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Poder Judiciário da União Fls.

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

Órgão : 6ª TURMA CÍVEL


Classe : APELAÇÃO CÍVEL
N. Processo : 20150710043628APC
(0004303-45.2015.8.07.0007)
Apelante(s) : JOAO ALVES DA SILVA
Apelado(s) : COMPANHIA DE SEGUROS ALIANCA DO
BRASIL
Relator : Desembargador JOSÉ DIVINO
Acórdão N. : 1054040

EMENTA

DIREITO CIVIL. CONTRATO DE SEGURO DE VIDA.


RESCISÃO. DEVOLUÇÃO DOS VALORES PAGOS.
IMPOSSIBILIDADE. PRÊMIO. REAJUSTE
I. A princípio, a variação dos prêmios dos seguros, em razão da
mudança de faixa etária, não configura ofensa ao princípio
constitucional da isonomia quando baseada em legítimo fator
distintivo, desde que não evidenciada a aplicação de
percentuais desarrazoados e sem base atuarial, com o condão
de compelir o idoso à quebra do vínculo contratual.
II. No contrato de seguro, o prêmio constitui uma prestação
paga a fim de que a seguradora garanta o legítimo interesse do
segurado, na hipótese realização do risco predeterminado
(sinistro). 1 A garantia é o objeto imediato do seguro e o
interesse do segurado constitui o objeto da garantia e o
mediato do contrato.
III. Optando o segurado pela rescisão do contrato, não é devida
a devolução dos montantes pagos, pois a finalidade precípua
do contrato era a prestação de serviços de garantia e não de
investimento financeiro.
IV. Negou-se provimento ao recurso.

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Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse
legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados.
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Apelação Cível 20150710043628APC

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores da 6ª TURMA CÍVEL do


Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, JOSÉ DIVINO - Relator, VERA
ANDRIGHI - 1º Vogal, ESDRAS NEVES - 2º Vogal, sob a presidência do Senhor
Desembargador ESDRAS NEVES, em proferir a seguinte decisão: CONHECIDO.
DESPROVIDO. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas
taquigráficas.
Brasilia(DF), 11 de Outubro de 2017.

Documento Assinado Eletronicamente


JOSÉ DIVINO
Relator

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GABINETE DO DESEMBARGADOR JOSÉ DIVINO 2


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Apelação Cível 20150710043628APC

RELATÓRIO

JOÃO ALVES DA SILVA propôs ação de cobrança, subordinada


ao procedimento comum de rito ordinário, em face da COMPANHIA DE SEGUROS
ALIANÇA DO BRASIL e do BANCO DO BRASIL S.A.
O autor alega, em síntese, que formalizou com a parte ré, no ano de
1995, contrato de seguro de vida e que, ocorrida a morte natural de sua esposa, a
demandada, em agosto de 2013, efetuou o pagamento do capital segurado em valor
inferior ao devido. Sustenta que não houve atualização do capital segurado, apenas
dos prêmios e que foram aplicados critérios de reajuste discriminatórios por ser
idoso. Requer sejam as rés compelidas a exibirem a apólice; os seus extratos
bancários e o comprovante de pagamento do capital estipulado. Postula: a) a
rescisão do contrato, bem como a condenação da parte ré a lhe restituir os valores
correspondentes às parcelas vencidas (R$ 125.892,20), bem como das parcelas
vincendas; b) compensação por danos morais, no valor de R$ 20.000,00.
Às fls. 72, foi homologado o pedido de desistência da ação em
relação ao Banco do Brasil S.A.
Deferido parcialmente o pedido de exibição incidental, a ré foi
intimada e juntou a cópia das condições gerais e particulares da apólice de seguro
em grupo contratada pelo autor, bem como documento comprobatório do pagamento
do capital segurado (fls. 107/182).
Citada, a ré apresentou contestação, na qual suscita preliminar de
inépcia da inicial; falta de interesse processual quanto ao pedido de rescisão
contratual; ilegitimidade passiva quanto à restituição dos valores pagos pelo autor
entre setembro de 1995 e março de 1997. No mérito, afirma que, no período de 2008
a 2012, o autor solicitou três reduções do capital segurado e do prêmio. Alega que,
na data do óbito do cônjuge do autor, o valor do capital segurado para a morte do
autor era de R$ 27.012,35 e para a morte do cônjuge era igual a 50% deste valor, ou
seja, R$ 13.506,18. Defende a impossibilidade de devolução dos prêmios pagos no
contrato de seguro, bem como a prescrição parcial da pretensão de restituição,
observado o disposto no art. 206, § 1º, II, b, do Código Civil. Insurge-se contra o
pedido de compensação por danos morais e postula a improcedência da ação.
Sobreveio sentença que julgou improcedente a ação.
Inconformado, o autor apela, postulando a reforma da sentença.
Alega que se houve sucessão de pessoas jurídicas, fica a apelada responsável
pelas obrigações assumidas pela antiga empresa. Defende não ter anuído a

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qualquer alteração da apólice original e existir desequilíbrio no contrato, pois os


prêmios foram reajustados e o capital segurado reduzido. Diz que a apelada não
juntou a apólice por ele requerida e determinada pelo magistrado. Sustenta a
existência de má-fé da apelada, pois ela enviou uma apólice à sua residência, em
01/04/2002, na qual consta que o valor do capital segurado no caso de sua morte
era de R$ 42.678,30 e R$ 21.339,15, para o seu cônjuge, e o fez assinar outra em
junho do mesmo ano. Aduz não haver solicitado qualquer redução do capital
segurado e pede a inversão do ônus da prova.
Recurso regularmente preparado.
Em sede de contrarrazões, a apelada repisa as preliminares e a
prejudicial de prescrição suscitadas em contestação para a hipótese de provimento
do recurso e reforma da sentença.
É o relatório.

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VOTOS

O Senhor Desembargador JOSÉ DIVINO - Relator


Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.
Cuida-se de apelação interposta por JOÃO ALVES DA SILVA contra
a sentença que julgou improcedente a ação por ele proposta em face da
COMPANHIA DE SEGUROS ALIANÇA DO BRASIL, objetivando a rescisão do
contrato de seguro de vida firmado entre as partes, com a restituição dos valores
pagos, bem como a compensação pelos danos morais supostamente sofridos.
O apelante fundamenta o seu pedido de rescisão na alegação de
que, ocorrida a morte de sua esposa, a Seguradora pagou um capital segurado
inferior ao devido, bem como reajustou de forma abusiva o prêmio.
Informa na apelação, que, no curso da ação, deixou de pagar o
prêmio do seguro por falta de condições, de sorte que a controvérsia dos autos se
restringe em verificar se: i) houve o alegado reajuste abusivo dos prêmios com base
na idade; ii) é devida a restituição dos valores pagos e iii) faz o apelante jus à
compensação por danos morais.
A relação jurídica estabelecida entre as partes é de consumo, uma
vez que os litigantes se enquadram nos conceitos previstos nos artigos 2º e 3º do
Código de Defesa do Consumidor, atraindo a incidência da legislação consumerista.
A inversão do ônus probatório prevista no art. 6º, VIII, do CDC é
possível, se o juiz, ao analisar o caso concreto, verificar presentes a verossimilhança
da alegação ou a hipossuficiência do consumidor.
No caso em apreço, é incabível a inversão do ônus prova, pois a
solução da controvérsia dos autos demanda outra análise.
No contrato de seguro, o prêmio constitui uma prestação paga a fim
de que a seguradora garanta o legítimo interesse do segurado, na hipótese
realização do risco predeterminado (sinistro).2 A garantia é o objeto imediato do
seguro e o interesse do segurado constitui o objeto da garantia e o mediato do
contrato.
Assim, os prêmios pagos são para manter a garantia e não como
investimento com rendimentos futuros, a serem resgatados em data vindoura.

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Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse
legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados.

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O risco é o elemento essencial para a formação da taxa a ser


aplicada no cálculo do prêmio. Essas taxas não são proporcionais aos valores dos
capitais garantidos, mas à garantia em si, que corresponde ao risco incidente sobre
o interesse.
No caso de seguro de vida para o evento morte é de sua essência o
agravamento do risco segurado e, por consequência, o valor do prêmio vai
aumentado ao longo do contrato.
Assim, não pode o autor pretender pagar o mesmo prêmio que
contratou em 1995, mormente porque o risco do contrato vai aumentado, de sorte
que a juntada da apólice original daquele ano era despicienda.
A princípio, a variação dos prêmios dos seguros, em razão da
mudança de faixa etária, não configura ofensa ao princípio constitucional da
isonomia quando baseada em legítimo fator distintivo, desde que não evidenciada a
aplicação de percentuais desarrazoados e sem base atuarial, com o condão de
compelir o idoso à quebra do vínculo contratual, hipótese em que restará
desrespeitada a cláusula geral da boa-fé objetiva.
Na apólice assinada pelo autor, em 13/06/2002, consta que a partir
da primeira renovação automática do seguro, o prêmio seria atualizado, anualmente,
de acordo com o IGP-M/FGV e aumentado de acordo com fatores anuais a serem
aplicados, de acordo com a faixa etária do segurado:
Faixa Etária Fator Anual (%)
De 25 a 34 anos 4,00%
De 35 a 39 anos 5,00%
De 40 a 44 anos 6,00%
De 45 a 49 anos 8,00%
De 50 a 54 anos 8,50%
De 55 a 59 anos 9,00%
De 60 a 64 anos 12,00%
De 65 a 69 anos 14,00%
70 anos ou mais 15,00% (fls. 360)
Não se observa, todavia, abusividade nos percentuais que foram
aplicados.
Assim, optando o segurado pela rescisão do contrato, não é devida
a devolução dos montantes pagos, pois a finalidade precípua do contrato era a
prestação de serviços de garantia e não de investimento financeiro, como acredita.
No tocante ao capital segurado, observa-se, realmente, que sofreu
uma queda abrupta ao longo dos autos e que há divergência de dados entre a

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apólice que foi enviada ao apelante, em 01/04/2002 (fls. 61) e a que foi por ele
assinada, em junho do mesmo ano (fls. 358)
Tal constatação não autoriza a restituição dos prêmios pagos, mas
se for o caso a complementação do capital segurado pago pela apelada ao apelante
pela morte de seu cônjuge.
Ocorre que o apelante não apresentou pedido subsidiário de
complementação do capital segurado, embora defenda a sua abusividade.
De qualquer forma, a devolução dos valores pagos não é possível,
pelos motivos acima explanados.
Nada impede, todavia, que busque em outra via a complementação
do capital segurado, onde pode discutir a tese apresentada em apelação no sentido
de que não solicitou as três reduções noticiadas pela apelada.
Por derradeiro, não há se falar em compensação por danos morais,
eis que não ficou configurado ato ilícito, tampouco abalo moral indenizável.
Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso.
Em face da sucumbência recursal, majoro a verba honorária ao
patamar de R$ 1.200,00, com fulcro no § 11º do art. 85 do CPC/2015.
É como voto.

A Senhora Desembargadora VERA ANDRIGHI - Vogal


Com o relator

O Senhor Desembargador ESDRAS NEVES - Vogal


Com o relator

DECISÃO

CONHECIDO. DESPROVIDO. UNÂNIME.

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