Você está na página 1de 19

Mário José Nhatsoho

O Papel dos Pais e Encarregados de Educação na Gestão Participativa da Escola:


Caso da Escola Primária do 1º e 2º de Massalane (2022-2023)

Licenciatura em Ensino Básico

Universidade Save

Maxixe

2023
Mário José Nhatsoho

O Papel dos Pais e Encarregados de Educação na Gestão Participativa da Escola:


Caso da Escola Primária do 1º e 2º de Massalane (2022-2023)

Projecto de Pesquisa a ser


apresentado no Departamento de
Ciências de Educação e Psicologia
como elemento de avaliação.

Docente: PhD. Grgório Vilanculos

Universidade Save

Maxixe

2023
Índice
Capítulo I...............................................................................................................................................3

1. Introdução..........................................................................................................................................3

1.1. Objectivos.......................................................................................................................................3

1.1.1. Objectivo Geral............................................................................................................................3

1.1.2. Objectivos Específicos.................................................................................................................3

Capítulo II..............................................................................................................................................6

2.1. Revisão da literatura........................................................................................................................6

2.1.1. Escola.....................................................................................................................................6

2.1.2. Gestão Escolar..............................................................................................................................6

2.1.3. Conselho da Escola......................................................................................................................7

2.1.4. Modalidades de Participação dos encarregados de educação......................................................8

2.1.5. Articulação Entre a Direcção e os Pais e/Encarregados de Educação...........................................9

2.1.6. A Participação dos Pais e/Encarregados de Educação no Conselho da Escola............................10

2.1.7. Responsabilidades do Funcionamento do Conselho de Escola.............................................11

2.1.8. Capacitação do Pais e/Encarregados de Educação na Melhoria de gestão Democrática.......12

Capítulo III...........................................................................................................................................16

5. Conclusão.........................................................................................................................................16

6. Referências Bibliográficas................................................................................................................17
3

Capítulo I
1. Introdução
Na estrutura legislativa sobre a Educação em Moçambique, o Diploma Ministerial nº 54/2003
de 28 de Maio, regulamenta as estratégias de gestão democrática da escola e impulsiona “a
gestão participativa e transparente” dos Pais e Encarregados de Educação para a melhoria da
qualidade do ensino e a busca de soluções para os problemas que afectam a escola.
O papel dos Pais e/Encarregados de Educação é visto como uma forma de partilha de poder e
de autoridade, no seio da organização escolar e como pressão para influenciar as decisões para
um funcionamento transparente da gestão escolar.
Ainda nesta linha de análise do papel dos Pais e Encarregados de Educação na gestão escolar,
REGEB (2003), postula que a democratização da escola e da respectiva gestão, tem-se
concentrado em três vectores, nomeadamente:
(i) a participação da comunidade escolar na selecção do gestor escolar;
(ii) (ii) a criação do Conselho de Escola;
(iii) (iii) a atribuição de recursos financeiros às escolas.

O presente trabalho de pesquisa aborda o Papel dos Pais e Encarregados de Educação na


Gestão Escolar, tomando como base a sua proactividade no acompanhamento e resolução dos
problemas da escola.
Estruturalmente, a presente monografia divide-se em quatro capítulos: o capítulo I
compreende apela introdução que apresenta os pressupostos teóricos e metodológicos da
pesquisa referentes a problema da pesquisa, objectivos, hipóteses, justificativa e a
metodologia; (ii) o capítulo II da fundamentação teórica que apresenta os estudos realizados
no campo da participação dos pais e encarregados de educação na gestão da escola; e o
capítulo III que contempla a conclusão e bibliografia.
1.1. Objectivos
1.1.1. Objectivo Geral
 Desenvolver uma análise crítico - avaliativa do papel dos pais e/encarregados de
educação na gestão participativa da escola da EP1/2 de Massalane.
1.1.2. Objectivos Específicos
 Identificar os procedimentos de participação dos pais e encarregados de educação na
resolução dos processos da escola;
4

 Monitorar o impacto das acções da participação dos pais e/encarregados de educação


na melhoria da gestão escolar da EP1/2 de Massalane;
 Propor medidas de envolvimento dos pais e encarregados de educação para a gestão
participativa e transparente da escola.
1.3. Justificativa
A escolha deste tema surge pela constatação da fraca participação dos pais e/encarregados de
educação na gestão da escola durante o percurso profissional da pesquisadora naquela
instituição de ensino, aliada à insatisfação da comunidade em geral, de acordo com os estudos
do MINED (2003) e de Januário (2009) sobre os elevados níveis de desperdício escolar no
ensino básico, devido à baixa qualidade da demonstração de capacidade e competências de
aprendizagem plasmadas e definidas no plano curricular do ensino básico.
Nesta pesquisa, move-nos o interesse de compreender o papel dos pais e encarregados de
educação na gestão dos problemas de ensino-aprendizagem e da administração escolar, para
satisfazer os interesses da aprendizagem dos alunos para o seu enquadramento na sociedade
contemporânea.
Esta pesquisa constitui um contributo para a caracterização do papel multidimensional dos
pais e/encarregados da educação na gestão da dinâmica do processo educativo, promovendo a
sua participação activa na busca de solução para a melhoria do processo de ensino-
aprendizagem.
Ainda nesta linha, esta pesquisa desperta os pais e/encarregados de educação para o
envolvimento activo na gestão da vida interna da instituição escolar, promovendo, deste
modo, uma interligação de esforço entre a escola e a comunidade na resolução dos problemas
da escola.

Esta pesquisa é relevante porque articula os diferentes aspectos da vida escolar através da
participação dos pais e/encarregados de educação e, portanto, esta pesquisa pode:
(i) Servir de referência para outros trabalhos de investigação na área da gestão
participativa da escola;
(ii) Dar ao MINEDH subsídios para o fortalecimento da relação pais e/encarregados
de educação na gestão da escola;
(iii) Revelar as dificuldades e limitações dos pais e/encarregados de educação para a
sua actuação activa na resolução dos problemas da escola.
5

1.4. Problematização
Durante muitos anos, a responsabilidade da educação não era partilhada entre a família e a
escola, sendo que cada parte assumia, unilateralmente, o seu papel, num total alheamento uma
da outra e raramente, encontravam-se para o debate aceso sobre o funcionamento da escola e
sobre a gestão da aprendizagem dos alunos.
A escola, por sua vez, limitava-se a transmitir conhecimentos, a informar a família sobre os
resultados obtidos e sobre o comportamento dos alunos. Lentamente, esta situação tem vindo
a modificar-se e assiste-se a uma maior aproximação entre família e escola, apesar de muito
longe do nível desejado, uma vez que ainda hoje se culpabilizam mutuamente pela fraca
participação da família na vida da escola.
Na perspectiva de (Martins, 2007, p.23), na análise da relação família – escola nota-se “uma
crescente insatisfação dos pais e/ou encarregados de educação na melhoria da qualidade de
ensino que constitui um tema, meramente, polémico e controverso no campo de educação em
Moçambique”.

Martins (op.cit) aprofunda esta discussão da relação família – escola, explicando que
inquietação dos pais e encarregados de educação tem que ver com uma elevada taxa de
insucesso na aprendizagem dos alunos que se revela pela crescente incapacidade na
demonstração das habilidades básicas adquiridas durante a aprendizagem, os pais e
encarregados, sempre atribuíram a culpa à escola e ao conselho da escola pela falta de
pesquisa negociada das diversas visões da comunidade.
No teor da insatisfação dos pais e/encarregados de educação, o MINED (2003), reforçou os
mecanismos democráticos de participação dos pais e/encarregados de educação na gestão da
escola.
1.5. Hipóteses
Provavelmente, os Pais e/Encarregados de Educação participam na gestão democrática através
da criação da associação dos pais, dos conselhos de turma e do conselho de escola para a
gestão dos problemas de aprendizagem e da administração da escola;
Presume-se que os Pais e/Encarregados da Educação participam da gestão democrática pelo
acompanhamento da aprendizagem dos seus educandos.
6

Capítulo II
2.1. Revisão da literatura
2.1.1. Escola
Para Libânio (1986, cit. por Ferreira & Aguiar 2004, p.132), “escola é uma instituição
orientada para a preparação do aluno para o mundo adulto e suas contradições, fornecendo-lhe
instrumentos por meio da aquisição de conteúdos e da socialização, para uma participação
organizada e activa na democratização da sociedade”
Num outro posicionamento, Gramsci (2000 cit. por Rumble 2003, p.65) “a escola é um
instrumento utilizado para formar intelectuais de diversos níveis (…) todas as pessoas que
exercem funções de organização em diferentes frentes, nomeadamente: na produção, na
cultura ou na administração pública”.
Nesse sentido, conciliando as duas posições, a escola, enquanto instituição detentora do saber,
precisa de compreender sua importância de formação dos cidadãos, que exerce na sociedade e
deve contribuir positivamente para que esse saber seja trabalhado de forma democrática, isto
é, a escola deve introduzir, no futuro gestor da escola, o espírito democrático.
2.1.2. Gestão Escolar
Na perspectiva de Rumble (2003, p.12), “a gestão escolar é o processo que deve permitir o
desenvolvimento de actividades com eficiência e eficácia, a tomada de decisões com respeito
às acções que se fizerem necessárias, a escolha e verificação da melhor forma de executá-las”.
Segundo Libânio (2008, p.35), “as concepções da organização e de gestão escolar podem
assumir diferentes formas em função da orientação que se tenha das finalidades sociais e
políticas da educação em relação à formação dos alunos. E nesse contexto destaca duas
concepções: a técnico-científica e a sociocrática”.
Na mesma direcção Gadotti et al. (2000, cit. por Oliveira 2000, p.34), afirma que “a gestão
escolar democrática como processo que rege o funcionamento da escola deve compreender a
tomada de decisões conjuntas, baseadas nos direitos e deveres de todos os envolvidos na
escola”.

Nesta perspectiva de organização e gestão escolar, os diferentes segmentos da comunidade


escolar, nomeadamente: directores, professores, pais, alunos, etc., são considerados sujeitos
activos do processo, de forma que sua participação no processo deve acontecer de forma clara
e com responsabilidade. Portanto, os mesmos autores enfatizam a participação e autonomia
como dois processos básicos da gestão democrática.
7

Assim, na perspectiva dos autores, os diferentes segmentos da comunidade escolar devem


possuir conhecimento e clareza do sentido do termo, da responsabilidade que o mesmo
encerra e das formas possíveis de participação no interior de uma gestão democrática para
que, assim, eles possam vivenciar o processo. Em relação a autonomia da escola e do
processo de gestão, a literatura é quase unânime ao afirmar que ela é sempre relativa pois está
condicionada pelos regulamentos dos Conselhos de Escola existentes.
Portanto, pode-se afirmar que o conceito de gestão está associado ao fortalecimento da
democratização do processo pedagógico, à participação responsável de todos os intervenientes
nas decisões e na sua implementação.
2.1.3. Conselho da Escola
Na óptica de Paro (2001 cit. por Drabach 2010, p.92), “é um órgão consultivo e deliberativo
que deve tratar de problemas financeiros, administrativos e pedagógicos da escola,
contribuindo com propostas e planos de desenvolvimento da escola com vista a uma educação
de qualidade”.
Na opinião do autor, a eleição democrática dos corpos directivos da escola é um pressuposto
rumo à uma escola de boa qualidade, pois garante a participação activa de representantes da
comunidade no processo educativo através do Conselho de Escola.
Oliveira (2000) concorda que o conselho de escola tem as seguintes atribuições: (i) o poder e
a tomada de decisões compartilhadas por alguns ou por todos os membros da organização; (ii)
existe um conjunto de valores e de objectivos comuns que são compartilhados por todos os
integrantes; (iii) todos os membros da organização têm uma representação formal nos órgãos
de decisão; e (iv) a organização deve determinar políticas e tomar decisões através de
processos de discussão guiados pelo consenso.
Nessa lógica, afirma Pereira (2011), o Conselho de Escola passaria a ser um fórum pertinente
para discussões e deliberações, onde pais e alunos, educadores e funcionários participariam no
processo de tomada de decisões relacionadas à construção da autonomia, a elaboração e
execução da política da sua escola.
Por isso, a implementação da gestão democrática na escola, pode constituir uma ocasião de
encontro entre Estado, famílias, alunos e profissionais da educação para definir o que se quer
e o como fazer educação para a cidadania. Contudo, para o autor, ainda é notória a ausência
de participação da comunidade escolar nas decisões de carácter administrativo-pedagógicas,
restringindo-se ao atendimento de eventuais convocatórias para solucionar problemas
individuais de alunos, ou problemas financeiros da escola.
8

2.1.4. Modalidades de Participação dos encarregados de educação


A participação é, como afirma Francisco (2010, p.34), “um processo social de exercício
democrático que existe ao nível das comunidades e, apesar dos vários dirigentes das nossas
instituições escolares criarem barreiras ao exercício da plena actividade dos membros da
comunidade escolar, (…)”.
Por sua vez, Lima (2008), no contexto da participação democrática, distingue (i) a
participação consagrada (ii) da participação instituída. A participação formal ou decretada
constitui aquela que é instituída e regulamentada formalmente através de documentos legais e
formais como as leis e decretos-leis produzidos fora da organização e que permitem aos
professores, pais, alunos intervir na gestão e organização da escola.
Nestes termos, pela legislação sobre a participação na escola, atribui-se competências e
tarefas aos encarregados de educação para envolverem-se na busca de soluções
administrativas e pedagógicas que concorrem para a melhoria da qualidade de ensino. E
concordando com esta posição do teorizador, é importante sublinhar que a legislação sobre a
participação dos encarregados deve, para o efeito, ser acessível e divulgada para o domínio de
todos os encarregados e os restantes membros da comunidade escolar, como uma estratégia
para fiscalizar as actividades e o alcance dos objectivos planificados.
Quanto à segunda forma de participação dos pais e encarregados de educação na gestão
escolar a é produzida por actores verificando-se uma transição do plano das orientações
externas (formal) para os planos das orientações internas. Nesta participação, os
procedimentos são de níveis menores de estruturação e de formalização e incorpora as regras
informais e até consensos entre a escola e a comunidade.
Na participação consagrada, existe uma abrangência de todos os membros da comunidade na
busca incessante dos esforços que contribuem para o fortalecimento da capacidade de resposta
da escola, em termos de infraestruturas escolares, recursos financeiros e o acompanhamento
da qualidade de ensino que se oferece aos alunos.
Neste âmbito, os membros da comunidade são sensibilizados em reuniões sistemáticas, a
participarem dos desafios e dos problemas que a escola enfrenta, sem contudo, recair sobre
estes, obrigações legais formalmente estabelecidas. Os membros da comunidade envolvem-se
na construção de salas, casas de professores, vedações da escola entre outros aspectos
importantes, bem como a comparticipação financeira para o pagamento de guarda e outras
despesas internas.
9

E para o sucesso desta participação, a escola como órgão que gere a relação entre a escola e a
comunidade deve pautar por critérios claros no envolvimento dos membros. Segundo Lima
(2008) existem quatro critérios a observar, nomeadamente: (i) a democraticidade pela
participação directa e indirecta no processo de decisão; (ii) regulamentação, que é a base da
legitimação e reivindicação da intervenção dos actores e pode ser pela participação formal,
não-formal e informal; (iii) envolvimento pela participação activa e passiva; (iv) orientação
pela participação convergente divergente com os objectivos formalmente definidos.

2.1.5. Articulação Entre a Direcção e os Pais e/Encarregados de Educação


O relacionamento entre os encarregados e a direcção da escola deve ser descrito a partir da
modalidade do funcionamento, da especificidade da organização e do desempenho das tarefas
para o alcance dos objectivos.
De acordo com Costa (2009), as perspectivas teóricas que orientam as formas de
relacionamento entre a escola e o conselho de escola são: (i) A perspectiva da burocracia que
sublinha a organização formal, a racionalidade técnica, o cumprimento das normas escritas, a
rapidez nas decisões, a uniformidade e a padronização.
Esta perspectiva coloca a organização escolar como uma estrutura técnica que apresenta
hierarquias do desempenho de funções em que o conselho de pais é uma parte integrante que
permite o debate técnico dos procedimentos administrativos e dos processos pedagógicos da
escola. (ii) A perspectiva política que considera a escola como uma micro sociedade,
composta por uma pluralidade e heterogeneidade de indivíduos e de grupos que dispõem de
objectivos próprios, poderes e influências diversas e posicionamentos hierárquicos
diferenciados e que, por isso, as decisões escolares desenrolam-se e obtêm-se, basicamente, a
partir de processos de negociação.
Neste sentido, os encarregados de educação inserem-se na comunidade escolar como uma
sub-estrutura que garante a subsistência normal da micro sociedade escolar, garantindo a
criação de recursos financeiros e materiais que suportam o funcionamento da escola, bem
como a boa gestão das infraestruturas e dos fundos alocados às escolas. (iii) a perspectiva da
escola como anarquia realça a menor clareza de objectivos e intenções, a fluidez da
participação, a tomada de decisões aparentemente ilógica e estruturas fragmentadas e
debilmente articuladas.
Neste âmbito, existe uma desarticulação do funcionamento normal entre a direcção da escola
e os encarregados de educação, facto que compromete o alcance dos objectivos traçados. (iv)
a perspectiva da escola como hipocrisia (Brunsson, 2006) realça a inconsistência, a
10

descoordenação e a incoerência entre o discurso, a decisão e a acção resultantes da


necessidade de, por um lado, acolher positivamente as exigências contextuais, conformando-
se aparentemente com elas, e, por outro, manterem procedimentos por vezes desalinhados da
mensagem que é difundida.
Sendo a escola uma organização complexa, a compreensão crítica da participação na gestão
da escola beneficia com o recurso a diversos modelos teóricos de análise das organizações em
que o processo de escolha dos encarregados de educação pode ser associado à distinção
estabelecida por Machado (1982, p.121-122), no que se refere à participação dentro das
organizações, quando diz que ela envolve os conceitos, contíguos mas opostos, de “ser parte”
e “participante”. Enquanto parte, o actor afirma a sua autonomia pessoal contra outros
particulares, mas, enquanto participante, “ele representa e afirma o interesse de um grupo” e
“aparece como portador de uma função no todo colectivo.
O processo de constituição da relação encarregados de educação com a escola com base na
representação aproxima-se de uma democracia elitista (Estanque, 2006) baseada na
representatividade do poder onde os eleitores através do voto escolhem os seus
representantes, isto é, as elites que irão exercer o poder ou, no caso do conselho de escola,
vão, pelo menos, estar mais próximos das estruturas de poder formal. (Estanque 2006, p.87)
afirma que a “democracia elitista assenta em dois princípios: por um lado, pretendeu retirar o
papel da mobilização das massas e a acção colectiva na construção democrática; e, por outro
lado, pretendeu sobrevalorizar os mecanismos de representação numa espécie de solução
elitista para a democracia moderna”.

2.1.6. A Participação dos Pais e/Encarregados de Educação no Conselho da Escola


O Conselho de Escola, sendo um órgão máximo da escola, o Ministério da Educação atribui
ao Director da Escola a responsabilidade da criação de condições para a sua constituição e
funcionamento.
Nesse contexto, o Diploma Ministerial nº 46/2008 estabelece que a criação ou revitalização
do Conselho de Escola deve ocorrer até 30 dias após o início do ano lectivo e a duração do
mandato dos membros foi fixado em dois anos consecutivos, renovável uma vez.
Segundo o artigo 8 do Diploma Ministerial acima referido, o Conselho de Escola juntamente
com a direcção da escola e colectivo da direcção constituem órgãos executivos da escola. No
entanto, o primeiro é o órgão máximo da escola” com funções de: (i) ajustar as directrizes e
metas estabelecidas, a nível central e local, à realidade da escola; e (ii) garantir a gestão
democrática, solidária e co-responsável.
11

Nos termos do mesmo Diploma, o Conselho de Escola é constituído por vários membros da
comunidade escolar, nomeadamente: (i) Director da Escola, (ii) representantes dos
professores, (iii) representantes do pessoal administrativo; (iv) representantes dos
pais/encarregados de educação; (v) representantes da comunidade e representantes dos alunos.
A composição do Conselho de Escola diferencia-se conforme o tipo de escola, a qual é
definido de acordo com o número de alunos matriculados na escola. Assim, o nº 2 do artigo
10 do Diploma Ministerial nº 46/2008 estabelece que, para escolas com mais de 1500 alunos,
o Conselho de Escola deve ser constituído por 19 membros, de 500 até 1500 alunos por 16 e
até 500 alunos por 13 membros.
Contudo, o mesmo diploma abre espaço para o Conselho de Escola funcionar abaixo do nº
estipulado, desde que seja respeitada a proporcionalidade dos membros, que devem ser eleitos
por voto secreto. Dos membros do Conselho de Escola, o director e o representante dos
alunos não podem ser eleitos presidente do conselho de escola.

2.1.7. Responsabilidades do Funcionamento do Conselho de Escola


O Conselho de Escola é órgão máximo e é constituído por pessoas de diferentes segmentos,
nomeadamente: director da escola, representantes dos professores, alunos, pais e comunidade
local. Segundo MEC (2005), a participação dos diferentes segmentos no Conselho de Escola
prende-se com a necessidade de assegurar: (i) uma boa gestão escolar; (ii) um bom
aproveitamento escolar; (iii) um bom desempenho dos professores e (iv) uma gestão
transparente dos recursos.
Portanto, a gestão transparente supõe a existência de um ambiente de abertura democrática
principalmente, por parte do director da escola, que é também membro do Conselho de
Escola.
De acordo com MEC (2005, p.91), o Conselho de Escola deve estruturar-se por um mínimo
de quatro comissões, nomeadamente: “comissão de HIV/SIDA, saneamento e saúde escolar;
comissão de finanças, construção e produção escolar; comissão de género, alunos órfãos e
vulneráveis e comissão de cultura e desporto escolar”. Essas comissões ocupam-se da análise
e acompanhamento do decurso das actividades específicas que lhes são atribuídas, mobilizar
recursos para apoiar o desenvolvimento da escola na sua área específica e prestar informações
regulares ao Conselho de Escola sobre os avanços e aspectos a melhorar na sua área
específica.
Os membros do conselho de escola, segundo (MEC, 2005), no seu exercício, guiam-se pelos
princípios universais, nomeadamente: (i) Respeito pela constituição; (ii) Promoção dos
12

direitos da criança e da cidadania; (iii) Promoção do acesso universal a um ensino básico


relevante e de qualidade; (iv) Promoção da Educação da rapariga; e (v) Gestão participativa e
transparente.

O conselho de escola, na sua condição de órgão máximo, reúne-se pelo menos três vezes por
ano para entre vários assuntos: aprovar o plano estratégico da escola e garantir a sua
implementação; aprovar o plano anual da escola e garantir a sua implementação; aprovar o
regulamento interno da escola e garantir a sua aplicação; pronunciar-se sobre a proposta do
orçamento da escola; aprovar e garantir a execução de projectos de atendimento
psicopedagógico e material aos alunos, quando seja iniciativa da escola; elaborar e garantir a
execução de programas especiais visando a integração da Família-escola-comunidade;
pronunciar-se sobre o aproveitamento pedagógico da escola.

2.1.8. Capacitação do Pais e/Encarregados de Educação na Melhoria de gestão


Democrática

Segundo (Medeiros e Oliveira, 2008, p.16), “um Conselho de encarregados de educação que
tenha em seu quadro profissionais e representantes da comunidade sem preparação, do ponto
de vista teórico não possui conhecimentos, incluindo também pedagógicos para discutir seus
problemas e encaminhar soluções para suas dificuldades”.

Conforme o autor, a falta de preparação por parte dos pais e encarregados de educação,
reflecte-se na qualidade das actividades desenvolvidas com destaque para os assuntos que são
discutidos durante as reuniões que normalmente são de carácter geral, por exemplo, aspectos
físicos da escola.
Neste sentido, os reais problemas da escola como a baixa qualidade do ensino, a deficiência
na avaliação, a baixa qualificação de professores, a falta de envolvimento da comunidade etc.,
nunca são discutidos.

Neste debate, Gohn, (2001, p.76), observa que “a inoperância dos Conselhos de encarregados
de educação, no geral e daqueles que são criados por directrizes governamentais, em
particular, dá-se devido à falta de tradição participativa da sociedade civil, em canais de
gestão pública; a curta trajectória dos conselhos (…)”.
13

Desse modo, pode considerar-se que as limitações dos encarregados de educação podem ser
fruto da fraca preparação dos seus membros, o que mostra o longo caminho que ainda há por
percorrer no sentido de incitar os cidadãos ao exercício da cidadania na sua forma plena.
Assim, a questão da capacitação dos encarregados de educação pode ser vista como crucial na
medida em que vai permitir qualificá-los, por exemplo na elaboração dos planos de
actividades, na monitoria e avaliação dos mesmos.
De realçar que a capacitação, por si, poderá não mudar a actuação dos encarregados de
educação, se os seus membros não tiverem acesso as informações inerentes ao seu
funcionamento, pois experiências existentes mostram que os representantes mais preparados e
informados desempenham melhor o seu papel na escola.

Na capacitação dos encarregados de educação deve tomar-se em consideração as suas


competências que segundo Ciseki (1998 cit. pr Luce e Medeiros 2008, p.36) podem ser
deliberativas, consultivas e fiscalizadoras. A capacitação deve abranger dentre vários aspectos
os seguintes: (i) o significado e papel do Conselho de Escola; (ii) o papel de membro do
Conselho de Escola e o significado da representação; (iii) a legislação educacional básica; (iv)
o sistema de ensino, seus princípios e normas; e (v) o significado da participação.
Portanto, a ideia de implantação da parceria entre encarregados e a escola está ligada a dois
princípios: (i) a participação da sociedade na definição dos destinos da escola, justamente para
fazer face a reivindicação dos movimentos sociais pelo ensino de qualidade em particular e
reforma da escola em geral e (ii) como estratégia de governo dentro das políticas da
democracia participativa.

3. Metodologia
3.1. Tipo de pesquisa

Para a realização desta pesquisa, realizou-se uma pesquisa qualitativa que postula que uma
investigação educacional deve pautar pela sistematização, rigor científico e adequação ao
objecto de estudo.
Na perspectiva deste estudo, procurou-se investigar as acções, as estratégias e os mecanismos
de participação dos pais e/encarregados de educação na gestão participativa da escola, no caso
da Escola 24 de Julho para a melhoria da qualidade institucional e da aprendizagem.
14

No percurso deste estudo, faz-se uma análise reflexiva de uma realidade concreta gestão da
escola: a articulação entre os pais e/encarregados de educação e a escola para a troca de
experiências na busca de soluções dos problemas que a escola enfrenta.
3.2. Método de Abordagem
No contexto desta pesquisa, empregou-se método de abordagem indutiva ou estudo de caso
único que se centra numa única unidade dentro do espaço e variáveis controláveis. Neste
contexto, faz-se uma análise aprofundada e contextualizada da gestão democrática
participativa da Escola Primária do 1º e 2º grau de Massalane, para evidenciar as diversas
situações das fragilidades dos pais e/encarregados de educação e da direcção da escola na
abertura do espaço para o debate conjunto dos problemas da escola.
Esta pesquisa aglutina as percepções dos professores, encarregados de educação e a direcção
da escola para a construção das conclusões gerais sobre o papel dos pais/encarregados de
educação na gestão democrática da escola.
3.3. Técnicas e instrumentos de recolha de dados
Para o presente trabalho aplicou-se a técnica de observação indirecta auxiliada por
questionários dirigidos aos pais e/encarregados de educação, professores e à direcção da
escola. Faz parte, das técnicas a análise documental (os documentos legislativos sobre a
participação dos pais na gestão democrática da escola).
3.3.1. Instrumentos de recolha de dados
3.3.1.1. Questionários
Nesta pesquisa, os dados foram recolhidos na seguinte ordem: (i) a administração do
questionário; (ii) Pesquisa documental. Antes de administração dos questionários, o
pesquisador apresentou-se à direcção da escola e aos outros informantes integrantes da
pesquisa. Os mesmos informantes visados receberam uma explicação sobre os objectivos, as
etapas de recolha de dados e a finalidade dos resultados pretendidos.
Na base disso, foram solicitados a colaborar com a pesquisadora em conformidade com a sua
disponibilidade. É de salientar que as informações recolhidas nestas observações foram
completadas e interpretadas na base dos dados obtidos na análise documental que consistiu na
revisão da literatura e na consulta dos documentos oficiais e regulamentares dos sistemas
educativos do ensino primário.
3.3.1.2. Análise documental
Neste estudo, fez-se a abordagem interpretativa e analítica do tema, os documentos servem
para fazer a análise de dados e analisou-se os seguintes documentos: o diploma ministerial
15

sobre o conselho de escola, o manual de apoio à gestão das escolas, o regulamento das escolas
do ensino básico, as orientações de tarefas escolares obrigatórias.

4. Questões de ética de investigação

O uso das abordagens qualitativas na pesquisa suscita uma série de questões éticas
decorrentes da interacção do pesquisador com os sujeitos pesquisados (Quivy &
Campenhoudt, 2008). Em relação ao anonimato, há dados relativos à identidade dos
inquiridos que foram pertinentes para a análise e compreensão dos dados recolhidos, pelo que
não foi possível preservar totalmente a identidade dos participantes na investigação, mas
sempre na medida do possível garantir o anonimato do entrevistado, bem como da instituição.

Para o efeito, usou-se a nomenclatura codificada para referir aos informantes: EC1, EC2 e
EC3 ocultando na medida do possível a identidade socioprofissional.
16

Capítulo III

5. Conclusão
No percurso desta pesquisa, de acordo com os dados recolhidos, alcançou-se as seguintes
conclusões:
(i) o papel dos pais e/encarregados de educação na gestão democrática e participativa na
Escola Primária do 1º e do 2º Grau de Massalane, assenta-se no acompanhamento passivo do
processo pedagógico dos seus educandos, mediante a recepção da informação sobre os
problemas de aprendizagem que os professores constatam nos alunos.

(ii) os pais e/encarregados de educação participam apenas em reuniões trimestrais e de


abertura do ano lectivo e, neste contexto, os pais e encarregados recebem informações sobre o
percurso da aprendizagem dos seus educandos, sem contudo, participarem da gestão dos
desafios de aprendizagem em colaboração com os professores.
(iii) Há na escola o desajuste das práticas dos pais e/encarregados com as orientações dos
regulamentos e diplomas ministeriais que prescrevem as boas práticas de gestão democrática
e participativa da escola, incluindo a definição e distribuição das responsabilidades.
(iv) A direcção da escola e os professores apresentam actividades limitadas de envolvimento
dos pais e encarregados de educação na gestão da escola, facto que conduz a uma inoperância
das tarefas e atribuições que são prescritas no REGEB e nos diplomas ministeriais, sendo que
as reuniões são realizadas apenas para a comunicação das deliberações tomadas pela direcção
da escola.
(v) Há uma limitação enorme para operar uma melhoria na gestão da escola porque a direcção
e o conselho da escola não apresentam uma estratégia de gestão democrática para a busca de
soluções para os problemas que a escola enfrenta.
Conclui-se ainda que, devido fraca capacitação dos pais e/encarregados de educação, reduz-se
a capacidade de participação no processo de planificação, monitoria e avaliação dos projectos
da escola e do processo de ensino-aprendizagem.
Neste contexto, em termos de procedimentos de participação dos pais e/encarregados de
educação do processo de tomada de decisões sobre a vida interna da escola e do processo de
aprendizagem dos seus filhos, verifica-se que desajuste das suas práticas com as orientações
17

dos regulamentos e diplomas ministeriais que prescrevem as boas práticas de gestão


democrática e participativa da escola.

6. Referências Bibliográficas

Costa, A. (2009). Projectos em Educação – Contributos de Análise Organizacional. Aveiro:


Universidade de Aveiro.
Drabach, N. P.(2010). Dos Primeiros Escritos Sobre Administração Escolar No Brasil Aos
Escritos Sobre Gestão Escolar: Mudanças E Continuidades. Currículo sem Fronteiras, v.9,
n.2, p.258-285, jul/dez 2010. Disponível a 10 de Junho de 2015 em
ttp://www.curriculosemfronteiras.org/vol9iss2articles/drabach-mousquer.pdf
Ferreira, S & Aguiar, A. (2004). Gestão da Educação: Impasses, Perspectivas e
Compromissos (Orgs). (4ª ed.). São Paulo: Cortez.
Libânio, C. (2008). Organização e Gestão de Escola: Teoria e Prática. 5ª Edição revista e
ampliada.
Lima, C. (2008). A Escola Como Organização Educativa 3ª ed. S. Paulo: Cortez.
Machado. (1982). Participação e descentralização, democratização e neutralidade na
constituição de 76. Coimbra: Almedina.
Marconi, M & Lakatos, E. (2009). Metodologia Científica. 5ª Edição. São Paulo. Editora
Atlas.
Martins, R. (2007). Um Olhar Sobre o (In) Sucesso Escolar na Diversidade Cultural. Porto:
Universidade Aberta.
Moreira, D. (2002). O Método Fenomenológico na Pesquisa. São Paulo. Pioneira Thomson.
Maron, M. (1998). Concepção, Desenvolvimento e Validação dos Instrumento de Colecta de
Dados Para Estudar a Percepção do Processo Decisório e as Diferenças Culturais. Porto
Alegre: UFRGS.
Ministério da Educação (2003). Diploma Ministerial nº 54/2003, de 28 de Maio. Maputo
Ministério da Educação (2005). Resolução nº 8/2005- Aprova os qualificadores dos directores
e chefes de Secretarias das Escolas. Maputo
Ministério da Educação (2008). Diploma Ministerial nº 46/2008, de 14 de Maio. Maputo
Oliveira, B (2000). Conceito e Educação. Disponível a 9 de Dezembro de 2015 em
http://www.ebah.com.br/content/ ABAAAATI8AJ/conceito-educacao.
18

Quivy, R. & Campenhoudt, L.( 2008). Manual de Investigação em Ciências Sociais. 5ª


Edição. Lisboa: Gradiva.
Rumble, A. (2003). Gestão dos Sistemas de Ensino à Distância. Unesco, Brasília.

Você também pode gostar