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Título Original: Unidos Pela Lealdade - Livro 1 - Série Pétalas em Sangue

Copyright© 2020 - Harin Adna Gomes de Lima Andreo


Diretor-editorial: Peterson Magalhães
Editor-chefe: Silvio Alexandre
Publisher: Katarina Ferrer
Revisão: Mariana Rocha
Capa e Diagramação: Cris Spezzaferro
Todos os direitos reservados a autora e editora.
É proibida a reprodução de parte ou totalidade da obra sem a autorização
prévia dos autores e editora.
Todos os personagens desta obra são fictícios e qualquer semelhança com
pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência.
Texto revisado conforme o Acordo Ortográfi co da Língua Portuguesa.
Sumário
Agradecimentos
ATENÇÃO
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Epílogo
Agradecimentos
Gratidão primeiramente a Deus, sempre.
Quero agradecer a minha família por sempre acreditar
em mim, desde o marido que é o meu primeiro fã (palavras
dele), filhos que me empurram com seus sorrisos a ser
cada dia melhor, como pessoa e profissional. Pai, mãe,
padrasto, irmão, sogros, avós,cunhados e cunhadas, tios e
tias. É difícil nomear apenas um quando todos tem o seu
grau de importância. Em algum momento, as nossas
vivências serviram de inspiração. Minha mãe me perguntou
de onde vinha tanta imaginação, eu sei mãe, eu tenho a
mente um pouco louca, nunca foi segredo (risos).
Também quero agradecer em especial a duas pessoas
que foram as primeiras a me dizer que aqui tinha potencial:
Ana Karolina, lá do Espírito Santo, que disse: “Porque você
não escreve sobre esse tema? Você gosta! Tenta”.
Obrigada, querida. Você me motivou, muito.
Agradeço também a Iluska, que leu capítulo por capítulo,
mesmo longe me acompanhou em cada passo do caminho,
enquanto tudo ainda era um sonho. Em um dado momento
ela me disse: “Estou curiosa para saber o que acontece a
seguir, está muito bom!“.
Aos meus amigos, os que leram trechos, os que leram
tudo, que validaram tudo. Até aqueles que não tinham o
hábito de ler histórias desse gênero se sentiram presos
pelo enredo. Eu jamais poderia nomeá-los. Vocês são os
melhores! Obrigada, obrigada.
ATENÇÃO
Este livro é um romance da Máfia.
Contém descrição de violência física e conteúdo sexual.
Prólogo

Giulia, 10 anos
Os sons sussurrados que vinham do escritório de papai
não foram o que me chamou a atenção. Mamãe sempre
dizia que escutar atrás das portas era uma falta terrível de
educação, mas ouvi mamãe implorar, chorando em meu
nome e de minhas irmãs.
— É castigo por não ter te dado um filho homem? —
Minha mãe disse engasgada com o choro. Pela porta
entreaberta, vi meu pai segurar o rosto de mamãe com as
duas mãos.
— Não é nada disso, Alessandra. Trata-se de proteção.
Ivan Nikolai é o novo Pakhan. Em algum tempo, sua prole
tão louca quanto ele assumirá o poder. Eles não respeitam
mulheres, crianças ou qualquer um que mereça proteção,
ele odeia os italianos. Qualquer perspectiva de paz com o
Bratva morreu hoje junto com a Família Ivanov. Os
inteligentes reconhecem o perigo quando o vê. Minhas
filhas têm que ser fortes, um dia eu não estarei aqui para
protegê-las, mas o que eu ensinar, a protegerão para
sempre.
Minha mãe chorava e lamentava, negando com a
cabeça.
— Você as colocará em perigo, Enrico. Elas têm que ser
protegidas e não jogadas ao perigo como se fossem
homens. Isso irá arruiná-las em nossa sociedade — Papai
não a soltou, encostando suas testas.
— Essa é a maneira de protegê-las, cara mia. A guerra
está vindo. Não é mais uma questão de se, e sim, de
quando.
— Mas elas são crianças, Giulia tem apenas dez. Não
faça isso, Enrico. Por favor, não.
— Está decidido, mia bella. É o melhor para elas.
— E o menino Ivanov? Onde ele está? - Mamãe
perguntou após alguns segundos.
— Seguro. - Papai respondeu.
Afastei-me do escritório e meus olhos pararam em Milena
e Isabella, que brincavam no chão da sala. Ali, eu não tinha
ideia do que aconteceria, mas sabia, no meu íntimo, que
brincar despreocupadamente com bonecas no chão já não
seria rotineiro. Eu já entendia que vivíamos diferentes das
outras crianças, que éramos diferentes por sempre termos
seguranças por perto e nem sempre poder ir às festas de
aniversário ou à praça brincar como todos os outros. Eu
sabia o conceito de Guerra. Eu só não tinha entendido a
magnitude de tudo e do impacto que isso teria em nossas
vidas até que vi o desespero nos olhos da minha mãe e a
determinação em meu pai. Ele nos prepararia para a
guerra.
Capítulo 1

Dias Atuais
Era janeiro e estávamos em pleno inverno de Nova
Iorque. Da minha cobertura, observava as pessoas
insistindo em suas caminhadas matinais no Central Park.
Eu detestava o inverno, detestava o frio, pois ele me trazia
lembranças que eu preferia esquecer. Minha mãe morreu
em um inverno rigoroso, há três anos. Ela se suicidou e eu
sei, no fundo, que foi de tristeza por tudo o que suportou do
meu pai.
Depois de um casamento de sofrimento com meu pai, o
Don, da Cosa Nostra, nos Estados Unidos, líder de uma
das maiores organizações criminosas do mundo, ela
desistiu da vida. Muitas vezes eu intervi, ainda criança,
para defendê-la do monstro que meu pai era. E paguei com
meu sangue por cada uma dessas intervenções. Se eu
fechasse bem os olhos, ainda poderia sentir o cheiro de
sangue e sexo, e escutaria os lamentos da minha mãe.
Depois de homem, percebi a minha importância na Máfia.
Eu seria o futuro Don, a continuação do sangue do meu
pai, seu legado. Mudei minha maneira de enfrentá-lo, como
seu único herdeiro homem, passei a exigir a integridade
física da minha mãe. Maior que a arrogância do meu pai
era sua sede de continuar no poder, o valor de seu nome e,
principalmente, seu sangue. Isso funcionou por um tempo,
até minha mãe adoecer e desistir de si mesma.
Meu pai me criou a seu molde, queria um filho cruel como
ele. Eu sou o monstro que ele criou, frio e cruel, sou leal a
nossa causa, o respeito como Don, mas exigir a
integridade da minha mãe também deu controle e poder a
ele sobre a minha vida, eu tinha que ser exatamente uma
cópia dele e eu fui em quase tudo. A voz da minha mãe em
seu leito retumbava em meus ouvidos quando a escuridão
me tomava e ameaçava me levar inteiramente.
— Você não é ele, meu filho, você um dia encontrará
alguém que o fará enxergar exatamente como você é. Um
homem de bom coração.
O que ela não sabia é que eu não possuía um coração.
Parte do que eu poderia ter de bom foi com ela, sua
escolha em deixar a vida só reforçou o que eu já sabia, em
mim, não há nada que valha a pena. O único vestígio do
controle de meu pai em minha vida ainda era Anita, minha
irmã. Quando eu fosse Don, o que não iria demorar agora,
pois logo faria trinta anos, ela viria morar comigo e nada
mais me ligaria a ele.
Meu telefone tocou, não me surpreendendo por ser meu
pai.
— Don.
— Venha tomar café em casa. Precisamos discutir o
nosso futuro na Cosa Nostra1.
1.Tradução livre da autora “nossa casa”
“Nosso futuro”. Solto um riso seco. É assim que ele vê
essa situação, como se ele fosse continuar no poder
depois que eu assumisse. Ledo engano.
— Certo.
Não espero resposta e desligo. Eu sabia que essa hora
iria chegar, logo eu assumiria o posto, então, essa
conversa era esperada.
Não muito tempo depois, eu estou entrando na mansão
Santorelli para tomar café com meu pai e Anita.
— Buongiorno2.
2.Tradução livre da autora: “Bom dia”
Cumprimento já sentando no lugar posto a mesa para
mim. Olho para minha irmã Anita, de dez anos, alheia a
toda maldade do mundo que vivemos. Anita é uma garota
tranquila e alegre, apesar de todas as regras e a distância
do meu pai, sua integridade é o que me mantém por perto.
Ela era a única que ainda conseguia me arrancar um
sorriso com sua inocência. Eu vou mantê-la assim pelo
máximo de tempo possível. Eu estava sempre com um
olhar nela, seus guardas pessoais e a sua governanta
eram leais a mim. Eles me diriam se meu pai usasse a
força ou a violência em sua educação.
Meu pai sabe que não deve machucá-la. Ele também a
usava para me controlar, mas isso estava prestes a acabar.
— Buongiorno irmão — Anita sorri contida, porém vejo a
alegria dançar em seu olhar. Minha irmãzinha era bondosa
como minha mãe.
— Sente-se e tome seu café, precisamos discutir os
negócios — diz meu pai com impaciência. O clima sempre
foi esse. Frio.
Tomamos café em silêncio e assim que terminamos, o
segui para o escritório.
— Logo você fará trinta anos e já sabe o que se espera
de você.
Dei um aceno com a cabeça, indicando que estava
escutando e ele continuou:
— Faremos uma festa em comemoração. Você também
entende que terá que se casar, então já aproveitamos e
chamaremos para sua festa as filhas dos Sottocapos e
Caporigemes que estejam em idade de se casar.
Isso me alarma, mas mantenho a face impassível. Achei
que teria mais tempo para isso, que poderia avaliar a
situação com calma. Casamento? Eu ainda não tinha
pensado nisso como algo concreto. Eu sabia que iria
acontecer, mas claro que meu pai iria querer controlar tudo.
É mais uma demonstração indireta de seu controle sobre
mim.
— Acho melhor primeiro assumir e só então procurar
uma esposa — digo mantendo a máscara da indiferença.
— Você vai fazer o que é esperado. A festa está
planejada para quinze dias, já enviei os convites para as
famílias de Nova Jersey, Nova Inglaterra e Filadélfia. E
teremos também as famílias de Nova Iorque. Espero que
quando assumir o cargo, esteja noivo. Não se esqueça,
figlio3. Ela deve ser perfeita. Vou ser solidário e te dar a
oportunidade de escolher, caso não faça sua escolha, eu
farei por você.
3. Tradução livre da autora “filho”
Soltei um riso seco, sem humor.
Não me via tendo que ser responsável por alguém além
da Cosa Nostra e minha irmã. Seria mais alguém que teria
minha proteção, que estaria sob minha responsabilidade
diretamente. Eu não queria nada disso. Olhei para meu pai,
internalizando no fundo da minha mente que faltava pouco
para que ele saísse de uma vez por todas do meu
caminho. Se eu tivesse que casar para que isso fosse
possível, para cuidar de Anita e sair de sua influência, que
fosse. Eu pagaria o preço necessário.
— Tudo bem — Selo meu destino.
Capítulo 2
“1,2,3...”
Meu pai me ensinou, desde muito nova que em nosso
mundo não haveria príncipe encantado. Que teríamos que
ser suficientes para salvar nossa própria pele.
“4,5,6...”
Isso moveu a mim e às minhas irmãs a procurar nos
prepararmos para o lado sombrio do mundo em que
vivíamos. Aqui, as mulheres foram condicionadas a não
ver, não sentir, não falar, subjugadas e vistas como
incapazes de lidar com a nossa realidade. Isso também era
chamado de proteção.
“7, 8, 9...”
Meu pai nos forçou e reconhecer a nossa verdade. Ele
disse que essa era a melhor forma de nos proteger. Eu
acredito nele.
“10, 11, 12...”
— Giulia, desse jeito não vai sobrar nada da coluna de
boxe — Escuto a voz de Milena atrás de mim, já vestida
para o treino. Meu pai construiu uma academia na parte de
baixo da nossa mansão, com piscina, espaço para boxe e
artes marciais e tiro esportivo. Ela continuou: — Mamãe
está em êxtase lá em cima. Não sei o que aconteceu, mas
ela me pediu para chamá-la. Já estão todos no escritório
de papai.
Limpo o suor da minha testa e sigo para o escritório.
— Boa coisa não deve ser.
Isso tira uma pequena risada de Milena. Ela tem um
humor leve, mas é um furacão incontrolável quando
provocada. Pai sempre diz que ela deve aprender a
controlar seu gênio ou isso ainda a colocará em risco. Ele
sempre disse que também seguia ordens e que nem
sempre poderia nos proteger de tudo. Nós também
tínhamos obrigações.
Entramos no escritório onde já estavam sentados papai e
Isabella, nossa irmã mais nova. Minha mãe estava em pé,
com um papel nas mãos, muito animada para nosso
próprio bem. O maior desejo dela era nos ver casadas com
pessoas do alto escalão da Máfia, e a maior tristeza era
nos ver aprendendo “ofícios de homens”. Ela dizia que as
mulheres deveriam ser protegidas, que nossa
autossuficiência assustaria os homens e não
conseguiríamos fazer bons casamentos. Todas tivemos
aulas de etiqueta, eu aprendi piano e harpa, Isabella
aprendeu ballet, tem desenvoltura social e é a esperança
da minha mãe por, aparentemente, ser uma flor delicada.
Com seus olhos azuis e cabelo claro, tem a face de um
anjo e um sorriso doce, até vê-la em ação com uma adaga.
Milena é misteriosa, sempre soube que ela mantinha
segredos até mesmo de mim, mas Isabella consegue ser
ainda mais perigosa, porque as pessoas tendem a
subestimá-la. Eu tenho a reputação de ser a mais
complicada, mas é só a reputação. Comparada às minhas
irmãs, eu sou muito tolerante.
— Sentem-se, meninas, sentem-se. Temos uma notícia
maravilhosa para vocês — diz minha mãe delirante de
felicidade.
— Por que estou com medo dessa felicidade toda... —
murmuro tirando algumas risadas das minhas irmãs e de
meu pai.
— Hoje não, Giulia, hoje sua personalidade rabugenta
não vai dissolver meu bom humor. Estamos vivendo um
período histórico. Fomos oficialmente convidadas para o
aniversário de trinta anos do futuro Don da Cosa Nostra.
Todo o alto escalão da Máfia estará presente — Se minha
mãe pudesse flutuar, ela flutuaria. – Nós vamos passar
alguns dias em Nova Iorque, meninas. Seu pai, como
Sottocapo4 aqui na Filadélfia, foi intimado a estar presente.
Como se fôssemos declinar a esse convite.
4.Tradução livre da autora “segundo no comando”
Encarei minha mãe alguns segundos. Ela sempre foi
linda e fez jus ao seu papel de esposa troféu, perfeita nos
eventos, mas também sempre foi uma companheira de
vida do meu pai. Com seu cabelo negro e olhos castanhos,
ela sempre estava arrumada e preparada para qualquer
situação. Milena é uma cópia de mamãe, as fotos são
impressionantes em semelhança, mas é aí que elas
acabam. Enquanto Milena era parecida com mamãe com
seu cabelo longo e negro e olhos castanhos, eu tinha o
cabelo preto da mamãe, a altura dos ombros e os olhos
verdes. Papai era loiro e tinha heterocromia, sendo um olho
azul e outro verde.
Mamãe nos ensinou a nos comportar como uma dama
em eventos sociais, mas aqui na Filadélfia já éramos
famosas por sermos diferentes das outras principesses5 da
Máfia. As mulheres nos criticavam, outras nos respeitavam.
Os homens nos desejavam e nos temiam. A nós foi dada
mais liberdade que qualquer outra família da Máfia e os
mais conservadores não recebiam uma mulher forte muito
bem. Minha mãe continuou seu discurso acalorado:
5. Tradução livre da autora “princesas”
— Lá, será a oportunidade perfeita para que vocês
possam socializar com o alto escalão da Máfia e quem
sabe conseguir um bom casamento para vocês...
Ela continuava a falar, falar, falar o discurso sobre como
era difícil, mesmo sendo filhas de um Sottocapo, achar
alguém que lidasse com a gente... não contive um
suspiro...
— Quantas vezes eu já disse que é falta de educação
suspirar assim quando estamos falando, Giulia! Eu espero
que você não me envergonhe, já basta Milena que não
consegue segurar a língua afiada.
— Hey, eu estou bem quietinha aqui — reclama Milena.
— Alessandra, dê um crédito às meninas, elas sempre se
comportaram bem nos eventos daqui — interviu meu pai.
— Eu preciso me lembrar do incidente no aniversário do
Capitão Conti? — diz minha mãe olhando para Milena.
Papai levantou as mãos como quem diz: eu tentei.
— Cazzo! Ele passou a mão no meu seio, mamma6, no
meio do salão de festa!
6.Tradução livre da autora “mamãe”
— Cuidado com essa boca, mocinha, e você não
precisava ter quebrado o nariz dele. Deveria reportar ao
seu pai, ele resolveria a situação. Ele é o Sottocapo. Foram
meses para que esquecessem esse incidente — diz minha
mãe com voz de choro.
Milena soltou um bufo, enquanto eu e Isabella seguramos
o riso. O soldado não tinha reconhecido Milena como filha
do Sottocapo, pediu uma dança e foi a sua pior viagem.
— E você, Giulia, trate de melhorar esse mau humor.
Homem não gosta de mulher mal humorada, então, por
favor, colabore. Tente sorrir mais. Você já vai fazer vinte e
dois, filha. Eu, na sua idade, já era mãe.
Esforço-me para não revirar os olhos. Sei qual o meu
papel na Máfia, sei que se meu pai chegar a um acordo
onde eu tenha que me casar, vou me casar, independente
de qualquer coisa. Não era minha culpa que não apareceu
alguém corajoso o suficiente.
— Mas me diga, mamãe, por que toda essa comoção
para o aniversário do futuro Don? Nunca fomos convidados
para eventos em Nova Iorque. Não somos íntimos,
estamos a um Estado de distância — questionou Isabella.
Isso era verdade. Vimos a família Santorelli a muitos anos
atrás quando a esposa do Don ainda era viva e sua
filhinha, um bebê. Eles vieram, jantaram, mas nunca mais
vi o casal ou o filho deles.
— Essa é a melhor notícia, Bella. O boato é de que se
trata de uma desculpa para que o futuro Don conheça as
meninas e escolha a sua esposa. Afinal, ele será o Don,
precisa se casar — Minha mãe está saltitando de
felicidade, mas de repente para e nos olha. — Meninas, eu
sei que quando querem, vocês são impecáveis. Esse
evento é muito importante para mim, vocês são, de longe,
as mais lindas da Cosa Nostra. Mostrem para mim que eu
também fiz um bom trabalho com vocês.
Meu coração se apertou. Minha mãe poderia ser um
pouco exagerada, mas ela era uma boa mãe. Comparada a
outras muitas famílias da Cosa Nostra, eu só tinha a
agradecer pela vida e liberdade que meus pais nos deram.
Eu me encarregaria de fazer o nosso melhor nesse evento,
mesmo que não conseguíssemos um casamento
vantajoso, ela se orgulharia de nós.
— Não se preocupe, mamãe, estaremos em nosso
melhor comportamento — afirmei com segurança.
Assim que saímos do escritório, fui para a sala de
música. Deveria ser uma imagem hilariante. Eu, com roupa
de treino, sentada em um piano, mas a música sempre foi
um bálsamo para os meus dias mais aflitos. Enquanto eu
dedilhava The Scientist, do Coldplay, deixava meus
pensamentos voarem. Eu e minhas irmãs sempre
participamos de eventos aqui em Philly. Eu sempre amei a
liberdade de poder fazer o que gosto. Aqui as pessoas me
conhecem, sabem das minhas particularidades. Os
soldados nos respeitam, sabem da nossa capacidade de
ser letal quando necessário. Eu me esforçaria por minha
mãe, por lealdade a tudo o que meu pai fez por mim e
minhas irmãs, mas o meu maior medo seria se um dia me
casasse, se alguém realmente se interessar por mim.
Enquanto as meninas do nosso meio aperfeiçoaram como
ser uma princesa perfeita, eu e minhas irmãs lutávamos
com homens mais velhos e mais habilidosos que nós.
Enquanto elas escolhiam maquiagem e vestidos, nós
aprendíamos sobre armas e adagas. Se um homem se
interessasse por mim, ele me aceitaria assim? Eu poderia
ser uma dama, mas eu preferia não ser a maior parte do
tempo. Meus dedos dançavam pelas teclas enquanto meus
pensamentos voavam…
Giulia 14 anos
Vendada, no alto da colina, em uma cabana longe da
cidade.
Soco no estômago.
— A vulnerabilidade está em sua mente, Giulia.
Outro soco, agora no peito. Tentei defender, mas não
alcancei a mão de mestre Chang. O ar sumiu dos meus
pulmões.
— Ser subestimada é seu maior trunfo.
Chute no joelho. Caí, mas me levantei logo, mesmo com
dor.
— Escute, Giulia. Escute.
Soco no estômago novamente. Eu queria escutar, eu
queria me concentrar, mas a dor em meu joelho e no
abdômen estava demais Ele voltou a me golpear mais
vezes e eu estava quase chorando. Dessa vez eu não
choraria. Eu não me entregaria. Passamos as últimas duas
semanas aqui, nessa cabana no meio do nada. Eu me
interessei pelas artes marciais e papai contratou o mestre
Chang para me treinar, ele era a minha sombra. Ele voltou
e me deu um golpe em ambas as pernas, caí no chão e
fiquei. Tentei escutar além do minha dor. Foi então que ouvi
os passos, ouvi o farfalhar da calça.
“Se comunique com a natureza, Giulia. Ela é sua aliada”.
Senti que seu pé se levantava do chão, ele iria me chutar.
Sem pensar, antes que me acertasse, eu defendi o golpe e
abracei suas pernas com as minhas, derrubando-o no
chão. Sem perder tempo, me coloquei em cima do mestre
e tentei segurar suas mãos com minhas pernas, mas ele foi
mais rápido. Senti sua movimentação para acertar meu
rosto, foi uma sequência de cinco golpes que me defendi
apenas guiada pelo instinto. Com uma cabeçada, o
surpreendi e consegui segurar suas mãos com minhas
pernas, o asfixiando com as mãos. Alguns segundos, ele
bateu a perna no chão. Eu tirei a venda e ele me deu um
quase sorriso.
— Muito bem, Giulia.
Fui tirada dos meus pensamentos pela entrada do meu
pai na sala de música.
— Você só toca assim quando está preocupada — Meu
pai se aproximou do piano. Ele me conhecia mais que eu
mesma. Ele sempre me pedia opinião sobre suas decisões
e seus capitães aprenderam a me respeitar também.
— Estou bem — disse para não preocupá-lo. Eu faria
qualquer coisa pelo meu pai, mesmo me casar com alguém
que não conhecia. Achava pouco provável que
acontecesse, mas se houvesse um acordo com alguém, eu
o honraria.
—Você não me engana, figlia7. Você está com medo
desse evento?
7.Tradução livre da autora “filha”
— Tenho receio de alguém se interessar por mim, mas
gostar de apenas uma parte de mim. A principessa, a dama
perfeita. Eu morreria de tédio e acho que mataria o marido
no processo.
Isso tirou uma pequena gargalhada do meu pai. Depois
ele me fitou:
— É pouco provável que aconteça. Você não deveria se
preocupar.
— Você está tão seguro — disse estreitando os olhos.
— Quando você se casar, Giulia, vai ser com alguém que
te respeitará como você é, porque eu te ensinei a se impor.
Eu te dei as armas. Lute — Ele saiu com uma piscadela.
Eu não costumava demonstrar minhas inseguranças,
mas algo sobre esse evento me deixava inquieta, quase
angustiada. Eu tinha a sensação de que tudo mudaria em
breve, muito parecida com a sensação que senti quando
tinha 9 anos e escutei meu pai e minha mãe no escritório.
Depois daquele dia, meu pai passou a nos treinar como
qualquer outro soldado. Ele não nos poupou. Agora, a
sensação era a mesma.
Eu só não sabia dizer se isso era boa ou não.
Capítulo 3
Os dias que se seguiram foram, no mínimo, turbulentos.
Mamãe nos arrastou de loja em loja para vestidos e
acessórios. Milena era, de longe, a mais sofisticada entre
nós. Eu sempre gostei de tons mais escuros e Bella
adotava estampas e flores. A rotina continuava entre
treinamento e os preparativos para o aniversário do futuro
Don.
Chegando o dia de embarcar, nos encaminhamos para o
aeroporto, sendo seguidos pela equipe de segurança. Nós
estávamos próximos ao território da Bratva, papai não nos
deixavam cegas quanto aos negócios, sabíamos que,
ultimamente, a Cosa Nostra estava sofrendo ameaças e
ataques aos nossos laboratórios e aos nossos
carregamentos. Embarcamos no jatinho, mamãe animada,
como se estivéssemos indo visitar a realeza. Não era muito
diferente. O Don é o topo da nossa hierarquia.
Eu sabia muito pouco a respeito dos Santorellis. Dizem
que o Don é sádico, gosta de infringir dor em qualquer ser
humano, inocente ou não. Seu filho não deve ser muito
diferente, se tudo o que dizem a respeito do herdeiro for
verdade. Sua fama também vai longe sobre sua falta de
misericórdia. Papai comenta que a futura Tríade de poder
será muito poderosa, a Tríade é composta pelo Chefe de
Frente, Consigliere e o Don, sendo este o topo do poder.
Meu pai é um excelente líder, nunca teve problemas com o
Don, é muito amado e respeitado pelos nossos soldados. O
Don nunca teve que ir ao nosso território para dar apoio em
alguma situação ou mesmo por desconfiança. Esse era um
dos motivos pelo qual não fôssemos muito próximos do
Don.
O voo ocorreu sem problemas, desembarcamos e
seguimos para o apartamento que papai mantém em Nova
Iorque. As duas vezes que viemos foram rápidas e mal
aproveitamos os pontos turísticos. Enquanto seguíamos
para o apartamento, Milena suspirou:
— Dessa vez eu vou dar uma volta no Central Park.
— Você sabe que pode ser perigoso — argumentou
mamãe.
— Perigoso para quem? — responde Milena com um
sorrisinho que Bella e eu acompanhamos. Mamãe deu um
suspiro derrotado. Às vezes, eu tinha um pouco de pena
dela.
— Seu pai deu liberdade demais a vocês.
Chegamos ao apartamento e eu estava inquieta
guardando minhas coisas no closet. Escutei uma batida na
porta e minhas irmãs entraram. Bella se dirigiu à janela e
Milena se jogou em minha cama.
— Você já viu alguma foto do Don ou de alguém
vinculado a Máfia aqui de Nova Iorque?
— Não. Nunca vi a necessidade — respondi guardando
meus sapatos, deixando meu mal-humor sair. Viajar me
irritava, guardar minhas coisas me irritava, ir nessa festa
me irritava, mas eu precisava ser a voz da razão
— Você sabe que sua rabugice não me atinge, Giulia.
Sou imune a ela — disse Milena.
— Infelizmente — disse em um sorriso falso.
— Mamãe o viu quando veio em Nova Iorque, ano
passado. Disse que ele é muito bonito e educado — disse
Bella ainda olhando na janela.
— Eu me sinto em um leilão, oferecida em uma bandeja.
É deplorável que ainda existam essas tradições tão
antiquadas. Como a gente se casa com alguém que não
conhece? Eu nunca vou passar por isso. Prefiro desertar.
Eu suspirei. É disso que eu falo, ser a voz da razão.
— Milena, ir nesse evento não quer dizer exatamente que
seremos obrigadas a nos casar. O fato de papai ter sido
afável conosco não quer dizer que estamos isentas das
nossas obrigações — Milena suspirou alto. Eu tinha a
impressão que ela jamais se casaria por conveniência.
— Você se casaria? – perguntou Bella virando-se para
me encarar com seus grandes olhos. — Se você fosse
escolhida pelo Don, você se casaria?
Pensei um pouco antes de responder:
— Se fosse para o melhor de todos, sim. Mas sabemos
que é pouco provável que ele escolha a mim.
Provavelmente, ele procura uma principessa8 afetada e
submissa. Adjetivos esses que não nos descrevem. Então,
volto a dizer, por mamãe, vamos fazer o nosso melhor.
Logo tudo isso acaba e voltamos para Philly.
8.Tradução livre da autora “princesa”
Milena suspirou mais uma vez e saímos do quarto.
Estava no fim da tarde, então resolvemos ir ao Starbucks
que tinha próximo ao apartamento. Papai avisou aos
fantasmas que estaríamos indo. Éramos perfeitamente
capazes de nos proteger, mas resolvemos aceitar por
insistência.
Entramos no café percebendo que tinham algumas
pessoas para serem atendidas, então aguardamos na fila.
Milena e eu éramos de estatura mediana, sendo Isabella
mais baixa e magra, muitas vezes era confundida
facilmente com uma adolescente, apesar de seus dezoito
anos.
Notei que em nossa frente havia dois homens altos e
fortes, mas de onde eu estava, não conseguia ver os rostos
e logo perdi o interesse. Eu convivia com muitos homens,
treinava com eles, mas sendo filha do Chefe, eles nunca
me davam uma segunda olhada. Não que eu estivesse
interessada, mas esses homens à nossa frente exalavam
uma aura de superioridade e chamaram minha atenção.
Estávamos conversando animadamente sobre um filme
que entraria em cartaz enquanto aguardávamos nossa vez.
Eu era a maluca por café, experimentava os mais variados
tipos. Um dos homens grande se afastou, dando passagem
para mim, e aguardou ao lado, mas eu estava mais
interessada no café que eu iria experimentar.
Bella e Milena pediram um Latte9 tradicional, enquanto eu
decidia que iria pedir um indicado como novidade,
chamado Tentação. Enquanto o café das minhas irmãs era
preparado, olhei para o homem alto que estava ao lado,
aguardando o outro atendente fazer o seu. Seu amigo já
estava sentado em uma mesa e ele aguardava o dele. Por
um momento me permiti olhar de verdade para o homem
que era uma visão. Tinha o corpo bem definido, cabelo
cheio, castanho, mandíbula quadrada e a boca lindamente
contornada. Também era banhado por um ar sombrio.
Quando olhei em seus olhos, eles estavam em mim
também. Seu olhar era fixo, intenso e sem desculpas, e eu
me senti como uma criança pega em uma travessura.
Nessa hora, o atendente me perguntou qual seria o meu
café e eu respondi prontamente com os olhos no estranho,
que me mantinha cativa por sua intensidade.
9. Tradução livre da autora “leite”, mas no caso e um tipo de café
— Tentação.
O estranho continuou olhando fixamente e eu percebi em
seu olhar que ele estava se divertindo. Não que ele tenha
sorrido, ele não o fez, não parecia ser desses que sorriam
facilmente.
Ao me dar conta do que tinha acabado de acontecer,
desviei os olhos e senti meu rosto arder. Eu o chamei de
Tentação? Não, não, eu pedi um café. Eu só queria um
café e, acidentalmente, eu estava olhando para ele.
Cazzo.10
10. Tradução livre da autora “Merda”
Eu não corava.
Nunca.
Firmemente olhando em frente, ignorei o estranho e
mostrei-me muito interessada no atendente preparando
meu café. O pedido do estranho ficou pronto e ele
lentamente se aproximou de mim, tornando impossível não
olhar para ele. Virei-me de frente a ele com o que restou da
minha dignidade. Ele se aproximou, e se aproximou, eu
deveria pará-lo. O que ele ia fazer? Meu corpo não
respondeu, eu tentei preparar um golpe para pará-lo, mas
estava hipnotizada. Ele disse em meu ouvido:
— Realmente... uma tentação — Senti sua respiração
quente, enquanto ele se afastava lentamente, me olhando
nos olhos mais alguns segundos, até virar-se e ir para seu
amigo. Eu sempre tinha uma resposta espirituosa para
todas as situações, mas, naquele momento, não consegui
pensar em nada que não fosse o perfume masculino e
embriagador e no estremecimento do meu corpo.
Quem era esse homem? E que sensação foi essa?
Mesmo com toda a liberdade que tivemos, sendo nascida
e criada na Máfia, havia princípios que eu valorizava. Eu
sempre pensei em sexo com alguém que eu me sentisse
atraída e isso nunca tinha acontecido, até hoje. Mas,
calma, sexo? De onde veio isso? Eu nem conhecia esse
homem e ele exalava perigo, isso eu tinha certeza e sentia
na medula.
Virei-me para o atendente ainda perdido em
pensamentos quando o sino tocou e dois homens
entraram. Avistei Bella e Milena a alguns metros me
aguardando e eu ainda estava distraída quando um dos
homens me empurrou para trás violentamente e anunciou
um assalto. Se eu não tivesse tão absorta em meus
pensamentos, teria notado o comportamento suspeito dos
homens. Notei pelo canto do olho o homem tentação e
percebi que ele e o outro estavam armados, a propósito, o
homem Tentação já estava com a arma na mão dele, se
levantando do banco. O olhar era assassino.
Cazzo. Va fanculo. 11
11. Tradução livre da autora “Merda. Que caralho”
Isso poderia ficar muito feio. Com um olhar, notei que
minhas irmãs já largavam o café e, com um sinal, me
aproximei do primeiro assaltante, o que havia me
empurrado, e bati em seu pulso de forma que ele largou a
arma. Chutei-a para longe e dei um golpe com a mão
aberta em seu nariz, ele uivou de dor, em seguida, dei uma
rasteira, o homem caiu, rapidamente dei um nocaute
estratégico, deixando-o desacordado.
O segundo homem estava mais distante, com a arma
apontada para mim. Fiquei parada quando notei que Bella
se aproximava do homem e dava-lhe um chute na parte de
trás de seu joelho, fazendo com que se dobrasse, dando-
lhe um mata-leão. Ele atirou e quase acertou Milena, que
segurou sua mão e tirou-lhe a arma com uma pressão no
pulso. O homem caiu no chão, tentando recuperar o ar e foi
quando eu vi.
Bella estava sorrindo.
Bella iria matá-lo.
Não poderíamos chamar atenção assim, era só o que eu
conseguia pensar, olhei para seu rosto brilhando de
excitação, conhecia esse olhar, ele apontou uma arma para
mim e, por pouco, não acertou Milena, ela iria puxar uma
adaga e mataria o infeliz. O sangue gelou em minhas
veias, mas estava muito longe para impedir. Milena deve
ter pensado o mesmo, pois, estando mais próxima, com um
só soco na cabeça do homem o desmaiou. Eu cheguei em
seguida e puxei Bella para longe.
— Por que vocês tem que acabar com a minha festa? —
Ela disse com uma falsa calma e uma voz doce. Ela só
tinha dezoito anos, mas poderia ser mais sanguinária que
qualquer homem feito. Às vezes, até mesmo eu me
assustava.
— Não podemos chamar atenção — falei em seu ouvido.
Os fantasmas estavam assistindo da porta com suas
armas no punho, no lado de fora, e nos deram sinal para
sairmos. A comoção era total, mas, com o canto dos olhos,
consegui enxergar o cara tentação e seu amigo. Sem
perder a adrenalina, soprei um beijo debochado e me virei.
Mas ainda consegui ver o brilho dos seus olhos, que
acelerou o meu pulso. Entramos no carro o mais rápido
possível. Um dos seguranças já estava ligando para meu
pai e o outro, para o cara que “limpa a bagunça”, para nos
apagar da cena. Mamãe ficaria furiosa. Adeus passeio no
Central Park.
Capítulo 4
Ainda estava surpreso com o show que acabei de
presenciar e raramente as pessoas, ou situações, me
surpreendiam. Observando as três mulheres saírem em um
carro, acompanhadas por alguns seguranças, percebi que
não eram civis comuns. Quem eram? Nocautearam dois
ladrões em menos de dois minutos como se fossem
profissionais. Uma delas parecia nem mesmo ter saído do
colegial.
— Va fanculo! O que foi tudo isso? — disse Giovanni
com seus olhos tão surpresos quanto os meus. — Cara,
acho que me apaixonei — anunciou falsamente com uma
mão no peito e um sorriso de merda.
Giovanni era um piadista. Tinha humor para tudo, mas
era o melhor estrategista da Cosa Nostra. Por isso e por
sua confiança e lealdade, ele seria o meu Consigliere12.
12. Tradução livre da autora “Conselheiro”
— Vamos embora, em pouco tempo aqui estará cheio de
policiais — Ele me acompanhou ainda comentando sobre a
performance das meninas, enquanto eu acenava indicando
que escutava, mas meus pensamentos ainda estavam na
morena de olhos verdes.
Ela era linda, pensava enquanto entrava no carro e
seguia para casa.
Eu estava acostumado com mulheres bonitas, então, não
entendia esse fascínio instantâneo pela estranha. Talvez
seja a mistura de força e ingenuidade. Quando aquele
homem a afastou com violência, eu quase atirei nele ali
mesmo, sem pensar nas consequências. Minhas reações a
essa desconhecida me assustou.
Não importava.
Meu foco deveria estar unicamente na importância do
evento de sábado onde deveria estar presente minha futura
esposa.
Velho bastardo.
Essa era a última vez que ele iria interferir na minha vida.
Notei que, com meu devaneio, Giovanni se calou.
— Ter um prazo para arrumar uma esposa deve ser
muito fodido — diz Giovanni, de repente, reflexivo. Ele era
uma das poucas pessoas que realmente me conhecia, que
permitia baixar alguns dos meus escudos. Era um tom
conhecedor. Ele sabia quão bastardo meu pai era, diferente
de seu pai, que foi firme sem ser cruel. Giovanni tinha uma
boa família, como poderia ser uma boa família na Máfia.
Não respondo, mas sinto um aperto quase como um
lamento. Sim, era muito fodido, mas tentava ver de forma
prática. Finalmente digo:
— É necessário.
Porque era. Um preço para nos livrar definitivamente do
velho e tirar qualquer sombra de influência dele na vida de
Anita. Quando eu fosse Don, também seria o chefe da
família e não permitiria que ele a usasse como peão em
seus jogos, como ele fazia com todos ao seu redor.
Sem mais conversas, seguimos para casa.

Sábado chegou e eu estava cedo na mansão Santorelli,


como manda a etiqueta, para receber os convidados. O
salão estava iluminado, se estendendo ao jardim e a
piscina impecavelmente. A segurança havia sido redobrada
devido a todos os chefes da Cosa Nostra estarem
presentes. Segundo meu pai, todos haviam confirmado
presença. Um a um, recebi os chefes do alto escalão da
Máfia com suas famílias. Entre os convidados, me inteirei
de Sofia DeLucca. Ela era filha de um dos Caporigemes de
Nova Iorque e sempre se mostrou interessada em mim.
Sei que nunca fui uma pessoa acessível. Como futuro
Don, fui modelado a ser distante e polido em público, e
cruel com meus inimigos. Nunca tive um relacionamento
em longo prazo, nem mesmo uma amante. Nunca tive uma
conexão. Minhas necessidades eram supridas em nossos
clubes, sem qualquer promessa, mas Sofia DeLucca foi a
única pertencente à Máfia que já troquei mais que algumas
palavras, de modo que não pareceu se intimidar com meu
comportamento distante e impessoal. Talvez ela fosse uma
boa escolha, não queria uma mulher que me temesse ou
não fosse capaz de me olhar nos olhos. Sofia era
respeitosa, sofisticada e elegante, saberia o seu lugar e eu
a protegeria.
Já próximo à hora marcada, notei Enrico Castelle
entrando com sua família. Eu estive pouco na Filadélfia,
onde Enrico era Sottocapo, pois o homem era implacável
em seus negócios, nunca precisou de reforços e os
relatórios eram satisfatórios. O fato de eu ainda não ser
Don era outro motivo pelo qual nos encontrávamos
raramente. Ele tratava os assuntos da família com meu pai.
Enquanto o cumprimentava ele e sua esposa, me virei para
o restante de sua família logo atrás dele.
Senti meu sangue gelar ao ver as três garotas da
cafeteria sendo apresentadas como filhas do Sottocapo da
Filadélfia.
Eu vi essas meninas, essas crianças, uma única vez e
mal me lembrava se eram duas ou três.
— Deixe que eu te apresente minhas filhas, acho que faz
muito tempo que as viu. Essa é Giulia, minha filha mais
velha. — Ela também estava paralisada, com a boca
levemente aberta, enquanto eu mantive o rosto impassível.
Ela estava com um vestido preto que se percebia ser frente
única pelo caimento das laterais, longo, com uma fenda até
o alto da coxa no lado direito. O cabelo preto na altura do
pescoço, a pele pálida destacando seus lindos olhos
verdes.
Linda pra caralho.
Ela me estendeu a mão, hesitante, e eu dei um beijo
casto ainda olhando em seus olhos. Ela franziu levemente
o cenho, mas logo suavizou e sorriu. Era uma máscara. Eu
saberia reconhecer uma máscara em qualquer lugar, pois
eu sempre usava uma também.
— Essas são Milena... — Eu me virei para a morena de
olhos negros e cabelo longo. Ela não sorriu e parecia estar
se esforçando para ser minimamente educada, como se
estivesse ali por obrigação. Se eu me importasse, poderia
levar como uma afronta. Beijei sua mão rapidamente e me
virei para a loira colegial de olhos azuis, que sorria
docemente como se eu não tivesse visto o brilho em seus
olhos na perspectiva de matar aquele ladrão —... e
Isabella.
— Sejam bem-vindos, entrem e sintam-se a vontade.
Após os cumprimentos, eles adentraram ao salão. Recebi
os últimos convidados, mas meus pensamentos ainda
estavam na beleza de olhos penetrantes.
Ela pertencia a Cosa Nostra.
Uma ideia ia se formando em minha mente, mas antes de
qualquer decisão, eu deveria testar o terreno, ela não era
nada convencional. Pensar somente com meu pau não era
um argumento válido para a decisão de uma vida inteira,
mas, depois de vê-la, nada mais segurou minha atenção.
Era a primeira vez que uma mulher tinha a minha atenção.
Finalmente, me juntei a Giovanni e Nero, nosso Capitão-
Mor. Nero, com seus vinte e cinco anos, era o nosso
melhor soldado, e, junto com Giovanni, conseguia elaborar
e executar os melhores planos de ataques. Eu o manteria
comigo, não só pela capacidade, como também por causa
da confiança. Ele tinha sido adotado pela família Rossi
quando tinha 13 anos. Segundo eles, ele era filho único e
seus pais morreram no acidente. Ele perdeu a memória e
não se lembrava de nada que aconteceu antes que fosse
morar com eles.
— Parece que descobrimos quem eram “As Panteras” de
ontem — diz Giovanni com seu tom debochado. — Filhas
do Sottocapo da Filadélfia, hein, quem diria.
— Parecem inofensivas, não entendi a referência — Nero
diz com neutralidade.
— Isso é porque você não as viu em ação, meu amigo.
Não se engane, e está vendo aquela loirinha com carinha
de boneca? É a pior.
Eu contive um suspiro, enquanto Nero olhava para onde
as meninas estavam junto com os pais, cumprimentando
outras pessoas. Olhando daqui, realmente pareciam
inofensivas, tanto que Nero continuava incrédulo.
— Ela parece que ainda nem terminou o colegial. Ela
deve ter o quê? Dezesseis?
Eu não disse nada, até porque eu pensava o mesmo.
Olhando novamente para o grupo, notei dois olhos verdes
penetrantes em mim e, como se pega em flagrante,
desviou rapidamente. Essa brincadeira de gato e rato era
novidade para mim, nunca tive dificuldade em conseguir o
que eu queria. Se eu decidisse que eu a queria, eu iria tê-la
e nada iria me impedir.
— Essa música é ótima para dançar — A voz suave de
Sofia me arrancou da névoa de pensamentos. Ela era
linda, alta para uma mulher, cabelos castanhos e olhos da
mesma tonalidade. Nunca nos envolvemos, mas sempre
tive a impressão de que ela esperava que ficássemos
juntos. Ela era a única principessa que não se acanhava
em me abordar nos eventos e flertar inocentemente
comigo. Dei um sorriso plácido para seu convite implícito e
estendi a mão.
— Vamos dançar, então.
Seu sorriso se expandiu enquanto me deixava conduzi-la
ao centro do salão. Alguns casais dançavam ao redor e eu
mantive uma distância respeitosa de Sofia, como mandava
a etiqueta. Meu olhar desviou novamente para Giulia e ela
estava conversando com o filho do Sottocapo de Nova
Inglaterra, Antônio Ferrari. Confesso que vê-los
conversando me incomodou e isso nunca aconteceu antes.
Devo ter deixado transparecer algo, pois ouvi Sofia
dizendo.
— Segundo mamãe, a fachada é sofisticada, somente
isso: Fachada — Acompanhou meu olhar para as irmãs
Castelle e continuou. — A de cabelo preto longo quebrou o
nariz de um soldado a um tempo atrás na festa de
aniversário do capitão Conti, foi um escândalo.
Sua tentativa de dissuadir meu interesse me mostrou
duas coisas: eu deveria esconder melhor o que pensava,
interesse óbvio, em nosso mundo, poderia ser muito
perigoso. E eu precisava conversar com Giulia Castelle
para testar essa conexão.
— Vi alguém que preciso cumprimentar, com licença.
Ouvi Sofia chamar meu nome, mas continuei meu
caminho com destino decidido. Percebi o momento em que
Giulia se deu conta da minha intenção. Outros poderiam
não perceber seu sutil estreitamento dos olhos, quase em
desafio, porém eu era bom em ler pessoas. Sem desviar os
olhos, me aproximei.
— Dança comigo?
Ela olhou entre mim e Antônio, como se não soubesse o
que fazer. Antônio me fitou por alguns segundos, mas logo
se afastou com um sorriso forçado. Giulia me olhou
firmemente nos olhos e isso me surpreendeu e emocionou
ao mesmo tempo. Não sei se seria bom para uma esposa,
mas que era emocionante, era. Por um momento, achei
que ela negaria, pois franziu o cenho quase
imperceptivelmente, contudo, mais uma vez ela vestiu a
máscara polida da informalidade e da educação e aceitou
com um aceno. Ao invés de me sentir afrontado, encontrei
me divertindo como há muito tempo não fazia.
Seguimos para o centro do salão e minha mão foi ao
encontro de suas costas nuas. Senti seu estremecimento,
enquanto ela levantava suas mãos aos meus ombros. Pelo
pouco que conhecia sobre essa garota, poderia afirmar que
não era medo e segurei a vontade de dizer que a atração
era mútua.
A sua cabeça estava próxima ao meu queixo de forma
que senti o aroma do seu cabelo, um aroma floral e cítrico,
único, que me excitou instantaneamente.
— Rosas e frutas. Esse é um aroma que eu jamais
associaria a você — Ela se afastou alguns centímetros e
me olhou nos olhos.
— Acho que não nos conhecemos em nada para
associar qualquer coisa um ao outro — disse com
neutralidade controlada. Ela era mal humorada. Estranho,
eu me encontrava gostando disso também.
— Você está certa. Mas isso está prestes a mudar — Seu
passo vacilou e ela parou. Ela entendeu, mas a pergunta
estava ali em seus olhos. Sim, principessa, há uma grande
chance de que teremos tempo para mais do que se
conhecer.
— O que você quer dizer com isso? — Agora sua voz
tinha uma pitada de insegurança, incredulidade e até
mesmo medo. Aproximei nossos corpos e disse em seu
ouvido:
— Que vamos nos conhecer muito bem, em todos os
sentidos — Me afastei para encarar seus olhos e vi uma
tempestade se formar, quase me senti ofendido. Ela
esperava alguém melhor que o futuro Don? Teria alguém
esperando por ela em sua cidade? Isso não importava. Eu
sempre conseguia o que queria, ela aqui em meus braços,
e toda essa teimosia velada só me fazia ter mais certeza.
Ela seria minha. Estava decidido.
— Escutou isso? — Se eu não estivesse tão envolvido
em meus pensamentos, teria notado a mudança no
ambiente. Jamais me distraí assim.
Foi quando percebi o som de disparos, mulheres
gritando, correndo, um verdadeiro caos. Giovanni parou ao
meu lado:
— Infiltrados, Enzo disse que conseguiram interceptar
alguns soldados no lado de fora. Tivemos baixas. Os tiros
são de lá. Não sabemos se há algum deles aqui — Ele me
deu um olhar conhecedor.
Traidores.
A única explicação para a falha na segurança é porque
alguém de dentro passou informações. No meio do caos
nem percebi que Giulia já não estava ao meu lado.
— Provavelmente a Bratva. Todos os líderes da Cosa
Nostra em um só lugar é um convite. Eu falei desde o início
— disse Nero se aproximando.
— Organize uma linha de defesa, Nero. E você,
Giovanni, leve as mulheres para a sala de pânico. — Anita.
Minha irmãzinha deveria estar na parte de cima em seu
quarto dormindo. — Eu vou atrás de Anita.
— Considere feito — Nero disse já se afastando.
Sem esperar respostas, subi as escadas enquanto meus
homens tomavam conta da situação. Esse era o primeiro
ataque direto da Bratva. Até hoje, o máximo de confronto
que tivemos foram ataques aos nossos carregamentos de
drogas próximo ao seu território. Isso era uma declaração
de guerra aberta. Quando a família Ivanov governava a
Bratva, nós tivemos um período de paz. Eles eram justos e
íntegros, respeitavam o nosso território. Porém, Ivan
Nikolai massacrou a família Ivanov e, até onde sabemos,
não houve sobreviventes.
Chegando ao quarto da minha irmãzinha, encontrei a
porta aberta, a cama vazia e a cuidadora baleada no chão.
Terror se apossou de mim. Levaram minha irmã. Com
minha arma nas mãos, fui verificando os quartos e
banheiros, tentando escutar mais do que o caos e
empurrando o terror. Disquei o número de Nero.
— Senhor.
— Minha irmã foi levada — Tentei manter a voz firme —,
avisem a todos para que ajudem nas buscas.
— Cazzo! Sim, senhor, a situação foi contornada.
Conseguimos pegar alguns russos, outros foram mortos ou
conseguiram fugir. As mulheres estão na sala de pânico.
Vou convocar o restante para procurar no complexo.
Ele não queria dizer, mas eu sabia. Corríamos um sério
risco de ela ter sido levada muito antes de termos ciência
dos infiltrados.
Poucas pessoas importavam na minha vida e minha irmã
estava no topo dessa escala. Não deveriam ter saído do
complexo e mesmo os poucos soldados que não estavam
de serviço hoje já deveriam estar a caminho.
Próximo à escada, percebi que já não havia tanta
movimentação, mas antes que descesse, escutei vozes
abafadas em um corredor lateral. Aproximando-me com
cautela para que não fosse visto ou ouvido, vi na
semiescuridão dois malditos russos caídos no chão, uma
das irmãs Castelle, a do meio, segurando uma arma
apontando para o que estava de pé.
Va fanculo, ele estava com minha irmã, uma arma
apontada para sua cabeça, enquanto Giulia tentava fazê-lo
abaixar a arma. Já estava preparado para atirar na cabeça
do infeliz antes que me visse quando percebi que a mão
dele caiu ao seu lado e ele desfalecia com os olhos
arregalados e a boca sangrando. Foi somente depois que
ele caiu que entendi, atrás dele, a irmã mais nova estava
suspirando quase feliz.
— Odeio os russos — disse como se estivesse falando
que odiava chuva. Ela tinha lançado uma adaga na nuca
do russo como se fizesse isso todos os dias.
— O ballet teve alguma utilidade no fim das contas.
Passos de bailarina, silenciosos como a própria morte —
disse a irmã do meio.
Giulia se aproximou da minha irmã e a trouxe para junto
de si. Minha irmã se agarrou a ela como se sua vida
dependesse disso, chorando.
— Acalme-se, querida, acabou.
Nesse momento, eu me pus à vista e aproximei-me do
grupo. Minha irmã me reconheceu e se soltando de Giulia,
me abraçou fortemente. Eu a levantei nos braços.
— Ed, eu tive tanto medo — disse chorando. — Eles
disseram que virão me pegar.
— Shii, principessa, acabou. Ninguém vai encostar em
você, eu prometo. — As irmãs Castelle assistiram à cena
em silêncio. Eu não deveria falar com minha irmã assim em
público, deveriam estar surpresas, mas, no momento, eu
não conseguia me importar. Respirando mais aliviado,
liguei para Nero.
— Senhor — Ele atendeu prontamente. Quando
estávamos somente entre nós, formalidades não eram
necessárias, mas, em grupo, poderia ser considerado
desrespeitoso.
— Encontrei-a. Corredor norte, ala de visitas.
— Viva?
— Sim — Ouvi o seu suspiro aliviado.
— Grazie Dio13. Estou a caminho com Giovanni —
Desliguei o telefone e olhei para as irmãs Castelle, dando
um aceno agradecido. No momento, era a única coisa que
eu conseguiria fazer enquanto segurava minha irmã junto a
mim. Giulia segurou o meu olhar por alguns instantes,
percebendo a emoção dançando em seus olhos por ver
meu lado protetor e afável. Pela primeira vez na vida, não
tive vontade de esconder. Compartilhamos um olhar
cúmplice de quem faria qualquer coisa por seus irmãos e,
pela primeira vez, não vi a importância da minha irmã na
minha vida como uma fraqueza. Poderia ser por quase
perdê-la ou mesmo pelo exemplo de força e amabilidade a
minha frente.
13.Tradução livre da autora “graças a Deus”
Ouvimos passos no corredor, já estava com minha arma
no punho, a irmã de cabelo longo e preto tirou duas armas
do suporte que estava em sua coxa, por baixo das saias
esvoaçantes, sem desviar o olhar do corredor. Eu não via,
mas tinha certeza de que a loirinha teria uma adaga
escondida em algum lugar, e Giulia, protetoramente, se
colocou próxima a minha irmã, ficando entre mim e ela.
— Opa, opa, olha o que temos aqui, alguém fez uma
festa sangrenta e não me esperou — É Giovanni,
acompanhado de Nero, com as mãos para cima enquanto
avaliava o pequeno grupo, seu olhar focou na irmã do meio
com as armas nas mãos. — Uau, adoro as selvagens!
Ela estreitou os olhos, enquanto Nero decidia que não
havia perigo e ligava as luzes do corredor.
— Eu detesto os babacas — A irmã do meio soltou com
um bufo, ainda com as armas apontadas para o meu futuro
Consigliere. Ele deu um sorriso de merda e chegou bem
perto, encostando as armas em seu peito, ela deu um
sorriso que não chegou aos olhos. — Não me tente,
senhor.
Nero segurou o riso miseravelmente, disfarçando com
uma tosse.
— Milena, chega. Não se esqueça da importância da
hierarquia — Giulia disse com autoridade, ela parecia
exercer influência nas ações da irmã, porque Milena
suspirou mais uma vez, girou as duas armas nas mãos e
as colocou no suporte das coxas. Os olhos não deixaram
Giovanni, que arqueou as sobrancelhas e quase se
abaixou para dar uma boa olhada nas pernas da
esquentada. Quando voltou a olhar no rosto da moça, ela
revirou os olhos.
— Fofa! — Giovanni provocou com um sorriso e a
morena lhe lançou um olhar assassino.
— Idiota!
Eu perdi a paciência.
— Chega dessa merda. Qual a situação? — Meu tom fez
que com que todos saltassem.
— Tivemos algumas baixas entre os soldados. Ninguém
do alto escalão foi ferido. As mulheres estão em
segurança, mas estou com a impressão de que ainda não
terminou — Nero disse voltando ao seu modo capitão. —
De qualquer forma, os que conseguimos capturar já estão
no porão aguardando segunda ordem. Seu pai disse que
você está no comando hoje.
Percebendo que todas ouviam atentamente, afirmei.
— Vou deixar Anita com a governanta e nos
encaminhamos para o porão.
— Posso acompanhar? — disse a irmã mais nova com
as duas mãos juntas na frente do corpo adoravelmente,
como se não estivesse pedindo para presenciar uma
sessão de tortura. Giovanni soltou uma gargalhada e Nero
a encarava como se houvesse nascido outra na cabeça na
jovem. Essa garota era estranha.
— Claro que não — disse Nero bruscamente. Os olhos
dela brilharam.
— Está com medo que eu tire as informações muito mais
rápido que você? — Essa menina estava desafiando o
mais implacável dos meus soldados com a voz tão doce.
Sem mencionar que de altura, ele dava, ao menos, dois
dela. Nero era mais alto que eu e Giovanni. Eu estava
agradecido por terem salvado minha irmã, então resolvi
intervir antes que algo mais acontecesse.
— Prefiro que vá com suas irmãs e fique junto de sua
família, senhorita. Deixe que a gente cuide do trabalho —
Ela assentiu quase penalizada. Era a coisa mais estranha
de incontáveis maneiras.
— Mas eu prometo chamar quando precisarmos da sua
ajuda, Anabelle — diz Giovanni para a loirinha em tom de
brincadeira. Giulia tentou segurar o sorriso, Milena poderia,
a qualquer momento, sacar a arma e atirar em Giovanni, e
Nero, curiosamente, não gostou do apelido. A menina não
moveu um músculo do rosto, continuou sorrindo daquele
jeito estranhamente doce e calculado.
— Vamos — disse já me movendo para evitar uma
tragédia, logo eu que prosperava no caos.
— Deixe-a conosco, senhor — Me surpreendi com a voz
de Giulia — Acredito que possa ter traidores infiltrados, de
modo que não seja seguro deixá-la aqui. Se houver,
poderão tentar um novo ataque. Eu dou minha palavra que
conosco ela estará segura, até que vocês considerem que
o ambiente e a equipe confiáveis novamente — Hesitei de
início, mas sua linha de raciocínio fazia sentido. Eu não
tinha certeza de quem era confiável no momento e essas
três garotas salvaram a vida da minha irmã. Por hoje,
talvez fosse o correto. Ela deve ter percebido minha
hesitação, pois se aproximou e tocou meu antebraço,
dizendo com firmeza. — Vamos cuidar dela.
Eu acreditei nela. Era inexplicável, pois tinha acabado de
conhecê-la e esperava não estar enganado, mas ela me
inspirava uma confiança que eu não costumava dar tão
livremente. Eu tinha uma lista muito curta de pessoas
confiáveis e poderia dizer que, inexplicavelmente, ela
estava nesse grupo.
— Tudo bem — Abaixando-me, olhei para minha irmã. —
Anita, hoje você ficará na companhia dessas senhoritas,
mas amanhã irei buscá-la, certo? Seja uma boa menina.
— Tá bom, Ed — Ela me abraçou com força ainda muito
abalada. Eu gostaria de ficar com ela, porém, no momento,
eu tinha que exercer o meu papel. A Família precisava de
mim.
— Vamos, querida — Ela puxou minha irmã e então
virou-se para mim — Não precisa ter pressa. Ela estará
segura conosco, o tempo que precisar.
Acenei com a cabeça.
— Giovanni, acompanhe-as ao seu destino. Certifique-se
de que cheguem seguras e depois volte, pois precisarei de
você aqui.
Giovanni não questionou, mas eu ainda escutei o bufo de
Milena atrás de mim.
Enquanto eles seguiam, pude ouvir Giovanni:
— Gatinha selvagem, esse seu bufo é fofo, mas nada
educado...
— Confia nelas? — Nero questionou.
— Elas salvaram minha irmã. Neste momento, não vejo
ninguém melhor para confiar.
— Fizeram um estrago — Ele disse movendo a arma do
russo que detinha minha irmã.
— A colegial acertou a nuca do infeliz. Na semiescuridão.
Achei que nessa vida nada mais me surpreenderia, mas
estava enganado. Elas são alguma coisa.
Nero não disse nada e seguimos para o porão. No
caminho, encontrei meu pai. A sala de pânico já tinha sido
aberta e os convidados estavam dispersando-se para seus
locais.
— Anita? — perguntou como se realmente se
importasse.
— Segura — respondi e continuei meu caminho.
— Onde ela está? Ela é minha responsabilidade — Meu
pai adorava, simplesmente adorava falar isso para mim.
Ele sabia que esse era o meu calcanhar de Aquiles. Me
virei bruscamente para ele, já sem paciência para o seu
show de merda.
— Hoje ela é minha responsabilidade.
Inteligente, ele só concordou, mas o brilho de ódio do seu
olhar me acompanhou até o porão.
Descemos e já encontramos dois fodidos russos
amarrados. Ethore e Enzo eram nossos executores, eram
gêmeos e a satisfação que sentiam ao infringir dores era
quase sexual. Os russos já estavam muito espancados,
mas conscientes.
— Quem mandou vocês? — perguntei para o que
encarava com um sorriso ensanguentado.
— Seu reino vai cair. E a queda vai começar de dentro —
Eu só conseguia definir que era Ethore o que fez mais um
corte em seu peito por causa da cicatriz no pescoço.
Depois do corte e do grito do russo, eu dei sinal para parar.
Eu me aproximei do maldito e russo e disse com calma:
— Eu vou te dar mais uma oportunidade de falar o que
você sabe. Ou, então, eu vou atrás da sua família, da
mesma forma que você veio atrás da minha. Eu vou matar
seus pais, seus filhos, vou fazer suas irmãs, mulheres e
filhas serem nossas prostitutas. Você vai morrer sabendo
que sua família vai pagar pelo erro de você não ter falado.
Agora, se você soltar logo essa merda, quem vai morrer
será apenas você.
O homem perdeu um pouco do desdém quando falei
sobre a sua família.
— Você mexeu com quem não deveria. Vocês tocaram a
minha irmã — Eu tirei minha faca e atirei em sua perna,
atirei em seu braço amarrado, até sentir o osso O sangue
escorreu, o russo gritou, mas eu nem mesmo pisquei. — E
não pense que eu não iria atrás da sua família só para ter o
prazer de você saber que eu o fiz.
O russo finalmente falou.
— Nós não sabemos quem, mas há uns informantes
importantes aqui. Só estávamos cumprindo ordens.
Informantes. No plural.
Tínhamos traidores. Olhei para Ethore e Enzo.
—Se livrem deles.
Saí, seguido de Nero. Antes de sairmos, ainda
escutamos a lamentação dos russos.
— Está longe de acabar. — Nero murmurou. Fiquei em
silêncio, mas concordei com ele. Essa era uma guerra que
estava apenas começando.
— Não preciso dizer para que nada do que foi falado
deverá sair daqui. Não sabemos em quem confiar.
— Sim, senhor.
Antes que chegássemos à sala da mansão, uma
explosão eclodiu. Cazzo, o que poderia ser dessa vez?
Corremos para a entrada da casa, os Sottocapos,
Caporigemes, soldados, todos com armas nas mãos
olhavam chocados.
Um carro havia explodido.
O carro de Salvatore Maceratta, Consigliere e pai de
Giovanni.
Salvatore estava morto.
Capítulo 5
Giovanni mal nos deixou em casa e voltou para a
mansão Santorelli. Conseguimos trazer mamãe conosco e
alguns dos nossos guardas mais confiáveis para nossa
proteção. O que tinha acontecido era inédito em muito
tempo. Até agora, não houve ataques diretos entre A
Família e a Bratva. Esse era um novo nível de guerra, mais
pessoal, e tinha todo o potencial para ser sangrento.
Tínhamos traidores na Família, já não dava para ter
certeza do que era seguro. Entramos no apartamento,
Milena e Isabella se jogaram no sofá, enquanto eu trazia a
pequena Anita para sentar ao meu lado.
— Por Dios14, eu ainda vou ter um ataque cardíaco com
vocês. Por que é tão difícil seguir o protocolo? Vocês
deveriam parar de se arriscar desse jeito — lamentou
nossa mãe. Ela viera lamentando por todo o caminho. —
Primeiro, o incidente da cafeteria, vocês têm que parar com
a síndrome das meninas super poderosas e começar a se
comportar como as outras garotas do nosso meio. Giulia,
você, daqui a pouco, faz vinte e dois, como eu vou ter
netos se vocês continuam se comportando como
selvagens? Por Dios, preciso do meu remédio.
14. Tradução livre da autora “Por Deus”
Eu e minhas irmãs trocamos um olhar conhecedor. Isso
ainda ia longe.
— Se bem que dessa vez não vou mentir, foi o melhor.
Afinal, vocês salvaram essa preciosidade de garotinha.
Venha aqui, querida, deixe que eu te console por um
minuto.
Anita pareceu incerta, mas aceitou o abraço da minha
mãe. Eu e minhas irmãs tivemos muita sorte com nossos
pais. Em nossa sociedade, qualquer demonstração de
emoção era sinal de fraqueza. Geralmente, pais e filhos,
esposos e esposas mantêm uma distância dentro e fora de
casa. Mamãe sempre foi amorosa. Controladora, meio
louca, mas amorosa. Abraços eram comuns em nossa
família.
— Meninas, até hoje vocês tiveram sorte. Tem pouco
mais de vinte e quatro horas que estamos aqui e vocês já
estiveram ativamente em dois ataques. Que mãe aguenta
essa pressão?
— Mãe, não é sorte, é treinamento e habilidade. Tome
um remédio, vai descansar um pouco. Estamos seguras
aqui — disse Milena com impaciência. Ela ainda deveria
estar chateada, pois Giovanni veio a alfinetando o caminho
todo, dando abertura para que minha mãe reclamasse mais
e mais de nós. Enquanto eu e Isabella quase ríamos,
Milena mandava olhares assassinos em sua direção.
Nesse momento, o celular de mamãe toca.
— Querido. Por que não pode dizer a mim? Claro. Giulia,
seu pai quer falar com você — Ela nunca aceitou bem o
papai falar sobre negócios e situações comigo. Minha mãe
é ótima, mas dramática. Ela me passou o telefone.
— Papai.
— Filha, as coisas se complicaram — Ele fez uma pausa.
— Houve um atentado e o Consigliere está morto.
— Por Dios, Papa15! O que faremos? — Papai sempre
admirou o trabalho e a postura de Salvatore Maceratta.
15. Tradução livre da autora “Por Deus, papai”
— Ficaremos mais tempo que o previsto. Encontraram
bombas nos carros de vários membros — Meu sangue
gelou nas veias.
— Papa, no seu também?
— Sim. Não podemos confiar em ninguém, Giulia.
Ninguém. Estamos em guerra — Senti a seriedade do meu
pai. Ele confiava em mim para manter as coisas em ordem.
— Sim, papai. Não se preocupe conosco, estaremos
seguras. Fique seguro também.
Minhas irmãs já estavam alarmadas, em pé atrás de mim.
— O que aconteceu, Giulia?
Olhei para Anita que estava quase dormindo no sofá.
Falei em tom baixo para que somente minhas irmãs
escutassem, considerando que minha mãe já havia se
retirado, reclamando por ninguém levá-la a sério.
— Salvatore Maceratta está morto. Bomba no carro.
Depois que o carro dele explodiu, todos os carros foram
verificados. Encontraram bombas instaladas na maioria dos
veículos... inclusive no de papai.
— Papai está bem? — perguntou Bella. Ela sempre foi
mais contida em demonstrar as emoções, mas a família era
seu ponto de ruptura.
— Sim. Papai não tem horário para voltar. Precisaremos
nos cuidar por hora. Ficarei com o maior quarto, dividirei a
cama com a Anita. Vamos descansar por agora.
Minhas irmãs concordaram e seguiram para seus
quartos. Aproximei-me de Anita.
— Querida, vamos para o quarto — disse suavemente.
Ela acordou em sobressalto e quase chorando me segurou.
— Se acalme, querida, você está segura. Eu estou aqui
com você.
— Me desculpe — disse ela sem me soltar, abraçando-
me com força. Isso tocou meu coração de uma forma que
foi difícil explicar.
— Não se desculpe, Anita. Vamos para o quarto,
ninguém vai chegar perto de você, eu prometo.
Levantamos e a levei para o quarto. Ela olhou para a
cama assustada, mas eu conseguia ver que ela queria
parecer forte. Arrumei seu lado da cama e deitei-a. Tomei
um banho rápido e me deitei ao seu lado. Ela se virou para
mim e eu me virei para ela.
— Posso segurar a sua mão?
Ela me perguntou timidamente. Sem responder, eu
segurei suas mãos no meio da cama. Ela suspirou aliviada.
— Obrigada.
Não muito tempo depois, adormecemos.

Era cinco da manhã quando acordei. Mesmo cansada,


alguns hábitos não mudavam. Olhei para Anita que dormia
calmamente ao meu lado. Levantei, fiz minha higiene e fiz
um café. Fiquei na janela por alguns minutos, olhando o
nada, pensando em como toda essa situação mudaria a
dinâmica de nossas vidas. Escutei meu celular tocando no
quarto e corri, torcendo para que Anita não despertasse.
— Oi.
Eu sabia que tinha alguém do outro lado, porque
escutava a respiração. Olhei o visor e vi número que eu
não conhecia. Um alarme soou em minha mente. Poderiam
rastrear meu telefone? Tentar algum ataque por Anita? Eu
ia desligar quando finalmente obtive resposta.
— Como ela está?
Aquela voz. Eu a reconheceria em qualquer lugar e agora
sabia disso. Mil perguntas rondavam minha mente como,
por exemplo, quem tinha dado meu número. Mas me ouvi
dizendo.
— Ela está dormindo. Considerando tudo, ela está bem
— Mais uma pausa, Ele parecia decidir exatamente o que
dizer.
— Talvez eu demore mais tempo que o pretendido para
buscá-la. As coisas estão muito... complicadas — Ele
parecia cansado. Não deveria ter dormido.
— Papai me disse ontem. Não se preocupe, Anita está
segura conosco. Ficaremos por mais um tempo, se quiser
deixá-la aqui até que tudo se acalme, não será um
problema — Mais silêncio. Será que cruzei alguma linha?
Argh, que besteira. Desde quando eu me importava?
— Obrigada — Ele disse por fim. Não parecia estar
familiarizado com a palavra.
— Não se preocupe com Anita, Eduardo. E se possível,
se cuide também — Não deveria ser da minha conta, mas
de repente me senti preocupada com seu bem estar. Isso
era estúpido de várias maneiras, mas simplesmente não
conseguia conter meus pensamentos com ele.
— Eu preciso desligar. Salve esse número, é o meu
pessoal. Qualquer coisa que Anita precisar... ou você. Me
ligue.
Ele desligou.
Voltei a deitar de repente me sentindo muito cansada.
Eu conhecia a índole de Lorenzo Santorelli. Papai
sempre foi leal à causa, leal à família, mas nunca escondeu
que nosso Don era um homem ruim, não da forma
convencional, mas do tipo ruim que não poupa a família e
passa por cima de qualquer pessoa para conseguir o que
quer.
Não imaginei por um segundo que seu filho fosse
diferente. Vê-lo essa noite, depois do que aconteceu na
cafeteria, foi um choque. Quando me chamou para dançar,
usando todo seu poder alfa para dispensar Antonio e
fazendo aqueles comentários, eu fiquei envenenada,
achando que era um idiota classe A. Mas vê-lo cuidando de
Anita, se preocupando, tocou uma parte do meu coração.
Confesso que julguei Eduardo por seu pai e posso ter sido
muito injusta em meu julgamento. Alguém que se preocupa
com a irmã como ele se preocupou não pode ser tão ruim
assim. E, confesso, seus olhar me faz ter borboletas do
estômago.
Oh, Deus, esse caminho é perigoso!
Anita procurou inconscientemente a minha mão e eu a
estendi, o cenho que estava franzido se suavizou com o
contato.
Exausta, deixei o sono me tomar.

Quando acordei novamente, já se passava das dez horas


da manhã. Levantei em um sobressalto, eu deveria
realmente estar muito cansada, pois não dormia assim em
muito tempo. Olhei para Anita que ainda dormia ao meu
lado, ela também deveria estar exausta. Levantei, fiz minha
higiene, coloquei uma calça de lã grossa e um suéter, pois,
mesmo com aquecedor, estava muito frio. Sentindo-me
mais humana, fui para a cozinha, onde escutava a
conversa das minhas irmãs.
— Buongiorno — disse sentando-me à mesa.
— Bom dia — responderam Isabella e Milena.
— Mamãe está dormindo?
— Ela já tomou café. Estava pensando nas variadas
formas de matar papai por não ter dormido em casa
quando avisamos sobre o ocorrido.
— Droga, com tudo isso, acabei esquecendo-me de
avisá-la.
— Não te culpo — disse Milena contendo o riso enquanto
engolia um croissant. — Mamãe, em modo drama, é quase
impossível.
— Eu estou escutando sua insolência, Milena.
Não nos contivemos e caímos na risada. Nesse
momento, Anita apareceu na porta.
— Bom dia, querida, venha tomar café conosco. Você viu
a escova fechada que deixei no balcão do banheiro?
Ela acenou que sim e sentou-se ao meu lado.
— Não tenho roupas — disse se servindo de leite.
— Não se preocupe, minhas roupas servirão por hora em
você. Talvez não fique certinho, mas, de nós três, sou a
menor — disse Isabella.
— Ou podemos voltar para sua casa e buscar algumas
roupas, o que acha? — sugeri.
Anita empalideceu.
— Tudo bem, as roupas de Isabella irão servir por
enquanto. Ela é magra e não cresceu suficiente — Milena
disse em um sorriso, enquanto Bella lhe socava o ombro.
Anita olhava encantada a interação das minhas irmãs.
— Ora, por favor, deem um alívio a mamma de vocês e
se comportem a mesa. O que dirá Anita ao pai dela? Que
são bárbaras. Vocês não se preocupam com o que
pensarão de mim, que não soube educar vocês.
Anita soltou um risinho.
— Não se preocupe, senhora. Eu sempre quis irmãs. Eu
acho que elas são muito divertidas — A voz de Anita tinha
uma nota de melancolia. Ela de repente pareceu uma
solitária. Era só uma garotinha que não tinha uma presença
feminina em sua vida que não fossem as empregadas.
— Você não tem amiguinha? — perguntei.
— Sou educada em casa. E dificilmente posso sair, então
não — Muitas meninas eram educadas em casa. Era uma
medida de proteção que, embora houvesse perdido força,
alguns tradicionalistas mantinham. Seu pai, pelo jeito, era
um desses.
— Então, a partir de agora, você será a nossa irmãzinha
postiça, Anita — disse Milena apertando a mão da garota
por sobre a mesa.
— E agora você tem amigas — disse Isabella com o
mesmo humor sorridente.
— E eu quero que vocês me ensinem a lutar e me
defender, assim jamais serei levada por inimigos — Isso
nos deixou sem palavras. Talvez o seu pai tradicionalista
não aprovasse a nossa influência selvagem.
— Ora, por favor, querida, não as encoraje. Eu ainda vou
parar em um hospital por passar tanto susto. Se tivesse
três filhos no lugar delas, acho que seria menos pavoroso.
Eu e minhas irmãs trocamos um olhar e seguramos o
riso. Dona Alessandra, em modo drama, era realmente
impossível.
— E como novas amigas, ao terminar o café, iremos
todas assistir a um filme, juntas — Milena disse e o sorriso
que a pequena Anita deu foi o mais iluminado que já a
tinha visto dar.
— Eu adoraria, obrigada.
Uma vontade de proteger essa garotinha tomou conta do
meu coração. O que era cotidiano, para mim e minhas
irmãs, para ela, parecia a maior aventura do mundo. Ela
não deveria ser sozinha e exilada e, nesse momento, mais
uma vez, mesmo com todo o drama que envolvia minha
mãe, eu agradeci internamente pelos meus pais.
Capítulo 6
Era terça- feira desde o ataque e eu mal tinha dormido.
Estava exausto, todo o ocorrido tinha, literalmente, me
tirado do eixo. Um ataque dessa importância não poderia
passar sem resposta.
Durante os três dias que seguiram, conseguimos
informações sobre alguns soldados traidores, Nero já tinha
resolvido o problema, mas ainda não estava convencido de
que todos foram entregues, ele tinha certeza que alguém
do alto escalão estava envolvido, mas os soldados russos
e os da Família não entregaram, nem sob a pressão.
Hoje seria o funeral de Salvatore Maceratta.
Salvatore foi um bom Consigliere, um homem leal que eu
admirava muito.
Anita ainda estava com as irmãs Castelle e eu não tinha
compartilhado essa informação com ninguém além de
Nero, Giovanni e a família Castelle. Mesmo meu pai, eu
não dei essa informação. Os russos queriam levá-la para
usá-la contra a Cosa Nostra. As coisas pareciam estar se
normalizando lentamente.
Todo início da manhã, eu ligava a Giulia para saber de
Anita e ela parecia estar gostando do tempo com as
Castelle. Eu me vi ansiando por essa ligação mais do que o
normal, para escutar sua voz doce, sua respiração. Isso
estava se transformando em uma obsessão. Eu poderia
falar com seu pai, mas não, eu precisava ligar para ela toda
manhã. Elas ficariam com minha irmã durante o funeral e
amanhã eu iria buscá-la.
O funeral aconteceu sem intercorrências, Giovanni
tentava parecer forte, mas eu o conhecia o suficiente para
saber que ele estava mal. Se eu perdesse o meu pai,
provavelmente não sentiria nada, mas Salvatore foi um
bom pai na medida do possível. Encontrando Enrico
Castelle, eu o abordei na saída do cemitério. Estávamos a
caminho de uma reunião, aproveitando a presença de
todos os Sottocapos e demais homens, para a nomeação
oficial de Giovanni como Consigliere.
— Eu estou grato por terem acolhido minha irmã por
esses dias. E por seu silêncio — Agradecer não era
comum para mim. Eu não costumava dever nada a
ninguém, mas, nos últimos dias, me via mais e mais em
dívida com a família Castelle. O homem, com olhos de
cores diferentes, me fitou.
— Não precisa agradecer, senhor. Eu tenho filhas e faria
qualquer coisa pela segurança delas — Eu não pensava
que elas necessitassem de cuidados, porém resolvi
guardar esse comentário.
— Eu também gostaria de conversar particularmente com
você sobre sua filha Giulia. Como sabe, necessito de uma
esposa. Até onde sei, ela não está comprometida e
gostaria que pudéssemos entrar em um acordo.
O patriarca dos Castelle me encarou um pouco surpreso.
— Senhor, devo advertir que minhas filhas,
especialmente Giulia não foi criada como as moças
tradicionais da Família. Ela tem opinião forte, pode ser
teimosa e não sei se seria uma opção para a esposa de um
Don. Ela é sensata e faria isso por mim, se eu pedisse.
Mas se for contra a vontade dela, digo, senhor, esse
casamento já começara condenado.
Isso quase me fez rir. Eu sabia, em primeira mão, que ela
não era convencional. Eu deveria me importar, sabia que
deveria, mas eu realmente não dava à mínima. Eu não
quebraria a sua vontade, porque foi essa vontade que me
atraiu em primeiro lugar.
— Você sabe que eu poderia conseguir tudo sem o seu
consentimento. Isso é apenas uma questão de respeito, eu
poderia tê-la sem me importar com sua vontade ou a dela.
— Eu sei, senhor. E digo que não o impediria. Mas você
é um homem inteligente e eu conheço a minha filha. Se
tentar moldá-la a algo que não é, o resultado pode ser
negativamente surpreendente.
Ele tentava proteger as filhas, poderia ter receio por meu
pai ser como era com minha mãe e suas concepções
ultrapassadas, não era exatamente um segredo o sadismo
do meu pai, mas Enrico poderia ficar tranquilo. Eu queria
Giulia por quem ela era. Eu não a quebraria e me
vangloriaria entre os homens como muitos faziam. A
preocupação de Enrico de que eu fosse como meu pai não
me afrontou, pelo contrário, me fez respeitá-lo. Mantendo
meu tom neutro, disse:
— Por sua sinceridade, vou dizer abertamente que eu
vou tratar sua filha com respeito, não é minha intenção ser
cruel com ela. Se eu tivesse tempo, faria tudo isso com
calma para que ela me conhecesse até se acostumar com
a ideia. Mas eu não tenho tempo, preciso de uma esposa e
tudo que posso dar é a minha palavra de que ela estará
segura comigo. Não pretendo fazer-lhe mal.
Ele ainda hesitou por alguns segundos até que acenou.
— Claro. Com certeza, se você está decidido quanto a
isso — Outro pai entregaria a filha sem pensar duas vezes,
mas ele se preocupava mais com elas do que com o poder.
— Aguardamos você amanhã para o jantar e assim
oficializamos o compromisso.
Com o acordo feito, seguimos para a reunião.

Se eu pudesse, poderia poupar Giovanni da cerimônia de


nomeação oficial. Ele tinha acabado de enterrar o pai, mas
isso seria um sinal de fraqueza, o que não era bom para o
início do seu legado.
No centro do círculo, com um punhal no centro da mão,
rodeado pelas principais famílias da Cosa Nostra, Giovanni
reforçava o seu juramento.
— Juro sobre este punhal de omertá, com a ponta
molhada de sangue, e na frente da honrada sociedade, de
ser fiel aos meus companheiros. Juro e nego tudo. Lo giuro
e nego tutto.
E todos repetem:
— Lo giuro e nego tutto. Lo giuro e nego tutto. Lo giuro e
nego tutto16.
16. Tradução livre da autora “Juro e eu nego tudo”
A cerimônia de lealdade estava concluída.

— Já tenho uma escolhida.


Do seu lugar, no escritório, ele me avaliou. Ele não
estava feliz por eu esconder o paradeiro de Anita. A
verdade é que eu ainda não confiava em ninguém, pois
ficou claro que ela era o alvo. E eu nunca confiei em meu
pai, apesar do mesmo nunca ter dado indício de traição
contra a Família.
— E quem seria? — Ele me olhou desconfiado.
— A mais velha de Enrico Castelle. Amanhã iremos
oficializar o compromisso.
— As pessoas falam muito delas. Não sei se seria uma
boa esposa... Se bem que é uma emoção quebrar a que se
acham mais fortes. Mas pensei em Sophia DeLucca.
Controlei-me para não fazer um buraco no meio dos seus
olhos. Nada jamais aconteceria a Giulia, eu jamais
permitiria e o simples fato dela ser machucada por mim ou
qualquer outro despertava o meu instinto assassino. Seria
ela ou mais ninguém.
— Esteja lá amanhã às oito da noite.
Virei-me e saí do escritório.
Não queria ele perto de Giulia, mas era tradição que ele
estivesse presente. Nesse momento, agradeci a seu pai
por ensiná-la a defender-se.
Capítulo 7
Entrei no escritório de papai. Era bem menor que o da
nossa casa em Filadélfia, mas, por hora, serviria. Não era
estranho que ele me chamasse para conversar, papai era
aberto quanto aos negócios, principalmente comigo.
— Precisa de mim, Pappa?
Ele me olhou e seu comportamento estava diferente. Não
estava com o notebook na mesa, não vi papéis, somente
um olhar de quase pesar.
— Eduardo Santorelli pediu a sua mão em casamento.
Entramos em acordo, hoje à noite ele virá oficializar o
compromisso.
Fiquei estática por alguns segundos.
Eu queria gritar, queria ter alguma voz para ser ouvida,
que minha opinião fosse validada. Mas eu sabia que um
dia isso iria acontecer. E papai nada poderia fazer para
impedir, ele era o Don.
Eu só me fazia uma pergunta: Por que eu?
Eu não era a esposa ideal, ainda mais para um Don. Eu
poderia me sair bem em alguns eventos, mas, com certeza,
preferia meu saco de pancadas. O quanto da minha vida
iria mudar?
— Por que eu?
Meu pai não respondeu. Certamente também não sabia.
Meu pai era um homem implacável e, pela primeira vez
na vida, o vi impotente. Meu pai sempre fez de tudo por
nós e era chegada minha hora de ser grata. Um casamento
com o Don era politicamente vantajoso, significava poder e
influência. Eu não o desapontaria. Eu não poderia.
— As armas, Giulia. Você tem as armas, use-as.
Estava difícil para engolir, um nó na garganta. Respirei
fundo, eu era forte, eu era prática, eu daria conta.
— Certo. Estarei pronta no horário.
Sem mais palavras, saí do escritório e fui direto para meu
quarto. Quanto minha vida mudaria? Não demorou muito e
Milena e Isabella entraram e fecharam a porta.
— É verdade? Papa te comprometeu com o Eduardo? —
perguntou Milena.
— Parece que sim — disse sem emoção.
— Como ele pôde! Giulia, o pai dele é um sádico maldito.
Quem garante que ele não será igual? — Ela estava
histérica.
— Ele não me pareceu assim, Milena. Ele se preocupa
sinceramente com a irmã, não acredito que se preocuparia
com ela se fosse de todo ruim. Anita fala dele com carinho
— ponderou Isabella.
— Você está disposta a arriscar a integridade dela? —
Milena estava com sangue nos olhos.
— Meninas, por favor, parem. Não é como se papai
pudesse fazer algo. E eu sei cuidar de mim.
— Você poderia fugir! Nós vamos cobrir você Giulia.
— Para, Milena. Eu não sou uma covarde, não vou fugir.
Vamos ver como serão as coisas primeiro — Eu
aparentava mais confiança do que realmente tinha. Eu
precisava conversar com ele primeiro.
A noite chegou mais rápida do que eu estava preparada.
Mamãe estava em êxtase, latindo ordens para todos os
lados, alheia a toda minha tensão. Coloquei um vestido
vermelho, tomara que caia, corpete justo, solto abaixo da
cintura, que ia até a panturrilha. Meu cabelo está solto, e
maquiagem com destaque para os olhos, batom e sapato
nude.
Um vestido chegou para Anita, ela participaria do jantar.
Parecia mais real a cada segundo. Anita estava em êxtase
e meu coração doeu por ela. Segundo ela, finalmente
seríamos irmãs e ela não seria mais sozinha.
E Milena estava com humor terrível.
— Mi, por favor, eu vou te pedir que não torne tudo ainda
mais complicado do que já é. Eu gostaria que você não
causasse nenhuma confusão. Somente hoje, por favor. Eu
jamais permitiria que alguém me machucasse ou me
fizesse de capacho. Você deveria ser a primeira a saber
disso.
Ela me olhou por alguns segundos, mas assentiu
contrariada.
—Tudo bem — disse por fim. — Deixe que eu dê um jeito
nesse cabelo. Vamos deixá-la mais sofisticada para que
você receba seu adorável noivo.
Senti um frio no ventre, mas disfarcei o mal estar. Eu
conversaria com ele, somente isso me deixaria mais
aliviada.
Não muito tempo depois, a campainha tocou. Eu estava
nervosa, mas não demonstraria fraqueza, eu não poderia.
Eduardo se aproximou, cumprimentando minha mãe e
irmãs. Logo ele se aproximou de mim e eu senti a minha
pulsação na garganta. Ele segurou minha mão e a levou
aos lábios.
— Você está linda — Sua voz era quase sensual. Eu
ainda estava confusa por não saber o que esperar de toda
essa situação.
— Eu agradeço.
Logo atrás estava Lorenzo Santorelli, seu pai. Eu o tinha
visto muito pouco e conversado quase nada. Ele segurou
minha mão e beijou-a, mas diferente de Eduardo, eu senti
uma vontade gritante de retirá-la. O olhar dele me deu
calafrios, mas qualquer coisa que não fosse um sorriso
poderia ser considerada desrespeitoso.
— É um prazer vê-la novamente... filha.
Senti que o comportamento de Eduardo mudou, ele
estava com o maxilar trincado. Ele não confiava no pai,
tampouco, eu. Se ele estava com raiva do pai, talvez ele
fosse diferente. Eu percebi que até mesmo Anita mudou
seu comportamento, estava mais contida. Que família mais
estranha.
Cazzo, eu precisava tirar isso do caminho. Olhei para
Eduardo e disse para que só ele ouvisse.
— Precisamos conversar.
Ele franziu o cenho levemente, mas concordou. Ninguém
o impediria de falar comigo, claro. Fomos para a sacada e,
tirando o olhar de Milena, todos fingiram não perceber.
Estava frio, mas eu nem me importei. Eu precisava saber o
que me esperava e estar sozinha com ele me diria que tipo
de homem ele seria. Fizesse o que fizesse, ninguém o
impediria.
Encostei na grade e esperei. Ele parou casualmente ao
meu lado, mas não me tocou. Precisando esclarecer a
situação de uma vez, perguntei.
— Por que eu?
Ele me olhou, mas eu continuei focada no nada a frente.
Ele olhou para frente novamente e respondeu.
— Eu preciso de uma esposa. Foi me dado um prazo, e
se não fosse isso, eu tomaria meu tempo cortejando você,
até se acostumar comigo.
— Isso não responde a minha pergunta — Me virei para
ele. — Por que eu?
Ele também se virou e aproximou-se. Meu coração
acelerou e senti o aroma de seu perfume. Era uma mistura
de medo e antecipação. Eu só não sabia dizer antecipação
exatamente do que.
— Porque desde que eu te vi, eu quis você.
Isso me desconcertou. Deixei minha máscara escorregar,
mostrei toda a minha insegurança.
— Você deve saber que não sou uma princesinha
convencional. Eu não acredito em príncipe encantado ou
cavalheiro de armadura brilhante. Eu tenho a minha própria
armadura. Eu preciso saber o que você espera de mim —
Se aproximando mais ele respondeu.
— Eu espero respeito e sinceridade. Isso virá dos dois
lados. Eu te darei meu nome, minha proteção, mesmo que
você diga veementemente que não precise. Eu não quero
te controlar ou te fazer infeliz. Eu quero você de bom grado
na minha cama, eu te deixarei livre para fazer as coisas
que você faz no dia a dia em sua casa. Eu preciso que
você me acompanhe nos eventos e seja uma companhia
para Anita. Eu espero que ela venha viver conosco assim
que eu assumir meu lugar. Talvez você não acredite agora
Giulia, mas eu não quero me casar com você para te fazer
mal.
Eu estava paralisada, pois enquanto ele fazia seu
discurso, sua mão passeou nos meus ombros e na
clavícula, contornando meu pescoço até que estivesse a
uma respiração de distância. Senti algo quente em meu
interior. Minhas mãos foram para seu peito e eu fiquei na
dúvida se o empurrava ou o aproximava.
Em um só suspiro, ele baixou suas mãos em minha
cintura e me puxou contra o seu peito, esmagando minha
boca com a sua, invadindo com a língua, sem pedir licença.
Foi um beijo possessivo, quase impossível de não
responder com a minha própria paixão. Foi desenfreado.
Libertador.
Eu já tinha beijado alguns garotos na escola e até tinha
dado uns amassos, mas era a primeira vez que sentia uma
paixão tão avassaladora.
Suas mãos apertaram minhas costas e eu senti uma
vontade de escalar o seu corpo. Era uma loucura, eu
estava descontrolada. Ele afastou o rosto do meu com um
meio sorriso que deu vontade de tirar do rosto dele com um
murro.
— Você está com frio, vamos entrar — Ele disse tão
casualmente como se não tivesse acabado de me beijar
com toda essa paixão. Eu arrumei meu cabelo com o
sangue fervendo, agora de raiva, e entrei na frente dele,
batendo os pés.
Ainda consegui ouvir uma risada baixa atrás de mim.
Stronzo17.
17.Tradução livre da autora “Idiota”
Ainda estava fervendo, evitando o olhar de Eduardo
quando o jantar foi servido. Como eu pude perder o
controle assim? Ele obviamente sabia o que estava
fazendo. Eu, com medo de que ele dominasse minha vida
pela força, acabei percebendo que seu método era outro.
Sedução. Mas eu não seria dominada, não mesmo.
— Você deve saber que é uma responsabilidade imensa
ser a esposa do Don, certo? — O velho Don me tirou do
devaneio.
— Sim, claro — respondi tentando soar casual.
— Eu sei que lá, na Filadélfia, você ajudava bastante o
seu pai, nós compreendemos, pois sua mãe não deu um
filho para seu pai. Mas agora as coisas precisam ser
diferentes, como esposa do Don, seria inadmissível que
você continuasse. Sua vida deve ser dedicada a casa, aos
filhos e ao seu marido.
Tudo que eu temia. Eu não tinha nascido para isso.
Milena estava vermelha de raiva e até mesmo Isabella fez
uma careta. Milena bateu a colher no prato com mais força
que o necessário. Isso chamou a atenção do Don, os olhos
brilharam em minha irmã.
— Algum problema, bambina18? — Milena olhou
desafiadoramente e respondeu.
18.Tradução livre da autora “criança”
— Além dos seus conceitos ultrapassados e retrógrados?
Imagina, nenhum — O sorriso dela era gelado. O Don
estreitou os olhos. Minha mãe chiou, meu pai ficou tenso e
ficamos em um silêncio sepulcral.
— Acho que sua filha tem que aprender a respeitar a
hierarquia, Enrico. Alguém deve dar-lhe uma lição — A voz
do Don era contida, mas sua fúria era perceptível. Isabella
também estreitou os olhos e eu já estava quase em pânico.
Milena, finalmente, encontrou meus olhos e mirou Isabella.
Ela deve ter visto o pânico em meus olhos, pois, enfim,
falou:
— Peço desculpas, Don. Eu me excedi. Certamente
estamos acostumadas a falar livremente com meu pai, mas
não justifica minha falta de respeito.
Os olhos do Don continuaram em Milena. Ele acenou,
aceitando o pedido de desculpas, mas aquele brilho nos
olhos dizia que não estava tudo bem. Ele era um sádico
perigoso e eu não gostei daquele olhar.
— Certo — disse por fim —, mas voltando a você, Giulia,
certamente...
— Don, quem decide as atividades de minha esposa sou
eu.
Eu não sabia se me sentia humilhada ou agradecida.
Humilhada por não poder dizer o que penso abertamente e
agradecida por Eduardo ter me defendido.
Eu odiava ser a mocinha indefesa.
— Mas estou certo que você não irá permitir...
— Isso não é seu problema — A voz de Eduardo era
baixa, mas cortante. Ali, naquele olhar, eu vi o mafioso
cruel que ele era. Eu só esperava que essa ira jamais se
estendesse a mim.
A tensão era palpável. Até minha mãe estava quieta. Os
olhos do Don brilharam em direção a Eduardo, mas ele
assentiu. Logo, papai trouxe outro assunto e, por hora,
minhas atividades futuras estavam esquecidas.
—Você precisa vê-la tocando piano e harpa, senhor.
Nossa Giulia é a musicista da família — disse minha mãe
para Eduardo. Alguém deveria avisá-la que não era mais
necessário fazer propaganda mi ha, eu já estava noiva. Ele
olhou para mim e respondeu.
— Não vejo a hora — Pareceu genuinamente
interessado.
O restante do jantar aconteceu sem mais intercorrências.
Eu ainda estava nervosa com minha nova situação, mas
confesso que também estava ansiosa. Olhando meu futuro
marido do outro lado da sala conversando com meu pai e o
seu, me permito estudá-lo por alguns segundos. Ele era
lindo, isso eu não poderia negar.
Eu gostei do beijo, mesmo que ele tenha sido um pouco
cretino depois.
Seu cabelo castanho, cheio, barba sofisticada, olhos
escuros, dava um ar sombrio, quase sensual. E eu tinha
tocado aquele peito firme e quente. Sim, eu estava
secando meu noivo. Eu estava atraída por ele.
Confusa, nem notei que estava me encarando de volta.
Seus olhos se estreitaram e ele me deu um sorrisinho
conhecedor. Acho que ruborizei, droga! Eu nunca ruborizo,
isso é coisa de menininha afetada. Desviei e voltei à
atenção ao monólogo de Milena sobre a última tendência
de algum lugar no mundo.
Capítulo 8
Quando acordei, no dia seguinte, após a oficialização do
meu compromisso, a primeira coisa que fiz foi ligar para
Giulia. Era seis da manhã. Ela sempre estava acordada
nesse horário. Eu já estava aprendendo alguns de seus
hábitos. Eu estava me sentindo um pouco bobo com essas
ligações, mas eu simplesmente não poderia me parar.
— Qual é a desculpa para me ligar agora? — Ela me
atendeu mal humorada e eu não contive o sorriso que se
espalhou em meu rosto.
Cazzo, eu estava sorrindo mais nesses dias do que na
minha vida toda.
— Eu preciso de uma desculpa para ligar para minha
noiva?
— A não ser que você ou Anita estejam em apuros, ou
esteja acontecendo um incêndio, ou alguém muito
importante tenha morrido, sim, você precisa de uma boa
desculpa — Sua respiração estava ofegante, o que me
explicava que ela estava treinando.
— Bom, então aí vai mais um hábito o qual você terá que
se acostumar, Giulia. Eu vou te ligar sempre que eu quiser,
com incêndio ou sem incêndio, e você vai falar comigo —
Eu poderia vê-la revirar os olhos.
— Você é muito estranho, você sabe disso?
— Já me disseram.
— Bom, agora que já falamos, eu preciso continuar meu
treino. Até.
A pequena bruxa desligou.
Desligou.
Eu deveria estar afrontado? Deveria.
Eu estava? Não. Eu estava rindo igual um idiota. Se não
tomasse cuidado, logo ela me teria na palma de suas
mãos.
Nosso casamento seria em três meses. Minha cerimônia
seria na próxima semana, para ocupar o lugar de Don.
Giulia voltaria para sua cidade hoje, para começar a
preparar o casamento que aconteceria em Nova Iorque.
Faltando um mês exato para o casamento, ela voltaria com
sua mãe e suas irmãs e ficariam aqui. Ela ir embora dava
uma sensação estranha no peito. Esse tipo de conexão era
inédito para mim, as pessoas que me importavam sempre
foram a minha mãe e a minha irmã. Eu nunca pensei muito
em como seria com uma esposa, mas pareço estar
fazendo um bom progresso com Giulia. Eu, com certeza,
me importava com ela, com sua segurança e seu bem-
estar.
Os dias se passaram assim. Eu ligava para Giulia todos
os dias. Inicialmente, ela mal falava comigo, eu também
não era bom com as palavras, mas apertar seus botões era
divertido e natural. Ela estava ficando mais confiante, mais
falante comigo. Acho que o telefone ajudava. Com o
tempo, ela confiaria em mim, o que é um bom começo para
um casamento.
Na falta de oportunidade de fazer um cortejo digno, eu ia
conhecendo mais dela por telefone. Sei que o pai dela fez
questão que as filhas fossem treinadas como qualquer
soldado. Sei que ela ajuda com os negócios de seu pai e
que sabe sobre os conflitos da Família. Sei que é uma
espécie de líder entre as irmãs. Percebi que, quando fala
sobre sua família, seu tom se aquece. Eu vi em Giovanni
uma família funcional de verdade, sua mãe protetora,
apaixonada pelo marido. Uma das raras famílias felizes na
Máfia, e as vezes que fiquei por perto, me senti incluído em
todo aquele cuidado.
O que era uma bobagem, mas eu era apenas um
menino.
Com o tempo, a dura realidade bateu em meu rosto.
Minha família sempre foi infeliz e distorcida, todas as
minhas vivências me fizeram ser quem sou. Mas ainda
assim toda vez que escutava a voz de Giulia, sua adoração
à família, sua inteligência aguçada, e a forma como, aos
poucos, ela estava se aquecendo para mim me faziam ter
um desejo, lá no fundo, de ser melhor por ela. De dar um
lar harmonioso, mesmo que eu não fosse capaz de dar
amor, me esforçaria para que ela se sentisse confortável ao
meu redor.
Eu não era capaz de sonhar com mais.
Ninguém poderia amar a escuridão.

Minha cerimônia ocorreu quinze dias após o meu


noivado. Após a cerimônia, foi realizada uma
comemoração pequena, somente entre os membros de
Nova Iorque. Ainda estávamos cautelosos após o ataque
passado, cada Sottocapo cuidaria de suas fronteiras.
Na recepção, após todos os cumprimentos, sentei com
Nero e Giovanni.
— Então, em menos de três meses, teremos uma nova
senhora Santorelli — Ouvi Nero dizer.
— É o que parece — disse com indiferença. A verdade é
que eu estava muito animado com essa perspectiva.
— Seu pai comentou que você está comprando uma
casa — provocou Giovanni.
Era uma mansão digna de uma rainha, porque ela
merecia. Tudo que eu pudesse fazer por ela, eu faria, sem
limites.
— Sim — respondi ainda olhando o ambiente. Qualquer
outro entenderia que eu estava dando o assunto por
encerrado. Mas, bem, esse era Giovanni.
— Comprando uma mega casa.
— Cala a boca, Giovanni.
— Fiquei sabendo até que vai ter uma academia toda
equipada, espaço para a gatinha selvagem praticar seus
tiros, e até mesmo para Anabelle treinar com suas adagas.
Eu ia perder a paciência com essa merda. Estávamos em
público e por mais que eu confiasse em Nero e Giovanni,
ainda não estava seguro sobre em quem confiar. Qualquer
indício de afeto sobre Giulia poderia ser visto como uma
fraqueza e eu não faria dela um alvo. Olhei para ele para
que entendesse que eu não falaria sobre isso.
— Você só tem que estar ciente, vai ter que andar na
linha. Sabe que se tentar qualqu...
Eu vi vermelho. Segurei-o pelo colarinho e o empurrei na
parede. Nero tentou entrar no meio, mas não dei espaço,
assustando os outros membros presentes. O que ele
estava pensando? Que eu seria como meu pai, que eu a
machucaria? Eu não era ele, porra.
— Cuidado com suas próximas palavras, Giovanni.
Amigo ou não, para tudo tem um limite.
Ele não tentou sair, levantou as duas mãos e disse:
— Me desculpe, Don. Era uma piada.
Praguejando, eu soltei Giovanni e fui para a área da
frente. Precisava respirar ar puro. Claramente, Giulia era
um limite para mim. Ouvi saltos e fechei os olhos. Eu já
sabia quem era, só que esse era o pior momento.
— Está tudo bem? — Sophia DeLucca estava perto,
muito perto de mim. Afastei-me alguns centímetros e
respondi:
— Sim — Mesmo que tudo em mim apontasse para não.
Ela parou ao meu lado na varanda e se aproximou
casualmente novamente. Seu ombro roçando meu peito.
Novamente me afastei.
— Fiquei sabendo do seu noivado. Talvez eu deva te dar
os parabéns? — Ela virou-se para mim. Os olhos estavam
feridos. Eu sentia muito por ela, mas não era o melhor
momento para ser amável.
— Seria bom — Ela estreitou os olhos e passou os
braços em meu pescoço. Eu fiquei surpreso por alguns
segundos, ela jamais foi deliberada assim sobre o seu
interesse.
— Talvez eu tenha que te convencer que fez a escolha
errada — Ela estava aproximando seu rosto do meu, mas,
ao sentir que minhas mãos seguravam seus braços e ver o
meu rosto, ela parou.
— Se afaste — Segurei seus braços a minha frente, com
força, e me afastei.
— Você está me machucando — Isso me parou.
Soltei seus braços como se me queimassem. Talvez eu
não fosse tão diferente do meu pai e isso me perturbou por
alguns segundos.
— Me desculpe. Só... me deixe aqui — Meu vacilo a
encorajou.
— Eu só acho que ainda vai se arrepender de sua
escolha. As Castelle não são preparadas para serem
esposas, ainda mais do Don. Quer uma influência daquela
para sua irmã?
Aquilo me irritou. Sem tocá-la, cheguei perto e disse:
— E quem seria a esposa ideal para um Don? Você? É
exatamente por isso que ela é perfeita para ser a minha
esposa, porque ela não esperava — Com um riso seco,
finalizei. — Não tenha ambições. Agora, por favor, saia.
Ela me olhou com raiva, mas saiu. Eu puxei uma
respiração profunda.
Peguei meu telefone, precisava falar com Giulia.
— Você sabe, vou começar a cobrar por cada vez que
você me atrapalha assim. Eu estou aqui vendo uma
infinidade de modelos de vestidos — Ela estava sendo
ácida, mas só o som da voz dela me acalmou. Isso era
uma merda, não gostaria de mulher nenhuma com esse
poder sobre mim.
— Você sabe, acho que vou ter que dar um jeito de
colocar você em seu lugar — Ela ficou em silêncio. Merda,
droga! — Giulia, eu estou sendo sarcástico, eu jamais faria
mal a você.
— E você teria que ser dois para tentar qualquer coisa
contra mim. E nunca dormir ao meu lado — Eu não queria,
mas dei risada. Eu adorava irritá-la — O que você precisa?
— Sua voz agora era mais casual.
— Eu só queria falar… com você — Droga, eu parecia
um tolo. O que estava acontecendo comigo? — Me fala o
que você está fazendo, o que você fez, qualquer coisa.
Eu só queria ouvi-la. Ela falou sobre o dia dela, primeiro a
contragosto, mas logo tagarelou sobre vários tópicos. Por
fim ela perguntou:
— Está tudo bem?
— Sim, está tudo bem.
— Não. Não está. Algo te aflige — Eu não disse nada —
Você sabe, você pode falar sobre qualquer coisa comigo.
Eu não queria falar sobre as minhas merdas, então achei
que já era hora de terminar essa conversa.
— Estou bem, cara mia. Preciso desligar, mais tarde te
ligo para te dar um boa noite.
Eu estava me transformando em um stronzo por essa
garota. Eu precisava me controlar, eu precisava parar, mas,
com ela, eu só pensava depois. Sem esperar resposta, eu
desliguei.

Naquela mesma noite na mansão de meu pai, fizemos


uma reunião com os Caporigemes, de Nova Iorque, Nero,
Giovanni e meu pai. Eu sentei na ponta e começamos a
falar sobre todo o sistema de segurança, sobre a
possibilidade de mais traidores infiltrados, sobre as
possibilidades de novos ataques. Meu pai comportava-se
como se ainda estivesse no comando de tudo. Se ele
soubesse como eu estava sorrindo por dentro.
Minha trajetória inspirou respeito e confiança na Família.
Alguns já estavam cansados dos abusos de meu pai, então
a troca veio em um bom momento. No final, eu fiz o
comunicado que esperei por muito, muito tempo para fazer.
— Estão dispensados. Pai, eu gostaria que você ficasse
junto com meu Consigliere e meu Capitão-Mor.
Quando todos saíram da sala, finalmente eu fiz o meu
discurso:
— Até hoje você foi o Don e você dominou a Cosa Nostra
como bem entendeu. Mas acho que não ficou claro que
essa posição não é mais sua, ou você não estaria aqui. Eu
não quero mais a sua participação nas nossas reuniões. Eu
tenho a minha própria equipe de apoio. Eu não preciso de
você.
Meu pai era um homem robusto. Ele também era grande,
e usava disso para suas atividades sádicas. Após minhas
palavras, consegui ver todo o ódio em seu olhar. Ele só
rivalizava com o meu próprio.
— Ora, seu...
— E, a partir de agora, Anita é minha responsabilidade.
— Nos seus sonhos, ela é minha responsabilidade.
— Não seja hipócrita, você nunca teve responsabilidade
com ninguém. Você só foi um bom Don e nada mais. Você
foi leal e é só por isso que eu não tiro a sua vida. Mas, a
partir de agora, você vai ficar longe do meu caminho e
longe dos negócios da Cosa Nostra — Com um riso seco,
finalizei. — Considere uma aposentadoria.
Levantei da cadeira, seguido de Nero e Giovanni. Antes
que atravessasse a porta, escutei:
— Você acha que é melhor. Que terá mais, que merece
mais. Você é tão filho da puta quanto eu. Meu sangue corre
em suas veias, figlio. A minha escuridão é a sua. Não se
iluda achando que pode ter o que não merece. Você vai
destruir tudo o que tocar, não se engane.
Eu me virei, deixando transparecer todo o meu ódio.
— Eu não sou você. Eu nunca serei como você.
Ele deu um sorriso diabólico.
— Serão os seus sentimentos que destruirão tudo o que
você acha que merece.
Nessa hora, Nero sacou uma arma e apontou para o meu
pai.
— Mais respeito com o Don — Sua voz era letal. Meu pai
vacilou por alguns segundos, ele sabia que Nero só
precisava de uma palavra. — Peça desculpas.
— Me desculpe, Don — Meu pai disse, mas, antes de
baixar o olhar, eu vi o ódio e a promessa de que não tinha
terminado.
Capítulo 9
Faltava um mês.
Um mês para o meu casamento.
Durante todo esse tempo, Eduardo e eu mantemos um
ritual. Inicialmente, ele me ligava de manhã, muito cedo, o
que me irritava, mas, no fundo, me lisonjeava. Era bom
saber que ele pensava em mim quando acordava. Era
estúpido também começar a ter pensamentos de mocinha
apaixonada, afinal, mal nos conhecíamos.
Eu tentei me manter impassível, mas algo sobre isso
pareceu tão natural que logo as conversas monossilábicas
passaram a monólogos extensos em que ele me escutava
atentamente. A impressão que eu tinha era de que ele
queria saber tudo sobre mim. Logo, começaram a surgir
ligações noturnas, ou quando ele estava chateado em
algum momento do dia. Mesmo que ele não fosse aberto
sobre o que o chateava.
Ele falava pouco, quando perguntei de si mesmo, ele deu
respostas rasas. Agora eu estava indo para Nova Iorque e
passaria o mês organizando os últimos detalhes do
casamento e, claro, a minha nova casa.
Por telefone, as coisas tinham sido naturais, Eduardo
tinha mostrado um lado atencioso que eu jamais imaginava
que ele teria. Um dia ele disse que falar comigo o
acalmava. Eu não me acho nem um pouco “calma”, mas
ele dizer isso me deixou com o coração quentinho.
Milena ainda estava reticente quanto ao casamento, mas
vendo como estávamos nos aproximando, parou de falar
sobre o assunto.
Isabella dizia que ele estava apaixonado e mamãe
estava nas nuvens com tudo.
Casamentos na Máfia raramente eram por amor. Eu não
alimentava expectativas quanto a isso, mas se ele
continuasse sendo tão atencioso assim, eu correria um
sério risco de cair de amores por ele.
Chegamos à Nova Iorque e eu estava estranhamente
ansiosa. Pessoalmente, seria o mesmo? Eu deveria
recebê-lo como? Um abraço?
Não, eu não daria um abraço nele, a menos que ele
tomasse a iniciativa.
Cazzo, eu estava igual uma dessas principessas
afetadas.
Eu não sou assim.
Vesti-me casualmente, estava muito nervosa, mas de um
jeito diferente da última vez que o vi aqui. Calça jogger
preta, branca nas laterais, uma t-shirt preta lisa e um tênis
Anabela.
— Filha, você vai receber seu noivo que, por acaso é o
Don, vestida assim? Cadê os seus vestidos? Você trouxe o
Valentino?
— Mamãe, não vou usar um Valentino em um jantar
informal em casa. Não surta!
— Não existe ocasião para usar um Valentino — diz
Milena entrando na sala.
Minha angústia acaba quando finalmente a campainha
toca. Não sei como é possível, mas meu coração está
disparado, as palmas de minhas mãos estão suadas, estou
pura mulherzinha e nem é meu casamento ainda.
A porta se abriu e ele entrou com toda sua glória
masculina. Seu olhar não deixou o meu enquanto ele
cumprimentava minha mãe e minhas irmãs. Quando se
aproximou de mim, tomou minha mão e beijou-a como
quando nos conhecemos. Eu queria mesmo era pular nele.
Aquela apreensão de como eu reagiria na frente dele
desapareceu. Ali, em seu olhar, eu senti segurança. Ainda
éramos nós.
— Olá, principessa — disse sem soltar minha mão.
— Oh, não, cara. Principessa, não. Eu não sou uma
princesa, pense mais antes de me colocar um apelido
carinhoso.
Isso lhe arrancou uma pequena gargalhada e eu me vi
sorrindo junto. Percebi que estávamos sozinhos na sala e,
reunindo minha coragem, puxei seu pescoço e dei um
beijo.
Eu tinha pensado no nosso beijo nos últimos dois meses.
Sua surpresa durou menos de um segundo, logo senti seus
braços em volta de mim, correspondendo ao meu beijo
apaixonadamente.
— Alguém estava com saudade — Ele resmunga entre
meus lábios. Dei um soco em seu estômago, mas ele era
simplesmente uma rocha. Senti seu estremecimento, mas
foi quase nada, ele segurou minha mão rapidamente e
tentou me aprisionar, fui mais rápida, desviei e dei outro
golpe, de leve. Ele riu e mais uma vez segurou minhas
mãos, me apertando de encontro ao seu peito. Era quase
como preliminares. — Mal humorada.
Ele me beijou novamente e eu me perdi em seu aroma
masculino, seu corpo quente e a sensação maravilhosa da
intimidade. Sexo com ele deveria ser maravilhoso, eu
poderia sentir a antecipação em minhas veias. Soltei um
gemido com o pensamento e ele aprofundou o beijo,
soltando minhas mãos. Eu o trouxe para mais perto,
nossos corpos colados. Esse era um beijo mais carnal.
Para quem tinha uma fachada fria, esse homem poderia
ser quente. E ele seria meu. Todinho meu. Finalmente, nos
afastamos, afinal, eu estava a alguns metros de mamãe.
— Amanhã, eu quero sair com você. Reserve-me o dia —
Ele disse em um fôlego só. Sua respiração estava
ofegante, assim como a minha.
— É muita arrogância achar que pode vir e simplesmente
me mandar fazer alguma coisa, e se eu já tivesse
compromisso? — disse por provocação. Claro que eu
queria ir com ele, mas ele não mandava e desmandava em
mim.
— Você teria que desmarcar. — Ah, esse cara!
— Você é tão irritante. Eu vou, mas só porque eu quero.
Ele ri novamente, o som do seu riso é simplesmente
perfeito. Ele deveria sorrir mais. Ele para aos poucos e me
encara, eu ainda amolecida em seus braços.
— Você é impossível.
— Espero que isso seja bom.
Ainda me olhando intensamente, responde.
— É.
— Vocês estão agindo como um casal super apaixonado
— Milena disse entrando no meu quarto sem bater. Eu
estava terminando de me arrumar, Eduardo me pegaria em
alguns minutos para, segundo ele, uma surpresa.
— Não estamos apaixonados, estamos tirando o melhor
proveito da situação.
— Confesso que não achei, sinceramente, que ele fosse
capaz de ser afável. Ele te trata bem, devo admitir. Não
tirou os olhos de você, o tempo todo te tocando. Acho que
ele nem percebeu.
— Você está sendo exagerada — Eu também percebi
isso e contive um sorriso. Eu estava me transformando em
uma tola perto dele e nem sei mais se isso era ruim. Milena
estava estranhamente séria. — Você está bem?
— Sim, quer dizer... É só que as coisas não serão mais
as mesmas. Você sempre foi a responsável, nossa líder e
agora você vai morar aqui e... eu vou sentir a sua falta. E,
no fundo, eu gostaria que ele fosse um cara horrível, que
você percebesse e não se casasse. Mas, poxa, o cara é
quase perfeito. Eu quase o odeio por isso. Estou sendo
egoísta?
As lágrimas não derramadas brilharam em seus olhos.
Meu coração se apertou, realmente, sempre fomos unidas
em tudo, mesmo com nossas diferenças. As coisas
mudariam e eu estava um pouco culpada.
— Eu também vou sentir muita falta de vocês. Mas um
dia isso aconteceria, você sabe...
— Eu não vou me casar, Giulia. Eu não sou corajosa
como você, me casar e contar com a sorte. Eu não sou
assim. Papai sabe disso. E você sabe que eu tenho minhas
próprias aventuras.
Eu sabia. Milena sempre chamou muito a atenção, era
um verdadeiro furacão, nunca se importou muito com as
regras, por isso ela vivia intensamente. Enquanto eu não
passei da segunda base, ela já tinha mais experiências que
eu. Papai não sabia, claro. Ou se sabia, não comentava.
Ele não deveria ser totalmente cego às escapadas dela,
com toda a certeza que ele fazia vista grossa, ele também
não era bobo.
— Você deve tomar cuidado, Milena. Por favor, só tome
cuidado. As coisas aqui em Nova Iorque são diferentes,
não se envolva com ninguém da Família. Essa é a regra
básica.
— Não se preocupe comigo. Eu estou aqui para te ajudar
no seu calvário, relaxa.
Eu dei um sorriso e um abraço em Milena. Ela era segura
de si, sabia o que queria, mas nada me isentava de me
preocupar.
— Seu príncipe mafioso chegou — Eu escutei a porta e
dei uma última olhada no espelho. — Você está linda,
Giulia.
Olhei meu vestido preto, listrado de branco, e meu tênis
Sneaker19 preto. Não estava ruim. Mais ansiosa do que
pensava que estaria, me encaminhei para a porta e me
deparei com meu lindo noivo, vestido com uma calça preta
e camisa branca. Ele me deu um meio sorriso, enquanto o
meu era radiante. Mamãe ainda estava incerta quanto a me
deixar ir, porém ele era o Don, não tinha como falar não a
ele.
19.e um tipo de tenis muito usado
Despedi-me de minha família e assim que entramos no
elevador, Eduardo me pressionou na lateral com seu corpo
e me beijou sem mais explicações. Eu corri minhas mãos
por seu peito, pela nuca, pelo cabelo cheio enquanto sentia
seu gosto. Senti mais pressão de suas mãos em minhas
costas, enquanto eu procurava o atrito do seu corpo. Eu
queria suas mãos por todo o meu corpo.
— O que você está fazendo comigo... — Era um
questionamento retórico. Queria dizer que comigo era o
mesmo, mas não conseguia me parar.
O elevador parou e nos afastamos quase com um
lamento, ele segurou minha mão e me guiou para o
estacionamento. Os seguranças nos seguiram e fomos
sozinhos em seu carro.
— Onde está me levando?
— Surpresa — Ele respondeu sem tirar os olhos do
trânsito.
— Não sou boa com surpresas. Diga-me de uma vez –
pedi.
— Surpresa — Dessa vez, ele me olhou e deu uma
piscadela.
Entramos em Carnegie Hill, famosa por suas mansões
clássicas luxuosas, até onde eu sabia, era um dos bairros
mais caros de Nova Iorque, frequentado pela alta
burguesia. A casa que morávamos na Filadélfia era
maravilhosa, mas essas eram outro nível. Logo, paramos
em frente a uma mansão medonhamente grande. Um
grande portão de aço foi aberto e entramos em uma área
gramada que ia da lateral a um espaço gourmet com
piscina. A casa parecia um palacete, na entrada de ambos
os lados, havia uma escadaria que se encontrava na porta
de entrada. Era toda branca, clássica, de tirar o fôlego.
Paramos na frente e descemos. Subindo a escada,
paramos na porta.
— De quem é essa casa? — perguntei.
— Nossa — Ele respondeu com um sorriso quase tímido.
– Quer entrar?
Eu ainda estava em choque, sem conseguir articular uma
palavra, então, simplesmente, o acompanhei. A sala de
estar estava limpa, organizada, e totalmente mobiliada. De
onde eu estava, via parte da sala de jantar, sala de TV.
Adentramos e tinha uma cozinha toda equipada com
utilitários nunca usados. Ainda me segurando pela mão, ele
nos levou a uma sala mais afastada. Abriu a porta e tinha
um lindo piano de cauda e uma harpa ao lado. Na lateral,
um divã, alguns quadros que decoravam e um tapete
felpudo no centro.
— Para você tocar pra mim — Eu ainda não conseguia
falar. Minha garganta se apertou.
Ele me levou para o andar de cima, onde eu
simplesmente não fui capaz de contar os quartos. Era
maior, muito maior que a mansão de seu pai. Mais
moderna também. Um quarto estava todo decorado e eu
logo soube que seria o quarto de Anita. Não segurei o
sorriso, essa garotinha já tinha o meu coração.
Ele me levou para outro quarto, a suíte master que
estava em um terceiro andar e ocupava todo o espaço, o
nosso quarto. O closet era maior que o meu próprio quarto,
a cama era gigante, a vista maravilhosa, no banheiro, tinha
uma banheira que beirava uma minipiscina. Na Filadélfia,
vivíamos no subúrbio da Pensilvânia, longe da agitação.
— Eu imaginei que talvez você se sentisse melhor se
morássemos mais longe da agitação. Eu sei que deveria
ter falado com você antes de escolher tudo sozinho, mas,
bem, eu queria fazer uma surpresa. Caso você não goste,
tem total liberdade para mudar qualquer coisa, acima de
tudo, quero que se sinta confortável e...
Eu o silenciei com um beijo. Que homem era esse?
Como eu poderia não gostar da casa? Era tudo perfeito. Eu
tinha medo do tanto que tudo isso parecia perfeito.
— Eu amei tudo — Ele soltou uma respiração. — Não
precisava de tudo isso, na verdade. Mas obrigada.
— Um rei precisa de um palácio. — Ele colocou meus
cabelos longe do meu rosto. – E de uma rainha — Esse
homem. Estava tornando impossível não me apaixonar por
ele. — Porque é isso que você será, Giulia. A rainha da
Família, a rainha dessa casa.
Eu queria ser a rainha da vida dele também, mas ele não
disse isso. No momento, eu estava grata demais para fazer
qualquer cobrança, acho que eu tinha muito mais do que
imaginei que teria se um dia me casasse por conveniência.
— Eu tenho mais uma surpresa.
Isso me arrancou mais um sorriso.
— Mais uma? Quem diria que o senhor Don, com toda
aquela seriedade e arrogância, seria tão amável com sua
futura esposa.
Ele me deu um olhar divertido.
— Também estou surpreso. Venha.
Segurar minha mão estava se tornando um hábito. Ele
me levou escada abaixo, e logo na lateral, outra escada
abaixo e quando terminamos de descer o que parecia ser
um subsolo, eu perdi totalmente o fôlego.
Era uma academia, muito parecida com o centro de
treinamento que meu pai construiu para mim e minhas
irmãs. Tinha um treinamento de tiro esportivo, um tatame
para luta, aparelhos de musculação, uma piscina esportiva.
Era completa e moderna.
Dessa vez, meus olhos arderam. Porque não era
simplesmente pela academia em si, mas pelo que ela
significava. Eduardo não queria que eu mudasse, não
queria que eu me moldasse. Ele me aceitava como eu era
e com tudo o que vinha comigo e isso significava mais do
que essa casa e essa academia. Significava aceitação
incondicional. Vendo meu estado, Eduardo segurou meu
rosto.
— Eu quero que você saiba que sei o que dizem a meu
respeito e da minha família, mas eu jamais machucaria
você intencionalmente.
— Já tem um tempo que eu sei disso. Eu confio em você
Eduardo — Algumas lágrimas desceram e eu queria me
chutar por isso.
— E eu vou ter certeza de que você jamais perca essa
confiança em mim. Eu prometo.
Com Eduardo, eu me sentia única, especial, como se
fosse o centro de todo o seu mundo. Seus lábios baixaram
para os meus, pela primeira vez, com calma, sem pressa,
quase calculadamente. Eu senti esse beijo da minha
cabeça aos dedos dos pés. De repente, eu queria ficar
mais próxima, eu me sentia quente em todos os lugares.
Suas mãos ficaram mais frenéticas, de modo que me
levantou pela minha bunda e me trouxe ao encontro de sua
protuberância. Bem no lugar onde eu precisava de atrito.
Meu cabelo estava selvagem, eu desabotoei sua camisa
para pegar em seu peito, sentir sua temperatura sem nada
ao nosso redor. Os olhos de Eduardo escureceram e só
então eu percebi que ele me levava ao tatame, me
colocava aos meus pés e, em uma respiração, tirava o meu
vestido, me deixando de calcinha e sutiã de renda preta.
Ele caiu de joelhos e beijou minha barriga, acariciando
minhas pernas como se eu fosse uma deusa e ele, o meu
súdito.
Eduardo alternava entre suavidade e selvageria, mordia e
beijava meu estômago, quadril, apertava minha bunda e eu
não poderia dizer que me importava. Ele levantou e
acariciou os meus seios, tirando meu sutiã e, sem muita
cerimônia, levando meu mamilo à boca enquanto
acariciava o outro, puxando e beliscando. Eu me sentia
quente e consumida, era quase demais. Ele me deitou no
chão, e me olhou com adoração. Ele não me tocou e eu
estava começando a ficar consciente.
— Você é perfeita...
Eu sorri, eu o queria, queria ser dele completamente,
queria tanto que doía por dentro.
— Me faça sua, Eduardo.
Ele se levantou, tirou sua roupa e cobriu meu corpo com
o dele. Sentir o seu corpo muito maior que o meu me deu
uma sensação de vulnerabilidade enorme. Eu odiava me
sentir vulnerável, era como dar total poder a outra pessoa.
Como se sentisse minha mudança, Eduardo segurou meu
rosto:
— Eu vou cuidar de você. Sempre.
Eu acreditava nele e isso me relaxou. Eu envolvi meus
braços e o beijei profundamente. Senti sua ereção na
minha coxa, enquanto Eduardo afastava minhas pernas e,
com delicadeza, tocava meu centro. Soltei um suspiro, eu
já tinha me dado prazer, mas pelas mãos enormes de
Eduardo era outro nível de excitação. Ele inseriu um dedo
e eu arquejei. Eduardo continuou trabalhando com suas
mãos até que eu senti todo o meu corpo estremecer ao seu
toque, sendo arrebatada em um orgasmo que me fez
flutuar.
Mal me recuperei do orgasmo e senti que a ponta de seu
pau em minha entrada. Ele foi avançando lentamente sem
parar, mesmo quando eu agarrei suas costas com minhas
unhas pela pontada de dor, ele fez o caminho até estar
completamente dentro de mim.
Por algum tempo, ele me olhou nos olhos sem se mover.
Tirou meus cabelos do meu rosto que estava suado e me
beijou. Eu me sentia esticada quase ao limite, e ainda
sentia uma ardência terrível, mas ao ver seu olhar em mim,
seu cuidado com o meu bem-estar, eu tive certeza, eu
esperei todo esse tempo para isso, para sentir essa
conexão. Eu sabia que jamais me arrependeria.
Passei minhas pernas ao redor de sua cintura em um
assentimento silencioso para que se movesse. Quase
aliviado, ele iniciou seus movimentos lentamente, mas logo
ele se mexeu com mais velocidade. A dor misturada com o
atrito de nossos corpos deu lugar a um indício de prazer,
queria que ele soubesse que poderia se soltar, era visível
que ele estava se segurando comigo. Apertei seu corpo
junto ao meu e, com um gemido eu percebi qual foi o exato
momento em que Eduardo se perdeu. Seu olhar ficou
selvagem, sua respiração acelerada, ele se levantou pelos
cotovelos e se moveu sem piedade.
E eu amei cada investida. Eu o queria assim, entregue,
como eu tinha me entregado.
Com uma última investida, ele chegou ao clímax e soltou
seu peso em cima de mim. Foi deliciosamente maravilhoso.
Eu beijei a curva de seu pescoço, nossos corpos suados,
banhados pelo tumulto do meu interior e de nossa
respiração.
Ficamos assim por um par de minutos até ele se levantar
nos braços.
— É sempre devastadoramente bom assim? — perguntei
com um sorriso. Ele segurou meus olhos e respondeu.
— Não. Nunca foi assim.
Isso aqueceu meu coração de maneira que eu não queria
entender agora. Saber a que pé estamos poderia levar a
perguntas, e as respostas poderiam não ser o que eu
esperava. Eduardo, em vários momentos, deu a entender
que não era merecedor de nada. Não que ele tenha falado
claramente, talvez nem ele percebesse, mas ele pensava
muito pouco de si mesmo. Com o tempo, eu o faria se ver
como ele realmente é. Um Don justo, um bom irmão e um
bom noivo.
Eduardo levantou-se e o movimento me deu uma
pontada de dor quando ele saiu de mim. Ele deve ter
percebido, pois foi ao banheiro que tinha na lateral, trouxe
uma toalha e cuidou das minhas partes de menina. Foi
constrangedor e doce ao mesmo tempo. Ele ficou sério de
repente.
— Pode ser meio tarde para dizer, mas eu estou tomando
contraceptivo.
Isso nos fez rir, mas logo seu rosto mudou junto com o
seu tom.
— Eu não deveria ficar com você pela primeira vez em
um tatame, praticamente no chão.
Eu me sentei, me aproximei e lhe dei um beijo leve nos
lábios.
— Foi perfeito.
— Você merece mais, Giulia.
— Eu quero você em qualquer lugar, em todos os
lugares.
Seu olhar brilhou em mim e um sorriso lento puxou seu
rosto. Ele acariciou minha bochecha.
— Eu vou te dar o mundo.
“Eu só quero o seu coração”, eu queria dizer. Mas eu não
estragaria o momento com sentimentalismo. As coisas
aconteceriam no momento que tivessem que acontecer.
Hoje eu estava muito feliz, por enquanto, a sua dedicação
a mim era o suficiente. Por enquanto.
Porque eu queria tudo.
Capítulo 10
Eu e Giulia não tivemos tanto tempo para nos ver nos
dias que seguiram após levá-la para conhecer a casa. Ela
estava envolvida com tudo relacionado à festa de
casamento, enquanto eu estava trabalhando com Nero e
Giovanni a respeito da segurança do casamento. Faltava
menos de quinze dias e eu queria ter certeza de que seria
seguro. Nero ainda não estava de acordo em fazer um
evento grandioso, mas era o casamento do Don. Qualquer
coisa além de grandioso poderia ser entendido como
medo. Dessa vez, estávamos preparados. Uma equipe de
elite composta apenas pelos homens de confiança de Nero
faria a guarda do evento, especificamente dos noivos e de
Anita. Era uma equipe secreta, até que pudéssemos
confiar no restante dos soldados e Caporigemes. Nero
estava convencido de que alguém do alto escalão estava
envolvido e ainda não havia sido pego. Ele também tinha
certeza de que haveria outra tentativa, onde o alvo era a
família Santorelli.
Pensar que Anita e Giulia poderiam estar em perigo, me
deixava muito nervoso.
— Você está certo de que ainda há conspiradores? —
perguntei a Nero, estávamos no escritório da minha
cobertura.
— Tenho quase certeza. Também estou certo de que
haverá outra tentativa de ataque.
— Malditos russos! — cuspiu Giovanni.
— Os homens dessa equipe de Elite, tem certeza de que
são confiáveis?
— Sim. Eles são. Eles seguirão todo passo de ambas. E
os seus.
Assenti. Eu não tinha medo por mim.
Continuamos nossos assuntos relacionados aos
negócios quando a campainha tocou. Olhei atentamente
para ambos. Eu não estava esperando ninguém. Tinha
segurança lá fora, mas nunca se sabe. As únicas pessoas
que tinham passagem liberada eram Anita e Giulia, e Anita
estava por esses dias com a família Castelle e Giulia, muito
ocupada com o casamento. Ambos, Nero e Giovanni,
sacaram suas armas e chegamos à porta. Era fim da tarde,
olhei pelo olho-mágico e suspirei. Giulia. Abri a porta e ela
me deu um sorriso radiante.
— Surpresa!
Ela estava acompanhada de suas irmãs. Eu estava
imensamente feliz em vê-la, mas ao mesmo tempo estava
preocupado por sua segurança. Mas ela pareceu tão
insegura sobre estar ali que a puxei para meus braços.
— Olá, principessa — falei baixinho em seu ouvido e dei
um beijo em sua fonte.
— Já falei que não sou uma princesa — Ela revirou os
olhos e saiu do meu abraço. Ao perceber a presença de
Nero e Giovanni, ela deu um olá e entrou no meu
apartamento. Suas irmãs acompanharam com um olá
coletivo, percebi que Milena não olhou na direção de
Giovanni. — Queria conhecer sua casa. Estávamos dando
uma volta no Central Park e lembrei que você morava aqui
próximo. Meu pai conseguiu o nome do seu edifício e
resolvemos fazer uma surpresa. Espero não ter
atrapalhado.
— Venha comigo um instante — Levei-a para a varanda,
não dando a mínima para o olhar debochado de Giovanni.
Eu precisava ficar sozinho uns minutos com Giulia.
Chegando à varanda, sem mais palavras, a puxei para um
beijo, levantando-a do chão sem romper o contato de
nossas bocas, sentei-a na mureta e fiquei entre suas
pernas.
— Alguém estava com saudades — Ela jogou minhas
palavras de volta. Ri em seus lábios. De repente, a
possibilidade de algo acontecer a ela me bateu como um
tapa.
— O que foi? Aconteceu alguma coisa? — Ela deve ter
percebido a mudança.
— Não é nada que você tenha que se preocupar,
principessa — Seus braços caíram em seu colo. Isso me
fez encara-la.
— Não faça isso. Por favor, não me trate como uma
mulherzinha burra. Se você não quer falar o que te aflige,
tudo bem. Eu quero ser sua parceira e quero que confie em
mim, mas não vou implorar. Só não me diga que não é
nada.
Isso me surpreendeu. Giulia não era como as outras
mulheres, ela estava acostumada a comandar em seu
pequeno mundo. Ela não estava acostumada a ficar no
escuro, seu pai compartilhava informações com ela.
Segurei seu rosto.
— Eu só não quero te preocupar.
— Eu não sou uma boneca de porcelana. Nem uma
princesinha.
Ela estava irritada, eu não aguentei e sorri. Ela, claro,
tentou me golpear com um soco no estômago. Eu fui mais
rápido e defendi o golpe ainda sorrindo. Ela ficou ainda
mais determinada a me acertar e isso só me fazia rir mais e
mais. A vida jamais seria morna com Giulia. Em um único
golpe, eu imobilizei seus braços e a beijei ferozmente. Ela
lutou um pouco, mas logo se entregou. Suas mãos foram
para meu cabelo e puxou a raiz. Eu mordi seu lábio inferior
e então soltei.
— Nero acredita que ainda há conspiradores. E tem
certeza de que tentarão algo em nosso casamento.
Ela me olhou por alguns segundos, com os braços em
meu ombro, e encostou nossas testas.
— Eu imagino que não deve estar sendo fácil. Mas você
não está sozinho, Eduardo. Nós estaremos juntos em tudo
agora.
— Eu me preocupo com você, Giulia. Nero acha que
você e Anita podem ser os principais alvos.
— E eu me preocupo com você, Eduardo.
— Se preocupa? – perguntei levantando meus olhos para
os seus.
— Claro que me preocupo! Você é o meu noivo, eu me
importo com você. Como eu deveria não me preocupar? —
Ela estava quase indignada.
— Não é como se você tivesse alguma escolha a
respeito desse casamento. Eu praticamente me impus a
você — Ela segurou meu rosto com as mãos para que eu
não desviasse os olhos.
— Acredite em mim quando digo que vou andar naquele
corredor e te dizer sim porque eu quero. Porque eu sou
sua. Porque eu não me imagino fazendo isso com qualquer
outra pessoa.
— Você não preci...
— Sim, eu preciso — Ela disse com mais firmeza. —
Você deve entender de uma vez por todas que eu quero
estar aqui, você não precisa me convencer. Você tem que
entender, Eduardo, que você é maravilhoso para mim. Mais
do que um dia eu imaginei que seria.
— Você merece tudo, Giulia.
— Você me dá tudo o que preciso. Você é tudo o que eu
preciso.
Meu coração falhou uma batida. Eu não sei o que tinha
feito para merecer sua devoção, mas eu cuidaria de
qualquer sentimento que ela me desse com a minha vida.
Eu jamais exigiria, eu só tomaria o que ela estivesse
disposta a dar, porque tudo o que tinha em mim era dela e
só dela.
Ela me beijou novamente, até que ouvimos vozes
alteradas vindo da sala.
— Vamos, antes que eles se matem.
Mal chegamos à sala e vimos uma Milena alterada e
Giovanni com cara de deboche, enquanto Nero estava no
sofá e, na outra extremidade, Isabella.
— Será que sai uma pipoca? Só estamos no segundo
round — sussurrou Isabella enquanto aproximávamos.
— Graças a Deus, você voltou.
— Você está ferindo meus sentimentos, gatinha
selvagem.
— É srta. Castelle para você. Já disse para não me
chamar assim, você não é meu amigo ou nada próximo a
isso para me chamar de qualquer coisa que não seja Srta.
Castelle.
— Acredite, amigo é a última coisa que eu quero ser para
você.
— Eu deveria me preocupar com o que você quer?
Giulia, vamos embora ou vou cometer um assassinato.
Giulia suspirou.
— Só tentem não se matar no altar, por favor.
Milena já estava na porta, Giulia me deu um beijo no
rosto e Isabella se levantou.
— Depois eu que sou a sanguinária — Ela disse com um
suspiro seguindo suas irmãs.
— Não se preocupe, Annabelle, o posto ainda é seu —
Nero suspirou com o apelido — A gatinha só gosta de fazer
barulho. Eu amo as barulhentas.
— O único barulho que você vai escutar de mim vai ser o
som do tiro que darei em sua testa, senhor — Ele soltou
uma gargalhada. Ela revirou os olhos e saiu batendo o pé.
Giulia deu um olhar de desculpas e seguiu as irmãs.
— Qual é o seu problema com essa garota? — Eu
perguntei sentando no sofá. Giovanni suspirou e disse:
— É refrescante.
— Quase ser morto toda vez que encontra ela? —
perguntou Nero — Porque, pelo que já me contou, ela é
perfeitamente capaz de fazer isso.
— É refrescante ela não gostar de mim.
Giovanni era o homem das garotas, sempre foi assim.
Ele tinha beleza, poder, dinheiro e humor. Nunca teve que
trabalhar para conseguir alguém.
— Isso soa meio masoquista, você sabe — disse Nero.
— Eu sei, mas ela é fácil demais de provocar. É quase
irresistível.
— Tenta segurar esse seu impulso suicida até o
casamento, por favor. Precisamos de vocês vivos para a
cerimônia.
— Não prometo nada — ele disse com um sorriso de
merda. Isso ainda ia dar história.
Capítulo 11
Os convidados estavam começando a chegar e, para
recebê-los, alugamos um hotel próximo à igreja e no
mesmo local que aconteceria a cerimônia de casamento.
Todos estávamos ocupadíssimos, várias coisas para
resolver de última hora. Anita estava em nosso
apartamento e se mudaria conosco para a mansão.
Minha ligação com ela estava cada vez mais forte e isso
me deixava muito feliz. Anita era importante para Eduardo
e me importava que ela gostasse de mim. Ela levaria as
alianças, enquanto minhas irmãs seriam as damas de
honra. Os padrinhos de Eduardo eram Nero e Giovanni. Eu
só esperava que Milena controlasse o seu temperamento,
seu ódio por ele era quase irracional. Tentei conversar com
ela sobre isso, mas ela foi irredutível.
Eu reconhecia, ele gostava de provocá-la, mas só porque
ele sabia que ela iria reagir. Ele se deleitava com a irritação
dela. Enquanto Milena era dada a várias explosões
emocionais, Isabella poderia demonstrar total falta de
emoções. Eu sabia que ela nos amava, mas sua falta de
reações era sua principal característica. Se ela chegasse
ao limite, alguém poderia morrer ou sair seriamente ferido.
Estávamos nos arrumando para o jantar na casa do meu
sogro. Ele fez questão de os membros da Famiglia,
segundo ele, em homenagem aos noivos. Coloquei um
vestido que era justo até a cintura, saia rodada, acima do
joelho, verde. Saltos dourados acompanhados de uma
bolsa de mão. Milena enrolou o meu cabelo, o que me deu
ondas, deixando um ar sofisticado.
Chegamos à mansão e a maioria dos convidados já
estava presentes. Eduardo se aproximou de mim, me
levando de grupo em grupo, me apresentando a algumas
pessoas que ainda não conhecia pessoalmente.
Após fazermos a social, eu já estava cansada.
— Você foi perfeita — Eduardo disse ao meu ouvido.
Arrepios percorreram meu pescoço. Eu o olhei e agradeci
com um assentimento. Tudo parecia caminhar
perfeitamente até eu decidir ir ao banheiro.
Como embaixo estava um pouco lotado, decidi ir ao
banheiro da parte de cima. Eu havia sido treinada, sabia
que alguém estava me seguindo descuidadamente, pois eu
estava ouvindo perfeitamente. Escondi-me em um dos
quartos e continuei escutando. Saltos. Eram saltos,
provavelmente uma mulher.
Eu poderia estar sendo paranoica, mas uma coisa eu
sabia, deveria desconfiar de qualquer pessoa,
independente do sexo. Os saltos pararam próximos a mim.
Se quisesse usar o banheiro, teria continuado o caminho,
mas ela parou próxima a mim. Ela estava atrás de mim.
Reconheci sua silhueta como a de Sophia DeLucca.
Encontramo-nos em alguns eventos, mas nunca fomos
formalmente apresentadas. Saí de onde estava, no quarto
e continuei o meu caminho quando ela parou na minha
frente. Parei e a encarei nos olhos, esperando o que diria.
— Precisa de alguma coisa? — perguntei por fim. Seus
olhos brilharam e ela deu um riso de desdém. Eu não sabia
qual era o problema dessa garota, mas não estava com
paciência para o que quer que fosse. — Com licença.
Ao passar ao seu lado, ela teve a coragem de segurar o
meu braço. Com um impulso, tirei meu braço do dela e me
virei novamente para que ela me dissesse de vez o que
queria.
— Qual é o seu problema?
— Eu queria ver de perto quem é a garota que tirou o que
era meu por direito.
— Não sei se entendi.
— Só saiba de uma coisa, antes que a coroa pouse em
sua cabeça, eu vou assistir a sua queda.
Veja, não sou uma pessoa dada ao drama, mas algo em
seu tom fez com que eu sentisse medo.
— Está me ameaçando?
Ela me deu um sorriso estranho, saiu sem aviso e eu
fiquei ali, parada no corredor. Logo, senti uma mão atrás de
mim. Puxei o braço de uma vez para minha frente, já
preparada para dar um golpe quando vi que era Eduardo.
— Ow, calma. Sou eu.
— Me desculpe — Eu ainda estava visivelmente abalada.
— Está tudo bem? — Ele estava preocupado.
— Sophia DeLucca. Já teve algo com ela? — Meu tom
era envenenado. Ela seria uma ex? Ela agiu como uma
mulher traída.
Ele franziu o cenho.
— Não. Mas acho que ela esperava algo de mim.
Então era isso. Eram ciúmes. Uma onda de
possessividade tomou conta de mim, eu empurrei Eduardo
para o quarto e fechei a porta com o meu salto.
— Eu quero você. Agora — disse tirando seu terno pelos
ombros e o empurrando para a cama.
Ele não perdeu tempo. Suas mãos foram para minha
cintura, me virando na cama para ficar de costas e segurar
a cabeceira da cama.
— Mãos aí.
Sua voz foi dominante. Eu segurei a cabeceira, enquanto
ele lentamente acariciava minhas coxas, levantando a saia
do vestido, colocando a cara na minha bunda. Ele
massageou as bochechas da minha bunda e desceu a
minha calcinha. Apertando minha bunda, ele começou a
beijar e morder, e eu fui a loucura. Logo, seus dedos
estavam em mim, sua boca e novamente eu estava quase
explodindo com as sensações.
Mas eu queria mais.
Eu precisava de mais.
— Eu quero você dentro de mim, Eduardo.
Ele desabotoou a calça e, sem demora, com impulso
poderoso, entrou em mim. Ele me manteve no lugar com
suas grandes mãos e me deu investidas rápidas e fortes.
Eu estava consumida, possuída, mas eu queria mais.
— Mais forte.
Ele me puxou pelo cabelo e trouxe meu corpo de
encontro ao seu peito, ainda investindo em mim. Eu
coloquei minhas mãos em seu cabelo e apertei seu couro
cabeludo com minhas unhas. Ele saiu de mim e me virou
em um só movimento, como se eu fosse uma boneca. Ele
levantou meus joelhos enquanto me deitava de costas e
novamente entrou em mim. O som dos nossos corpos se
chocando fazia com que eu o sentisse em todos os
lugares. Meu orgasmo foi se construindo com cada batida.
Era poderoso.
Libertador.
Eu queria mais e mais disso.
Eu queria tudo dele.
Logo meu orgasmo me tomou e Eduardo segurou meu
grito com um beijo, derramando seu próprio prazer em
mim.
Ficamos por alguns segundos assim, normalizando
nossas respirações e curtindo a intimidade. Eduardo se
levantou beijando minha testa, o que quase me fez rir, e foi
para o banheiro do quarto. Ele se limpou, me limpou no
processo, se arrumou e me estendeu as mãos para que eu
também levantasse. Quando me levantei, ele ajeitou o meu
vestido e disse:
— Talvez você queira dar uma olhada no espelho antes
de sair.
—Tenho certeza que se aparecer assim, vai parecer meio
óbvio o que fizemos.
Ele sorriu, enquanto eu entrava o banheiro. Ótimo.
Arrumei meu cabelo e retoquei a maquiagem. Eduardo
estava me aguardando quando finalmente terminei.
— Está bem? Acha foi demais? — A preocupação dele
era fofa.
— Você é fofo — Ele fez uma careta.
— Eu não sou fofo.
— Sim, você é. Um fofo — disse enquanto apertava sua
bochecha como faria com uma criança. A careta dele se
intensificou e eu me segurei para não rir alto.
— Giulia, você não pode me chamar de fofo,
principalmente, na frente dos meus soldados.
Dessa vez, eu ri muito.
— Vamos descer, fofuxo — disse lhe dando as costas,
mas ainda escutei o seu resmungo frustrado.
— Pelo amor de Deus...
Naquela noite, minhas irmãs dormiram comigo. Nós três
na cama, quase me fez chorar. Não as ter comigo seria a
pior parte de tudo, mas eu estava feliz, Eduardo seria um
marido maravilhoso e eu estava ansiosa para começar
minha vida com ele.
— Você está feliz, Giulia. Para mim, é tudo o que importa
— Bella disse agarrada a mim.
— Ele adora o chão que você pisa. Fica impossível odiá-
lo — Escutei de Milena do meu outro lado.
— E vocês se cuidem, se controlem. Ajudem o papai e,
qualquer coisa, estou a um telefonema de distância. Ainda
sou irmã de vocês, eu sempre vou estar aqui por vocês.
Um tempo depois senti a cama se afundar e mais dois
corpos se uniram nas duas extremidades da cama que,
graças a Deus, era enorme. De um lado, papai se
aconchegou com Bella e, do outro, mamãe, com Milena.
— E nós, por vocês — disse minha mãe com a voz
embargada.
Meus olhos encheram de lágrimas. Eu ia sentir tanta falta
de todos.
O abraço conjunto se intensificou. Ficamos assim até
dormir.
Capítulo 12
A igreja estava lotada. Ao mesmo tempo em que eu
estava feliz, eu também estava preocupado. Minha
ansiedade se aplacou quando a cerimônia começou com a
entrada das damas de honra e os padrinhos que se
posicionaram nas laterais do altar. As irmãs Castelle
estavam deslumbrantes, Nero e Giovanni estavam ao meu
lado. Eu não perdi o olhar afiado que meu pai deu a Milena,
isso me preocupou, mas sabia que não era o momento.
Anita entrou em seguida com um vestido de princesa,
toda sorridente. Ela e Giulia se adoravam e isso só era a
cereja do bolo.
A marcha nupcial se iniciou e eu vi Giulia entrar
acompanhada de seu pai, deslumbrante, com um lindo
sorriso no rosto. Seu vestido era clássico como ela, o
cabelo estava preso, adornado por uma tiara e um véu, o
vestido era cinturado e solto sem ser exageradamente
rodado. As mangas iam até os punhos. Ela parecia uma
rainha e meu coração acelerou. Eu não imaginei que
sentiria tanta emoção em meu casamento, estava quase
impossível não ser aberto sobre como eu me sentia em
relação a ela.
Ao me ver, seu sorriso se tornou ainda mais radiante e foi
impossível controlar o meu próprio, embora fosse mais
contido. Giulia brilhava. Certamente era uma novidade em
nosso meio ver uma noiva tão feliz.
Aproximei-me dela, ajudei a subir os degraus do altar e
segurei ambas as mãos. Ela estava tão segura, tão
genuinamente feliz, que me emocionou. Ela realmente
estava aqui porque queria, não por se sentir obrigada. Até
aqui eu não sabia o quanto isso era importante.
Fizemos nossos votos e o padre nos declarou marido e
mulher. Sem qualquer hesitação, nos beijamos para selar a
união. Fomos cumprimentados por uma infindável fila de
convidados e tudo parecia perfeitamente calmo. Dirigimo-
nos para o hotel onde aconteceria a recepção dos
convidados. Chegamos à festa, tiramos algumas fotos e
finalmente nos sentamos.
— Hora da dança dos noivos. — Milena nos arrastou
para o salão. Vi o brilho nos olhos de Giulia e o sorriso
cúmplice compartilhado com a irmã. Ray Lamontagne
começou a cantar “You Are The Best Thing”, enquanto eu e
Giulia começamos a dançar.
Bem baixinho, Giulia cantava para que somente eu
escutasse.
“E baby/A maneira como você me move,/É loucura/É
como você vê através de mim /e torna isso mais fácil
/Acredite em mim, você não precisa nem
tentar/Baby/Percorremos um longo caminho/E baby / Você
sabe que eu espero e rezo/ para que você acredite em
mim/ quando digo que este amor nunca vai desaparecer/
Porque você é a melhor coisa que já me aconteceu”.
A impressão que eu tinha era de que estávamos em uma
bolha somente nossa. Ela tinha escolhido essa música?
Ela estava dizendo que me amava? Foi necessária toda
minha força de vontade para segurar minha emoção.
Quando acabou, ela permaneceu em meus braços e se
aproximou do meu ouvido.
— Eu te amo, Eduardo Santorelli. Você é a melhor coisa
que já me aconteceu.
No fim da festa, nos encaminhamos para o hotel que
passaríamos a noite. Até agora tudo tinha sido tranquilo,
sem atividades suspeitas. Eu ainda estava digerindo a
declaração de amor da Giulia. Nem nos meus sonhos mais
profundos eu achei que isso poderia ser possível. Eu
estava apaixonado por ela? Muito. Eu queria dizer muita
coisa, mas ali, no meio da pista de dança, não era o lugar.
O mais incrível é que Giulia disse que me amava sem
esperar uma resposta. Ela disse da forma mais linda e
emocionante, o tipo de coisa que nunca achei que seria
possível acontecer comigo.
Entramos na suíte e seu sorriso era contagiante. Ela era
tão genuína.
Peguei-a em meus braços e a sentei na cama,
agachando-me ao seu lado. Não me preocupei em acender
as luzes, o quarto estava banhado pela luz da lua. Ela
estava maravilhosa, adornada pelo vestido e véu, sentada
na cama.
— Durante toda a minha vida, eu achei que não era
merecedor de nenhum sentimento genuíno da parte de
ninguém. Meu pai só nos destruiu e minha mãe desistiu de
tudo. Talvez ela me amasse, mas seu amor por mim não foi
o suficiente — Seus olhos estavam em mim e ela me
escutava atentamente. — Desde o momento em que pus
meus olhos em você, antes mesmo de saber quem você
era, eu me senti conectado. Eu nunca tive conexão ou
intimidade com outra pessoa. Tudo se tratava de suprir
uma necessidade básica e pronto. Mas com você... com
você, eu passei a sentir tudo de uma só vez. Uma
necessidade de fazer com que você me visse mais que só
uma obrigação. Emoção com seu desafio e teimosia. Sua
força e coragem. Seu amor e dedicação com seus pais,
com suas irmãs, e com minha irmã. Eu não conseguiria
jamais resistir a você. Eu estava disposto a aceitar o que
você me desse, qualquer coisa. Eu te amo, Giulia. Te amo
e vou cuidar do seu amor com tudo que há em mim. Você
nunca irá se arrepender de me amar.
Os olhos dela brilharam. Ela me beijou apaixonadamente
e eu não perdi tempo. Naquela noite, eu adorei o corpo de
Giulia, tomei meu tempo cobrindo todo o seu corpo com a
minha atenção. Ao final, estávamos ambos suados e
satisfeitos, dessa vez seguros de todo o amor pelo qual
fomos abençoados.
Capítulo 13
Eduardo disse que me amava.
Mais que isso, Eduardo mostrou uma e outra vez o
quanto ele estava sendo sincero sobre me amar. Acordei
muito cedo e admirei a beleza do meu marido.
Meu marido.
Ainda soava estranho, mas eu estava disposta a dar o
melhor de mim. Porque ele merecia. Eduardo poderia ainda
não saber, mas ele merecia tudo. E eu passaria a vida
mostrando isso a ele.
Olhei o meu celular e ainda era cinco da manhã. Ia soltar
na cômoda para voltar a dormir quando ele tocou. Número
desconhecido. Estava silencioso, então me levantei e fui
para mais próximo da janela, não queria perturbar Eduardo.
— Alô.
Escutei uma risada maníaca do outro lado e senti um
arrepio dos pés à cabeça.
— Giulia Castelle... ou eu deveria chamar de Giulia
Santorelli?
— Quem está falando? — perguntei.
— Ah, essa é uma questão válida. Mas vou fazer melhor,
querida. Vamos nos encontrar pessoalmente para que eu
me apresente adequadamente. Eu tenho certeza que
iremos nos dar muito bem.
— E por que eu iria me encontrar com um estranho?
— Porque você não terá muita escolha, meu bem. Eu
tenho alguém aqui comigo que é muito importante para
você. Sem mais delongas, eu quero fazer uma troca. Você
pela sua irmãzinha. Que, aliás, é uma boneca. Vou te
mandar o endereço com o horário por mensagem. Venha
sozinha.
— Você está blefando — Tentei manter minha voz calma,
mas já estava pegando o celular de Eduardo para ligar a
Milena. Mais um sorriso maníaco.
— Aguarde a minha mensagem.
Ele desligou.
Eu fiquei parada absorvendo o que estava acontecendo
enquanto o celular de Milena tocava.
— Alô — A voz de Milena era de sono.
— Milena, onde está Bella? Me fala que ela está com
você.
— Ow, calma aí, como assim? Bella deve estar com
nossos pais no apartamento.
— Onde você está?
— Você não deveria estar curtindo sua noite de núpcias?
Nem amanheceu, cazzo. Qual o seu problema, Eduardo
não deu conta?
— Eu não tenho tempo para isso agora. Recebi uma
ligação, alguém dizendo que está com a Bella.
— Como assim? Mas que merda. Eu não dormi em casa,
vi Bella, pela última vez, na festa.
Nesse momento, meu celular toca. Uma mensagem e
uma foto anexa. A foto era de Bella desacordada e
amarrada. Ainda estava com o vestido de dama de honra.
Que merda aconteceu?
— Venha para cá agora, Milena. Recebi uma foto.
Levaram a Bella. Ainda estou no hotel.
Milena desligou, suas escapadas era a menor das
minhas preocupações no momento.
Olhei para a cama novamente e Eduardo estava
desperto. O homem pediu silêncio, mas eu jamais poderia
fazer isso sozinha. Eu e minhas irmãs sempre fomos uma
equipe e agora Eduardo faria parte dela. Eu jamais me
colocaria em risco sem o conhecimento dele.
— Eduardo — disse gentilmente. — Me ligaram há
poucos minutos. Levaram a Bella. Eu recebi uma foto, me
pediram para me trocar por ela.
Ele se levantou em um só movimento. Colocou as calças
e ligou para Nero.
— Nero, venha para o hotel. Emergência — Ele desligou
e virou-se para mim. — Não se preocupe, principessa,
vamos trazê-la de volta.
Eu já estava ligando para meu pai para ter certeza de
que ela não estava em casa com ele. Mas sabia que as
chances eram mínimas. A garota da foto era Bella, mesmo
que eu quisesse negar.
— Pappa, por favor, sem assustar a mamãe, veja se
Isabella está em casa.
— O que está acontecendo?
— Por favor, Pappa.
Ouvi o farfalhar dos lençóis, passos e um suspiro.
— Ela ficou para trás com Milena. Devem estar juntas.
— Pappa, ela não está com Milena, preciso que venha
para o hotel agora. Eu vou te explicar tudo.
Nesse momento, a campainha do quarto tocou. Eduardo
abriu e Milena entrou, seguida por Giovanni. Eu nem queria
saber o que isso significava.
Nero e papai chegaram não muito tempo depois. Contei a
eles o que aconteceu.
— Eu tive que sair, ela tinha ficado com um dos nossos
seguranças — Milena diz. — Ele ficou de acompanhá-la
em casa.
— E por que a senhorita não estava com sua irmã? —
Meu pai estava bravo. Ele raramente ficava bravo. Milena
empalideceu, então, eu resolvi intervir.
— Isso não importa agora, Pappa. A única coisa que
importa é ter Isabella de volta.
Nero ainda não tinha dito uma palavra. Não que ele
tenha sido falante ao meu redor, mas ele apertava as mãos
ansiosamente, com uma raiva reprimida. Como se
quisesse socar alguma coisa. Por que eu tinha a sensação
de que muito estava acontecendo e eu estava no escuro?
Sem cabeça para pensar em tudo isso no momento,
começamos a traçar um plano. A mensagem dizia que eu
deveria me encontrar às oito da manhã, em uma estrada
na saída da cidade. Ele deveria pensar que eu era uma
garotinha burra que teria complexo de Deus e iria sozinha.
Minha vida tinha sido inteiramente de risco. Ele não sabe
com quem se meteu.
Mais alguns minutos e escutamos a porta novamente.
Entreolhamo-nos, pois não esperávamos ninguém, mas
Nero se levantou e abriu a porta, pegando um homem que
estava na porta, sendo trazido por mais dois de seus
soldados pelo colarinho, e o jogou no chão. Sem dar tempo
para que o homem se recuperasse, ele começou a
esmurrá-lo sem intervalos.
— Você vai nos dizer onde ela está, Alessio, e o porquê
de você estar com ela.
Nero iria matá-lo. Eduardo resolveu intervir, mas era
impossível tirá-lo de cima do homem. Era quase pessoal, o
que era estranho, pois, até onde eu sabia, Nero e Isabella
não eram próximos.
— Chega, Nero. É uma ordem — Isso o parou. Ele ainda
estava muito alterado, então saiu de perto do homem com
as mãos na cabeça.
O homem que, por pouco não perdeu a consciência,
finalmente disse:
— Eu vou te dar apenas isso, senhor. Algumas pessoas
não estão muito felizes por você ser o Don. Eu tomaria
cuidado se fosse você.
Com uma risada sinistra, o soldado começou a
convulsionar, ter espasmos, um líquido começou a sair de
sua boca, até que finalmente parou.
— Veneno. O filho da puta tomou veneno antes de vir
aqui — disse Nero enraivecido.
Que merda era essa? O cara tirou a própria vida a troco
de quê? Todos estávamos atônitos com o que
presenciamos. As coisas pareciam cada vez mais fora de
controle. Existia um movimento que esperava tirar Eduardo
do poder. Eu me lembrei do que Sophia DeLucca disse,
que eu cairia. Era algo que eu não deveria me esquecer de
comentar com Eduardo.
— Deixe-me ver a foto, Giulia — disse de repente meu
pai.
Eu mostrei a foto para ele e vi a dor brilhar em seu rosto.
— Esses brincos tem GPS. Eu dei um par para cada uma
de vocês, era uma forma de manter vocês seguras, caso
algo acontecesse.
Milena, de repente, preocupou-se, segurando seus
próprios brincos. Eram esmeraldas, papai comprou
similares para nós três. Eu só nunca soube sobre os
rastreadores. Era, de longe, a joia mais linda que tínhamos,
então usávamos na maioria das recepções e eventos. O
olhar de horror de Milena teria me feito rir, se não fosse a
situação.
— Existe mais algum objeto que usa para nos rastrear?
— perguntou Milena.
— Essa é uma informação que não vou compartilhar,
Milena — Meu pai deu um olhar conhecedor à ela.
Sabendo a exata localização de Isabella, não foi difícil
nos antecipar ao que fosse que os russos estivessem
planejando. A mensagem dizia que eu deveria me
encontrar com senhor sem nome às treze horas. Era sete
da manhã quando saímos.
Ao que tudo indicava, a localização era um prédio
abandonado na saída da cidade. Alguns dos soldados de
Elite foram na frente para fazer o reconhecimento do
território. O bairro era abandonado, o tempo que ficamos ali
não vimos uma pessoa pelos arredores. Paramos a
algumas quadras de onde era o local, aguardando
informações. Tudo o que poderíamos fazer, por enquanto,
era esperar.
Capítulo 14
Após trinta minutos, já tínhamos atiradores alinhados em
todos os ângulos possíveis. Segundo Nero, não havia
muitas pessoas fazendo a guarda, o que foi um erro. Ele
subestimou a minha esposa e iria pagar com a vida. Nero
deu o sinal que era hora de invadir.
— Nem pense nisso.
— Giulia, por favor...
— Eu vou entrar aí, eu fui preparada para isso, Eduardo.
Eu não te contei para que você fizesse o trabalho por mim,
eu te contei para que fizéssemos juntos. Você também tem
que confiar em mim.
Eu confiava. Eu só não queria perdê-la. Mesmo a
contragosto, concordei com ela.
— Mas você não saia da minha vista. Esse é o acordo —
Minha voz soou firme, ela estreitou os olhos, teimosa até a
medula, mas concordou.
Aproximamo-nos do prédio e os soldados foram abrindo
caminho o mais silenciosamente possível. Eram
assassinos treinados. Na entrada, vi dois corpos e, à
medida entrávamos, mais corpos caídos sem um só som
de tiro. Giovanni e Milena entraram pelos fundos.
Ao virarmos em um corredor, dois russos estavam a
postos, deveria ser o lugar onde Isabella estaria. Antes que
eu pudesse pensar, Giulia se aproximou do primeiro,
enquanto eu ia para o segundo. Tiro, mesmo com
silenciador, estava fora de questão, então foi no corpo a
corpo. Pelo canto do olho, vi que Giulia dava conta do
russo, claro que ela dava conta, eu já tinha a visto em
ação. Eu peguei o russo pelo pescoço e o bati na parede
oposta por três vezes. Foi o suficiente para ele ficar
inconsciente. Julia tinha o russo imobilizado no chão
enquanto o asfixiava. Cheguei mais perto e chutei a cara
do infeliz.
Dentro da sala, pudemos ouvir vozes abafadas
— Depois que tudo isso acabar, você não voltará para
sua família, Shchenok. Você é o meu cachorrinho, minha,
pra brincar. Eu só gostaria de ter mais tempo agora. Mas
logo teremos sua irmã e eu deixarei você se despedir dela.
Para que você saiba que eu não sou tão malvado assim.
— Eu deveria sentir o quê? Medo? — Essa era a voz
doce de Isabella.
Eu tinha que saber sobre isso, a garota não tinha medo.
Escutamos o barulho de um golpe. O filho da puta estava
batendo na minha cunhada. Senti que Giulia ficou tensa ao
meu lado e segurei a sua mão firme, arrisquei uma olhada
de onde eu estava. Isabella sorria com o canto da boca
escorrendo sangue. Ela não movia um músculo. Ela estava
amarrada em uma cadeira, enquanto o russo estava a sua
frente.
Mas o que me assustou mesmo foi o olhar do russo. Ele
estava entre frustrado e fascinado.
— Quanto você aguentaria, hein, Shchenok? Quanto eu
poderia fazer até que você gritasse para que eu parasse?
Eu vou amar cada segundo até quebrar você. Em todos os
sentidos.
— Boa sorte com isso — Ela disse no mesmo tom.
Ele estava pronto para dar-lhe outro golpe quando o som
de tiros eclodiu. O russo se pôs de pé com os olhos
assustados e deu sinal para que o outro fosse verificar.
— Parece que temos companhia. Sua irmã, pelo jeito,
não se importa tanto com você ou não teria sido burra o
suficiente de tentar te resgatar. Eu a mato e levo você para
mim. De todo o jeito, o resultado é o mesmo, você comigo.
— Quer que eu te dê os parabéns?
Ele a puxou da cadeira com brutalidade, mas Isabella
nem piscou. Foi aí que percebi que Giulia também tinha
visto. Em um impulso, ela saiu de trás de mim e se jogou à
frente, se pondo à vista. Deveríamos esperar o sinal de
Nero que tudo estava pronto, mas Giulia não conseguiu
segurar-se.
— Tire as mãos imundas da minha irmã, o único que vai
morrer hoje aqui é você — Giulia tinha uma arma nas
mãos. O russo colocou Isabella em sua frente e apontou a
arma para ela, se encaminhando para as escadas que
dava para o telhado.
— Ora, ora. Se não é o casal do momento. Desculpe
atrapalhar a lua de mel de vocês, mas você sabe, né,
negócios são negócios.
— Entregue Isabella — Minha voz era cortante.
— Sabe, eu vou fazer melhor, eu queria uma troca, mas
acho que vou ficar com essa belezinha aqui. Vai ser um
prazer domesticá-la — Seu sorriso era maníaco. — Giulia,
Giulia, achei que a gente tinha um combinado.
— Vá para o inferno — latiu Giulia.
Do lado de fora, ainda ouvia-se o som de disparos.
Nesse momento, apareceram Nero, Milena e Giovanni.
Milena, de longe, atirou no braço do russo, que já estava
terminando de subir as escadas. Ele jogou Isabella escada
abaixo e Giulia correu para segurar a irmã. Ele aproveitou
para tentar escapar. Eu aproveitei a comoção e o segui
escada acima, ouvindo a troca de disparos que acontecia
na parte de baixo, o encontrei a caminho de um helicóptero
que se preparava para pousar no telhado do prédio. De
longe, fiz alguns disparos e acertei a sua perna.
Aproveitando que ele vacilou, eu corri mais. Chegando
perto, eu mirei em sua cabeça.
— Quem está facilitando a sua entrada em meu
território?
—Essa é a melhor parte. Eu vou deixar você descobrir
sozinho — Sua risada era maníaca, mas tudo que fez foi
inflamar mais a minha raiva. Atirei em sua outra perna e ele
gritou, rindo mais.
— Quem está te ajudando? — disse entredentes.
— Vocês, italianos estúpidos, protegem quem não
deveriam. Eu vou encontrar o menino Ivanov, e eu vou
matá-lo junto com todos vocês.
Menino Ivanov? Do que ele estava falando? Eu ia atirar
novamente para ter mais informações, quando uma chuva
de disparos veio em minha direção e eu corri para me
proteger atrás de uma mureta. Os disparos vieram do
helicóptero e alguns russos vieram pegá-lo, enquanto os
outros davam cobertura. Do outro lado, Nero e Giovanni,
com outros soldados, me davam cobertura. Antes que ele
se fosse, ainda escutei seu grito.
— Meu nome é Dimitri Nikolai, Eduardo Santorelli. Você
ainda vai ouvir falar muito sobre mim. Eu vou voltar para
pegar o meu pet e para acabar de vez com a semente
maldita dos Ivanovs — Ele se foi com sua risada insana.
Uma chuva de disparos veio em minha direção e eu corri
para me proteger atrás de uma mureta. Os disparos vieram
do helicóptero e alguns russos vieram pegá-lo, enquanto
outros davam cobertura. Do outro lado, Nero e Giovanni
com outros soldados me davam cobertura. Antes que ele
se fosse, ainda escutei seu grito.
— Meu nome é Dimitri Nikolai, Eduardo Santorelli. Você
ainda vai ouvir falar muito sobre mim. Eu vou voltar para
pegar o meu pet. Seremos família — Ele se foi com sua
risada insana.
Quando me levantei, senti algo molhado em minha
camisa. Olhei e ela estava vermelha. Tudo foi ficando
escuro, eu lutava para manter a consciência, mas estava
difícil. Senti ser amparado por Nero.
Senti o aroma de Giulia me banhar.
Escutei o seu choro e desespero.
Eu queria dizer a ela que estava tudo bem, que tudo
ficaria bem.
Eu não queria que ela chorasse assim, mas tudo que eu
vi foi escuridão.
Capítulo 15
Bip Bip Bip.
Foi tudo o que escutei nos últimos três dias.
O aroma do antisséptico hospitalar também estava ali.
Uma constante.
Eu não deixei ninguém entrar.
Eu não deixei ninguém se aproximar do seu leito.
Nero disse que o hospital estava cercado, que nada
aconteceria, mas eu não sairia daqui. Minha arma estava
comigo, eu não hesitaria em atirar em quem fosse.
Traidores.
Eu caçaria cada um deles.
Dei a informação a Giovanni e Nero sobre a ameaça de
Sophia DeLucca. Giovanni prendeu Elano DeLucca e, por
Isabella, descobrimos que ela foi drogada ainda no
casamento. Sophia tinha drogado sua bebida e, por isso,
ela não conseguiu reagir. Segundo ele, Sophia não pagaria
pelo que fez com minha irmã, praticamente dando-lhe de
bandeja para o russo. Elano ficaria preso até que Eduardo
acordasse.
Meu Eduardo.
A bala atingiu o baço. Segundo o médico, foi por muito
pouco que eles conseguiram conter a hemorragia. A
sedação foi retirada e a qualquer momento ele acordaria.
Que maravilhosa lua de mel.
Isabella e Milena entraram pela porta, Bella, com o punho
enfaixado. Com a queda, ela fraturou o pulso e seu rosto
ainda levava as marcas que aquele monstro fez. Aquele
homem. Aquele maldito marcou minha irmã a ferro. Ele a
marcou, como se marca um animal, a palavra filhote em
russo, shchenok, nas costas dela. Pelo menos, ele não a
estuprou, acredito que não fez porque não deu tempo. E
isso só alimentava minha raiva de Sophia DeLucca. Se não
fosse ela, minha irmã jamais teria sido levada.
Giovanni conseguiu informações sobre Dimitri Nikolai, ele
é um louco que tem um harém de escravas sexuais, todas
marcadas e tratadas como sua propriedade. Ele matou o
pai, Ivan Nikolai, antigo Pakhan, para ficar no poder. Ele
achava que minha irmã seria mais uma escrava dele. Ele
prometeu voltar por ela, todos escutaram. Mas nós
estaríamos esperando por ele.
— Você precisa descansar, Giulia. Ele está bem, vai ficar
tudo bem — disse Milena com suavidade.
— Não começa — Eu disse. Até minha voz estava
cansada. Eu deveria estar horrível, mas isso não me
importava agora.
— Eu trouxe um café tentação, aquele que você provou e
gostou — disse Isabella.
Foi meu ponto de ruptura. Eu tampei meu rosto com as
mãos e chorei. Minhas irmãs se aproximaram e me
abraçaram e eu chorei mais. Chorei por quase ter perdido
minha irmã, chorei por quase perder o meu marido, chorei
pelos dias e noites sem dormir, chorei por estar nesse
hospital quando tudo que eu queria era estar com meu
marido, curtindo a nossa casa, a nossa nova vida.
— Descobri que o que eu mais odeio nesse mundo é ver
você chorar.
Levantei a cabeça em um salto. Eu estava de calça
legging e um moletom enorme. Meu cabelo estava preso
no alto da minha cabeça, uma bagunça, e meu rosto
estava inchado de chorar. Eu não me importei e me
aproximei de Eduardo. Ele ainda estava pálido pela perda
de sangue e sua voz tinha saído um pouco rouca. Ao olhar
seus olhos escuros focados nos meus, eu chorei mais
ainda. Embalei seu rosto com as minhas mãos e chorei ao
seu lado. Ouvi a porta se fechando, minhas irmãs tinham
saído da sala.
— Não chore, principessa. Shii, não chore — Ele segurou
minhas mãos nas suas. — Eu não mereço suas lágrimas.
Eu explodi:
— Cala a sua boca. Você merece tudo, Eduardo. Eu não
quero mais ouvir isso saindo da sua boca, nunca mais.
Cansei disso — falei com a voz chorosa.
— Você está brigando comigo? — Ele parecia divertido.
Eu revirei os olhos, ainda fungando.
— Estou, você está me transformando em uma
mulherzinha chorona — Ele soltou uma risada e logo fez
uma careta de dor. Olhando para ele, me senti um pouco
culpada por estar falando nesse tom. — Como você está?
— disse mais suavemente, me inclinando sobre a cama.
— Eu estou bem.
— Tem certeza? Milena e Isabella foram chamar o
médico.
— Eu tenho certeza, principessa.
— Você não deveria me chamar assim quando está em
uma cama, vulnerável — Eu disse em tom de brincadeira e
comecei a dar beijinhos em seu rosto. — Você sabe, eu
posso começar a te chamar de fofuxo na frente dos seus
soldados.
— Aahh, isso de novo, não — Eduardo disse com uma
careta, agora de desgosto.
Enquanto eu ria, o médico entrou para fazer a avaliação.
Eu me levantei ainda segurando o riso. O médico fez a
avaliação com os olhos atentos em mim. Acho que eu o
assustei não deixando ninguém entrar no quarto além dele
e da enfermagem. Eduardo assinaria um termo para ficar
em casa, segundo ele, era mais seguro. Eu não concordei,
mas devido a tudo o que estava acontecendo, talvez fosse
o melhor. Eu estava aliviada que Eduardo estava bem, mas
todo o ocorrido e o meu cansaço me impediram de discutir.
Quando o médico saiu, Eduardo me questionou.
— O que você fez para o médico? — perguntou Eduardo
desconfiado.
— Eu? Nada — respondi desentendida.
— Ela aterrorizou todo o hospital. Só isso — disse
Giovanni entrando no quarto. — Será que agora eu posso
entrar? — Eu revirei os olhos. Ele se virou para Eduardo.
— Acho que você não precisa de segurança, sua esposa
não deixou ninguém entrar para te visitar. Nem mesmo eu.
— Ficou aqui o tempo todo? — Eu não respondi, e ele
estreitou os olhos. Eduardo resmungou alguma coisa que
eu não me esforcei para entender, era certamente uma
reprimenda e logo disse mais alto. — Como estão as
coisas? Isabella?
A única coisa que ouvimos foi o silêncio. Meus olhos
voltaram a ficar marejados com a lembrança do que minha
irmã passou.
— Dimitri Nikolai é o novo Pakhan da Bratva. Ele matou o
pai e declarou guerra aberta contra a Cosa Nostra.
Sabemos que os DeLucca estão envolvidos de alguma
forma. Elano está preso, aguardando suas ordens. Sophia
drogou a bebida de Isabella ainda na festa de casamento.
Ela, praticamente, a entregou de bandeja para Dimitri. Ele
é um sádico da pior espécie, tem um harém de escravas
sexuais e está muito envolvido com prostituição e tráfico
humano. Ele… marca as suas meninas…
— Ele marcou a minha irmã, Eduardo! Com. Ferro.
Quente. Como se marca um animal. Ele acha que minha
irmã é dele. Ele voltou a ameaçá-la, eu quero esse homem
morto! — Minha voz transparecia toda a minha raiva.
O olhar de Eduardo era letal.
— Eu deveria tê-lo matado quando tive a chance — Ele
apertou minha mão. — Escute, Giulia. Eu não vou deixá-lo
chegar perto de vocês. Quando ele voltar, eu estarei
esperando.
— Isabella age como se não fosse nada. Ela não
demonstra nada, trata como se fosse qualquer ferida.
Minha mãe está transtornada, meu pai queria marchar com
Milena para caçar e matar o maldito. Enquanto ele viver,
ele será uma ameaça.
— Nós vamos matá-lo. Não tenha dúvidas disso — Sua
voz foi firme e aplacou um pouco da minha fúria. —
Também quero falar sobre algo que Dimitri disse um pouco
antes dos disparos, naquele dia. Ele disse que estávamos
protegendo um Ivanov. Eu não sei o que ele quis dizer com
isso.
— Ivanov? Da Família Ivanov, da Bratva? Não morreram
todos, anos atrás? — questionou Giovanni.
Eu fiquei pálida.
Esse nome.
Eu ouvi esse nome.
Meu Deus, meu pai estava envolvido no que quer que
fosse essa confusão. Eu me lembro, nitidamente, da minha
mãe perguntando do menino Ivanov e meu pai afirmando
que ele estava seguro.
— Se há um Ivanov vivo, o reinado dos Nikolai está em
risco. Por que ele nos culparia disso? Se bem que, não
seria ruim tirar aqueles loucos do controle da Bratva. Talvez
a gente procure esse Ivanov e nos alie a ele, seria uma
forma de vencer a Bratva.
Estavam alheios ao meu desespero. Eu tinha que ser
leal, leal a causa acima de tudo. Eu tinha que contar a
Eduardo, talvez não fosse nada, mas eu não queria pensar
nas consequências que poderia ter na vida do meu pai.
Enquanto Giovanni e Eduardo continuavam conversando,
eu me detive em silêncio. Eu precisava pensar sobre o que
fazer.
Não muito tempo depois, estávamos indo para casa. Não
foi como imaginei passar minhas primeiras horas na casa
nova, mas assim eram os fatos. Acomodei Eduardo, dei os
seus remédios e tomei um banho. Por causa dos
analgésicos, Eduardo dormiu e eu chamei Giovanni.
— Você pode ficar com ele por algumas horas?
— Claro. Você precisa de alguma coisa?
— Só fique com ele, Giovanni. Logo estarei de volta.
Ele arqueou as sobrancelhas, mas não me questionou.
Quando desci, Isabella e Milena já me esperavam no carro.
— Prontas? — Eu disse.
— Mais que prontas — respondeu Milena.
— O que você está fazendo comigo? Eu sou a filha de
um Caporigeme. Eu mereço mais respeito, é contra a
política da Cosa Nostra torturar mulheres membros.
Ali, naquele barracão isolado da sociedade, nossos
soldados capturaram Sophia DeLucca com a ajuda de
Nero. Antes, eu só desconfiava, mas agora eu tinha
certeza, ela sabia o que estava prestes a acontecer, ela
não só sabia como estava participando da conspiração. Ela
drogou minha irmã.
Ali, sentada naquela cadeira, amarrada e vendada, eu só
conseguia sentir raiva. Ela participou de uma conspiração
que machucou minha irmã e quase matou o meu marido.
Ela mexeu com a pessoa errada.
— Me tirem daqui! Agora!
Eu sorri. Aproximei-me dela e tirei a venda de seus olhos.
— Você — Seus olhos estavam arregalados, a voz era
baixa e saiu tremida.
— Quem você esperava, hein? Algum salvador? Quem
vai poder te salvar agora, Sophia? Os russos?
— Eu não sei do que você está falando — Ela respondeu
rápido demais.
— Ah, Sophia, se você não tivesse me abordado com
todo aquele desdém, eu jamais desconfiaria de você. Sabe
por quê? Até aquele dia, eu mal sabia da sua existência.
Você e nada para mim eram a mesma coisa. Mas, então,
você decidiu machucar pessoas que eu amo. E esse foi o
seu pior erro.
Ela se encolheu levemente.
— O que você vai fazer comigo? Vocês não podem me
machucar sem a autorização do Don — Ela estava quase
histérica.
— Pode deixar que com o meu marido eu me entendo.
— Você é uma louca. Eu não fiz nada, nada — Ela
estava quase chorando.
— Isabella. Faça as honras.
Ela olhou minha irmã se aproximar com um punho
enfaixado, miúda para dezoito anos, com seus cabelos
claros e grandes olhos azuis. Ela parecia inofensiva assim.
Isabella parou a uma distância e a encarou com um sorriso.
Sophia a encarou com superioridade e começou a falar:
— Queridinha, você está cometendo um er... — Ela parou
com um chiado. Isabella jogou uma adaga que lhe acertou
o ombro, ficando ali. — Filha da puta! — Ela gritou.
— Se não parar de falar, eu vou cortar a sua língua. Sua
voz é tão irritante! — A voz de Isabella não mudou em
momento algum. — Agora, vamos ver — Ela se aproximou
e estancou uma adaga na perna de Sophia, que gritou de
dor. — Eu estava aqui pensando nas coisas que o russo
fez comigo, que, claro, ele conseguiu porque a sua família
colaborou para que ele conseguisse. Sem contar que você
drogou a minha bebida. Eu acho que isso vai contra o
código de garotas...
— Ele deveria ter te matado, sua louca.
— Você vai precisar ser mais criativa se quiser arrancar
alguma reação de mim — Isabella não alterava o tom e não
tirava o sorriso do rosto. — Um corte aqui, em homenagem
aos golpes que recebi no rosto — Quando ela começou a
cortar seu rosto com uma faca e Sophia gritou de dor, eu
resolvi que, para mim, já era suficiente. Virei-me e Milena
me seguiu. Ao chegar à porta, percebi que Nero observava
a minha irmã. Dei mais uma olhada e agora Isabella estava
atrás de Sophia, de frente para nós e, mesmo com o punho
machucado, ela segurou os cabelos de Sophia para mantê-
la no lugar e com a outra mão cortava o contorno do rosto
dela. — Eu poderia marcar suas costas também, o que
você acha? Com ferro quente. Igual aquele russo fez
comigo, assim poderíamos ser irmãs de marcas, hum?
— Por favor, não faça isso comigo, me desculpa. —
Sophia implorava. Com a cabeça inclinada para trás, o
sangue lavava seu rosto.
— Ops, acho que vai doer um pouco — Isabella puxou o
cabelo com mais força e então soltou.
Quando ela pegou o ferro quente, eu me virei. Milena já
estava na minha frente, mas Nero continuou olhando firme.
Minha irmã poderia ser perturbadora até mesmo para
mim, mas Nero continuou com o olhar firme.
— Você pode esperar lá fora — Eu disse. Talvez ele se
sentisse na obrigação de estar ali.
— Eu vou ficar aqui com ela — Ele disse ainda olhando
fixamente para frente. — Ele a marcou? — Seu tom tinha
ódio puro. Meu coração também se apertou e eu empurrei
as lágrimas. Nos fundos, os gritos de Sophia ecoavam
seguidos pela doce voz de Isabella, que conversava
casualmente.
— Não comente com ninguém, por favor. Já tem gente
suficiente sabendo disso.
Nero assentiu, mas não disse nada. Sua mandíbula
estava trincada e notei um tremor passar pelo seu corpo.
Nero era enorme, alguns centímetros maior que Giovanni e
Eduardo. Raiva pura passava por ele.
— Tem certeza que quer ficar aqui?
— Eu vou ficar com ela até o final.
— Ok. Vou aguardar vocês lá fora.
Poderia ser impressão minha, mas o grandalhão se
importava com a minha irmã. Eu só não sabia a real
natureza desse sentimento, se era admiração e amizade
ou algo mais.
Eu poderia ver e até mesmo fazer crueldades com
algumas pessoas, dependendo das circunstâncias, fomos
treinadas para isso. Mas não vou mentir que era algo que
eu sentia prazer e se eu pudesse evitar, evitava. Mas com
Isabella era outro nível. Sempre foi assim, ela era feita a
partir de um molde único, silenciosa e mortal. Assim era a
minha irmãzinha.
Capítulo 16
— Elas mataram Sophia DeLucca — Giovanni disse
entrando no meu quarto.
— Quem? — Eu ainda estava um pouco sonolento.
— Sua esposa e suas cunhadas.
Eu suspirei. A Cosa Nostra não usava tortura contra as
mulheres.
— Mas, especificamente, quem matou foi a Isabella. Mas
as outras facilitaram e Nero também. Segundo ele, ela fez
um estrago.
— Nero está ciente das regras. Mas, nesse caso, vou
deixar passar, se a menina queria uma vingança eu não
ficarei no caminho dela.
— Elano DeLucca está preso.
Eu suspirei novamente. Estava cansado, estava
esgotado com tudo o que tinha acontecido. Eu iria deixar
as coisas um pouco na responsabilidade de Giovanni e
Nero, tiraria um tempo com Giulia. Depois de todo esse
inferno, não tivemos um só dia de paz. Eu queria passar
um tempo com ela, porque, de fato, merecíamos.
— Eu vou deixar isso em suas mãos e de Nero. Vou
passar uma semana na Itália junto com Giulia. Talvez não
seja o melhor momento, mas, depois de tudo, acredito que
precisamos. Eu confio em vocês para manter tudo em
ordem.
Giovanni pareceu surpreso, mas não comentou nada,
apenas concordou.
Muito mais tarde nesse dia, Giulia entrou com uma
bandeja, o meu jantar, e se sentou ao meu lado. Ela se
acomodou e agiu como uma mãe galinha até me fazer
comer tudo o que tinha no prato. Quando terminei, esperei
para ver se ela me contaria o que aconteceu. Ao notar o
meu olhar, ela desviou os seus.
— Você já sabe.
— Quero ouvir de você.
— Ok. Isabella matou aquela ordinária. Milena e eu
ajudamos. Mas a responsabilidade total é minha. Ninguém
machuca minha irmã e sai impune.
Eu queria rir do seu jeito protetor, mas provavelmente ela
me acertaria. Mantive a fachada séria.
— Você deveria ter me consultado antes.
— Se fosse sua irmã? Você pediria autorização a
alguém?
— Não é essa a questão, Giulia. Eu não sou alguém. Eu
sou o seu marido e, por acaso, também sou o Don. Se
você não me respeita como tal, meus soldados vão achar
que podem fazer o mesmo.
Ela desviou o olhar, os olhos marejados. Eu não queria
começar uma briga, eu só queria que ela entendesse.
— Eu não quero que pareça fraco ou te prejudicar de
alguma forma. Só quero que entenda que estamos falando
da minha irmã. E quando se tratar das pessoas que eu
amo, eu não vou hesitar em fazer o que eu acho certo.
Suspirei.
— Venha aqui — Ela se aproximou com cautela, deitou-
se ao meu lado e eu a abracei. — Têm sido muito os
últimos dias. Em alguns dias, faremos uma viagem, eu e
você. Passaremos alguns dias na Itália, será a nossa lua
de mel.
— Tem certeza que é um bom momento?
— Não teremos um bom momento tão cedo, principessa.
Mas nós merecemos. Depois vamos dar um jeito de lidar
com tudo isso.
Passamos um bom tempo assim, abraçados.
— Tem algo que eu preciso falar com você — Meu corpo
tencionou.
— Diga — disse sem soltá-la. Ela pareceu querer sair do
meu abraço, mas não permiti. Depois de alguns segundo,
ela finalmente disse.
— Quando eu tinha por volta de dez anos, eu escutei
uma conversa entre meus pais. Eles estavam conversando
sobre o meu treinamento — Ela parou.
— Diga, principessa — Ela levantou com os olhos
marejados e eu estava muito confuso.
— Prometa-me. Prometa-me não prejudicar meu pai.
Isso me alarmou. Por que eu prejudicaria Enrico? Ele era
um bom Sottocapo.
— Não sei porque está me pedindo isso, Giulia, mas me
diga de uma vez.
Eu não poderia prometer algo que eu não fazia ideia do
que era. Por que ela me pediria isso?
— Diga, Giulia.
— Meu pai… meu pai falou sobre um menino Ivanov
estar seguro. Mamãe disse que ele morreria por isso, mas
ele disse que salvaria uma geração.
As peças estavam se encaixando. Então nós tínhamos
um Ivanov em nosso meio e meu sogro estava diretamente
ligado a esse fato.
— Cara, preciso falar com o seu pai.
— Por favor, Eduardo, por favor, tenho certeza que meu
pai teve um bom motivo. Não machuque meu pai, eu
jamais te perdoaria por isso. Jamais.
Suas palavras machucaram meu coração, mas eu já
estava pegando meu telefone.
— Giovanni. Traga Enrico aqui. Agora.
— Eu não vou te perdoar, Eduardo, jamais — Ela se
levantou e me olhou duramente. — Eu te contei a verdade.
Eu fui leal a você, não me faça me arrepender.
Ela saiu do quarto. Eu queria garantir que tudo ficaria
bem, mas antes de qualquer coisa, eu era o Don.
Capítulo 17
Enrico entrou no quarto e eu estava acompanhado de
Nero e Giovanni. Enrico sempre foi leal e me custava ter
que fazer o que tinha que ser feito, caso ele houvesse
traído a nossa causa.
— Sente-se — Eu indiquei a cadeira. Eu ainda estava na
cama, mas independentemente de qualquer coisa, não via
Enrico como um perigo. Ele tinha o meu respeito.
— Don. Espero que esteja se recuperando bem. Eu
gostaria de agradecer pelo que fez por Isabella.
— Isabella é da família — disse simplesmente. — Eu vou
direto ao ponto, Enrico. Qual é a sua ligação com o
sobrevivente da Família Ivanov?
Enrico levantou as sobrancelhas. Ele não negou o seu
envolvimento e também não afirmou. Nero levantou a arma
e apontou para meu sogro.
— O Don fez uma pergunta.
O olhar do meu sogro demorou-se em Nero. Não era um
olhar de raiva, ou de medo. Era um olhar de admiração.
Finalmente, Enrico olhou para mim.
— Eu sabia que esse dia chegaria, mas temo que não
posso revelar tudo, Don. E pela Cosa Nostra que faço isso.
Principalmente, por nossa causa. O que posso dizer é que
sim, salvei o garoto Ivanov e ele está seguro, mas ele
ainda não está pronto para enfrentar o que o espera.
— E quem decide isso, Enrico? Você? — perguntei com
escárnio.
— Você poderá fazer o que quiser, Don. Eu omiti
informações importantes, sim. Eu não confiava em seu pai
com essa informação.
— E pelo jeito, não confia em mim também. É um
caminho perigoso, Sottocapo.
— Pelo contrário. Acho que vocês três serão os
responsáveis para estabelecer a paz que um dia existiu,
principalmente em meu território. Mas não é o momento.
Nero olhou para mim e destravou a arma. Ele só
precisava de um aviso. Giovanni estava um pouco
desconfortável. Todos tinham admiração e apreço por
Enrico, era difícil fazer esse papel.
— O que eu posso dizer é que, no tempo certo, a
verdade virá à luz. E eu vou ser o primeiro a compartilhar,
eu só preciso que confie em meu julgamento.
— E por que eu deveria, se claramente você não confia
em mim?
— Não se trata de não confiar, Don. Eu sempre fui leal, e
se fiz o que fiz, foi porque estava pensando no futuro não
só do garoto, como no nosso próprio. Os Nikolai têm uma
combinação perigosa: Poder e Loucura. Um Ivanov terá
todo o apoio dos anciões russos e essa pode ser a nossa
única chance.
— Ou isso colocou um alvo enorme em nossas costas —
Eu disse.
— Você acha, por um minuto, que estaríamos a salvo?
Se não por isso eles arrumariam outro motivo para nos
atacar — Ele me olhou exasperado. — Eu não vou implorar
por minha vida, Don. Faça o que tem que ser feito — Ele
engoliu com dificuldade. — Só... cuide de minha família,
que agora é sua também.
Giulia.
Meu coração se apertou.
Se eu matasse o seu pai, ela jamais me perdoaria, eu
estaria condenando meu casamento ao fracasso, antes
mesmo de começar. Eu me levantei e parei em frente de
seu pai.
Ele foi um bom pai, como poucos foram.
Ela é quem é graças a ele.
Por ela, somente por ela, eu faria o que estava prestes a
fazer.
Parei em sua frente e disse.
— Por Giulia, Enrico. Eu vou te dar a oportunidade de
conduzir isso a sua maneira. Por ela, porque eu não vou
condenar meu casamento que nem teve a oportunidade de
começar. Eu vou confiar em você, mesmo que você não
esteja confiando em mim.
Enrico não era um covarde, eu vi o alívio em seus olhos,
mas ele os manteve firme.
— Em algum momento, você terá que me dizer. Se essa
situação sair do controle, você terá que nos dizer. E se
você me trair, nem mesmo Giulia me impedirá de tirar a sua
vida.
Ele assentiu e foi para a porta. Antes de sair, ele se virou:
— Me permita uma pergunta, Don. Como soube? — Ele
sabia a resposta. Ele só queria uma confirmação.
— Giulia.
Ele sorriu.
— Minha menina é leal, Don. Diga a ela que me orgulho
por ela ter te contado, por ter feito o certo acima de
qualquer coisa — Ele foi sincero. E era verdade. Giulia
tinha lealdade até a medula. Eu confiava nela a cada dia
mais.
Ele saiu e eu olhei para Nero e Giovanni.
— Eu confio nele, Eduardo — disse Giovanni.
— Eu também.
Saí do quarto e olhei do alto da escada, Giulia estava
abraçada ao pai e chorava. Eu nunca vi Giulia chorar. Ali,
eu entendi, eu jamais faria Giulia chorar propositalmente.
Ela confiou em mim, mesmo sob o risco de perder o pai.
Quando se despediram, ela olhou para mim no alto da
escada. Subiu as escadas sem desviar os olhos dos meus
e quando se aproximou, disse com um soluço.
— Obrigada.
Eu segurei seu rosto em minhas mãos. Beijei seus lábios
com ternura.
— Obrigado, você, por confiar em mim.
— Eu sou sua esposa, Eduardo. Eu sempre serei leal a
você.
— Eu sei, eu sei. Eu sou um sortudo filho da puta por ter
você.
Entre lágrimas, ela disse:
— Sim, e teimoso também. Volta para a cama, fofuxo —
disse me empurrando para o quarto
— Ah, por favor…
Escutei a gargalhada de Giovanni e Nero.
Merda.
1 mês depois.
San Vito Lo Capo era uma comunidade Italiana na região
da Sicília, onde eu tinha uma propriedade, mas nunca tive
tempo de conhecer. Mas aqui estávamos, curtindo um
pouco da nossa nova vida. De longe, eu via Giulia, e ela
procurava conchas. Para o que exatamente eu não fazia a
menor ideia, mas ela estava concentrada e soltava um
lindo sorriso toda vez que encontrava alguma, então não
me importei em perguntar a finalidade.
O sol banhava seu rosto e eu não me cansava de
admirar a sua beleza. Com uma saída de banho, os
cabelos soltos, o reflexo do mar deixava seus olhos ainda
mais exóticos cada vez que me olhava. Os dias aqui
tinham sido calmos e tranquilos, mas logo voltaremos a
nossa realidade.
Milena inventou um curso de Moda em Nova Iorque, seu
pai não foi muito favorável, mas dei minha palavra de que
cuidaria da proteção dela. Logo, Isabella também ficaria,
por mais que a garota não demonstrasse, não seria bom
ficar longe das irmãs. As meninas acharam melhor ficar no
apartamento dos pais, eu não via problema em elas
ficarem em casa, mas ambas acharam melhor dar
privacidade a mim e a Giulia.
Sem contar que Anita era apaixonada por todas, então
certamente estaria por lá também, sempre que fosse
possível.
Giulia estava animadíssima com essa ideia, ter as irmãs
por perto, certamente, a deixava em êxtase. A minha sogra
concordou com Isabella ficar somente se ela se
comprometesse a começar o processo terapêutico.
Honestamente, eu achava uma perda de tempo. Aquela
garota era o que era, terapia não a mudaria. Logo, assim
que voltássemos, meus sogros voltariam para Filadélfia.
Segundo eles, eu me casei com uma, mas ele perdeu as
três. Era uma brincadeira, mas eu pude ver que eles
estavam sentidos. Em uma conversa com meu sogro, ele
me disse sobre a preocupação de deixar Isabella em seu
território, por fazer fronteira com a Bratva. A verdade é que
o que aconteceu com Isabella assustou toda a família e o
melhor lugar para ela ficar era em Nova Iorque. Eu prometi
cuidar de ambas.
Giulia se aproximou.
— Esse lugar é um paraíso na Terra.
— Que bom que você gostou, principessa — Ela me
olhou por alguns segundos, então suspirou. — Não vai
brigar comigo? — Eu me aproximei e beijei seu pescoço.
— Eu já desisti de brigar por isso. Se quiser que eu seja
uma princesa, eu posso me esforçar por você.
Não resisti e sorri com ela. Essa garota, ela me deixou
sem palavras no primeiro segundo, ela deu a minha vida
um novo significado e, com ela, eu tinha muito mais do que
merecia.
Eu não falava mais isso em voz alta.
Ela me acertaria, e Deus sabe que ela tem capacidade
para me acertar. Mas eu tenho plena consciência, ela é
muito mais do que eu mereço, e eu sempre valorizaria o
amor que ela me dava tão livremente.
Em um movimento, eu a deitei na areia e cobri o seu
corpo com o meu, tendo o pôr do sol da Sicília e o mar
como testemunha da devoção que eu tenho por essa
mulher.
Epílogo

8 meses depois
Olhei mais uma vez para ter certeza.
Duas listras.
Era o meu quinto teste em dois dias.
Hoje era o aniversário de Anita e faríamos uma festa para
a pequena. Os meses após o nosso casamento foram
estranhamente calmos, sem mais ameaças ou atentados.
Após a retaliação da família DeLucca e outros soldados
envolvidos, tudo se acalmou. Embora Nero não estivesse
convencido de que tinha acabado, nada suspeito voltou a
acontecer. A segurança ainda estava acirrada.
Mas convenci Eduardo a colocar Anita em uma escola
presencial. No início, ele foi relutante, mas consegui
convencê-lo ao fazer com que ele assistisse a vários
vídeos de psicopedagogos, ressaltando a importância das
crianças conviverem com outras crianças de sua idade. Ele
acabou por concordar comigo e a pequena não cabia em si
de felicidade.
Milena e Isabella estavam em Nova Iorque e eu estava
amando ter minhas irmãs comigo. Isabella estava fazendo
terapia e entrou em um projeto social de ballet para
crianças carentes. Eu não acho que ela estava fazendo por
ela ou sentia a importância desse trabalho. Um dia, ela veio
jantar após a terapia e simplesmente disse que a terapeuta
indicou e ela aceitou. Não que ela fizesse de mau gosto,
ela só era indiferente a tudo que fazia. Sem emoção. Nero
virou sua sombra. Embora eu não visse tantos diálogos
entre os dois, ele sempre estava à frente da proteção da
minha irmã. Ele tinha o mesmo medo que o nosso, que
algo poderia acontecer com ela, que Dimitri poderia voltar e
levá-la de nós, para ele, ficou pessoal e eu, às vezes, me
perguntava o porquê, embora fosse muito agradecida por
ele sempre saber onde ela estava e com quem.
Milena estava envolvida no seu curso de Moda e em
mais alguma coisa. Ela estava sempre sumida, às vezes
dormia fora do apartamento, ela sempre me avisava
quando isso acontecia para que ficássemos mais atentas a
Isabella. Ela, às vezes, ficava pensativa, quase como se
estivesse apaixonada, mas quando brinquei com isso uma
vez, e ela negou e negou. Pareceu assustada com a
possibilidade. Eu só pedia sempre para que ela tomasse
cuidado com o que quer que fosse que ela estivesse
fazendo e com quem.
Papai vinha a cada quinze dias para Nova Iorque, ele
queria Isabella com ele, mas até mesmo ele sabia que ela
estava mais protegida aqui, que nós três sempre nos
protegemos bem e que a Filadélfia fazia fronteira com o
território da Bratva. Ele poderia não concordar, mas ele
sabia que era o melhor.
Com um sobressalto, senti o calor do corpo de Eduardo
atrás de mim. Tentei esconder os testes, mas ele já estava
me virando para ele. Merda, eu gostaria de fazer uma
surpresa, como eu não o ouvi se aproximando? Tentei
esconder os testes mesmo assim quando vi seu cenho
franzido.
— O que você está escondendo? — Ele deu um sorriso
leve.
Eu tentei soar impassível.
— Nada.
Nós tínhamos algumas disputas que terminavam em
sexo, então ele entendeu que eu queria brincar. Ele
segurou minhas mãos e, quando sentiu os pauzinhos,
empalideceu. Eu soltei um pouco incerta, um pouco
nervosa, enquanto ele olhava os testes.
— Eu queria fazer uma surpresa — disse um pouco sem
graça.
Ele olhou os testes, então olhou para mim, seu rosto era
pura emoção. Meus olhos marejaram. Ele estava um pouco
em choque e eu já estava ficando preocupada quando ele
me puxou para um beijo, não se importando que eu tivesse
acabado de passar a maquiagem e faltava pouco para a
festa. Ele me absorveu em um beijo que eu senti na minha
alma. Ele me sentou na bancada e olhou para o meu
ventre ainda plano. Então ele se inclinou e o beijou. Eu
fechei os olhos em uma miríade de emoções. Ele levantou
meu vestido e ficou ali me olhando, como se pudesse ver
através de mim.
— Amor, ainda não dá para ver nada aí.
Ele olhou para cima, em meus olhos.
— Obrigado, Giulia. Você me fez completo quando eu
não era nada antes de você — Sua voz escorria emoção.
— Você sempre foi tudo para mim, meu amor. Desde o
início.
Suas mãos esbarraram na minha calcinha e o ar em
nossa volta mudou. Seu olhar foi de maravilhado para
turbulento. Ainda com os olhos em mim, ele pressionou a
mão em meu clitóris e eu soltei um suspiro. Ele apertou
mais uma vez e eu comecei a ficar molhada. Em um
movimento só, ele me pôs em pé e tirou a minha calcinha,
desabotoou a sua calça e começou a bombear o seu pau,
minha boca ficou seca com a visão. Ele me sentou no
balcão novamente e me pôs na borda, entrando em mim
com uma estocada poderosa. Ele parou ali, olhando em
meus olhos, e não se mexeu por uns bons segundos.
— Eu te amo… — Ele suspirou, e então começou a se
mover. Entre nós, sempre foi agridoce, entre o doce e o
azedo. Eduardo alternava entre uma estocada forte e uma
mais lenta e isso estava me matando. Eu puxei as lapelas
do seu colete e falei em seu ouvido:
— Mais forte.
Mordi o lóbulo da sua orelha e ele apertava as
bochechas da minha bunda, estocando com força. O
movimento era cru, o som do choque entre os nossos
corpos e nossos gemidos inundava o banheiro, meu
orgasmo me desfez em uma poça, seguida pelo rugido de
Eduardo. Ficamos ali, suados e ofegantes, respirando o
mesmo ar, curtindo a sensação que eu sabia que só
sentiria com ele.

A festa foi maravilhosa. Chamamos alguns amiguinhos


de Anita da escola, apesar de Nero não ser muito de
acordo, conseguimos convencê-lo. Meus pais estavam
presentes, Giovanni e minhas irmãs, e claro, por pura
educação, Lorenzo.
Eu já não gostava desse homem antes, mas depois de
Eduardo me contar os horrores que passou com ele e o
que ela fazia com sua esposa, eu senti mais raiva ainda.
Anita estava cada dia mais alegre e parecida com uma
criança de, agora, onze anos. Ainda sentia a diferença com
a presença de seu pai, mas saber que agora ela estava
protegida lhe deu mais confiança de rir com vontade do
que tinha vontade.
Essa noite, apesar de toda a alegria com a festa, o clima
estava estranho. Lorenzo estava com um sorriso no rosto
que estava me irritando e Milena estava tensa. Ela e
Giovanni viviam trocando farpas, mas hoje ela ignorou
todas as tentativas dele.
Quando todos os convidados, por fim, foram embora e só
ficaram meus pais, minhas irmãs, Giovanni, Nero e
Lorenzo, resolvemos que daríamos a notícia.
— Família, temos um comunicado a fazer. Seremos pais.
A comoção foi geral. Recebi abraços sinceros de todos,
minha mãe estava saltando de alegria, Milena sorriu pela
primeira vez na noite. Eduardo recebeu apertos de mão e
Giovanni, sendo mais corajoso, me envolveu em um
abraço de parabéns e pegou uma bebida para comemorar.
Lorenzo tinha um brilho nos olhos, por mim, eu nem o teria
convidado, mas como algumas pessoas da Família
estariam presentes, não tivemos muita opção. Algumas
tradições não deveriam ser mudadas.
— Eu também gostaria de fazer um anúncio. E aproveitar
que estamos todos reunidos, afinal, somos família —
Lorenzo se virou para minha irmã Milena. — Venha aqui,
querida.
Milena voltou a ficar tensa. Ela também estava apagada,
um pouco pálida. A mão que segurava a taça estava
levemente tremendo. Um pânico se apossou de mim, eu
não fazia ideia do que estava acontecendo, mas, com toda
a certeza do mundo, eu não iria gostar nenhum pouco.
Milena respirou fundo e se aproximou de Lorenzo. Ele a
enlaçou pela cintura e disse:
— Milena e eu estamos noivos.
Eu escutei algo se quebrar, seguido de um rugido. Olhei
e Giovanni tinha quebrado a taça em sua mão e ela
sangrava. Ele olhou ferido para minha irmã, fez menção de
dizer algo, mas, fosse o que fosse, ele desistiu, virou-se e
saiu batendo a porta. O que diabos estava acontecendo
entre esses dois? Minha irmã tinha os olhos marejados,
olhou para cima, como se estivesse tentando se controlar
para não cair no choro. Quando voltou seu rosto, era
impassível.
— Milena, você sabe que não precisa fazer nada que não
queira, certo? — Essa era a voz de Eduardo. Eu ainda
estava muito assustada. Minha mãe se sentou e Isabella a
amparava. Meu pai estava controlando uma tempestade.
— Filha?
Ela finalmente olhou para meu pai.
— É verdade. Estamos noivos.
Isso estava errado. Muito errado. Isso não era Milena,
algo estava acontecendo. Olhei para Eduardo, pedindo um
socorro silencioso, ele me pediu calma com seu olhar.
Lorenzo, por fim, voltou a falar com as mãos
possessivamente na cintura de Milena.
— Ninguém vai nos parabenizar?

Fim
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Esta obra foi composta em fonte Palatino Linotype 12
e impressa em papel Avena 80g. [miolo]
e em papel Cartão Supremo 250g. [capa]
pela na gráfica Forma Certa
em agosto de 2020.

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