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TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL

ACÓRDÃO

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N° 5715-06.


2014.6.26.0000 - CLASSE 6— SÃO PAULO - SÃO PAULO

Relatora: Ministra Luciana Lóssio


Agravante: Geraldo Leite da Cruz
Advogados: Paula Silva Monteiro e outros

ELEIÇÕES 2014. PRESTAÇÃO DE CONTAS.


DEPUTADO ESTADUAL. IRREGULARIDADES.
NATUREZA GRAVE. HIGIDEZ DAS CONTAS.
COMPROMETIMENTO. PRINCÍPIOS DA
RAZOABILIDADE, DA PROPORCIONALIDADE E DA
INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE.
DESPROVIMENTO.
No caso, não obstante o Tribunal a quo ter
considerado sanadas algumas irregularidades, manteve a
desaprovação das contas, em virtude da subsistência das
demais irregularidades, por considerá-las graves ao ponto
de comprometer a regularidade, a confiabilidade e a
transparência dessas contas, impedindo a sua
fiscalização pela Justiça Eleitoral.
Nos termos da jurisprudência desta Corte, em
processos de prestação de contas, os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade somente podem ser
aplicados quando presentes os seguintes requisitos:
a) falhas que não comprometam a lisura do balanço
contábil; b) irrelevância do percentual dos valores
envolvidos em relação ao total arrecadado; e c) ausência
de comprovada má-fé do prestador de contas.
A impossibilidade de quantificar o montante da
irregularidade relativa à realização de evento
arrecadatório impede a aplicação do princípio da
insignificância ao caso, visto que não há como mensurar
o percentual de tal falha em relação ao total arrecadado
na campanha do agravado.
AgR-Al no 5715-06.2014.6.26.0000/SP 2

4. Agravo regimental ao qual se nega provimento.

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por


unanimidade, em negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto
da relatora.

Brasília, 15 de março de 2016.

MlNlSTRAClKNA LÓSSIO - RELATORA


AgR-Al no 5715-06.2014.6.26.0000/SP

RELATÓRIO

A SENHORA MINISTRA LUCIANA LÓSSIO: Senhor


Presidente, trata-se de agravo regimental interposto por Geraldo Leite da Cruz
contra decisão pela qual neguei seguimento ao seu agravo nos próprios autos,
por ausência de afronta aos §§ 20 e 20-A do ad. 30 da Lei das Eleições e
incidência das Súmulas nS 7/STJ e 279/STF.

Na origem, o Regional desaprovou as contas do ora agravante,


em virtude da existência de irregularidades graves que comprometeram a
regularidade, a confiabilidade e a transparência dessas contas.

O acórdão regional foi assim ementado:

PRESTAÇÃO DE CONTAS. ELEIÇÕES 2014. DEPUTADO


ESTADUAL. IRREGULARIDADES: - OMISSÃO DE DOAÇÕES NA
SEGUNDA PRESTAÇÃO DE CONTAS PARCIAL.
IRREGULARIDADE MERAMENTE FORMAL QUE NÃO
COMPROMETE A REGULARIDADE DAS CONTAS.
PRECEDENTES: TRE/SP. - REALIZAÇÃO DE EVENTO
ARRECADATÓRIO, SEM OBSERVAR O PRAZO DE CINCO DIAS
ÚTEIS DE ANTECEDÊNCIA PARA A COMUNICAÇÃO À JUSTIÇA
ELEITORAL; - DOAÇÃO A OUTRO CANDIDATO APÓS A DATA DA
ELEIÇÃO; - FALTA DE DOCUMENTAÇÃO COMPROBATÓRIA DA
SITUAÇÃO REGULAR NA RECEITA FEDERAL DE PRESTADOR
DE SERVIÇO CUJO CPF APRESENTA-SE SUSPENSO NA BASE
DE DADOS DA RECEITA FEDERAL; - REALIZAÇÃO DE DESPESA
NÃO DECLARADA NA PRESTAÇÃO DE CONTAS; - AUSÊNCIA DE
IDENTIFICAÇÃO DOS DOADORES ORIGINÁRIOS DE DOAÇÕES
ESTIMADAS. VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 10, 12, 18, 19, IV, 20,
§ 30, 26, § 30, 27, 1, 29, § 10, 30, 40, 1, "G", 67 E 70, DA
RESOLUÇAO TSE N° 23.406/14. IRREGULARIDADES QUE
REPRESENTAM APROXIMADAMENTE 11,80% DO TOTAL DE
RECEITAS DA CAMPANHA ELEITORAL. INAPLICABILIDADE DOS
PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE.
INFRAÇÕES DE NATUREZA GRAVE QUE COMPROMETEM A
REGULARIDADE, A CONFIABILIDADE E A TRANSPARÊNCIA DAS
CONTAS PRESTADAS. DESAPROVAÇÃO COM DETERMINAÇÃO.
(FL. 654)

Nos embargos de declaração opostos, o ora agravante


apresentou documentos, a fim de sanar as falhas apontadas em sua prestação
de contas. Todavia, a Corte de origem, embora tenha considerado sanada uma
AgR-Al n° 5715-06.2014.6.26.0000/SP 4

das irregularidades e parcialmente sanada outra, manteve a desaprovação de


tais contas, em razão da persistência das demais irregularidades.

No apelo especial, o ora agravante alegou violação ao


art. 30, § 20 e 20-A, da Lei n° 9.504/97, sob o argumento de que as falhas
apontadas nas referidas contas são de ordem formal, o que não enseja a sua
desaprovação, mas apenas a aprovação com ressalvas.

Defendeu a incidência do princípio da insignificância á hipótese


dos autos, haja vista que as mencionadas irregularidades representam
2,3% do valor total da sua prestação de contas, tratando-se, portanto, de valor
irrisório.

Apontou divergência jurisprudencial.

No agravo nos próprios autos, sustentou não pretender o


reexame de provas, mas subsunção dos fatos à norma.

No mais, reiterou os argumentos expendidos no apelo.

Nas razões do presente agravo regimental, Geraldo Leite da


Cruz aduz que a decisão agravada não levou em consideração as alterações
trazidas no acórdão alusivo aos embargos de declaração, que foram acolhidos
com efeitos infringentes.

Sustenta que, no referido acórdão, o Regional considerou


sanada a irregularidade do item 3 e parcialmente sanada a do item 6, o que
significa dizer que as irregularidades representam apenas 2,3% do total
arrecadado na campanha, razão pela qual reitera a aplicação do princípio da
insignificância, bem como defende que a análise dessa sua pretensão não
demandaria o reexame de provas.

Reafirma que houve afronta ao art. 30, § 2° e 2°-A, da Lei


n° 9.504/97, haja vista que as falhas apontadas seriam meramente formais, e
reitera a incidência do aludido princípio, à espécie, uma vez que o valor total
das irregularidades seria irrisório.

É o relatório.

AgR-Al no 5715-06.2014.6.26.0000/SP 5

VOTO

A SENHORA MINISTRA LUCIANA LÓSSIO (relatora): Senhor


Presidente, o presente agravo regimental é tempestivo, pelo que dele conheço.

A decisão agravada restou assim fundamentada:

O agravo não reúne condições de êxito ante a inviabilidade do


recurso especial.
Na espécie, a Code de origem entendeu que, embora a
apresentação incompleta das prestações de contas parciais
configure uma irregularidade, tal falha não teria comprometido a
regularidade das contas, motivo pelo qual a relevou. Todavia,
desaprovou as contas de campanha do candidato, porquanto
concluiu que os vícios subsistentes inviabilizam a fiscalização dessas
contas. Confira-se:
Deste modo, a não apresentação completa das prestações de
contas parciais configura falha, contudo não compromete sua
regularidade, razão pela qual pode ser relevada.
Todavia, as demais irregularidades apontadas pelo órgão
técnico deste e. Tribunal Regional Eleitoral não podem ser
relevadas, uma vez que comprometem a regularidade das
contas, quais sejam: a) realização de evento arrecadatório,
sem a observância do prazo de cinco dias úteis de
antecedência para a comunicação à Justiça Eleitoral;
b) doação a outro candidato após a data da eleição; c) falta de
documentação comprobatória de situação regular na
Receita Federal de prestador de serviço cujo CPF apresenta-
se suspenso na base de dados da Receita Federal;
d) realização de despesa não declarada na prestação de
contas, e e) falta de identificação dos doadores originários de
doações estimadas.
Com efeito, no que se refere à falha descrita no item
"a", verifica-se que o candidato realizou evento arrecadatório,
em 29 de julho de 2014, sem a observância do prazo de cinco
dias úteis de antecedência para a comunicação à Justiça
Eleitoral, contrariando o disposto no ad. 27, 1, da Resolução
TSE n° 23.406/14. E mais, a inexatidão da informação
prestada sobre o endereço do local do evento impossibilitou a
Justiça Eleitoral de fiscalizar o evento.
Quanto à falha apontada no item "b", constata-se que de fato
houve doação a outro candidato após a data da eleição, ou
seja, em 10.10.2014, no valor de R$ 63.17000, que constitui
vício grave, que contraria o disposto no ad. 30, da Resolução
TSE 23.406/14, e por sua vez, macula as contas. Ademais,
montante irregularmente doado deve ser recolhido como sobra
de campanha à agremiação padidária, nos termos do
ad. 39, da Resolução TSE n° 23.406114.
AgR-Al no 5715-06.2014.6.26.0000/SP

.n

Igualmente configura sobra de campanha a falha descrita no


item "c", cabendo o recolhimento ao partido do valor de
R$ 80000, nos termos do ad. 39, 1, e § 1°, da Resolução
TSE n° 23.406/14, uma vez que o candidato não apresentou
documento hábil para comprovar a situação regular na Receita
Federal da prestadora de serviço Rosilda Alves dos Santos,
cujo CPF encontra-se suspenso na base de dados da Receita
Federal, tampouco declaração do prestador de serviço, com
firma reconhecida, a fim de comprovar a efetiva realização do
serviço.
Além disso, conforme descrito no item ud" o candidato não
declarou na prestação de contas a despesa realizada no valor
de R$ 1.075,00, contrariando o disposto no ad. 40, 1, '9", da
Resolução TSE n° 23.406/14, e evidenciando a ausência de
lançamento nas contas da receita que suportou seu
pagamento, em afronta ao disposto nos arts. 10, 12, 18, 67 e
70 da Resolução TSE n° 23.406/14. E mais, diante da falha
apontada, impõe-se a transferência do valor em questão ao
Tesouro Nacional, como recurso de origem não identificada,
nos termos do art. 29, da Resolução TSE n° 23.406/14.
A realização de serviço/aquisição de produtos não declarados,
implica na omissão de despesa/receita, na ausência de
emissão de recibo eleitoral e na utilização de recursos sem o
trânsito pela conta bancária especifica de campanha,
comprometendo a confiabilidade dos dados registrados na
prestação de contas, ensejando a desaprovação das contas.
[...
De igual modo, a ausência de identificação da origem de
recursos também compromete a efetiva fiscalização das contas
pela Justiça Eleitoral.
[...
No mais, conforme apontado no item "e", foram constatadas
ainda doações estimadas sem a identificação do doador
originário declarado na prestação de contas, que constitui vício
grave, que viola os artigos 19, IV, 20, § 30, 26, § 3°, da
Resolução TSE n° 23.406/14, e compromete a higidez das
contas.
Por fim, oportuno observar que os esclarecimentos e a
documentação apresentada pelo interessado não tiveram o
condão de sanar as irregularidades apontadas no parecer
emitido pelo árgão técnico (itens 3,4,5 e 6) que correspondem
aproximadamente 11,80% do total dos recursos arrecadados
na campanha eleitoral do candidato, motivos pelos quais os
principios da razoabilidade e proporcionalidade não devem ser
anlicadns nn nrÃsente rsisn
Total de receita Valor das Percentual entre
acumulada na irregularidades o total de receita
campanha eleitoral apontadas (itens 3, 4, e as
5 e 6) irregularidades
apontadas
R$ 1.135.194,90 R$ 134.016,21 11,80%

cr

AgR-Al no 571 5-06.2014.6.26.0000/SP 7

Importante destacar que no cômputo do referido percentual


- não está incluída a irregularidade apontada nos item
.- 1 (realização de evento arrecadatório, sem a observância do.
prazo de cinco dias úteis de antecedência para a comunicação
à Justiça Eleitoral omissão de despesas), uma vez que não
pôde ser quantificada.
Assim, constata-se que as referidas irregularidades impedem o
controle das contas pela Justiça Eleitoral, comprometem a
regularidade, a confiabilidade e a transparência das contas
apresentadas. Portanto, de rigor a desaprovação das contas.
(Fls.665-669)
Como se verifica da moldura fática do acórdão regional, a Corte de
origem concluiu que os vícios apontados nas referidas contas -
a) realização de evento arrecadatório, sem a observância do prazo
de cinco dias de antecedência para a comunicação â Justiça
Eleitoral; b) doação a outro candidato após a data da eleição: c) falta
de documentação comprobatória de situação regular na Receita
Federal de prestador de serviço cujo CPF apresenta-se suspenso na
base de dados da Receita Federal; d) realização de despesa não
declarada na prestação de contas; e e) falta de identificação dos
doadores originários de doações estimadas - comprometem a
regularidade, a confiabilidade e a transparência das contas em
questão, impedindo, por conseguinte, o seu efetivo controle pela
Justiça Eleitoral.
Logo, não há como acolher a tese do recorrente de que se trata de
falhas de caráter formal, nos termos dos arts. 30, § 20 e § 20-A, da
Lei n° 9.504/97.
Vê-se, ainda, que o Tribunal a quo deixou de aplicar na espécie o
principio da razoabilidade e da proporcionalidade, pelo fato de que
as referidas irregularidades correspondem a aproximadamente
11,60% do total arrecadado na campanha eleitoral do candidato.
Ademais, assentou que, em virtude da impossibilidade de quantificar
o montante da irregularidade relativa à realização de evento
arrecadatório, tal falha não foi computada no percentual acima
mencionado. -
O recorrente, por sua vez, alega que as mencionadas irregularidades
representam 2,3% do valor total da sua prestação de contas,
tratando-se, portanto, de valor irrisório. Desse modo, defende a
aplicação do princípio da insignificância ao caso, a fim de que suas
contas sejam aprovadas, ainda que com ressalvas.
Ocorre que a análise de tal pretensão recursal exigiria o revolvimento
do acervo fático-probatório dos autos, o que é inadmissível nesta
instância especial (Súmulas n°5 2791STF1 e 7ISTJ2 ), mormente pelo
fato de existir falha que não pôde ser quantificada pelo Regional.
(FIs. 796-800)

1
Súmula n° 27915TF: Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário.
r
2
Súmula n° 715T.1: A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial.

AgR-Al no 5715-06.2014.6.26.0000/SP 1;]

O agravante alega que, no julgamento dos aclaratários, o


Regional reconheceu que as irregularidades representam apenas 2,3% do total
arrecadado na campanha, o que atrairia a incidência do princípio da
- insignificância ao caso por se tratar de valor ínfimo.

A esse respeito, colho o seguinte trecho do acórdão alusivo


aos embargos de declaração, in veitis:

No caso, as contas do ora embargante foram desaprovadas em


razão de 6 (seis) irregularidades, quais sejam: 1) Omissão de
doações na segunda prestação de contas parcial. Irregularidade
meramente formal que não compromete a regularidade das contas.
Precedentes: TRE/SP; 2) Realização de evento arrecadatório, sem
observar o prazo de cinco dias úteis de antecedência para a
comunicação à Justiça Eleitoral; 3) Doação a outro candidato após a
data da eleição; 4) Falta de documentação comprobatória da
situação regular na Receita Federal de prestador de serviço cujo
CPF apresenta-se suspenso na base de dados da Receita Federal;
Realização de despesa não declarada na prestação de contas; e
Ausência de identificação dos doadores originários de doações
estimadas.
A documentação apresentada pelo embargante sana a irregularidade
do item 3, referente a realização de doação a outro candidato após a
data da eleição, bem como sana parcialmente a irregularidade do
item 6, tendo em vista que alguns doadores originários declarados
na prestação de contas foram identificados. No entanto, persistem
as demais irregularidades, o que enseja a manutenção da
desaprovação das contas.
Oportuno observar que a regularização das referidas falhas não
enseja a aplicação dos princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade, tendo em vista o percentual das irregularidades
remanescentes em relação ao total de receitas arrecadadas na
campanha eleitoral do candidato (aproximadamente 2,3%).

Total de receita Valor total da Percentual entre o


acumulada na irregularidade apontada total de receita e a
campanha eleitoral (itens 4, 5 e 6) irregularidade
apontada
R$ 1.135.194,90 R$ 26.122,13 2,3%

Diante do exposto, acolho em parte os presentes embargos de


declaração, com efeito infringente, para tão somente alterar a
importância a ser recolhida à Direção Estadual do Partido
Político, qual seja, R$ 800,00 (oitocentos reais), referente às
sobras de campanhas apontadas, nos termos do ad. 39, 1 e
§ 1°, da Resolução TSE n. 23.406/14, mantendo-se a desaprovação
das contas de GERALDO LEITE DA CRUZ, referente às eleições de
2014, bem como o recolhimento de R$ 1.075,00 ao Tesouro


AgR-Al no 5715-06.2014.6.26.0000/SP

Nacional, referentes aos recursos de origem não identificada, nos


termos do ad. 29, da referida Resolução. (FIs. 718-719, grifei)

Como se vê, embora o Tribunal a quo tenha acolhido, em


parte, os mencionados aclaratórios, com efeitos infringentes, o fez tão somente
para sanar a irregularidade do item 3 - realização de doação a outro candidato
após a data da eleição - e sanar, parcialmente, a irregularidade do item
6, "tendo em vista que alguns doadores originários declarados na prestação de
contas foram identificados" ( fI. 719), mantendo, contudo, a desaprovação das
contas, em virtude da subsistência das demais irregularidades.

No ponto, cumpre ressaltar que o Regional desaprovou as


contas do agravante, porquanto considerou que as irregularidades são de
natureza grave, que "impedem o controle das contas pela Justiça Eleitoral", e
"comprometem a regularidade, a con fiabilidade e a transparência das contas
apresentadas" ( fI. 669), motivo pelo qual concluiu pela não aplicação dos
princípios da proporcionalidade e da razoabilidade à espécie.

Com efeito, a jurisprudência deste Tribunal fixou-se no sentido


de não se aplicarem os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade,
quando detectadas falhas graves que comprometam a higidez das contas,
mesmo que tais irregularidades representem valor insignificante em relação ao
total arrecadado na campanha. Confira-se:

ELEIÇÕES 2012. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE


INSTRUMENTO. PRESTAÇÃO DE CONTAS DE PARTIDO
POLÍTICO. DESAPROVAÇÃO. FALHAS QUE COMPROMETEM A
REGULARIDADE DAS CONTAS. AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO
NOS RECIBOS ELEITORAIS. DEFICIÊNCIA DA
FUNDAMENTAÇÃO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N° 284 DO STF.
DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. NÃO DEMONSTRAÇÃO.
REVOLVIMENTO DO ARCABOUÇO FÁTICO-PROBATÓRIO.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULAS N° 279 DO STF E N° 7 DO STJ.
INAPLICABILIDADE DOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE
E DA RAZOABILIDADE. DECISÃO MANTIDA. DESPROVIMENTO.
1. Os postulados da proporcionalidade e da razoabilidade, nos
casos de exame de prestação de contas, são aplicáveis
restritivamente, condicionados à presença dos seguintes
requisitos: (i) falhas que não comprometam a lisura do balanço
contábil; (ii) irrelevância do percentual dos valores envolvidos
em relação ao total arrecadado; e (iii) ausência de comprovada
má-fé do prestador de contas.

AgR-Al no 5715-06.2014.6.26.0000/SP 10

[.1
(AgR-Al no 712-26, Rei. Mm. Luiz Fux, DJe de 291612015, grifei)

PRESTAÇÃO DE CONTAS. SUPOSTA AFRONTA AOS ARTS. 50,


INCISO LV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E 37, PARÁGRAFO
ÚNICO, DA RESOLUÇÃO N° 22.715/2008. MATÉRIAS NÃO
ENFRENTADAS PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 211 DO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. PRINCÍPIOS DA
RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE. INAPLICÁVEIS
ANTE A GRAVIDADE DAS IRREGULARIDADES APONTADAS,
QUE COMPROMETEM A LISURA DAS CONTAS DE CAMPANHA.
DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. NÃO DEMONSTRADO. MERA
TRANSCRIÇÃO DE EMENTAS. IMPOSSIBILIDADE DE
APRECIAÇÃO DA DIVERGÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO.

3. Não se aplicam os princípios constitucionais da razoabilidade


e da proporcionalidade à espécie, porquanto as irregularidades
apontadas - ausência de trânsito, pela conta bancária de
campanha, dos valores referentes ao pagamento do contrato com o
jornal Diário de Franca e, especialmente, arrecadação de recursos
antes da emissão de recibos eleitorais - são graves e
comprometem a higidez das contas, ensejando-lhes a
desaprovação.
[...
S. Agravo regimental desprovido.
(AgR-Al n° 25727654/SP, Rei. Min. Laurita Hilário Vaz, DJe
de 20.11.2013, grifei)

Assim, não obstante alegar o agravante que as irregularidades


representam somente 2,3% do total por ele arrecadado na campanha, o
Tribunal assentou que as falhas apontadas seriam graves e, por conseguinte,
hábeis a macular a higidez das contas.

Ademais, consoante restou assentado na decisão agravada, o


Tribunal a quo, em sua decisão, consignoii que, diante da impossibilidade de
quantificar o montante da irregularidade relativa á realização de evento
arrecadatório - item 2 -, tal falha não foi computada no percentual total das
irregularidades apontadas (ti. 669).

Logo, o fato de não ser possível quantificar o montante da


irregularidade supracitada, como afirmou o Regional, impede, também, a
aplicação do princípio da insignificância, uma vez que não há como averiguar

AgR-Al no 5715-06.2014.6.26.0000/SP 11

se o percentual dessa irregularidade, em relação ao total de recursos


arrecadados na campanha eleitoral do agravante, seria, ou não, de pouca
monta.

Nesse sentido, cito o seguinte precedente:

ELEIÇÕES 2012. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL.


PRESTAÇÃO DE CONTAS DE CAMPANHA. PREFEITO. OMISSÃO
DE RECEITA/DESPESA. DESAPROVAÇÃO. PRINCÍPIOS DA
PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE. AUSÊNCIA DE
ELEMENTOS NO ACÓRDÃO. INVIABILIDADE. NÃO
PROVIMENTO.
Com base na compreensão da reserva legal proporcional, nem
toda irregularidade identificada no âmbito do processo de prestação
de contas autoriza a automática desaprovação de contas de
candidato ou de partido político, competindo à Justiça Eleitoral
verificar se a irregularidade foi capaz de inviabilizar a fiscalização das
contas.
Não se aplicam ao caso os princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade, pois o Tribunal Regional Eleitoral, analisando o
conjunto probatório dos autos, concluiu que a irregularidade maculou
as contas a ensejar-Ihesa desaprovação.
A jurisprudência do TSE é firme em que a omissão de
receitas/despesas é irregularidade que compromete a confiabilidade
das contas.
É inviável a aplicação do princípio da insignificância, pois, em
se tratando de receitaldespesa omitida, inexiste parâmetro
quanto ao valor relativo aos serviços prestados e não
declarados. Assim, não há como avaliar se se trata, ou não, de
quantia com pouca representatividade diante do contexto total
das contas.
Agravo regimental desprovido.
(AgR-REspe n° 336771AL, ReI. Min. Gilmar Ferreira Mendes,
DJe de 8.4.2015)

Desse modo, resta induvidoso que não há falar na aplicação


do princípio da insignificância à hipótese dos autos, tampouco na violação ao
art. 30, § 20 e 20-A, da Lei n° 9.504/97, com vistas a aprovar tais contas com
ressalvas.

Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.

É como voto.
AgR-Al no 5715-06.2014.6.26.0000/SP 12

EXTRATO DA ATA

AgR-Al no 5715-06.2014.6.26.0000/SP. Relatora: Ministra


Luciana Lóssio. Agravante: Geraldo Leite da Cruz (Advogados: Paula Silva
Monteiro e outros).

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, negou provimento ao


agravo regimental, nos termos do voto da relatora.

Presidência do Ministro Dias Toifoli. Presentes as Ministras


Rosa Weber, Maria Thereza de Assis Moura e Luciana Lóssio, os
Ministros Luiz Fux, Herman Benjamin e Henrique Neves da Silva, e o
Vice-Procurador-Geral Eleitoral em exercício, Francisco Xavier.

SESSÃO DE 15.3.2016.

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