Você está na página 1de 23

Quais são os tipos de

câncer e/ou tumores mais


frequentes na faixa etária
pediátrica?

23.1 LEUCEMIAS
As leucemias são o tipo de câncer mais frequente na infância e
representam 30% dos casos em crianças. As leucemias linfoides
agudas são as mais comuns na faixa etária pediátrica (75 a 80%),
seguidas pelas leucemias mieloides agudas (15 a 20%). As
leucemias mieloides crônicas são incomuns (2 a 5%).
23.1.1 Leucemia linfoblástica aguda

É a neoplasia mais comum na faixa etária pediátrica. A maior


parte dos casos ocorre de forma esporádica, mas há algumas
doenças genéticas que aumentam a predisposição, como
síndrome de Down, neurofibromatose e imunodeficiências, por
exemplo.

#importante
A síndrome de Down está relacionada a
risco 20 vezes maior de desenvolvimento
de leucemias agudas em relação à
população geral. Leucemia mieloide
aguda megacarioblástica (M7) e
leucemia linfoblástica aguda são as
leucemias mais frequentes.

Os principais sintomas iniciais das leucemias linfoblásticas


agudas são:
▶ Anorexia;
▶ Fadiga/cansaço, mal-estar;
▶ Irritabilidade;
▶ Febre intermitente;
▶ Dor óssea, que pode ser intensa e despertar o paciente durante
o sono e não controlável com medicação;
▶ Dor nas articulações, sem sinais de artrite;
▶ Palidez súbita;
▶ Petéquias ou hematomas, sangramentos (em geral, cutâneo-
mucosos).

#importante
A dor óssea é uma manifestação
frequente da LLA, principalmente nos
membros inferiores, e é de difícil
controle. Febre, palidez e astenia
também são manifestações prevalentes.

23.1.1.1 Diagnóstico
Além de história e exame físico, que na maior parte das vezes são
inespecíficos, o paciente apresenta hemograma com anemia,
plaquetopenia e contagem variável de leucócitos (normal,
leucocitose ou leucopenia). Diante da bicitopenia sem causa
definida, deve ser realizado o mielograma (aspirado de medula
óssea), e o diagnóstico de Leucemia Linfoide Aguda (LLA) é
definido pela presença, na medula óssea, de mais de 25% de
blastos de linhagem linfoide. Outros exames realizados a partir da
punção medular é a imunofenotipagem, para avaliação dos
marcadores dos blastos, e exames moleculares/genéticos, como
a citogenética e a biologia tumoral. O objetivo é a melhor
caracterização da doença, definição de tratamento e prognóstico
e seguimento da resposta do paciente à quimioterapia.
23.1.1.2 Tratamento

O tratamento deve ser sempre baseado em protocolos


multicêntricos preestabelecidos (e cada serviço opta por
protocolos específicos). Há sempre a fase de indução, que é o
início do tratamento, em que a quimioterapia é mais intensa, e é
quando há maior risco infeccioso e de lise tumoral. As
denominações das outras fases variam de acordo com o
protocolo, mas a duração média de tratamento da LLA é entre 24
e 30 meses. O transplante alogênico de medula óssea é
reservado para casos selecionados, como falha indutória, recaída
precoce ou translocações gênicas específicas.
Ao suspeitar de LLA, o médico não deve prescrever
corticosteroides, pois eles diminuem a quantidade de blastos, e
isso pode atrasar a confirmação do diagnóstico e o início do
tratamento específico. As crianças com LLA que receberam
corticoide antes do diagnóstico são consideradas de alto risco e
recebem tratamentos mais agressivos.
23.1.2 Leucemia mieloide aguda
A Leucemia Mieloide Aguda (LMA) é mais frequente em menores
de 2 anos de idade e maiores de 10 anos, principalmente nos
jovens de 15 a 20 anos.
Alguns sintomas característicos da Leucemia Mieloide Aguda
(LMA) incomuns na LLA são: nódulos subcutâneos ou “blueberry
muffin”; infiltração da gengiva; massas, como cloromas ou
sarcomas granulocíticos.
A LMA representa aproximadamente 25% das leucemias na
infância e, em geral, têm pior prognóstico quando comparadas às
LLAs.
23.1.2.1 Diagnóstico

A anamnese e o exame físico costumam ser bem semelhantes à


LLA. Diante da suspeita clínica, devem ser realizados os mesmos
exames medulares (mielograma, imunofenotipagem e estudos
genéticos). A LMA é definida pela presenta de mais de 20% de
blastos de linhas mieloide na medula óssea ou presença de
blastos em menor número associado a algumas translocações
específicas. A presença de menos de 20% de blastos na medula
óssea, em geral, ocorre nas síndromes mielodisplásicas, que são
doenças mieloproliferativas com tratamento diferente que a
LMA. O diagnóstico diferencial entre LLA e LMA se dá pelas
características dos blastos — na maioria das vezes os quadros
clínicos são bastante semelhantes.
23.1.2.2 Tratamento

O tratamento é baseado em protocolos multicêntricos, com


quimioterápicos de várias classes. Costuma ser um tratamento
mais curto e mais intensivo que nas LLA e deve ser dada grande
atenção aos quadros infecciosos.
23.2 LINFOMAS
Os linfomas são o terceiro tipo de câncer mais comum em
pediatria. Os linfomas de Hodgkin e não Hodgkin apresentam
quadro clínico e tratamento diferentes.

#importante
Na doença de Hodgkin o acometimento
predomina nos linfonodos periféricos
enquanto na não Hodgkin o
comprometimento é mais frequente em
órgãos e linfonodos internos.

23.2.1 Doença de Hodgkin


A Doença de Hodgkin (DH) caracteriza-se pela presença da célula
de Reed-Sternberg, embora esta possa estar presente na
mononucleose, no linfoma não Hodgkin e em outras condições.
A DH tem uma distribuição bimodal relacionada à idade, com
diferenças étnicas e geográficas. Em países industrializados, os
picos ocorrem ao redor dos 20 anos e, mais tarde, ao redor dos
50 anos. Nos países em desenvolvimento, o primeiro pico ocorre
antes da adolescência. A DH é raramente observada antes dos 5
anos de idade.
O vírus Epstein-Barr (EBV) tem sido implicado na origem da DH
tanto em estudos sorológicos como epidemiológicos, mas
também tem sido aventado o envolvimento de outros vírus como
do herpes-vírus humano tipo 6 e citomegalovírus.
O principal sintoma é a linfadenopatia periférica, e as regiões mais
afetadas são a cervical ou a supraclavicular. Na maioria dos casos,
há comprometimento do mediastino. Os linfonodos
comprometidos são endurecidos, geralmente não são únicos,
mas formam um conglomerado de linfonodos no qual um é maior
e mais central, com outros menores coalescentes e aderidos a
planos profundos, lembrando um “saco de batata”.
Quadro 23.1 - Estadiamento

São considerados sintomas B na DH febre inexplicável acima de


38 °C, perda de peso de mais de 10% do peso corpóreo em seis
meses e sudorese noturna profusa.
Após exames de imagem — radiografia e/ou Tomografia
Computadorizada (TC)/Ressonância Nuclear Magnética (RNM) —,
deve ser realizada biópsia e imuno-histoquímica para confirmação
diagnóstica. Em geral, os linfonodos que levantam suspeita de
malignidade são aqueles grandes (acima de 1,5 cm), com
crescimento progressivo por mais de um mês ou que não
regridem após dois meses, mesmo após tratamento específico.
Em geral, são aderidos a planos profundos, indolores e sem sinais
flogísticos e podem acometer a cadeia supraclavicular.
Linfonodos grandes, muito dolorosos e hiperemiados, em geral,
falam a favor de quadro infeccioso, e não neoplásico.
Os sintomas B, grandes massas de mediastino, extensão
extranodal da doença e estádios IIIB e IV são também fatores
prognósticos relevantes.
O tratamento é feito com quimioterapia, que pode ser associada à
radioterapia. Os fatores que influenciam o tratamento são o
estágio da doença, a idade na ocasião do diagnóstico, a presença
ou ausência de sintomas B e a presença de linfadenopatia hilar ou
doença nodal volumosa.
23.2.2 Linfoma não Hodgkin
A classificação dos LNHs da infância é considerada mais fácil que
a dos adultos. Os LNHs da criança são, em quase toda a sua
totalidade, linfomas de alto grau de malignidade que, de acordo
com a sua origem celular, são hoje classificados, conforme a
Organização Mundial da Saúde (OMS), em três subgrupos.
Quadro 23.2 - Principais características clínicas de cada subtipo
As três manifestações clínicas que requerem intervenção
especial são: síndrome da veia cava superior, paraplegia aguda
(síndrome de compressão medular) e síndrome da lise tumoral. A
biópsia do tecido tumoral é fundamental para o diagnóstico, e a
base do tratamento é a quimioterapia. A cirurgia é feita
principalmente para diagnóstico.
23.3 TUMORES DO SISTEMA NERVOSO
CENTRAL
É o segundo tipo de tumor mais comum em Pediatria, perdendo
apenas para as leucemias, e são os principais tumores de órgão
sólido. Este grupo compreende um número imenso de tipos
histológicos e localizações e, consequentemente, diferentes
tratamentos. Apesar de suas nuances, em geral, os tumores de
sistema nervoso central são tratados principalmente com cirurgia
(ressecção para controle local), quimioterapia e/ou radioterapia.
Apresentam diferentes prognósticos e, muitas vezes, grande
morbidade em longo prazo.
Os sintomas podem estar relacionados com sinais de hipertensão
intracraniana ou variar de acordo com a localização do tumor:
▶ Tumores da região infratentorial: os tumores localizados nessa
região podem cursar com os sinais e sintomas clássicos, como
cefaleia, papiledema, náuseas e vômitos. Os principais tumores
nessas localizações são os meduloblastomas — em região de
cerebelo — e os gliomas de tronco cerebral;
▶ Tumores da região supratentorial: os tumores localizados nessa
região apresentam-se, em geral, com alterações neurológicas em
apenas um dos lados do corpo.
▶ Os principais tipos são os astrocitomas e ependimomas;
▶ Tumores da região suprasselar: os tumores com origem nessa
região podem se apresentar com sinais e sintomas relacionados a
déficits neuroendócrinos.
▶ Os principais tipos são os adenomas de hipófise,
craniofaringiomas e tumores de células germinativas.
Deve ser investigada a presença de massa em sistema nervoso
central, por meio de exames de imagem (RNM ou TC de crânio) se
há cefaleia com sinais de alerta: cefaleia de forte intensidade, com
despertar noturno, vômitos em jato, pior pela manhã, com sinais
neurológicos associados, mudança de comportamento, crises
convulsivas ou alterações de pares cranianos. O tratamento,
geralmente, inclui cirurgia com ressecção completa do tumor,
quando possível, associado ou não à radioterapia e quimioterapia.
23.4 MASSAS ABDOMINAIS
As massas abdominais neoplásicas são frequentes em crianças, e
os dois tumores malignos mais comuns são o neuroblastoma e o
tumor de Wilms.
23.4.1 Neuroblastoma
Originado nas células embrionárias do sistema nervoso periférico,
é o tumor mais comum entre os lactentes, correspondendo a 7%
de todas as malignidades. Tem pico de incidência por volta dos 2
anos de idade.
É originado dos gânglios simpáticos, portanto os principais locais
onde surge são abdome (glândula adrenal), gânglios
retroperitoneais e mediastino posterior.
Em geral o paciente apresenta grandes massas abdominais, que
ultrapassam a linha média. Cursa com sintomas sistêmicos, como Interrup
febre, perda ponderal/desnutrição, irritabilidade e dor óssea. Pode ção do
cursar com síndrome de Horner (ptose, miose, enoftalmia e trajeto
dos
anidrose facial), pela compressão do gânglio estrelado. A doença nervos

metastática ao diagnóstico ocorre em 75% dos casos e pode


de um
lado do
provocar os seguintes sinais e sintomas: febre, irritabilidade, cérebro
até o
comprometimento do estado geral, dor óssea, nódulos cianóticos rosto e
subcutâneos, proptose orbital, equimoses periorbitais — “raccoon os
olhos.
eyes” ou “olhos de guaxinim”. A
síndrom
e de
É comum encontrar sintomas referentes à liberação de Horner

catecolaminas produzidas pelo tumor, como sudorese, é


resultad
hipertensão arterial, irritabilidade, rubor e palpitação. Os produtos o de

da degradação destas podem ser dosados na urina ou no sangue


outro
problem
(ácido vanil mandélico e ácido homovanílico). a
médico,
como
um
acident
e
vascula
r
cerebral
, um
tumor
A invasão da medula óssea pode levar a citopenias periféricas. O
aspirado e/ou a biópsia de medula óssea podem levar ao
diagnóstico, evitando cirurgia abdominal caso o tumor seja
considerado irressecável.
Na TC de abdome, em geral, são visualizadas calcificações
grosseiras. O neuroblastoma pode cursar com metástase para
fígado, pulmão (bastante raro), sistema nervoso central, osso e
medula óssea.
O tipo de tratamento é determinado pela idade do paciente,
estágio do tumor e fatores citogenéticos e moleculares. O
tratamento envolve cirurgia, quimioterapia, radioterapia e
modificadores de resposta biológica. O prognóstico é variável e
depende de alguns critérios específicos.
23.4.2 Tumor de Wilms
O tumor de Wilms, também chamado nefroblastoma, é o tumor
renal mais comum da infância. A maioria dos casos ocorre antes
dos 5 anos, e o pico de incidência, entre 3 e 4 anos. Geralmente é
assintomático ou oligossintomático; na maioria das vezes, a
massa abdominal é percebida pelos familiares ao acariciar e
banhar as crianças, ou brincar com elas. As manifestações
clínicas, em ordem de frequência, são a presença de massa
palpável (60%), hipertensão arterial (25%), hematúria (15%), dor
abdominal (8%), obstipação intestinal (4%), perda de peso (4%) e
infecção do trato urinário (3%). A palpação do abdome deve ser
feita com delicadeza, pois o tumor pode se romper com
facilidade, piorando o prognóstico. Geralmente, a massa não
ultrapassa a linha média.
Na TC de abdome em geral não são visualizadas calcificações.
Pode ocorrer metástase pulmonar.
O tratamento envolve cirurgia, quimioterapia e/ou radioterapia,
dependendo do estadiamento clínico. O prognóstico é muito bom
e muito melhor do que o neuroblastoma.

#importante
Os neuroblastomas são massas
abdominais grandes que geralmente
ultrapassam a linha média. Já o tumor de
Wilms é também uma massa abdominal
grande, mas não ultrapassa a linha
média.

23.4.3 Tumor na suprarrenal (carcinoma de adrenal)


Em crianças mais novas, os principais sintomas estão
relacionados à virilização, com puberdade precoce. Outros
sintomas importantes são a síndrome de Cushing e a hipertensão
arterial. O tratamento é principalmente cirúrgico, associado à
quimioterapia, com má resposta. O prognóstico é ruim.
23.5 TUMORES ÓSSEOS
23.5.1 Osteossarcoma
Inicialmente, os sintomas mais comuns são dor, claudicação e
edema. Na radiografia, o principal achado é o padrão “em raios de
sol”; podem também ter o triângulo de Codman e áreas de
osteólise e osteoesclerose com limites pouco precisos.
A ressecção cirúrgica completa do tumor é fundamental para a
cura, e a quimioterapia também é uma etapa importante do
tratamento.
23.5.2 Sarcoma de Ewing
É um sarcoma não diferenciado do osso, que também pode se
originar no tecido mole. É o segundo tumor ósseo mais frequente
e também acomete adolescentes. Os principais sintomas são dor,
edema, limitação do movimento e sensibilidade sobre o osso ou o
tecido mole acometido. As manifestações sistêmicas são comuns
e incluem febre e perda de peso. O achado radiológico
característico é a lesão óssea primariamente lítica com reação
periosteal, denominada “em casca de cebola”. Pode acometer
osso e partes moles. Quando acomete arcos costais é
denominado tumor de Askin. A ressonância é o exame mais
indicado para complementar a radiografia. O tratamento engloba
cirurgia, radioterapia e/ou quimioterapia.
23.6 RETINOBLASTOMA
O principal sinal é a leucocoria, que é o reflexo pupilar branco,
detectado com o auxílio do oftalmoscópio. Com o avanço da
doença, pode acarretar déficit visual. Terapia focal com
fotocoagulação com laser ou crioterapia e quimioterapia são
avaliadas para tratamento em cada caso. O principal fator de
impacto prognóstico é o atraso diagnóstico. Terapia focal, com
fotocoagulação com laser ou crioterapia, radioterapia externa e
quimioterapia são avaliadas para tratamento em cada caso.
23.7 EMERGÊNCIAS ONCOLÓGICAS
23.7.1 Infecções e neutropenia febril
Pacientes em tratamento quimioterápico apresentam maior risco
infeccioso, tanto de acometimento quanto de gravidade. Isso
ocorre em razão da mielotoxicidade causada pelos
quimioterápicos (neutropenia) e pela mucosite e aumento do
risco de translocação das bactérias intestinais para a circulação.
Além disso, são comumente invadidos por cateteres e sondas e
fazem visitas frequentes ao serviço hospitalar, o que também
aumenta esse risco.
A neutropenia febril é definida como febre em um paciente que
apresenta neutrófilos menores ou iguais a 500/mm3 ou menores
ou iguais a 1.000/mm3, porém com perspectiva de queda. O
paciente deve ser considerado com febre quando apresenta um
pico de 38 °C ou pelo menos dois picos de 37,8 °C em 24 horas.
Pacientes oncológicos com quadro febril devem ser orientados a
procurar o serviço médico imediatamente. Devem ser coletados
hemograma completo com diferencial de leucócitos e plaquetas,
hemocultura central (de todas as vias) e periférica, PCR, urina 1,
urocultura, radiografia de tórax se quadro respiratório e pesquisa
de sítios específicos de acordo com queixa do paciente
(ultrassonografia de abdome se suspeita de tiflite, pesquisa de
vírus respiratórios se quadro gripal, por exemplo). A conduta
nesses pacientes dependerá de fatores de baixo ou alto risco
para infecção.
Os fatores de baixo risco de infecção no paciente neutropênico
são:
▶ Tumores sólidos;
▶ Ausência de comorbidades;
▶ Doença neoplásica em remissão;
▶ Condições clínicas estáveis;
▶ Não estar internado durante o início da febre;
▶ Neutropenia de duração inferior a sete dias.
Os fatores de alto risco de infecção no paciente neutropênico são:
▶ Leucemias ou linfomas não Hodgkin e os pacientes nos
primeiros 30 dias do transplante de célula hematopoiética;
▶ Neutrófilos menores que 100 células/mm3;
▶ Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SRIS);
▶ Disfunção orgânica aguda;
▶ Instabilidade hemodinâmica;
▶ Evidência de insuficiência hepática;
▶ Insuficiência renal;
▶ Infecção no Cateter Venoso Central (CVC);
▶ Celulite extensa, bacteriemia, pneumonia ou outras infecções
graves documentadas;
▶ Neutropenia de duração inferior a sete dias;
▶ Internação recente;
▶ Uso recente de antimicrobianos;
▶ Mucosites graus III-IV.
Os pacientes classificados como baixo risco, com febre sem foco
aparente, sem cateter e sem instabilidade hemodinâmica devem
iniciar piperacilina-tazobactam ou cefepima. Para os pacientes
classificados como risco elevado, com instabilidade
hemodinâmica, deve ser iniciado antibiótico de largo espectro. O
esquema recomendado deve ser feito de acordo com o padrão de
sensibilidade de cada serviço. A sugestão da Sociedade Brasileira
de Pediatria é piperacilina-tazobactam ou meropeném e
vancomicina. Deve ser associado aminoglicosídeo na suspeita de
bactéria resistente.
Em crianças com cateter, sempre associar vancomicina até a
obtenção dos resultados de culturas.
Em pacientes com infecções de vias aéreas superiores, devem-se
utilizar piperacilina-tazobactam e vancomicina; cabe a discussão
sobre a introdução de metronidazol ou clindamicina para
cobertura de agentes anaeróbicos nas infecções graves de boca
e seios da face. Os pacientes que apresentam síndrome gripal —
febre em associação com sintomas respiratórios — devem
receber cobertura precoce para influenza, com oseltamivir.
Em pacientes com infecções abdominais, deve-se sempre pensar
em tiflite como diagnóstico. A tiflite é uma infecção grave dos
cólons, causada por anaeróbios e/ou Gram negativos. Iniciar
meropeném associado à amicacina.
Em pacientes com insuficiência respiratória, pela possibilidade de
bactérias atípicas, processos virais e Pneumocystis jirovecii,
deve-se introduzir, além de piperacilina-tazobactam e
vancomicina, claritromicina, sulfametoxazol-trimetoprima e
ganciclovir até que seja possível estabelecer mais claramente a
etiologia.
Pacientes com herpes-zóster ou varicela, independentemente do
número de granulócitos, devem ser internados em isolamento e
tratados com aciclovir.
A associação de antibióticos ou mudança de tratamento deve ser
avaliada se a febre não se resolver em dois a três dias. Se a febre
persistir por mais e quatro a sete dias ou retornar após os
esquemas descritos, iniciar antifúngico. O fluconazol é a droga de
escolha para tratamento empírico.
23.7.2 Síndrome de lise tumoral
A síndrome de lise tumoral é decorrente da destruição de células
tumorais, com liberação do seu conteúdo intracelular para o meio
intravascular (extracelular). Em geral, ocorre no início do
tratamento quimioterápico, em tumores com grandes massas, de
rápido crescimento, alta leucometria e alto turnover celular. Os
tumores que imprimem maior risco a essa síndrome são
leucemias agudas com alta leucometria (acima de 100.000
leucócitos), linfomas (principalmente o linfoma de Burkitt e os
linfoblásticos com massas mediastinais).
O quadro clínico pode incluir dor abdominal, náuseas, vômitos,
diarreia, dor lombar, desidratação, insuficiência cardíaca, tetania,
disritmias cardíacas, convulsões, alterações do nível de
consciências, entre outros.
Nos exames laboratoriais há hiperuricemia, hiperfosfatemia,
hipercalemia, hipocalcemia (por causa da formação de fosfato de
cálcio) e piora da função renal.
O tratamento consiste em hiper-hidratação sem potássio,
administração de alopurinol ou rasburicase, hidróxido de alumínio
ou sevelâmer (quelantes de fósforo), garantir boa diurese e
balanço hídrico rigoroso. Em caso de hipervolemia refratária,
hipercalemia, hiperuricemia ou hiperfosfatemia refratárias ou
piora progressiva da função renal, a diálise deve ser indicada
precocemente. A profilaxia com hidratação sem potássio e
alopurinol deve ser instituída em qualquer quadro com risco de
lise tumoral, mesmo que a síndrome não esteja instalada.
#importante
Na síndrome da lise tumoral ocorre
aumento expressivo dos níveis de ácido
úrico, fósforo e potássio, com risco de
comprometimento cardíaco e renal.

23.7.3 Hiperleucocitose e leucostase


A hiperleucocitose é definida por leucemias com leucometria
acima de 100.000. Os grandes riscos da hiperleucocitose são a
síndrome de lise tumoral, descrita anteriormente, e a leucostase.
A leucostase é a dificuldade circulatória por aumento da
viscosidade sanguínea, e, apesar de poder ocorrer em qualquer
leucemia com alta leucometria, é mais comum na LMA. Sua tríade
característica é cefaleia, borramento visual e crise convulsiva,
mas pode apresentar uma imensa gama de sinais e sintomas, a
depender do órgão acometido: alteração de comportamento,
infarto agudo do miocárdio, tromboembolismo pulmonar,
insuficiência renal aguda etc.
O tratamento recomendado é hidratação endovenosa e alopurinol
ou urato-oxidase recombinante. Concentrado de plaquetas deve
ser prescrito para plaquetopenia abaixo de 20.000. Concentrado
de hemácias só deve ser utilizado nos pacientes instáveis, visto o
aumento da viscosidade sanguínea.
23.7.4 Síndrome da veia cava superior
A síndrome da veia cava superior ocorre pela obstrução de
retorno venoso do sangue para o átrio direito, por causa da
presença de obstrução, trombose ou compressão da veia cava
superior. É mais comum em linfomas linfoblásticos T, LLA-T com
massa mediastinal, timoma, teratoma e tumores tireoidianos.
O quadro clínico característico é dispneia com ortopneia, edema e
pletora facial (pior pela manhã, ao levantar-se), estase jugular e
hepatomegalia, além de tosse, rouquidão e disfagia. O tratamento
consiste em medidas de suporte, manter o paciente em decúbito
elevado, não realizar sedação para o paciente, profilaxia para lise
tumoral e início precoce de quimioterapia ou radioterapia para
redução da massa.
23.7.5 Síndrome de compressão medular
A síndrome de compressão medular ocorre pela presença de
massa paravertebral, com invasão ou não do canal vertebral, que
leva à hipoxemia das terminações nervosas. O quadro clínico varia
de acordo com a altura da compressão, mas classicamente é
caracterizado pelos eventos progressivos, da seguinte maneira:
dor e parestesia em membros — paresia, plegia — perda do
controle esfincteriano. Se a compressão for em níveis mais
superiores, poderá haver comprometimento respiratório. A
dexametasona é o tratamento inicial, seguida de quimioterapia
e/ou cirurgia descompressiva.
23.7.6 Sangramento
Os pacientes oncológicos, principalmente nos quadros iniciais,
apresentam plaquetopenia e discrasias sanguíneas, inclusive com
risco de sangramento em sistema nervoso central. Todos devem
ter coagulograma e fibrinogênio colhidos, e transfusão de
plaquetas, plasma e crioprecipitado conforme necessidade
laboratorial e clínica.
Quais são os tipos de
câncer e/ou tumores mais
frequentes na faixa etária
pediátrica?
No geral, os tipos de câncer mais comuns nessa faixa
etária são as leucemias, os tumores do sistema nervoso
central e os linfomas. As leucemias são o tipo de câncer
mais frequente na infância, representando 30% dos
casos de câncer em crianças. As leucemias linfoides
agudas são as mais comuns na faixa etária pediátrica
(75 a 80%), seguidas pelas leucemias mieloides agudas
(15 a 20%). As leucemias mieloides crônicas são
incomuns (2 a 5%). Vale lembrar que a síndrome de
Down está relacionada a risco 20 vezes maior de
desenvolvimento de leucemias agudas em relação à
população geral, sendo a leucemia mieloide aguda
megacarioblástica (M7) e a leucemia linfoblástica aguda
as mais frequentes nestes pacientes. Os tumores de
SNC são a segunda neoplasia mais comum na faixa
etária pediátrica e são considerados os tumores sólidos
mais comuns em crianças. Os tumores ósseos
primários são o sexto em incidência na Pediatria; o
osteossarcoma é o tumor maligno primário ósseo mais
comum, correspondendo a 60% dos casos, seguido
pelo sarcoma de Ewing. Entre os tumores sólidos de
localização fora do crânio, o neuroblastoma é o mais
comum. O tumor de Wilms, também chamado
nefroblastoma, é o tumor renal mais comum da infância
e o segundo tumor do retroperitônio. Os linfomas são o
terceiro tipo de câncer mais comum em menores de 14
anos. O retinoblastoma é câncer intraocular mais
comum da infância.

Associação Médica do Paraná


O processo seletivo conta com duas etapas: um exame objetivo e
análise e defesa do currículo, somada ou não à prova prática, sob
a responsabilidade dos Programas de Residência Médica
participantes e de acordo com as normas da Comissão Nacional
de Residência Médica e PROVAB. Para o exame objetivo, são
esperadas 50 questões de múltipla escolha, com cinco
alternativas cada, centrados na área básica respectiva
AMP | 2020
Adolescente de 15 anos, com dor abdominal há um mês. Ao
exame físico observa-se uma massa palpável em baixo ventre, de
cerca de 15 cm, com superfície irregular. Tomografia mostra uma
massa irregular, com componentes sólidos e císticos, envolvendo
o ovário direito. Exames laboratoriais revelam dosagem de
alfafetoproteína e beta-HCG elevados. Qual seria o diagnóstico
mais provável?
a) disgerminoma
b) coriocarcinoma
c) teratoma maduro
d) carcinoma embrionário
e) tumor do seio endodérmico
Gabarito: d
Comentários:
a) O disgerminoma ocorre com aumento apenas de beta-HCG; a
alfafetoproteína é normal.
b) O coriocarcinoma também é um tumor de células germinativas
que aumenta apenas beta-HCG; a alfafetoproteína é normal.
c) O teratoma maduro não secreta nem alfafetoproteína nem
beta-HCG. Ambos apresentam níveis dentro dos padrões de
normalidade.
d) A paciente apresenta exames compatíveis com carcinoma
embrionário, pois ele aumenta tanto níveis de alfafetoproteína
quanto beta-HCG.
e) Tumor que secreta apenas alfafetoproteína; o beta-HCG é
normal.

Você também pode gostar