolai jogou uma faca acima da sua cabeça
acertando a testa de um homem que caiu no chão com a faca cravada no
cérebro. O mesmo fodido que queria abusar de mim. O bom, é que ele não
iria mais tomar ninguém à força na vida dele. Com certeza já estava no
inferno.

— Avise quando for soltar facas por aí, ok? Você poderia ter acertado em
mim! — rosnou ela.

— Isso não aconteceria, pois eu sou bom em facas. — Ele revirou os


olhos e soltou as algemas me desprendendo das correntes.

Eu fiquei de pé. Ele tirou sua camiseta e a entregou para mim. Suas costas
eram cercadas por tatuagens de dragões e também algumas caveiras. Sinistro,
mas lindo em sua pele branca. Não reparei muito na noite anterior já que
estava bêbada demais por ele.

— Tatuagens legais — observou Taby para ele.

Ele não respondeu, apenas olhou para o corredor e amaldiçoou. Depois


fechou a porta trancando-a por dentro. Olhou para nós duas, e conversou em
russo com alguém por um relógio no seu pulso. Com certeza era alguma
engenhoca feita para escuta. Ele estava dizendo que ia explodir a lateral para
sairmos.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Você vai explodir o lugar para fazer uma entrada? — arquejou Taby.
Ela também sabia o idioma, mas eu nunca soube de ela ter aprendido, talvez
tivesse sido antes que eu a conhecesse há três anos. — Vamos morrer
afogadas, não é?

— Vejo que fala russo. — Ele a fitou, e vi carinho em relação a ela, mas
Taby disse que não o conhecia. Será que ele estava interessado nela? Meu
peito apertou, mas ignorei a sensação.

— Sim, eu vou, pois não temos escolhas. Têm mais homens dos Bravatas
entrando aqui, e com certeza querendo usá-la como escudo contra os tiras que
estão lá fora cercando o lugar.

Bravatas era o nome da máfia de Andrey Jacov, assim ouvi Tabitta


dizendo uma vez. Eles estavam tentando pegar esses homens, assim como o
fodido do pai dela.

Ele escondeu Taby e eu em um canto, e usou seu corpo como um escudo


para nos proteger da explosão. De repente, a parede explodiu e a água
começou a entrar na cabine. Eu comecei a ofegar, porque sabia que a água do
lugar ia me cercar. Esperava não entrar em pânico.

Taby olhou para os meus olhos assustados.

— Ela não sabe nadar — informou ela ao Nikolai, que praguejou.

— Fica comigo, ok? Depois que sairmos daqui, nós vamos nos encontrar
— falou com os olhos nos meus. Não respondi, apenas me segurei em sua
cintura musculosa. Mas minha vontade era dizer que isso não ia acontecer,
pois não queria vê-lo nem pintado de ouro.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

A água nos cobriu e me vi afundando nela, mas ele não me deixou


escapar de suas mãos nem me afogar, mesmo me debatendo em seus braços.
Tinha um submarino ao lado do navio e ele me levou para a porta, que se
abriu e a água entrou conosco dentro do corredor. Assim que a água saiu, eu
fiquei livre e me senti aliviada quando respirei normalmente de novo.

Tinha vários homens de preto, inclusive os MCs da Fênix. Nasx estava


ali. No casamento de Ryan e Angelina, ele falou que tinha que fazer algo,
mas não desconfiei que o mesmo estava junto no esquema de prender o
bandido do Jacov.

— Vocês estão bem? — perguntou Dominic de pé na minha frente junto


com Daemon e Michael. Nasx estava ao seu lado também. Eu supus que
esses homens de preto estivessem com Nikolai.

— Você está bem? — Nasx veio até mim. — Não a teria deixado se
soubesse o que ia acontecer. Certamente eu teria ido embora com você como
estava nos planos.

— Estou bem agora, Nasx. — O abracei, mas fui tirada dele e Nikolai o
imprensou na parede com uma faca em sua garganta.

Meu coração gelou temendo que Nikolai viesse a matá-lo. Eu não sabia o
motivo que o levou a se preocupar comigo abraçando o Nasx. Isso não era da
conta dele.

Armas e facas foram expostas de todos os lados, tanto dos MC quanto dos
homens que estavam com Nikolai.

— Fique longe dela! — rosnou ele mortal com o rosto duro como aço.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Você não tem o direito de dizer nada, afinal de contas você deu o pé
após conseguir o que quis...

Eu me levantei depressa e estava a ponto de impedi-los de brigarem


quando Taby desmaiou e Dom a pegou antes que caísse no chão. Eu me
esqueci da briga e fui para perto da minha amiga.

— Taby. — Toquei seu rosto. — Será que ela foi ferida?

— Não, Sebastian disse que ela está grávida. Certamente o estresse que
ela passou hoje foi demais. Por isso o desmaio — disse Nikolai saindo de
perto de Nasx. — Eu a coloco no sofá.

Pelo jeito, ele aceitou a verdade de Nasx, que o acusou de ter ficado
comigo somente para conseguir o que queria de mim e foi embora.

— Eu vou com você, pois não quero deixá-la sozinha — falei o seguindo.

Taby estava molhada, assim como todos nós, mas não me importei
comigo e sim com ela. Peguei um cobertor e a cobri para aquecê-la. Sua
respiração estava normal.

— Você vai ficar bem, minha amiga. Amanhã nós vamos nos divertir e rir
do que houve hoje. — Alisei seu rosto.

— Vista isso antes que eu mate alguém por olhar sua bunda. — Ele me
deu um calção de banho. — Você ia para a casa com Nasx? — A voz de
Nikolai era fria ao pronunciar o nome do meu amigo.

Eu só vesti o short, porque não queria ficar nua, só com sua camiseta.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Não vejo como isso é da sua conta — sibilei com os dentes trincados.

— Não entendo. Por que está brava? — Seu tom parecia confuso.

— Não sabe? É muita cara de pau sua dizer isso. Mas não estou a fim de
conversar, pois estou esgotada e só quero ir embora daqui — sussurrei.

— Amanhã eu te procuro para conversarmos. Promete que vai esperar por


mim?

Eu olhei para cima e me deparei com seu par de olhos verde-azulados.

— Chegamos — disse Nasx ao se aproximar de nós dois antes que eu


respondesse. — Ela ainda está apagada.

— Eu a levo — disse Dominic pegando Taby nos braços.

Eu senti que o submarino parou de se mover e saímos dele. Fomos para


um navio não muito grande. Estávamos perto do píer de novo. Aposto que
eles não vieram de submarino para não chamar a atenção.

Já tinha descido todos os MCs, só ficaram no barco, Nikolai e seus


homens.

Mas algo me dizia que Nikolai não me procuraria, afinal de contas ele
vivia cercado de mulheres. Por que procuraria por mim? Não acreditava
nisso. E, também se viesse, eu não queria nada dele, não depois do que ele
fez.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Taby abriu os olhos, e estava deitada no colo do Dominic ou Shadow


como algumas pessoas o chamavam. Ela olhou para o navio onde Nikolai
estava.

— Eu vou te ver depois, Nikolai, e vou descobrir tudo sobre você! —


gritou ela com a voz rouca.

Nikolai olhou para ela e sorriu, mas era um sorriso triste. Eu só não
entendi o motivo disso. Conhecendo minha amiga, ela ia saber quem ele era
com certeza. Esperava que não descobrisse sobre mim e ele.

— Gostaria que não fizesse isso! — gritou de volta e depois se dirigiu a


mim. — Eu voltarei para cumprir a promessa que fiz a você, Samira.

— Ele está dizendo que vai sair comigo em um encontro? — Meus olhos
estavam grandes demonstrando surpresa, só para ela não saber de nada.
Afinal de contas, eu não queria minha amiga, agora feliz, metida nisso. Eu
não sabia o que poderia acontecer entre mim e Nikolai, mas era certo que
aquele cara não tinha encontros e nunca teria.

— Acho que ele está pensando apenas no sexo. Caras como ele não
parece ter relacionamento — sussurrou adivinhando meus pensamentos,
embora verdadeiros. Homens como ele não procuravam mulheres, bastava
estalar os dedos e elas caíam aos seus pés. Igual a mim na noite anterior.

Taby olhava a todos os MC checando se estavam todos ali. Graças a Deus


estavam.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— O que aconteceu lá no navio com Jacov e Sebastian? — perguntou ela.


— Lembro-me de Nikolai dizendo que os dois morreram, mas como? Será
que um matou o outro? Seja como for, o mundo está melhor sem eles
poluindo o planeta.

Dom suspirou.

— Vamos dizer que nenhum dos dois vai respirar nesse mundo
novamente. Devem estar apodrecendo no inferno agora! — Seu tom era
maligno. — Agora vamos embora, pois Jason está louco sem saber de você.
E você precisa ver um médico. Por que não disse que estava grávida?

— Estou bem, e não estou passando mal. Foi só estresse mesmo. Agora
eu só quero estar com Jason — disse ela com um suspiro.

— Quer que eu vá junto com você, caso não esteja bem? — sondei.

Ela sacudiu a cabeça.

— Estou bem, não se preocupe. Mas se quiser pode ir para a minha casa.
— Ela me olhava de lado.

— Vou ficar na casa da Mary, assim dou um jeito de ir na sua casa


depois. — Não queria tirar a privacidade dela com seu marido, por isso era
melhor que eu ficasse em outro lugar. Ainda bem que tinha uma chave extra.

Ela foi para o carro com Dominic, que, por sua vez, ia levá-la para Jason.
E eu fui embora com Nasx.

— Onde a deixo? — perguntou Nasx enquanto subia em sua moto.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Olha o que achamos aqui — disse uma voz divertida.

Eu ergui os olhos me deparando com dois motoqueiros parando suas


motos e sorrindo para mim com expectativas. Acho que eles estavam saindo
do casarão ou entrando, eu não sabia dizer.

Acordei cedo e vim à procura de Nasx. Ele quis me fazer companhia na


noite anterior, mas recusei alegando que só queria ficar sozinha depois de
tudo o que houve. Não queria voltar para casa e correr o risco de Nikolai ir
me procurar.

— Onde está indo, princesa? — perguntou um cara na minha frente.

Esse cara tinha barba por fazer, braços despidos cobertos de tatuagem,
algumas tribal e outras que desconhecia. Ele era forte e com um sorriso sexy.
Cabelos desengrenados.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Linda, não é? — falou o loiro com brinco na orelha direita. Esse era
menos forte, embora lindo também. — Onde mora? Podemos levar você até
sua casa.

Eu estreitei meus olhos.

— Acha que sou idiota? Nem os conheço. Vocês podem ser estupradores,
assassinos ou podem me vender como escrava sexual para algum fodido.
Minha amiga é policial, e ela está cansada de prender homens assim.

Os dois riram.

— Eu sou Axl — falou o moreno e gesticulou para o loiro. — Esse é


Canon. Somos do MC da Fênix, ele é de Nova York e eu sou de Chicago. E
você?

Pisquei.

— Conhece Nasx e Dominic?

— Sim. — Axl franziu a testa. — Conhece eles? Não me lembro de você


como sendo uma das prostitutas do clube, aliás, você nem parece ser uma.

— Nem todos pensam assim — falei amarga e depois suspirei. — Sou


amiga de Nasx. Ele me deu esse endereço, mas não parece uma casa.

O lugar parecia um casarão grande de dois andares, paredes desbotadas


com tempo ou chuva.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Bom, é porque não é uma casa. Você é uma mulher de sorte, pois
acabou de chegar à sede do MC. Levamos você até ele, e prometo que não
sou nenhum estuprador, aliás, abomino esse tipo de coisa. Qual seu nome? —
perguntou Canon.

Eu só entrei, porque suas jaquetas eram parecidas com a do Nasx.

— Samira.

Eu aceitei entrar na sede do clube, e esperava mesmo que Nasx estivesse


ali, porque precisava falar com ele e também espairecer um pouco.

Mas no íntimo, eu tinha medo de cair na tentação e ir embora só para ver


se Nikolai foi mesmo atrás de mim, como falou que ia.

Não queria ir para a Taby despejar meus problemas, pois não queria
preocupá-la. Ainda mais depois de ontem à noite. Ela precisava de
tranquilidade e não de sua amiga reclamando por ter ido para a cama com o
cara que nos salvou.

Eu vi vários carros e motos na frente do casarão. Não tinha visto antes,


devido ao portão.

— Aqui é a sede do clube MC, de Nova York. — Axl apontou para o


casarão.

Eu ajeitei meu vestido e entrei no clube. Dentro, tinha uma sala enorme
com mesa de sinuca, sofás e mesas. Tinha até um bar com várias bebidas na
parede. Estava tudo vazio, embora tivesse gente conversando do lado direito
do clube.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Pessoal? Temos carne fresca — falou Axl na minha frente com um


assovio.

Eu travei no lugar, com medo. Talvez eu tenha agido errado em ir ali,


talvez ele não conhecesse Nasx coisa nenhuma. E se esses caras fossem
assassinos? Oh, Deus! Estou ferrada! Peguei um taco na mesa perto de mim.
Talvez suas jaquetas fossem imitações.

— Carne fresca um cacete! Se encostarem em mim, eu vou acabar com


você, idiota! — gritei com raiva e com o taco nas mãos fitando Axl, que me
oferecia com sorriso comedor de merda, embora minha voz tremesse. —
Cortarei seu pau e o farei comê-lo.

Três mulheres saíram de uma porta, duas morenas e também uma


baixinha. As três me fitavam com curiosidade. Nenhuma parecia malvada.

— Axl? O que está havendo aqui? — perguntou uma baixinha de olhos


verdes indo até ele. — Quem é essa garota?

— Nasx tem boceta nova para você! — gritou o babaca do Axl. — Se não
quiser, eu estou caindo dentro dessa raposa.

Eu dei um passo até ele com o taco nas mãos, a baixinha entrou na frente
como se fosse para protegê-lo, mas um homem alto, barbudo correu e veio
tirá-la do caminho. Acho que ele estava pensando que eu fosse bater nela.
Mas minha raiva estava em outro lugar. Eu já estava grilada. Era bom soltar
minha raiva.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Acha que eu transaria com você? Um cara que chama uma mulher de
boceta? Você só pode estar louco! Eu prefiro rodar bolsinha em uma esquina
a transar com alguém feito você, seu estúpido! — Cheguei perto dele e o
fulminei com os olhos. — Não falta pouco para quebrar esse taco em sua
cabeça e tirar esse sorrisinho de comedor de merda do seu rosto.

Eu notei que tinha vários homens no salão, e todos estavam rindo. O que
mais ria era o barbudo que estava abraçado a baixinha.

— Porra! Eu já gosto de você — disse o barbudo para mim. Lembrei dele


no navio, estava com Dominic, acho que se chamava Michael.

A baixinha deu uma cotovelada em seu braço, como se o repreendesse.

— Michael — falou ela olhando para o estúpido. — Axl? Por que trata as
mulheres assim? Somos pessoas com sentimentos.

— Mulheres foram feitas só para foder e pronto — falou sem se importar


com nada, porque o sorriso ainda estava ali.

Todos reviraram os olhos, acho que deviam estar acostumados com o


cara.

— Talvez devesse cortar o que tem no meio das pernas e virar mulher
também para ser fodido! — rosnei. Eu sabia que estava com raiva e que não
podia descontar nele, mesmo sendo um estúpido.

O estranho era que ele não estava agindo assim na entrada do clube. Acho
que ele devia ter pensado que eu não viria se soubesse como ele era um
idiota.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

Michael estava debruçado de tanto rir, acho que ele tinha um rancor por
Axl.

— Talvez eu devesse dobrá-la sobre meu joelho, e ensinar...

Eu cortei.

— Ou talvez eu devesse enfiar esse taco em sua bunda. — Fiquei a um


palmo dele.

Ele sorriu e se lançou sobre mim com rapidez me rodopiando e me


abraçando por trás.

— E agora como conseguirá escapar, hein, raposa? — Sua voz estava na


minha nuca.

Então comecei a gritar pelo nome do Nasx. Os outros pareceram


surpresos, pois não esperavam que eu reagisse assim. Mas eu estava com
medo dele, a raiva se transformou em medo. Acho que isso foi devido ao que
passei na noite passada. Não sei, acho que foi instinto ou o medo que me fez
gritar, mas dentro de mim eu sabia que nenhum deles era malvado.

— Mas que porra está acontecendo aqui? — rosnou Nasx descendo a


escada correndo. — Estamos sendo atacados?

Eu aproveitei a distração de Axl e pisei em seu pé com meu salto, e


sacudi minha cabeça para trás acertando seu nariz correndo para o Nasx em
seguida. Permaneci atrás dele.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Samira? — Ele me fitou e depois Axl com os olhos estreitos. — O que


fez com ela?

— Nada do que você vai acabar fazendo. — Sorriu Axl coçando a testa,
acho que minha cabeça acertou ali e não em seu nariz como queria. Que
pena!

— Que porra, Nasx! Cadê suas malditas roupas? — grunhiu Michael


jogando um pano do sofá para ele. — Enrole isso a sua volta antes que eu
corte seu pau e o faça comê-lo. Bella pode acordar a qualquer momento.

Eu olhei para Nasx que estava nu, e o homem era bem-dotado. Possuía
uma tatuagem da fênix atrás nas costas musculosas e no meio estava escrito
MC Fênix. Na frente tinha uma âncora e tribal, e algumas outras enfeitando
sua pele branca.

— Desculpe, mas eu ouvi essa gritaria e... — Ele se cobriu e olhou para
mim. — Samira, o que houve?

— Eu só queria conversar.

— Tudo bem. — Ele me levou para o segundo andar.

— Aquele filho da puta do Nikolai não te procurou? — Sua voz saiu


mortal, mas baixa para os outros não ouvirem.

Eu suspirei tentando controlar minha raiva do momento em menção


àquele nome.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Não me fale daquele cretino desgraçado, pois eu não quero ouvir ou


saber que aquele traste está vivo poluindo o planeta! — rugi. — Devia ser
considerado crime homens como ele saindo por aí, deviam colocar todos em
celas...

— Samira...

— Não quer que eu participe também? — gritou Axl a meia voz.

— Pare de dizer besteira, Axl! Nasx pode estar apaixonado por ela e você
fica dizendo isso — repreendeu a baixinha.

— Isy pode estar certa, pois ele parecia mesmo preocupado com ela —
disse outra mulher.

Eles continuaram conversando, mas Nasx só revirou os olhos e continuou


me levando a um quarto pequeno com uma mulher que estava saindo do
banho. Morena, alta e muito linda.

— Trouxe mais uma para brincar conosco? Adoro um ménage — falou a


mulher chegando até mim, e ela fez algo que me deixou chocada e paralisada
no lugar. Ela me beijou! É claro que eu não retribuí, só fiquei lá de olhos
arregalados.

— Tânia, querida, ela não é dessas. Agora, será que posso conversar com
a Samira a sós? — Nasx tirou a mulher de cima de mim.

— Não? Que pena! — disse ela me fitando. — Se mudar de ideia sabe


onde me encontrar.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu suspirei.

— Não vou, mas obrigada — falei sorrindo. — Meu negócio é homem, e


de preferência que seja só meu. Não gosto de dividir nada.

Ela assentiu e saiu me deixando sozinha com Nasx no quarto.

— Espere um segundo enquanto tomo um banho? Aí conversamos —


falou ele indo para o banheiro assim que assenti.

Seu telefone tocou na mesinha, e eu reconheci, porque já o vi usando


antes.

— Nasx? O seu telefone está tocando! — gritei por cima do chuveiro


ligado.

— Atende para mim, por favor? — pediu ele do banheiro.

— Alô? — atendi, e acredito que me arrependi, porque não esperava


ouvir aquela voz tão cedo, aliás, esperava não ouvi-la nunca mais.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Samira? Mas que porra está fazendo atendendo ao telefone do Nasx?


— sibilou Nikolai. — Liguei para o seu celular e você não respondeu, então
pensei que estivesse com ele, mas atender a sua ligação?

Eu suspirei e deixei a raiva me dominar. Era melhor do que sair


humilhada e ele vitorioso. Isso não ia acontecer, mas não mesmo.

— Acho que você entende o que está acontecendo, não é? Afinal de


contas, você é um homem vivido, e você está nos atrapalhando...

Ele rugiu.

— Nasx está morto! Eu vou acabar com ele. — Seu tom era mortal.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Você não tem o direito de ameaçá-lo. Ele foi mais homem do que
você, que, por sua vez, desapareceu me deixando sozinha naquele hotel.
Ainda teve a coragem de deixar joias. — Eu ri amarga. — Como se eu fosse
uma prostituta barata que aceita presentes por uma maldita foda de uma noite.

— Samira, eu...

Cortei-o não querendo ouvir mais nada do que ele pudesse dizer.

— Não, escute você! Nós transamos e você foi embora sem dizer uma
maldita palavra, agora segue com sua vida e finja que nunca aconteceu nada
entre nós, porque vou fazer o mesmo, aquilo foi só uma foda de uma noite —
falei com aço na voz. — Agora adeus, e espero nunca mais vê-lo na minha
vida.

— Sam... — Eu desliguei interrompendo-o no meio da frase.

O telefone tocou de novo, mas ignorei, porque sabia que era ele.

— Quem era, Samira? — Nasx saiu enrolado na toalha.

— Ninguém...

— O “ninguém” continua tocando. Por acaso é ele? — Seus olhos se


estreitaram no telefone.

— Sim, mas não vou falar com ele e nem você. — Tirei a bateria do
celular. Assim aquele idiota não ligaria mais para dizer besteira.

Ele suspirou.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Vou tirar a toalha. Se não quer ver pode fechar os olhos — falou
tirando a toalha. Ele vestiu uma calça jeans e camiseta, e sentou ao meu lado
no sofá.

— O que houve? Ficamos de conversar sobre o que aconteceu.

— Acredita que acordei cedo quando fiquei com ele e o mesmo havia
desaparecido? Até aí tudo bem, pois significaria que ele não tinha gostado de
ficar comigo.

— Isso não está tudo bem! Ele devia ter sido homem e esperado você
acordar, ou talvez tenha acontecido algo para Dark ir embora sem dizer nada.
Porque ontem foi um dia cheio, sobre Jacov e tudo mais.

Eu sacudi a cabeça.

— Ele deixou um bilhete e uma joia agradecendo pela noite, e também


me deu a pílula do dia seguinte para eu tomar, já que ele não usou camisinha.
— Meu tom saiu amargo como fel. — Mas não é o fato de mencionar sobre a
pílula que me chateia, e sim que isso é uma decisão de nós dois, não dele.
Porque não quero ter filhos agora, ainda mais com alguém que nem conheço
direito.

Nasx xingou.

— Eu vou matar aquele fodido de merda! — Ele se levantou e colocou de


volta a bateria no seu celular. Certamente iria retornar a ligação para xingar
Nikolai, mas eu não queria isso. Não queria saber nada dele agora e nem
nunca.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Por favor, Nasx, não mexa com ele. Eu não quero saber nada dele, só
quero esquecer que um dia o conheci. — Eu me levantei também e peguei
sua mão.

— Tudo bem, mas por você. Eu ia levá-la para sair, mas hoje vai ser a
festa de aniversário da filha de Michael e Isy, então vamos comemorar e
esquecer tudo isso. — Ele tocou meu rosto.

Eu suspirei.

— Tudo bem — sussurrei.

— Que bom, agora vamos nos divertir de verdade.

— Obrigada — agradeci.

Eu gostei de passar o dia com eles. A animação deles era contagiante,


tanto que esqueci meu problema com Nikolai. Eu só esperava não vê-lo
nunca mais. Eu acho que isso aconteceria, pois o mesmo morava na Rússia e
jamais viria aqui, muito menos para brigar pelo fato de eu estar com Nasx.

— Então, você e Nasx estão transando? — perguntou uma ruiva assim


que eu me sentei à mesa junto com várias mulheres.

Evy era a mulher de Dominic. Eu tinha visto os dois no casamento de


Angelina. A menina não tinha papas na língua, falava o que pensava e não
ligava para a opinião de ninguém. Ela me lembrava Mary.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu engasguei com a bebida.

— Evy! — Todos falaram juntos.

— O que foi, gente? Só quero saber o que aconteceu, se estão


namorando...

— Não estamos namorando e nem transando. — Suspirei. — Fiquei com


um cara que eu achava que gostava, mas ele não passa de um idiota, tanto que
ontem de manhã, ele sumiu me dando uma joia que vale mais do que eu
possa imaginar! — rosnei pegando um pãozinho e amassando-o. — Fora a
parte de me dar uma pílula do dia seguinte. Dá para ficar pior do que isso?
Quem ele acha que eu sou? Uma prostituta?

— Eu sou prostituta e adoraria ter uma joia tão valiosa assim. — Sorriu
uma mulher. — Mas falando sério, ele foi um tremendo canalha ao dar a
alguém que não é. Talvez, ele pensasse que você fosse gostar e não quisesse
insultá-la. Já pensou nisso?

Eu suspirei.

— De qualquer forma, ele deveria ter me dado pessoalmente e se


despedido. Sei lá, ter dito alguma coisa.

— Não o perdoe! Caras como ele você tem que esquartejar membro por
membro e fazer comer o próprio pau — falou Evy e piscou para mim. — Te
ajudo com essa parte.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Eu também. Como ele ousa dar uma pílula para você tomar? Ele é um
tremendo de um canalha — disse Isy. — Essa decisão deveria vir de vocês
dois e não só dele. Podemos acabar com esse salafrário.

— Isso não está acontecendo — falou Michael entrando na cozinha, mas


olhava entre Isy e Evy. — Vocês duas não vão se meter nisso, seja lá o que
conversava ou sobre quem quer que seja.

— Você não manda em mim! — retrucou Evy. — Sua mulher é a Isy.

— E você é minha irmã, portanto não vai entrar no meio do


relacionamento dos outros. Se ele for algum abusador de mulher ou algo
assim, Nasx e eu lidamos com ele.

— Kill tem razão, ainda mais depois de saber quem é o cara — falou
Nasx sentando do meu lado. Os outros homens fizeram o mesmo, cada um
em seu lugar.

— Não se preocupe, pois não vou ver Nikolai nunca mais, afinal de
contas ele mora na Rússia... e acabei de falar com ele pelo telefone de Nasx
mandando-o para o inferno. — Tentei soar tranquila, mas estava nervosa com
o que Michael tinha acabado de falar sobre o Nikolai. “Ele não pegava
mulher à força, elas quem imploravam para ele tocá-las”, pensei
amargamente.

— Nikolai? — indagou Shadow para Nasx. — O Dark?

— O próprio — afirmou Nasx bebendo leite.

— E você está pegando a garota dele? — indagou ele em um tom duro.


PERIGOSAS
PERIGOSAS

Nasx estreitou os olhos.

— Não estou pegando nada. Falei com Nikolai ontem, que se ele
machucasse a Samira, eu iria acertar as contas com ele. E vou fazer assim que
eu o vir! — rosnou não parecendo estar com medo.

Shadow riu amargo.

— Como vai acertar as contas com o chefe da máfia russa? Fora a parte
que o homem é uma fera nas lutas, melhor até que Jason e você perdeu para
ele.

— Ele se importa com ela? — sondou o moreno, marido de Andy, acho


que Curt. Pelo menos foi assim que a vi chamar. Ele era o chefe dali.

— Você disse que falou com Dark pelo telefone de Nasx, como ele reagiu
sendo que foi você que atendeu? — sondou Dom.

— Perguntou o motivo de eu estar atendendo ao telefone dele. Eu disse


que estava com Nasx agora e que era para ele ir para o inferno.

— Então, ele reagiu bem? — sondou Axl com os olhos estreitos.

— Bom, acho que ele disse que Nasx estava morto, mas Nikolai com
certeza disse isso só para não sair por baixo. — Eu vi preocupação nos olhos
dos homens. — Gente, por mais poder e mortal que ele seja, Nikolai não se
importa com isso. E também acredito que ele não mate a sangue frio um
inocente.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Quando Dark diz que algo é dele, ninguém toca ou estará morto —
disse Curt e olhou para Nasx. — Sugiro que você não invista nela ou
estaremos fritos. Nos livramos de uma guerra tem pouco tempo com ele por
causa do Capo Salvatore, ou talvez ainda aconteça. Então não queremos
entrar em outra.

— Gente, isso é exagero. Nikolai jamais deixaria seus afazeres do crime


para vir saber onde estou e o que estou fazendo. — Suspirei. — E também
não vai ter guerra alguma.

Nenhum deles parecia acreditar verdadeiramente nisso, mas eu não


confiava que Nikolai iria abrir guerra contra eles por mim. Mas uma coisa
que ele disse me deixou preocupada.

— Por que esse Capo iria ter uma guerra contra Nikolai? São guerras de
mafiosos? E por que vocês estariam envolvidos?

— Isso não seria da sua conta — falou Axl com uma piscadela.

— Eu não sei como vocês suportam esse cara. — Fulminei-o com os


olhos. — Eu também não perguntei a você, ameba.

Michael riu, assim como alguns ali da mesa, ignorando a careta de Axl.

— Eu suporto, porque sou obrigado. Eu não posso matar o irmão da


minha mulher — disse Michael.

— Meus pêsames, querida — falei a Isy, do lado de Michael.

Ela sorriu.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Axl é um amor, mas, às vezes, ele extrapola um pouco.

— Eu não concordo, mas tudo bem. E se não puder me dizer, está ok! Eu
só fiquei curiosa sobre essa guerra que mencionou. — Não precisava dizer
que eu estava louca para saber se Matteo corria perigo. E o que houve com
meu pai? E minha mãe? Zaira? Ela era a mulher que tomava conta de mim,
eu a amava. Até hoje sentia falta de todos eles, mas se eu aparecesse lá,
certamente seria presa eternamente, porque jamais conseguiria sair de novo.

Dominic suspirou.

— A irmã de Nikolai, Irina, foi sequestrada por uma prostituta do nosso


clube junto com um homem da máfia chamado Enzo. Então, se Nikolai
souber, ele não perdoaria ninguém...

— Mas vocês não tinham nada a ver com isso. Tinham? E essa irmã dele?
Ela está bem? — sondei.

— Ela está bem. Somos amigas. E não tivemos nada a ver com isso. Essa
Lisa era uma cadela sem escrúpulos. Ela me odiava, porque queria o Dom...

— Na verdade, Evy, ela queria todos os homens, até mesmo o Michael!


— rosnou Isy. — Acabei com ela há alguns meses. Por culpa dela, eu fiquei
longe de Michael por longos anos.

— Eu não entendo. Se vocês não têm nada a ver com isso, por que
Nikolai iria causar uma guerra por isso? A menina está bem. Então não
precisaria atacar ninguém, não é? Ele é tão monstro assim?

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Querida, teve uma coisa que os Salvatore fizeram que eu não posso
contar, mas isso os levaria à morte, e Nikolai que seria o mandante — Nasx
disse. — E não é porque ele é malvado ou um monstro, mas por vingança.

Eu franzi o cenho. O que meu pai fez contra Nikolai para o mesmo ter o
poder de levar todos à morte? Eu só conseguia imaginar que foi ele ou o
velho fodido do irmão dele, aquele homem era um sádico. Matteo, eu sei que
jamais faria algo que levasse os Salvatore para uma guerra, ele e Luca, meu
primo, amavam essa origem e jamais fariam nada para prejudicá-los.

Eu deixei quieto, talvez se eu perguntasse demais correria o risco de eles


desconfiarem da minha ligação com os Salvatore. Isso não poderia acontecer
jamais.

Depois comecei a ajudar as meninas com os preparativos do aniversário


da filha de Isy. A mulher estava grávida, com um barrigão. A menina, Bella,
era uma coisinha linda e engraçada, tão pequena e sábia, ela parecia com os
dois. Michael e Isy, cabelos anelados e volumosos, mas com olhos verdes.
Não havia um segundo que não falasse do seu papai. Ela me lembrava muito
a Emy, filha de Tabitta, eu era sua babá quando Taby viajava. A menina era
viciada em Jason Falcon, mal sabia ela que ele era o seu próprio pai, Emily só
descobriu agora. Nunca a vi tão feliz em toda minha vida.

Os homens estavam enchendo o balão para pregar no salão e enfeitar o


lugar.

— A maioria dos homens aqui são grosseiros. Você devia ter conhecido
Dom. Grosso, safado, mulherengo e idiota, mas consegui domar a fera —
disse Evy. — Além disso, ele é maravilhoso na cama.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Todas riram e começaram a falar de seus homens. Eu queria falar sobre


um homem assim, queria sentir o que elas sentiam, amar e ser amada por
alguém. Gostaria que um homem fizesse tudo por mim, tipo aqueles amores
que eu via nos filmes, e também como foi o amor de Isy e Michael, que
prevaleceu a tudo. Separação, dor, mas o amor venceu no final, agora eles
estavam juntos.

Por volta das três horas já estávamos todos no salão festejando o


aniversário de Bella. Ela estava linda! Com um vestido rodado com bordados
de coração e cabelos todo com cachinhos.

O salão estava todo colorido com balões suspensos no teto e com


guirlandas por todos os lados. As mesas estavam forradas com toalha branca
e com uma vasilha de flor sobre elas. A mesa de sinuca já tinha sido retirada,
e algumas crianças estavam correndo brincando para todos os lados.

Alguns minutos depois, Bryan, irmão da Samantha Donovan, entrou


acompanhado de sua mulher. Alexia estava com um vestido prata colado em
seu corpo. Linda. A mulher loira realmente chamava atenção por onde
passava em toda sua glória majestosa. Sua filha era a cara dela.

Alexia e Bryan formavam um casal excelente.

Já estávamos quase indo cortar o bolo e cantar os parabéns quando ouvi:

— Não acredito que ele está aqui — falou uma morena. Acho que Júlia.
— Nunca o vi pessoalmente, mas todos dizem que ele é bastante poderoso.
Mas não disseram sobre ele ser gostoso e lindo.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu segui seu olhar e quase ofeguei ao me deparar com alguém que não
imaginava que estaria ali.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Eu não acredito que esse idiota está aqui! — rosnei trincando os


dentes.

Eu vi que todos os MCs ficaram sérios com a entrada de Nikolai, junto


com quatro homens vestidos de preto. Como MIB: homens de preto. Tão
sérios quanto.

Shadow me lançou um olhar de aviso, como se fosse para eu resolver isso


e não estragar a festa de Bella ou assustar as crianças puxando armas.

Eu notei Nasx querendo vir até mim, mas Shadow segurava seu braço
como se fosse para mantê-lo no lugar. Eu agradeci, mas fiquei com mais
raiva de Nikolai, por ele estar ali.

— Mamãe? Esses caras são maus? — perguntou Bella perto de Isy.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Suspirei e fui até ele ficando de frente para Nikolai e seus homens.
Perguntei em russo o que ele fazia ali, o mesmo respondeu fuzilando Nasx:

— Eu vim matá-lo.

— Não vamos discutir agora, pois estamos em uma festa de aniversário


de uma criança, que nesse momento está com medo. Sugiro que você dê
meia-volta e retorne para a Rússia, ou então se comporte para não assustar
nenhuma das crianças aqui.

Ele falou em russo com seus homens para que esperassem lá fora. Todos
saíram sem dizer nada, o que deixou os MCs um pouco mais calmos.

— Você também devia ir, pois ninguém o quer aqui. — Dei as costas
para ele.

— Eu não dou a mínima se eles querem ou não. Eu não saio daqui sem
você — disse ao meu lado.

Suspirei e fiquei de frente para ele.

— Qual é o seu problema? Você me conheceu não tem nem 24h, então
não deve ser interesse, com certeza tem algo a mais, o que é? Me diz o que
quer, que eu te dou e você vai embora.

— Dificilmente, já que o que eu quero é você — respondeu


automaticamente.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Bom, vamos ter um problema, porque eu não quero você e nada que
pertença a você! — rosnei vendo que ele estava com a caixinha azul, parecia
ser a mesma que deixei com o cara do hotel. — Muito menos isso! Leve e dê
para suas amantes.

— Vai ser difícil já que não tenho nenhuma no momento. E, além do


mais, eu não costumo dar presentes para as mulheres que fo...

— Cuidado! Têm crianças no recinto — avisei. — Então vigie o seu


linguajar.

— Os caras daqui falam mais palavrões do que eu, então essas crianças já
devem estar acostumadas. — Ele me olhou de lado.

Deixei passar, porque ele provavelmente tinha razão quanto a isso. Os


outros estavam conversando entre si, mas sabia que estavam nos observando.

— Então, por que me deu aquela joia? Aquilo que tivemos foi um erro
grande que não vai mais se repetir, então não precisava ter vindo aqui e dizer
que me quer — murmurei. — Mas devo dizer que perdeu seu tempo.

— Só acaba quando eu digo que acabou. — Seu tom era seguro ao dizer
isso. — Você é minha, Samira, e ninguém vai tocá-la ou eu juro que o mando
para o mundo de Hades1.

— Você acha que tem todo esse poder, não é? Acha que pode dizer isso
só por ser um mafioso?

— Sim, eu posso e vou fazer caso tenha ficado com Nasx. Ficou? — Pelo
seu tom, não era brincadeira.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

Meu coração gelou por dentro. Se eu dissesse que tinha ficado com ele só
para tirá-lo do meu pé, ele poderia matar Nasx, e eu não podia deixar isso
acontecer.

— Não, nós não ficamos juntos! — rosnei. — Mas também não quero
você.

— Eu te dei esse diamante, e você não aceitou. Por quê? — ele ignorou o
que eu disse e fez outra pergunta:

— Veja o que está escrito aqui? — Apontei para meu rosto. — Por acaso
está escrito, idiota?

Ele fez uma careta.

— Não, mas você é linda.

Eu fechei a cara também.

— Acha que eu aceitaria um presente seu como pagamento por ter sido
fodida? — sussurrei esta última palavra. — Eu posso ter decidido transar com
você sendo que mal o conhecia, mas isso não lhe dá o direito de achar que
sou uma prostituta e tentar me pagar com joias.

Ele franziu a testa.

— Foi isso que achou quando te presenteei com ela? — Seu tom pareceu
confuso ao levantar a caixinha azul em sua mão.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Não era isso que qualquer mulher entenderia? — desdenhei. — Acho


que você deveria ter escrito: “Aceite essa joia, sua prostituta, pela noite de
ontem”.

— Eu jamais diria isso. — Ele pegou meu braço e me levou para um


pouco longe de todos.

Notei que Nasx parecia querer vir até nós, mas Shadow segurava seu
braço e falou algo a ele, como se estivesse o alertando. Achei bom, pois não
queria que meu amigo saísse ferido ou que algo acontecesse a ele.

— Me solta. — Eu me esquivei de seu toque. — Eu só peço que vá


embora, Nikolai, e esqueça tudo o que tivemos na noite passada.

— Eu não vou esquecer, droga! Eu não a chamei de prostituta. Só queria


presenteá-la com algo importante pela noite que tivemos, mas, ao invés de
aceitar, você deu ela ao Peter como se não fosse nada. — Agora ele parecia
com raiva.

— Para mim essa joia não é nada, pois se você quisesse mesmo agradecer
pela noite teria estado lá ao menos para dizer que não gostou do que tivemos
e que era para cada um seguir com sua vida. Um homem de verdade faria
isso, mas você...

— Cuidado! — avisou.

Eu não ia discutir com ele, mas esse cara me deixava irada, acho que isso
era pouco.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— O quê? Vai me matar? Era só o que me faltava. — Fui me afastando,


mas o infeliz não permitiu e me puxou para perto dele. Tão próximo que pude
sentir o cheiro maravilhoso que só ele tinha.

— Eu jamais machucaria você. Eu só peço que vigie nas palavras


direcionadas a mim na frente das pessoas, pois no meu mundo o poder é tudo,
e quando isso se perde não somos nada.

— No meu mundo a sinceridade é tudo. Pelo menos para mim! — rebati.

— Eu precisei agir na operação contra Andrey Jacov, por isso saí sem
acordá-la. — Ele franziu a testa. — Você é sincera a todo o momento na sua
vida?

Evitei suspirar, porque ele tinha razão quanto a isso. Eu não era sincera
com ninguém há doze anos, assim como Lucy não foi comigo ao me
encontrar naquela praça. Na época, eu achei que ela havia me encontrado por
acaso, mas Giulia a ameaçou, que se ela não cuidasse bem de mim ou
chamasse a polícia, tanto ela quanto sua filha Luciana, morreriam. Lucy me
revelou antes de morrer. Obviamente que fiquei magoada com ela e furiosa
com Giulia por ter chegado a esse ponto, mas no fim me senti agraciada por
ter tido alguém como a Lucy na minha vida, que me amou.

— Eu nunca vou me arrepender de ter conhecido você, Samira, seja qual


for o motivo por sua mãe verdadeira ter me ameaçado para cuidar de você,
eu agradeço, porque ela me deu uma filha maravilhosa. — Essas foram suas
palavras antes de morrer. — Não me importei de mudar de Moscou para uma
cidade onde não conhecia ninguém. Eu só queria protegê-la e amá-la.

Eu expirei focando no presente. Olhando para ele na minha frente, talvez


PERIGOSAS
PERIGOSAS

ele estivesse dizendo a verdade, mas mesmo assim eu não podia ficar com
Nikolai. E se ele descobrisse sobre mim? O que eu faria? Meu segredo não
podia chegar aos ouvidos de ninguém. Muito menos a um chefe da máfia.
Talvez Nick acabasse me usando como barganha de algo contra Lorenzo. E
talvez no futuro ele descobrisse o que os Salvatore fizeram, o segredo que
Nasx não quis me contar, e me usasse para isso, mesmo eu não tendo nada a
ver.

— Como soube do sequestro? Estava lá para me salvar, ou minha amiga


Tabitta? Vi a forma que olhou para ela, saiba que ela jamais vai deixar o
marido dela por você. Taby o ama.

— Acha que estou interessado pela sua amiga? Só fui protegê-la, porque
ela é importante para alguém que conheço — falou. — E eu não sabia de
você, só quando a vi presa. Achei que você estava na sua cidade, não a
acordei justamente para não aparecer em Manhattan ontem, mas não adiantou
e você foi sequestrada mesmo eu achando que você estava segura. Um erro
que não irá se repetir.

Meu coração estava balançado por isso, por ouvir a verdade da boca dele.
Evitei sua pergunta de não guardar segredos.

— Recebi a ligação de Peter dizendo que você rejeitou meu presente e


também não aceitou o carro que deixei ao seu dispor. — Ele realmente
parecia grilado com esse fato. — Eu precisava ver você, mas ontem foi uma
correria, assim que acabasse tudo eu ia procurá-la e explicaria o mal-
entendido por ter saído sem dizer nada.

Eu arregalei os olhos.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Você ia? — Tinha esperança na minha voz.

— Sim. Fui lá hoje, mas soube que estava aqui. Então vim buscar você.

— Isso não significa que vou com você. — Não gostava de receber
ordens.

— Por que está relutante? Eu te falei: quando eu decido que algo é meu,
ele é. — Nikolai meneou a cabeça de lado. — A partir do momento em que
você foi me procurar na boate e ficamos juntos, eu decidi que seria minha e
vai continuar assim. Avisei para ir embora enquanto podia, mas você não
quis, agora é tarde demais para mudar de ideia.

— Isso é meio exagerado, não é? Eu nem te conheço direito, não sei o


que faz da vida, além de ser dono de boate e chefe da máfia.

Ele suspirou.

— Você tem algo contra a máfia? Contra eu ser um mafioso? É por isso
que está tão hesitante em ficar comigo? — Seu tom saiu magoado no final,
mas tinha uma nuance ali que não entendi.

Notei que aparecia essa expressão indecifrável sempre que ele dizia a
palavra máfia. Eu não entendia o que era. O meu segredo certamente ele não
sabia ou já estaria me ameaçando, não é? Ou ameaçando Lorenzo como ia
fazer Jacov no navio.

— Eu falei os meus motivos para não ficar com você, mas não vamos
falar sobre isso agora, eu vou aproveitar a festa de Bella e me divertir.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Não terminamos ainda — alertou ele. — Assim que acabar a festa, nós
vamos ao meu hotel para conversarmos.

— De jeito nenhum que eu vou voltar a um hotel com você, da última vez
fui deixada sozinha com uma joia e um pacote de pílula do dia seguinte.
Como pôde deixar aquilo? Eu não quero ter filhos agora, mas aí você faz
isso? Deveríamos ter conversado sobre o assunto e tomado a decisão juntos, e
não só você...

— Espere, que pílula? Eu não deixei nenhum comprimido para que


tomasse...

Eu franzi a testa.

— Deixou sim! Junto com a joia e o bilhete que mandou o senhor me


entregar.

Ele suspirou e agora pareceu frustrado com alguma coisa, mas era eu
quem deveria estar assim e não ele.

— Não entreguei bilhete algum, eu só dei a joia ao Peter, e não achei que
precisava dizer algo após recebê-la. Pelo menos foi isso que papai sempre
dizia: a mulher é como uma joia, você tem que dar uma a ela todos os dias
para mostrar que ela é importante — ele disse. — E quanto a essa pílula do
dia seguinte? Eu não mencionaria isso, ainda mais através de um pedaço de
papel. Eu posso ser um monstro pelas coisas que faço, mas jamais mandaria
fazer isso sem consultá-la antes.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Então, quem escreveu esse bilhete? — Entreguei o pedaço de papel a


ele. Guardei na minha bolsa só para ficar lembrando que não deveria confiar
mais nos homens. — Está assinado por você.

Ele olhou o bilhete e sua expressão foi mortal, mais do que já era.

— Foi meu irmão, Alexei! É a letra dele. Mas depois acerto as contas
com ele. — Ele me olhou de lado. — Por isso está com essa raiva toda?
Achou que eu fui embora e ainda por cima escrevi isso?

— Sim, mas vamos conversar depois, pois não quero atrapalhar o


aniversário de Bella.

Eu me juntei as meninas perto da mesa, onde estava o grande bolo. Elas


começaram a falar sobre suas vidas.

Emília morava com eles, ou melhor, com Daemon.

— Menina? Que bofe é este? — perguntou Emília sentada ao meu lado.

Ela era uma morena linda e mãe de Ema, uma menininha fofa. Emy
olhava Nikolai conversando com Shadow e os outros, Nasx estava ao lado de
Michael, mas notei que Nick me olhava a todo o momento.

— Um bofe que nunca ia querer você — disse Daemon perto de nós.

Ela estreitou os olhos para ele, mas vi dor neles, embora ela tentasse
esconder. Vivendo com a Taby e na máfia, eu aprendi a detectar quando
alguém tentava esconder algo, como a dor que acabei de presenciar nos olhos
dela. Eu estava confusa. Eles não moravam juntos?

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— O seu pau pode não levantar estando ao meu lado, mas garanto que de
outros homens levantam — disse ela com um sorriso. — Pergunte ao Logan
o quanto ele fica duro...

Sua frase foi cortada, acredito que devido a fúria do Daemon, que
podíamos sentir de longe. Ele nos deu as costas e subiu a escada pisando
duro.

— Mulher, você quer matar Logan? — Nádia falou com repreensão.

— Ele não se importa com isso. — Ela bebeu uma bebida e olhou para a
Alexia, esposa de Bryan. — Ele gosta é de você.

— Não é o que parece — disse a loira fabulosa preocupada. — Você viu


a cara dele quando saiu daqui?

— Ele foi atrás de Logan no quarto — disse Nádia preocupada também.

Ao mesmo tempo ouvimos gritos lá em cima de uma mulher, e depois um


grunhido de homem como se alguém tivesse levado um soco.

— Porra! Eu não toquei nela, cara! — Ouvi Logan dizer, mas pareceu um
rosnado.

— Maldição! — rosnou ela e subiu correndo a escada junto com Alexia.


Também vi Shadow e alguns homens indo para lá, acho que para impedir que
os dois se matassem. Ou que Daemon matasse Logan.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu fui segui-los, preocupada também com o que aconteceria aos dois,


mesmo não os conhecendo. Mas Emy parecia legal, ela só estava sofrendo
por gostar de Daemon enquanto o mesmo era apaixonado por outra. Vida
injusta!

— Você não vai lá. — Nikolai pegou meu braço e me puxou para a porta
dos fundos onde tinha algumas crianças brincando no jardim. Tinha homens e
mulheres de olho nelas, não sabendo o que podia estar acontecendo no andar
de cima.

— Eles podem precisar de ajuda...

Ele riu.

— E o que pensa em fazer? — perguntou com um sorriso.

Suspirei, porque ele tinha razão quanto a isso, embora eu desejasse que
eles se entendessem de uma vez por todas.

— Você não tem mais nada de importante para fazer ao invés de ficar no
meu pé? — Eu me esquivei de seu toque. Com ele me tocando assim, eu não
falava com coerência.

— Não, pois nós precisamos conversar. Mesmo dizendo que não fiz nada
para magoá-la, ao que parece ainda está com raiva de mim.

— Eu ouvirei tudo o que tem a dizer, mas depois você volta para a Rússia
e não nos veremos mais. — Eu tinha medo de me entregar e me magoar de
novo.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Eu não posso, já que vou passar minhas férias ao seu lado.

— Você pode viajar pelo mundo todo, mas quer ir passar suas férias em
Trenton? Comigo?

— O que eu quero está bem aqui na minha frente. Uma morena linda e
doce, mas quando fica irritada não há quem segure. — Ele me olhou de lado
com um sorriso deslumbrante. — Se não quiser sexo ou contato físico, eu não
vou questionar ou pegá-la à força, afinal de contas eu gosto da mulher
implorando para ser fodida.

Acredito que eu imploraria para ser fodida também se ficasse perto dele
nesse mês todo. Serei capaz de me controlar? Não. Até uma freira cairia e
nunca se arrependeria.

Mas antes que eu respondesse ou inventasse algo para ele ir embora, Nasx
apareceu na minha frente.

— Sam, está tudo bem aqui? — Nasx avaliava meu rosto para ver se eu
diria a verdade a ele ou não.

Ele era bastante protetor. Eu gostava disso nele, porque não era só
comigo, reparei como era leal não só com seus irmãos, mas com todos
também.

Antes que eu dissesse que estava bem e que não havia motivos para se
preocupar comigo, Nikolai rosnou como um leão:

— Isso não seria da sua maldita conta! — Ele deu um passo até Nasx
como se quisesse matá-lo, mas eu segurei seu braço.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Se comporta! Você quer ou não ficar na minha casa? Se vai ficar


comigo nessas férias, você precisa tratar meus amigos bem, começando pelo
Nasx.

— Ele está doido para entrar em suas calcinhas. — Nikolai fuzilava o


meu amigo.

— Eu não sou você...

— Chega os dois! — Fiquei entre eles. — Não vão lutar um com o outro,
pois antes deverão passar por mim. Estão me entendendo?

Nasx suspirou e me fitou.

— Controlou a situação lá em cima? — sondei bem a tempo de ouvir


gemidos e gritos, mas o que me tranquilizou foi que não eram de dor e sim de
prazer. Ao mesmo tempo, um som foi ligado bem alto, acredito que era para
as crianças não ouvirem nada. — Eles estão...

Nasx riu.

— Ganhei a aposta.

— Você apostou que Emy e Daemon ficariam juntos? — Arregalei os


olhos.

— Sim. Apostei que, antes de irmos embora, os dois acabariam em um


quarto fo...

Cortei.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Ok, entendi.

Ele riu de novo agora do meu rosto vermelho, mas o que chocou um
pouco foi que Nikolai também estava rindo de mim. Bastardo!

— Preciso ir embora — falei aos dois. Estava nos meus planos ficar ali
naquele fim de semana, mas agora com Nikolai comigo, eu teria que adiar
para ir passear com Emily noutro dia. Não queria que Taby soubesse que eu
estava com um chefe da máfia. Acredito que ela surtaria, e queria que minha
amiga ficasse calma e tranquila, ainda mais agora com ela grávida.

— Eu vou avisar que vou levá-la...

— Não precisa, pois serei eu a levá-la — cortou Nikolai. Pelo seu tom,
não foi só um aviso.

Eu precisava sair dali antes que os dois acabassem se matando.

— Nasx? Se eu for com Nikolai agora, acha que ele me machucaria? —


Eu sabia a resposta, Nikolai jamais faria isso, mas eu queria só tranquilizar
Nasx.

Nasx avaliou Nikolai.

— Não fisicamente, mas se você se apaixonar, sim. Lembra do que ele


fez ao deixá-la? Do jeito que você ficou? Seria mil vezes pior se gostasse
dele.

Eu sentia a raiva vindo de Nikolai direcionada ao Nasx, mas firmei mais


minha mão em seu braço deixando-o no lugar.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Isso não vai acontecer. Eu prometo — tranquilizei-o. — Nikolai vai


me levar, e espero que eu possa voltar a vê-lo logo, Nasx.

— Veremos! Você tem meu número, e qualquer coisa me chama que vou
correndo — prometeu.

Eu me despedi de todos e fui embora com Nikolai, mas rezando para não
me arrepender dessa escolha mais tarde.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Saiu na imprensa a apreensão que Bryan e os federais fizeram,


classificaram mais de mil pessoas envolvidas em crimes, pelos quais foram
presas. Isso foi só os que estavam na América, porque com certeza esse Jacov
possuía mais homens pelo mundo afora.

Segundo o departamento antidrogas dos EUA (DEA), eles disseram que


apreenderam nos navios em Long Island Sound, toneladas de drogas. E várias
caixas de armas. Fora as garotas encontradas que pertenciam a vários países.

O pai adotivo da Taby, o senhor Thomas, disse em uma entrevista que as


detenções eram o resultado de mais de nove anos de investigações, junto com
mais de dois mil agentes participando da diligência, tanto dos Estados Unidos
como da Rússia e do México. E que os chefes acusados, líder do Cartel
mexicano, Sebastian Ruiz, foi morto junto com o líder dos Bravatas, Andrey
Jacov na operação.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu fiquei confusa, porque em nenhum momento foram citados os nomes


dos MCs ou o de Nikolai naquelas notícias. Era como se nenhum deles
tivesse estado lá de fato. Talvez eles fossem bons demais para serem vistos
pelos policiais.

Eu estava na cozinha. Ela era pequena, mesa de quatro cadeiras e


armários brancos, e fogão inox. Também tinha um balcão na forma de L.
Meu apartamento não era grande e eu morava sozinha já que era maníaca por
deixar tudo no lugar.

Quando cheguei da Rússia, eu tentei ficar nos dormitórios da faculdade,


mas não me dei bem com os colegas de quarto. Em uma noite, eu estava
vindo da lanchonete, na qual trabalhava três vezes por semana, e conheci
Tabitta. Ela estava chorando, porque viu o Jason sem a tatuagem que ambos
haviam feito juntos.

Depois disso, nos tornamos melhores amigas, tanto que ela confiava em
mim para cuidar de sua filha Emily, a minha boneca fofa.

Duas semanas se passaram após o sequestro, e Nikolai ficou comigo em


todo o momento. Eu achei que ele ia reclamar com a minha casa simples, mas
me enganei. No começo quando ele entrou ali, eu vi surpresa em suas feições,
embora houvesse sido breve. O cara era um tremendo de um mistério, às
vezes incapaz de decifrar.

Eu estava arrumada para ir ao serviço, estava só fazendo uma


macarronada que Giulia gostava de fazer. Eu era pequena, mas me lembrava
muito bem. Adorava comer... às vezes me xingava por ousar pensar nela
depois do que me fez.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Cheira muito bem — disse uma voz calorosa na minha nuca.

— Argh! — gritei e quase ia deixando o prato cair quando Nikolai o


pegou da minha mão.

Eu levantei meus olhos para ele parando de respirar no processo. Nikolai


estava nu como veio ao mundo com toda sua glória e esplendor. Coxas fortes,
e barriga tanquinho com cinco gominhos que me fez querer babar, peito
másculo e braços que estavam em torno de mim apertando-me contra ele.

Essas semanas foram um completo martírio para resistir a ele. Acho que
eu estava como uma drogada ao ver a droga todos os dias, porém lutando
para resistir. “Com o tempo eu não vou conseguir mais ”, pensei amarga.
Ainda mais depois de vê-lo assim desse jeito.

— Mas que droga! Cadê suas malditas roupas? — grunhi.

Ele sorriu travesso. Tão perfeito com suas covinhas de menino que eu só
pude ficar olhando admirada. O cara sabia o que me deixava no ponto de
gritar de frustração sexual.

Quando veio ficar comigo, ele disse que ficaria do meu lado, mas não me
tocaria até eu implorar. Contudo, eu não sabia que ele pegaria pesado para me
atrair andando, no começo sem camiseta, depois só de cueca boxer, agora o
deus grego estava nu.

— Esta cidade é muito quente. É muito incômodo ficar com roupas aqui
dentro. — Ele piscou com seu sorriso atraente. — Você já me viu nu antes, e
gostou muito. Tanto que implorava por mais de mim.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu ofeguei segurando o ar em meus pulmões ao sentir seu calor tão perto


de mim, seu cheiro de sabonete de lavanda. Seu calor parecia incendiar minha
pele dos pés à cabeça.

— Engraçadinho! — Minha voz estava fraca ao me afastar dele, mas o


mesmo não permitiu. — Nikolai, eu tenho que trabalhar e você disse que não
ia me tocar...

— Se você não quisesse — terminou a frase. — Mas vejo como seu corpo
reage ao meu toque. — Ele colocou seus dedos em meu pescoço e desceu por
meu decote.

Eu estava usando um top e saia curta, antes era um vestido, mas como
decidi repaginar minha vida, então faria o serviço completo. Nikolai não
pareceu gostar quando me viu vestida assim semana passada, mas falei que,
se ele ousasse falar ou criticar sobre isso, era para ir embora da minha casa.

Às vezes, eu custava a acreditar que um homem como ele fosse real e que
estava ali do meu lado aceitando tudo o que eu falava. É claro que
questionava, acho que ele não estava acostumado com as pessoas dizendo
para ele fazer algo. Com certeza era Nikolai quem dava as ordens. Afinal de
contas, ele era o chefe.

— Nikolai...

— Você não quer sentir minha boca traçando esse corpinho lindo e
gostoso? Minha língua sugando seu clitóris com tanta fome e prazer? — Seu
tom era puxado ao sexy e me deixou de pernas bambas.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Definitivamente eu era uma viciada, que recaiu ao vício que era este
homem. Queria ter forças para resistir a ele, mas não conseguia mais. Eu era
como uma corsa que ansiava por água, e minha sede era dele.

Eu o puxei para mim me rendendo ao seu toque, seus beijos, suas carícias
que me deixavam tonta, louca e viciada. Isso, eu era viciada e havia provado
dele só uma vez, há uma semana, mas parecia uma eternidade.

Gemi nos lábios dele e o apertei mais contra mim querendo-o inteiro logo
ou gritaria. Sua língua batalhava com a minha de forma enlouquecedora.
Senti suas mãos rasgarem minha calcinha e ele me colocou sentada na mesa.
Logo em seguida, ele estava dentro de mim, me consumindo. Trancei minhas
pernas em seus quadris apertando-o e querendo mais dele.

— Isso, geme, minha coelhinha. — Mordiscou minha língua e logo foi


para o meu pescoço, traçando seus lábios molhados no lóbulo da minha
orelha. — Clama pelo meu pau e para eu fodê-la com mais força.

Eu não disse nada, aliás, nem voz teria, caso falasse, só tracei minhas
unhas em suas costas fazendo-o estremecer, mas não liguei, apenas queria
que ele matasse a vontade e o desejo que estava naquele momento.

Seu membro gostoso entrava e saía da minha boceta me fazendo gemer


mais a cada estocada que ele dava dentro de mim.

— Nick... — Choraminguei olhando seus olhos verde-azulados, tão


impressionantes como o céu e o mar ao mesmo tempo. — Estou quase...

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Isso, querida! Eu quero ver o seu clamor, sua súplica pelo meu pênis
que está te consumindo. — Ele apertou minha bunda, amassando minhas
nádegas. — Goza em meu pau, coelhinha.

Suas palavras foram como um tiro direto no meu centro. Tão poderosas
quanto seu membro, que me estocava levando-me ao céu.

Ele rosnou lambendo meu pescoço, e logo me seguiu, gozando com um


ruído no fundo da garganta apertando mais minha bunda.

— Está de volta? — sondou beijando minhas pálpebras num gesto


carinhoso, e alisando meu rosto com seus dedos sensíveis. — Você é tão
linda! Devo dizer que amei ficar nu só para tê-la em meus braços.

Eu estava a ponto de revirar os olhos, porque não me considerava linda,


bonita sim. Pela forma que ele falava e me olhava, parecia que eu era sua
adoração, sua luz. Devo ter visto errado, só podia ser. Embora quisesse isso.

Eu estava a ponto de informar que ele era um trapaceiro por andar nu pela
casa, mas um cheiro me trouxe de volta ao presente.

— Maldição! — rosnei empurrando-o e saindo de seus braços.

— O que foi? — sondou confuso.

Eu não disse nada, só corri para o fogão e desliguei o macarrão queimado.

— Droga! Estava louco por mais macarrão. — Vi diversão na sua voz.

Eu peguei a panela queimada e coloquei embaixo da água.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Sua culpa por andar nu por aí — acusei. — Agora vou ter que ir sem
jantar, e você terá que comer por aí.

— Você bem que gostou, não é? — Ele me abraçou por trás beijando
meus cabelos.

Eu me afastei de seus braços dando um tapa nele, peguei minha calcinha


rasgada.

— Você só me atrasou para o serviço. — Fui para o quarto ouvindo-o me


seguir. — O pior de tudo é que nós não usamos preservativos de novo. — Da
outra vez que ficamos juntos não fiquei grávida, e dei graças a Deus quando
menstruei. Terminou há dois dias.

— Eu me esqueci. — O impressionante é que ele não parecia preocupado


com isso como eu. Acho que eu teria que passar a tomar anticoncepcional.

— Se esqueceu? Eu ainda relevo, já que me deixou bêbada e ludibriada.


— Corei. — Mas você? Um homem experiente? Devia ter no mínimo uma
dúzia de preservativos. — Joguei a calcinha nele. — Quantos filhos você tem
por aí? Porque, pelo harém de mulheres que deve ter, e sempre se esquecendo
de usar preservativos, devo me preocupar com doenças também?

Ele revirou os olhos.

— Na verdade, eu não tenho harém, e só fiquei com você desde que


fodemos a primeira vez, e também nunca fodi sem camisinha, só com você
que me esqueço, porque não ligo que fique grávida.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu arregalei os olhos. Primeira coisa a fazer no dia seguinte: comprar


anticoncepcional.

— Pois a partir de agora, trate de usar a porcaria do preservativo ou eu


não vou ficar com você. Tivemos sorte que da outra vez eu não fiquei
grávida. — Eu até pensei em tomar a pílula, mas Nikolai jogou fora. Ia
comprar outra depois, mais acabei esquecendo. O bom foi que deu tudo certo.
— Primeira coisa a fazer amanhã, comprar anticoncepcional!

— Vamos esperar para ver se não ficou grávida, e prometo usar


preservativo de agora em diante.

— Por que insiste tanto sobre a gravidez? Nikolai, nós nos conhecemos
há poucas semanas para pensar em filhos, geralmente as pessoas namoram,
depois casam, tipo, procuram ter uma estabilidade — falei com um suspiro.
— Você devia saber disso, ou melhor, querer isso.

— Por quê? Só porque sou chefe da máfia? Acha que não tenho poder
suficiente para proteger vocês dois?

— Não se trata de proteção, Nikolai, mas sim de ter certeza de que você
quer filhos, porque no futuro, se isso acabar, e eu tiver um filho... —
Gesticulei para nós dois. — Seria ele a pagar o preço, por ser criado com pais
separados. O que você desejaria a um filho seu? Sangue do seu sangue?

— Eu... — Notei dor em seus olhos, mas foi breve, depois ele abaixou a
cabeça.

— Depois falamos disso, agora estou atrasada. — Fui para o banheiro e


vendo a bagunça no chão. — Nikolai! — gritei.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Samira... que porra está acontecendo? — perguntou preocupado.

Eu olhei para cima e me deparei com Nikolai vestido com calça social
esporte aberta e uma arma apontada para o banheiro, caçando inimigo.

— Para que essa arma? — rosnei. — Acha que o invasor iria se


materializar até aqui sendo que não tem entrada no banheiro?

Ele fez uma careta linda, mas abaixou a arma.

— Então por que estava gritando?

Eu o fuzilei.

— Ainda pergunta? Quantas vezes, eu vou ter que dizer para não deixar
meu banheiro sujo? Toalhas jogadas, roupas espalhadas e o lugar molhado?

Essa não era a primeira vez que discutíamos sobre a sua falta de
organização. O cara era um tremendo de um bagunceiro. Ele não arrumava,
até eu berrar com ele. Depois disso qualquer bagunça que fazia, o mesmo
limpava tudo.

— Eu ia arrumar, mas então fui para a cozinha ao sentir o cheiro do


macarrão que você estava fazendo. Eu estava com fome. — Seu olhar
direcionado a mim era faminto.

— Eu sei muito bem da sua fome — grunhi e me limpei vestindo uma


nova calcinha.

— Não discordo quanto a isso, porque estou longe de ser saciado.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Se comporta, pois eu tenho que trabalhar — repreendi-o.

Meia hora depois, eu estava na boate e lanchonete, ali tinha as duas


coisas, de um lado a boate e do outro a lanchonete. Eu ficava nos dois, uma
semana em um e uma semana no outro. Hoje estava na boate Luxe. O lugar
estava bem apimentado, cheio de pessoas animadas e se divertindo.

— Está atrasada — disse Anabelle com um sorriso. Aposto que ela


suspeitava o motivo. — Eu te cobri, não se preocupe. Mas, pelo menos, o
atraso valeu a pena?

Ela e Mary me encheram de perguntas logo quando apareci com Nikolai


na minha casa. Apenas falei que ele estava de férias e que ia ficar comigo.
Fora minha reclamação por ser tentada a cada dia.

— Você é meu anjo. Sim, valeu a pena. O cara é realmente bom, e


incapaz de resistir — sussurrei sorrindo.

— Jura?

— Sim. Fico te devendo uma por me cobrir.

— Sem problemas. — Quicou ela, animada. — Estou indo fazer uma


festa de noivado no próximo fim de semana. Natan quer fazer na casa de
praia dos pais dele. Então quero você lá sem falta.

— Prometo estar lá. Jamais faltaria. — Sorri indo atender uma mesa de
jovens.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— O que vocês desejam? — perguntei aos caras da mesa. Eram cinco


homens.

— Cerveja, gostosa! — disse um dos caras. — E você, se vier de brinde.

Eu já estava cansada de levar cantada dos homens, alguns com mãos


bobas, mas ignorava isso completamente. Embora, agora com Nikolai, as
coisas estavam um pouco mais difíceis. O cara era uma tremenda bomba,
você puxava o pino e ela explodia.

Nikolai não veio hoje, porque insisti para que não viesse. Todas as noites
que ele vinha e via os caras mexendo comigo, eu podia ver sua expressão
assassina. Para não haver mortes, eu o mandei ficar em casa.

Sorri educada.

— Estou fora do mercado, mas logo vou trazer as bebidas a vocês. — Saí
dali não dando muita atenção. Vai que Nikolai apareça aqui e cerre os
punhos, ou melhor, puxe sua arma.

— Menina, você com esse novo visual, está matando os homens —


brincou Anabelle. — Cadê aquele pedaço de homem? Não veio hoje?

Eu revirei os olhos.

— Não. Eu falei para ele ficar em casa já que o homem parece querer
matar todos que se aproximam de mim. — Suspirei. — Você viu isso na
última vez.

Ela franziu a testa.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Está gostando dele?

Eu encolhi os ombros.

— Sim, mas não sei o que ele sente por mim — respondi. Não sabia bem
o que sentia, mas já era forte. Mas prometi a mim mesma que só viveria o
momento, e pensaria no futuro depois.

— Pelo jeito que ele te olha e a forma que o mesmo age com os homens
que dão em cima de você, não me parece que ele não se importa, ali tem algo
a mais que apenas uma ficada — comentou ela.

Um chefe da máfia se apaixonando por uma garota como eu? Será


possível? Não podia ter esperança, embora quisesse isso.

— Foi o mesmo que aconteceu comigo e Natan, e hoje vamos noivar e


casar.

— Casamento e Nikolai na mesma página? Só quando o inferno congelar


— comentei com um gosto amargo na boca.

Depois disso, eu me esquivei de sua curiosidade, pois não estava pronta


para dar nenhuma resposta ainda, aliás, nem eu as tinha. Nikolai e o que
estávamos tendo não era algo que eu queria pensar. Então, apenas viveria o
momento.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Nick — gemi com a língua expert de Nikolai me degustando.

Eu estava de bruços com as mãos abertas e amarradas na cama e com a


bunda suspensa no ar. Meu rosto estava no colchão e eu, às vezes, mordia a
colcha para abafar o som, porque como o prazer era enorme, eu era capaz de
gritar e as pessoas ouviriam a quilômetros.

Eu rebolava minha bunda suspensa em sua boca, não me importando com


a vergonha, não conhecia essa palavra, tamanho era meu êxtase ao ser
consumida por esse homem.

— Por favor, Nikolai. — Choraminguei querendo mais dele e mexendo


minha bunda.

— O que você quer? Diga que eu faço. — Ele deu um chupão no meu
clitóris e gritei. — Quer meu pau? Está faminta por ele?

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Sim...

— Darei o que você quer, minha linda. — Logo em seguida, ele estava
dentro de mim bombeando com tanta força que meus gemidos e rugidos eram
altos quase constrangedores, mas eu era incapaz de não os soltar.

Suas mãos apertavam meu quadril, enquanto acelerava mais o


movimento. Minhas mãos puxavam nas algemas que ele me colocou. Seus
dedos alisavam meu clitóris me levando a um orgasmo alucinante. Tão forte
que tudo em mim brilhava e queimava tamanho era o êxtase.

— Nossa! Você é bom — falei depois que voltei a respirar, embora com
dificuldade ainda.

— Ainda duvidava? — Beijou meu rosto suado, ainda em cima de mim.

— Não — sussurrei.

— Que bom. — Seu tom era divertido enquanto me soltava. — Achei que
precisava usar as minhas artimanhas para demonstrar meu talento na cama.

— Querido, eu já presenciei seu talento na cama, não precisa mencionar


isso para mim — falei indo para o banheiro. — Preciso tomar um banho para
sair.

— Aonde vai? — sondou vindo atrás de mim.

— No Barloni. Eu disse a você que estava indo hoje — mencionei.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Por que não me convidou para ir com você? — Seu tom parecia
diferente, como se eu o tivesse magoado ou coisa assim.

— O quê? — Voltei meus olhos para ele, que estava escorado no batente
da porta do banheiro.

— É por causa do que eu sou? — Seu cenho estava franzido.

Nessas duas semanas de convivência, nós não conversávamos sobre o que


estava acontecendo conosco, durante as nossas noites de sexo quente. Eu não
queria saber o que se passava na mente dele, porque poderia ser aquilo que eu
não estava preparada para ouvir.

Eu não queria que ele fosse embora para a Rússia, pois já estava
acostumada com sua presença, seu toque, seu cheiro que me deixava
alucinada e eufórica. Fora seus talentos na cama.

Entretanto, eu sabia que isso não era para sempre, porque tinha um limite
de tempo com Nikolai. Então ele iria embora. Toda vez que eu pensava sobre
isso, o meu coração dava batidas doloridas, como se estivesse dando nós.

Eu franzi a testa.

— Achei que não quisesse participar já que não é a sua praia.

— Tudo por eu ser um mafioso? — Seu tom era cheio de censura.

— Não tem nada a ver com a máfia, Nikolai, e sim com o que estamos
fazendo. — Gesticulei entre nós dois ainda nus.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Foder?

— Isso. Como você sempre diz: o que temos é só foda.

— Não foi isso o que eu disse — falou com tom sério. — Então você
pensa que o que temos é só sexo? Que todo esse tempo nós só fizemos isso?

Eu suspirei, porque era justamente isso o que eu pensava, embora no


fundo, eu soubesse que estava me enganando quanto a isso.

— Estou com medo de me apaixonar por você — sussurrei a verdade. —


Já sinto algo forte por você, Nikolai, apesar de não saber discernir ainda. E
sinto que, se isso acontecer, você vai me quebrar de uma forma que jamais
irei me recuperar.

Ele chegou perto de mim sem tirar os olhos preciosos dos meus.

— Não tenha medo de se apaixonar por mim, coelhinha. — Tocou minha


face com suas mãos abrasadoras. — Prometo que jamais vou quebrar você ou
magoá-la de forma alguma. — Beijou minhas pálpebras molhadas. — Gosto
de você me amando, porque eu também gosto da minha preciosa.

— Promete? — Meu coração batia forte e ansioso em meu peito.

— Sim. — Depois ele me beijou com fervor e paixão, que achei que
estava entrando em combustão. Suas mãos apertaram minha bunda
imprensando mais meu centro contra o membro duro dele. Logo em seguida,
eu estava me rendendo a este homem fabuloso esquecendo-me dos meus
medos.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Horas depois, nós estávamos no Barloni, o sobrenome dos pais de Natan.


Toda sua família era importante e grã-fina. Então, eu me sentia deslocada. Já
Nikolai estava todo relaxado como se lidasse com pessoas assim o tempo
todo. Com certeza, ele lidava com pessoas ricas, o pior, no meio do crime.
Esperava que ninguém ali fosse um assassino desalmado.

— Não acredito que veio! — gritou Mary chegando até mim. — Estava
pensando que teria que ir lá buscar e tirar vocês dois da cama.

Eu corei olhando ao redor.

— Fale baixo, e não estávamos na cama...

— Na mesa? — Ela arqueou as sobrancelhas.

Nikolai riu.

— Você me lembra a minha irmã — falou ele, ainda rindo.

Eu sabia que ele tinha uma irmã chamada Irina, mas não cheguei a
conhecê-la.

Anabelle largou seu noivo e veio até nós.

— Você veio, e com... — Anabelle olhou sorrindo para Nikolai. — Não


deixou minha amiga fora de vista um segundo, não é?

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Melhor fora da cama, não é? — Piscou Mary. — Sexo é bom crianças.


Aproveitem!

— Se eu a deixar fora de vista, os gaviões fazem a festa. É claro que eu os


mandaria para o mundo de Hades. — Sorria enquanto falava, mas notei que
ele faria isso mesmo. Estava escrito em sua cara e em seu tom.

Anabelle e Mary reviraram os olhos achando que Nikolai estava


brincando ao dizer isso, mas, pelo que notei, o homem não parecia de
brincadeira, tudo que ele mencionava, o mesmo cumpria.

Estava tudo indo perfeitamente bem no noivado da minha amiga na casa


de praia. O lugar era elegante, não só por ser luxuoso, mas as mesas estavam
forradas com toalhas de seda branca, jarro de cristal sobre elas com buquê de
flores. A mansão de três andares era ladeada por vidros. Lembrava muito a
casa dos meus pais quando morávamos em Chicago.

Mesmo vendo quanto dinheiro possuía esse lugar, eu não senti inveja,
porque não era algo que sentia saudade do meu mundo, ou melhor, da antiga
vida que eu tinha antes de ser abandonada.

— Oi, Samira. Como está indo na faculdade de Artes? Soube que


algumas de suas obras estão em uma galeria no centro de Trenton — disse
Rômulo, irmão de Anabelle, assim que chegou até mim.

Sorri.

— Estou feliz por conseguir um espaço e mostrar as minhas obras. — Eu


estava eufórica com esta notícia.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Há algumas semanas, uma galeria me ligou dizendo que queria expor


minhas pinturas. Já tinha um tempo que eu havia deixado alguns quadros com
o senhor Divã, mas sem nenhuma resposta, tanto que já tinha até desistido.
Só há poucas semanas que recebi a proposta de expor minhas obras. Estava
megafeliz com isso, ainda mais por realizar um sonho que sempre tive.

— Você tem talento. Poderia até conseguir entrar na faculdade em


Florença, pois é a melhor do mundo — falou Rômulo sorrindo.

Assim que me conheceu, ele quis ficar comigo, mas como sempre, eu não
quis, aliás, eu dispensava quem se aproximasse de mim, não sentia nada em
relação a ninguém, só por Nikolai.

Pela cara fechada de Nikolai, ele sabia que Romy já tinha dado em cima
de mim ou suspeitava disso, porque sua expressão se tornou sombria como a
de um assassino em série.

Apertei seu braço em um pedido silencioso para que se acalmasse e não


fizesse besteira com meu amigo fiel, porque ele estava prestes a fazer
exatamente isso. Mas eu não deixaria isso acontecer.

— Obrigada por me estimular a ir na galeria, Rômulo, para deixar


algumas das pinturas que fiz — falei, mas os olhos dele estavam em Nikolai
ao meu lado. — Oh, esse é Nikolai, o...

Ele me cortou.

— Namorado dela. Em breve, marido. — Nikolai me olhou de lado,


sorrindo. — Não é, coelhinha?

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Romy estava de olhos arregalados.

— Você tem namorado? Mas Any não disse nada. — Franziu os lábios
como se estivesse com dor. — Eu preciso ir...

— Ro... — comecei enquanto ele saía de perto de mim. Eu comecei a ir


atrás dele, mas Nikolai não deixou. — O que foi? Eu preciso saber se ele está
bem.

Ele sacudiu a cabeça com descrença.

— O cara está com dor de cotovelo por você ter um namorado. E logo
minha futura esposa e mãe dos meus filhos.

Eu ri nervosa.

— Acho que você está sonhando alto demais. Eu não quero me casar
agora e muito menos ter filhos. — Minha aversão a isso era justamente
porque se eu estivesse na máfia seria obrigada a fazer. Então queria namorar
sem compromisso.

Ele estreitou os olhos.

— É por que começamos a namorar agora? — sondou.

— Eu tenho vinte e dois anos, Nikolai, só preciso de mais tempo para me


casar, ter filhos e me estabilizar. Eu quero realizar meu sonho de um dia ver
minhas artes na melhor galeria de Nova York ou até de Londres. — Sorri dos
seus olhos grandes. — Sonhar não custa nada.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Você prefere realizar isso a ter uma família? Do que ficar comigo para
sempre?

Beijei seus lábios de leve.

— Nick? Apenas vamos viver o momento juntos, sim? E deixar o futuro


para depois — pedi a ele.

Não queria pensar nele agora, ainda mais se fosse perdê-lo depois. Isso
era algo que não queria pensar nesse momento.

Mudei de assunto e me afastei dele, mas continuei segurando sua mão.

— Por que me chama de coelhinha? Sempre fui curiosa com relação a


isso — sondei enquanto sentávamos em uma mesa no salão ao ar livre.

Ele sorriu com candura e alisou meus cabelos que estavam soltos nas
costas.

— Quando a conheci, você ficava me caçando em todos os lugares nos


vidros da boate. Tão inocente e linda. — Ele suspirou. — Depois no navio,
assustada, embora fizesse de tudo para ficar calma. Já vi mulheres em
cativeiros, elas berram e gritam por ajuda, mas você não fez isso, mesmo
querendo, acho que para provar algo, não sei.

— Na minha vida inteira, eu fui fraca, talvez por isso aqueles homens
tivessem me sequestrado, não é? Uma presa fácil. Eu achei que fosse por isso
o apelido que me deu, talvez me achasse uma presa fácil — murmurei, por
isso lutava contra o que sentia por ele, temendo que isso fosse verdade.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Acha que eu apelidaria você com um apelido carinhoso só porque


penso que é uma presa fácil? — Seu tom era de crítica. — Mesmo você não
dizendo nada, eu acho que pensa assim por ser quem sou...

— Eu falei que isso não me importa nem um pouco — interrompi-o. —


Só me veio à mente uma vez. Sabe quando você tem algo bom que custa a
acreditar que isso é mesmo seu?

— Ainda pensa assim, Samira? Você é linda, por isso esse cara está
apaixonado e fez tudo por você para que realizasse seu sonho. — Ele trincou
os dentes olhando para Romy perto da porta da casa. — Algo que não quero
pensar para não matá-lo.

Pisquei chocada.

— Ele não está apaixonado por mim. Somos só amigos — interrompi. —


O que você quis dizer com o que Romy fez para mim?

— Romy? Já o chama por apelido? Quer que eu o mate? — Ele me puxou


para perto dele e sussurrou em meu ouvido: — Não se esqueça de que são
meus lábios que te deixam louca quando a trago para o orgasmo com a
língua, e também meu pau que a faz gritar de êxtase clamando por mais.

Remexi-me com suas palavras que foram direto para o meu centro. Tanto
que achei que gozaria na calcinha, tamanho era o atrito com o som da sua voz
grossa e sensual.

— Nikolai...

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Não chame outro homem por apelido carinhoso, só a mim. — Beijou


minha bochecha.

Eu expirei e me afastei para me controlar e não o agarrar ali na frente dos


outros, logo isso ia acontecer caso ele não parasse de dizer coisas assim.
Como fui me viciar em sexo? Mas com um homem desses, como não poderia
fazer? Qualquer mulher enlouqueceria com isso. Eu era uma delas.

— O que foi? Posso te aliviar se você me pedir. — Sua voz parecia mel
derretido.

— Se comporta, pois estamos no noivado da minha amiga. Então fique


quieto. — Suspirei. — Mas falando sério, o que você quis dizer com o
Rômulo ter feito algo para mim? O que ele fez?

Nikolai suspirou.

— Não percebeu? Ele com certeza te ajudou a conseguir colocar suas


obras na galeria. Não notou a felicidade dele ao mencionar isso?

Ofeguei olhando Romy ao lado de seus pais, um casal elegante e gente


fina. Não tão chique como os pais dos noivos.

— Isso não é verdade. Ele não pode ter feito isso. — Minha voz falhou,
porque queria ser reconhecida pelo meu trabalho e não com ajuda de
ninguém.

— É claro que fez! Eu ia fazer o mesmo, mas o maldito fez antes de eu


conhecê-la, acredito que era para você ficar feliz.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Feliz? — rugi sem alterar minha voz, mas estava grilada. — Não
quero ser reconhecida por ninguém dessa forma, e sim pelo meu trabalho.

— Samira, é bom alguém dar um empurrão de vez em quando, isso


facilita para as pessoas conhecerem suas obras. Eu vi os quadros em seu
apartamento e são lindos, embora um pouco sombrios. Me deu a entender nas
imagens que você já sofreu muito ou algo parecido. — Ele me olhou de lado.
— Onde você se inspirou daquele jeito para pintar algo tão intenso?

— Eu não sei, mas acho que é por causa do meu passado. Quando vejo as
imagens lembro-me de como fui abandonada por minha mãe... — Minha voz
falhou, não queria falar com ele, não ali.

— Como foi que aconteceu? Pode me dizer? — sondou curioso, embora


sentisse uma nuance ali que não entendi.

— Não lembro bem — menti, porque eu me lembrava claramente, mas


não queria dizer nada a ele justamente para protegê-lo do meu passado. —
Mas sei que estávamos em um parque quando ela foi embora, depois disso
Lucy me achou e me criou como se eu fosse dela.

— Onde sua mãe está?

— Qual delas? — Ergui as sobrancelhas para ele, mas respondi antes que
dissesse algo. — Giulia, eu não sei, e também não quero saber nada dela. Já
Lucy, morreu há três anos, quando eu morava na Rússia. Por isso, eu vim
para a América. Após sua morte ficou bem difícil viver lá.

— Vamos deixar de falar em coisas triste hoje. Eu quero só que fique


alegre. — Sorriu me dando um beijo casto nos lábios.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Obrigada por estar aqui hoje. Eu não queria ter vindo sozinha, embora
não pensasse em te chamar, mas queria que viesse.

Ele sorriu.

— Seu prazer é uma dádiva para mim — falou com um tom quente na
voz.

— Desde quando o chefe da máfia ficou assim tão sentimental? —


mencionei máfia, bem baixinho para ninguém ouvir, não queria que ele
tivesse problemas com isso.

— Você acha que, por eu ser da máfia, não devia dizer a garota que gosto
o que realmente ela é?

— Não. Gosto de você assim — respondi. E gostava mesmo, esse era o


meu medo de vez em quando. Meu peito apertava temendo que acabasse.

Ocorreu tudo bem no noivado. Minha amiga estava feliz, e eu também


por ela. Mesmo vendo-a noivando, eu não senti vontade de fazer o mesmo.
Apenas queria ficar ao lado de Nikolai por um bom tempo.

Depois de me despedir de todos, Nikolai e eu fomos embora.

Meu telefone tocou quando estava entrando no meu apartamento.

— Samira.

— Oi, raio de sol — falei para Emily. — Não é tarde para você ficar ao
telefone?

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Sim, mas a mamãe está aqui ao meu lado. Coloquei no viva-voz para
ela ouvi-la também — disse ela com ansiedade. — Estou sentindo sua falta,
mas meu papai disse que, assim que chegar de viagem da Rússia, ele vai me
levar aí.

— Eu também sinto sua falta, princesa, pode vir que ambas vamos nos
divertir bastante. Assim poderemos passear com o seu cachorro, já que não
pude da outra vez — falei. — Agora posso falar com sua mãe um segundo?

— Sim, tia Samira — respondeu e, em seguida, Taby entrou na linha: —


Oi, Samira. — Sua voz estava ansiosa com alguma coisa.

— Oi, você está bem? — Depois do sequestro, nós não tivemos a


oportunidade de falar sobre ele, eu estava tão alucinada vivendo com Nikolai
que me esqueci de tudo, isso fez com que eu me sentisse uma péssima amiga
e irmã. — Eu deveria estar aí do seu lado após tudo que houve.

Ela riu.

— Era eu que deveria estar perguntando isso, e não você — retrucou. —


Afinal de contas, foi você que foi sequestrada e mantida nua na frente
daquele bando de assassinos e estupradores.

Eu entrei em casa junto com Nikolai, que estava ao meu lado falando com
alguém ao telefone.

— Mas não fui violentada, graças a você e ao gato loiro que me salvou.
— Não mencionei que conhecia Nikolai, e nem que estávamos fodendo igual
coelhos. Vou ter essa conversa com ela, mas não agora, talvez depois que eu
soubesse o que estava fazendo.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Não fale a ela que eu estou com você — pediu ele baixo, para Taby
não ouvir.

Meu peito deu um aperto insuportável que mal consegui falar, mas me
recuperei. Deixaria para lidar com ele, interessado por minha amiga depois,
assim que o mandasse para o inferno. Não ia transar com um cara que estava
querendo a Taby. Ele disse que a protegeu no navio, porque ela era
importante para alguém que ele conhecia, mas talvez isso fosse tudo mentira.

— Mas não sou eu que estou grávida e fui enfrentar um exército fodido
de mafiosos. Uma pena todos não estarem mortos.

— Nunca imaginei você dizendo isso das pessoas. — Riu ela. — Mas
falando sério, preciso ir à Rússia esse fim de semana.

— Você vai porque Jason está lá? — Emily tinha mencionado há pouco
tempo que ele estava na Rússia, talvez estivesse lutando. — Você vai
sozinha? Talvez possa ir com você, assim visito minha irmã.

— Não! — falou Nikolai para mim e seu tom não parecia um pedido.

Franzi a testa para ele.

— Se quiser, eu saio amanhã, mas eu vou com Dominic, Bryan, Nasx e


Daemon — disse ela com um suspiro. — Jason não está lá, pois ele vai
comigo já que não quer me deixar sozinha.

— Por que precisa de todos na Rússia com você? — sondei agora


preocupada. Tentei notar a reação de Nikolai sobre eu ir para a Rússia, mas
ele estava de costas.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Sabe aquele cara que nos salvou?

Franzi o cenho.

— Nikolai?

— Sim, eu descobri que ele é o meu irmão. Sebastian disse a ele que eu
estava grávida, por isso que ele foi lá naquele dia, para me salvar no navio
— falou parecendo feliz com a ideia de ter um irmão.

Evitei ofegar, mas queria fazer isso, porque foi um choque descobrir que
Nikolai e Tabitta eram irmãos. Ele com certeza sabia, eu podia ver isso em
seus olhos estreitos com o que Taby e eu estávamos conversando.

— Ele é chefe da máfia russa, por isso vão todos, embora eu saiba que
ele jamais me machucaria, afinal de contas, Nikolai me salvou. Mas isso
deixa Jason tranquilo e faço qualquer coisa por meu homem.

— Nasx vai ficar bem lá? — Essa pergunta era mais para Nikolai do que
para Taby.

Ele fez uma careta.

— Acredito que sim. Vai dar tudo certo, mas o que você tem com Nasx?
Vocês estão transando? — sondou. — O cara é um deus do sexo, assim ouvi
dizer... — Ela praguejou baixo — Ai, mas que droga Jason! Estou falando o
que ouvi.

— Se não quer que eu o mate pare de chamá-lo de “O deus do sexo” —


rosnou Jason do outro lado da linha.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu sacudi a cabeça ignorando sua pergunta e me despedi dela, depois


olhei para Nikolai.

— Você é irmão da Tabitta? Por que não me disse antes? Então você não
é filho dos Dragon?

Ele estreitou os olhos.

— Acha que só porque estamos fodendo tem o direito de saber da minha


vida? — rosnou com um tom nunca usado antes, não comigo pelo menos. —
O que tivemos é só foda, nunca pense o contrário. — Ele saiu porta afora.

O ar saiu dos meus pulmões ao descobrir o meu pior temor, porque já


pensava que eu não passava de uma transa para ele. Agora a suspeita virou
realidade, uma que parecia que acabaria comigo.

Ele estava tão carinhoso e romântico hoje. O que houve? Notei enquanto
falava com Taby que Nikolai recebeu uma ligação. Foi ela que o deixou
assim transtornado ou talvez isso seja só uma desculpa da minha cabeça para
não enxergar que fui abandonada e humilhada mais uma vez pelo mesmo
homem.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Agora basta! — rosnei a mim mesma com raiva, ou melhor, furiosa


com Nikolai e comigo.

Passou uma semana desde que Nikolai havia saído da minha vida. Fiquei
em meu apartamento sem sair para canto nenhum, só para o serviço e
faculdade, apenas pintava direto, acho que tinha uns quinze quadros ali.

Em um dos quadros havia uma menina vestida de negro, com seus


cabelos em cascatas como ondas negras em suas costas. Rosto debruçado
sobre as mãos e lágrimas caindo por sua face e entre os dedos.

Vendo esta imagem, eu tive raiva, porque eu estava justamente como


aquela menina da pintura, sofrendo por um fodido de merda.

Eu seguiria em frente não importando se havia sido rejeitada pelo homem


que eu gostava.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Vesti-me com um vestido vermelho colado no corpo, um dos que Mary


comprou para mim, e resolvi ir ao shopping, e ai daquele traste se aparecesse
na minha frente, pois eu era capaz de atirar nele.

Liguei para Mary e Anabelle, e fiquei de encontrá-las lá. Não falei com
elas sobre o fim do meu relacionamento com o Nikolai, mas pretendia contar.

Meu celular tinha mais de mil chamadas não atendidas de ligação


internacional. Quem aquele imbecil achava que eu era? Ele me humilhava,
vai para Rússia conversar com Taby, que foi à sua procura e depois me ligava
como se eu fosse ficar ao seu dispor? Que ele vá para puta que o pariu!

Estava chegando ao shopping quando notei um carro preto me seguindo,


não dava para ver quem estava dentro, mas parecia estar atrás de mim. Peguei
uma rua para despistá-lo e mesmo assim o mesmo carro continuou a me
seguir.

Eu entrei no shopping, mas logo depois me arrependi já que era


subterrâneo. Fiquei ali no meu carro olhando uma picape preta estacionar não
muito longe de mim.

Do carro, saíram três caras, um deles era loiro de olhos... acho que azuis,
os outros mais morenos, embora eles se parecessem com russos, e confirmou
após alguns segundos quando falaram comigo no idioma:

— Nikolai mandou protegê-la — disse o de olhos azuis. Os três vestiam


ternos caros.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu franzi a testa e minha raiva subiu ao auge, então não me importei


quem ele fosse, só o que soube é que estavam ali a mando daquele filho da
puta. Fui até eles com meus punhos cerrados. Eu sei que estava sendo
imprudente e idiota, mas não liguei.

— Que porra dá a vocês o direito de me seguirem? — grunhi querendo


voar na cara deles. — Se estão a mando do fodido do Nikolai, diga a ele para
ir ao inferno e me deixar em paz.

O cara estreitou os olhos azuis e falou com o aço na voz:

— Veja como fala do chefe, sua atrevida! Eu estou aqui a mando dele; e
se fosse por mim, te mandaria com passagem só de ida para o inferno! —
sibilou ele mortalmente.

Eu não sei se era a raiva ou a adrenalina que me fez fazer o que fiz, ou
talvez estava só sendo estúpida mesmo, mas havia raiva demais em meu
sangue para não fazer o que pensava.

Comecei a gritar pedindo socorro e baguncei meus cabelos, amassei meu


vestido, estava querendo simular que eles queriam me levar à força.

Acredito que os deixei chocados com minha atitude, mas não liguei.

— Maldição, mulher! O que está fazendo? — sibilou o cara.

Eu não disse nada, apenas gritei mais alto para chamar a atenção dos
seguranças que logo apareceram armados. Eu corri na direção deles deixando
os homens de Nikolai de boca aberta, embora o de olhos verdes trincasse os
dentes, mas não dei a mínima.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

Os outros dois que estavam com ele, começaram a tirar as armas, quando
o de olhos azuis falou em russo:

— Ameacem machucá-la, e Nikolai vai acabar com vocês dois! — Esse


cara parecia contra o que Nikolai queria, ele parecia querer acabar comigo.

Uma parte de mim ficou feliz com Nikolai se importando comigo, não o
bastante para impedir que os policiais levassem esses homens da minha cola.

— O que foi, moça? — perguntou um segurança com a arma apontada


para os três homens de preto e mal-encarados.

— Esses homens querem me levar com eles, por favor, não deixem isso
acontecer — supliquei com tom puxado querendo chorar.

O segurança chamou mais dois colegas dele e levaram os três homens de


Nikolai para uma sala no shopping para interrogatório. Dei o meu
depoimento e logo fui embora dali. É claro que os três não iam ficar presos
por muito tempo, afinal de contas tinham câmeras no estacionamento que
poderiam comprovar que nenhum deles me fez nada, eu só queria dar uma
lição em Nikolai por mandar homens me vigiarem, sendo que o mesmo
sumiu para a Rússia após dizer que eu era apenas uma foda para ele.

Deixei de comprar roupas, mas avisei as meninas que eu ia para galeria


ver como andavam minhas obras em exposição. Eu sabia que havia passado
uma semana sem ir lá devido ao que Nikolai me fez, mas não deixaria meu
peito idiota doer, não, deixaria a raiva tomar conta, pois era melhor do que
chorar sozinha em casa tomando sorvete e correndo o risco de engordar.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Queria falar com Ray sobre o que ele fez, mas o mesmo estava na França
em um congresso. Assim que chegasse, eu perguntaria sobre o que fez e
sobre Nikolai mencionar que Ray me amava.

Cheguei à galeria Esplendors no centro. No trajeto, eu não vi nenhum


carro me seguindo, ainda bem. Não queria ninguém na minha cola, muito
menos homens de Nikolai. Quem ele pensa que é? Vai embora para a Rússia
após dizer que todos os momentos que passamos juntos não foram nada, e
agora mandava homens atrás de mim?

— Que se exploda, Nikolai! — rosnei alto com meus punhos fechados


assim que entrei na galeria.

— Liguei para você Samira, para dizer que suas obras foram vendidas
para uma única pessoa — disse Divã, o gerente da galeria chegando até mim.
Ele era um senhor de meia-idade, gente fina.

Pisquei chocada e eufórica de felicidade com isso, mas logo depois um


pensamento me veio à tona, precisava saber, porque se minhas conjecturas
comprovassem, eu mataria alguém hoje.

— Quem? — sondei curiosa e com meu coração tremendo pensando ser o


Nikolai.

— Um homem refinado que sabe apreciar uma arte, Matteo Salvatore...

Acho que parei de ouvir no momento em que ele disse o nome do meu
irmão, tanto que esqueci até de Nikolai. Torci para que ninguém me achasse,
mas vi que não tinha como me esconder da máfia. Meu pior pesadelo

PERIGOSAS
PERIGOSAS

aconteceu, eles teriam conhecimento de que eu estava vivendo naquele lugar,


o pior, logo viriam à minha procura e me levariam com eles.

— Matteo Salvatore deixou um bilhete para você, ou melhor, para a dona


das obras — continuou ele, não notando minha reação a esse nome.

Eu pisquei recebendo o bilhete do meu irmão, nem vi a hora que o senhor


saiu para buscar o papel ou talvez estivesse com ele. Abri e li:

Lily,

Você não sabe o quanto sofri pensando que estivesse morta, mas, graças
a Deus, descobri que está viva. Olhando para essas telas, eu vejo o que
pensa do nosso mundo e do que passou nele. Prometo que vou mantê-la
segura, não deixarei que ninguém saiba que está viva, assim não precisará
voltar ao nosso mundo.

Sinto sua falta e espero que um dia eu possa reencontrá-la pessoalmente


para dizer tudo o que não pude dizer durante todos esses anos, após Giulia
mencionar que você estava morta. Ela disse que havia sido os Dragons que a
mataram e por isso papai os matou, mas no final você está viva e bem.

Te amo para sempre, minha irmã.

MS

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Acho que meu coração parou de bater devido a bomba nuclear que acabei
de saber.

Agora entendia o grande segredo que Nasx não quis dizer no clube do
MCs em Nova York. Lembro de ele ter mencionado que os Salvatore tinham
feito algo contra os Dragons, que se Nikolai soubesse iria acabar com toda a
raça da minha família.

Oh, Deus! O que eu faria? Por que papai fez isso? Por que Giulia não
disse a eles que eu estava viva, e que foi ela que me abandonou, além disso,
ameaçou minha mãe adotiva para que a mesma cuidasse de mim? Não
entendia o motivo de ela ter deixado meu pai matar os pais de Nikolai sendo
que eles não tinham nada a ver com meu sumiço.

Quando soube que Taby era irmã dele, eu pesquisei sobre o que houve
com Nikolai, já que o mesmo não quis me dizer que ele era adotado e que era
irmão da Taby, e filho de Sebastian Ruiz. Então, eu soube que ele realmente
havia sido adotado pelos Dragons, e que Nick os adorava. Agora, eu descubro
isso? Que foi meu pai que matou os pais dele?

Eu nem vi a hora que cheguei em casa, também não notei que não estava
sozinha até ver um vulto na minha sala, e vozes da gravação do shopping
passando no meu notebook e um Nikolai sentado no sofá assistindo-me
bagunçar meus cabelos e gritar chamando por socorro.

— Não achei que fosse uma ótima atriz até ouvir o que fez e ver
pessoalmente essas imagens — falou assistindo-as, mas seu tom foi de
crítica.

Ofeguei de susto e também por saber um segredo que não podia contar a
PERIGOSAS
PERIGOSAS

ele, não, se não quisesse que toda a minha família pagasse o preço. Não
importa se eu não estava lá, eles sempre seriam meus parentes e eu sempre os
protegeria. Até mesmo Giulia que deixou esse desastre acontecer e não fez
nada para impedir.

Joguei esse segredo no fundo da minha mente, não só para salvar minha
família, como para proteger Nikolai, porque se houvesse uma guerra entre
máfias, as duas iriam sair bem destruídas, e eu não queria que isso
acontecesse de forma alguma com nenhum deles nem mesmo com Nikolai
que brincou comigo. Imagina se ele soubesse quem eu era?

— Que maldição faz na minha casa? Como entrou aqui? Aliás, como
você tem as minhas chaves? — rosnei com raiva indo abrir minha porta de
novo. — Vai embora e não volte mais.

O desgraçado nem olhou para mim. Agiu como se eu nem falasse nada.
Isso me deu mais raiva e nem vi a hora que voei em cima dele com meus
punhos cerrados, mas o cara tinha bons reflexos, porque segurou meu braço e
me rodopiou me deitando no sofá pairando em cima de mim, prendendo as
minhas mãos para cima e sentando em meus quadris.

— Seu filho da puta! Eu quero que vá embora agora, ou eu juro que vou
gritar até os vizinhos chamarem a polícia e prendê-lo assim como os fodidos
dos seus homens — rosnei querendo me soltar, mas ele era bem forte.

— Você acha que isso é brincadeira? Sabe a fúria que Alexei vai estar
assim que nossos advogados o tirarem da cadeia pela acusação de sequestro?
E você por falso testemunho? Então me diga, Samira, por que fez aquilo com
eles?

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Por que mandou eles me seguirem? Aliás, por que está aqui mesmo?
— grunhi mostrando os dentes a ele com raiva.

Ele estreitou os olhos.

— Você está furiosa. Tem a ver com as palavras que eu disse quando fui
embora? — Não era uma pergunta e sim afirmação. — Eu tentei ligar, mas
você não aceitou nenhuma das minhas ligações.

— Palavras? Não, aquilo foi a realidade jogada na minha cara. Eu sabia


que esse dia logo chegaria, então agora pegue suas coisas que estão no fundo
da lixeira e suma da minha vida de uma vez por todas, seu desgraçado! —
gritei querendo esmurrá-lo.

— Maldição, Samira! Quer parar de falar e me ouvir? — rosnou.

— Eu não quero ouvir! Eu quero que você suma da minha frente. Saia de
cima de mim, seu fodido de merda! — sibilei.

— Porra! Eu só disse aquelas palavras para protegê-la... — Eu o cortei.

— Me proteger daquela forma? Me humilhando? Me fazendo sentir como


um lixo?

Ele se encolheu com minhas palavras, mas logo voltou a ficar sério.

— Melhor humilhada do que morta. Se alguém descobrir que tenho um


ponto fraco, um calcanhar de Aquiles, além dos meus irmãos, você estaria em
perigo e eu teria que deixar não somente um segurança com você, mas sim

PERIGOSAS
PERIGOSAS

três ou quatro. — Ele suspirou. — No meu mundo, a mulher de um chefe é


considerada um alvo fraco para nos derrubar, e você é este alvo, caso alguém
descubra o que significa para mim.

— Então você me disse aquilo para eu me afastar de você? — sondei


chocada e parando de lutar. — Não entendo. Então, por que voltou já que
ninguém pode saber que você tem uma amante?

Ele respirou fundo.

— Amante? Você nunca foi uma amante para mim, Samira. Eu só não
consegui ficar longe de você. Mandei Alexei e seus homens para saber como
você estava e se estava segura, mas então você os viu e fez isso. — Ele olhou
para o vídeo. — Meu irmão está uma fera.

— Seu irmão é aquele de olhos azuis? Definitivamente acho que estou


morta — murmurei comigo mesma pensando na fúria do homem antes
mesmo que armasse para ele.

Ele riu beijando meu rosto.

— Alexei não vai tocá-la...

— Eu não vou? — disse Alexei entrando na casa. — Sabe o que tive que
aturar na delegacia? Quantas horas eu tive que ficar lá... sua...

Nikolai saiu de cima de mim e fuzilou o irmão com os olhos mortais.

— Cuidado! — avisou Nikolai.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu pisquei e me levantei também.

— Acha que tenho medo de você? — Fui dar um passo até ele, mas
Nikolai segurou meu braço. Embora fosse injusto da minha parte fazer o que
fiz, mas estava com raiva demais na hora. E também ia pedir desculpas, mas
agora não mais, não com seu jeito petulante.

— Pode me deixar a sós com meu irmão? — falou para nos impedir de
atacarmos um ao outro.

Suspirei, mas assenti. Estava esgotada demais com tudo que descobri,
tanto de Matteo quanto de Nikolai. Passei a semana inteira com raiva dele
para agora descobrir que o mesmo fez aquilo para me deixar salva dos
inimigos dele, que com certeza não eram poucos. Homens como ele possuíam
muitos desafetos.

Meu coração estava martelando nas costelas, devo dizer que fiquei
balançada por saber que ele gostava de mim, e que só me afastou para minha
proteção.

Eu tirei minhas roupas e fui tomar banho pensando no que eu deveria


fazer sobre o que meu pai fez. Eu seria capaz de fazer uma carnificina
somente para não me sentir culpada em relação a Nikolai? Como poderia
olhar nos olhos dele e ficar calada sabendo o que meu pai fez?

Se eu contasse ao Nikolai o que sei era capaz de ele me odiar para


sempre, embora mesmo com dor, eu contaria caso essa descoberta não
levasse todos os meus familiares à morte. Todos eram inocentes e não
mereciam serem mortos pelo que papai fez pensando que eu estava morta.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

A guerra que tanto Dominic quanto Nasx temiam ia acontecer entre os


Dragons e os Salvatore. Eu não podia deixar isso acontecer de forma alguma.

Eu o senti atrás de mim enquanto estava debaixo do chuveiro.

— Linda! — exclamou com fervor na voz.

Eu levantei os olhos para ele e contemplei a bela vista dele nu com toda
sua glória dura e exposta para mim saindo pré-gozo. Fui até Nikolai e o beijei
me rendendo e não querendo pensar em nada que não fosse apenas nós dois
ali naquele momento.

— Nikolai, você ficou... — Minha voz falhou com medo de ouvir a


resposta dele.

— Com outra mulher? — Terminou beijando meu pescoço e alisando a


língua em minha orelha, mas senti no seu tom que ele estava se divertindo. —
Não teve ninguém, coelhinha, só você. E vai continuar sendo.

— Que bom. Promete que não vai mais me magoar? Se quiser me afastar
basta dizer que acabou, e que não me quer...

— Isso não vai acontecer — jurou na minha pele. — Estou fascinado e


viciado em você. Acabo com todos os obstáculos que surgir na minha frente.

Levantei minhas pernas e trancei sua cintura sentindo-o entrar em mim,


me preencher com ardor e fome. Estávamos famintos um pelo outro, tanto
que minhas unhas pegavam sua pele fazendo-o estremecer, mas o desejo era
tanto que me deixava eufórica querendo muito mais.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Estava com saudade de sentir seu cheiro, seus beijos e ter você para
mim de novo — falou mordiscando meus lábios enquanto bombeava mais
dentro de mim, me levando ao limite.

— Eu também, Nikolai — gemi, tamanho era o prazer que bateu na porta


me fazendo ver um milhão de estrelas brilhantes.

— Estou perdoado? — Ele beijou meu nariz após um segundo


estabilizando nossa respiração ofegante.

— Estou pensando nisso — brinquei. — Vamos ver quantas rodadas você


consegue esta noite.

Ele sorriu. Tão lindo que eu só pude ficar olhando maravilhada com
tamanha beleza, e que essa pessoa era minha.

— Oh, eu vou mostrar minhas proezas a você, minha bela coelhinha. —


Ele saiu de mim e fomos nos lavar. — Acho que não estou mostrando o
suficiente de meus quesitos, não é?

Eu dei de ombros num gesto de que ele não estava realmente fazendo,
mas, porra, se esse homem ficasse melhor do que já era na cama, eu andaria
torta por semanas, mas não ligaria.

Eu só queria viver este momento, e não pensar no que poderia acontecer


caso o meu segredo viesse à tona.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Dois meses depois...

Todo esse tempo saindo com Nikolai eu não tinha ido para Moscou, na
sua casa. Na verdade, estava mais para uma mansão. Com três andares e
repleta de vidros que iluminavam o ambiente deixando o lugar alegre. O
portão era de ferro grosso e com homens o vigiando, armados e atentos a tudo
a sua volta.

Durante esses meses, Nikolai vinha me chamando para morar com ele ali,
mas sempre tive dúvida, não em relação a ele claro, pois eu era louca por ele,
mas eu teria que deixar tudo que construí na América para trás, e viver
naquela vida de mafioso novamente. Só de pensar nisso, eu tremia por dentro,
porque isso era algo que eu não queria mais. Voltar para aquela vida na
máfia.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Entretanto, por Nikolai, eu era capaz de deixar tudo, até os meus sonhos.
Cinco meses e eu já não podia viver sem ele de forma alguma. Quem diria
que eu estaria indo viver uma vida que odiava na máfia só por amor? E que
Nikolai finalmente conseguisse o que queria? O inevitável aconteceu, eu me
apaixonei por ele de forma irrevogável e acreditava que não teria mais volta.

Ontem, quando eu disse que vinha na sua casa, porque precisava contar
uma novidade a ele, eu senti sua voz estranha como se não estivesse se
importando comigo indo lá ou não. Mas devo ter me enganado. Porque
quando nos tocávamos e nos amávamos em nossa cama, eu sentia que ele me
queria tanto quanto eu, afinal de contas, ele não me pediria para viver com ele
se não me amasse também.

Todos esses meses em que estávamos juntos foram maravilhosos, mas


nenhuma vez ele disse que me amava assim como eu o amava. Embora eu
também não tivesse dito, eu não queria ser a primeira a dizer isso, esperava
que fosse ele o primeiro. Mas eu pensava em dizer a ele hoje junto com a
notícia de que estava grávida.

Depois de vê-lo, eu esperava ir à cidade onde fui criada para visitar minha
irmã Lúcia. Eu sei que tinha algumas lembranças ruins de Moscou, porque
foi ali que minha mãe Giulia me deixou, mas isso não tirava a alegria de estar
com Nikolai.

A felicidade de contar sobre o nosso bebê era tanta que não ligava para as
lembranças. Esperava que ele ficasse feliz com esta notícia assim como eu
fiquei. Estava um pouco nervosa porque, quando ficamos juntos a primeira
vez, o seu irmão idiota deixou os comprimidos para eu tomar caso ficasse
grávida já que Nikolai e eu não usamos proteção.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Com tudo o que aconteceu com Nikolai, eu nem me lembrei de tomar a


pílula, mas não cheguei a ficar grávida daquela vez, já que estava de dois
meses. Devo dizer que não queria filhos, mas agora, ao saber que tinha uma
vida dentro de mim, fez com que eu me sentisse culpada por não querer
antes.

Mas Nikolai disse que se eu engravidasse nós dois estaríamos juntos para
criá-lo, aliás, o mesmo insistia para eu engravidar. Era eu que pensava que
não estava pronta para ser mãe, mas nosso bebezinho já estava em meu
ventre e quando Nikolai visse o ultrassom iria amá-lo.

Eu não conhecia nenhum dos homens armados, sempre que Nikolai ia na


minha casa ele estava sozinho e nunca acompanhado de seus capangas. Acho
que confiava demais no seu poder, afinal de contas, ele irradiava isso a
distância.

Eles me deixaram passar, cientes de que Nikolai deixou avisado sobre eu


estar chegando, assim pensei. Um homem loiro me levou até a mansão. Eu
não fiquei babando sobre a mobília francesa e luxuosa, pois estava
acostumada a ver isso na casa de Giulia antes de ela me abandonar.

Era manhã ali na Rússia, assim eu pegaria Nikolai na cama onde


poderíamos comemorar sobre nosso bebê. Embora, quando eu pensava nisso,
esperava pegá-lo sozinho e não com uma loira dormindo ao seu lado.

Assim que entrei e os vi juntos, a dor que senti foi tão forte que fiquei
sem respirar por alguns segundos, enquanto presenciava aquela cena diante
dos meus olhos. Porque o vendo com aquela mulher, eu pude perceber que

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Nikolai não cumpriu a promessa de não ficar com ninguém como me


prometeu.

Eu quase ri, mas o que podia esperar dele? O chefe da máfia vivia
cercado de mulheres lindas. Um homem cercado de tudo que era proibido,
quando que ia se firmar comigo? Por isso ele nunca disse que me amava,
porque não sentia de fato isso por mim. Nunca sentiu.

Ele se remexeu na cama e apertou seu braço direito, que estava sobre a
garota, dormindo ainda, e a beijou na testa.

— Bom dia, linda. — Sua voz estava rouca pelo sono ou desejo, eu não
sabia. A menina não se mexeu, então devia estar dormindo ainda.

Ele fazia o mesmo comigo sempre que dormíamos juntos e logo fazíamos
amor. Eu amava esse lado amoroso dele. Mas, pelo visto, ele mentiu sobre
isso também, porque ele disse que não tratava as mulheres assim após o sexo,
aliás, o mesmo falou que nem dormia com elas. Eu tonta, acreditei e fiquei
feliz por saber que eu era única.

Ofeguei, acho que foi alto, porque ele sentou na cama e me olhou parada
perto da porta, em choque.

— Oh, coelhinha! Chegou para a festa. Quer se juntar a nós? —


perguntou ele, sorrindo.

A loira linda sentou na cama e segurou o lençol para se cobrir, com


certeza estava nua. Ela me olhava com uma pontada de raiva e tristeza, não
entendi.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu não respondi devido ao choque. Não conseguia formular uma palavra


concreta.

— Não vai dizer nada? Só vai ficar aí olhando para mim como se eu
tivesse traído você?

Eu suspirei, mas doeu.

— Você mentiu... — Consegui dizer segurando o choro, eu não ia fazer


isso na frente dele.

Ele arqueou as sobrancelhas.

— Sobre o quê? Seja específica. — Seu tom era frio e zombeteiro.

— Você disse que, enquanto estivesse comigo, não ficaria com outras
mulheres. — Minha voz era só um sussurro.

Ele riu sem se importar com o que eu estava sentindo.

— Oh, sim, sobre isso. Veja bem, coelhinha, eu vou contar uma história a
você, mas acredito que já saiba. Quando eu era bebê fui adotado pelos
Dragons, eles me amavam até serem assassinados pelos malditos Salvatore.
— Seu olhar era frio. — Aquele desgraçado do Lorenzo os matou, porque
achou que eles tinham matado a filha dele. — Ele levantou um papel, o
mesmo que Matteo me enviou. — Mas você sabia disso, não é? E não me
contou.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Acredito que faltou ar nos meus pulmões. Então ele havia encontrado o
papel onde estava escrito que meu pai matou os seus por pensar que eu estava
morta? Então, por que ele não me disse nada sobre isso? Ao invés disso me
deixou vir até aqui para presenciá-lo com outra.

Ele continuou, porque eu não conseguia falar nada, não com o que
descobri.

— Lorenzo, pensa que matamos e estupramos a Dalila, ou seja, você, e


para se vingar, ele matou meus pais. — Suas mãos estavam em punho. Era
possível ver que os nós dos dedos se destacavam ao se levantar dando um
passo até mim.

Eu me afastei sentindo medo dele. Nunca imaginei que sentiria isso por
Nikolai, mesmo sabendo do que ele já fez e fazia nessa vida de submundo.
Esse diante de mim era vingativo, e não o homem que eu amava e que tinha
me salvado da máfia russa uma vez.

— Acredita que Lorenzo Salvatore fez uma seita para se vingar usando
garotas inocentes? — Ele me avaliava com raiva. Raiva era pouco e sim,
ódio.

Ele tinha razão quanto a eu ser filha de um chefe da máfia. Já era para eu
ter falado sobre isso com ele, mas tive medo de Lorenzo descobrir sobre mim
e o matar. Fiz isso para protegê-lo.

— Seita? — Parecia ter algo entalado em minha garganta.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Ele estreitou os olhos diante do meu tom neutro, embora fosse muito
difícil me controlar, porque algo em mim dizia que eu não ia gostar do que
ele tinha a dizer sobre meu pai.

— Ele começou a sequestrar crianças de seus pais e as manteve presas e


virgens até que completassem dezenove anos, para depois entregá-las aos
homens para que as estuprassem antes de matá-las. — Sua voz era dura como
ferro. — Os MCs da Fênix derrubaram o antro de perdição, mas não
mudaram o que Lorenzo fez com essas garotas e com meus pais.

O solavanco que deu em meu coração foi alto que dava para ouvir do
outro lado da cidade. Porque eu custava a acreditar que o homem que um dia
amei fazia essas coisas, embora soubesse que na máfia não existia bondade,
mas isso?

Oh, Deus! É mais do que desumano. Como ele pôde fazer isso com
crianças só por algo que eu disse? Lembro-me de dizer a ele para não me
deixar casar nova e sim com dezenove anos, ou se caso eu casasse se ele
podia fazer o meu futuro marido me deixar virgem até lá. Porque eu não
pretendia ficar lá quando fosse adulta e sim fugiria. Mas ele fez essa
abominação só porque eu disse isso? Então era minha culpa o que houve com
essas meninas? Ele é um monstro!

— Sim, ele é um monstro — respondeu ele.

Eu não sabia que tinha dito esse final em voz alta. Eu fitei seus olhos
azuis, mas tão escuros e distantes como um abismo.

— Você sabe quem eu sou desde quando? Antes do bilhete ou depois? —


Eu precisava saber, porque uma suspeita terrível me veio e tudo dentro de
PERIGOSAS
PERIGOSAS

mim gelou temendo pelo pior.

— Quando eu soube que você estava viva e que tinha outro nome, eu fui
para Trenton te observar e fazê-la se apaixonar por mim...

— Então se aproximou de mim por uma maldita vingança? — Minha voz


falhou.

— Sim, eu sabia que passava todos os dias àquela hora, e fiquei lá para
que pudesse me ver e se interessar por mim... eu ia fazer meus avanços, mas
você veio até mim — falou me olhando. — Você sabia quem era e não disse
nada para mim, não me falou que você era uma maldita Salvatore! — rosnou.
— Eu perguntava direto se tinha algo para me dizer, pois esperava que
abrisse o jogo, mas nunca fez. Esperava que me contasse sobre o bilhete do
seu irmão, mas mesmo assim não fez.

— Você sabia sobre mim e do que Lorenzo fez e não me contou nada. E
agora vem me acusar de não dizer nada? — sibilei com raiva e dor, um
sentimento nada bom. — Você viajou um maldito oceano para se vingar de
mim, ao invés de ir lá e acabar com ele. Ao invés disso veio em cima de
mim?

— Se a puta de sua mãe não tivesse dado você a outra família, os meus
pais estariam vivos! — gritou com raiva e dor na voz, e também ódio e não
era pouco.

— Lamento pelo que houve com seus pais, mas eu não tive culpa. Você
não tinha o direito de se aproximar de mim e me fazer amá-lo para depois
fazer isso. — Gesticulei para a garota ainda na cama, mas calada. — Você

PERIGOSAS
PERIGOSAS

me fez desistir dos meus sonhos e tudo para quê? Por uma droga de
vingança?

— Você precisava sofrer igual eu sofri. Sabe o sacrifício que foi ficar
com você? Dormir e transar com a filha do homem que matou meus pais?
Nem com todas as mulheres depois de você, eu conseguia fazer sumir seu
toque repugnante e poluído — sibilou entredentes. — Não sabe a repulsa que
tive ao tocá-la. A raiva e ódio de vê-la todos os dias e não a matar.

Eu dei um passo para trás como se ele tivesse me batido no rosto, doeria
menos do que essas palavras que ficarão gravadas no meu cérebro para
sempre. Isso explicava ele transar comigo, um homem elegante e cercado de
tudo. Quando iria olhar para mim sem ter segundas intenções? Ele jamais iria
se apaixonar por alguém como eu, uma simples estudante e filha do assassino
de seus pais.

Eu sabia que as lágrimas estavam pelo meu rosto, descendo por minha
bochecha. Não consegui segurá-las para esconder a dor dele, estava visível
em meus olhos. Eu me virei e saí correndo.

Nunca fui tão destruída como estava naquele momento. Assim que passei
pela sala Alexei entrou com duas mulheres, uma em cada lado dele.

— Trouxe mais duas mulheres para a nossa festa — disse ele ao Nikolai,
que me seguiu.

Eu percebi que estava prestes a vomitar com toda aquela maldita orgia.

— Coelhinha...

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu parei na porta e olhei para ele perto da escada sem camisa e short, mas
não reparei, porque tudo em mim morreu, e foi ele que me matou.

— Nunca mais me chame assim, porque isso saindo de sua boca me dá


nojo! — rosnei. — Quando te conheci, eu achei que era o cara certo para
ficar, mas me enganei... Porque você não era o cara certo para mim, e nunca
será. — Eu ri com amargura. — Era bom demais para ser verdade. Como um
cara como você iria se aproximar de alguém como eu sem ter segundas
intenções?

— Eu...

Cortei furiosa.

— Cale a sua maldita boca! — esbravejei não me importando com seus


homens que podiam ver ali perto. — Você já me matou hoje ao dizer aquelas
palavras, mais do que você sair fodendo por aí. Eu vou sair por essa porta e
você nunca mais vai me ver. Eu não quero saber que você existe nesse mundo
e nem dessa escória da máfia Salvatore. Que todos vão para o inferno! — Eu
o fitei de cima, não abaixaria a cabeça agora. — Até você. Não queria que eu
o odiasse? Pois conseguiu, porque, a partir de hoje, você está morto para
mim.

Eu expirei e continuei:

— Eu não contei nada sobre quem eu era a você para protegê-lo deles, e
não por medo de perdê-lo ao descobrir sobre quem eu sou. Porque, quando
eles descobrissem sobre mim, não ia existir mais nós dois, eles teriam meu

PERIGOSAS
PERIGOSAS

destino selado e da máfia só saímos mortos. Mas já que quer mesmo


vingança, diga a eles quem eu sou, assim me obrigarão a casar e a viver com
eles, mas saiba que antes disso acontecer, eu prefiro morrer.

Eu corri porta afora sem saber como eu ia embora, porque tinha vindo de
táxi e o havia dispensado pensando que ficaria o fim de semana com... Como
fui estúpida por confiar naquele cretino desgraçado!

A única coisa que queria agora era sumir, desaparecer do mapa, mas
mesmo com isso, a dor nunca iria embora. Oh, Deus! Uma maldita vingança!
Suas palavras ainda estavam entranhadas em meu cérebro, consumindo-o.

— Seja forte pelo seu filho — falei a mim mesma. Eu avistei um carro
que, para a minha sorte, a chave estava nele. Liguei e parti não ligando para
saber de quem era, só pisei no acelerador. O portão se abriu para eu sair com
o carro. Acho que eles pensaram que era o dono do carro, mas não dei
importância. Assim que saí pisei no acelerador querendo ficar o mais longe
dali.

Eu estava pensando em ir visitar minha irmã. Agora, depois do que


aconteceu comigo, não sabia o que fazer da minha vida. Eu saí da faculdade e
do meu emprego, tudo por um sonho estúpido para viver com ele.

Estava tão distante e com lágrimas nos olhos que não vi que estava sendo
seguida, só quando as balas soaram contra a lataria do carro. Fiquei feliz pelo
carro ser à prova de balas ou eu já era.

“Oh, Deus! Será que ele resolveu me matar agora? Já não foi o suficiente
me machucar, enfiar as mãos em meu coração e esmagá-lo? Pelo visto não”,
pensei amarga. Eu segurei e tranquei minha dor, pois estava com mais medo
PERIGOSAS
PERIGOSAS

desses caras atrás de mim querendo me matar. Por quê? Não fazia ideia.

Talvez fosse o pessoal do Nikolai ou até do Lorenzo. Senhor, como eu


pude chamar aquele homem de pai? Como ele pôde fazer aquilo com aquelas
meninas? Sequestrá-las e mantê-las longe de seus pais? O pior de tudo era ele
ainda as entregá-las aos seus homens, matando-as depois. Isso é desumano!
Ele se tornou um maldito pedófilo.

Eu acelerei mais o carro para fugir desses caras, mas eles eram bons, devo
admitir. Não podia deixar nenhum deles me pegarem, precisava arranjar um
jeito de sair dessa pelo meu filho. Ele era a única coisa que me faria ter forças
para seguir em frente após essa queda que tive na minha vida.

Um telefone tocou, e não era o meu, mas não estava solto e sim enfiado
no painel do carro luxuoso. Eu já tinha visto esse modelo de carro antes, nas
revistas, Koenigsegg2, acho que se chama assim. Quem fosse o dono devia
estar surtando por eu ter pegado o veículo, mas não liguei.

— Coelhinha? Responde. — Sua voz saiu rouca do telefone assim que


apertei o botão verde. — Você está grávida de mim?

Teve um tempo que eu gostava de ele me chamar assim, mas naquele


momento apenas parecia que ele estava arrancando mais o meu coração.

Eu me amaldiçoei por dentro, devia ter deixado o exame da


ultrassonografia cair ao sair correndo de lá.

— Não se preocupe, pois ele não é seu! Pode ficar tranquilo que não vou
atrás de pensão, eu não quero seu maldito dinheiro! — rosnei.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Ele suspirou.

— Traga o carro e vamos conversar, Samira.

— Conversar? — Tiros foram soados novamente me fazendo estremecer.


— Não temos mais nada a dizer. Como eu disse, esse filho não é seu! Porque
pai não é quem faz e sim quem cuida...

— Samira pare de falar. — Seu tom parecia assustado e sua voz tremeu.
— Isso é tiro?

Eu ri amarga, e olhei para o retrovisor vendo-os querendo chegar até


mim, ainda bem que o carro em que eu estava era veloz. Agora eles estavam
tentando atirar no pneu do carro.

— Como se você não soubesse que eles são seus homens, seu
desgraçado! Por que não me matou enquanto eu estava aí? Se queria se
vingar tanto assim devia ter puxado o gatilho você mesmo...

— Pare de falar e ouve...

Cortei gritando:

— Não vou ouvir nada! Vá para o inferno, aliás, todos vocês! Eu vou sair
dessa e juro por Deus que não quero ouvir falar de você de novo.

— Só cale a boca um segundo e ouve. — Sua voz saiu exasperada.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Não me mande calar a boca! — rosnei. E já ia desligar, mas o aparelho


que parecia um celular não tinha botão vermelho para desligar. — Como
desliga essa maldita coisa?

— Aperta o botão azul, e se você estragar meu carro, eu mesmo mato


você. — A voz de Alexei soou como uma ameaça mortal.

— Alexei, cale a boca — ordenou com um tom que não deixava


discussão.

— Você é que precisa calar a maldita boca e me deixar em paz — sibilei


chorando tanto de dor como de raiva. — Maldição! De todas as formas que
pensei que morreria, de tiros e acidente de carro não eram uma delas.

— O que está acontecendo? — perguntou Alexei, com certeza


preocupado com o carro dele, e não com minha vida. Acho que, sem dúvida,
ele queria era que eu morresse. Agora entendia seu ódio em relação a mim,
pois eu era a filha do homem que matou seus pais.

— Estão atirando nos pneus, acho que para fazer o carro capotar comigo.
— Minha voz tremeu e acelerei mais.

— Aperta o botão azul perto do volante. É uma proteção que fiz no caso
de isso acontecer comigo. Se eu tivesse aí, eu mataria esses desgraçados! —
disse Alexei.

— Oh, oh, oh, mas que porra! — gritei olhando para a barricada de carros
que estava diante de mim cercando a rua.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— O que foi, Samira? — perguntou Nikolai com a voz tremendo. — O


que aconteceu? Estamos seguindo o seu carro, logo vamos estar aí.

— Carros estão me cercando por frente e por trás. Eu estou cercada —


sussurrei. — Prefiro ser pega a ver você de novo! — rosnei.

— Esses homens a matariam sem perder uma noite de sono...

Eu o cortei furiosa:

— E você não? Quer saber? Eu não vou morrer aqui, não antes de sumir
da Rússia. — Olhei para o lado e vi as árvores onde cabia o carro, então virei
de uma vez quase capotando o carro, mas o firmei e entrei na mata desviando
das árvores. Os carros pararam na estrada e todos me seguiram a pé com as
armas. Bom, eu estava no carro e correndo o risco tanto de ser morta a tiros
como também peitando nas árvores na minha frente. Com certeza foi por isso
que eles vieram a pé.

— Samira? Me diz o que houve. — Ouvi impotência em seu tom de voz.

— Entrei na mata, oh, merda! Tem o mar à frente e eles ainda estão atrás
de mim. — Minha voz tremeu. Isso explicava o fato de eles terem vindo a pé.
Eu estava cercada. — Você devia ter atirado em mim na sua casa, assim eu
não morreria dessa maneira agora. — Quando ficava nervosa e com medo, eu
falava demais.

— Estamos a alguns minutos daí. — Sua voz soou urgente e preocupada.

Devia estar ouvindo coisa, porque ele me odiava e desejava que eu


morresse, então é isso que eu iria fazer.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— É isso! — gritei animada com uma ideia que tive.

— O que aconteceu para estar animada sendo que está sendo seguida?
— retrucou Alexei.

Eu não respondi até parar o carro na beira no penhasco imenso do oceano.


Eu abri a porta para sair, mas precisava dizer algo.

— Lamento pelo que vai acontecer com seu carro, Alexei, mas agora
estou sem opção — falei a ele.

— O que vai fazer, Samira? — indagou Nikolai com terror na voz.

— Não estraga o meu carro, porra!

Eu suspirei. Devia forjar minha morte agora, seria uma boa hora para
isso, mas não seria cruel a esse ponto com Nikolai, por mais que ele não
tivesse pensado em mim. Não o deixaria se sentindo culpado.

— Samira e Dalila vão morrer nesse momento, e uma nova pessoa vai
renascer longe de todos vocês. Malditos sejam os Dragons e malditos sejam
os Salvatore. Eu vou criar meu filho longe de todos vocês, eu vou ser sua mãe
e pai, e ele nunca vai saber suas origens e como ele foi concebido. — Eu
expirei. — Um dia você foi meu mundo inteiro, Nikolai, e ainda é, mas vou
fazer de tudo que puder para tirá-lo de dentro do meu peito e da minha alma.
Adeus!

— Coelhinha... — Desliguei a ligação. Começou a chamar de novo, mas


não liguei e puxei o câmbio do carro para fazê-lo ir para frente do penhasco
caindo com um estrondoso barulho ao explodir quando bateu nas rochas.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu me virei e corri para a esquerda dali para me esconder antes que os


bandidos aparecessem e descobrissem que eu não estava dentro do carro. Eu
continuei correndo e não olhei para trás, deixando tudo de mim.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu senti o meu estômago revirando por dentro e vozes não muito longe de
mim. Parecia que eu estava em uma onda gigante e tudo girava. Tentei me
lembrar do que houve, o carro no penhasco, a explosão, minha fuga, vários
navios no mar. Eu corri e me escondi em um deles.

Eu abri os olhos e me deparei com homens de olhos arregalados me


observando. Todos falando em russo. Eu entendia vagamente o que diziam:
Quem é ela? O que ela faz aqui? Ela é tão bonita!

Eu me sentei depressa e assustada, temendo que fossem bandidos. Percebi


que eu tinha dormido enquanto esperava e torcia para não ser pega tanto
pelos bandidos quanto por Nikolai. Não queria pensar nele agora, pois
precisava focar no meu filho e assim sobreviver.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Tinha uns três homens aparentando ter cinquenta ou sessenta anos; todos
estavam confusos por eu estar ali, ainda mais dormindo. Eu devia ter pensado
nos riscos de entrar em um navio, sozinha.

— Consegue entender o que eu falo? — sondei. — Alguém fala em


inglês?

Todos se entreolharam sem entender o que eu estava falando.

— Tudo bem — falei em russo, pois assim eu saberia se eles eram


pessoas boas ou não. Mas se fossem ruins, eu já estaria na pior. — Falarei em
russo, então assim vocês entenderão o que eu digo.

Todos sorriram e assentiram.

— Eu sou Bóris. Esses são meus amigos, Igor e Mikhail. Qual é o seu
nome?

— Natasha — respondi.

— Significa nascimento — disse Bóris.

Eu havia renascido depois de enterrar duas partes minhas. Agora viveria


somente a Natasha. A onda fez o navio balançar e meu estômago revirar. Eu
coloquei a mão na boca.

— Está enjoada pela onda? — sondou Igor. Ele estendeu a mão para mim
e ofereceu um comprimido. — Pode tomar. Mas já estamos quase em terra
firme. Eu sempre tomo, pois também tenho enjoos.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu me levantei meio tonta, mas firmei os pés e saí da cabine subindo para
o convés do navio e ver onde eu estava. Mas não tomei o remédio já que
estava grávida.

Eu não fiquei com medo desses homens, eles não eram criminosos e sim
pessoas bondosas. Eu agradeci aos céus em pensamento, só assim conseguiria
proteger a mim e ao meu filho. Eu sabia que estava grávida de poucos meses,
mas eu ia conseguir tê-lo, e educá-lo longe de tudo que era ruim. Ele nunca
saberia quem era seu pai.

Avistei o oceano gigantesco, mas com o frio que estava, eu me encolhi.


Vi a cidade não muito longe. Eu parecia estar em um navio de pesca ou algo
assim.

— Eu não acredito — falei surpresa e feliz, porque logo veria Lúcia,


minha irmã.

— O que foi? — sondou Bóris não entendendo o meu idioma.

— Minha irmã mora aqui. Ela é dona de uma floricultura chamada Lux,
no centro.

Ele sorriu.

— A conheço. É uma moça doce e meiga — comentou. — Você é irmã


dela? Que mundo pequeno! Você apareceu no meu navio vindo parar aqui.

O mundo é realmente pequeno, fugi de Nikolai e daqueles homens, e


acabei na cidade em que vivi uma grande parte da minha vida. Naryan-Mar,
minha cidade natal, onde foi minha casa por muitos anos.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— O que aconteceu com você para vir parar no nosso navio? —


perguntou Bóris. — Você dormiu por quase dois dias inteiros, e achei melhor
não a acordar. Mas Igor é médico, e disse que você estava bem, então não a
incomodei.

— Dois dias? — quase gritei, não me lembro de ter ficado tão esgotada
assim.

Depois da minha vida ter acabado, ou um pedaço dela, ser perseguida e


quase morta, eu fui parar em um navio onde apaguei. Também não era para
menos.

— Eu estava perdida e acabei no navio. Preciso ver minha irmã. — Eu


iria vê-la e iria embora da Rússia, porque um minuto a mais ali era uma
chance de Nikolai me encontrar. Embora eu duvidasse disso.

Estremeci com uma rajada de vento. O clima dali era bem diferente de
Jersey. Quando fui para a América, eu demorei um tempo para me acostumar
com o clima de lá, e desacostumar com o daqui.

Agradeci aos três senhores por me trazerem, até ofereci dinheiro, mas eles
não aceitaram. Depois fui para a loja na qual eu vivi com minha mãe em
todos os anos depois que ela me encontrou em Moscou.

A floricultura estava fechada, eu tinha a chave dela, mas não entrei, só


fiquei ali admirando as flores através da fachada de vidro da loja. Relembrei
dos momentos em que minha mãe ficava arrumando os arranjos. Seu sorriso
ao fazer isso, era o que eu mais amava. Sentia tanta falta dela que chegava a
doer.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Lembro que você sempre gostou de rosas vermelhas, até desenhou um


buquê e colocou em seu quarto — disse uma voz ao meu lado.

Meu coração deu um solavanco tão grande que pareceu que minha cabeça
ia explodir e logo tive uma tontura. Mas o cara me pegou impedindo que eu
caísse no chão.

— Você está bem? — perguntou Matteo me observando com os olhos


negros. — Está passando mal? — Sua voz soou preocupada no final. —
Precisa de algo?

Eu o fitei, por mais que o tempo tivesse se passado, eu o reconheceria em


qualquer lugar do mundo. Estava morta de saudades dele, mas precisava
saber se ele estava junto com Lorenzo ao fazer aquela crueldade com as
meninas raptadas. Esperava que não.

Por isso me afastei dos seus braços. Precisava saber quem ele era, se
ainda era o mesmo que um dia me amou e me protegeu contra todos, ou se
também havia se transformado em um monstro como Lorenzo.

Mas, pelo que ele me disse no bilhete, Matteo ia me proteger e não


deixaria ninguém saber onde eu estava vivendo. Será que meu irmão disse
algo para alguém? Era por isso que estava ali? Eu podia confiar nele?

Eu confiei no Nikolai e agora estava ali, despedaçada por ele de uma


forma que não sabia como me recuperar e seguir em frente.

— Estou bem, não se preocupe — falei vendo o garoto de treze anos, que
se transformou em um homem lindo. E, diga-se de passagem, o menino virou
um deus grego moreno.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

Ele franziu a testa.

— Tem certeza?

— Sim...

Ele riu baixinho.

— Lily, eu sei que se lembra de mim e não precisa fingir que sou um
estranho. Isso dói, sabia? Eu sonhei tanto que você ainda estivesse viva, para
pelo menos dizer que eu a amava uma última vez. — Ele meneou a cabeça de
lado. — Você não sabe como eu fiquei feliz por saber que estava viva.

Arfei ao ser chamada pelo meu nome de nascimento, pois parecia surreal
depois de tantos anos. Aquele era o apelido que ele gostava de me chamar
quando criança. Meu coração se apertou com a dor na voz dele.

— Matteo, o que faz aqui? Veio para me levar de volta? Por favor, não...
— Peguei sua mão e apertei em uma súplica.

— Então se lembra de mim? — Ele parecia magoado. — Como eu disse


no bilhete, não os deixarei saber de você se não quiser.

— Como me achou na galeria? Até onde eu me lembro, não me recordo


de você gostar de artes. Ficava grilado com minhas tintas espalhadas por
todos os lados — comentei, mas estava feliz por vê-lo ali.

— Grilado é uma palavra forte. Devo dizer que você era bagunceira. —
Sorriu com candura.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Bufei, pois ele não sabia o quanto eu havia me tornado organizada.

— Eu soube de você, porque vi uma foto sua com Nasx. Na mesma hora,
eu soube que você era minha irmã. Os anos não mudaram a sua bela
fisionomia. — Ele franziu a testa. — Então, por que não me procurou?
Pensávamos que estava morta...

— Morta? — Arfei, então era isso o que ela queria? — Giulia me


abandonou sozinha em Moscou. — Sentei-me em um banquinho em frente à
floricultura. Ele ficou de pé diante de mim.

— Espere, o quê? Mamãe fez isso, mas por quê? — Sua voz soou
sombria no final.

— Não sei, mas não quero vê-la nunca mais na minha vida. — Eu sentia
falta de Matteo, de Lorenzo antes de saber o que ele havia feito, mas não de
minha mãe. Não podia perdoá-la, após o que tinha feito comigo. — Por isso
não posso ir com você, eles não podem saber sobre mim. Sabe o que farão
quando souberem?

Ele suspirou, mas assentiu.

— Eu sei, mas muita coisa mudou desde então. — Ele pegou minha mão
e me puxou para seus braços. — Senti tanto a sua falta. Como eu disse, eu
sempre irei protegê-la.

Eu apertei os braços ao redor dele sentindo-me amada e protegida. Ele era


ainda mais lindo vestido com terno caro. Na verdade, vestir-se assim era uma
regra da máfia.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Eu também, mas tive que ficar no escuro ou nunca conseguiria ficar


livre de novo, entende? — Afastei-me e olhei para ele suplicante.

— Eu entendo Lily, mas depois nós falamos sobre isso. Agora vamos
embora daqui, porque os homens que tentaram matá-la estão vindo.
Precisamos pegar sua irmã e ir embora. — Sua voz soou urgente.

— Conhece aqueles caras? — sondei.

— São os Bravatas. Agora se chamam Trider, eles ficaram no lugar do


Andrey Jacov. Querem pegar você como arma contra o Nikolai. — Seu tom
era sombrio no final. — Agora vamos. Se eu achei você aqui, eles também
acharão.

— Mas eu não estou mais com ele. — Minha voz falhou.

— Para eles, isso não importa. — Ele pegou minha mão e me levou na
direção da minha casa, ou melhor, da minha mãe. Lúcia devia estar lá, já que
era hora de almoço.

— E como sabe que eu estive com o Nikolai?

— Vamos falar sobre isso depois — disse apressado. — Só vamos para


um lugar seguro.

Eu assenti e bati na porta da minha casa. Alguns minutos depois, ela


apareceu. Lúcia era loira, alta e linda, parecida com mamãe.

— Samira?

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Lúcia? Oh, Deus! — Corri até ela e a abracei forte não querendo
deixá-la por nenhum momento. — Estava tão preocupada com você.

— Estou bem. Mas por que estava preocupada comigo? O que está
acontecendo? — Ela olhou para Matteo. — É o namorado que você falou?

— Não. Esse é Matteo, meu irmão. — Ela e mamãe sabiam sobre meu
passado, pois contei a elas. Eu não achava justo fingir que não lembrava,
embora só há poucos anos que eu soube que Giulia havia ameaçado a mamãe
para que ela ficasse comigo.

— Ele é chefe da máfia italiana? — perguntou com a voz saindo duas


oitavas e depois abaixou. — Desculpe. Como se encontraram? Ele vai levá-la
embora?

— Vamos deixar para falar depois? Agora precisamos ir.

— Ir para onde? Samira, o que está acontecendo?

— Te conto no caminho. — Peguei-a pela mão e a levei para fora da casa.


— Têm alguns homens maus vindo atrás de mim, e eles com certeza sabem
que eu tenho uma irmã aqui. Podem usá-la contra mim.

Ela assentiu e me seguiu. Depois entramos no carro preto de Matteo.

— Precisamos pegar o Benny — falou ela.

— Não vai me dizer que namora ele? — Ela sempre foi apaixonada por
Benny, o garoto com quem estudamos juntos.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Ela sorriu.

— Sim. Já faz uns dois meses. Corre o risco de esses caras irem procurá-
lo?

— Não, pois eles querem as pessoas que significam algo para a sua irmã.
— Matteo suspirou. — Pode ficar tranquila, pois ele vai ficar bem.

— Então cadê o seu namorado? — sondou ela sentada no banco de trás


do meu lado enquanto Matteo dirigia.

Meu coração doeu ao pensar que até dois dias atrás, eu estava feliz. Agora
andava por aí com um buraco no peito.

— Acabou...

— O quê? Mas por quê? — perguntou ela.

— Nikolai Dragon é um tremendo de um filho da puta! — falou Matteo


olhando para meus olhos molhados.

— Está transando com o Nikolai Dragon? O Dark, chefe da máfia russa?


— O tom dela saiu alto de choque. Eu tinha dito a ela que estava namorando,
mas me referi como Nick, e não o que ele era. Não sabia bem a lei da máfia
dele, por isso não disse nada.

Eu me encolhi por dentro.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Sim, eu o amava. Mas ele se aproximou de mim por vingança contra


Lorenzo, que, por sua vez, matou seus pais... — Estremeci me lembrando de
suas palavras, que me mataram. — Por isso, eu fugi da casa dele e parei no
navio que vinha para cá, e aproveitei para vê-la.

— Você está falando que Dark sabia quem você era? Que é uma
Salvatore? — O tom mortal de Matteo saiu alto no carro.

Acredito que Nikolai podia correr o risco de ser morto caso ele estivesse
ali nesta hora.

— Sim, mas não vou falar sobre aquele desgraçado mentiroso — falei
tentando ter alguma compostura na voz, porque falar de Nikolai me matava a
cada segundo, ainda mais pensando em suas palavras. — Então você ajudou a
derrubar o que Lorenzo fez? Nikolai disse que foram os MCs.

— Sim, eu me aliei a eles e derrubamos tudo! Eu abomino esse tipo de


coisa. — Ele suspirou. — Tenho que voltar para os Estados Unidos. Se o
Nikolai sabe o que meu pai fez com os pais dele, então ele vai atacá-lo e
matá-lo.

— Por que se importa com um homem que é pior do que esses malditos
que estão atrás de nós? Ele devia estar morto e no inferno! — rosnei não me
importando com quem ele era.

Como um dia pude amá-lo? Aquele homem que era meu pai não era esse
monstro, aquele se foi há muito tempo. Morreu no dia em que Giulia me
deixou. Como uma mente distorcida faz isso? Ele se tornou um monstro, no
qual eu nunca mais queria vê-lo na minha vida. Giulia tinha parte sobre isso,
por não ter dito o que realmente fez.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Não me importo com ele, mas na máfia tem leis, e a proteção dele é
uma delas. Se eu tiver que fazer uma guerra contra os Dragons por causa
disso, então eu tenho que fazer, mesmo não querendo — ele disse. — Eu sou
o Capo e minha função é proteger o meu povo, independente do que ele fez
de ruim. Para eu poder matar Lorenzo, eu teria que provar que ele matou um
dos nossos, só assim a lei da proteção é retirada. Mas não descobri nada que
ele tenha feito.

Eu não gostava disso, porque Matteo podia matá-lo sendo que era
próximo a ele. Eu sei que era ruim pensar assim, mas homens como esse que
se dizia meu pai não poderiam existir. Mas eu não podia e não queria uma
guerra entre Nikolai e Matteo, tremia só de pensar nos dois sendo mortos.
Não importa o que Nikolai havia feito comigo, eu não queria a morte dele.

— Quando soube que eu estava vindo para a Rússia? Com certeza me


seguiu. Não veio aqui só por curiosidade, não é? — acusei-o.

— Não. Eu soube que estava vindo, então peguei o mesmo voo que você.
Consegue imaginar a surpresa que tive quando você foi para a casa do
Nikolai? — Ele trincou os dentes. — Mas logo você saiu descontrolada e
chorando de lá. Eu temi que tivesse acontecido algo com você, mas antes que
eu fosse ver o que era, você entrou no carro. Eu a segui e vi os caras da
Trider atirando em você.

— Atiraram? — indagou Lúcia que até agora estava calada só ouvindo.


— Oh, Deus! Graças a Deus que você está bem.

— Por que não entrou na luta, então? — perguntei imaginando que se ele
viu tudo, então poderia ter vindo me ajudar.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Os Trider são da pior espécie e estão querendo a cabeça de Nikolai.


Acho que eles sabem que Dark se importa com você, por isso foi tentar
capturá-la, mas eu matei alguns que estavam lá, assim que você foi para o
navio. Mas gostei do que fez com o carro, porque eles acharam que você
tinha se matado. — Ele sorriu. — Menina inteligente. Fico feliz com isso. Só
não entendo, por que não fingiu a sua morte para o Nikolai também?

— Não posso deixá-lo se sentir culpado com isso. Eu não tive coragem.
— Quem não devia estar feliz era Alexei pelo que fiz com o carro dele. —
Não quero criar meu filho dentro da máfia e olhar para ele pensando no que
fiz com Nikolai ao forjar minha morte. Por isso, eu não fiz isso com ele,
apenas para os bandidos. Mas, pelo visto, não adiantou já que mencionou que
eles estão vindo. Como descobriu que estou viva?

— Filho? Oh, meus Deus! Eu vou ser titia! — gritou Lúcia me abraçando.
— Não acredito que vai ter um filho de Nikolai. Sabia que ele é bem
conhecido aqui?

— Não duvido — disse e me afastei. — O filho é meu, e não daquele


cretino do Nikolai. Meu, e só eu vou amá-lo e educá-lo longe de máfia.

— Acredito que ele sabe que está viva, porque eu matei os que estavam
lá. Não pude me controlar os vendo vivos. — Ele sacudiu a cabeça com raiva.
— Quem nasce na máfia não tem como fugir dela, Lily, não importa aonde
você vai — disse Matteo com semblante triste. — Posso deixar você
escondida por um tempo, mas se alguém descobrir, eu não poderei fazer
nada, terei que levá-la comigo ou serei caçado e tirado do meu posto, e meu
tio toma meu lugar.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Aquele sádico? Ele é capaz de destruir a todos, não é? Porque acredito


que não mudou. — “Espero que ninguém saiba para o bem de todos”, pensei.

— O mesmo! Acredito que ainda mais sádico — falou ele com um


suspiro me olhando pelo retrovisor. — Nikolai sabe que terá um filho?

Eu expirei.

— Eu ia contar, mas peguei-o com uma mulher na cama... — Minha voz


falhou, mas me mantive controlada. — Embora ele já deva saber, porque
deixei cair o ultrassom que ia mostrar a ele quando fui visitá-lo. — Eu ri
amarga. — Como fui idiota por acreditar que um homem daquele iria me
amar. Com todo seu poder...

— Aquele desgraçado estava com outra mulher? — rosnou Matteo. — Eu


vou matá-lo. Então ele foi ao extremo. Fazê-la se apaixonar, engravidar e
trair. Tudo por uma vingança?

Isso porque não contei a nenhum deles que Nikolai me convenceu a


deixar tudo para vir morar com ele, só para acabar com meu futuro e me
deixar a ponto de não conseguir mais nada.

— Isso é assunto encerrado, porque ele ficou com um monte de mulheres


enquanto ficava comigo. Acredito que se cansou e botou um fim nisso,
porque ele sabia que eu viria visitá-lo... — Expirei para não chorar ao me
lembrar da cena que presenciei. — Agora não quero vê-lo nunca mais na
minha vida.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Se Nikolai sabe sobre você estar grávida, ele já deve estar vindo para
cá. Não há nada que ele não saiba na Rússia — disse Matteo. — E uma vez
que uma mulher engravida de um chefe da máfia, é a obrigação dele protegê-
la.

— Não quero a proteção daquele miserável, aliás, não quero nada dele!
— grunhi.

— Vamos embora da Rússia enquanto podemos, assim que ele aparecer


será tarde demais. Para eu levá-la terei que lutar contra ele — falou quando
entramos em um hotel no meio da estrada. — Vamos ficar aqui até amanhã
cedo, aí vamos para o aeroporto.

— Vamos embora da Rússia? Não. Eu não posso deixar minha cidade


nem o Benny ou a floricultura da mamãe — falou Lúcia.

— Precisamos ver como tiramos esses homens da minha cola, assim você
não precisará sair da Rússia.

— Não podemos fazer nada agora, pois isso é com Nikolai. Eu só tenho
que tirar você daqui — disse Matteo. — Aqui estou fraco, porque estou no
território de Dark. Se ele me achar aqui, eu não sei o que fará, embora eu não
esteja preocupado comigo, mas com meu povo e com você.

— Nikolai não vai machucá-lo, pois ele teve oportunidade de fazer isso
junto com a vingança ao se aproximar de mim. — Esperava mesmo que isso
fosse verdade, porque, caso contrário, eu não saberia o que fazer. Ver o
homem pelo qual era apaixonada e, além de tudo, pai do meu filho matar meu
irmão... Estremecia só de pensar.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Pode ser — fingiu concordar.

Entramos em um quarto com duas camas.

— Eu vou ligar para o Benny — disse Lúcia indo para um banheiro.

— Ela está preocupada com a ideia de ir embora daqui — falei olhando a


porta do banheiro. “Pelo menos, ela tem alguém ao seu lado”, pensei.

— Foi difícil para você ficar com o Lorenzo, quando descobriu o ele que
fazia? — Sentei na cama ao seu lado.

— Sim. Quando eu fiquei sabendo o que ele fazia, eu tive que esperar
mais de dois anos para conseguir derrubar toda sua maldita escória — disse.
— Eu vou fazer algumas ligações para deixar o terreno fechado, caso Nikolai
nos ataque.

— Vão lutar? — Minha voz falhou.

— Só se eles vierem nos atacar — comentou. — Agora deite um pouco e


descanse. Eu vou arrumar algo para comer, porque parece que você não come
há dias. Não saia do quarto até eu chegar.

— Não estou com fome — murmurei.

— Precisa comer, já que não é só você agora. — Ele olhou para a minha
barriga.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Sim, não era mais somente eu, agora eu tinha o meu bebê dentro de mim,
e por ele eu daria a volta por cima. Um dia, num futuro distante, eu iria me
recuperar do que Nikolai havia me feito.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Mas que visão linda. Eu posso matar dois coelhos com um tiro só —
disse uma voz em tom divertido. — Ou será matar dois coelhos com uma
cajadada só?

Eu ouvia vozes perto de mim, mas queria só ignorá-las e continuar


sonhando com o meu filho nos braços.

— Alexei! — repreendeu a voz de Nikolai não muito longe de mim.

Eu me sentei na cama de susto e ofeguei com a cena diante de mim.


Matteo estava com duas adagas nas mãos, e dois homens apontavam armas
para ele. Nikolai estava na frente dele com uma arma direcionada contra o
seu peito, e uma faca na outra mão.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Meu coração gelou com o medo de Nikolai matar Matteo. Então, eu me


levantei depressa da cama e corri ficando na frente do meu irmão. Eu não
deixaria ninguém o machucar.

Fiquei na frente dele ou tentei, mas Matteo me rodopiou e me colocou nas


suas costas me cobrindo da visão de todos e fazendo seu corpo de escudo,
caso Nikolai atirasse nele e em mim.

Lúcia estava no quarto ao lado. Ela ligou para Benny e disse onde estava.
Ainda bem, assim ela não estava presenciando aquilo.

— Sai daqui, Dalila, e vai com o Samuel — disse Matteo para mim. Era a
primeira vez que ele me chamava por aquele nome. No dia anterior, ele me
chamou pelo meu apelido. Tinha homens do meu irmão ali, que eu não
conhecia.

— Eu não vou deixá-lo! — rosnei e fiquei de lado. Fitei os olhos frios de


Nikolai. Expirei e segurei minha dor, porque ser morta pelo homem que se
amava, não era bonito. — Já que você quer matar os filhos do homem que
matou os seus pais, então acabe logo com isso. Se pensa que vou suplicar
pela minha vida, eu não vou, mesmo não podendo morrer agora. — Alisei
minha barriga rezando para que ele me deixasse viver até que meu filho
nascesse pelo menos. — Mate a mim! Como você mesmo disse, é por minha
causa que esse desgraçado do Lorenzo fez o que fez contra a sua família.

— Dalila... — reclamou Matteo.

Eu peguei a sua mão que estava com uma faca e tirei-a dele, e, em
seguida, apertei-a sem tirar os olhos dos dele.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Vai dar tudo certo — eu disse a ele e fuzilei Nikolai. — Ele não tem
nada a ver com isso. Sou eu, não é? — Como eu poderia ser culpada por algo
que meu fodido pai fez? Pelo amor de Deus, eu tinha dez anos! Só um doente
para imaginar isso, se aproximar de mim para uma vingança distorcida.

— Você se arriscaria por essa raça ruim? — rosnou Nikolai de modo frio
fuzilando Matteo.

— E por que não? É meu sangue, não é? Só porque eu não queria ser uma
Salvatore não significa que não sou uma ou que Matteo não é meu irmão —
sibilei com os punhos cerrados. — Então, seu cretino, vai em frente e atire de
uma vez para acabar logo com isso. Pois é o que você faz, não é? Os malditos
mafiosos russos são todos uns fodidos doentes que deveriam estar no inferno,
assim como o Lorenzo! Por que não vai lá e acaba com um homem
vegetando em uma cama?

— Dalila? Controle-se! — pediu Matteo.

— Eu não vou me controlar. — Eu me lancei para cima de Nikolai


querendo quebrar a cara dele, mas Matteo me pegou pela cintura. — Me mate
ou eu vou acabar com você, seu fodido de merda!

— Maldição, Dalila! O que aconteceu com a garota tímida que mal abria
a boca para conversar? — retrucou Matteo ainda me segurando firme. — Se
atacá-lo agora, você vai se matar.

— Ele já me matou! Não há nada pior do que ele já fez comigo — rosnei
fuzilando o homem que brincou comigo. — Você levou tudo de mim, minha
vida, minha felicidade, meus sonhos, minha dignidade. — Maldição! Eu não
queria chorar, mas estava difícil me controlar.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

Nikolai deu um passo para trás como se eu tivesse lhe dado um soco no
estômago ou no seu rosto. Eu não me importei com isso, já que ele não ligou
para o que fez comigo, para a dor que inflingiu em mim ao dizer e fazer o que
fez. Ainda corroía tudo dentro de mim.

— O que vamos fazer com esses dois, Nikolai? Estou louco para pôr
minhas mãos nessa raposa e ensiná-la a nunca pegar nada — Alexei
interrompeu vendo a cara do seu chefe. — Pelo visto, isso não vai acontecer.
— Sua voz soou amarga no final me fuzilando. — Você me deve um carro.

— Talvez se eu transar com todos os homens da Rússia, eu consiga pagar


o seu carro — retruquei com escárnio.

Alexei sorriu com expectativa.

— Eu posso torná-la uma pros...

— Termine essa frase e eu vou esquecer que é meu irmão! — sibilou


Nikolai.

Eu fechei a cara.

— Se eu quiser ser prostituta, você não tem o direito de opinar sobre isso.
Não tinha um maldito harém na sua casa? — Minha voz era amarga.

Ele deu um passo na minha frente.

— Isso não vai acontecer! — rosnou.

— E você? Por que não termina a sua vingança? — Eu fui até ele e
PERIGOSAS
PERIGOSAS

peguei sua mão, que, por sua vez, estava com a arma, e coloquei o cano dela
sobre o meu peito. Seus olhos estavam grandes. — Puxe o gatilho agora.

— Mas que porra, Dalila! — sibilou Matteo a meia voz.

— Não vai fazer? — Rapidamente, ele afastou a arma para longe de mim
com terror nos olhos verdes.

— Acha que eu quero matá-la? Porra, eu não vou fazer isso, ainda mais
estando grávida de mim. Que tipo de monstro acha que eu sou?

Eu me afastei não ligando para a dor na voz dele. Nos seus olhos, eu pude
notar que ele realmente se importava comigo, mas o seu ódio pelo Lorenzo
não o deixava desfrutar do que sentia. Por isso ficava com outras mulheres,
ou talvez gostasse de mim e me odiasse ao mesmo tempo.

— Ótimo! Se não vai me matar, talvez devêssemos fazer assim, eu volto


para os Estados Unidos, e você não me procura mais, eu até vou mudar para
outro lugar, pois não quero ver sua cara. E se for pela criança, não ligue, pois
não é seu filho e sim do Nasx...

Eu disse isso apenas para feri-lo, mas ele ficou tão furioso que me encolhi
por dentro. Ele pegou minha cabeça e puxou para ele não de forma a me
machucar, mas de leve e escorou sua testa na minha fechando os olhos.

— Você tem alguma ideia do que quero fazer com ele agora só de
imaginar essa cena de vocês dois juntos? Tem alguma noção do que sou
capaz de fazer caso isso aconteça? — Ele expirava como se tivesse corrido
muito e estivesse com falta de ar.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu poderia me solidarizar com isso, mas tinha raiva demais no meu


sangue e em mim para sentir tal coisa. Quem ele pensa que é para dizer que
mataria o Nasx por tocar em mim sendo que tocou em milhares de mulheres?
Inclusive, uma que ele esfregou na minha cara, quando eu ia dizer que estava
grávida? Ele não merecia nada nem minha piedade.

Eu me afastei dele.

— Você é um imbecil e egoísta que só pensa em você e no seu ego de


mafioso desprezível! — rosnei em seu rosto. — Você me dá nojo!

Alexei deu um passo até mim como fosse para me bater. Matteo me
puxou para longe dos dois.

— Você devia respeitar o chefe da máfia, sua...

Nikolai o cortou com um tom duro.

— Vigia o que fala!

— Você não ouviu o que ela disse? Esse filho não é seu e sim de outro
cara. — Alexei me fuzilou com os olhos hostis. — Temos sorte de ela não ser
interesseira; e se ela quer dar o fora, então a deixe ir.

Esse cara era bem irritante. A minha vontade era de quebrar a cara dele.

— Alexei, eu não vou falar de novo! — rosnou Nikolai. — Não importa o


que você diga, Samira, pois eu sei que é meu. Você apenas está dizendo isso
para me ferir.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Ferir? Você não sabe o que é isso, Nikolai! — rosnei e depois franzi a
testa. — Como me achou aqui? — sondei olhando para o meu corpo em
busca de alguma coisa que pudesse tê-lo trazido ali.

Porque estávamos no meio do nada, em um hotel espelunca de beira de


estrada. Eu vi a correntinha que ele me deu no dia em que nos conhecemos.
Na hora, eu não aceitei pensando ser um pagamento pelo sexo, mas depois
ele me disse que era um presente.

— Seu maldito! Colocou um rastreador nisso? — Eu peguei a corrente e


arranquei do meu pescoço em um puxão. Joguei-a contra ele, que a pegou
com habilidade.

— Eu dei a você em forma de presente.

Eu ri amarga.

— Você pode dar para alguma das suas amantes, e checar com quem ela
está transando além de você.

— Você é muito petulante! — sibilou Alexei.

— Se vocês não vão me matar agora, então talvez devessem ir embora.

— Acha que quero estar aqui? Não, eu queria estar em casa, mas você
simplesmente fugiu pegando meu carro e... — ele interrompeu expirando
para se controlar. Ele parecia mesmo gostar dos seus carros elegantes. —
Bom, de qualquer forma eu faço o que o chefe mandar.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Já que não vão embora, então fiquem à vontade! — rosnei e me afastei


dos dois e cochichei com Matteo: — Como vamos sair dessa?

— Dark não parece ter a intenção de deixá-la sumir tão cedo das vistas
dele. Seus olhos estão em cada movimento que você faz. — O tom de Matteo
pareceu orgulhoso.

Eu dei um tapa nele.

— Não fique com esse tom como se estivesse orgulhoso dele! Ele é um
rato de esgoto imundo, aliás, xingar o pobre ratinho é uma ofensa ao
compará-lo com aquele crápula! — Antes que eu terminasse de falar, Matteo
estava rindo, ou melhor, gargalhando alto sem cerimônia alguma. — Pare de
rir e vamos embora.

— O que vocês estão cochichando aí? — perguntou Nikolai fuzilando


Matteo.

— Se eu quisesse que você ouvisse teria dito alto, e se não o fiz é porque
não é da sua maldita conta! — rosnei. — Talvez devesse esperar lá fora.

Nikolai rosnou baixo.

— Sem chance do inferno de deixar você sozinha...

Eu o cortei com os dentes trincados:

— Não estou sozinha. Eu estou com Matteo e nele eu confio — sibilei e


dei as costas a ele.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu sabia que Nikolai não ia sair do meu pé, eu só não entendia o motivo
de ele não ir embora e me deixar, já que deixou claro que não me mataria.
Talvez, ele tenha se arrependido do que fez, mas isso não mudaria nada, e eu
não era capaz de perdoar algo assim. De repente, ele estava ali só porque eu
estava grávida, e ele tinha certeza de que o filho era dele.

Ficar tão perto dele estava me abalando e logo eu ia desmoronar e chorar


horrores. Eu precisava ficar sozinha e por isso fui para o banheiro tomar
banho antes de irmos embora.

Deixei a dor me apossar, aliás, ela já tinha me apossado a partir do dia em


que vi Nikolai com outra mulher, e soube que ele se aproximou de mim por
vingança e nada mais. O nojo que ele disse que sentiu com as nossas noites
de sexo... Oh, Deus! Como eu fui idiota! Como pude acreditar nele tão
cegamente a ponto de dar minha alma? Porque, se não tivesse dado, não
estaria doendo tanto assim.

A água descia pelo meu rosto misturando-se às lágrimas. Eu sei que


estava sofrendo, mas precisava ser forte, embora fosse mais fácil se Nikolai
fosse embora. Seria menos doloroso não vê-lo a cada segundo, ouvir a sua
voz e sentir seu cheiro. Isso estava me matando aos poucos.

Alisei minha barriga tentando conseguir forças para passar por tudo até
poder ir embora da Rússia e longe dele para sempre. Matteo me ajudaria a me
esconder para que Nikolai não me encontrasse jamais, talvez algum dia eu
voltasse a me encontrar com meus amigos de novo.

Depois de banho tomado, eu saí do banheiro.

— Você está bem? — Matteo avaliou meus olhos que estavam


PERIGOSAS
PERIGOSAS

vermelhos. — Você estava chorando?

— Não ligue para mim. Vamos embora...

— Isso é culpa sua! Você, seu merda, não podia simplesmente ter ido até
mim ou ao meu pai, para buscar por sua vingança? Tinha que seduzir minha
irmã e fazê-la se apaixonar por você? — Matteo estava gritando furioso.

Nikolai não disse nada, apenas abaixou a cabeça para que eu não visse o
tormento em seus olhos. Mas eu vi, se ele tivesse só me usado como uma
vingança no começo e depois se apaixonado, eu poderia até pensar em
perdoá-lo, mas suas palavras ainda perfuravam o meu cérebro, e as mulheres
que ele ficou para tirar meu cheiro, que ele disse que era imundo... isso não
dava. Não podia esquecer e aceitar.

— Você está indo para os Estados Unidos, ou seja, para longe dos
inimigos que estão aqui. Pessoas da minha confiança a vigiarão 24 horas por
dia... — falou num tom de ordem parecendo já recuperado.

— O problema, Nikolai, é que você não opina nada na minha vida, eu


faço dela o que eu quiser, então vá se foder! — rosnei com raiva.

Ele sorriu provocativo, embora não chegasse aos olhos lindos dele.

— Podemos fazer isso também se você quiser...

Bufei.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Eu prefiro foder todos os homens aqui presentes a um verme como


você, seu desgraçado! — sibilei fazendo-o perder o sorriso. — E garanto que
eles farão um bom trabalho, mais do que você já fez.

— Eles não viveriam para fazer isso com você! — Seu tom era mortal no
final.

Eu trinquei os dentes e falei através deles:

— Você não pode ameaçar os homens que eu quiser foder. — Embora eu


não fosse fazer isso ou talvez fizesse, já que ele ficou com várias mulheres.
Por que eu não podia? Só porque sou mulher? — Se eu quiser, eu vou fazer,
Nikolai, e você não vai opinar em nada, aliás, não opina em nada da minha
vida. Finja que eu não existo, pois será melhor para nós dois até eu sumir das
suas vistas para sempre.

Ele expirou, mas não disse nada e olhou para o meu irmão.

— Leve-a e deixe que eu cuido de tudo aqui para que nenhum perigo
chegue perto dela ou da Lúcia, aliás, eu vou deixar o meu pessoal de olho
nela — falou Nikolai me olhando com dor nos olhos.

Talvez, se eu tivesse voltado, o Lorenzo não teria enlouquecido e se


transformado no monstro que era hoje. Muitas vidas poderiam ter sido
poupadas, as garotas, os pais de Nikolai. Por isso o ódio de Nikolai por mim.

Eu esperava que tudo desse certo e que não aparecessem outros bandidos,
pois eu estava louca para ir embora da Rússia e para longe dele. E, ao mesmo
tempo, eu não queria. Era impossível conciliar os dois desejos.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Acordei na cama que tinha no jatinho de Nikolai, eu não queria ter


dormido ali, por isso acabei adormecendo no sofá perto de Matteo, mas acho
que eles ignoraram o meu desejo de não querer ficar em uma cama onde ele
pudesse ter levado e transado com milhares de mulheres.

Eu me levantei e fui procurar os outros que estavam sentados e


conversando entre si.

— Já estamos chegando? Porque estou com fome — perguntei alisando


minha barriga. — Essa gravidez está me fazendo comer igual a um elefante, e
espero não pesar igual a um.

Alexei riu. O cara era realmente bonito, ainda mais com suas covinhas e
olhos claros.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Pois poderia, assim meu irmão parava com essa ilusão do que ele sente
por você — zombou. — Quem iria namorar uma mulher feia?

Eu ri.

— Logo pode acontecer justamente o que você não quer — falei pegando
o leite que estava em sua mão e o bebendo em seguida.

Ele fez uma careta.

— Isso é meu! — reclamou ele já vindo tomar de mim. — Eu só fico com


loira, e de preferência que tenha pernas longas e sexy.

— Deixe-a. Quando uma mulher grávida quer comer algo, nós devemos
dar a ela e fazer as suas vontades — disse Nikolai me passando a torrada
lambuzada no mel. Ele sabia que eu gostava disso. Ele parou e viu que todos
nós estávamos olhando para ele. — O que foi?

— Como sabe sobre isso? — sondei enquanto mastigava a torrada.

Ele sorriu. Tentei ignorar a fisgada em meu peito sempre que ele sorria
desse modo. Era tão lindo.

— Quando fui comprar algo para você comer, eu achei esse livro: “Tudo
sobre gravidez”. Aqui fala que, quando está grávida, o humor da mulher
tende a melhorar ou piorar na maioria das vezes, mas isso é normal, e
também seus pés vão inchar e ela pode chorar facilmente por qualquer coisa,
até com animais latindo. — Ele se encolheu com a palavra choro, porque eu
não precisava assistir nada na TV para chorar, bastava me lembrar do que ele
me fez, que tudo apertava dentro de mim.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Porra, meu irmão! Eu espero que ninguém veja você com esse livro ou
vão pôr em dúvida o seu poder. E no nosso mundo, sem ele, nós não somos
nada, e você sabe disso! — repreendeu Alexei com os olhos arregalados.

Nikolai deu ombros.

— Eu não me importo com isso, porque preciso ficar por dentro para eu
poder saber o que precisarei fazer para ela...

— Você não precisará fazer nada, Nikolai, pois eu vou voltar para a
América ou talvez eu vá para a França ou para a Espanha, eu não sei ainda,
mas irei fazer isso sozinha. E quando o meu filho nascer você poderá ir
visitá-lo, eu não vou tirar o seu direito. Não importa com quem estiver e o
que estiver fazendo — falei saindo de perto dele e indo me sentar com
Matteo.

— Está tudo bem? — sondou me puxando para seus braços e beijando


minha testa.

— Um dia, quem sabe — respondi não querendo pensar nos meus


problemas agora.

— Isso vai acabar logo, eu prometo — falou ele olhando por cima do meu
ombro, para Nikolai. Eu não segui seu olhar, mas sabia que era para ele.

Eu não entendia o que Matteo quis dizer com isso. Mas estava sem
energia para perguntar alguma coisa. Só queria que isso acabasse logo, e
amanhã ou depois, eu pudesse respirar normal de novo, sem me sentir como
se eu estivesse morta por dentro. Porque era assim que eu estava no
momento.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

Lúcia foi para uma casa de campo que Nikolai tinha. Ela e o namorado
estavam protegidos. Fiquei feliz com isso.

Assim que o jatinho pousou no aeroporto de Moscou, todos nós


descemos. Eu fui para um carro com seguranças de Nikolai, e Matteo ficou
para conversar com Nikolai. Eu não queria que ele ficasse temendo que Nick
o machucasse, mas meu irmão disse que precisava resolver alguma coisa da
máfia, então deixei, mesmo não querendo isso.

Reconheci o cara que me salvou daquele homem no navio. Ele era o


motorista.

— Hunter? — Pisquei chocada assim que eu o reconheci.

Ele piscou.

— Como sabe meu nome? — perguntou. — Nikolai quem disse?

— Sim, mas não quero falar sobre ele.

— Tudo bem. Hoje a minha função é levá-la em segurança, até o seu voo
sair daqui a cinco horas — respondeu.

— A minha função também — ressaltou Nasx entrando no carro e


sentando-se no banco de trás ao meu lado.

Eu arfei e o abracei forte, recebendo conforto por ele estar ali.

— Nasx! Que bom que está aqui! — exclamei.

— Não a deixaria por nada no mundo — prometeu. Tinha aço na sua voz
PERIGOSAS
PERIGOSAS

quando falou o final. — Ainda mais em um momento como esse.

— Se tocá-la, eu vou matá-lo, Nasx! — gritou Nikolai assim que


estávamos saindo. — E não vai ser bonito.

Hunter revirou os olhos.

— Você devia ter pensado nisso antes de sair fodendo por aí. Você a
deixou! — sibilou Nasx. Eu tinha falado com ele há pouco tempo e contei o
que havia acontecido, por isso ele estava ali. — As cartas agora serão
jogadas.

— Que lugar é esse? — perguntei olhando o prédio imenso no centro de


Moscou.

— É do Dark — respondeu Nasx indo estacionar o carro, mas falei antes


que isso viesse a acontecer.

Ele tomou o lugar de Hunter no carro, mas notei que o mesmo não deixou
de me seguir, tentei não balançar com isso, ser protegida a mando de Nikolai,
mas também vi homens do meu irmão. Três carros ao todo me seguindo.

— Por favor, eu não quero ficar em nenhum lugar que pertença ao


Nikolai. Podemos ir para outro lugar? — supliquei. — Andar um pouco,
sabe? Se eu entrar em um quarto irei desmoronar e chorar por um ano inteiro.

— Tudo bem — respondeu apertando as mãos brancas no volante


destacando os nós.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Ele estava calado demais, e isso era incomum nele já que o homem falava
pelos cotovelos. Acredito que estivesse com raiva demais de Nikolai para
isso.

— O que você quer fazer? Tenho um guia de turismo aqui em algum


lugar. — Ele fuçou o porta-luvas e, em seguida, me entregou um folheto com
vários lugares turísticos. — Eu trouxe para podermos ir antes que fôssemos
embora. Eu queria aproveitar o lugar já que não sei quando irei retornar a
Rússia, talvez não tenha outra chance. Embora tenha vindo aqui uma vez com
Tabitta e Jason, mas não aproveitei nada naquele dia.

— Aqui tem lugares mágicos. Eu até diria que voltaria com você, mas
não quero retornar aqui tão cedo — falei assim que passamos por uma praça.
— Aqui é a Praça Vermelha, eu vim aqui uma vez com Giulia e Matteo.
Éramos pequenos, mas me lembro de tudo. A praça foi criada em 1493
quando Ivã III mandou tirar as casas que ficavam em frente do Kremlin3 para
dar espaço para a praça. Giulia sentava nos bancos enquanto brincava com
Matteo. Lembro de Lorenzo estar perto e sorrir também. Como uma pessoa
pode mudar tanto assim? Se tornar um monstro igual ele é agora?

— Matteo me ligou e contou sobre você ser irmã dele. Você realmente
quer falar do que Lorenzo fez, ou do que aconteceu com Nikolai? Sabe que
estou aqui para te ouvir seja o que for.

Eu suspirei.

— Eu sei. Você sempre está ao meu lado nos momentos mais difíceis. —
Expirei. — Algum tempo atrás, ele vinha me convencendo a deixar tudo para
vir morar aqui com ele, em Moscou, achei que estivesse fazendo isso por

PERIGOSAS
PERIGOSAS

amor, então resolvi aceitar, mas quando cheguei... o vi na cama com uma
loira.

— Loira? Quem é? — Tinha um gosto amargo na voz.

— Eu não sei o nome dela, e também não me interessa. Só sei que ele se
aproximou de mim e fingiu estar apaixonado por causa dessa vingança contra
Lorenzo. — Eu não mencionei as palavras que Nikolai me disse naquele dia,
pois não aguentaria repeti-las. Já estava bastante difícil suportar.

— Aquele desgraçado fez o quê? — Sua voz mortal se elevou um pouco.

— Sim, uma maldita vingança... — Minha voz falhou devido a dor.

— Eu não acredito nisso! Ninguém viajaria um oceano inteiro por nada.

— Não é nada, e sim uma vingança. Pessoas assim são capazes de tudo,
mas não quero falar disso agora, porque tudo acabou e não há volta.

Ele suspirou e passou uma das mãos em seu cabelo loiro.

— Tudo bem, e já respondendo a sua pergunta anterior, nós descobrimos


sobre o seu pai através de Evelyn...

Eu arfei.

— A esposa de Dominic? — Pensei na ruiva que conheci na sede dos


MCs, em Nova York, quando fui à procura de Nasx.

— Sim, ela era uma das garotas presas. Eles chamavam aquele antro de
paraíso, mas era um inferno na Terra. — Sua voz soou mortal no final.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

Estremeci com isso.

— Eles chegaram a tocar nela?

— Não. Matteo a ajudou a fugir para o nosso clube, e foi onde ela
reencontrou o irmão dela, o Kill, depois de anos. — Ele respirou fundo. —
Depois disso salvamos todas as outras garotas e destruímos o antro.

— Mas Lorenzo está vivo ainda no hospital, não é? — Levantei a


sobrancelha para ele.

— Já está quase morto, pois seu quadro é vegetativo — ele disse. —


Você deve saber sobre a lei da máfia, um Salvatore não pode matar nenhum
de seu clã, e se isso acontecer o líder é obrigado a caçar e procurar pelos
quatro cantos da Terra até encontrar e eliminar o indivíduo. Não importa se
Matteo quer assim ou não. Como o líder, ele é obrigado a seguir a regra
querendo ou não.

A máfia tinha, ou melhor, tem leis bem rígidas que sempre odiei, mas
também tem a lealdade que eu admirava, assim como dos MCs. Mesmo que,
às vezes, isso fosse ruim e atrapalhava um pouco.

— Eu lembro. — Eu não sabia o que estava sentindo naquele momento


ao descobrir como Lorenzo estava. Embora eu já soubesse desde que Nikolai
mencionou. — Na máfia tem coisas e leis que eu acho um absurdo.

— Matteo é o Capo, então está mudando algumas coisas, pelo menos as


que ele pode.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— O casamento com dez anos, ele mudou? Isso era o que eu mais odiava
na máfia, por isso fiquei um pouco feliz por minha mãe ter me abandonado.
Às vezes, eu penso que ela só fez isso para eu ter uma chance fora dessa vida
— sussurrei.

Eu não acho que estava preparada para ver Giulia ainda, talvez mais para
frente eu fizesse isso. Não agora, com as feridas abertas. Antes que ele
comentasse algo fomos abordados por homens armados até os dentes. Meu
coração gelou, porque pensei que seria o meu fim. Os carros pararam e
começou o tiroteio.

Hunter e os seguranças, contra aqueles homens, que com certeza


trabalhavam para o mesmo homem que tentou me matar alguns dias atrás.

— Oh, meus Deus! — gritei vendo os bandidos nos seguirem.

— Mas que porra! — rosnou Nasx fixando seus olhos a frente.

Eu segui seu olhar e me deparei com sete carros pretos cercando a


estrada. Nasx pisou no freio bruscamente e eu tive que segurar firme. Ao
mesmo tempo fomos cercados dos dois lados e fui arrastada para fora do
carro. Foi tão rápido que fiquei chocada por um segundo.

— Se você não vier comigo, os seus amigos aqui vão morrer, um por um
— falou um dos caras que me arrastava.

Eu olhei para Nasx que já estava preso por dois homens, e os seguranças,
três mortos e alguns feridos. Hunter também estava preso com as mãos para
trás.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Diz ao Vladimir que ele está morto, pois Dark vai acabar com ele! —
rosnou Hunter com tom mortal.

O homem que me segurava riu.

— Vamos ver o que ele realmente sente por essa gostosura aqui? Ele tem
uma hora para me dar o que eu quero ou essa gracinha vai servir para um
grande banquete.

Nasx sibilou.

— Você está morto!

— Por favor, Nasx! — supliquei, e também pedi com os olhos para ele
não os provocar, ou acabaria morto. Não só ele, mas todos os outros também.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu fui levada para um casarão enorme, afastado do centro. Meu coração


estava acelerado e eu estava com medo, um sentimento que senti quando fui
raptada. E três meses depois acontece o mesmo? Naquele dia, Nikolai me
salvou, só esperava que ali também.

Eu estava em uma cadeira, mas não estava amarrada, graças a Deus, e


muito menos nua como da outra vez. Embora eu não fosse tola para fugir
com tantos homens armados. A minha única esperança era que eles me
rastreassem, estava usando um anel dado por Nikolai que esqueci de devolver
também. Se ele colocou rastreador em minha corrente que devolvi a ele, com
certeza colocou o mesmo nesse anel. Eu não me arrependi de não ter
devolvido a ele, eu não sabia o porquê tinha ficado com o anel, mas agora
seria útil, pois assim eles me rastreariam. Assim espero.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

O lugar ao meu redor estava cercado de homens. Um em potencial alto,


moreno e olhos frios, ainda mais direcionados a mim. Igual aos leões ao ver
uma presa fácil.

Eu estava me segurando para não chorar e implorar para não me tocarem,


e também estava preocupada com meus amigos. Pensando que algum desses
caras tivesse machucado eles.

— Meus amigos estão bem? — sondei. Não conhecia Hunter, mas já que
ele me protegeu então era alguém que eu prezaria sempre.

— Acredito que estejam, porém isso vai depender do que Dark fará, se
não os culparem por terem perdido você — falou ele meneando a cabeça de
lado. — Você deve saber quem eu sou, não é?

— Vladimir — respondi friamente, embora com a voz falha. — O


homem que ficou no lugar de Andrey Jacov.

Ele sorriu.

— Garota esperta. Andrey Jacov era um lixo que precisava ser


exterminado, mas não podia ser por mim. Então dei um empurrão para Dark
o encontrar na América.

Arfei.

— Você queria que Nikolai o matasse para você? Mas por quê? E por que
estou aqui? — Tentei deixar minha voz mais calma possível. Embora em uma
circunstância como essa fosse difícil.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Veja bem, tem um giro de poder rolando na máfia há anos, os


Bravatas, Salvatore e os Dragons sempre no topo, e quanto a Trider?
Ninguém nem mencionava. — Ele trincou os dentes. — Então pensei, e
quando todos estiverem eliminados? Restando somente a Trider?

Ofeguei de pavor.

— Você quer matar todos da máfia? — Minha garganta arranhou como se


tivesse quilos de sal. De repente com assombro, eu entendi o motivo de estar
ali. — Você quer matar o Nikolai?

— Exato! Veja bem, há poucas semanas, eu descobri que o grande e


poderoso Dark estava apaixonado por uma Salvatore...

— Ele não está — cortei estremecendo. Talvez dizendo a verdade a ele, o


mesmo não machucasse Nikolai. Eu precisava ter a confiança de que Nikolai
ficaria bem. — Nikolai só se aproximou de mim por uma vingança.

Ele sacudiu a cabeça sorrindo como se eu fosse engraçada.

— Ah, eu sei, embora não concorde com você. Lorenzo Salvatore é um


fraco e não merecia ser Capo, mas seu irmão, Enzo, sim. Ele tem mais garra,
embora no final, todos sejam mortos — ele dizia isso como se estivesse
falando de algo banal e não de vidas humanas.

— Por que você quer o fim dos Salvatore? O que eles te fizeram? — Eu
precisava mantê-lo falando, pois assim meu irmão poderia me encontrar.
Embora tudo dentro de mim ansiasse em poder gritar, temendo pela minha
família e Nikolai.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Os Salvatore são apenas um peão, que pretendo usar para chegar onde
eu quero, no topo. Mas, para isso, eu preciso derrubar os chefes, e estava
contando com a guerra entre Dark e o Capo, entre Dragon e Salvatore, mas,
pelo visto, isso não vai acontecer. — Ele me lançou um olhar sombrio. —
Tudo por ele se apaixonar por você.

— Ele não me ama...

Ele me cortou:

— Claro que ama! O desgraçado sabia que tinha uma pessoa minha
infiltrada na sua casa, então simulou que estava na cama com a cadela da
irmã dele, para que você chegasse e os pegasse juntos. Contudo, o que ele
não contava é que também tinha câmeras no lugar, e eu descobri a armação.
— Ele riu. — Mas devo admitir, o garoto é bem convincente, pois até eu
acreditaria caso não soubesse o que estava fazendo. O filho da puta não
queria que eu me aproximasse de você, ou que eu pensasse que você não
significa nada para ele. O que o amor não faz, não é?

Pisquei chocada com isso. Então Nikolai me disse aquelas palavras


porque era preciso, e não porque ele queria? Eu precisava ter certeza do que
ele sentia ao dizê-las, porque talvez no fundo sentisse, mesmo que aquela
cena fosse armação.

A mulher é irmã de Nikolai? Por isso notei que ela se parecia com Alexei.
Embora na hora eu estivesse tomada de dor e achei que aquela observação
não significava nada, agora entendia. Mas então ele não ficou com ela? Foi só
armação para esse homem ver?

— Está chocada? O amor é uma fraqueza na máfia, essa palavra não


PERIGOSAS
PERIGOSAS

devia existir, por isso Dark não serve para ser líder, um líder precisa de pulso
firme e não de fraqueza. — Ele cuspiu essa palavra. — Mas essa fraqueza em
relação a você vai ser minha vitória.

— O que pretende fazer comigo? — Fiz de tudo para que minha voz não
tremesse.

— Nada, a não ser torná-la minha esposa depois de matar os Salvatore e


Dragon — respondeu como se isso fosse um bônus e não vidas a serem
tiradas.

Eu ofeguei de pavor e medo. Não, eu não podia me casar com esse


homem cruel. Como ele ousa dizer que mataria minha família e o homem que
eu amo, e me teria como esposa? Ele era louco?

— Não vou me casar com você! — rosnei.

— Bom, você não terá escolha. Eu já conversei com seu tio Enzo, e ele
vai ser Capo dos Salvatore e eu vou ter os Dragon ao meu poder. E como
parte da aliança, ele me deu você, a última herdeira após a morte do Capo que
ocorrerá hoje.

— Matteo não vai morrer e nem Nikolai! — Era para eu ter gritado, mas
saiu um lamento. Isso não podia acontecer. Eu não podia perder os dois.

Ele riu chegando mais próximo de mim. Evitei estremecer do medo que
ele fosse me bater ou algo pior. Mas uma coisa que ele disse me chamou a
atenção.

— Meu tio Enzo está aliado a você para matar meu irmão?
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Veja como as coisas são, ele eliminou todos os seus obstáculos, mas
resta um, o seu irmão. — Meneou a cabeça de lado, a dois passos de mim. —
Enzo é um sádico e tem pulso firme, porque não se importa com a própria
família: uma mulher que matou, um irmão quase morto em uma cama e um
sobrinho que anda tentando organizar a sujeira que seu pai deixou. O Capo
devia liberar tudo e não cortar regras que foram feitas há muitos anos.

— Ele matou a minha tia? — Minha voz falhou no final. Lembrava


vagamente de Liliane, a esposa de Enzo e mãe de Luca. Ela morreu quando
eu tinha nove anos, de parada cardíaca. Então foi o ser desprezível do meu tio
que a matou?

— Não só a Liliane, mas Giulia também. A mulher é uma fraqueza para o


nosso mundo. Ele temia que a mesma convencesse Lorenzo de não pegar
meninas para sacrificá-las ao pensar que você havia sido morta. — Ele
sacudiu a cabeça, descrente. — Um líder de verdade nem ligaria se sua
família seria morta ou não.

— Isso não é ser um líder, é ser desumano — Consegui dizer querendo


vomitar. — Minha mãe morreu?

— Você não sabia que sua mãe estava morta? — Ele não hesitou, como
se quisesse que eu sentisse dor, ou não se importasse. Com certeza um
homem frio como ele, não se importava com nada e nem com ninguém.

Assim que ele mencionou isso, o meu coração deu um solavanco. Eu não
pensei que sentiria a morte de minha mãe, mas vi que me enganei, porque a
dor que me apossou foi profunda, e parte de mim parecia estar morrendo.

Lembrava-me dela claramente, Giulia não era uma mãe modelo, mas até
PERIGOSAS
PERIGOSAS

os meus dez anos ela me amava, eu via preocupação nos olhos dela para
comigo, ainda mais quando eu pedia, ou melhor, implorava que ela me
livrasse do fardo de ter que casar com um homem ainda criança.

Foi o que ela fez, não é? Talvez, ela não pudesse ter me deixado na porta
de ninguém para que eu não corresse perigo. Mamãe nunca foi má, ela só
queria me ajudar, e guardei ressentimentos em relação a ela durante todos
esses anos. Como pude não enxergar antes? Como pude não ver o seu amor
em relação a mim? Giulia só queria me proteger assim como eu sempre pedi.

— Oh, Deus! — Chorei e gemi ao mesmo tempo. Eu queria ter dito tantas
coisas, e em todos esses anos eu a odiei por ela ter me abandonado, mas no
final Giulia só me deixou para que eu não vivesse aquela vida que eu odiava
tanto.

O pior foi saber que ela não se matou, mas foi assassinada pelo
desgraçado do meu tio. Como ele pôde fazer isso com minha mãe? E por
quê? Seria só porque ela era a fraqueza de Lorenzo ou tinha alguma outra
coisa?

— Essas lágrimas são fraqueza, mas assim que eu ter você em meu poder,
eu vou educá-la como tal e torná-la uma mulher forte. — Ele olhou para a
minha barriga. — Mas primeiro vamos tirar essa criança, porque o filho que
terá será meu e não um Dragon.

Eu sacudi a cabeça com pavor. Oh, meu Deus! Será que vou morrer
agora? Meu coração batia forte, temendo tanto por minha vida como pela do
meu filho ainda no ventre. O que eu podia fazer? Correr? Não iria nem a dois
metros dali, pois havia homens por todos os lados.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Não pode machucar o meu filho! — eu queria gritar, mas saiu uma
súplica. — Ele é meu e você não tem o direito de matá-lo. Nikolai vai vir
aqui atrás de mim e vai matar você.

— Bom, ele terá que escolher entre você e a irmã dele, Irina, que agora
está presa também e sob minhas ordens — falou de modo frio.

— Nikolai e Matteo vão chegar... — disse mais para mim mesma e


depois mais alto. — Quando Nick vir me salvar, o mesmo vai matar você
assim como acabou com o pai dele, e com Jacov.

— Dark, o filho de Sebastian Ruiz, mas o moleque entrou na máfia já


ocupando o lugar que seria por direito de Alexei, que acabou provando ser
um fraco ao renunciar o cargo, tudo porque não tinha capacidade de liderar
nada depois que seu pai matou os pais dele. — Ele me olhou. — Agora
vamos ver quem significa mais para Dark, você ou a irmã dele?

Seria uma escolha difícil para ele, era como eu escolher entre Nikolai e
Matteo. Estremecia só de pensar nisso. Meu coração bateu forte em meu
peito ao pensar na escolha que Nikolai teria que fazer. Espero que no final
nós duas sobreviva.

— Você não vai tocar no que me pertence! — rosnou um Nikolai furioso


entrando no lugar. Várias armas foram apontadas para ele, acho que umas
vinte, isso só ali, mas devia ter muitos mais homens de Vladimir no lado de
fora.

Meu coração bateu descompassado, tanto por ele estar ali, quanto por
medo de ele ser morto agora, como era o plano desse homem.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Nikolai... — Eu me levantei depressa e fiquei ao seu lado. — Não


devia ter vindo, ele quer matar você e tomar seu lugar.

— Vai ficar tudo bem — jurou sem nunca tirar os olhos de Vladimir. —
Se ele quer meu cargo e poder, então que tenha.

— Não, por favor... — Chorei. — A máfia sempre foi sua vida.

Ele me fitou com os olhos intensos, o mesmo olhar que me fazia ver o
amor quando ficávamos juntos. Não era mentira, ele me amava e eu podia
ver.

— Você é a minha vida, Samira, a mulher por quem eu mato e também


por quem eu morro — falou com intensidade na voz. — Você e nosso filho
vão ficar bem. Eu juro.

— Isso é repugnante, um líder expressar e sentir um sentimento assim —


disse Vladimir. — Você não serve para ser líder.

— E você, sim? — rosnou Nikolai me apertando em seus braços, mas


fuzilando o chefe da Trider. — Um homem como você é que não serve para
ser líder, pois afundaria a máfia em pouco tempo. Veja pelos Trider, são uma
raça fraca e sem estrutura, que precisam fazer atos horrendos para chegar
onde queriam. Você nunca vai conseguir isso, Vladimir. Hoje será a sua
morte, porque tocou nas pessoas que eu mais amo.

O homem ficou vermelho de fúria, e faltava pouco para vir para cima de
nós. Não custaria muito fazer isso, mas então uma explosão aconteceu lá fora
e o lugar tremeu sob nossos pés. De repente fomos cercados por homens,
acredito que de Nikolai.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Eu vou acabar com você levando o que mais ama — rosnou


levantando a arma contra mim, mas Nikolai me colocou atrás dele como se
fosse me proteger com seu corpo, logo depois ouvi tiros de todos os lados.
Aconteceu tudo tão rápido que mal deu para assimilar, fomos cercados por
homens, não só de Nikolai, mas do Vladimir também.

Nikolai me puxou para sairmos dali do fogo cruzado. Mas o senti


ofegante assim que estávamos em um corredor.

— Nikolai? — sussurrei olhando para ele, e depois pisquei ao ver o


sangue em suas roupas, na região da barriga. — Oh, meu Deus!

Ele tinha sido ferido para me proteger, havia arriscado sua vida por mim.
Eu estava prestes a arrastá-lo dali quando um homem apareceu com uma
arma apontada para Nikolai, meu sangue gelou, porque ele já estava ferido.
Corri para frente dele querendo protegê-lo, não pensando em nada, somente
nele.

— Samira! — gritou Nikolai ofegante me imprensando na parede, fora da


vista de todos. Ele me cobriu bem a tempo de um tiro soar e ele gemer de
novo.

— Por favor, não... — sussurrei chorando, querendo sair dali. — Me


deixe protegê-lo.

— Você e nosso filho precisam ser protegidos... — falou e caiu em cima


de mim desacordado.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Gritei histérica, porque ele tinha levado outro tiro. Ouvi Alexei gritar o
nome do irmão, e de repente os homens de Nikolai nos cercaram para
impedir que ele fosse atingido novamente, eu não liguei para mais nada só
fiquei ali o vendo desacordado e sangrando. Meu corpo tremia de dor e
desespero com medo de ele morrer.

Meus sentimentos estavam uma bagunça, mas tudo estava doendo dentro
de mim, porque, por piores que tenham sido os motivos de Nikolai ao se
aproximar de mim, e dizer aquelas coisas para me fazer ir embora, eu não
queria ele ferido, não suportava a ideia de perdê-lo... de vê-lo nesse estado...
não, ele tinha que ficar bem. Precisava confiar nisso, afinal ele era Nikolai,
um homem poderoso! “Pena que não era à prova de bala”, pensei amarga.

Meus olhos estavam molhados ao chegar com ele ao hospital, mas acho
que o lugar era clandestino, contudo não liguei, contanto que ele viesse a
ficar bom, que aqueles tiros não fossem nada... que ele logo se levantasse
daquela maca e sorrisse com aquele sorriso lindo que só ele tinha.

Já fazia alguns minutos que Alexei e eu estávamos sozinhos no corredor


do hospital, enquanto o médico tentava salvar Nikolai. Eu nem imaginava a
minha expressão, mas estava toda inchada de chorar.

— Você o ama muito, não é?

Eu pisquei, pois parecia que minha mente estava em órbita, mas foquei
em Alexei, em seus olhos e em sua expressão pela primeira vez, não era de
raiva como pensei, mas sim surpreso. Acho que ele viu a hora em que tentei

PERIGOSAS
PERIGOSAS

entrar na frente de uma bala para proteger Nikolai, mas o mesmo me


rodopiou e a tomou em meu lugar. Obviamente que foi uma ação impensada
já que eu não podia ser ferida por causa do meu filho, mas na hora não pensei
em nada.

— Sim, não importa os motivos dele por se aproximar de mim. Embora


eu não possa perdoá-lo por ter ficado com mulheres, enquanto estava comigo,
eu não quero que ele saia ferido, ainda mais por minha causa. — Minha voz
era só um sussurro rouco.

Ele riu amargo.

— Acha que Nikolai a traiu? Devo dizer que fiquei chocado na hora
quando o vi rejeitar as mulheres, era como se todas fossem homens ou uma
parede de pedra. — Ele suspirou. — Eu cheguei e perguntei o que estava
havendo, mas ele não quis me contar, e olha que não escondemos nada um do
outro, mas por alguma razão o meu irmão não quis me dizer sobre você, acho
que para eu não ir buscar vingança. Eu o segui até Nova Jersey e o vi com
você; o modo como ele sorria era diferente como costumava fazer.

— Você não sabia da vingança? — sondei.

Ele sacudiu a cabeça.

— Nunca foi vingança para Nikolai, apesar de ele sempre afirmar isso.
Mas o modo como ele a olhava era como se você fosse algo que mais amava
na vida. — Ele passou a mão direita nos cabelos. — Eu queria ir lá e matar
todos os Salvatore por terem feito o que fizeram, mas ele não deixou, falou

PERIGOSAS
PERIGOSAS

que não podia matar ninguém da sua família, mesmo o velho fodido
merecendo, e acredito que foi por sua causa, porque jamais iria perdoá-lo
caso fizesse algo assim.

Meu coração estava apertado, ainda mais por saber o que tinha
acontecido; os motivos que o levaram a fazer o que fez. Na máfia nenhum
deles era santo ou bondoso, todos possuíam seus lados obscuros, Nikolai
tinha isso, essa parte obscura foi o que o levou a se aproximar de mim, mas
também o seu outro lado o fez me amar, e levar tiros por mim.

— Então ele não ficou com ninguém? O desgraçado do Vladimir disse


que sabia da armação dele para forjar que estava ficando com a irmã dele...
— Eu arregalei os olhos. — Ele disse que sequestrou Irina e que Nikolai ia
ter que fazer uma escolha, iria ter que escolher entre ela ou eu para salvar...
será...

— Irina está bem, o Capo a salvou enquanto Nikolai foi até você.

— Matteo? Ele está bem? — sondei preocupada. — Nasx? Hunter?

— Sim, todos estão bem — respondeu olhando fixamente para o corredor


imenso, pelo qual levaram Nikolai.

Eu não queria pensar no pior, pois precisava continuar falando ou


enlouqueceria.

— Eu sinto muito — murmurei, pensando que era por causa de Lorenzo


que os pais dele não estavam vivos, e por minha culpa também de certa
forma.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Ele me olhou de lado.

— O quê? Você está se sentindo culpada por estarmos aqui? Não foi sua
culpa, pois eles cercaram o carro e a levaram. Mas devo mencionar que
ficando com esse anel você nos ajudou bastante para a rastrearmos.

Eu sacudi a cabeça.

— Não, estou falando sobre o que Lorenzo fez...

Ele não disse nada, então continuei:

— Quando eu era pequena... — Encostei a cabeça na parede olhando para


o teto. — Não conheço as leis que são pregadas na máfia russa, mas as da
máfia italiana era um maldito inferno. A menina nascida era obrigada a se
casar no auge dos seus dez anos, e com companheiros adultos. No mundo da
máfia, os homens se casam em torno dos seus vinte e quatro anos, então por
que não podíamos ser diferentes? Qual era o maldito problema deles? É só
porque somos mulheres? Maldita injustiça!

— Por isso não voltou ou deu sinal de vida? — Não era uma pergunta.

Eu expirei.

— Eu odiava aquela vida, vi minhas amigas sendo levadas para casar aos
dez anos. Sabe o quanto isso é desprezível? Muitos deles são cruéis da pior
espécie, como pode deixar isso acontecer com suas filhas? Por que não fazem
nada? Por que eu tinha que me submeter a mesma coisa? Essas eram
perguntas que eu fazia ao Lorenzo todos os dias. — Fechei os olhos. — Eu

PERIGOSAS
PERIGOSAS

cheguei a suplicar para que ele me deixasse intocada até os meus dezenove
anos... se ele ordenasse, certamente, o homem com quem eu me casasse
cumpriria.

— As meninas que ele sequestrava morriam violentadas com essa idade.


— Seu tom saiu alto na pequena sala de espera. — Lorenzo fez isso, porque
pensava que você estava morta.

— Parece que sim, e eu culpava Giulia por deixar isso acontecer, mas
Vladimir disse que meu tio a matou, inclusive estava aliado a ele, bolando um
plano para matar Matteo e Nikolai, e forçar-me a me casar com aquele fodido
de merda, como uma aliança de mafioso! — Alisei minha testa para aliviar a
dor.

— Está passando mal? — sondou vindo sentar ao meu lado.

Eu arqueei as sobrancelhas.

— Está preocupado comigo?

— Não seja esperta! Eu prometi ao Nikolai que se acontecesse algo com


ele, eu a protegeria e tomaria conta de você. Eu nunca o vi tão destruído
como quando terminou com você e viu o seu rosto destroçado, mas sabíamos
que não tínhamos escolha. — Ele suspirou frustrado. — Ele foi atrás de você,
algo que Nick jamais fizera na vida. E, por você, ele até ia para a América
direto. Não foi só vingança ali, pois meu irmão realmente a ama. Meu peito
estava com esperança de que isso fosse verdade.

— Você também se importa muito com ele, não é? — Não era uma
pergunta, pois ficou claro pela forma que ele falava do Nikolai.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Andrey Jacov sequestrou a Luciene, mãe de Nikolai. Ela estava


grávida dele de sete meses, indo para o oitavo mês, quando o crápula a
entregou para que seus homens a violentassem na frente de Sebastian Ruiz,
deixando-a praticamente morta e ele vivo para que convivesse com aquilo
como uma forma de vingança. O pai de Nikolai foi quem cortou a barriga de
sua mulher para tirar o bebê antes que morresse junto com a mãe, mas acabou
entregando-o a um hospital. Sebastian ficou cego com a vingança, não se
importando com nenhum de seus filhos. Sumiu do mapa, aparecendo há
pouco tempo. Acho que você se lembra que foi por culpa dele que Tabitta foi
parar no navio dos Bravatas. — Alexei suspirou.

— Sim, eu me lembro. Mas então seus pais o adotaram ainda bebê no


hospital ou já em um orfanato? — Quando li sobre ele, só descobri que
Nikolai havia sido adotado, sem muitos detalhes.

— Nikolai passou por vários lares adotivos até ser adotado pelos meus
pais. Nós realmente gostávamos dele como um irmão. Meus pais estavam tão
animados para adotá-lo, eu era pequeno na época, mas lembro-me de mamãe
dizer que Nick era charmoso até pequeno.

— Eu sei muito bem do charme dele — murmurei.

Ele me fitou.

— Nikolai se aproximou de você por vingança sim, mas ele no final se


deu conta de que não queria se tornar o que o próprio pai se tornou, por isso a
deixou no dia do noivado da sua amiga. Ele tentou ficar longe de você, mas
não conseguiu.

Meu coração deu um solavanco alto pensando na mãe de Nikolai, e no


PERIGOSAS
PERIGOSAS

que esse monstro do Jacov fez. Que apodreça no inferno!

— Nikolai perdeu a mãe dele, e a única família que o tinha recebido de


braços abertos, então vem o monstro do Lorenzo e os mata. Sua maldade e
crueldade chegaram a um limite grande deixando-o cego também. A
vingança é um caminho que, às vezes, não tem volta.

— Então não vai perdoá-lo quando ele levantar daquela cama? Nikolai é
um guerreiro, por isso sei que no mais tardar amanhã, ele já vai estar de olhos
abertos — falou Alexei.

— Eu não sei o que pensar... nesse momento só quero que ele fique bem.
— Minha voz era fraca. — Agora que meu tio sabe que estou viva e que
Vladimir está morto, se ele não souber, logo saberá, acredito que vai planejar
o meu destino na máfia. — Expirei. — Olha, eu quero te pedir um favor, caso
eu seja forçada a ir embora, eu quero que você olhe por Nikolai. Eu sei que é
estúpido dizer isso, ainda mais para um chefe da máfia. — Olhei para ele do
meu lado. — Quando voltar para a América, eu não sei o que será da minha
vida ou o que eles vão decidir, e nem o que será feito. Matteo pode ser Capo,
mas mesmo com todo o poder, ele não pode mudar todas as leis da máfia. E
mesmo se eu fugir, isso pode causar problemas a ele, todos vão considerá-lo
um fraco e eu não quero isso. Seja qual for o destino que eles me
condenarem, eu vou aceitar. Talvez no futuro, eu seja feliz.

— Você não conhece mesmo o Nikolai, não é? Meu irmão não vai
permitir que nada aconteça a você — ele disse. — Jamais vai deixar alguém
tocá-la, o cara morre por você, isso não é no sentido figurado. Você
presenciou isso hoje.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu estava a ponto de responder quando o médico entrou na salinha. Meu


coração gelou temendo que ele não tivesse conseguido. “Por favor, que
Nikolai esteja bem”, recitei como um mantra.

— Então? Como Dark está? — perguntou Alexei se levantando junto


comigo.

Aquela expressão de preocupação com o irmão havia se esvaído, era


como se Nikolai fosse um desconhecido. Máfia e suas regras absurdas de não
poder demonstrar sentimento no meio das pessoas.

Eu não ligava, pois meus olhos molhados demonstravam a dor e o medo


que estava sentindo no momento.

— Ele está vivo? Por favor, diz que sim. — Minha voz era fraca, mas me
controlei.

— Sim, o operamos. Por sorte não pegou nenhum órgão vital, um foi no
ombro e o outro na barriga — respondeu. — Agora é só esperar ele acordar.
Se quiserem entrar, fiquem à vontade.

Suspirei de alívio, e estava prestes a ir onde Nikolai estava quando


Matteo entrou junto com Enzo vindo em minha direção.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

O velho me olhava com ódio e raiva, eu aposto que se estivéssemos


sozinhos, ele iria me bater, isso se não fizesse coisa pior.

— Eu protejo você desse verme imundo! — falou baixo só para eu ouvir.

— Não fala nada sobre o que eu te disse e sobre o que descobri por meio
de Vladimir, pois eu preciso achar provas que foi ele quem matou minha
mãe. Se eu o acusar agora, ele vai dizer que estou mentindo — pedi ao
Alexei, que tinha chegado perto de mim para me proteger. Quem diria que o
homem que amava seus carros e que não gostava de mim, enfrentaria o meu
tio por minha proteção? Talvez só estivesse cumprindo ordens de Nikolai,
mas seja como for, eu agradecia.

Matteo estava sério, e não veio me abraçar. Eu podia ver em seus olhos
que ele queria me abraçar, mas não podia devido ao meu tio.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Viemos buscá-la. — Não pareceu um aviso ou um pedido, e sim uma


ordem sem poder de recusa.

Arregalei os olhos buscando uma explicação ao Matteo, que estava sério.

— Devido ao que aconteceu, nós decidimos levá-la embora, pois aqui


com o Dark, você corre muito perigo — falou Matteo como uma ordem. Seus
olhos estavam suplicantes me pedindo para não retrucar.

Uma semana se passou depois que cheguei da Rússia. Meu tio e Matteo
me trouxeram para Chicago, na casa do meu irmão. Eu não queria deixar
Nikolai, mas não tive escolha. Se eu não cumprisse uma ordem do Capo, isso
iria dar mais motivos para ele querer tirar meu irmão do poder.

Eu falava direto com Alexei, não ficamos amigos, mas estava indo para
esse caminho. Nikolai abriu os olhos no dia seguinte da cirurgia e era para ter
ficado mais alguns dias no hospital, mas o mesmo não quis e não houve
ninguém que o fizesse mudar de ideia.

Pedi ao Alexei que, para a recuperação de Nikolai, o mesmo não dissesse


que eu estava no hospital quando ele foi baleado. E que também não
comentasse o que eu ia enfrentar, ali na casa de Matteo. Alexei não queria
mentir para o irmão, mas no final ele sabia que eu tinha razão. Se Nikolai
soubesse o que eu enfrentaria, certamente deixaria sua recuperação de lado
para vir até mim. Eu só o queria recuperado e sadio.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

No começo, quando eu cheguei à casa de Matteo, eu falo casa dele,


porque já tinha muitos anos que eu não vinha para esse lugar. Parecia tudo
novo, embora cheio de recordações de Giulia e minha infância.

A casa era enorme como eu me lembrava, estilo italiana. A mamãe havia


trazido isso da Itália de quando ela morava lá. Eu gostava dali quando
criança, só odiava a vida da máfia e suas leis.

Matteo me tratava bem, assim como meu primo Luca. O cara havia se
tornado um homem lindo. Moreno, alto e olhos negros conquistadores.

— Senti sua falta, pequena — falou me puxando em um abraço apertado.


— Assim que eu soube que estava viva e aqui, eu vim correndo para vê-la.
Você se tornou um mulherão, bem diferente da menina magricela.

— Eu também senti sua falta, Luca. — Sorri me afastando dele. — Se


tornou um baita de um homem lindo, aposto que arrasa corações por aí.

Ele riu.

— Eu dou o que elas querem. — Piscou enquanto Matteo bufou.

— Você? — sondei.

— Prazer, minha querida — respondeu ele com seu sorriso sexy. — Mas
como você está? Soube do que você passou essa semana.

— Estou bem — falei. Nikolai estava salvo e se recuperando, o nosso


relacionamento estava estagnado por enquanto, ainda mais com meu tio
dando opinião sobre o meu destino, insistindo para que eu me casasse.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Não cheguei a contar a Matteo sobre o meu tio Enzo, pois estava
esperando pegá-lo sozinho, o que acontecia raramente. E também não queria
que Enzo soubesse que eu sabia o que ele havia feito, assim eu poderia
descobrir a verdade, e buscar provas contra ele. Podia também ter pessoas
dele espionando, por isso Alexei enviou dois homens dele para ficarem 24
horas comigo. Foi a condição que ele deu para me deixar vir, pois não
confiava nos homens do meu irmão e muito menos do meu tio. Eu também
não confiava, mas não tinha escolha.

Quando entrei no meu antigo quarto a primeira vez, eu me deparei com


emoções fortes de quando era pequena, e também por saber que foi ali que
Giulia havia cometido o suicídio... ou melhor, onde foi assassinada por
aquele monstro do Enzo. Fora a parte de ele estar intocado, ele estava da
mesma forma de quando eu saí. Uma cama de solteiro, com meus ursinhos
sobre ela e fotos dos meus pais sorrindo felizes.

Giulia era morena, parecida comigo, aliás, eu parecia os dois. A dor da


perda veio forte me fazendo cair de joelhos no chão, enquanto segurava a
foto deles. A saudade de Giulia e do meu antigo pai, aquele antes de se tornar
um monstro cruel.

Eu não fui vê-lo no hospital e também não queria ir, pois, para mim, ele
não existia mais. Embora Matteo insistisse para que eu fosse para dar adeus,
porque a situação dele estava piorando.

— Eu queria dar adeus para um homem que não existe mais, pois ele
morreu há doze anos — falei assim que ele mencionou sobre eu ir ao
hospital.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Fazia oito dias desde que deixei Nikolai em um hospital e estava sem vê-
lo, agora eu estava ali naquele quarto solitário, brilhante com a cor rosa de
menina, com minhas telas que eu adorava pintar, mas, contudo, parecia vazio
como um vácuo.

Fui pegar minhas tintas para pintar um quadro e poder passar o tempo, e
também ver se a dor passava. Sempre que eu estava sofrendo gostava de
pintar, pois me ajudava a clarear a mente. Embora a saudade que eu sentia de
Giulia nunca fosse embora. Eu também estava com raiva por ainda não ter
descoberto uma forma de provar o que Enzo havia feito. Ele não podia ficar a
vida inteira sem punição.

Quando peguei a última tinta, eu vi um pen drive preto bem escondido ali
onde ninguém acharia, pois eu era a única que amava pintar. Será que quem
deixou isso sabia que um dia eu voltaria para casa? Ou a pessoa escondeu ali
justamente porque ninguém acharia, já que eu não estava ali?

Deixei as tintas de lado e fui para o laptop que estava na mesinha e


coloquei o pen drive. Precisava ver se aquilo era algo que a Giulia deixou
para mim ou outra coisa.

Assim que coloquei, eu cliquei para iniciar o vídeo, então a vi com toda
sua glória e perfeição. Ela estava usando um vestido luxuoso e seus cabelos
negros presos em um coque.

— Minha filha amada, se você estiver vendo isso é porque não deu certo
o meu plano e eu não estou mais do seu lado minha bambina. — Ela expirou.
— Dalila, você pedia tanto para que eu a tirasse dessa vida, mas eu nunca
tive coragem para isso.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Meu coração estava batendo forte no peito por estar ouvindo a voz dela
de novo.

— Eu também odiava essa vida na máfia. Casei-me com dez anos, mas
tive a sorte de ser seu pai, porque ele me esperou até que eu fosse adulta
para ficarmos juntos, mas ninguém sabia, esse segredo era nosso. Mas
quando fiz quinze anos, os pais dele queriam netos, então não teve opção a
não ser ficarmos juntos, mas eu já o amava. — Ela limpou as lágrimas.

Então ele era bom? Por que então se tornou esse monstro estando agora
em um hospital? Como se respondesse minhas perguntas, ela falou:

— Mas aquele homem estava indo embora, eu posso ver a cada dia a
sombra dele andando por aí, e começando a fazer coisas que ele nunca fez e
que irão me assombrar para sempre. — Giulia olhou para a porta e depois
para a câmera. — Acabei de presenciar algo horrendo. O seu pai junto com
seu tio, sequestraram crianças e as levaram para um lugar afastado daqui.
Eu os vi pegando uma jovem à força... Seu pai simplesmente entregou-a aos
homens como se ela não fosse nada ou ninguém. Pergunto-me: para onde foi
a humanidade dele?

Giulia ficou em silêncio por um segundo como se estivesse se


controlando.

— Eu me arrependi por um segundo de tê-la abandonado para a sua


salvação, minha filha, e eu quero que me perdoe. Eu sei que não mereço,
mas quando ouvi a armação de seu tio Enzo, não consegui deixar de não
fazer nada — sussurrou. — Ele estava armando com o Pablo Zachur, o seu
noivo, mas seria só em aparência, porque o seu tio, que seria o seu marido,

PERIGOSAS
PERIGOSAS

por isso a deixei naquele parque e ameacei Lucy, uma mulher trabalhadora,
para tomar conta de você. Preferi vê-la fora da minha vida a ser mulher
daquele monstro. Ele matou minha irmã Liliane, e eu presenciei tudo, mas fui
forçada, para a sua proteção e de Matteo, a não abrir minha boca. Agora
esse ser asqueroso queria casar com você para ocupar o trono. Acredito que
eliminaria o seu pai e o Matteo antes.

Eu acho que estava prestes a vomitar, porque nunca vi tanta crueldade


junta em uma só pessoa. Mas não estava surpresa, afinal de contas eu já havia
descoberto muitos podres de Enzo com Vladimir. Eu não sabia o que houve
com a Trider e também não me interessava nem um pouco.

— Tenho provas contra ele e estão escondidas em um cofre. A senha é a


sua digital, e só você terá acesso podendo fazer o que eu não pude quando
estava viva, porque se estiver vendo isso é porque não sobrevivi. — Ela
limpou as lágrimas. — Depois que presenciei as atrocidades do seu pai junto
com o seu tio, eu não posso aceitar isso. Estava indo para colocar tudo a
público, mas seu pai me trancou em casa, agora ele saiu, por isso estou
fazendo esse vídeo com seu antigo celular já que ele confiscou o meu. Não
sei até quando vou aguentar viver assim nessa vida.

Expirei para controlar a dor.

— Quero dizer que amo vocês dois, Dalila, minha gracinha tímida e
graciosa com suas artes, e Matteo, meu menino lindo e protetor. Eu quero
que saiba que sempre vou amá-los.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

O vídeo acabou, mas tinha vários outros onde ela narrava que estava cada
vez pior suportar a vida ao lado de Lorenzo. Depois de assistir tudo, eu
guardei o pen drive no meu bolso, e fui caçar meu celular, já que ela gravava
nele. Talvez lá tivesse mais coisas comprovando que ela não se matou.

Cacei em todo o quarto, mas não achei em nenhum lugar, então saí de
fininho e fui para o antigo quarto de Giulia e Lorenzo. Ele era imenso, mas
vasculhei-o por inteiro, e também não encontrei. Isso significava que alguém
estava com ele ou que haviam jogado fora, mas eu duvidava já que todas as
minhas coisas de quando eu era pequena ainda estavam ali, no quarto. Será
que tinha algo lá que provava o que aconteceu com Giulia?

Porque em todos os vídeos, ela falava comigo, mas quando Lorenzo


chegava, ela interrompia o vídeo correndo para ele não descobrir. Precisava
saber se talvez isso tenha acontecido na última vez em que ela gravou, porque
o último vídeo que assisti era um dia antes de ela morrer. Talvez Enzo tivesse
chegado e a surpreendido, dando um fim nela.

— O que faz aqui, bambina? — sondou Zaira perto de mim olhando para
o quarto de Lorenzo, pelo qual eu havia acabado de sair.

Eu me controlei, pois não deixaria ninguém saber que eu estava com


medo. Mas era Zaira, a mulher que cuidou de mim como uma segunda mãe.
Logo que cheguei na casa, ela me abraçou, me beijou, nunca a vi tão feliz
assim.

— Você acha que tem escutas ou câmeras aqui? — sondei lembrando que
tinha na casa de Nikolai, talvez tivesse ali também, a mando de Enzo.

— Não, o menino Matteo é bem rigoroso com isso, todos aqui são da
PERIGOSAS
PERIGOSAS

confiança de seu irmão. Os que trabalhavam para Lorenzo, ele os mandou


embora — disse Zaira franzindo o cenho. — Por que, Dalila?

Eu a puxei para o meu quarto de novo. Ela era uma senhora de idade, e eu
a amava.

— Eu não acho que minha mãe tenha se matado, aliás, tenho certeza. Só
não tenho provas suficientes para incriminar quem a matou. — Então mostrei
os vídeos a ela.

— Está vendo? Esse último vídeo é um dia antes de ela morrer, então
pensei que talvez ela estivesse gravando outro vídeo e alguém pôde tê-la
interrompido, por isso o meu celular sumiu. Eu procurei em meu quarto e no
dela, mas não achei nada — falei baixo.

— Nessa casa não está, menina, pois eu a faço faxina direto e nunca o vi.
Eu até pensei que a senhora Giulia tinha sumido com ele, por isso nunca disse
nada. — Ela me olhou de lado. — Acha que a pessoa que a matou o levou?

— Se ela não se matou como eu sei que não fez, então quem fez isso está
com o celular, pois lá deve ter algum vídeo incriminador. — Assim eu
esperava, era a única esperança que eu tinha de incriminar meu tio.

— Você sabe quem é que fez isso?

— Sim, mas por enquanto não posso dizer até achar provas.

Ela assentiu.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Como sabe que a pessoa que fez isso já não jogou o celular fora ou
que simplesmente não deletou o vídeo?

— Não sei, mas nos filmes o assassino sempre guarda os objetos


incriminadores consigo. Eu espero que esse cara seja burro a esse ponto
também — respondi. — Agora vou precisar de uma pessoa que seja boa em
computador para ver se localizamos esse número. — Olhei para ela. — Você
lembra que número era? Faz tantos anos, que eu não me recordo.

Ela sorriu.

— Sim, ainda tenho gravado na minha agenda, pensando em quantas


vezes você me ligava, a saudade batia forte... — Sua voz falhou no final.

Eu a abracei forte.

— Quero que saiba que Lucy, a minha mãe que me encontrou cuidou de
mim muito bem. — Eu me afastei. — Também senti saudades de você e do
Matteo. Acredito que vai me ver agora por um bom tempo.

— Espero que sim, menina, mesmo eles querendo casar você, ou melhor,
seu tio, ele quer fazer isso a todo custo.

Eu expirei, porque esse homem me dava náuseas, eu sabia muito bem


qual era o plano já que o dele não deu certo. Com Vladimir morto, seus
planos de ser Capo foram por água abaixo, então deve ter voltado ao antigo,
que no caso seria o de me obrigar a casar com um dos seus servos, mas de
fachada, pois ele mesmo seria meu marido. Eu preferia morrer, ou melhor,
acabar com ele.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Não vou deixar isso acontecer, mas agora tenho que resolver uma
coisa. Se meu irmão ou Enzo aparecerem me avise. — Ninguém podia saber
que eu buscava provas contra o meu tio até que eu as tivesse nas mãos.

Cheguei ao clube do MC da Fênix, louca para ver Nasx e pedir a ajuda


dele. Eu o tinha visto há dois dias, mas como não podia sair sempre, então ele
me visitava, mas parece que esses dias ele estava ocupado resolvendo um
problema do clube, não quis me contar e eu também não o forcei.

Assim que entrei no salão, estavam todos sentados e conversando entre si.
Dominic estava com os olhos estreitos para os meus seguranças, dois de
Alexei, e o Samuel da parte do Matteo.

— Vocês não podem esperar lá fora? — sondei a eles.

— Não — respondeu Samuel, um homem alto, forte, cabelos curtos e


bem protetor.

— Tenho ordens de não deixá-la longe de nossas vistas por nem um


segundo — respondeu um dos homens de Alexei, acho que Adrian ou algo
assim.

Suspirei e deixei passar.

— Cadê o Nasx?

— Estou aqui, preciosa — respondeu uma voz débil no sofá.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu olhei para cima e me deparei com ele sentado meio torto no sofá,
havia contusões em seu rosto e acredito que em outros lugares do corpo
também.

— Nasx? O que aconteceu com você? — Corri até ele e me sentei ao seu
lado. Até dois dias atrás ele estava bem, então o que houve?

— Não era para você sair da segurança da mansão Salvatore — falou


suspirando. — Eu estou bem, Samira, foi só uma coisa que aconteceu aqui no
clube, que não importa agora, pois não posso falar sobre isso.

— Mas já foi ao médico? — Não insisti para que ele me contasse, pois
afinal de contas, todos nós tínhamos segredos, e eu não podia obrigá-lo a me
contar o que tinha acontecido, mas eu tinha obrigação de saber que ele estava
ferido. — Por que não me chamou?

Ele suspirou.

— Estou bem, não se preocupe comigo. Eu garanto que não estou tão mal
como foi com o Dark, e o fodido sobreviveu — disse em uma brincadeira,
mas estremeci lembrando como Nikolai ficou. — Desculpe, não quis
preocupá-la — Ele respirou fundo. — Posso te perguntar uma coisa?

Assenti.

— Claro que sim, qualquer coisa — respondi com ferocidade.

— Você o ama demais, não é? — Senti dor na sua voz, e não precisei
perguntar sobre quem ele se referia, eu sabia que era Nikolai.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Sim. Não importa os motivos que o levaram a se aproximar de mim,


Vladimir disse que era armação e que ele não ficou com a irmã dele, Irina.
Alexei também disse que Nikolai não ficou com ninguém, eu ia falar com ele,
mas estou o esperando se curar primeiro. — Olhei em seus olhos. Notei que
estava apenas nós dois no salão, mas não liguei. — Por que me pergunta
isso? Por acaso você não...

Ele expirou.

— Que eu amo você? Sim — sussurrou encolhido. — Mas eu sabia que


nunca conseguiria lutar contra o que você sente por Nikolai, era uma luta em
vão. Eu sabia que perderia. Embora tivesse esperança depois do que pensei
que ele havia feito contra você, mas após ele levar tiros para protegê-la, eu vi
que nunca venceria, então desisti.

— Nasx...

— Não precisa dizer nada. — Ele me puxou para seus braços.

— Sinto muito — murmurei. Porque nunca poderia ficar com ele, não só
por amar Nikolai, mas também por sermos de mundos diferentes. Não podia
me casar com alguém de fora da máfia, então em um ponto era bom não amar
Nasx assim, dessa forma no futuro, ele seria feliz quando se apaixonasse de
verdade.

Ele beijou a minha testa.

— Não sinta. Agora você precisa ficar segura na mansão da sua família.

Eu olhei para ele, sentado no sofá.


PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Lá não é seguro. Vladimir me contou que foi Enzo que matou minha
mãe — sussurrei com um suspiro. — Agora estou indo atrás de provas.

— Aquele velho sádico fez isso? — Seu tom saiu alto e furioso.

— Sim, eu achei um vídeo que minha mãe deixou. Onde encontro um


laptop para te mostrar algo?

— Hush! — gritou Nasx, sem alterar a voz, mas logo suspirou.

— Não faça esforço, eu posso pedir a ele.

Hush apareceu assim como todos, eles estavam na cozinha.

— O que foi, cara?

— Preciso de um laptop para mostrar algo ao Nasx e a vocês. Bom, e ver


se algum de vocês pode me ajudar.

Hush me deu o laptop e coloquei o vídeo para eles verem, todos estavam
de olhos arregalados assim que terminaram de assistir.

— Sabe onde fica esse cofre que ela mencionou que guardou os
documentos que comprovam todas aquelas atrocidades? — sondou Dominic.

Eu dei um tapa na minha bolsa.

— Os documentos estão aqui, mas não posso dar isso à polícia. Além
disso, vocês acabaram com quase todos eles. Restam apenas Lorenzo e Enzo,
então isso aqui colocaria os dois na cadeia, mas...

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Traria muitos problemas para Matteo, já que ele é o Capo — concluiu


Nasx.

— Isso. Por isso, eu vou entregar a ele, assim meu irmão vê o que pode
fazer. Olhem nesse último vídeo... Estão vendo a data?

— Sim, mas o que tem ela? — sondou Dom.

— Foi gravado um dia antes da minha mãe morrer. Ela usava meu
telefone para fazer os vídeos já que Lorenzo havia confiscado o dela; e
muitas vezes, ela interrompeu alguns deles quando chegava alguém. Então
fiquei pensando, e se no último ela estivesse gravando e o assassino
apareceu? — Suspirei. — Porque Zaira disse que meu celular não está em
nenhum lugar da casa. Eu sei que é um tiro no escuro, mas preciso ter
certeza. Acredito que Enzo deve tê-la presenciado gravando e a matou,
embora ele também a achasse uma fraqueza para Lorenzo, por isso a
eliminou.

— Rastreia o celular — falou Daemon. — Posso fazer isso se quiser, só


preciso do número.

— Isso vai saber onde o celular está e com quem?

— Sim, mas se ele ainda existir, claro! Afinal de contas, isso foi há doze
anos. Se for mesmo o Enzo, ele pode ter sumido com o objeto, mas como o
mesmo é da família talvez tenha guardado — disse Daemon. — Me dê alguns
segundos e eu já vejo isso. Qual o número dele?

Eu dei a ele e Daemon subiu a escada quase correndo, acho que o laptop
dali não servia para o que ia fazer.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Ele consegue? Eu ia pedir a ajuda de Bryan, já que sei que ele é bom.

Nasx sorriu.

— Daemon é o melhor, acredito que até melhor do que Bryan.

— Obrigado por isso, irmão — falou Daemon se aproximando de nós. —


Não vai acreditar onde o celular se encontra.

— Com meu tio? — chutei.

— Sim, na boate Plaza Streep. Esse lugar é dele. — Ele estreitou os


olhos. — O que pretende fazer? Não pode ir lá pegá-lo.

— Uma pergunta: como fiquei longe muito tempo, então não sei, vocês
acham que Luca é de confiança? Trairia seu pai para fazer uma boa causa? —
perguntei a eles.

Dom suspirou.

— Acredito que sim, porque ele ajudou o Capo a libertar Evy do cativeiro
de Lorenzo. Acho que pode confiar nele. — Ele estreitou os olhos. — Vai
pedir a ele para pegar o celular?

— Sim, vou dar uma festa a todos amanhã à noite, para anunciar o meu
retorno. Matteo sugeriu isso, apesar de eu não querer. Contudo, isso tira Enzo
da boate, então Luca poderá ir lá para ver se consegue descobrir o que tem no
celular para ele tê-lo guardado durante todos esses anos.

— Samira, lá vai ser perigoso, não é? — falou Nasx com um suspiro.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Eu vou ficar bem, Nasx, não se preocupe. Matteo vai estar lá. —
Esperava mesmo que eu ficasse bem. — Convidaria você para estar comigo,
mas nessa reunião terá somente pessoas do nosso mundo, lá serão revelados
segredos que não poderão sair de lá.

Assim que eu estava saindo do clube MC, o meu telefone tocou:

— Alô?

— Mas que droga está fazendo na sede do MC? — rosnou Alexei do


outro lado da linha com a voz subindo duas oitavas.

— Quer me deixar surda? — reclamei. — Por que fica gritando? Não


estou correndo perigo com Nasx e os outros aqui. — De repente, fiquei
preocupada. — Nikolai está bem?

— Estou bem, coelhinha, mas que festa vai dar amanhã? — perguntou
com um tom rouco, parecia estar com dor.

Meu coração bateu forte no peito por ouvir sua voz de novo, estava feliz
por ele estar bem.

— Como soube? — Fechei a cara para os seguranças dele, que me


ignoraram. — Preciso resolver uma coisa nesse dia...

— Que coisa? — Ele se alterou e depois gemeu.

— Fique quieto! Cadê o Alexei que não está tomando conta de você? —
Suspirei.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Não preciso que tomem conta de mim, maldição! Eu preciso saber o


que está acontecendo aí. Liguei para o Capo, mas o filho da puta disse que
estava ocupado. — Seu tom era mortal.

— Fui eu que pedi para não o incomodar e deixar você ficar curado —
apressei em explicar, assim ele não soltava sua fúria em Matteo.

— Eu estou indo para a América. Assim que chegar, eu procuro você.


Mas só quero pedir que não fique longe dos meus homens e não se aproxime
do seu tio sozinha... — Ele expirou.

— Nikolai, você com certeza está sentindo dor, e não deveria se


preocupar comigo...

— Não me preocupar? — gritou. — Eu descubro que esses fodidos estão


querendo arrumar casamento para você, porra! Eu estou ficando louco aqui,
porque minha vontade é de matar todos eles.

Isso sem contar que Nikolai não sabia o que meu tio havia feito e nem
qual era o seu plano realmente, fazer-me casar com um de seus servos para
ocupar o trono. Acho que Nikolai podia me ajudar quanto a isso.

— Tudo bem, amanhã estarei esperando você na minha casa. Tenho um


plano. — Então contei o que eu ia fazer, e que precisaria dele para isso.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Então, como estão as coisas lá embaixo? — perguntei a Zaira.

Eu estava me arrumando de frente para o espelho. Eu precisava ser forte


mais do que um dia fui, porque estaria cercada de tubarões querendo a cabeça
do meu irmão e também a minha, mas eu não daria esse gostinho a eles.

— Todos estão aqui. Só estão esperando pela senhorita — disse ela. —


Ouvi o seu tio insistindo com o Matteo sobre o seu casamento.

Saiu asco da minha boca.

— Vou quebrar a crista dele hoje, não se preocupe. — Meus punhos


cerraram querendo acabar com ele.

— Conseguiu as provas que você precisava, menina?

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Sim, mas não posso dizer nada agora, eu só preciso que na hora que eu
pedir, você coloque isso na TV da sala na frente de todos. Pode fazer isso? —
Dei o pen drive a ela.

Ela assentiu.

— Sim, faço. Mas e quanto ao noivado?

Eu sabia que não podia fugir de um noivado, e nem Matteo poderia me


livrar dessa. Mas não queria pensar nisso agora, só queria dar o castigo que
Enzo merecia por ter matado minha mãe. O bom era que Nikolai me ajudaria
com o meu plano.

Olhei-me de corpo inteiro no espelho. Cabelos pretos nas costas, vestido


prata com as costas nuas e decote caído nos seios. Era charmoso sem ser
sensual demais. Minha barriga ainda estava pequena, afinal de contas eu só
estava de dois meses, apesar de que a notícia da minha gravidez já estava na
boca do povo. Aposto que foi Enzo que fez isso, assim meu irmão não teria
escolha a não ser arrumar casamento para mim com quem ele quisesse.
Maldito seja!

Desci a escada e me deparei com a casa cheia de pessoas. Rostos que


nunca vi antes, alguns sim, mas outros eram novos.

— Nossa! Ela está grávida sem se casar! — Ouvi as mulheres falarem


umas com as outras.

— Com certeza um bastardo sem pai! — Outra mencionou.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Uma mulher grávida sem casar no meu mundo era considerada sem valor,
iguais as prostitutas que ficavam nos clubes.

— Vocês deviam cuidar das próprias vidas, suas fofoqueiras — grunhi


baixo ao passar por elas, mas minha vontade era arrancar seus dentes por
falarem mal do meu bebê. — Com certeza, seus maridos andam por aí
pulando a cerca já que vocês são umas mal-amadas. E meu filho não é um
bastardo, ele tem pai, que logo estará aqui.

Nikolai estava na América, acredito que logo estaria aqui para me ajudar
a enfrentar esse bando de abutres.

— Minha irmã linda! — falou Matteo beijando meu rosto. — Está


deslumbrante!

— Obrigada, meu irmão — falei enquanto ele me levava para perto de


alguns homens, inclusive o velho do meu tio.

Eu segurei todo o ódio que sentia por esse homem. Por culpa dele, minha
mãe estava morta. Luca me ligou, instantes atrás, e definitivamente o celular
comprovava o que Vladimir me disse, esse verme realmente fez isso. Era só
esperar Luca chegar aqui para desmascará-lo.

— Olá, sobrinha, vejo que se tornou uma mulher linda — disse o velho
fodido.

A bile subiu por minha garganta.

— Obrigada.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Estava falando com o Capo sobre como as leis mudaram, agora as


mulheres casam com dezoito anos, e você já passou da hora de casar, por isso
consegui um pretendente, ele se chama Milton Neves, e é uma pessoa
responsável que trabalha para mim... E como você está grávida de um filho
sem pai, eu acho que não está sujeita a escolha. — Ele parecia animado com
isso.

— Desculpe desapontá-lo, tio, mas não vou me casar — falei tentando


não mandá-lo para o inferno.

A mandíbula de Matteo trincou com a sugestão do Enzo.

— Não? Pretende desobedecer às ordens de um Capo? — Notei seus


punhos cerrados como se quisesse me bater. — Sabia que isso está sujeito a
castigo?

— Dificilmente, pois não estou desobedecendo às ordens do Capo. Eu só


não posso me casar justamente porque já tenho um noivo...

Ele me cortou.

— Não pode casar com alguém fora da máfia! — rosnou. — Essa lei não
pode ser mudada.

Eu sorri nervosa, bem a tempo de Nikolai entrar na nossa sala junto com
Alexei e Irina. Ela vestia um vestido vermelho no meio das coxas mostrando
parte do corpo. Perfeito, a garota era uma loira linda!

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Nikolai deixou-os e veio até mim. Embora ele andasse normal, notei que
o mesmo sentia dor. Não o traria ali se não precisasse dele. Porque ele
merecia descansar e se recuperar.

— Cheguei atrasado? — sondou Nikolai me puxando para seu lado.


Senti-o estremecer.

— Não, bem a tempo de eu poder apresentá-lo ao meu tio e a esses


senhores como o meu noivo e pai do meu filho — falei a todos e depois olhei
para os olhos arregalados deles. — Então, senhores, eu não violei nenhuma
regra e não fui contra o Capo, já que meu noivo é, bom, acredito que todos
aqui conheçam Nikolai Dragon, o chefe da máfia russa.

— Na verdade sim, você violou uma regra, e com isso merece ser
castigada — falou Enzo parecendo orgulhoso e feliz.

Eu me encostei mais em Nikolai como se buscasse proteção. Não gostava


da palavra castigo, porque na linguagem desse velho era apanhar.

— Posso saber qual? — Embora soubesse a que ele se referia, Matteo


também, pois vi pela tensão em seu corpo.

— Você ficou foragida por doze anos, e agora aparece viva, sendo que
todos nós pensávamos que você estava morta. Isso mostra que Giulia mentiu
sobre isso, não é? O pai, no caso o meu irmão, montou um covil onde
sequestrava crianças e depois as entregava aos homens, pois ele tinha uma
promessa não cumprida. Vocês acham que essa família está apta para ocupar
esse cargo? Um Capo que não consegue nem controlar sua própria família,
como dará conta de assumir suas obrigações? — Ele se dirigia a todos no
lugar.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu o fulminei com raiva.

— Acha que não tenho poder para lidar com minha família? Com meu
povo? — rosnou Matteo com seu tom de Capo. — Está tão doido assim para
ter meu cargo?

— Você não nasceu para ser líder — respondeu sem se abalar.

Trinquei os dentes e explodi. Ele e Vladimir eram dois vermes imundos;


um estava no inferno, quem dera esse fosse também.

— Acha que você está pronto? Então me diz uma coisa: se fosse Capo, o
que faria? Acha que governaria nossa raça com firmeza e destreza? O que iria
fazer com quem não cumprisse as regras? Matar? Bater? Estuprar? Ou daria
para seus homens fazerem isso?

Ele trincou os dentes e deu um passo até mim, mas Nikolai me puxou
para trás dele fuzilando Enzo.

— Não ouse tocá-la ou não respirará um dia a mais — sibilou.

Eu olhei para todos na sala.

— Eu não conheço muitos de vocês, e lamento ter ficado todo esse tempo
fora, mas eu odiava essa vida na máfia, odiava a ponto de preferir permanecer
escondida. Tenho certeza de que muitos que estão aqui também odeiam,
apenas não possuem a mesma coragem que eu para confessar na frente do
meu irmão ou do meu tio. — Respirei fundo. — Confesso que nenhuma
família é perfeita, Lorenzo...

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Ela nem o chama de pai. Como uma filha não honra sua família? —
grunhiu Enzo.

— Eu honro quem tem honra, e Lorenzo perdeu isso no momento em que


Giulia me abandonou em Moscou. Eu a odiei por todos esses anos pelo que
fez a mim, mas descobri os seus reais motivos para me deixar. — Eu assenti
para Zaira e a mesma soltou o vídeo. — Estão vendo este vídeo? Minha mãe
deixou para mim, e eu o encontrei ontem. Ela fez com meu antigo celular.

Eu olhei para Enzo que estava branco como um fantasma e algumas


pessoas chocadas com o que Giulia falava.

— Nesse nosso mundo existem muitas pessoas boas, é claro que com um
lado sombrio também, mas isso? Você fez a pior coisa que nunca deveria ter
feito, e sobre as regras? Bom, eu não fui a única a quebrá-las, o meu castigo
Nikolai vai dar depois, já que sou a noiva dele e não pertenço mais ao meu
irmão — falei friamente. — Mas me lembro muito bem do Lorenzo dizer que
um membro Salvatore não pode tirar a vida de alguém da mesma família ou
ele poderia ser morto como um indigente sem merecer justiça. Como você,
titio.

— Isso fora a parte dele se aliar com Vladimir, o chefe da Trider, para
matar a mim e ao Capo de vocês, e depois poder reinar como o novo líder —
disse Nikolai de modo frio também. — Se eles não derem um jeito em você,
eu darei. Não me importo com uma guerra, porque você tocou no que é meu e
vai pagar por isso.

Matteo olhou para mim de olhos arregalados.

— O que você quer dizer? — Ele fitava entre nós dois. — Quem você
PERIGOSAS
PERIGOSAS

matou da nossa família?

— A tia Giulia e minha mãe... — disse Luca apertando o play do celular e


o vídeo foi ao ar tanto no celular quanto na tela imensa que tinha na sala.

— Meus amores, esse vídeo é para dizer que amo vocês dois, e Matteo?
Eu quero pedir a você que se acontecer algo comigo proteja a sua irmã, pois
ela está viva e tenho fé que feliz, longe desse antro que se tornou nossa
família...

— Então quer dizer que a puta da sua filha está viva? — rosnou Enzo
interrompendo Giulia. O celular caiu, mas vimos o rosto dele.

— Enzo, você é um monstro! Como ousa bolar um plano de ter sua


sobrinha como noiva? O quê? Só para um dia ser Capo? Mesmo casando
com ela, Matteo é o eleito e nunca será você! — gritou ela chorando.

— Vou dar um jeito daquele moleque ser morto ou ser dado como um
inútil. Ele não nasceu para ser líder, eu nasci. Era para eu ser o Capo e não
Lorenzo, um homem fraco no poder controlado por uma família. Só depois
do que houve com a cadela da filha de vocês é que ele virou homem! —
rosnou Enzo com fúria e bateu em Giulia, que caiu no chão.

Depois cenas dele subindo em cima dela.

— Hoje você vai ser morta, e eu vou forjar a sua morte para que pareça
um suicídio, por você se sentir culpada com tudo o que aconteceu com sua
preciosa filha. E quando eu encontrar a Dalila, eu vou bater tanto nela que
quebrarei todos os seus frágeis ossos.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Fechei os olhos não querendo ver aquele final. Nikolai colocou meu rosto
em seu peito. Mas eu pude ouvir os gemidos e ofegos da mamãe até que tudo
se silenciou. Ela havia ido embora para sempre.

— Eu estou aqui, coelhinha.

— Nunca imaginei que seria capaz de chegar a esse ponto! — rosnou


Luca com fúria na voz. — Você matou minha mãe também. Por quê? Só para
se casar com Dalila e ter um maldito cargo?

Eu fitei os dois. Enzo fechou a cara mostrando suas garras.

— Ela era uma inútil, e estava me atrapalhando na conquista do trono,


que eu merecia por direito.

— Trono? Seu desgraçado de merda! — Luca se lançou contra ele e o


socou no rosto fazendo o velho cair para trás.

— A reunião acabou! Samuel? Prenda todos os capangas deste homem.


— Matteo olhou para mim e vi dor em seus olhos. — Pode ficar com Nikolai
essa noite? Só confio nele com você ou com os MCs.

Eu assenti, estava mesmo louca para sair dali e ter alguma tranquilidade,
pelo menos em relação a minha família. Agora Matteo ia cuidar de tudo. Seja
o que for que ele ia fazer com Enzo, não seria bonito.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu pensei em ir para o clube do Nasx, mas precisava falar com Nikolai, e


tomar uma decisão definitiva sobre nossa vida, se nosso casamento seria
somente de fachada ou real. Eu ouvi da boca de Alexei e Vladimir os motivos
de Nikolai ao se aproximar de mim, mas agora precisava ouvir dele.

Entrei em uma casa imensa, não muito longe da de Matteo, mesmo estilo
italiano. Até nas mobílias, mas não reparei muito no momento, estava
nervosa e preocupada com Nikolai. Notei-o cada vez mais ofegante.

— Está sentindo dor? — sondei assim que fomos para um quarto luxuoso
com uma cama no estilo Califórnia King. Podia ver as luzes da cidade
brilhando do lado de fora.

— Estou bem — gemeu enquanto deitava na cama.

— Fique quieto. Onde estão os analgésicos? — perguntei a ele.

— Não quero remédio — grunhiu. — Eles me dão sono. Eu preciso ficar


acordado e proteger você.

Eu ri.

— Me proteger? Você tem uns mil guardas lá fora pagos para fazerem
isso, além do mais eu não corro mais perigo — falei achando os comprimidos
na gaveta da mesinha perto da cama. Dei a ele. — Toma.

Ele não queria tomar, mas tomou após eu insistir muito.

— Não gosto de me sentir impotente — resmungou encolhido nos


travesseiros.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Você pode ter poder, Nikolai, mas é humano e não uma máquina
capaz de tudo. Agora vamos tirar isso, pois eu preciso ver seu ferimento —
falei tirando o paletó e a camisa que ele usava. Então vi a atadura manchada
de sangue. — Oh, Deus! Está sangrando.

— Estou bem, Samira. Agora se sente aqui e deixe como está. Logo
aliviará a dor — pediu e bateu na cama ao seu lado.

Eu assenti e me sentei.

— Tudo bem. Agora me diz, por que mentiu para mim? Sobre ter ficado
com as mulheres e... — Eu me encolhi ao pensar em suas palavras.

Ele se encolheu, mas agora não tinha nada a ver com suas dores.

— Alexei e sua boca grande... sorte dele eu estar ferido ou ia acabar com
ele por deixá-la vir com esse maldito... estremeço só de pensar nele tocando
em você enquanto eu estava apagado em um hospital. — Expirou.

— Ele não disse para protegê-lo, afinal de contas você precisava ficar
curado. E seus capangas não me deixavam um segundo, assim como Samuel,
o capanga do meu irmão. E, então? Vai me dizer toda a verdade? — Olhei
seus olhos.

— Quando a conheci em frente a minha boate no Prisma, eu não sabia


quem você era, só achei intrigante alguém passar uma hora daquela e não
ligar para música e tudo mais, você apenas ficava olhando e procurando por
mim, como se quisesse me ver. Achei fascinante o seu modo constrangido ao
chegar em mim naquela noite, é claro que devo a Mary por esse empurrão. —
Ele sorriu com isso.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Podia não ter sido você, talvez eu apenas estivesse achando a boate
bonita — menti. Procurava por ele, embora não tivesse ideia de que Nikolai
estivesse me olhando de algum lugar dos vidros da boate.

— Todas as vezes? — comentou com um sorriso na voz.

Mudei de assunto:

— Não sabia quem eu era? Então quando descobriu?

— No dia do noivado de Anabelle, Alexei me ligou e falou quem você


era, e o que ele queria fazer com você e sua família, então eu disse que já
sabia e por isso estava com você e não o contrário. Precisava ganhar tempo
para impedir que ele a matasse... — Seus olhos eram tristes. — O primeiro e
único segredo que escondi dele, mas precisava protegê-la.

— Por isso me disse que o que tínhamos era só foda e que eu não tinha o
direito de saber de nada da sua vida? Não foi para minha proteção, não é?
Estava com raiva de mim, por meu pai ter feito o que fez. — Minha voz era
só um sussurro.

— De certa forma era sua proteção contra mim. Estava um tormento


dentro de mim naquele dia, porque descobri que a única mulher por quem já
senti algo era filha do meu pior inimigo, um ao qual queria morto, mas não
podia fazer isso sem que acontecesse uma guerra. Eu faria isso, mas o
problema era que você também sairia ferida — sussurrou. — Consegui ficar
afastado por uma semana evitando não me aproximar de você, pois eu
precisava saber o que estava sentindo naquele momento, se me deixaria levar
ou esqueceria você de vez.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Por qual motivo voltou? Por vingança ou outra coisa?

— Nunca foi vingança com você, Samira. Gostei de seu jeito inocente,
tão linda, só de pensar em alguém fazendo mal a você me sinto furioso, até eu
mesmo. Por isso fiquei longe por uma semana, mas não consegui. Pensava
em você 24 horas por dia tanto que achei que ficaria louco se não voltasse.
Então voltei e não me arrependo. — Ele alisou meu ventre.

— Por que insistia tanto para eu ficar grávida? — Pensei nas pessoas
falando mal de mim hoje, porque eu estava grávida fora do casamento.

— Não foi porque eu pensava em deixá-la grávida para que no final você
ouvisse coisas como as que ouviu hoje. — Meneou a cabeça de lado para
mim. — Nunca pensei isso. No meu mundo, um líder de verdade é
considerado mais poderoso quando tem uma família e herdeiros, por isso eu
queria um filho. Algumas pessoas do meu mundo com certeza comentam
sobre isso, sobre eu ser novo demais e tomar conta de um império, ainda mais
que não tenho sangue legítimo da máfia, embora nunca comentem na minha
frente. — Seu tom saiu sombrio, e depois mais leve. — Você foi a única
mulher que despertou sentimentos em mim fazendo-me querer ter uma
família neste meu mundo. Por isso fui relutante no começo quando a conheci,
não cheguei em você, pois pensava que não podia trazê-la para a minha vida,
já que não tinha conhecimento de você pertencer a máfia. Mas perdi minhas
forças quando a beijei, e decidi não deixar você escapar.

Eu estava de boca aberta com o que acabei de ouvir da boca dele. Então,
ele não se aproximou de mim por causa da vingança? Ele realmente se
importava comigo e me amava, podia ver isso em seus olhos.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Então você queria que eu desistisse de tudo para ir morar com você só
para ter uma família?

— Não foi só por ter uma família, queria você do meu lado, Samira. Eu
estava muito sobrecarregado com as coisas do meu mundo, com a Trider
fechando o círculo contra mim, eu tendo que me ausentar da Rússia e ficar
com você. — Ele alisou minha mão. — Mas acredite, eu queria aquilo, quero
você e meu filho. — Ele deu um suspiro triste. — Lamento por dizer aquilo,
saiba que falar aquelas palavras e ver a dor que afligi em você foi como se
metade da minha alma se partisse ao meio. Mas era preciso como já deve
saber, embora a magoei em vão, o desgraçado soube, pena que não posso
matá-lo de novo.

Na hora da luta, eu não reparei em quem atirou no Vladimir, eu só me


preocupava em salvar Nikolai que estava ferido.

— Eu sei, Vladimir me falou sobre o infiltrado na sua casa e também que


tinha câmeras no lugar. Foi assim que ele descobriu sobre a armação e veio
me sequestrar.

— Sim, um erro que não cometerei de novo, sua proteção é mais


importante do que tudo no mundo para mim. A mulher por quem eu acabei
me apaixonando perdidamente. — Ele tocou meu coração que martelava alto
com seu toque e com toda a descoberta.

— Quando descobriu que me amava? — sondei curiosa.

— Não sei bem, acho que no dia em que fui ao seu serviço e vi os
homens te olharem e mexerem com você. Senti muito ciúme disso, mas antes
disso foi com o Nasx. — Suspirou. — Mas tive certeza quando fui para
PERIGOSAS
PERIGOSAS

Rússia. — Ele tocou meu rosto e expirou na minha pele. — Lamento pelo
que sofreu todo esse tempo, saiba que seu cheiro e sua pele são minha
essência, e o meu tudo. O que mais amo neste mundo. Espero que me perdoe,
porque, sinceramente, não sei viver sem você.

Meu peito estava aliviado por descobrir que ele me amava de forma
intensa, e eu podia ver isso em seus olhos. No seu toque.

Tirei meu sapato e meu vestido e deitei ao lado dele alisando seu rosto,
que sonhei há muito tempo tocar. Aproximei-me devagar e o beijei de leve,
mas ele me apertou nos seus braços e devorou minha boca com fome e sede,
como se estivesse há muito tempo sem se alimentar de mim.

Eu me afastei assim que ele gemeu com a dor.

— Nikolai, fique quieto ou vai arrebentar os pontos — falei me afastando


dele. — Aposto que o médico falou para ficar de repouso.

— Não é ele que está com o pau duro há semanas! — rosnou. — Eu


aguento.

— Fica bem quietinho que eu cuido de você — pedi beijando por cima
das ataduras onde levou os tiros para me salvar.

— Samira... — rosnou quando passei a língua em sua barriga e fui


descendo.

Tirei sua calça e cueca deixando-o nu com seu membro duro saindo pré-
semen na cabeça inchada. Abaixei e tracei a língua na ponta e apertei com os
lábios, e depois levei mais fundo, até onde consegui, degustando, lambendo-o
PERIGOSAS
PERIGOSAS

com fome. Eu também estava faminta demais por isso.

— Se você se mexer, eu não vou chupar esse pau gostoso! — ameacei


beijando a cabeça do membro.

— Vou me comportar, só não pare, pois esses lábios são o meu maldito
céu! — rosnou.

Então voltei a saborear aquele alimento, pelo qual estava faminta há dias.
O que não consegui colocar tudo, eu peguei com a mão balançando conforme
movimentava com minha boca. Até que ele gozou forte clamando meu nome
com adoração. Senti seu gozo bater no fundo da minha garganta e não parei
de chupá-lo até não restar mais nenhum líquido.

Eu estava com vontade, mas, naquele momento, era somente para ele, já
que o mesmo não podia se esforçar muito. Sorri para ele.

— Está melhor para dormir agora? — perguntei observando seus olhos


um pouco pesados por causa dos remédios.

Ele balançou a cabeça.

— Não, agora é a sua vez...

Cortei-o:

— Estou bem, só dorme um pouco.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Samira, eu posso sentir a sua boceta latejando, me querendo tanto


quanto eu. Prometo ficar quieto, só tira a calcinha e sente no meu rosto.
Assim só movimento minha boca e língua.

Eu corei. Mas assenti e fiz o que ele mandou. Sentei-me nua em seu rosto.
Olhei para baixo e vi seus olhos azuis lindos me olhando já com a boca em
minha boceta.

— Eu vou movimentar e não você, ou eu paro, ok? — falei, com rosto


vermelho.

— Sim — respondeu e então sugou o meu clitóris com uma força precisa,
mas de um jeito que me deixou nas nuvens. Em cada movimento de sua
língua, eu rebolava mais contra seu rosto, quase querendo entrar dentro dele,
tamanho era meu êxtase.

Eu segurei meus seios apertando-os de forma enlouquecedora. Com um


puxão de sua língua expert, eu gozei chamando pelo seu nome. Fiquei ali em
sua boca até parar de tremer em meu orgasmo.

— Nossa! Gozei que estou toda mole — falei deitando com a cabeça em
seu ombro bom e uma com uma perna na sua.

— Eu também. — Beijou meus cabelos. — O calmante que eu precisava.

— Obrigada por não me deixar chorar hoje. Com tudo o que houve era
para eu estar aos prantos, mas com você do meu lado tudo fica suportável. —
Beijei seu peito.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Eu agradeço por isso, querida. De agora em diante ficarei feliz em


fazê-la feliz. Isso é uma promessa! — jurou com ferocidade.

— Se você sempre estiver ao meu lado, então vou ser — respondi. — Só


não quero que minta para mim de novo, não importa se é para minha
proteção. Se vamos nos casar, eu preciso que seja sempre sincero. Daremos
um jeito de resolver juntos os problemas. — Olhei para ele com as
sobrancelhas erguidas. — Você vai mesmo se casar comigo?

— Claro! Acha que eu deixaria você casar com outro? Só se eu estiver


morto. Isso porque não tem como eu sair do túmulo para matar o bastardo.

Bufei com um sorriso.

— Fico feliz por você não ter se aproximado de mim por vingança.

Ele tocou meu rosto.

— Eu também fico, minha coelhinha, só lamento por ter feito você sofrer,
mas de agora em diante prometo que não farei mais isso.

— Eu amo você, Nikolai.

— Também te amo para sempre — prometeu.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Três semanas depois...

Eu falei com a Tabitta para não deixá-la preocupada comigo, por isso
estava indo visitá-la em Manhattan. Nikolai foi na frente, ele queria ir
comigo, mas falei que queria falar com ela primeiro antes de mencionar o
meu casamento.

Matteo e Luca acertaram as contas com Enzo, não sei o que fizeram e
também não me interessava. Não precisava saber tudo de sombrio desse meu
mundo. Mas acreditei que ele estivesse morto. Lorenzo também morreu, ou
melhor, desligaram os aparelhos, acho que teve voto do conselho ou coisa
assim, e decidiram que ele não tinha honra para viver. Eu não chorei, não
conseguia, não depois do que ele fez.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Toquei a campainha da mansão da Tabitta e Jason, meio nervosa. Não sei


o porquê, mas acho que me sentia culpada por não ter dito a verdade a ela
durante todo aquele tempo. Que amiga eu sou? Mas eu queria protegê-la dos
meus problemas, que não eram pouco.

Anabelle e Mary ficaram eufóricas assim que eu contei que ia me casar,


elas não viam a hora de conhecer a casa de Nikolai e a Rússia, já que o
casamento seria lá.

— Oi, Samira. — Ela me abraçou forte com seu barrigão. — Estava


sumida. Como foi o passeio na Rússia?

Taby era uma loira linda, de olhos verdes, muito parecida com Nikolai.

— Oi, Taby. — Afastei-me sorrindo, evitando sua pergunta, mas


precisava contar para ela depois.

— Vamos entrar. Estamos esperando para o almoço que fiz — falou me


puxando para sua sala de jantar com uma mesa de oito cadeiras. E nelas
estavam, Jason, seu marido, um homem alto, de cabelos castanhos e olhos cor
de chocolate. Mas o choque que me deu foi que Nasx estava ali junto com
Nikolai.

— Nasx?

Ele sorriu, embora houvesse sido forçado.

— Olá, Sam. Sua amiga Tabitta me convidou, acredito que ela pensa que
estamos juntos.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Espere, o quê? — Olhei para o sorriso da Taby.

— Depois que conversamos, você disse que estava namorando, então só


vi você com Nasx. Por isso o convidei para o almoço, assim ficamos todos
juntos. — Sorriu batendo palmas como uma criança animada. — Agora sente
perto de Nasx.

Nikolai rosnou segurando uma faca. Estremeci com medo dele fazer
besteira.

— Isso não está acontecendo! Samira não está com Nasx — sibilou o
nome do meu amigo. — Ela é minha namorada e vamos nos casar na Rússia
daqui a cinco dias, por isso ela veio aqui hoje, pois pretendia te contar e
convidá-la para o casamento.

Tabitta arfou, mas antes que ela se recuperasse, eu a puxei para a cozinha,
mas fiz cara feia para Nikolai, que apenas sorriu.

— Você vai casar com meu irmão? — Seu tom saiu alto em sua cozinha
luxuosa com prateleira branca e fogão de inox, assim como a geladeira.

— Você é contra?

— O quê? — Piscou com ultraje. — Era esse o seu medo? De eu não


aceitar? Samira, sua boba! Eu fico feliz por você ter meu irmão, mas ele te
faz feliz? E por que não me contou sobre ele?

Em seguida, eu contei tudo sobre mim, minha verdadeira origem, meu


relacionamento com Nikolai.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Ele se apaixonou por mim e eu por ele. Nós tivemos todos esses
imprevistos, mas só não contei antes porque minha vida estava correndo
perigo por causa desse inimigo dele, que ocupou o lugar de Jacov. Eu não
queria você enrolada nisso, ainda mais estando grávida. Eu sinto muito por
não ter dito nada.

Ela suspirou.

— Tudo bem. Eu não estou com raiva de você, só quero que seja feliz. —
Ela me abraçou de novo.

Voltamos para a sala de jantar. Ela foi direto em Nikolai para abraçá-lo
também.

— Meus parabéns, meu irmão. — Ela quicou toda animada. — Espero


que faça minha amiga feliz ou te partirei em dois.

Seu ferimento estava quase cicatrizado.

— Eu farei, sim. — Tinha o selo de promessa em seu tom, ele gemeu


com o abraço.

— Ele levou dois tiros para me libertar do cativeiro na Rússia, e ainda


está se curando — falei a ela.

— Tiro? — Sua voz agora soou preocupada. — Por que não me contou?

Ele suspirou.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Para protegê-la. Eu não podia deixá-la se aproximar de lá, não agora,


pois já tinham muitas pessoas que eu amava correndo perigo. Lamento por
tudo, mas quero que saiba que amo a Samira e também nosso filho.

— Filho?

— Esqueci de mencionar isso. — Sorri e passei a mão na barriga. —


Estou grávida.

Então ela gritou animada dizendo que íamos comprar roupas de crianças
juntas.

Foi quando notei uma coisa.

— Cadê o Nasx?

Nikolai me puxou para o seu lado.

— Foi embora, acho que tinha outra coisa para fazer.

Eu sabia que não havia sido por isso, esperava que em breve ele
conseguisse uma pessoa que o amasse, e que o que ele sentia por mim não
tivesse nem comparação a isso.

Estava indo ao altar para o meu homem. Matteo me levou. O casamento


estava sendo realizado no quintal enorme da casa dele com vista para o mar.
Meus amigos estavam ali, menos Nasx que não veio, e não consegui deixar

PERIGOSAS
PERIGOSAS

de me sentir culpada com isso, mas o prazer de estar com Nikolai superou
tudo, incluindo a culpa.

Rômulo veio com uma namorada, e fiquei feliz com isso, graças a ele, eu
tive um pedido grande das minhas obras que estariam sendo levadas para a
França no próximo mês.

Ignorei a todos nos seus assentos, e só olhava para o meu futuro marido,
meu mafioso gostoso. Ele estava vestido com um terno preto. Havia ficado
lindo com seus cabelos loiros e olhos da cor do mar, assim como o céu.

Seu sorriso e olhar eram de adoração, como se agradecesse por eu estar


em sua vida, mas era eu quem agradecia por tê-lo na minha.

— Faça ela feliz ou eu te mando para a cova — falou Matteo me


entregando para Nikolai.

— Matteo!

— É só um alerta, minha querida. — Beijou minha testa e se afastou.

— Você está deslumbrante com esse vestido — elogiou Nikolai, sorrindo.

Eu estava com um vestido longo no estilo tomara que caia, meio frouxo
na cintura, afinal de contas, eu não ligava de estar casando grávida. Ele era
uma bênção na minha vida.

— Está pronta para ser a Sra. Dragon?

Seus olhos brilhavam, ele estava gostando disso.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Eu nasci pronta, ainda mais esperando o meu castigo depois —


mencionei para ele no dia anterior que o mesmo precisava me castigar por eu
ter ficado longe da máfia. O fodido do Enzo pensava em surra, eu já pensava
em outra coisa. Nikolai adorou a ideia.

— Estou contando com isso, querida, ainda mais depois desses dias —
ele sussurrou baixo no meu ouvido. — Sem foder direito, já que estava
remendado.

O padre ministrou a palavra para nós, eu nem acreditava que esse homem
agora era meu, e não tinha vingança nenhuma no meio do caminho.

— Eu agradeço por conhecer você. — Ele olhou para mim com adoração.
— Não prometo que será sempre um mar de rosas, porque no nosso mundo
sempre vai ter um toque obscuro, mas prometo que farei você feliz. Prometo
zelar, proteger e cuidar de você e de nosso filho até meu último dia nessa
terra. Com você, eu me caso; e com você, eu me uno. Com sangue é gerado e
com sangue é concebido, recebo você, minha mulher. Uma vez que essa
união foi selada, só será rompida com a morte.

Eu sabia que as falas e votos da máfia eram um tanto diferentes do mundo


onde vivi naqueles doze anos. Nikolai queria mudar, mas seu irmão Alexei
não deixou. Ele falou que não podia mudar as coisas, pois as pessoas
começariam a falar.

Por isso Nikolai falou mais em poder e conquista ao me ter, do que


declarar seu amor. Um chefe falando isso na frente daquele bando de
poderosos, não pegaria bem. Mas meu lindo marido guardou essa declaração
para quando estivéssemos sozinhos.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Eu agradeço por ficar até tarde pintando na faculdade, porque se não


fosse por isso, hoje eu não estaria aqui ao seu lado, e também a minha amiga
maravilhosa pelo empurrão. — Fitei Mary, que estava sorrindo. Voltei meus
olhos ao Nikolai. — Não teria voltado a minha família e nem desvendado
segredos do passado. Hoje estou aqui me casando com o homem mais lindo e
cobiçado da Rússia, mas eu fui a sortuda afrontosa por tê-lo em minha vida.
Não ligo por um mar de rosas, contanto que eu tenha você para sempre ao
meu lado.

Então falei as palavras dos votos da máfia. Repeti o mesmo que ele.

— Sempre — disse e me beijou selando nosso destino juntos.

— Está bem presa? — sondou Nikolai checando as minhas algemas e


correntes. Ele me prendeu em correntes na parede.

— Sim. A ideia foi minha, lembra-se? Você prometeu que me faria gritar
hoje, mas de prazer, então estou contando com isso.

Ele sorriu e beijou meus lábios de leve.

— Com prazer, Sra. Dragon — disse e fechou meus olhos com a venda.
— Uma vista linda! — sussurrou bem em minha boceta. Eu podia sentir o ar
quente de sua boca e narinas, isso me fez arrepiar por inteira.

Ele pegou uma das minhas pernas e a colocou em seu ombro, então
estava me degustando com fome. Meu mafioso lindo sempre era faminto.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Isso é tão bom... — sussurrei com a voz grossa de desejo. E gritei


assim que ele deu um puxão no meu clitóris.

— Isso, minha esposa gostosa, goza para mim. Eu quero sentir seu gozo
em minha boca! — ordenou e esse som foi direto no centro fazendo-me gozar
adorando seu nome.

— Nikolai...

— Sim, minha querida, eu adoro o seu gosto — sussurrou nos meus


lábios e, em seguida, estava me fodendo com força.

Eu coloquei minhas pernas a sua volta e o senti entrar mais fundo me


levando ao ápice do prazer. Ele estocava em mim e me beijava ao mesmo
tempo.

— Nikolai, eu amo você. Eu queria dizer nos votos, mas não sabia o
preconceito da máfia contra isso — falei assim que parei de tremer do meu
orgasmo.

— Eles aceitam o amor, mas demonstrá-lo ao público é sinal de fraqueza


dando ao inimigo de bandeja seu calcanhar de Aquiles. — Tirou minha venda
e sorriu. — Está gostando?

— Adorando meu marido gostoso e saboroso. — Sorri.

— Que bom. — Ele me soltou e me levou para a cama. — Agora vamos


para o segundo round.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— A noite é uma criança. — Mordi o lábio, pairando em cima dele.


Beijei onde ele levou um tiro. Havia ficado uma cicatriz.

— Você sempre faz isso. Por quê? — sondou curioso.

— Dando graças a Deus por você estar vivo e comigo, não há dádiva
melhor do que isso — respondi fitando seus olhos e tocando seu rosto. — Eu
sei que, nesse nosso mundo, nós vamos enfrentar muitas coisas nem sempre
boas, mas vale a pena viver nele só para estar ao seu lado.

— Eu farei de tudo para proteger você e ao nosso filho dos inimigos a


minha volta. Eu não os deixarei saber que tenho uma fraqueza. — Ele beijou
minhas pálpebras com amor. — Uma que eu derrubaria inferno e céu caso
perdesse...

— Nunca irá me perder, Nikolai. — Selei meu juramento beijando-o.

Ali nos braços daquele homem estava um caminho que eu queria seguir
para sempre.

FIM

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Os próximos livros da série Príncipes da Máfia serão o spin-off Aliança, com


Nikolai e A Escolha, com Matteo e Irina.

Venham conhecer meus outros trabalhos:

SÉRIE DILACERADOS

PERIGOSAS
PERIGOSAS

SÉRIE MC FÊNIX

PERIGOSAS
PERIGOSAS

SÉRIE DESTINOS

PERIGOSAS
PERIGOSAS

1)
Na mitologia grega, Hades era o deus do submundo, o reino dos mortos. Hades
era o filho de Cronos e Réia, dois dos Titãs que dominaram o universo. Os Titãs
tiveram outros filhos, os deuses Zeus e Poseidon e as deusas Deméter, Hera e
Hestia. ↵

PERIGOSAS
PERIGOSAS

2)
Koenigsegg é um dos mais rápidos e exclusivos superdesportivos do Mundo. ↵

PERIGOSAS
PERIGOSAS

3)
Kremlin é um complexo fortificado no centro da capital russa, nas margens do rio
Moskva ao sul, com a Catedral de São Basílio e a Praça Vermelha a leste e o
Jardim de Alexandre a oeste. É o mais conhecido dos kremlins (cidadelas russas)
e inclui cinco palácios, quatro catedrais e uma muralha com torres. O complexo
serve como a residência oficial do Presidente da Federação Russa. ↵

PERIGOSAS

Você também pode gostar