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Este texto corresponde, com pequenas alterações, a um estudo que fizemos para
um Livro de Homenagem ao Porfessor Eusebio Gonzalez, falecido em trágico
acidente de viação quando regressava das XXIV Jornadas Latino-Americanas de
Derecho Tributario realizadas na Isla Margarita (Venezuela) em Outubro de 2008,
onde tinha tido a oportunidade de, uma vez mais, com ele conviver e beber da sua
incontável sabedoria. Uma homenagem singela e sentida ao Mestre de quem fui
aluno nos IX e XIX Cursos de Pós-Grado em Derecho Tributario e Derecho
Tributario Internacional, respectivamente, na Universidad de Salamanca. Agradeço
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à CTF, na pessoa da sua Ilustre Directora, Dr." Maria dos Prazeres Lousa, a
possibilidade de aqui o publicar.
Ciência e Técnica Fiscal, n. 0 424, 99-147
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too [ ] Código aprovado pelo Decreto-Lei n. 0 442-A/88, de 30 de Novembro, no
l
obrigação real de imposto. Sujeitos passivos da primeira são as estritamente privada de todas as relações jurídicas que, não
pessoas singulares residentes em território português. obstante tendo por fonte normas do Código do IRS, normas que
são, formalmente, de natureza pública, se esgotem entre sujeitos
[2] Qualquer norma citada sem indicação específica, tem-se como respeitando ao privados ou agindo como se o fossem[5 ]. É, porém, matéria que
Código do IRS, salvo erro ou omissão. não cabe aprofundar aqui.
SOARES MARTINEZ, Direito Fiscal, Coimbra, 1993, pp. 189/190.
[4] SALDANHA SANCHES, José Luís, A Quantificação da Obrigação Tributária, [5] Uma entidade pública quando efectua a retenção na fonte não age no
Cadernos CTF, n.0 173, Lisboa, 1995, pp. 71 e segs. quadro das suas competências próprias, mas por via da imposição legal que para
ela resulta dos
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artigos pertinentes da lei fiscal. Cumpre uma obrigação ex lege do mesmo modo
que uma entidade privada. O mesmo sucede quando entrega uma declaração dos
rendimentos auferidos e das retenções efectuadas ao titular dos rendimentos ou
quando, antes do primeiro pagamento, solicita ao titular do direito aos mesmos
rendimentos, em certos casos, uma declaração sobre a sua situação pessoal e
familiar.
Herança aberta e declarada vaga a favor do Estado, nos termos da lei civil.
[ 7 1 Cfr. artigo 2. 0 do Código do IRC, designadamente o seu n." 2.
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} Regime que, em Portugal, é estabelecido no Estatuto dos Benefícios Fiscais, o
que não deixa dc ser curioso cfr. artigos 22. 0 a 24. 0
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requisitos estabelecidos no artigo 6. 0 do Código do IRC para apenas a compra do apartamento — foi comprado já na constância do casamento
de A e B. E, portanto, como o depósito em numerário, um bem comum. A
ficarem sujeitas ao regime da transparência fiscal, bem como os
pretende a casa e B está de acordo. Formam-se, na partilha, dois quinhões de igual
agrupamentos complementares de empresas, os agrupamentos •
europeus de interesse económico e as sociedades nao residentes
submetidas a regimes fiscais mais favoráveis.
Na comunhão está-se perante quotas ideais que abrangem a
Relativamente às heranças indivisas, os respectivos rendimentos totalidade dos bens que a integram. No primeiro caso, a partilha
são directamente imputados aos herdeiros na proporção das suas tem necessariamente de atender à individualização do direito que
quotas hereditárias, por se considerarem situações abrangidas pelo cada contitular dispõe sobre a coisa a partilhar. No segundo, não é
regime de contitularidade, consagrado no artigo 19. 0 . O mesmo assim: os quinhões hereditários compõem-se com bens da massa a
regime se aplica ao condomínio, uma especial modalidade de partilhar, até ao valor da quota ideal, sem que daí resulte qualquer
compropriedade, uma vez que, nos termos do n. 0 1 do artigo «aquisição de parte», como tantas vezes, e mal, se entende. Apenas
1421. 0 do Código Civil (CC), cada condómino é proprietário existe aquisição de parte (e ainda aqui com dúvidas, para quem
exclusivo da fracção que lhe pertence e comproprietário das entenda que as tornas se integram na massa a partilhar e têm como
partes comuns do edifício; porém, como se colhe do disposto no única finalidade igualizar as quotas ideais) justamente na medida
artigo 1423. 0, os condóminos não gozam do direito de preferência em que os bens que compõem o quinhão do consorte ultrapassem,
na alienação de fracções nem do direito de pedir a divisão das em valor, a sua quota hereditária — devendo ele, nesse caso,
partes comuns. De diferente natureza jurídica e com conferir tornas aos restantes consortes.
consequências fiscais também diversas, é o regime de
compropriedade. Na contitularidade, como na comunhão, existe Daí que as situações de compropriedade susceptíveis de gerarem
um direito indiviso, encabeçado por vários titulares. A diferença é rendimentos tributáveis possam ser enquadradas diversamente. Em
que na compropriedade se está perante a reunião de direitos IRS, se os comproprietários se limitam a usufruir a coisa que é
individualizados em cada titular[9] sobre uma coisa determinada. objecto do seu direito, sem lhe alterarem a substância ou a natureza
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] Não raro os conceitos e os efeitos jurídicos de comunhão e compropriedade são e mesmo que os rendimentos resultem da sua alienação onerosa ou
confundidos, com nefastas consequências, mesmo por quem tinha o especial dever
— referimo-nos à Administração Fiscal — de não fazer tais confusões. Demos da prática de acto de efeito equivalente. Em IRC, ainda que como
dois meros exemplos: (i) A e B, enquanto namorados, adquiriram o apartamento entidades desprovidas de personalidade jurídica, em regra
onde viviam juntos, «em comum e partes iguais», ou seja, adquiriram, denominada sociedade irregular, se os comproprietários
juridicamente, o apartamento em compropriedade. Vieram posteriormente a casar.
E, mais tarde, divorciaram-se. Admita-se que o unicos bens a partilhar são um
desenvolverem sobre a coisa que é objecto do seu direito uma
depósito bancário, bem comum, de 250 000,00 e a casa, avaliada em 250 000,00. actividade dirigida à obtenção do lucro, como quando os
A quer ficar com a casa e B. está de acordo. Como fazem a partilha? comproprietários de um terreno rustico, após a obtenção das
Necessariamente, porque a casa é um bem em compropriedade, B tem de alienar o necessárias licençasCIO] desen-
seu direito concreto sobre aquele bem a A e A tem de lho comprar. O depósito é
dividido pelos dois, em partes iguais; (ii) o exemplo seguinte é igual; alteremos
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valor: um com o apartamento e outro com o depósito. Não há lugar a tornas e disponível em http://www.dgsi.
nenhum deles aliena nada de seu ao outro. pt/jtca.nsf/170589492546a7fb802575c3004c6d7d/d7e6dbeac42afa72802575bb00
[ 10] Os actos dirigidos à obtenção das necessárias licenças ou autorizações têm 2dO 109?OpenDocument&Highlight=0,loteamento e AC. do TCAS de 11-11-
natureza meramente preparatória da actividade da actividade de loteamento, pelo 2008, Rec. N.0 02228/08, em que foi Relator o Juiz Desembargador José Correia,
que não podem ser qualificados, a se, de actividade, nem modificam, de per se, a disponível em http://www.dgsi.pt/jtca.nsf/170589492546a7 fb802575c3 004c6d7
natureza do prédio a que se reportam — v. g. , AC. do TCAS de 12-05-2009, d/ 522 b94de14f5d9bc80257501003a7920?
Recurso 02894/09, em que foi Relator o Juiz Desembargador Lucas Martins, OpenDocument&Highlight=0,loteamento.
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volvem um projecto de loteamento, constroem as infra-estruturas, 2. OS SUJEITOS PASSIVOS DE IRS POR OBRIGAÇÃO PESSOAL E ILI-
etc. tendo por fim alienar os lotes de terreno para construção MITADA DE IMPOSTO: OS RESIDENTES
ou neles construir imóveis para revenda. Note-se que uma situação de facto pode passar, no plano jurídico de comunhão a compro- 3. São sujeitos passivos
de IRS as pessoas singulares que residem priedade sem que, aparentemente, nada se modifique. o que em território português e as que, nele não residindo,
aqui obtenham sucede quando, por exemplo, os herdeiros partilham uma herança rendimentos. E deste modo singelo, mas directo e sem evasivas, e
«transformam» as suas quotas ideais sobre os bens da herança em que o artigo 13. 0 , n. 0 1, define a sujeição passiva em IRS deterquotas concretas. Enquanto
a herança, independentemente dos bens minada pela obtenção[ 12
] de rendimentos e confere um conteúdo que a constituírem, se mantiver por
partilhar, os herdeiros, que, por particular ao princípio da territorialidade. Como dela se retira, o exemplo eram três e tinham quotas iguais, eram titulares de
1/3 da legislador não abdicou de consagrar, como elementos de conexão, herança (comunhão). Após a partilha, se os não
princípio da universalida
dividirem entre si, os princípios da residência e da fonte, logo, um pouco mais à ficarão, cada um deles, com 1/3 de cada um dos
bens que compu- frente, associando ao primeiro o e com nham a massa hereditária (contitularidade). a decorrência, como regra, da obrigação tributária
ilimitada ou Sujeitas ao regime da tributação por imputação dos rendimentos obrigação fiscal total (world wide income taxation), e, ao segundo, aos seus
socios estão ainda as sociedades abrangidas pelo regime da o princípio da territorialid ade, com a decorrência da obrigatransparência fiscal interna segundo o
disposto no artigo 6.0 do ção tributária limitada ou obrigação fiscal arcial (source income Código do IRC e as sociedades não residentes submetidas a regi-
taxation mes fiscais mais favoráveis, no quadro da denominada transparên- Neste quadro, a definição legal da sujeição passiva em IRS cia fiscal
internacional. De tudo se retirando que, em IRS, como encerra uma distinção fundamental quanto à natureza e à extensao antes se afirmou e o artigo 13. 0
sugere, a obrigação de imposto, em da obrigação de imposto, ancorando-se, num caso, no princípio da razão da titularidade directa ou indirecta de
rendimentos, recai residência e, noutro, no princípio da fonte. A distinção sobre a sempre sobre pessoas singulares, também designadas, embora com natureza
da obrigação de imposto reporta-se à categoria dos sujeitos
menos frequência, por pessoas físicas, de forma a distinguir-se, na [ 12] O CIRS não define o que deva entender-se por obtenção de rendimentos, o que é primeira
expressão, entre pessoas singulares e pessoas colectivas, e, susceptível de ser considerado uma lacuna legislativa. Mas vai indiciando, ao longo do na segunda, entre pessoas físicas e pessoas
jurídicas. seu articulado, que a obtenção pode ser financeira (pagamento ou colocação à disposição) ou meramente economica (lucro) ou até somente jurídica (vencimento de juros). Noutra
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perspectiva, pode ser uma obtenção directa (rendimentos auferidos), como pode ser uma obtenção indirecta (rendimentos imputados nos regimes de contitularidade, de transparência fiscal
interna e de transparência fiscal internacional). E o acréscimo patrimonial associado à obtenção tanto pode resultar de um aumento de rendimento como de uma diminuição de despesa
(encargos que deixaram de ser incorridos, como sucede nos rendimentos nocionais).
[ l Neste sentido, AC. do STA de 23-10-2002, Recurso n.em 0 0676/02, http://www.dgsi.pt/jsta.nsfem que foi Relator rencia [ 13] O que do princípio não significa da que territorialidade. o
princípio da Para residência maiores não desenvolvimentos, seja, também, uma SERRANOdecoro Venerando Conselheiro António Pimpão, disponível
ANTÓN, Fernando, Hacia una reformulación de 10s pržnctpios de sujeczón fiscal, Papeles
/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/f71862f4d150bb3b80256c68004e2153?Open de Trabajo n.0 18/06. Instituto de Estudios Escales, Madrid. Document.
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passivos de IRS por obrigação pessoal[ 14 ] que são os sujeitos Na verdade, o IRS foi, desde o início, ainda que, furtando-se à análise do fundo
da questao com um argumento de ordem formal, o Tribunal Constitucional o não
passivos residentes em território português (princípio da residência)
tenha considerado inconstitucional, um imposto semidual, segundo a tipologia
e à categoria dos sujeitos passivos de IRS por obrigação real, ou sistémica que pode encontra-se no Estudo da OCDE Fundamental Reform of
seja, aqueles que, nele não sendo residentes, aí obtenham Personal Income Tax, Chaplcr 4, '15'pcs of Personal Income Income Tax Systems,
rendimentos (princípio da fonte). A distinção sobre a natureza da integrado, sob o n. 0 1 3, na colecção «OECI) Tax Policy Studies», não obstante a
imposição constitucional de o
obrigação de IRS, acresce a distinção quanto à sua extensão. Em 109
— O facto de alguns rendimentos obtidos por residentes em 2.1. O ÃERRITÓRIO PORTUGUES: CONTINENTE UROPEU E OS
território português poderem ser tributados por um imposto ARQUIPELAGOS Dos AÇORES E DA MADEIRA
real, traduzido em taxas proporcionais liberatorias ou em taxas
proporcionais especiais com efeito liberatorio[15]. 4. Na definição da natureza e da extensão da obrigação de
imposto adquire, pois, relevo particular o elemento subjectivo de
conexão que o legislador, podendo teoricamente optar entre
[ 14 ] Não se ignora que nem toda a doutrina está de acordo quanto à distinção entre nacionalidade e residência, consagrou como sendo a residência[17]
obrigaçäo pessoal e obrigação real, nomeadamente porque a obrigação real não
deixa de ser uma obrigação pessoal. No entanto, ela oferece uma base operativa con-
aceitável, se se tiver em conta que, para efeitos dc IRS, a característica da
pessoalidade, para além do aspecto quantitativo, envolve aspectos qualitativos
relativos à pessoa do sujeito passivo, nomea(lamente quanto à sua situação pessoal imposto pessoal sobre o rendimento ser um «imposto único e progressivo». Desde
e familiar, que estão em regra arredados da tributação real que caracteriza a relação sempre, grande parte dos rendimentos de capitais e as mais-valias mobiliarias
jurídica tributária de IRS cuja titularidade passiva seja ocupada por um não foram sujeitos a taxas proporcionais e liberatórias ou de efeito liberatorio cfr. AC.
residente. Para superar a dificuldade, a doutrina construiu as categorias dogmáticas TC 57/95 de 16 de Fevereiro, in DR, II Série, n. 0 87, de 12 de Abril de 1995.
dos impostos subjectivos e dos impostos objectivos.
OS RESIDENTES
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propósito da obtenção de rendimentos sujeitos a este imposto que não há convenção de dupla tributação com o Estado da residência. a questão da qualificação
do titular como residente ou não resi- Passados que sejam os 183 dias e verificando-se a modificação da dente haveria de, pertinentemente, colocar-se. E, a
este propósito, qualificação do credor face ao critério da residência, que deve fazÓ a manutenção do critério da permanência de 183 dias, seguidos ou a
entidade devedora dos rendimentos? (i) Passar a reter em coninterpolados, em território português, revela-se cada vez mais pro- formidade com a nova
qualificação? (ii) Passar a reter em conforblemática em sede de controlo efectivo, uma vez que a eliminação midade com a nova qualificação e efectuar as
correcções que devam do passaporte, e dos carimbos que neste eram colocados à entrada fazer-se em relação às retenções feitas segundo a qualificação antee à
saída do território nacional, para a circulação no território da rior? (iii) Não alterar o procedimento da retenção a não ser no iníUnião Europeia acabou com o
meio mais fácil e credível de prova, cio do ano fiscal seguinte? Dúvidas excessivas para uma total quer do ponto de vista das autoridades fiscais, quer do ponto
de ausência de respostas legislativas e de posições administrativas a vista dos próprios visados. A contagem dos 183 dias não deixa estas questões, sendo nós
favoráveis à solução descrita sob o n. 0 (ii). também, ela mesma, de ser problemática, pois a nossa legislação é Em todo o caso, este último exemplo é
particularmente perticompletamente omissa sobre como devem considerar-se as ausên- nente e julgamos que deveria ser resolvida por lei a posição da enticias
esporádicas (v.g., deslocações de fim de semana ao país da dade devedora de rendimentos que, no primeiro período, efectua residência"), ausências por
motivos de doença comprovada ou retenções, ou nem sequer as efectua, em conformidade com o estaausência de território nacional por gozo de férias[39]
tuto fiscal de não residente, conformado ainda pelos acordos de Outra di culdade associada ao critério da permanêncra em terri- dupla tributação internacional
que Portugal tenha celebrado e, no tório português por 183 dias respeita aos procedimentos de reten- segundo período, passa a ter que efectuar as retençoes
na fonte a ção na fonte que devem ser adoptados quando a pessoa, porque um residente. Sendo a lei omissa a este propósito, a entidade deveatingiu 183 dias de
permanência em território português, vê o seu dora dos rendimentos deve poder estar em condições de comproestatuto fiscal modificado de não residente para
residente. Em prin- var os seus distintos procedimentos em cada um dos períodos, sob cípio, terá estado a reter imposto como não residente, o que em pena de
se ver confrontada com as autoridades fiscais por não ter geral significa que, sendo trabalhador dependente, terá retido 21,5 % feito retenções na fonte ou ter
feito retenções inferiores àquelas que sobre o rendimento bruto; e se for trabalhador independente, tanto seriam devidas se, também para este efeito, o período
de tributação pode nada ter retido porque existe convenção de dupla tributação tivesse de ser unificado.
com o Estado da sua residência e o rendimento que ele obtém em Problema dist into, mas não menos importante, tem que ver com território português não é
imputável a um estabelecimento estável a possibilidade de alguém que adquiriu residência em território aqui situado, ou está a reter 21,5% sobre o rendimento
bruto porque português num determinado ano civil, por nele ter permanecido mais de 183 dias, em 1 de Janeiro do ano seguinte ainda permane-
[39] Refira-se a solução espanhola, desde 1998, que considera residente em Espanha cer em Portugal, mas que, previsivelmente, não vai permanecer quem permaneça em território espanhol
mais de 183 dias durante o ano civil, nele de novo mais de 183 dias, nem pode ser considerado residente incluindo-se nestes 183 dias as ausências esporádicas, excepto se o contribuinte com- à
luz de qualquer dos restantes critérios previstos no artigo 16. 0 provar que é residente noutro Estado [artigo 9. l.a) da Ley del Impuesto sobre Ia Renta
de Las Personas Físicas].Como deve a entidade devedora de rendimentos sujeitos a retenção
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na fonte proceder nestes casos? A solução, na ausência de norma do condição de residentes os que dispõem em Portugal de uma expressa que a preveja, tem
de encontrar-se à luz dos princípios simples habitação secundária (desde que nela não permaneçam gerais, nomeadamente à luz do princípio da anualidade e à
habitação
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sua mais de 183 dias por ano) ou de férias, bem como aqueles que, decorrência da não solidariedade entre os sucessivos períodos de nomeadamente os
emigrantes, dispondo aqui de uma casa de habitributação, com excepção da possibilidade da extinção total ou tQsão que poderão vir a ocupar como sua
residência habitual parcial de dívida de IRS de um ano por compensação com reem- quando, em definitivo, regressarem a Portugal, apenas a ocupam bolso
devido em relação a anos anteriores, como se dispõe nos arti- por ocasião das suas férias ou em deslocações pontuais e fortuitas. gos 89. 0 ou 90. 0 do Código
de Procedimento e de Processo Não parece, pois, lícito considerar que um emigrante é residente Tributário (CPPT). Nesta perspectiva, afigura-se-nos legítimo
con- em território português pelo simples facto de ele, em 31 de siderar que, iniciado um novo ano civil, sem que se possua em Dezembro de cada ano, dispor
em Portugal de uma casa de habi Portugal uma habitação que faça supor a intenção de a manter e tação, retirando-se daí — e da sua condição de emigrante —
a inten ocupar como residência habitual, se inicia um novo período deA intenção que contagem do tempo de permanência em território português e que a lei
exige não é uma intenção para o futuro, é, desde logo, uma a aquisição de residência só volta a operar-se se voltar a ser ultra- intenção imediatista, para o
presente. Voltando ainda à questão dos passado, nesse ano, o limite dos 183 dias previsto na lei L401 imigrantes, extrair da sua condição, em regra estável e que
a expeQuanto ao requisito da disposição, em 31 de Dezembro, de uma riência demonstra tender a transformar-
se em residência habitual em condições que façam supor a intenção de a manter e no País de acolhimento, a intenção de vir a manter e ocupar a casa ocupar
como residência habitual, estamos perante o critério que de habitação de que dispõem em Portugal e que apenas ocupam exige a reunião do corpus e do
anzmus. Não basta a permanência por curtos períodos anuais de ferias, para os considerar residentes em territorio português. Ou pode nem ter havido
permanência, no em território português, é um exercício de pura especulação, sem sentido anteriormente visto, suficiente em territorio português. qualquer
base ou fundamento legal
Existe um corpus, constituído por um local de residência, associado Por outro lado, o critério de disposição de habitação em Portugal a um anzmus, que
consiste na Intenção dc a manter e ocupar como parece não se limitar a enquadrar as situações em que o sujeito residência habitual. mantém e ocupa como
sua residência habitual uma casa ou um apar Relativamente ao corpus, decorre da lei que não é exigível um tamento, mas
também aquelas situações em que o sujeito mantém a título de propriedade da casa, mas tão só um título que legitime a sua residência habitual em unidades
hoteleiras ou noutras modalida sua utilização, como o arrendamento, o usufruto, o uso e habitação des de aboletamento. Finalmente, como sublinham os
autores, a ou o comodato. Mas ao integrar-se na previsão a manutenção e ocu- ocupar a habitação como residência habitual pação
dessa casa como residência habitual desde logo se excluem não é objecto de prova intenção de manter e directa, antes resulta de condições
objectivas façam supor[ . Mas essas condições não podem limitar-se ao
411
[40] Porque, também em rigor, o período de 183 dias diz sempre respeito, em IRS a um ano civil, Isto facto de água, electricidade e serviços de telefone e multimédia se
significa que um período de permanência terminado num ano civil e que nesse ano não tenha
atingido os 183 dias, interrompe-se em 31 de Dezembro, para voltar a iniciar a contagem em I de Janeiro do ano seguinte. 141 1
XAVIER, Alberto, Direito
Tributário. cit., p. 286.
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manterem ligados, ou de a casa permanecer mobilada e pronta a 7.1. Trata-se, em primeiro lugar, das normas que consagram prehabitar. Estas são apenas
condtções objectivas que permitem supor a sunções[ 42 ] de residência, consideradas inilidíveis[43] em território intenção de manter a
habitação em condições de servir de residência português: (i) consideram-se residentes os que, em 31 de Dezembro, habitual. As condições subjectivas que
permitam supor a intenção de sejam tripulantes de navios ou aeronaves, desde que esses tripulanocupar a casa como residência habitual são, naturalmente, de
outra tes estejam ao serviço de entidades com residência, sede ou direcordem. Permite supor a intenção de manter e ocupar a casa como ção efectiva em
território português — artigo 16. 0 , n. 0 1, ali c); (ii) residência habitual o facto de um residente se ter deslocado para o consideram-se residentes os que
desempenhem no estrangeiro funBrasil para aí passar o fim de ano com familiares e alargar a sua estada ções ou comissões de carácter público ao serviço do
Estado naquele país para assistir ao Carnaval. Não permite supor a intenção Português — artigo 16. 0 , n. 0 1, al. d); (iii) e, por último neste conde ocupar a
casa como residência habitual o facto de um residente se junto, consideram-se residentes as pessoas que constituem o agreter deslocado para o Brasil em
Dezembro de um determinado ano para aí passar a exercer a sua actividade profissional com carácter de permanência, mantendo a sua habitação em Portugal
apenas para [42 ] XAVIER, Alberto, Direito Tributárzo. .. cit., p. 286: «A lei estabelece ainda presunções utilização em férias ou em deslocações eventuais
que aqui faça. juris qualificação et de jure da consagração em relação a legal, dois isto tipos é, de sobre su;eitos». a questão Temos, de saber porém, se
dúvidas a lei consagrou,sobre a
nestes casos, verdadeiras presunções ou se, pelo contrário, consagrou
c) As modalidades de residência em IRS: a residência efectiva; Parece-nos desvaloriza que a questão nos três da casos sua insusceptibilidade referidos, estamos de não ilisão, perante mas presunções de
verdadeiras legais, ficçõeso que a residência não efectiva ou seja de verdades jurídicas diversas da yerdadereal: «Entre as muitas pecu7. As situações antes explicitadas correspondem, em qualquer liaridades do
deôntzco-lurídico, uma é a presença de expedientes inesperados e inexplica-
caso, à modalidade de residência efectiva ou real em território por- dos e à próprza que receberam configuração o nome organtzaczonal de "ficções". do No sistema. fundo, são Proposzções cortes Imprescindívezs
que não se ajustam à montagemao que tuguês. São situações em que, para efeitos de IRS, o sujeito passivo chamamos de "realidade" e operam para que seja possível governá-la, encaminhando os
é considerado residente em território português porque nele fluxos implantar. das condutas Afinal de inter-humanas contas o direito para existe a realização para incidir dos na valores realidade que a e soctedade não
para pretendecoincidir permaneceu (critério da permanência), durante um ano, por mais com ela, como disse Lourival Vilanova. Ora, é justamente naquele espaço que excede a de 183 dias ou, tendo permanecido
menos tempo, nele possui, em coznczdência, quando o direito ultrapassa os Izmites do previszvel e mesmo do possível no 31 de Dezembro, uma habitação que permite supor a intenção de quadro extra lógzco do
real-social, o legislador que encontrar-se-za aparecem e comparecem atrelado à as causalidade ficções. Sem físico-social, tais recursos impotente de carácterde a manter e ocupar como residência habitual. Nestes
casos, a resi- prosseguir em dzrecção às suas finalidades. Enfim, o direito crza seus próprios elementos a
dência efectiva corresponde a uma efectiva permanência no terri- tal (CARVALHO, ponto que Paulo o "hom Barros, senso" in não Prefácio pode compreendê-lo, ao livro Ficções cedendo Jurídicas lugar no ao
Direito '"senso Tributário,jurídico"» tório português ou assenta na convicção de que essa permanência de Cristiano Rosa de Carvalho, Editora Noeses, S. Paulo, Brasil). Por seu turno, Pérez vai continuar. de Ayala
afirmava que a ficção constitui-se na realidade na qual se atrihuz, a determzna-
Acrescem, no entanto, no artigo 16. 0 , quatro denominadas pre- Assún, dos supostos a ficção de nem fato, falseia efeitos nem jurídicos oculta que a verdade violentam real: cria ou _ißnoram uma
verdade a saa jurídica real natureza.diversa
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sunções de residência . Estamos aqui perante situações em que o cri- Ta3eal (Las ficczones en el derecho trihutario, in «Memoria de Ia Asociación Española
térzo da permanêncza em território português não se verifica e, não de [ 43 ] Derecho Com dúvidas, Financeiro», uma vez Madrid, que o artigo 1968, 75. p. 0
192).da LG T dispõe que as presunções consaobstante, a regra impõe a residência neste território às pessoas gradas na incidência (objectiva ou subjectiva)
tributária admitem sempre prova em abrangidas pela hipótese normativa. contrario.
OS RESIDENTES NO IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO PESSOAL (IRS) PORTUGUÊS •
aeronaves, desde que estes navios ou aeronaves estivessem, em 3 1 de Dezembro, ao ou comissões de carácter público, ao serviço do Estado Português
serviço de entidade com residência, sede ou direcção efectiva em território português[
C48
]. Ao abrigo desta norma podem considerar-se residentes em
]. Houve, portanto, uma modificação substan- cial no que diz respeito ao vínculo, que território português, nomeadamente: os membros das missões
passou a centrar-se nos tripulantes, deslocando-se do tipo contratual que permitia que os diplomáticas de Portugal no estrangeiro; os membros das missões
navios ou as aeronaves estivessem ao serviço de uma entidade residente em território consulares de Portugal no estrangeiro; os titulares de cargos oficiais
português. São considerados residentes em território português os tripulantes de navios do Estado português, como membros das delegações e
ou aeronaves que, em 31 de Dezembro de cada ano, estejam ao serviço de entidades representações permanentes acreditados perante organismos
com residência, sede ou direcção efectiva em território português. À luz deste critério, internacionais ou que façam parte de delegações ou de missões no
sao residentes em território português as pessoas que constituem a tripulação de uma estrangeiro; funcionários no activo que exerçam no estrangeiro
aeronave da transportadora aérea nacional, mesmo se essa aeronave estiver, em 3 1 de cargo ou serviço Dúblicos que nao tenham natureza diplomática.
Dezembro, ao serviço de uma transportadora aérea não residente em território Ao contrário, nao serao consideradas residentes em território
português. E não sao residentes em território português os tripulantes de uma aeronave português, excepto se estiverem abrangidas por outro critério legal,
que a transportadora aérea nacional tenha fretado a uma empresa não residente, ainda as pessoas que, mesmo sendo funcionários públicos, estejam a
que tal aeronave esteja ao serviço daquela em 31 de Dezembro. Pode-se dizer, segundo desempenhar no estrangeiro funções ou comissões, mas não ao
se nos afigura, que esta presunção de residência tem por base e é uma concretização do serviço do Estado Português. E o que sucede quando, por exemplo,
critério do centro de interesses económicos (que consequentemente se presume continua um funcionário público português vai integrar os quadros da
a localizar-se em território português) que em organização da União Europeia, mesmo que seja nomeado pelo
Governo Português. O comissário português na Comissão da União
[ ) Discordamos da posição de ALBERTO XAVIER sobre a natureza de
44
Europeia está ao serviço da União
«presunção juris tantum» da presunção estabelecida no n. 0 2 do artigo 16.0. Na
verdade, os números 3 e 4 permitem «afastar a condição de residente» do cônjuge
g, Ley dei IRPF, artigo 9.1.b).
não residente em determinadas circunstâncias, mas mantêm restrições à tributação
do cônjuge residente, [45] Solução vigente no âmbito do imposto profissional, antes [47] A Lei do IRPF exige, para aplicação deste critério, que os titul',fres tenham a
da reforma de 1989. nacionalidade espanhola.
129 [48] O caso mais emblemático é constituído pelos diplomatas portugueses em serviço
no Estrangeiro. O mesmo se diga dos militares no estrangeiro em missões de salvaguarda da
• CIÊNCIA E TÉCNICA FISCAL OS RESIDENTES NO IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO PESSOAL (IRS) PORTUGUÊS •
paz. Não se lhes aplicará porém a presunção se, em vez de estarem ao serviço do Estado Português, estiverem ao serviço de uma organização internacional, por exemplo, ao serviço
da NATO.
OS RESIDENTES NO IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO PESSOAL (IRS) PORTUGUÊS •
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Europeia e não ao serviço do Estado Português. E, a propósito dos Imposto sobre as Remunerações, salários e emolumentos dos funfunctonários e agentes da
União Europeia, convém relembrar que, cionários e outros agentes da União Europeia ao abrigo do regime especial consagrado no Protocolo n. 0 36[49] sobre
os privilégios e imunidades das Comunidades Europeias de 8 7.13. A terceira, e mais criticada do ponto de vista doutrinário,
de Abril de 1965, designadamente o seu artigo 14. 0 (actual artigo presunção, baseada num princípio de atracção da unidade familiar, 13. 0 ), os funcionários
comunitários, independentemente do local determina a residência em território português de todo o agregado onde prestam serviço, conservam a sua residência
fiscal originárta. familiar (residência por dependência), desde que nele resida um dos Assim, e no exemplo antes dado, o Presidente da Comissão Euro-A
direcção do agregado peia é, à luz da lei europeia, fiscalmente residente em Portugal pelo familiar pertence, nos termos do n. 0 2 do artigo 1671. 0 do CC, a que,
mesmo que não cumpra nenhum dos critérios estabelecidosAssim, se um dos cônjuges é residente num país no artigo 16. 0 , está, em abstracto, sujeito a IRS em
Portugal. No estrangeiro, mas o outro cônjuge é residente em território portuentanto, a ambos os sua tributação em Portugal pelos rendimentos
auferidos guês, será aquele, por dependência, considerado também residente na cônjuges. qualidade de Presidente da Comissão Europeia é
impedida por em território português e aqui sujeito a tributação numa base munoutra norma do Protocolo referido, o artigo 13. 0 (actual
artigo dial, incluindo, portanto, os rendimentos obtidos no estrangeiro[51]
12. 0 ), que dispõe que os funcionários e agentes das comunidades Está-se aqui perante uma presunção que pode frequentemente conficam isentos de impostos
nactonais que incidam sobre os vencimen- duzir a situações de inevitável dupla tributação jurídica internaciotos, salarios e emolumentos pagos pela União.
Este preceito pressu- nal se nao houver convenção para a evitar com o país de residência, poe, pois, que os rendimentos de trabalho devidos pelas Comuni-
bem como, existindo convenção, a situações de conflitos de residades aos seus funcionários, nessa qualidade, não podem ser dência que, nao raro, só poderão
ser solucionados mediante o tributados em IRS. E esta isenção de que tais rendimentos benefi- recurso ao chamado procedimento amigavel entre ambos os
Estados. ciam e uma isenção integral e não uma isenção com progressivi- Esta é uma das (poucas) situações problemáticas que a tributação
dade, na medida em que nem sequer poderão ser englobados para separada dos cônjuges casados e não separados judicialmente de efeitos de determinação da
taxa a aplicar aos restantes rendimentos pessoas e bens, em princípio, resolveria. Mas defende-se também, que devam ser tributados em IRS. Anote-se, ainda,
que esta isenção no plano doutrinário, que sempre que esteja em causa a aplicação de se estende às pensões devidas em razão do trabalho prestado às uma
convenção de dupla tributação em razão de um dos cônjuges Comunidades Europeias. A razão da isenção radica na eliminação residir num Estado e o outro
cônjuge residir em Estado diferente, a da dupla tributação jurídica internacional, uma vez que as remune- prevalência do direito convencional sobre o direito
interno e a sua rações e as pensões dos funcionários e agentes comunitários estão uninominalidade[52] impõem, ipsofacto, a tributação separada, sem sujeitas a
um dos poucos impostos próprios da União Europeia, o
[ 50] EZQIJERRO, Teodoro y RODÍGUEZ ONDAIUA, (Directores), El Impuest(_) sobre Ia
Renta de Las Personas Físicas, Editorial Arazandi, 2009, pp. 239/242.
• CIÊNCIA E TÉCNICA FISCAL OS RESIDENTES NO IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO PESSOAL (IRS) PORTUGUÊS •
[49] Protocolo n. 0 7, após a publicação das Versões Consolidadas do Tratado da União [51 ) Cf. Circular n. 0 1/91, de 15 de Janeiro, da DGCI.
Europeia e do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia —JC) Série C, n. 0 83 , [52] No sentido em que as convenções estabelecem normas de repartição do poder tride 30-3-2010. butário entre Estados para
situações individuais de pessoas singulares — e pessoas
• CIÊNCIA E TÉCNICA FISCAL
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OS RESIDENTES NO IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO PESSOAL (IRS) PORTUGUÊS • 133
que daí possa resultar nenhuma discriminação fiscal negativa em separada que, nestes casos, os cônjuges têm que assumir como resulqualquer dos Estados
em causa[53 ]. Não é bem isso que entre nós tado das suas opções fiscais — e que eles até estão, parece, dispostos sucede. Ao que parece, por pressão de
situações de, ao abrigo do a assumir — antes continuou no n. 0 4 do mesmo preceito com um se vinham verificando com comando imperativo de se aplicar ao
cônjuge residente em territóa lemanha, o n. 0 3 do artigo rio português o regime aplicável aos cônjuges «separados de
facto» passando a dispor que «A condição de o que, em rigor, se traduz na sua maior penalização, consequência residente resultante da aplicação do disposto
no número anterior pode de que, naturalmente, discordamos: «Sendo feita a prova referida no ser afastada pelo cônjuge que não preencha o critério previsto
na número anterior, o côvuge residente em território português aprealínea a) do n. 0 1, desde que efectue prova da inexistência de uma liga- senta uma única
declaração dos seus próprios rendimentos, da sua ção entre a maior parte das snas actividades económzcas e o território parte nos rendimentos comuns e dos
rendimentos dos dependentes a português, caso em que é sujeito a tributação como não residente rela- seu cargo segundo o regime aplicável às pessoas na
situação de separativamente aos rendimentos de que seja titular e que se considerem dos de facto nos termos do disposto no n. 0 2 do artigo 59. 0>>. obtidos
em território português nos termos do artigo 18. 0». Deste modo, se abriu a possibilidade de exclusão da qualificação de resi- 7.2. Em segundo lugar, o
código do IRS consagra uma ficção de dente por dependência ao cônjuge que não permaneça em Portugal residência em território português que, em regra, é
considerada por mais de 183 dias[54 ] desde que consiga fazer prova de que não uma norma antiabuso e pretende evitar
deslocalizações de residên existe ligação entre a cia com a única finalidade de se pagarem menos impostos. A preo território português. O problema da
alteração legislativa não visão legal, que nao é original e foi, em parte, copiada do Impuesto reside aqui, nao obstante o conjuge que passa a ser considerado
não sobre Ia Renta de Las Personas Fisicas espanhol, residente em território português e é considerado residente noutro 0 , nos
seguintes termos: Sao ainda havidas como residentes Estado ficar neste sujeito a artigo 16. tributação numa base mundial e compe- em territórzo
português as pessoas de nactonalidade portuguesa que tirá a este outro Estado eliminar a dupla tributação jurídica que deslocalizem a sua reszdêncta fiscal
para país, territórto ou regzão, resultar da tributação de rendimentos na sua titularidade, mas como stueito a um regime fiscal claramente mais favorável
constante de lista não residente, obtidos no outro Estado. O problema da alteração aprovada por portaria do Ministro das Finanças, no ano em que se
legislativa é que não conseguiu superar o «trauma» da tributação verifique aquela mudança e nos quatro anos subsequentes, salvo se o Interessado provar que
a mudança se deve a razões atendíveis, deszg-
colectivas, mas este não é o problema — que obtém rendimentos num dos Estados, aí nadamente exerczczo naquele território de actividade temporária por podendo ser ou não residentes ao ab rigo das suas normas
internas. E não estabelecem conta de entidade patronal domiciliada em terrztórzo português normas de repartição do poder de tri butar entre Estados para situações de pessoas singulares vivendo em agregado
familiar e, muito menos, com tributação conjunta obrigatória. Este argumento fundamentar-se-á no próprio teor das tic break rules constan- [ 551 0 artigo 8.2 do IRPF tem a seguinte redacção: «no perderán Ia
condición dc contrites das convenções e que, no modelo OCDE, têm a sua base no artigo 4. 0. huyentes por cste zmpuesto Ias personas físicas de nacionalidad española que acrediten su [ 531 DUARTE MORAIS, Rui,
sobre o IRS, 2. a ediçào, Almedina, Coimbra, pp. 19. nueva residencia fiscal en un país o territorio considerado como paraíso fiscal. Esta regla E aqui recordamos tudo quanto antes dissemos sobre a dificuldade de
controlo do se aplicara' en el período impositivo en que se efectúe el cambio de residencia y durante 10s período de permanência em território português. cuatros períodos Impositivos szguzentes».
) •
134 • CIÊNCIA E TÉCNICA FISCAL OS RESIDENTES NO IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO PESSOAL (IRS PORTUGUÊS
Esta norma foi aditada ao Código do IRS pela Lei n. 0 60-A/2005, dente, inevitavelmente se manteria como residente e sujeito à de 31 de Dezembro.
obrigação universal de imposto.
Sublinha-se, desde logo, que a previsão normativa apenas O terceiro aspecto a ter em conta na interpretação e aplicação da abrange nacionais
portugueses. Não se aplica, pois, a residentes em norma respeita à mudança de residência que tem lugar. Nos termos território português, nao nacionais, e
que deslocalizem a sua resi- em que a norma está redigida e no contexto em que se insere, a sua dência para um país, território ou região com regime fiscal
clara- aplicação parece depender da verificação cumulativa de dois facto. Mas entendemos que se aplicará a um resi- res: que a pessoa seja contribuinte de
IRS num determinado ano, dente que tenha dupla nacionalidade (v. g., luso-brasileiro). Por como residente em território português; e que no ano seguinte
não outro lado, considera-se que a nacionalidade portuguesa deve seja contribuinte de IRS como residente (ainda que o seja como não ter-se no ano em
que se verifique a mudança de residência, Como residente), tendo deslocalizado a sua residência fiscal para país, terteremos oportunidade de ver,
entendemos que por «ano em que se ritório ou região, sujeito a um regime fiscal claramente mais favoráverifique aquela mudança» o primeiro ano em que
o contribuinte vel constante de lista aprovada por portaria do Ministro das Finanjá não teria, não fosse a norma em causa, a obrigação de tributação ças[ 57]
A ser assim, parece poder afirmar-se que estamos perante em IRS. Por este motivo, ainda que certamente discutível, a norma verdadeiras mudanças de
residência, na medida em que a norma seria aplicável a um sujeito que, precisamente no primeiro ano em apenas se aplica a pessoas que não cumpram
nenhum dos três critéque já não é contribuinte de IRS, mas deslocalizou a sua residência rios que supõem a localização em Portugal da sua
para um país, território ou região com regime fiscal claramente tual: a permanêncza, o centro de interesses econóutcos e o mais favorável,
adquire a nacionalidade portuguesa[56] interesses pessoais. Dito de outro modo, estamos perante pessoas, A residência
norma portuguesa, contrariamente à espanhola, não inclui o nacionais portuguesas, que de facto e realmente mudaram de resirequisito habi-
subjectivo de a pessoa que altera a residência ser «con- dência habitual' que mudaram a sua residência habitual para um tribuinte por este imposto», ou
seja, pelo imposto sobre o rendi- país, território ou região constante da lista aprovada pela Portaria do mento pessoal dos residentes — porquanto naquele
país os não Ministro das Finanças; e que essa mudança de residência não se jusresidentes são tributados pelo imposto sobre o rendimento dos tifica por
razões atendíveis, nomeadamente aquelas que a própria lei não residentes. Mas afigura-se que o sentido é o mesmo porque o refere, ou seja, o exercício
naquele território de actividade temporáque resulta da previsão normativa em causa, ao estabelecer a fic- ria por conta de entidade patronal domiciliada
em territÓrio portução de residência, é que, ainda que quem deslocaliza a residência guês, a que poderramos acrescentar o exercício de
actividade por nos seus precisos termos subsistisse tributado como não resi- conta própria devidamente justificada, admitindo também, que centro
possa considerar-se justificada a mudança de residência por casamento. de
[56] Exemplo: Uma pessoa de nacionalidade brasileira foi tributada em IRS, como resi- Parece também que, não existindo nada em contrário na norma, dente, nos anos de 2005 a 2008. Deixa
de sê-lo em 2009, porque em Setembro de 2008 a deslocalização da residência tem de ser directa e imediata. Ou
fixou a residência no Mónaco, não provando que o fez por razões atendíveis. Adquire a nacionalidade portuguesa em 2009. Aplica-se-lhe o n. 0 5 do artigo 16.0 porque 2009 é o ano fiscal
em que se verifica a mudança de residência (em 2008 esta pessoa foi con- [ 57] Esta Lista, conhecida por Black List, em Portugal, foi aprovada pela Portaria n. siderada fiscalmente
residente em território português). 154/2004, de 13 de Fevereiro.
136 • CIÊNCIA TÉCNICA FISCAL SOBRE •
[58] Regime que, uma vez instituído, bem poderia ser alargado, mediante medida unilateral,
por razões de equidade e de solidariedade lusófona, aos Países Africanos de Expressão
Portuguesa e a Timor, onde residem cidadãos hoje nacionais desses países, mas cuja
maioria, se não mesmo a totalidade do seu rendimento, é constituída pelas pensões que lhes
são pagas pelo Estado Português na sua qualidade de antigos funcionários, ou de militares
que cumpriram serviço militar, ao serviço do Estado Português. Tributar esses rendimentos
como a sendo pagos a «não residentes» e, numa certa perspectiva, uma negação do nosso
destino e da nossa História comuns.
138 • CIÊNCIA E TÉCNICA FISCAL OS RESIDENTES NO IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO PESSOAL (IRS) PORTUGUÊS •
Em primeiro lugar, importar ficar claro que esta tributação, não Por último, poderá ainda colocar-se a questão de saber que
obstante feita em Portugal como se o fosse a um residente, para o crédito de imposto, no caso de ser este o método previsto para
país de residência terá sempre a natureza de «imposto pago no eliminar a dupla tributação jurídica internacional na convenção de
estrangeiro». Ou seja, esta tributação não retira ao Estado da DTI que porventura estiver em vigor, irá o Estado da residência
residência o direito de tributação segundo uma base mundial, conceder se, por erro de perspectiva, o imposto pago através do
embora lhe compita, se houver convenção de dupla tributação mecanismo de liquidação previsto no artigo 17. 0-A for superior ao
sempre, não havendo convenção no quadro de medida unilateral, se que resultaria da tributação dos rendimentos efectuada em
existir, eliminar a dupla tributação jurídica internacional. A conformidade com a convenção. Em nosso entendimento, o Estado
tributação feita em Portugal ao abrigo do artigo 17. 0-A não é uma da residência concederá o crédito de imposto efectivamente
tributação substitutiva da que deva ser efectuada no Estado da suportado no Estado da fonte, não podendo, porém, ser superior ao
residência, segundo a respectiva lei interna, como não é substitutiva que resultaria da aplicação das regras da Convenção[59]
da liquidação que deva ser efectuada em território português a
liquidação efectuada num Estado membro da União Europeia e) Residentes não habituais
do EEE ao abrigo de norma similar a um residente em 9. A última criação legislação portuguesa, justificada por
território português. razões de competitividade e de atracção de profissionais
Em segundo lugar, existindo convenção de DTI, terá de verificar-se qual o qualificados nos mais diversos sectores da actividade económica,
tratamento dos rendimentos em causa, integrados nas categorias A, B e H, dá pelo nome de «residente não habitual» e que define como
obtidos em território português. E que qualquer deles pode, por força de sendo «aqueles stueitos passivos que, tornando-se fiscalmente
disposição convencional, nem sequer ser susceptível de tributação em território residentes, nomeadamente ao abrzgo do disposto na alínea b) do
português. Não se vê, neste caso, qual seria o interesse do titular em ser n. 0 1, nao tenham sido tributados como tal em sede de IRS».
tributado em Portugal ao abrigo do artigo 17. 0 -A! E mesmo que o seja, ainda Atribui-lhes o direito de serem tributados como tal pelo período
tem de ver-se em que modalidade o é. Por exemplo, tratando-se de pensões, de dez anos consecutivos, renováveis. Condiciona o exercício do
sabe-se que a taxa de 21,5% incide sobre o rendimento líquido objectivo! E se direito a consideração de residente. E admite esse exercício de
se tratar de categoria B, como a tributação em Portugal apenas pode ser forma intermitente e não necessariamente consecutiva — n. 0S 6 a
efectuada em território português se nele se situar estabelecimento estável a 9 do artigo 16. 0, na redacção dada pelo Decreto-Lei n. 0 249/2009,
que o rendimento seja imputado, este estabelecimento já não é aqui tributado de 23 de Setembro. Distingue-se o regime dos residentes não
como «residente por faculdade», mas como «residente por obrigação». Ou seja, habituais do regime, instituído nalguns países mais ainda não
em termos práticos, provavelmente a norma em causa tem muito pouco adoptado por Portugal, aplicável aos «não
conteúdo, obrigando a Administração Fiscal a preparar o sistema informático, resi entes temporártos», com
com os custos directos e indirectos inerentes, para um procedimento que pouca regras especiais de tributação dos renclimentos
ou nenhuma utilização terá. auferidos por residentes habituais desses Estados, mas que durante
139
um certo período cuja duração, em -regra, não
muitas
vezes em virtude de destacamento, regressando depois ao seu
anterior Estado de residência, como sucede no Reino Unido mentos, sejam sujeitos a tributações liberatórias (artigo 71. 0
(regime de expatriados) [60] ),
Outras características importantes do regime sao as seguintes: sejam sujeitos a tributações especiais (artigo 72 0) [62 ]
— Aos rendimentos obtidos fora do território português pelos
— Os rendimentos por ele abrangidos devem integrar-se nas residentes não habituais e que, naturalmente, estejam sujeitos
categorias A (trabalho dependente) ou B (actividades a tributação em Portugal, aplicar-se-á, em regra, em
profissionais ou empresariais) [61 ]• alternativa ao método-regra da imputação normal ou ordinária
— As actividades elegíveis, que a lei designa como actividades (crédito de imposto), o método da isenção, na modalidade de
de elevado valor acrescentado, com carácter científico, isenção com progressividade, embora esta matéria deva ser
artístico ou técnico, devem obrigatoriamente integrar-se nas objecto de análise mais pormenorizada perante cada caso
previstas na Portaria n. 0 12/2010, de 7 de Janeiro, concreto a resolver.
adiantando-se que, contrariamente ao que sucedia com um
regime similar instituída em Espanha e que vigorou até 31-1- 10. De acordo com a Portaria n. 0 12/2010, de 7 de Janeiro, as
2-2009, não inclui a actividade desportiva em qualquer das actividades que, quer sejam exercidas sob a forma de trabalho
suas vertentes ou modalidades; dependente, quer sob a forma de contrato de prestação de serviços
— Os rendimentos líquidos objectivos derivados das (actividade profissional independente) podem beneficiar do regime
mencionadas actividades são tributados autonomamente à taxa de fiscal aplicável, por opção, aos sujeitos passivos que puderem
20%, subsistindo, como é óbvio, a opção pelo englobamento, que acomodar-se aos critérios que lhes permitam invocar a qualidade
será de exercer se a taxa efectiva de tributação for inferior a 20%. de residentes não habituais, são as representadas no quadro da
Note-se, no entanto, que face ao disposto no n. 0 5 do artigo 22.0, a página seguinte.
opção pelo englobamento de tais rendimentos implica a
respectiva compreensividade, ou seja, obriga ao englobamento de 11. Uma última nota para sublinhar que a questão da entrada
todos os rendimentos abrangidos por opções de_enÅQba- em vigor do regime apenas em 2010 foi, de facto, indiciada com a
não
[60] Distinção relevada por FERNANDES FERREIRA, Rogério RESPÍCIO
GONÇALVES, Mónica, em Os não residentes temporários e os residentes divulgação atempada de instruções sobre como os potenciais
habituais, Informação Fiscal, PLMJ, 2010. aderentes, ainda que sob condição[ 63 ] poderiam proceder à
[611 Entendemos que, em princípio, podem ser abrangidas actividades inscrição da qualidade de não residentes habituais no registo de
profissionais e empresariais, no sentido em que esta dicotomia terminológica é
contribuintes da Direcção-Geral dos Impostos[ 64] e consumada com a
adoptada pela categoria B, em virtude de no conjunto das "actividades" incluídas
na Portaria n.0 12/2010, de 7 de Janeiro, podermos encontrar algumas cujo aprovação e a
OS RESIDENTES NO IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO PESSOAL (IRS) PORTUGUÊS •
[62] Poderia ser-se tentado a invocar uma não referência a «residentes não habituais» no n. 0 5 do da informação informática 712Actividades de agências de notícias
artigo 22.0 para defender tese diferente. Mas, a nosso ver, aqui só pode reger o princípio segundo
705 Actividades dc programaçao informática 713Outras actividades dos sewiços de informaçào
o qual onde o legislador não distinguiu, não cumpre ao intérprete distinguir. E a verdade é que o
«residente não habitual» é apenas uma categoria de «residente em território português». Ou seja, 706 Actividades de consultoria em informática 714Actividades de investigação científica
quando o legislador se refere a «residentes», sem distinguir, esta, necessariamente, a incluir no 707 Gestão e exploração de equipamento e de desenvolvimento
conceito os «residente não habituais». ( 63 ] De constarem da lista de profissões e actividades cuja
definição fora remetida para portaria ministerial. informático 715Investigação e desenvolvimento das ciências
[64] Inscrição que parece ser pressuposto formal da possibilidade de opção pelo 708 Actividades dos serviços de informação físicas e naturais
regime, nos termos consagrados na parte final do n. 0 7 do artigo 16. 0, aditado pelo 709 Actividades de processamento de dados, 716Investigação e desenvolvimento
Decreto-Lei
n.0 249/2009, de 23 de Setembro. domiciliação de informação e actividades em biotecnologia
relacionadas; portais web 717 Deszgners
1, i Arquitectos; engenheiros e técnicos 6imÜgrew 2' plástiç$;gctorgs g
101 Arquitectos 201 Artistas de teatro, bailado, cinema, rádio e 8. Investidores, i
102 Engenheiros Geólogos televisão
202 801 Investidores, administradores e gestores de empresas promotoras de investimento
Cantores
203 produtivo, desde que afectos a projectos elegíveis e com contratos dc concessão de
Escultores
204 benefícios fiscais celebrados ao abrigo do Código Fiscal do Investimento, aprovado pelo
Músicos Pintores
205
Decreto-Lei n.0 249/2009, de 23 de Setembro
3, Auditores 802 Quadros superiores das empresas
143
ano fiscal de 2009. Mas as «condições» impostas para que tal se possa
[ 65 ] A publicação, entretanto, da Circular n. 0 2/2010 de 6 de Maio, vem amenizar a verificar, algumas cuja verificação, nomeadamente as que se referem à
crítica aqui efectuada, na medida em que admite o princípio da aplicação do regime ao legalmente exigida inscrição como residentes que nunca se soube ao certo
144 • CIÊNCIA E TÉCNICA FISCAL
como deveria ser feita, é imputável à própria Administração Fiscal, constituem
um verdadeiro «buraco de agulha» que só muito poucos, se é que algum
contribuinte, conseguirá passar. [66] XAVIER, Alberto, Direito Tributário. cit.,
3. A PERDA DE RESIDÊNCIA EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS p. 287.
145
146 • CIÊNCIA E TÉCNICA FISCAL OS RESIDENTES NO IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO PORTUGUÊS 147
território nacional ou a períodos de ausência da região autónoma. português, uma vez que se trata de determinar se uma Região Matéria em que a lei é
também omissa. A complexidade dos pro- Autónoma é ou não competente como local de residência. Se assim blemas que a determinação da permanência
coloca explicam que não for, o critério não terá qualquer utilidade se o contribuinte apeo elemento mais relevante deste critério de residência autonómica
nas tiver rendimentos não previstos na lei supra-referido ou só tiver consista no facto de a lei não fazer relevar a permanência se o rendimentos obtidos
fora do território português.
sujeito passivo não dispuser na respectiva Região a sua residência Por último, a lei não clarifica se os rendimentos se consideram habitual e aí não estiver
registado para efeitos fiscais[ 68]. Residên- pelo seu montante bruto, líquido, com ou sem isenções. Considecia habitual não pode deixar de ter aqui o
significado de residên- ramos que, com o fim de facilitar o seu cômputo exclusivamente Cla «permanente», com o mesmo sentido em que, por exemplo,
para efeitos de determinação da residência, o mais razoável é conse admite a dedução de rendas para habitação permanente nos cluir que o cálculo se
efectua atendendo aos rendimentos brutos. termos do artigo 85. 0. No que respeita ao critério da residência por dependência, remeQuando não seja possível
determinar-se a residência regional pelo temos para o que atrás já ficou dito sobre o mesmo critério a procritério da permanência, a Região competente será
aquela onde o pósito da residência em território português[69, 70] contribuinte tiver o seu «principal centro de interesses». A lei considera como tal «o local
onde se obtenha a maior parte da base tributável, determinada nos seguintes termos: a) Os rendimentos do trabalho consideram-se obtidos no local onde é
prestada a actividade; b) Os rendimentos empresarzais e profissionais consideram-se obtidos no local do estabelecimento ou do exercício habitual da
profissão; c) Os rendimentos de capitais consideram-se obtidos no local do estabelecimento a que deva imputar-se o pagamento; d) Os rendimentos prediais
e
dos incrementos no local patrimoniais onde estes se provenientes situam; e) Os de rendimentos móveis consideram-se de pensões obti-con- Personas [ 69] Seguimos Físicas, de cit. perto pp.
CORDÓN 257/268.EZQUERRO, Teodoro, El Impuesto sobre Ia Renta de Ias sideram-se Como se obtidos comprova, no local no momento onde são pagas de definir ou colocadas o principal
à disposição».centro de bal [não 70] Embora sobre residentes, a questão se trate deixamos de da matéria tributação aqui desde a tratar de já não numa expressa, residentes segunda face em parte
interesses do contribuinte, o legislador fixa-se meramente nos taxas de retenção liberatórias ou especiais, por taxas das Regiões Autónomas, sobreaspectos económicos, concretizados no local
onde obtém a maior tudo considerado da Região Autónoma dos Açores. Autónoma Baseia-se (e, no consequentemente, seguinte raciocínio: beneficiar se só pode dasser residente numa Região
parte do rendimento. Parece-nos que o período temporal a que as taxas de tributação aí em vigor) que for residente em território português, é óbvio que rendas devem respeitar é o ano fiscal. E,
além disso, entendemos um não de residente, sempre um não residente que, em território não português, residente em não território pode benefi-porque apenas devem considerar-
se rendimentos obtidos em territóriociar tuguês, tais não taxas, pode ser pela um razão residente óbvia numa de Região sendo Autónoma. um Ora, quer-nos parecer que,
na prática, nao é isto que se passa e que rendimentos obtidos por não residentes na
[68] Expressão que parece dever entendefrse como referindo-se ao «domicílio fiscal», o Região aos rendimentos Autónoma ali dos obtidos. Açores Se estão assim a ser não tributados é, só
nos pelas resta taxas congratular-nos de tributação pelo aplicadasfacto e, que alimenta a ideia de que, no âmbito fiscal, o domicílio é electivo. em qualquer caso, manter o. princípio
antes enunciado.