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Harin Andreo - Pétalas de Sangue 1 - Unidos Pela Lealdade
Harin Andreo - Pétalas de Sangue 1 - Unidos Pela Lealdade
Giulia, 10 anos
Os sons sussurrados que vinham do escritório de papai
não foram o que me chamou a atenção. Mamãe sempre
dizia que escutar atrás das portas era uma falta terrível de
educação, mas ouvi mamãe implorar, chorando em meu
nome e de minhas irmãs.
— É castigo por não ter te dado um filho homem? —
Minha mãe disse engasgada com o choro. Pela porta
entreaberta, vi meu pai segurar o rosto de mamãe com as
duas mãos.
— Não é nada disso, Alessandra. Trata-se de proteção.
Ivan Nikolai é o novo Pakhan. Em algum tempo, sua prole
tão louca quanto ele assumirá o poder. Eles não respeitam
mulheres, crianças ou qualquer um que mereça proteção,
ele odeia os italianos. Qualquer perspectiva de paz com o
Bratva morreu hoje junto com a Família Ivanov. Os
inteligentes reconhecem o perigo quando o vê. Minhas
filhas têm que ser fortes, um dia eu não estarei aqui para
protegê-las, mas o que eu ensinar, a protegerão para
sempre.
Minha mãe chorava e lamentava, negando com a
cabeça.
— Você as colocará em perigo, Enrico. Elas têm que ser
protegidas e não jogadas ao perigo como se fossem
homens. Isso irá arruiná-las em nossa sociedade — Papai
não a soltou, encostando suas testas.
— Essa é a maneira de protegê-las, cara mia. A guerra
está vindo. Não é mais uma questão de se, e sim, de
quando.
— Mas elas são crianças, Giulia tem apenas dez. Não
faça isso, Enrico. Por favor, não.
— Está decidido, mia bella. É o melhor para elas.
— E o menino Ivanov? Onde ele está? - Mamãe
perguntou após alguns segundos.
— Seguro. - Papai respondeu.
Afastei-me do escritório e meus olhos pararam em Milena
e Isabella, que brincavam no chão da sala. Ali, eu não tinha
ideia do que aconteceria, mas sabia, no meu íntimo, que
brincar despreocupadamente com bonecas no chão já não
seria rotineiro. Eu já entendia que vivíamos diferentes das
outras crianças, que éramos diferentes por sempre termos
seguranças por perto e nem sempre poder ir às festas de
aniversário ou à praça brincar como todos os outros. Eu
sabia o conceito de Guerra. Eu só não tinha entendido a
magnitude de tudo e do impacto que isso teria em nossas
vidas até que vi o desespero nos olhos da minha mãe e a
determinação em meu pai. Ele nos prepararia para a
guerra.
Capítulo 1
Dias Atuais
Era janeiro e estávamos em pleno inverno de Nova
Iorque. Da minha cobertura, observava as pessoas
insistindo em suas caminhadas matinais no Central Park.
Eu detestava o inverno, detestava o frio, pois ele me trazia
lembranças que eu preferia esquecer. Minha mãe morreu
em um inverno rigoroso, há três anos. Ela se suicidou e eu
sei, no fundo, que foi de tristeza por tudo o que suportou do
meu pai.
Depois de um casamento de sofrimento com meu pai, o
Don, da Cosa Nostra, nos Estados Unidos, líder de uma
das maiores organizações criminosas do mundo, ela
desistiu da vida. Muitas vezes eu intervi, ainda criança,
para defendê-la do monstro que meu pai era. E paguei com
meu sangue por cada uma dessas intervenções. Se eu
fechasse bem os olhos, ainda poderia sentir o cheiro de
sangue e sexo, e escutaria os lamentos da minha mãe.
Depois de homem, percebi a minha importância na Máfia.
Eu seria o futuro Don, a continuação do sangue do meu
pai, seu legado. Mudei minha maneira de enfrentá-lo, como
seu único herdeiro homem, passei a exigir a integridade
física da minha mãe. Maior que a arrogância do meu pai
era sua sede de continuar no poder, o valor de seu nome e,
principalmente, seu sangue. Isso funcionou por um tempo,
até minha mãe adoecer e desistir de si mesma.
Meu pai me criou a seu molde, queria um filho cruel como
ele. Eu sou o monstro que ele criou, frio e cruel, sou leal a
nossa causa, o respeito como Don, mas exigir a
integridade da minha mãe também deu controle e poder a
ele sobre a minha vida, eu tinha que ser exatamente uma
cópia dele e eu fui em quase tudo. A voz da minha mãe em
seu leito retumbava em meus ouvidos quando a escuridão
me tomava e ameaçava me levar inteiramente.
— Você não é ele, meu filho, você um dia encontrará
alguém que o fará enxergar exatamente como você é. Um
homem de bom coração.
O que ela não sabia é que eu não possuía um coração.
Parte do que eu poderia ter de bom foi com ela, sua
escolha em deixar a vida só reforçou o que eu já sabia, em
mim, não há nada que valha a pena. O único vestígio do
controle de meu pai em minha vida ainda era Anita, minha
irmã. Quando eu fosse Don, o que não iria demorar agora,
pois logo faria trinta anos, ela viria morar comigo e nada
mais me ligaria a ele.
Meu telefone tocou, não me surpreendendo por ser meu
pai.
— Don.
— Venha tomar café em casa. Precisamos discutir o
nosso futuro na Cosa Nostra1.
1.Tradução livre da autora “nossa casa”
“Nosso futuro”. Solto um riso seco. É assim que ele vê
essa situação, como se ele fosse continuar no poder
depois que eu assumisse. Ledo engano.
— Certo.
Não espero resposta e desligo. Eu sabia que essa hora
iria chegar, logo eu assumiria o posto, então, essa
conversa era esperada.
Não muito tempo depois, eu estou entrando na mansão
Santorelli para tomar café com meu pai e Anita.
— Buongiorno2.
2.Tradução livre da autora: “Bom dia”
Cumprimento já sentando no lugar posto a mesa para
mim. Olho para minha irmã Anita, de dez anos, alheia a
toda maldade do mundo que vivemos. Anita é uma garota
tranquila e alegre, apesar de todas as regras e a distância
do meu pai, sua integridade é o que me mantém por perto.
Ela era a única que ainda conseguia me arrancar um
sorriso com sua inocência. Eu vou mantê-la assim pelo
máximo de tempo possível. Eu estava sempre com um
olhar nela, seus guardas pessoais e a sua governanta
eram leais a mim. Eles me diriam se meu pai usasse a
força ou a violência em sua educação.
Meu pai sabe que não deve machucá-la. Ele também a
usava para me controlar, mas isso estava prestes a acabar.
— Buongiorno irmão — Anita sorri contida, porém vejo a
alegria dançar em seu olhar. Minha irmãzinha era bondosa
como minha mãe.
— Sente-se e tome seu café, precisamos discutir os
negócios — diz meu pai com impaciência. O clima sempre
foi esse. Frio.
Tomamos café em silêncio e assim que terminamos, o
segui para o escritório.
— Logo você fará trinta anos e já sabe o que se espera
de você.
Dei um aceno com a cabeça, indicando que estava
escutando e ele continuou:
— Faremos uma festa em comemoração. Você também
entende que terá que se casar, então já aproveitamos e
chamaremos para sua festa as filhas dos Sottocapos e
Caporigemes que estejam em idade de se casar.
Isso me alarma, mas mantenho a face impassível. Achei
que teria mais tempo para isso, que poderia avaliar a
situação com calma. Casamento? Eu ainda não tinha
pensado nisso como algo concreto. Eu sabia que iria
acontecer, mas claro que meu pai iria querer controlar tudo.
É mais uma demonstração indireta de seu controle sobre
mim.
— Acho melhor primeiro assumir e só então procurar
uma esposa — digo mantendo a máscara da indiferença.
— Você vai fazer o que é esperado. A festa está
planejada para quinze dias, já enviei os convites para as
famílias de Nova Jersey, Nova Inglaterra e Filadélfia. E
teremos também as famílias de Nova Iorque. Espero que
quando assumir o cargo, esteja noivo. Não se esqueça,
figlio3. Ela deve ser perfeita. Vou ser solidário e te dar a
oportunidade de escolher, caso não faça sua escolha, eu
farei por você.
3. Tradução livre da autora “filho”
Soltei um riso seco, sem humor.
Não me via tendo que ser responsável por alguém além
da Cosa Nostra e minha irmã. Seria mais alguém que teria
minha proteção, que estaria sob minha responsabilidade
diretamente. Eu não queria nada disso. Olhei para meu pai,
internalizando no fundo da minha mente que faltava pouco
para que ele saísse de uma vez por todas do meu
caminho. Se eu tivesse que casar para que isso fosse
possível, para cuidar de Anita e sair de sua influência, que
fosse. Eu pagaria o preço necessário.
— Tudo bem — Selo meu destino.
Capítulo 2
“1,2,3...”
Meu pai me ensinou, desde muito nova que em nosso
mundo não haveria príncipe encantado. Que teríamos que
ser suficientes para salvar nossa própria pele.
“4,5,6...”
Isso moveu a mim e às minhas irmãs a procurar nos
prepararmos para o lado sombrio do mundo em que
vivíamos. Aqui, as mulheres foram condicionadas a não
ver, não sentir, não falar, subjugadas e vistas como
incapazes de lidar com a nossa realidade. Isso também era
chamado de proteção.
“7, 8, 9...”
Meu pai nos forçou e reconhecer a nossa verdade. Ele
disse que essa era a melhor forma de nos proteger. Eu
acredito nele.
“10, 11, 12...”
— Giulia, desse jeito não vai sobrar nada da coluna de
boxe — Escuto a voz de Milena atrás de mim, já vestida
para o treino. Meu pai construiu uma academia na parte de
baixo da nossa mansão, com piscina, espaço para boxe e
artes marciais e tiro esportivo. Ela continuou: — Mamãe
está em êxtase lá em cima. Não sei o que aconteceu, mas
ela me pediu para chamá-la. Já estão todos no escritório
de papai.
Limpo o suor da minha testa e sigo para o escritório.
— Boa coisa não deve ser.
Isso tira uma pequena risada de Milena. Ela tem um
humor leve, mas é um furacão incontrolável quando
provocada. Pai sempre diz que ela deve aprender a
controlar seu gênio ou isso ainda a colocará em risco. Ele
sempre disse que também seguia ordens e que nem
sempre poderia nos proteger de tudo. Nós também
tínhamos obrigações.
Entramos no escritório onde já estavam sentados papai e
Isabella, nossa irmã mais nova. Minha mãe estava em pé,
com um papel nas mãos, muito animada para nosso
próprio bem. O maior desejo dela era nos ver casadas com
pessoas do alto escalão da Máfia, e a maior tristeza era
nos ver aprendendo “ofícios de homens”. Ela dizia que as
mulheres deveriam ser protegidas, que nossa
autossuficiência assustaria os homens e não
conseguiríamos fazer bons casamentos. Todas tivemos
aulas de etiqueta, eu aprendi piano e harpa, Isabella
aprendeu ballet, tem desenvoltura social e é a esperança
da minha mãe por, aparentemente, ser uma flor delicada.
Com seus olhos azuis e cabelo claro, tem a face de um
anjo e um sorriso doce, até vê-la em ação com uma adaga.
Milena é misteriosa, sempre soube que ela mantinha
segredos até mesmo de mim, mas Isabella consegue ser
ainda mais perigosa, porque as pessoas tendem a
subestimá-la. Eu tenho a reputação de ser a mais
complicada, mas é só a reputação. Comparada às minhas
irmãs, eu sou muito tolerante.
— Sentem-se, meninas, sentem-se. Temos uma notícia
maravilhosa para vocês — diz minha mãe delirante de
felicidade.
— Por que estou com medo dessa felicidade toda... —
murmuro tirando algumas risadas das minhas irmãs e de
meu pai.
— Hoje não, Giulia, hoje sua personalidade rabugenta
não vai dissolver meu bom humor. Estamos vivendo um
período histórico. Fomos oficialmente convidadas para o
aniversário de trinta anos do futuro Don da Cosa Nostra.
Todo o alto escalão da Máfia estará presente — Se minha
mãe pudesse flutuar, ela flutuaria. – Nós vamos passar
alguns dias em Nova Iorque, meninas. Seu pai, como
Sottocapo4 aqui na Filadélfia, foi intimado a estar presente.
Como se fôssemos declinar a esse convite.
4.Tradução livre da autora “segundo no comando”
Encarei minha mãe alguns segundos. Ela sempre foi
linda e fez jus ao seu papel de esposa troféu, perfeita nos
eventos, mas também sempre foi uma companheira de
vida do meu pai. Com seu cabelo negro e olhos castanhos,
ela sempre estava arrumada e preparada para qualquer
situação. Milena é uma cópia de mamãe, as fotos são
impressionantes em semelhança, mas é aí que elas
acabam. Enquanto Milena era parecida com mamãe com
seu cabelo longo e negro e olhos castanhos, eu tinha o
cabelo preto da mamãe, a altura dos ombros e os olhos
verdes. Papai era loiro e tinha heterocromia, sendo um olho
azul e outro verde.
Mamãe nos ensinou a nos comportar como uma dama
em eventos sociais, mas aqui na Filadélfia já éramos
famosas por sermos diferentes das outras principesses5 da
Máfia. As mulheres nos criticavam, outras nos respeitavam.
Os homens nos desejavam e nos temiam. A nós foi dada
mais liberdade que qualquer outra família da Máfia e os
mais conservadores não recebiam uma mulher forte muito
bem. Minha mãe continuou seu discurso acalorado:
5. Tradução livre da autora “princesas”
— Lá, será a oportunidade perfeita para que vocês
possam socializar com o alto escalão da Máfia e quem
sabe conseguir um bom casamento para vocês...
Ela continuava a falar, falar, falar o discurso sobre como
era difícil, mesmo sendo filhas de um Sottocapo, achar
alguém que lidasse com a gente... não contive um
suspiro...
— Quantas vezes eu já disse que é falta de educação
suspirar assim quando estamos falando, Giulia! Eu espero
que você não me envergonhe, já basta Milena que não
consegue segurar a língua afiada.
— Hey, eu estou bem quietinha aqui — reclama Milena.
— Alessandra, dê um crédito às meninas, elas sempre se
comportaram bem nos eventos daqui — interviu meu pai.
— Eu preciso me lembrar do incidente no aniversário do
Capitão Conti? — diz minha mãe olhando para Milena.
Papai levantou as mãos como quem diz: eu tentei.
— Cazzo! Ele passou a mão no meu seio, mamma6, no
meio do salão de festa!
6.Tradução livre da autora “mamãe”
— Cuidado com essa boca, mocinha, e você não
precisava ter quebrado o nariz dele. Deveria reportar ao
seu pai, ele resolveria a situação. Ele é o Sottocapo. Foram
meses para que esquecessem esse incidente — diz minha
mãe com voz de choro.
Milena soltou um bufo, enquanto eu e Isabella seguramos
o riso. O soldado não tinha reconhecido Milena como filha
do Sottocapo, pediu uma dança e foi a sua pior viagem.
— E você, Giulia, trate de melhorar esse mau humor.
Homem não gosta de mulher mal humorada, então, por
favor, colabore. Tente sorrir mais. Você já vai fazer vinte e
dois, filha. Eu, na sua idade, já era mãe.
Esforço-me para não revirar os olhos. Sei qual o meu
papel na Máfia, sei que se meu pai chegar a um acordo
onde eu tenha que me casar, vou me casar, independente
de qualquer coisa. Não era minha culpa que não apareceu
alguém corajoso o suficiente.
— Mas me diga, mamãe, por que toda essa comoção
para o aniversário do futuro Don? Nunca fomos convidados
para eventos em Nova Iorque. Não somos íntimos,
estamos a um Estado de distância — questionou Isabella.
Isso era verdade. Vimos a família Santorelli a muitos anos
atrás quando a esposa do Don ainda era viva e sua
filhinha, um bebê. Eles vieram, jantaram, mas nunca mais
vi o casal ou o filho deles.
— Essa é a melhor notícia, Bella. O boato é de que se
trata de uma desculpa para que o futuro Don conheça as
meninas e escolha a sua esposa. Afinal, ele será o Don,
precisa se casar — Minha mãe está saltitando de
felicidade, mas de repente para e nos olha. — Meninas, eu
sei que quando querem, vocês são impecáveis. Esse
evento é muito importante para mim, vocês são, de longe,
as mais lindas da Cosa Nostra. Mostrem para mim que eu
também fiz um bom trabalho com vocês.
Meu coração se apertou. Minha mãe poderia ser um
pouco exagerada, mas ela era uma boa mãe. Comparada a
outras muitas famílias da Cosa Nostra, eu só tinha a
agradecer pela vida e liberdade que meus pais nos deram.
Eu me encarregaria de fazer o nosso melhor nesse evento,
mesmo que não conseguíssemos um casamento
vantajoso, ela se orgulharia de nós.
— Não se preocupe, mamãe, estaremos em nosso
melhor comportamento — afirmei com segurança.
Assim que saímos do escritório, fui para a sala de
música. Deveria ser uma imagem hilariante. Eu, com roupa
de treino, sentada em um piano, mas a música sempre foi
um bálsamo para os meus dias mais aflitos. Enquanto eu
dedilhava The Scientist, do Coldplay, deixava meus
pensamentos voarem. Eu e minhas irmãs sempre
participamos de eventos aqui em Philly. Eu sempre amei a
liberdade de poder fazer o que gosto. Aqui as pessoas me
conhecem, sabem das minhas particularidades. Os
soldados nos respeitam, sabem da nossa capacidade de
ser letal quando necessário. Eu me esforçaria por minha
mãe, por lealdade a tudo o que meu pai fez por mim e
minhas irmãs, mas o meu maior medo seria se um dia me
casasse, se alguém realmente se interessar por mim.
Enquanto as meninas do nosso meio aperfeiçoaram como
ser uma princesa perfeita, eu e minhas irmãs lutávamos
com homens mais velhos e mais habilidosos que nós.
Enquanto elas escolhiam maquiagem e vestidos, nós
aprendíamos sobre armas e adagas. Se um homem se
interessasse por mim, ele me aceitaria assim? Eu poderia
ser uma dama, mas eu preferia não ser a maior parte do
tempo. Meus dedos dançavam pelas teclas enquanto meus
pensamentos voavam…
Giulia 14 anos
Vendada, no alto da colina, em uma cabana longe da
cidade.
Soco no estômago.
— A vulnerabilidade está em sua mente, Giulia.
Outro soco, agora no peito. Tentei defender, mas não
alcancei a mão de mestre Chang. O ar sumiu dos meus
pulmões.
— Ser subestimada é seu maior trunfo.
Chute no joelho. Caí, mas me levantei logo, mesmo com
dor.
— Escute, Giulia. Escute.
Soco no estômago novamente. Eu queria escutar, eu
queria me concentrar, mas a dor em meu joelho e no
abdômen estava demais Ele voltou a me golpear mais
vezes e eu estava quase chorando. Dessa vez eu não
choraria. Eu não me entregaria. Passamos as últimas duas
semanas aqui, nessa cabana no meio do nada. Eu me
interessei pelas artes marciais e papai contratou o mestre
Chang para me treinar, ele era a minha sombra. Ele voltou
e me deu um golpe em ambas as pernas, caí no chão e
fiquei. Tentei escutar além do minha dor. Foi então que ouvi
os passos, ouvi o farfalhar da calça.
“Se comunique com a natureza, Giulia. Ela é sua aliada”.
Senti que seu pé se levantava do chão, ele iria me chutar.
Sem pensar, antes que me acertasse, eu defendi o golpe e
abracei suas pernas com as minhas, derrubando-o no
chão. Sem perder tempo, me coloquei em cima do mestre
e tentei segurar suas mãos com minhas pernas, mas ele foi
mais rápido. Senti sua movimentação para acertar meu
rosto, foi uma sequência de cinco golpes que me defendi
apenas guiada pelo instinto. Com uma cabeçada, o
surpreendi e consegui segurar suas mãos com minhas
pernas, o asfixiando com as mãos. Alguns segundos, ele
bateu a perna no chão. Eu tirei a venda e ele me deu um
quase sorriso.
— Muito bem, Giulia.
Fui tirada dos meus pensamentos pela entrada do meu
pai na sala de música.
— Você só toca assim quando está preocupada — Meu
pai se aproximou do piano. Ele me conhecia mais que eu
mesma. Ele sempre me pedia opinião sobre suas decisões
e seus capitães aprenderam a me respeitar também.
— Estou bem — disse para não preocupá-lo. Eu faria
qualquer coisa pelo meu pai, mesmo me casar com alguém
que não conhecia. Achava pouco provável que
acontecesse, mas se houvesse um acordo com alguém, eu
o honraria.
—Você não me engana, figlia7. Você está com medo
desse evento?
7.Tradução livre da autora “filha”
— Tenho receio de alguém se interessar por mim, mas
gostar de apenas uma parte de mim. A principessa, a dama
perfeita. Eu morreria de tédio e acho que mataria o marido
no processo.
Isso tirou uma pequena gargalhada do meu pai. Depois
ele me fitou:
— É pouco provável que aconteça. Você não deveria se
preocupar.
— Você está tão seguro — disse estreitando os olhos.
— Quando você se casar, Giulia, vai ser com alguém que
te respeitará como você é, porque eu te ensinei a se impor.
Eu te dei as armas. Lute — Ele saiu com uma piscadela.
Eu não costumava demonstrar minhas inseguranças,
mas algo sobre esse evento me deixava inquieta, quase
angustiada. Eu tinha a sensação de que tudo mudaria em
breve, muito parecida com a sensação que senti quando
tinha 9 anos e escutei meu pai e minha mãe no escritório.
Depois daquele dia, meu pai passou a nos treinar como
qualquer outro soldado. Ele não nos poupou. Agora, a
sensação era a mesma.
Eu só não sabia dizer se isso era boa ou não.
Capítulo 3
Os dias que se seguiram foram, no mínimo, turbulentos.
Mamãe nos arrastou de loja em loja para vestidos e
acessórios. Milena era, de longe, a mais sofisticada entre
nós. Eu sempre gostei de tons mais escuros e Bella
adotava estampas e flores. A rotina continuava entre
treinamento e os preparativos para o aniversário do futuro
Don.
Chegando o dia de embarcar, nos encaminhamos para o
aeroporto, sendo seguidos pela equipe de segurança. Nós
estávamos próximos ao território da Bratva, papai não nos
deixavam cegas quanto aos negócios, sabíamos que,
ultimamente, a Cosa Nostra estava sofrendo ameaças e
ataques aos nossos laboratórios e aos nossos
carregamentos. Embarcamos no jatinho, mamãe animada,
como se estivéssemos indo visitar a realeza. Não era muito
diferente. O Don é o topo da nossa hierarquia.
Eu sabia muito pouco a respeito dos Santorellis. Dizem
que o Don é sádico, gosta de infringir dor em qualquer ser
humano, inocente ou não. Seu filho não deve ser muito
diferente, se tudo o que dizem a respeito do herdeiro for
verdade. Sua fama também vai longe sobre sua falta de
misericórdia. Papai comenta que a futura Tríade de poder
será muito poderosa, a Tríade é composta pelo Chefe de
Frente, Consigliere e o Don, sendo este o topo do poder.
Meu pai é um excelente líder, nunca teve problemas com o
Don, é muito amado e respeitado pelos nossos soldados. O
Don nunca teve que ir ao nosso território para dar apoio em
alguma situação ou mesmo por desconfiança. Esse era um
dos motivos pelo qual não fôssemos muito próximos do
Don.
O voo ocorreu sem problemas, desembarcamos e
seguimos para o apartamento que papai mantém em Nova
Iorque. As duas vezes que viemos foram rápidas e mal
aproveitamos os pontos turísticos. Enquanto seguíamos
para o apartamento, Milena suspirou:
— Dessa vez eu vou dar uma volta no Central Park.
— Você sabe que pode ser perigoso — argumentou
mamãe.
— Perigoso para quem? — responde Milena com um
sorrisinho que Bella e eu acompanhamos. Mamãe deu um
suspiro derrotado. Às vezes, eu tinha um pouco de pena
dela.
— Seu pai deu liberdade demais a vocês.
Chegamos ao apartamento e eu estava inquieta
guardando minhas coisas no closet. Escutei uma batida na
porta e minhas irmãs entraram. Bella se dirigiu à janela e
Milena se jogou em minha cama.
— Você já viu alguma foto do Don ou de alguém
vinculado a Máfia aqui de Nova Iorque?
— Não. Nunca vi a necessidade — respondi guardando
meus sapatos, deixando meu mal-humor sair. Viajar me
irritava, guardar minhas coisas me irritava, ir nessa festa
me irritava, mas eu precisava ser a voz da razão
— Você sabe que sua rabugice não me atinge, Giulia.
Sou imune a ela — disse Milena.
— Infelizmente — disse em um sorriso falso.
— Mamãe o viu quando veio em Nova Iorque, ano
passado. Disse que ele é muito bonito e educado — disse
Bella ainda olhando na janela.
— Eu me sinto em um leilão, oferecida em uma bandeja.
É deplorável que ainda existam essas tradições tão
antiquadas. Como a gente se casa com alguém que não
conhece? Eu nunca vou passar por isso. Prefiro desertar.
Eu suspirei. É disso que eu falo, ser a voz da razão.
— Milena, ir nesse evento não quer dizer exatamente que
seremos obrigadas a nos casar. O fato de papai ter sido
afável conosco não quer dizer que estamos isentas das
nossas obrigações — Milena suspirou alto. Eu tinha a
impressão que ela jamais se casaria por conveniência.
— Você se casaria? – perguntou Bella virando-se para
me encarar com seus grandes olhos. — Se você fosse
escolhida pelo Don, você se casaria?
Pensei um pouco antes de responder:
— Se fosse para o melhor de todos, sim. Mas sabemos
que é pouco provável que ele escolha a mim.
Provavelmente, ele procura uma principessa8 afetada e
submissa. Adjetivos esses que não nos descrevem. Então,
volto a dizer, por mamãe, vamos fazer o nosso melhor.
Logo tudo isso acaba e voltamos para Philly.
8.Tradução livre da autora “princesa”
Milena suspirou mais uma vez e saímos do quarto.
Estava no fim da tarde, então resolvemos ir ao Starbucks
que tinha próximo ao apartamento. Papai avisou aos
fantasmas que estaríamos indo. Éramos perfeitamente
capazes de nos proteger, mas resolvemos aceitar por
insistência.
Entramos no café percebendo que tinham algumas
pessoas para serem atendidas, então aguardamos na fila.
Milena e eu éramos de estatura mediana, sendo Isabella
mais baixa e magra, muitas vezes era confundida
facilmente com uma adolescente, apesar de seus dezoito
anos.
Notei que em nossa frente havia dois homens altos e
fortes, mas de onde eu estava, não conseguia ver os rostos
e logo perdi o interesse. Eu convivia com muitos homens,
treinava com eles, mas sendo filha do Chefe, eles nunca
me davam uma segunda olhada. Não que eu estivesse
interessada, mas esses homens à nossa frente exalavam
uma aura de superioridade e chamaram minha atenção.
Estávamos conversando animadamente sobre um filme
que entraria em cartaz enquanto aguardávamos nossa vez.
Eu era a maluca por café, experimentava os mais variados
tipos. Um dos homens grande se afastou, dando passagem
para mim, e aguardou ao lado, mas eu estava mais
interessada no café que eu iria experimentar.
Bella e Milena pediram um Latte9 tradicional, enquanto eu
decidia que iria pedir um indicado como novidade,
chamado Tentação. Enquanto o café das minhas irmãs era
preparado, olhei para o homem alto que estava ao lado,
aguardando o outro atendente fazer o seu. Seu amigo já
estava sentado em uma mesa e ele aguardava o dele. Por
um momento me permiti olhar de verdade para o homem
que era uma visão. Tinha o corpo bem definido, cabelo
cheio, castanho, mandíbula quadrada e a boca lindamente
contornada. Também era banhado por um ar sombrio.
Quando olhei em seus olhos, eles estavam em mim
também. Seu olhar era fixo, intenso e sem desculpas, e eu
me senti como uma criança pega em uma travessura.
Nessa hora, o atendente me perguntou qual seria o meu
café e eu respondi prontamente com os olhos no estranho,
que me mantinha cativa por sua intensidade.
9. Tradução livre da autora “leite”, mas no caso e um tipo de café
— Tentação.
O estranho continuou olhando fixamente e eu percebi em
seu olhar que ele estava se divertindo. Não que ele tenha
sorrido, ele não o fez, não parecia ser desses que sorriam
facilmente.
Ao me dar conta do que tinha acabado de acontecer,
desviei os olhos e senti meu rosto arder. Eu o chamei de
Tentação? Não, não, eu pedi um café. Eu só queria um
café e, acidentalmente, eu estava olhando para ele.
Cazzo.10
10. Tradução livre da autora “Merda”
Eu não corava.
Nunca.
Firmemente olhando em frente, ignorei o estranho e
mostrei-me muito interessada no atendente preparando
meu café. O pedido do estranho ficou pronto e ele
lentamente se aproximou de mim, tornando impossível não
olhar para ele. Virei-me de frente a ele com o que restou da
minha dignidade. Ele se aproximou, e se aproximou, eu
deveria pará-lo. O que ele ia fazer? Meu corpo não
respondeu, eu tentei preparar um golpe para pará-lo, mas
estava hipnotizada. Ele disse em meu ouvido:
— Realmente... uma tentação — Senti sua respiração
quente, enquanto ele se afastava lentamente, me olhando
nos olhos mais alguns segundos, até virar-se e ir para seu
amigo. Eu sempre tinha uma resposta espirituosa para
todas as situações, mas, naquele momento, não consegui
pensar em nada que não fosse o perfume masculino e
embriagador e no estremecimento do meu corpo.
Quem era esse homem? E que sensação foi essa?
Mesmo com toda a liberdade que tivemos, sendo nascida
e criada na Máfia, havia princípios que eu valorizava. Eu
sempre pensei em sexo com alguém que eu me sentisse
atraída e isso nunca tinha acontecido, até hoje. Mas,
calma, sexo? De onde veio isso? Eu nem conhecia esse
homem e ele exalava perigo, isso eu tinha certeza e sentia
na medula.
Virei-me para o atendente ainda perdido em
pensamentos quando o sino tocou e dois homens
entraram. Avistei Bella e Milena a alguns metros me
aguardando e eu ainda estava distraída quando um dos
homens me empurrou para trás violentamente e anunciou
um assalto. Se eu não tivesse tão absorta em meus
pensamentos, teria notado o comportamento suspeito dos
homens. Notei pelo canto do olho o homem tentação e
percebi que ele e o outro estavam armados, a propósito, o
homem Tentação já estava com a arma na mão dele, se
levantando do banco. O olhar era assassino.
Cazzo. Va fanculo. 11
11. Tradução livre da autora “Merda. Que caralho”
Isso poderia ficar muito feio. Com um olhar, notei que
minhas irmãs já largavam o café e, com um sinal, me
aproximei do primeiro assaltante, o que havia me
empurrado, e bati em seu pulso de forma que ele largou a
arma. Chutei-a para longe e dei um golpe com a mão
aberta em seu nariz, ele uivou de dor, em seguida, dei uma
rasteira, o homem caiu, rapidamente dei um nocaute
estratégico, deixando-o desacordado.
O segundo homem estava mais distante, com a arma
apontada para mim. Fiquei parada quando notei que Bella
se aproximava do homem e dava-lhe um chute na parte de
trás de seu joelho, fazendo com que se dobrasse, dando-
lhe um mata-leão. Ele atirou e quase acertou Milena, que
segurou sua mão e tirou-lhe a arma com uma pressão no
pulso. O homem caiu no chão, tentando recuperar o ar e foi
quando eu vi.
Bella estava sorrindo.
Bella iria matá-lo.
Não poderíamos chamar atenção assim, era só o que eu
conseguia pensar, olhei para seu rosto brilhando de
excitação, conhecia esse olhar, ele apontou uma arma para
mim e, por pouco, não acertou Milena, ela iria puxar uma
adaga e mataria o infeliz. O sangue gelou em minhas
veias, mas estava muito longe para impedir. Milena deve
ter pensado o mesmo, pois, estando mais próxima, com um
só soco na cabeça do homem o desmaiou. Eu cheguei em
seguida e puxei Bella para longe.
— Por que vocês tem que acabar com a minha festa? —
Ela disse com uma falsa calma e uma voz doce. Ela só
tinha dezoito anos, mas poderia ser mais sanguinária que
qualquer homem feito. Às vezes, até mesmo eu me
assustava.
— Não podemos chamar atenção — falei em seu ouvido.
Os fantasmas estavam assistindo da porta com suas
armas no punho, no lado de fora, e nos deram sinal para
sairmos. A comoção era total, mas, com o canto dos olhos,
consegui enxergar o cara tentação e seu amigo. Sem
perder a adrenalina, soprei um beijo debochado e me virei.
Mas ainda consegui ver o brilho dos seus olhos, que
acelerou o meu pulso. Entramos no carro o mais rápido
possível. Um dos seguranças já estava ligando para meu
pai e o outro, para o cara que “limpa a bagunça”, para nos
apagar da cena. Mamãe ficaria furiosa. Adeus passeio no
Central Park.
Capítulo 4
Ainda estava surpreso com o show que acabei de
presenciar e raramente as pessoas, ou situações, me
surpreendiam. Observando as três mulheres saírem em um
carro, acompanhadas por alguns seguranças, percebi que
não eram civis comuns. Quem eram? Nocautearam dois
ladrões em menos de dois minutos como se fossem
profissionais. Uma delas parecia nem mesmo ter saído do
colegial.
— Va fanculo! O que foi tudo isso? — disse Giovanni
com seus olhos tão surpresos quanto os meus. — Cara,
acho que me apaixonei — anunciou falsamente com uma
mão no peito e um sorriso de merda.
Giovanni era um piadista. Tinha humor para tudo, mas
era o melhor estrategista da Cosa Nostra. Por isso e por
sua confiança e lealdade, ele seria o meu Consigliere12.
12. Tradução livre da autora “Conselheiro”
— Vamos embora, em pouco tempo aqui estará cheio de
policiais — Ele me acompanhou ainda comentando sobre a
performance das meninas, enquanto eu acenava indicando
que escutava, mas meus pensamentos ainda estavam na
morena de olhos verdes.
Ela era linda, pensava enquanto entrava no carro e
seguia para casa.
Eu estava acostumado com mulheres bonitas, então, não
entendia esse fascínio instantâneo pela estranha. Talvez
seja a mistura de força e ingenuidade. Quando aquele
homem a afastou com violência, eu quase atirei nele ali
mesmo, sem pensar nas consequências. Minhas reações a
essa desconhecida me assustou.
Não importava.
Meu foco deveria estar unicamente na importância do
evento de sábado onde deveria estar presente minha futura
esposa.
Velho bastardo.
Essa era a última vez que ele iria interferir na minha vida.
Notei que, com meu devaneio, Giovanni se calou.
— Ter um prazo para arrumar uma esposa deve ser
muito fodido — diz Giovanni, de repente, reflexivo. Ele era
uma das poucas pessoas que realmente me conhecia, que
permitia baixar alguns dos meus escudos. Era um tom
conhecedor. Ele sabia quão bastardo meu pai era, diferente
de seu pai, que foi firme sem ser cruel. Giovanni tinha uma
boa família, como poderia ser uma boa família na Máfia.
Não respondo, mas sinto um aperto quase como um
lamento. Sim, era muito fodido, mas tentava ver de forma
prática. Finalmente digo:
— É necessário.
Porque era. Um preço para nos livrar definitivamente do
velho e tirar qualquer sombra de influência dele na vida de
Anita. Quando eu fosse Don, também seria o chefe da
família e não permitiria que ele a usasse como peão em
seus jogos, como ele fazia com todos ao seu redor.
Sem mais conversas, seguimos para casa.
8 meses depois
Olhei mais uma vez para ter certeza.
Duas listras.
Era o meu quinto teste em dois dias.
Hoje era o aniversário de Anita e faríamos uma festa para
a pequena. Os meses após o nosso casamento foram
estranhamente calmos, sem mais ameaças ou atentados.
Após a retaliação da família DeLucca e outros soldados
envolvidos, tudo se acalmou. Embora Nero não estivesse
convencido de que tinha acabado, nada suspeito voltou a
acontecer. A segurança ainda estava acirrada.
Mas convenci Eduardo a colocar Anita em uma escola
presencial. No início, ele foi relutante, mas consegui
convencê-lo ao fazer com que ele assistisse a vários
vídeos de psicopedagogos, ressaltando a importância das
crianças conviverem com outras crianças de sua idade. Ele
acabou por concordar comigo e a pequena não cabia em si
de felicidade.
Milena e Isabella estavam em Nova Iorque e eu estava
amando ter minhas irmãs comigo. Isabella estava fazendo
terapia e entrou em um projeto social de ballet para
crianças carentes. Eu não acho que ela estava fazendo por
ela ou sentia a importância desse trabalho. Um dia, ela veio
jantar após a terapia e simplesmente disse que a terapeuta
indicou e ela aceitou. Não que ela fizesse de mau gosto,
ela só era indiferente a tudo que fazia. Sem emoção. Nero
virou sua sombra. Embora eu não visse tantos diálogos
entre os dois, ele sempre estava à frente da proteção da
minha irmã. Ele tinha o mesmo medo que o nosso, que
algo poderia acontecer com ela, que Dimitri poderia voltar e
levá-la de nós, para ele, ficou pessoal e eu, às vezes, me
perguntava o porquê, embora fosse muito agradecida por
ele sempre saber onde ela estava e com quem.
Milena estava envolvida no seu curso de Moda e em
mais alguma coisa. Ela estava sempre sumida, às vezes
dormia fora do apartamento, ela sempre me avisava
quando isso acontecia para que ficássemos mais atentas a
Isabella. Ela, às vezes, ficava pensativa, quase como se
estivesse apaixonada, mas quando brinquei com isso uma
vez, e ela negou e negou. Pareceu assustada com a
possibilidade. Eu só pedia sempre para que ela tomasse
cuidado com o que quer que fosse que ela estivesse
fazendo e com quem.
Papai vinha a cada quinze dias para Nova Iorque, ele
queria Isabella com ele, mas até mesmo ele sabia que ela
estava mais protegida aqui, que nós três sempre nos
protegemos bem e que a Filadélfia fazia fronteira com o
território da Bratva. Ele poderia não concordar, mas ele
sabia que era o melhor.
Com um sobressalto, senti o calor do corpo de Eduardo
atrás de mim. Tentei esconder os testes, mas ele já estava
me virando para ele. Merda, eu gostaria de fazer uma
surpresa, como eu não o ouvi se aproximando? Tentei
esconder os testes mesmo assim quando vi seu cenho
franzido.
— O que você está escondendo? — Ele deu um sorriso
leve.
Eu tentei soar impassível.
— Nada.
Nós tínhamos algumas disputas que terminavam em
sexo, então ele entendeu que eu queria brincar. Ele
segurou minhas mãos e, quando sentiu os pauzinhos,
empalideceu. Eu soltei um pouco incerta, um pouco
nervosa, enquanto ele olhava os testes.
— Eu queria fazer uma surpresa — disse um pouco sem
graça.
Ele olhou os testes, então olhou para mim, seu rosto era
pura emoção. Meus olhos marejaram. Ele estava um pouco
em choque e eu já estava ficando preocupada quando ele
me puxou para um beijo, não se importando que eu tivesse
acabado de passar a maquiagem e faltava pouco para a
festa. Ele me absorveu em um beijo que eu senti na minha
alma. Ele me sentou na bancada e olhou para o meu
ventre ainda plano. Então ele se inclinou e o beijou. Eu
fechei os olhos em uma miríade de emoções. Ele levantou
meu vestido e ficou ali me olhando, como se pudesse ver
através de mim.
— Amor, ainda não dá para ver nada aí.
Ele olhou para cima, em meus olhos.
— Obrigado, Giulia. Você me fez completo quando eu
não era nada antes de você — Sua voz escorria emoção.
— Você sempre foi tudo para mim, meu amor. Desde o
início.
Suas mãos esbarraram na minha calcinha e o ar em
nossa volta mudou. Seu olhar foi de maravilhado para
turbulento. Ainda com os olhos em mim, ele pressionou a
mão em meu clitóris e eu soltei um suspiro. Ele apertou
mais uma vez e eu comecei a ficar molhada. Em um
movimento só, ele me pôs em pé e tirou a minha calcinha,
desabotoou a sua calça e começou a bombear o seu pau,
minha boca ficou seca com a visão. Ele me sentou no
balcão novamente e me pôs na borda, entrando em mim
com uma estocada poderosa. Ele parou ali, olhando em
meus olhos, e não se mexeu por uns bons segundos.
— Eu te amo… — Ele suspirou, e então começou a se
mover. Entre nós, sempre foi agridoce, entre o doce e o
azedo. Eduardo alternava entre uma estocada forte e uma
mais lenta e isso estava me matando. Eu puxei as lapelas
do seu colete e falei em seu ouvido:
— Mais forte.
Mordi o lóbulo da sua orelha e ele apertava as
bochechas da minha bunda, estocando com força. O
movimento era cru, o som do choque entre os nossos
corpos e nossos gemidos inundava o banheiro, meu
orgasmo me desfez em uma poça, seguida pelo rugido de
Eduardo. Ficamos ali, suados e ofegantes, respirando o
mesmo ar, curtindo a sensação que eu sabia que só
sentiria com ele.
Fim
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Esta obra foi composta em fonte Palatino Linotype 12
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pela na gráfica Forma Certa
em agosto de 2020.