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1. Anemia
2. Doenças linfoproliferativas
3. Síndromes mieloproliferativos
4. Diáteses hemorrágicas
Seminário de Medicina I
comissaodecurso1117@aefml.pt https://sites.google.com/site/comissaodecursofml20112017
Bibliografia
Handouts 2014
Desgravada de 2007
Desgravada de Fisiopatologia sobre Anemias de 2009
Nota:O docente referiu que esta seria uma aula muito resumida e que mais tarde ,
numa outra aula destinada ao efeito, traria os mesmos casos clínicos e os iria
explorar em detalhe e falaria também da terapêutica para cada um dos casos.
INTRODUÇÃO
1. SÍNTESE DA HEMOGLOBINA
3. MEMBRANA DO GV
A integridade da membrana
e uma boa interacção entre
as proteínas integrais e as
proteínas do citoesqueleto
são essenciais para manter
a forma, a flexibilidade e a
capacidade de deformação
do eritrócito
4. DIFERENCIAÇÃO DO PROERITROBLASTO
Os reticulócitos são os
percursores imediatos e imaturos dos
eritrócitos, sendo encontrados na
circulação, em cerca de 1%. Quanto
aos eritroblastos, estes normalmente não são encontrados em circulação. Isso
pode ocorrer em caso de Hemorragia Digestiva Alta e em caso de
Esplenectomia.
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1- Ver anexo
5. VALORES NORMAIS DE GLÓBULOS VERMELHOS
ANEMIAS
Quando falamos em anemias temos que ter em atenção vários factores. A maioria
dos doentes que vocês vêem na enfermaria pertencem a uma população bastante idosa e
também a maioria deles se deve queixar de alguma forma de anemia ou de cansaço. A
anemia é então geralmente uma manifestação secundária de outras patologias que é
muito comum. Cabe aos médicos corroborar o diagnóstico da entidade primária mas
também conseguir suspeitar de quando se tratam de causas primárias hematológicas.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
•Sinais/Sintomas Gerais
- Fraqueza, cansaço, fadiga, redução da tolerância a esforços;
- Dispneia de esforço;
- Astenia;
- Diminuição da tolerância ao exercício;
- Taquicardia (mecanismo compensatório);
- Palpitações rítmicas (mecanismo compensatório);
- Choque de ponta impulsivo (mecanismo compensatório);
- Sopros funcionais (em regra sistólicos, denominados de “ruído de diávolo” -
mecanismo compensatório);
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- Sensação de frio (quer seja pela vasoconstrição compensatória, quer seja pelo
menor aporte de O2 aos músculos);
- Vertigens, zumbidos, cefaleias;
- Intolerância ortostática (pode manifestar-se desde palpitações até à síncope);
• Icterícia a nível das escleróticas e da face, com tonalidade entre o pálido e o amarelo
(associada a hemólise- anemia hemolítica)
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• Úlceras Membro Inferior (no caso das anemias hemolíticas crónicas, como na
Drepanocitose);
FISIOPATOLOGIA
De acordo com o modelo fisiopatológico, podemos classificar as anemias em 3 tipos:
1. Anemia por diminuição da produção - anemias hipoproliferativa, em que taxa
de reticulócitos<2,5 pois a medula óssea não responde ao estímulo eritropoiético:
- Carência de Ferro (anemia ferropénica)
- Carência de Ácido Fólico
- Carência de Vitamina B12
- Doença crónica
- Anemia aplástica
- Infiltração da Medula Óssea
- Efeito Quimioterapia ou Radioterapia
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houve tempo de resposta da medula óssea à EPO e como tal aumentou a
produção e libertação de reticulócitos (Hg diminuida e VGM e HGM aumentadas). A
anemia por perda crónica de sangue manifesta-se mais frequentemente na forma
de deficiência de ferro, pois com a perda de sangue crónica há perda de ferro e
diminuição das reservas, resultando numa diminuição da produção de glóbulos
vermelhos (Hg diminuida e VGM e HGM diminuidas).
- Tubo digestivo, sobretudo por úlcera péptica e varizes esofágicas, mas
também por tumores do estômago, colón e recto, doença hemorroidária,
gastrite, hérnias do hiato, angiodisplasias.
- Aparelho genito-urinário, mais frequentemente por perdas menstruais na
mulher ou por tumores (bexiga, rim, próstata).
- Aparelho respiratório (cancro ou epistáxis em contexto de doença de
Rendu-Osler-Weber, por exemplo).
- Flebotomias.
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identificar se a medula está a responder ou não à anemia. Quando há anemia, há
aumento da EPO que vai estimular maior proliferação e diferenciação de células da
linhagem hematopoiética. Este aumento de produção de glóbulos vermelhos faz com que
células ainda jovens e não completamente amadurecidas (reticulócitos) saiam para a
corrente sanguínea, aumentando a taxa de reticulócitos. Se não houver aumento da
produção dos glóbulos vermelhos esta taxa não aumenta adequadamente, sendo um
indicador da falência da resposta medular. Esta falência pode ser originada por
diminuição/défice de acção de qualquer factor essencial à formação de Hg e eritrócitos
(EPO, ferro, ácido fólico, vitamina B12, por exemplo). Por isso, quando observamos a taxa
de reticulócitos diminuida, o passo seguinte é perceber como está a VGM.
Se a VGM e HGM estão normais estamos perante uma anemia normocítica e
normocrómica (tamanho e concentração da hemoglobina por eritrócito estão mantidos)
havendo uma deficiência quantitativa em número de eritócitos com uma medula óssea
hipoproliferativa. São possíveis causas a lesão medular (infiltração/fibrose e a aplasia em
que há uma diminuição do espaço para a proliferação e a destruição das células
precursoras, respectivamente) e a menor estimulação medular (inflamação, que diminui a
resposta à EPO; defeito metabólico como o hipotiroidismo, em que como há uma
diminuição do metabolismo basal, os tecidos precisam de menos O 2, diminuindo o
estímulo para a produção de eritrócitos; e a doença renal, onde há menor produção de
EPO).
Se VGM está diminuida estamos perante uma anemia microcítica associada a
distúrbios de maturação citoplasmática e são possíveis causas a carência de ferro,
talassémias, intoxicação por chumbo (interfere com a síntese do heme) e a anemia
sideroblástica.
Se VGM está aumentada estamos perante uma anemia macrocítica associada a
distúrbios de maturação nuclear e são possíveis causas a deficiência de folato, de
vitamina B12 e a toxicidade a fármacos.
Tanto na anemia micro como macrocítica há hiperplasia eritróide mas com uma
eritropoiese ineficaz que leva à destruição de eritroplastos em desenvolvimento na
medula óssea, havendo menor libertação de reticulócitos na circulação sanguínea.
A perda sanguínea subaguda e causas de hemólise intra e extravascular que
explorámos previamente vão originar uma anemia em que a taxa de reticulócitos está
aumentada sendo igual ou superior a 2,5.
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Iremos de seguida abordar cada um dos casos. Começamos pela anemia
ferropénica.
ANEMIA FERROPÉNICA
Etiologia
Sistema GI:
- Diminuição da ingestão
- hérnias do hiato
- Má-absorção - varizes esofágicas
- úlcera péptica
- Perdas hemáticas, muito frequentes a nível
- toma regular de aspirina/AINE
gastro-intestinal (ambos os sexos) e genito-urinário - neoplasia do tracto GI
Sistema Genito-urinário:
(muito frequente nas mulheres. Geralmente quando em
- perdas menstruais, no caso
idade fértil, nem se vai à procura de causas GI) da mulher em idade fértil
- tumor bexiga ou próstata,
- Aumento das necessidades (frequente na gravidez e
com hematúria arrastada
em crianças). Sistema respiratório:
- epistáxis e hemoptises
Manifestações Clínicas
- Cansaço
- Palidez da pele e mucosas
- Cabelo frágil, baço e quebradiço
- Unhas frágeis; presença de platoníquia que evolui
tipicamente para coiloníquia,
podendo estar associadas outras alterações das unhas
- Lábios com rágadas e estomatite angular
- Língua com superfície dorsal lisa e brilhante
(queilose)
Avaliação Laboratorial
- Anemia microcítica hipocrómica (VGM<80 e HMC<27), mas numa fase inicial
pode ser normocítica normocrómica;
- Anisocitose (presença de Glóbulos Vermelhos de diferentes tamanhos);
- Esfregaço de sangue periférico: existência de poiquilócitos (eritrócitos deformados
em forma de raquete, de pêra, dentado, etc.);
- Diminuição do Ferro sérico;
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mascarando a diminuição característica da Anemia Ferropénica e por isso dificultando por
vezes este diagnóstico;
Tratamento
- Ferro oral
- Ferro IV (se oral não eficaz, por má absorção, intolerância ao ferro oral )
Caso Clínico
Mulher de 41 anos com perdas menstruais abundantes.
Cansaço moderado. Perda de cabelo. Unhas quebradiças.
É um quadro típico de anemia ferropénica. A doente fez ferro oral e depois
recuperou bem.
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de ferro que está na proteina de transporte. Finalmente, o rectângulo azul claro reflete os
depósitos de ferro, a ferritina. Não vamos referir as situações de excesso de ferro. Apenas
do normal para a direita (no quadro). O que vai acontecer quando a anemia ferropénica se
vai instalando é que se perde ferro no compartimento do quadrado cinzento, perdem-se
glóbulos vermelhos, com isso perde-se ferro. Imediatamente o ferro é mobilizado dos
locais de armazenamento (sistema retículo-endotelial no fígado, baço e medula óssea)
para a produção de novos glóbulos vermelhos (é como se fosse drenando da dispensa
para a produção de novos glóbulos vermelhos, ou seja, vão se consumindo os depósitos
para manter níveis de ferro normais no interior dos glóbulos vermelhos - manter o
quadrado cinzento completo). Aqui, ainda não temos anemia ferropénica porque os níveis
de ferro que chegam aos eritrócitos que entram em circulação são ainda normais.
Portanto, nós só temos anemia ferropénica quando o ferro dos glóbulos vermelhos
estiver diminuído, ou seja, no último esquema. Imediatamente antes da última fase pode
haver anemia ligeira com VGM e HGM normais, ou seja anemia normocítica e
normocrómica pois reflete a depleção de ferro nos depósitos/locais de armazenamento
fazendo com que haja dimimuição de formação de ertitrócitos na medula pois falta uma
das “matérias-primas” para a sua formação, o ferro.
No entanto, é um caso clínico que se vem a desenhar desde há meses ou anos! Só
se tem anemia ferropénica quando a “despensa” já está vazia. Isto é importante porque
quando começamos a fazer o tratamento, ao fim de dois ou três meses , esse ferro vai
sendo canalizado ao contrário, ou seja, todo o ferro vai sendo canalizado para a produção
de glóbulos vermelhos e só quando esse compartimento está completamente
repreenchido é que começamos a acumular ferro nos depósitos (primeiro há reposição da
massa eritrocitária, depois da proteína de transporte e só por fim da ferritina). Isto é
importante porque se nós não soubermos os valores de ferritina, aquilo que vai acontecer
é que ao fim de um mês de ferro oral o doente passou para valores de Hb normais,
pensamos que está curado, mas os depósitos continuam vazios. Normalmente a terapia
demora então certa de 6 meses a 1 ano.
Etiologia
- Doença inflamatória ou infecciosa crónica
- Doença neoplásica
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- Doença auto-imune
- Insuficiência renal crónica
Manifestações Clínicas
- Sinais e sintomas de anemia
- Palidez da pele e mucosas
- Gravidade depende da doença de base
Avaliação Laboratorial
- Anemia normocítica normocrómica (ou levemente microcítica mas muito
raro e numa fase mais avançada)
- [Hb]> 9g/dl (em regra)
- Aumento da Velocidade de Sedimentação
- Ferro sérico diminuído
- CTFF/Transferrina diminuídos e saturação da transferrina diminuida
- Ferritina normal ou aumentada (reflectindo baixa utilização de ferro).
Mecanismos da doença
Na anemia de doença crónica há uma
diminuição da biodisponibilidade de Ferro, que é
controlada por uma proteína produzida ao nível do
fígado, a hepcidina. A hepcidina vai ser produzida
em situações de maior concentração de ferro
intra e extracelular e em situações inflamatórias
(transcrição de hepcidina é estimulada pela IL-6).
A hepcidina vai actuar 1) sequestrando ferro no
sistema retículo-endotelial (fígado, baço e
medula óssea) e 2) inibindo a absorção intestinal
de ferro ao bloquear a ferroportina, um canal de
passagem do ferro do duodeno para a circulação
sanguínea. No primeiro caso, em situações em
que vamos ter um aumento de ferro intra e extracelular (ex.:refeição rica em ferro), vai
haver um aumento da produção de hepcidina, que vai bloquear o efluxo de ferro pela
ferroportina e a entrada então de ferro do enterócito duodenal em circulação. Em
contraste, se alguém perder sangue, vai haver acréscimo das necessidades de ferro, logo
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é natural que de alguma forma seja permitida a entrada de ferro no organismo, ou seja,
que a hepcidina esteja menos activa. No segundo caso, em situações inflamatórias e na
anemia de doença crónica existe um aumento da transcrição de hepcidina, que vai
bloquear a disponibilidade de ferro em circulação. É por isso que o ferro sérico está
diminuido, porque a hepcidina está hiperactiva e não permite um efluxo de ferro pela
ferroportina. Assim, mesmo não havendo carência de ferro nestes doentes, por vezes
administramos ferro IV, para aumentar a biodisponibilidade do mesmo.
Mediadores inflamatórios como o TNF, IL-1, Interferão β e γ vão inibir a
eritropoiese, inibir a síntese de EPO para além de actuar no metabolismo do ferro como já
explicámos.
Há então:
- Ausência de libertação do ferro/sequetração do ferro no sistema retículo-
endotelial;
- Diminuição da vida média do eritrócito;
- Má resposta à Eritropoitina (por deficiência relativa ou absoluta de EPO ou
por resistência à mesma).
Caso Clínico
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ANEMIA MEGALOBLÁSTICA
Etiologia
- Diminuição da ingestão de
Ácido Fólico ou de Vitamina B12
(cobalamina): o mais frequente é a
carência de Ácido Fólico, uma vez que
as reservas de Vitamina B12 são
significativas e mais difíceis de esgotar;
- Má-absorção: é a causa mais
frequente, sobretudo por carência de
Vitamina B12 (por patologia no tubo
digestivo, a única outra causa possível
é o vegetarianismo muito restrito desde
há bastante tempo – vitamina B12 só é
encontrada em produtos de origem
animal);
- Aumento das necessidades;
- Fármacos (ex. análogos purínicos e pirimidínicos, como a azatioprina e o 5-
fluorouracilo, ou antagonistas do ácido fólico, como o metotrexato).
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Causas de deficiência de Vitamina B12, reflexo do seu ciclo de absorção:
- Patologia gástrica (mais frequente);
- Anemia perniciosa1 (anticorpo dirigido contra o Factor Intrínseco);
- Deficiência congénita do Factor Intrínseco ou de Transcobalamina (TC II);
- Gastrectomia total ou parcial;
- Doença/ressecção do íleon terminal, p.e. Doença de Crohn (mais raros);
- Carências nutricionais prolongadas (dietas vegetarianas). A carência de vitamina
B12 não se faz sentir logo pois as suas reservas no fígado duram vários anos (cerca de 5
anos).
Manifestações Clínicas
- Sinais e sintomas de anemia
- Palidez da pele e mucosas
- Icterícia “flavínica”: semiologia muito típica por hiperbilirrubinémia não conjugada,
tratando-se de uma icterícia muito amarelada, em que há um misto de palidez e icterícia.
Deve-se à destruição de megaloblastos (eritroblastos gigantes) na medula óssea, com
um componente de hemólise: embora etiologicamente seja uma anemia carencial, a
anemia megaloblástica trata-se também de uma anemia hemolítica.
- Neurológicas: manifestações ao nível da sensibilidade postural são muito raras,
devendo-se à carência de vitamina B12.
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Avaliação Laboratorial
- Anemia macrocítica;
- Macrocitose: eritrócitos com grandes dimensões, por ausência de divisão celular
(VGM>100);
- Hipersegmentação dos neutrófilos (9/10 segmentos): por assimetria do núcleo
relativamente ao citoplasma devido à carência de vitamina B12; patognomónico;
- Leucopénia/ Trombocitopénia, pois a falta de vitamina B12 e/ou de ácido fólico interfere
com a formação de qualquer célula.
- Parâmetros de Hemólise: aumento da bilirrubina, aumento da LDH e diminuição da
haptoglobina, proteína que se liga ao componente globínico da hemoglobina (se há hemólise dos
eritrócitos, há um aumento da Hg sérica à qual a haptoglobina se vai ligar, diminuindo os níveis de
haptoglobina livre).
- Diminuição do Tetrahidrofolato (FH4) ou da Vitamina B12 séricos.
- Megaloblastose: achado morfológico na medula óssea, os megaloblastos.
Nota: Fazer diagnóstico diferencial entre Anemia Megaloblástica e Leucemia Aguda, uma
vez que também surgem alterações megaloblásticas na série eritróide.
Tratamento
- Vitamina B12 IM
- Ácido fólico PO
Caso Clínico
- Quadro de evolução lenta, que se foi instalando ao longo de muitos meses: a doente
continuava a trabalhar mesmo com uma hemoglobina de 7;
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- ↑ Volume globular médio (VGM);
- ↑ Ferro;
- Ferritina normal: não há nenhuma ocorrência no metabolismo do Ferro;
- ↓↓ Vitamina B12;
- Ácido Fólico normal;
- Parâmetros de hemólise:
- ↑ AST, bilirrubina total e LDH
- ↓ Haptoglobina livre
Este é o quadro laboratorial muito típico da anemia por carência de vitamina B12, tendo sido
o seu tratamento iniciado sem um mielograma, não se tendo comprovado a existência de
megaloblastos na medula óssea. Posteriormente verificou-se que a doente também tinha
patologia gástrica, que tinha sido a causa da carência de vitamina B12.
ANEMIA APLÁSTICA
Etiologia
Na anemia aplástica a medula óssea deixa de produzir todo o tipo de células hematopoiéticas:
esta é não só uma anemia, mas também uma leucopénia e trombocitopenia graves. Trata-se de
uma doença imunológica da medula óssea (e não hematológica), em que esta é suprimida, sendo
potencialmente fatal. Apresenta forma hereditária (no caso da Anemia de Fanconi) e adquirida:
- Idiopática (65%)
- Químicos: benzeno
- Fármacos: cloranfenicol, sais de ouro
- Radiação ionizante
- Vírus: hepatites B e C
Mecanismos da doença
- Defeito nas células estaminais
- Défice de factores crescimento
- Falência do estroma
- Supressão imunológica
Manifestações clínicas
- Sinais e sintomas de anemia
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- Susceptibilidade aumentada a infecções, infecções recorrentes
- Discrasia hemorrágica cutâneo-mucosa (ex. petéquias, equimoses, hematomas e
hemartroses, o que sugere fortemente patologia com lesão noutras linhas celulares da medula)
Avaliação Laboratorial
- Anemia normocrómica e normocítica
- Leucopénia: gravidade proporcional à neutropénia
- Trombocitopénia
- Medula óssea hipocelular, com substituição adiposa no compartimento hematopoiético.
Terapêutica
- Transplante de medula óssea
- Imunossupressão (ciclosporina,etc.): parece parodoxal, dado que administram-se
imunossupressores já com uma diminuição de leucócitos, mas o objectivo é “aniquilar” as
células imunológicas que estão a frenar a medula óssea e desbloquear a reacção imune
exacerbada para que a medula óssea volte a florescer e a produzir as células do seu
parênquima.
Caso Clínico
Anemia por destruição periférica, com produção normal das células hematopoiéticas.
Causas
A) Causa intrínseca - hereditária:
- Defeito na membrana do GV (Esferocitose e Eliptocitose Hereditárias: doenças em que os
doentes têm uma mutação numa das proteínas do citoesqueleto eritrocitário, como a
anquirina, e que estão predispostos a uma destruição crónica dos eritrócitos);
- Defeito enzimático (défice de G6PD e défice de Piruvato Cinase);
- Hemoglobinopatia por defeitos genéticos que causam défice qualitativo (Drepanocitose,
presença de Hb’s instáveis);
- Hemoglobinopatia por defeitos genéticos que causam défice quantitativo (Talassémia).
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Microangiopática (hemólise ocorre devido a choque mecânico dos eritrócitos em
determinadas estruturas como as próteses valvulares mecânicas ou placas de
aterosclerose);
Efeito tóxico directo/infecção;
Hiperesplenismo/esplenomegália (estase sanguínea dentro do baço leva à destruição
eritrocitária, como acontece nas doenças hepáticas crónicas).
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Causas de hemólise extravascular: esplenomegália/hiperesplenismo, hemoglobinopatias,
defeitos enzimáticos e defeitos na membrana dos eritrócitos.
Hematologia
- Policromatofilia
- Reticulocitose
- Hiperplasia eritróide da medula óssea: obriga a mielograma (regra geral não se faz na
anemia hemolítica)
As anemias hemolíticas são na sua grande maioria normocíticas e normocrómicas mas é
também muito típico que doentes com anemia hemolítica terem uma ligeira macrocitose, porque o
elevado VGM dos reticulócitos face aos eritrócitos normais pode resultar num VGM próximo do
limite superior ou mesmo acima do normal (103-105µL).
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Soro/Plasma
- Aumento da bilirrubina não conjugada: leva a uma icterícia flavínica, menos evidente
semiologicamente do que a hiperbilirrubinémia conjugada, como ocorre na obstrução da via biliar
principal (icterícia verdínica)
- Diminuição da haptoglobina
- Aumento da LDH
Urina
- Ausência de bilirrubina: a bilirrubina não conjugada não é excretada na urina, apenas a
bilirrubina conjugada o é.
- Hb ausente ou presente, consoante for uma hemólise extravascular ou intravascular,
respectivamente.
ESFEROCITOSE HEREDITÁRIA
Etiologia
- Causa intrínseca, por defeito da membrana do eritrócito.
- Mutações dominantes (mais frequentemente) ou recessivas que levam a défice da
espectrina, anquirina, proteína 3 ou proteína 4.2, o que interfere na interacção destas com as
proteínas da membrana, impedindo a flexibilidade/capacidade de deformação do eritrócito.
Manifestações clínicas
- Sinais e sintomas de anemia
- Icterícia
- Esplenomegália ligeira
- Tendência para litíase vesicular
Avaliação Laboratorial
- Padrão de hemólise
- Prova da fragilidade osmótica aumentada (submetem-se os eritrócitos a diferentes soluções
hipotónicas até lisarem. Caso lisem tor turgecência, pois há a entrada de água para o interior
do eritrócito, considera-se que há um problema na membrana).
- Prova da auto-hemólise corrigida pela adição de glicose (como o problema reside na
membrana, ao adicionarmos glicose as enzimas estão intactas e como tal evitam a hemólise.
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Já em caso de défice enzimático, as enzimas não funcionantes não conseguem evitar a
hemólise).
- Esfregaço de sangue periférico: presença de esferócitos.
- Tendência para litíase vesicular.
Tratamento
- Antigamente, esplenectomia.
- Actualmente as indicações para esplenectomia são muito específicas: o tratamento é muito
conservador, sendo este procedimento considerado quando o doente tem múltiplas crises com
anemias muito significativas.
- Colecistectomia: muitas vezes é necessária devido à litíase vesicular.
Manifestações clínicas
- Sinais e sintomas de anemia
- Icterícia e colúria
Avaliação Laboratorial
- Prova da fragilidade osmótica inalterada
- Prova da auto-hemólise não corrigida pela adição de glicose
- Esfregaço de sangue periférico: presença de corpos de Heinz (equivalem à precipitação de
Hb)
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- Doseamento dos níveis e actividade enzimática da G6PD.
DREPANOCITOSE/ANEMIA FALCIFORME
Etiologia
Hemoglobinopatia hereditária por défice qualitativo da cadeia β da Hb. Uma mutação no
gene da β-globina, que substitui, no sexto aminoácido, o ácido glutâmico pela valina, resulta na
formação de HbS.
Existe elevada prevalência da HbS nos territórios onde a malária é endémica, uma vez que
constitui um factor protector à infecção por Plasmodium. Em Portugal existem muitos portadores
de drepanocitose, devido à elevada população angolana a viver no nosso país.
Genótipos
- Indivíduos homozigóticos (drepanocitose SS): têm níveis de HbS superiores a 90% da Hb
total, sendo a HbA1 normalmente nula. São sintomáticos.
- Indivíduos heterozigóticos (traço HbS): têm níveis de HbS de cerca de 35% sendo a HbA1
55-60% do total. São portadores e apresentam uma anemia ligeira mas assintomática e sem
outros sintomas de relevo.
- Indivíduos duplos heterozigóticos (genótipo S/ β-Tal): possuem um alelo correspondente à
drepanocitose e outro de talassémia. A sintomatologia depende da percentagem de HbS, sendo
comum a esplenomegália. É um quadro clínico muito semelhante ao da drepanocitose
homozigótica
Mecanismo da vaso-oclusão
A maioria das complicações agudas (ou crises) da drepanocitose está relacionada com este
fenómeno. A nível da microvasculatura de praticamente todos os órgãos, ocorre marginalização
e aglutinação dos eritrócitos morfologicamente alterados, o que poder levar consequentemente à
obstrução dos capilares, isquémia e enfarte do tecido afectado. Os tecidos mais afectados são:
osso (enfartes ósseos), SNC (AVC isquémico), baço (enfarte esplénico).
Manifestações clínicas
- Crises vaso-oclusivas: expressam-se frequentemente por dor ao nível da microvasculatura
afectada. Estes doentes queixam-se, tipicamente, de dores ósseas de intensidade considerável,
reversíveis apenas com opiáceos. As crises álgicas são precipitadas por infecções,
desidratação, alterações térmicas e gravidez.
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- Eventos cerebrovasculares: principal causa de morbilidade da Drepanocitose. Nas crianças
ocorrem AVC’s isquémicos pelo mecanismo da vaso-oclusão; nos adultos ocorrem AVC’s
hemorrágicos por dilatação aneurismática como resposta à microoclusão repetida nestes vasos
ao longo do tempo.
- Crises aplásticas: estes doentes têm constante e intensa actividade medular; qualquer
estímulo nocivo, tóxico ou infeccioso pode suprimir temporariamente a actividade da medula
óssea.
- Crises hemolíticas: pela grande destruição de eritrócitos inviáveis.
- Auto-esplenectomia: baço atrófico no adulto, pelo grande número de enfartes esplenénicos
durante a vida destes doentes.
- Susceptibilidade aumentada a infecções (como a osteomielite) e, para além disso,
precipitação de crises vaso-oclusivas, aplásticas e hemolíticas (ex: ITU em mulheres ou
infecções virais que despoletam com frequência crises).
- Outras manifestações: atraso de crescimento, úlceras de perna, abortos de repetição,
doença renal crónica, doença pulmonar crónica e retinopatia proliferativa
Avaliação Laboratorial
- Anemia normocítica normocrómica
- [Hb] inferior a 10g/dl
- Aumento da ferritina (hemocromatose rara)
- Padrões típicos de hemólise (aumento da bilirrubina indirecta, aumento da LDH, aumento
do urobilinogénio urinário, reticulocitose, diminuição da haptoglobina sérica)
- Electroforese das Hb’s: presença de HbS
- Prova da falciformação (submetem-se eritrócitos a hipóxia e verifica-se que há
falciformação – em condições de hipóxia a HgS fica dessaturada pelo que as várias moléculas
de HgS aglutinam-se e acabam por distorcer as hemácias que se vão tornar duras e
quebradiças)
- Prova da solubilidade da Hb
- Esfregaço de sangue periférico: presença de células em foice – drepanócitos - e de
fragmentos eritrocitários
Terapêutica de suporte
Manter os doentes com um nível de HBA1 de no mínimo 20%.
1. Terapêutica Crises Vaso-Oclusivas:
- Analgesia
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- Hidratação
- Antibioterapia
- Transfusão
2. Terapêutica de Acompanhamento:
- Hidroxiureia (para aumentar Hb F)
- Transfusão
- Quelação do ferro: para expoliar Ferro do organismo e evitar a hemocromatose
secundária
- Transplante de progenitores hematopoiéticos
Caso Clínico
TALASSÉMIAS
Etiologia
Como já foi referido, indivíduos normais adultos possuem 3 tipos de hemoglobina:
HbA1, cuja globina é formada por duas cadeias alfa e duas cadeias beta (97%); HbA2, cuja
globina é formada por duas cadeias alfa e duas cadeias delta (2%) e HbF ou hemoglobina
fetal, cuja globina é formada por duas cadeias alfa e duas cadeias gama. Este tipo de
hemoglobina é prevalente na infância e diminui com a idade até ficar vestigial no indivíduo
adulto (<1%).
A talassemia é uma doença hereditária autossómica recessiva em que há um defeito
quantitativo na síntese de uma das cadeias de hemoglobina. Esta doença é classificada de
acordo com o tipo de cadeia de globina que sofre alteração, em:
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alfatalassemia (se a produção deficiente for na cadeia alfa);
betatalassemia (produção deficiente na cadeia beta);
deltatalassemiase (produção deficiente na cadeia delta).
ossos malares
- “Hair on ent” observável na radiografia da cabeça: hiperplasia da
medula óssea na calote craniana que se assemelha a cabelos
Avaliação Laboratorial
- Anemia microcítica hipocrómica
- Aumento acentuado da ferritina (sobrecarga de ferro)
- Parâmetros de hemólise (aumento bilirrubina, aumento da LDH, diminuição da
haptoglobina)
- Corpos de Heinz no esfregaço de sangue periférico (resultam da precipitação
desorganizada de Hb’s instáveis)
Tratamento
- Transfusão
- Quelação de Ferro
- Transplante de progenitores hematopoiéticos
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Nota: é importante fazer o diagnóstico diferencial entre anemia ferropénica grave e
talassémia. A nível laboratorial, devemos pedir o hemograma, o metabolismo do ferro e a
electroforese das Hb’s:
• VGM – em ambas estará abaixo de 80, porque se tratam de anemias microcíticas. No
entanto, na anemia ferropénica, mesmo nas formas mais graves, é raro o VGM aparecer inferior
a 70 (não obstante, o valor depende da duração e gravidade da anemia). As grandes
diminuições no VGM correspondem normalmente a talassémias.
• Nº de GV – faz D.D. uma vez que só se encontra aumentado nas talassémias, em que
a situação de hemólise estimula a medula ossea a proliferar glóbulos vermelhos.
• Ferritina – faz D.D. uma vez que só se encontra diminuída no caso da anemia
ferropénica por diminuição dos depósitos de ferro e está aumentado nas talassémias por aumento
do armazenamento do ferro que foi libertado aquando a hemólise.
Mecanismos da Doença
- Deve-se a um processo auto-imune em que anticorpos e/ou complemento se fixam à
membrana do eritrócito. Dependendo do tipo de anticorpo, distinguem-se 2 tipos de hemólise auto-
imune, a ver de seguida.
1. ANTICORPO QUENTE
- Hemólise mediada por IgG e em alguns casos com contributo do sistema complemento
(particularmente C3)
- É o mecanismo envolvido na hemólise induzida por fármacos (ex. penincilina, metildopa,
procainamida, quinidina, rifampicina)
- Presente em doenças linfoproliferativas e doenças auto-imunes (ex. lúpus eritematoso
sistémico)
2. ANTICORPO FRIO
- Hemólise mediada por IgM ou por IgG com componente de C3
- É o mecanismo envolvido no período pós-infeccioso, sendo mais comuns infecções por
Mycoplasma pneumoniae e vírus Epstein-Barr
- Presente em outras infecções virais e nas neoplasias
Manifestações clínicas
- Sinais e sintomas de anemia aguda
- Icterícia
- Esplenomegália
Avaliação Laboratorial
- Teste de Coombs directo positivo (anti-globulina): é a ferramenta principal no diagnóstico
deste tipo de hemólise que permite a identificação de anticorpos fixos aos eritrócitos. Os anticorpos
que recobrem os eritrócitos podem ser identificados pela adição de anticorpos antigamaglobulina
humana. O teste é positivo quando indica a presença de anticorpos aderentes, formando pontes
entre si e levando ao fenómeno de aglutinação visível. A anemia hemolítica auto-imune Coombs-
negativa é muito rara.
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- Esfregaço de sangue periférico: auto-aglutinação dos eritrócitos
- Padrão de hemólise
Terapêutica
- Imunossupressão com Corticoesteróides
- Esplenectomia
Caso Clínico
Mecanismo
O mecanismo subjacente envolve a destruição mecânica/traumática dos eritrócitos aquando
da sua passagem pela microvasculatura.
Avaliação Laboratorial
- Padrão de hemólise
- aPTT e PT, D-Dímeros e FBN para avaliar existência de CID
- Presença de trombocitopénia, sobretudo na CID e na PTT/SHU
- Esfregaço de sangue periférico: fragmentos eritrocitários (~ esquizócitos)
CLASSIFICAÇÃO DE ANEMIAS
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ANEXO
1.
Anemia Perniciosa
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Valores de Referência para Adultos
(laboratórios centrais do HSM -desgravada 2007)
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Anotadas do 4º Ano – 2007/08 Data: 8/Janeiro/2008
Disciplina: Seminário de Medicina Prof.: Dr. João Lacerda
Tema da Aula: Doenças Linfoproliferativas
Autora: Nélia Reis
Equipa Revisora: M. Inês Pereira
Bibliografia
Slides da aula
Leucemias Linfomas
1
Esta introdução não foi abordada pelo Prof., mas como estava na anotada do ano passado e introduz o tema,
achei por bem manter.
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Doenças Linfoproliferativas
LINFOMAS
A) Manifestações Clínicas:
2. Esplenomegália
o Febre
o Suores nocturnos
2
Seguramente não apresentam consistência pétrea e, normalmente, são indolores.
3
Estes sinais indicam doença em actividade.
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Doenças Linfoproliferativas
6. Envolvimento do mediastino
1. Sangue
Hemograma
Função renal e hepática
VS (frequentemente ↑)
LDH (frequentemente ↑)
β2-microglobulina5 (pode estar ↑ - mais frequentemente em linfomas
agressivos)
2. Biópsia ganglionar
4
sendo uma emergência terapêutica, deve iniciar-se rapidamente quimioterapia e radioterapia.
5
A β2-microglobulina é uma proteína componente do MHC classe I expresso na superfície da maioria das células
nucleadas, apresentando maiores concentrações nos linfócitos B, T e macrófagos. Aparece no sangue através
dos linfócitos e células tumorais. < 1% é excretada na urina, sendo o restante reabsorvido e catabolizado nos
túbulos proximais do rim. ↑ dos níveis plasmáticos em caso de: falência renal, inflamação e neoplasias,
especialmente, as dos linfócitos B. Tem utilidade como marcador tumoral na: monitorização da terapêutica,
detecção precoce de recidiva e prognóstico (se a concentração se relacionar com a massa tumoral).
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Doenças Linfoproliferativas
3. Biópsia óssea6
Morfologia
Imunofenótipo
Genética
Fig. 5 – Imagem histológica de
medula óssea com infiltração por um
linfoma difuso de pequenas células.
6
A biopsia óssea é necessária para o estadiamento da doença (saber se existe ou não envolvimento da medula
óssea).
7
O estadiamento do linfoma é obtido pelas informações das TAC’s e da biopsia óssea.
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Doenças Linfoproliferativas
Centro Germinativo
Manto
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Doenças Linfoproliferativas
Burkitt.
Linfoma de Burkitt – é um tipo de linfoma muito raro e muito agressivo. células muito
grandes, blásticas, com muitas células mitóticas enorme capacidade de replicação
muito agressivo (de semanas a poucos meses).
I II III IV
• 1 grupo GG * 1
• mais do que 1 • grupos GG 2 • Envolvimento
grupo GG do lados diafragma difuso de órgão
mesmo lado do (fígado, MO) *3
diafragma * 2 (acima e abaixo)
*1
No estadio clínico I, existe um único grupo ganglionar envolvido (e não um único gânglio!).
Na figura que diz respeito ao estadio clínico II estão envolvidos dois grupos ganglionares (cervical direito e
* 2
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Doenças Linfoproliferativas
Estadiamento – TACs
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Doenças Linfoproliferativas
PET
É um exame complementar, em crescente utilização, que avalia a actividade metabólica da
doença. Permite saber se existe doença em actividade (e quantificá-la), mesmo tratando-se
de pequenas massas residuais.
Fig. 14 – Combinação PET-
TAC: permite uma melhor
localização anatómica da
lesão. Estas imagens
demonstram um aumento
da actividade metabólica
na região peri-hilar
esquerda.
-Atendendo há frequência dos vários tipos de linfomas (Hodgkin e nãoHodgkin), apenas são
apresentados linfomas não-Hodgkin.
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Doenças Linfoproliferativas
Linfomas não-Hodgkin
Classificação
Low-Grade
(Indolente)
Intermediate-Grade
(Agressivo)
High-Grade
(Muito Agressivo)
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Doenças Linfoproliferativas
Difuso Gd Cél B
Folicular
MALT
31% Periférico Cél T
Linfocítico
6%
Manto
Mediastinico Cél B
7% Anaplástico
Burkitt-like
7% Marginal GG
8% 22% Linfoblástico T
Outros
1. Linfomas Indolentes
2. Linfomas Agressivos
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Doenças Linfoproliferativas
Caso Clínico 1
EO
EC Diagnóstico
Hb – 12,8 g/dl
Leucócitos – 21190x106/L; neutrófilos 38%, linfócitos 56% com o seguinte
imunofenótipo: CD5-, CD10+, CD20+. Pesquisa de rearranjo de bcl-2 positivo nos
linfócitos de sangue periférico (típico do linfoma folicular).
Plaquetas – 223000x106/L
LDH – 234 U/L
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Doenças Linfoproliferativas
Linfocítico e LLC + - + + + -
Manto + - + - + +
Linfoplasmocítico + - - - + -
Critérios Diagnóstico
1. Linfocitose: 5 a 10 X 109/L
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Doenças Linfoproliferativas
Fig.15 – LLC: esfregaço de sangue periférico - células relativamente pequenas e sem muitas figuras
mitóticas; medula óssea – infiltração maciça da medula óssea
- alterações no cromossoma 17
- alterações no cromossoma 11
Linfoma Folicular
▪ Regra geral surge em pessoas mais idosas (> 55 anos)
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Doenças Linfoproliferativas
▪ Terapêutica inicial:
▫ Ø (Alguns médicos não realizam qualquer terapêutica no início porque existem muitas remissões
esponâneas que retardam a necessidade de início da terapêutica por 1-3 anos)
Sintomática ou agressiva:
- CVP
Os doentes tratados com CVP têm melhor resposta do que os tratados com agentes únicos, mas sem evidência de
aumento da sobrevida.
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Doenças Linfoproliferativas
Grau I Grau II
FLIPI
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Doenças Linfoproliferativas
Caso Clínico 2
EO
EC Diagnóstico
Hb – 11,8 g/dl
Leucócitos – 8400x106/L; contagem diferencial normal
Plaquetas – 218000x106/L
Função hepática e renais normais
LDH – 1267 U/L
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Doenças Linfoproliferativas
Evolução Agressiva
▪ > 70% dos doentes estão em estadio III ou IV aquando do diagnóstico (no entanto, mesmo em
estadio IV raramente existem células malignas no sangue periférico)
▪ Imunologia: imunofenótipo variável mas sempre CD20+ porque tem origem numa cél. B
C – Ciclofosfamida - alquilante
P – Prednisona (corticosteróide)
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Doenças Linfoproliferativas
Agressividade do Linfoma Difuso de
Grandes Células B provém de:
- figuras mitóticas
- corpos apoptóticos
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Fig. 18 - Curvas de sobrevivência dos doentes consoante o grupo de risco.
Doenças Linfoproliferativas
Terapêutica
Resposta parcial: 40 Gy
Fig.20 – estudos entre tratamento R-CHOP e Fig.21 – estudos entre tratamento R-CHEMO e
CHOP. CHEMO.
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Doenças Linfoproliferativas
Linfoma de Hodgkin
o Apresentação clínica:
Por outro lado, a sua localização mais frequente é supra-diafragmática (gânglios para-
aórticos, cervicais e axilares), contudo podem surgir grandes massas abdmonais infra-
diafragmáticas.
Sintomas B
Prurido10
10
Particularmente após o banho.
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Doenças Linfoproliferativas
B) Clássico
o Esclerose Nodular
existência de fibrose definindo nódulos
presença de linfócitos, granulócitos, eosinófilos e célula lacunar (forma
variante da célula de Reed-Sternberg)
é o que mais frequentemente apresenta envolvimento mediastínico
bom prognóstico se diagnosticado precocemente
o Celularidade Mista
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Doenças Linfoproliferativas
variedade celular
padrão de necrose
prognóstico intermédio
o Rico em Linfócitos
o Deplecção de Linfócitos
linfócitos são substituídos por células Reed-Sternberg
padrão de necrose
mau prognóstico
Terapêutica
De uma forma geral, actualmente, é possível curar cerca de 75% dos doentes com
linfoma de Hodgkin. A abordagem terapêutica varia consoante o estadio da doença.
Quimioterapia disponível
o MOPP (mecloretamina + oncovin (vincristina) + procarbazina + prednisona)
o ABVD (adriamicina + bleomicina + dacarbazina + vincristina)
o MOPP/ABV
o MOPP/ABVD
o Stanford V
o BEACOPP - O Stanford V é menos agressivo que o ABVD e tem resultados bastante promissores,
assim como o BEACOPP que provou ter vantagens em termos de sobrevida aos 6 anos sobre o
tratamento MOPP/ABVD (porém, surgem mais casos de síndromes mielodisplásicos).
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Doenças Linfoproliferativas
Caso Clínico 3
EO
Hb – 10,3 g/dl
Leucócitos – 6500x106/L; contagem diferencial normal
Plaquetas – 178000x106/L
Cálcio normal
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Doenças Linfoproliferativas
Mieloma Múltiplo
o Resulta da libertação de IL-6 das células do estroma da medula óssea, que inibe a
apoptose dos plasmócitos e promove uma anormal estimulação dos osteoclastos e
inibição dos osteoblastos. Este mecanismo está relacionado com a maioria da clínica
apresentada por estes doentes;
o Manifestações clínicas:
• Hipercalcémia
Fig. 23 – Imagem onde é possível
visualizar lesões osteolíticas O aumento de cálcio sérico pode estar presente nos
arredondadas na calote craniana. doentes com mieloma múltiplo, devido à lise óssea.
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Doenças Linfoproliferativas
• Insuficiência Renal
Factores que contribuem para o seu desenvolvimento:
• Polineuropatia
Por infiltração dos nervos periféricos por substância amilóide.
• Hemorragias
Por lesão endotelial provocada pela deposição de amilóide.
Critérios de diagnóstico
Critérios Major
o plasmocitose medular > 30%
o electroforese de proteínas com pico monoclonal
IgG > 3,5g/dl ou IgA > 2,0g/dl e/ou 1g de cadeias leves κ ou λ na urina
de 24h (proteinúria de Bence Jones) na ausência de amiloidose
o Plasmocitoma
Critérios minor
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Doenças Linfoproliferativas
Estadiamento
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Doenças Linfoproliferativas
I Hb > 10g/dl
Exames Completamentares
Sangue
o Hemograma
o Função renal e hepática
o Velocidade de sedimentação
o Electroforese de proteínas
o Imunoelectroforese
o Doseamento de imunoglobulinas
o β2 - microglobulina (útil no prognóstico – recidivas e sobrevida)
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Doenças Linfoproliferativas
Urina de 24h
o electroforese
o proteinúria de Bence-Jones
Terapêutica
• Talidomida + Dexametasona
• Bortezomib, Lenalidomida
ANEXO11
11
Síntese de vários tipos de linfomas que não foram abordados na aula. Apenas alguns foram referidos no
decorrer da mesma (anexo presente na anotada do ano passado)
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Doenças Linfoproliferativas
Linfoma do Manto
Mais frequente no sexo masculino, aparecendo na sua maioria por volta dos 60 anos
e constitui apenas 6% dos linfomas não-Hodgkin, tendo origem em células B periféricas. É
um linfoma considerado agressivo, segundo uma classificação de acordo com a evolução
clínica.
Apresentação clínica
Adenopatias generalizadas, atingindo a medula óssea, fígado, baço (esplenomegalia
em 50% dos casos) e anel de Waldeyer;
No momento do diagnóstico a maioria dos doentes já tem envolvimento do sistema
hematopoiético.
Imunologia
CD19+, CD20+, CD5+, bcl-1+
Genética
Translocação (11:14) e ciclina D1 (bcl-1) aumentada
Histologia
Substituição do habitual padrão folicular por um difuso com linfócitos B pequenos de
citoplasma escasso, contornos nucleares redondos a irregulares.
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Doenças Linfoproliferativas
Linfoma Linfoblástico
Linfoma de Burkitt
Apresentação clínica
Subtipo Africano
o “Tumor da face” (massa malar, mandibular), massa renal, ovárica
Subtipo “ocidental” (não endémico)
o Massa abdominal ileo-cecal e peritoneal
Linfadenopatias
Metastização para SNC
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Doenças Linfoproliferativas
Imunologia
CD20+, CD10+, CD5-
Genética
T(8:14) é a mais prevalente (relacionada com EBV); c-myc
Histologia
células B grandes com citoplasma basófilo vacuolado, núcleo redondo com múltiplos
nucléolos pequenos e elevado índice mitótico – componente maligna
acumulação de macrófagos com padrão “céu estrelado” – componente benigna
Linfoma Anaplástico
É relevante o facto dos linfomas mais agressivos por vezes revelarem-se os mais
facilmente curáveis (caso do linfoma anaplástico, que se não for tratado o doente morre em
poucos meses, mas com ciclos de quimioterapia adequados 70% dos casos são curáveis).
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Doenças Linfoproliferativas
Caso Clínico 1
Caso Clínico 2
1. Com os dados que dispõe, qual dos seguintes diagnósticas lhe parece estar
correcto?
a) Trata-se de um linfoma folicular F
b) O doente tem um linfoma do manto F
12
Resolvi também incluir nesta anotada algumas perguntas referentes aos casos clínicos abordados que
constavam da anotada do ano anterior.
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Doenças Linfoproliferativas
b) Administrava CVP F
c) O tratamento inicial seria CHOP V
Caso Clínico 3
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Doenças Linfoproliferativas
c) Insuficiência renal F
d) Aumento das imunoglobulinas normais F
e) Fracturas espontâneas*19 F
*13 A doença das cadeias pesadas é uma neoplasia linfoplasmocítica rara com diferentes características clínicas consoante o
tipo de cadeias: - α (diarreia crónica, perda ponderal, má absorção, adenopatias mesentéricas e para-aórticas extensas
podendo estar relacionada com parositoses intestinais)
*14 Na macroglobulinémia de Waldenström o pico monoclonal é de Ig M, existe esplenomegália e infiltração da medula óssea
por linfócitos plasmocíticos e está ausente doença óssea lítica.
- componente M ( Ig G < 3,5 g/dl; Ig A < 2,0 g/dl; proteinúria de Bence Jones < 1,0 g/24h)
- Ausência de sintomas
Cerca de 20 % destes doentes podem evoluir para mieloma múltiplo ao fim de alguns anos. O diagnóstico diferencial
com mieloma múltiplo é importante na medida em que, ao contrário deste, na gamapatia monoclonal de significado
desconhecido não se inicia qualquer tratamento.
*16 Certos linfomas e leucemias podem cursar com gamapatia monoclonal bem como alguns cancros (mama, cólon),
sarcoidose, artrite reumatóide, miastenia gravis, entre outras patologias. Na história apresentada não existem sinais nem
sintomas de um linfoma e mielograma revelou plasmocitose.
*17 Os plasmocitomas isolados surgem fora da medula óssea, mais frequentemente, no tracto respiratório superior. Existe
predomínio de Ig A monoclonal. O diagnóstico é feito por: ▪ detecção de plasmocitoma de localização extra-medular; ▪
ausência de mieloma múltiplo (determinado por exame da medula óssea, exame radiográfico do esqueleto e exame do sangue
e urina).
*18 Fragmentos de cadeias leves (λ ou κ), especialmente κ, podem depositar-se nos tecidos como substância amilóide.
Apesar do doente apresentar banda monoclonal Ig G κ não apresenta, neste momento, nenhuma das consequências
deste depósito.
*19 Este tipo de lesões é comum em doentes com mieloma múltiplo, contudo, no caso deste doente, dado o estadio inicial da
doença (IA) não seria de esperar a existência destas lesões.
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Desgravadas do 3º Ano – 2006/07
Disciplina:Seminário de Medicina I 15/01/08
Tema da Aula:Leucemias
Autor(es):Pedro Costa e Pedro Branco
Equipa Correctora: ___________________________________
I – Síndromes Mielodisplásicas
Síndromes Mielodisplásicas
Principais Características
Idade > 60 anos
Sexo masculino +
Aumento do risco:
• radiação, quimioterapia:
- Doença Hodgkin, LNH, MM, CA ovário, CA mama
• diesel, benzeno
• Anemia aplástica, hemoglobinúria paroxística
nocturna
• Anemia Fanconi, síndrome Down
Síndromes Mielodisplásicas:
1. Primárias – Ocorrem predominantemente nos idosos. A maioria dos casos são
idiopáticos. No entanto, a exposição a radiações, quimioterapia ou químicos orgânicos
1
(ex: benzeno) aumenta o risco. As crianças com anemia de Fanconi ou com síndrome
1
Anemia de Fanconi: deficiência hereditária, autossómica recessiva, dos mecanismos reparadores de DNA
nas células estaminais. Dá origem: anemia aplástica, pigmentação da pele, malformação óssea, défices
neurológicos, criptorquídea e maior susceptibilidade para LMA.
Página 1 de 27
de Down também apresentam mais frequentemente mielodisplasia. A anemia aplástica e
a hemoglobinúria paroxística nocturna podem evoluir para mielodisplasia.
2. Secundárias (10-15% dos casos) – Ocorre em doentes de qualquer idade, na sequência
de quimioterapia, radiação ionizante e transplante de medula óssea.
Sintomas e Diagnóstico:
Na maioria dos doentes com SMD, o diagnóstico é acidental, após a descoberta de
citopénias periféricas em análises de rotina.
Nos doentes sintomáticos, as queixas derivam, geralmente, dos efeitos secundários das
citopénias, como os seguintes:
• Hemorragias;
• Equimoses;
• Infecções;
• Fadiga;
• Fraqueza;
• Dispneia.
O exame objectivo, geralmente, não apresenta alterações significativas, mas cerca de 25%
dos doentes têm esplenomegália, e raramente podem apresentar lesões cutâneas com febre.
O mielograma, normalmente, revela alterações nas três séries celulares, sendo frequente a
assincronia no desenvolvimento núcleo/citoplasma.
Série eritróide: Macrocitose (mas raramente VGM>110), ↓Nº Reticulócitos, sideroblastos em
anel, ↑ depósitos de ferro.
Página 2 de 27
2
Série granulocítica: Hipogranulação, hipolobares ↑ nº blastos, função deficiente (adesão e
fagocitose).
Série plaquetária: Micromegacariócitos agranulares, plaquetas gigantes, plaquetas sem
grânulos, função deficiente.
Diagnóstico diferencial:
Devem ser consideradas e excluídas outras causas de displasia medular como:
• Deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico;
• HIV;
• Alcoolismo;
3
• Quimioterapia ;
• Anemia aplástica – distinção muito importante nos pacientes que apresentem MO
hipocelular.
Classificação4 e Prognóstico:
Sobrevida 3-6 Anos 3-6 Anos 5-12 Meses 5-12 Meses 16-53
Meses
2
Tipicamente apresentam um núcleo bilobado chamado anormalia de Pelger-Huet.
3
Não se deve diagnosticar SMD até 6 meses depois da quimioterapia.
4
O professor disse não ser necessário saber as tabelas de cor.
Página 3 de 27
3. Leucemia mielomonocítica crónica – esta entidade deve ser considerada à parte devido
às suas características particulares:
Displasia das 3 séries da linhagem mielóide;
Leucocitose, adenopatias e esplenomegalia.
Mais recentemente, a OMS estabeleceu uma classificação que também tem em conta as
alterações citogenéticas.
SMD
Classificação OMS
SMD
• Anemia Refractária (AR)
– Com sideroblastos em anel
– Sem sideroblastos em anel
• Citpénia refractária com displasia multi linhagens
• AREB
• Síndrome 5q-
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O International Prognostic Scoring System divide as síndromes mielodisplásicas em 3
categorias de prognóstico, com base em:
• % de blastos na MO;
• Número de citopénias (muitos doentes morrem devido a complicações das citopénias);
• Citogenética.
Tratamento:
O tratamento difere consoante o prognóstico e as características do indivíduo, como
idade, qualidade de vida, gravidade da doença e performance status.
5
Está associado a elevada mortalidade, estando reservado a doentes com <40 anos e mau prognóstico.
Página 5 de 27
Quando os doentes têm alterações citogenéticas que predispõem a leucemia ou têm
níveis elevados de blastos em circulação, devem ser tratados com terapêutica para leucemia
mielóide aguda – quimioterapia agressiva. No entanto, esta terapêutica raramente consegue
remissões. Os doentes com delecção do 5q são particularmente susceptíveis (66%) à
monoterapia com lenalidomida (imunomodulador).
No tratamento das mielodisplasias é também importante a terapêutica de suporte. Esta
passa pela realização de transfusões, tendo de se ter atenção ao excesso de ferro (administrar
em simultâneo deferroxamina – quelante de ferro). Para reduzir o número de transfusões pode
utilizar-se Eritropoietina e GM-CSF/G-CSF. È ainda importante o uso de antibióticos no
tratamento das infecções devido à leucopenia, assim como a evicção de agentes mielotóxicos.
II - Leucemias agudas
Incidência
As leucemias apresentam uma incidência de 10 por 100.000 pessoas (na neoplasia da
prostata é de 42/100.000 e na neoplasia da mama 62/100.000 ).
Etiologia:
As leucemias agudas podem ser secundárias a SMD, LMC ou podem ocorrer “de novo”.
A maioria dos doentes com leucemia aguda apresentam alterações cromossómicas
características, no entanto desconhece-se de que forma contribuem para a transformação
maligna.
Factores de risco conhecidos para leucemia são: exposição a radiação, ao benzeno e a
quimioterapia. Também há maioria incidência de leucemias em doentes com patologias
associadas a instabilidade cromossómica como anemia de Fanconi ou síndrome de Down.
6
A distinção entre LMA e LLA pode ser feita pela morfologia e pela presença de Bastonetes de Auer na
LMA ou por imunofenotipagem.
Página 6 de 27
Manifestações Clínicas:
Os principais sintomas da leucemia decorrem da acumulação de blastos na medula
óssea, prejudicando ou impedindo a produção de leucócitos, eritrócitos e plaquetas ocorrendo
assim pancitopénias, que podem levar à morte em semanas a poucos meses.
Avaliação laboratorial:
1 - Hemograma + esfregaço de sangue periférico
7
A leucostase resulta de elevado nº de blastos em circulação (superior a 80.000 ou 100.000). O elevado
número de células pode provocar ainda hipocaliemia, acidose e hiperuricemia (que pode provocar
insuficiência renal). O tratamento passa por leucoferese (procedimento em que são separados os leucócitos
do sangue), hidroxiureia, quimioterapia (para reduzir o nº de células circulantes), hidratação e alcalinização
da urina (para reduzir a cristalização da urina).
8
Massa tumoral composta por mieloblastos.
9
Leva muitas vezes ao desalinhamento dos dentes.
10
As classificações foram abordadas em métodos laboratoriais como tal não as iremos descrever nesta
desgravada.
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4- Citogenética
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Nos seguintes factores de mau prognóstico destaca-se a importância da citogenética:
Tratamento:
Indução de remissão – com o objectivo de remissão completa, ou seja, diminuir o nº de
blastos neoplásicos para um nº indetectável (menos de 5% de blastos na medula óssea)
e restabelecer a hematopoiese normal. No entanto, após remissão completa pode
persistir doença subclínica, o que exige continuação da terapêutica.
Pós-remissão:
Consolidação – quimioterapia com os mesmos agentes de forma a induzir
eliminação de células neoplásicas.
Intensificação – quimioterapia de dose elevada com fármacos diferentes de
forma a eliminar células com resistência ao regime de indução.
Manutenção – quimioterapia de baixa dose intermitente durante um período
prolongado para prevenir recidivas.
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11
A terapêutica para a LMA envolve quimioterapia de indução com
consolidação/intensificação durante 4 a 6 meses. O esquema terapêutico para a LMA, no geral,
é composto pelo IDAC = idarrubicina (antraciclina) + ARA C (cytosine arabinosine ou citarabina),
o que permite remissão completa em 60 a 80% dos adultos.
A sobrevida aos 5 anos após remissão varia entre os 15 e os 50% quando é utilizada
quimioterapia isoladamente. As alterações citogenéticas em cada doente são essenciais para as
decisões terapêuticas e para o prognóstico. Doentes com características de alto risco (mau
prognóstico) são candidatos a transplante.
A cura das LLA é de cerca de 80% nas crianças e 40% nos adultos. O tratamento pode
basear-se numa combinação de vincristina, antraciclina, ciclofosfamida e prednisona, a que se
segue terapêutica de consolidação/intensificação. A LLA tende a recidivar vários meses ou anos
após a remissão inicial, pelo que se deve fazer uma terapêutica de manutenção (que não tem
um papel tão bem estudado na LMA). O SNC e testículos, protegidos pelas barreiras
hematoencefálica e hematotesticular, respectivamente, constituem locais onde podem
permanecer algumas células malignas residuais. Deste modo recorre-se a irradiação cerebral ou
metotrexato intratecal como tratamento adjuvante.
A maioria das recidivas ocorre num período de 2 anos após a terapêutica inicial, sendo
que a sobrevida destes doentes aos 3 anos é inferior a 10%. São, por isso, candidatos a
transplante.
Doentes com LLA com cromossoma Filadélfia t(9;22), por ser de mau prognóstico, são
candidatos a transplante alogenico após 1ª remissão já que este tipo de leucemia é bastante
11
A terapêutica foi falada com pouco pormenor na aula. Procurou-se completar com o Cecil nesta anotada.
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agressivo. O tratamento com imatinib (inibidor da tirosina cinase da proteína de fusão Bcr-Abl)
permite alguma resposta nestes casos.
O transplante de células estaminais pode ser autólogo (são retiradas células estaminais
ao doente e, após quimioterapia de alta dose, essas células são reinjectadas; existe o risco de
recidiva se essas células estaminais estiverem contaminadas com células neoplásicas) ou
alogénico (são utilizadas células de um dador saudável e compatível). A idade avançada
(superior a 65 anos) é uma das contra-indicações para o transplante.
Quanto pior for o prognóstico, mais cedo deve ser considerado o transplante.
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III – Síndromes mieloproliferativas crónicas
12
• POLICITÉMIA VERA
É uma síndrome que afecta geralmente individuos com +60 anos e é caracterizada pela
proliferação maligna de um percursor eritroide, levando ao aumento do número de eritrócitos no
sangue periférico. Estes clones não necessitam de Eritropoietina para evitar apoptose ou iniciar
a divisão celular. Recentemente descobriu-se uma associação entre uma alteração genética no
gene JAK2 e a PV (65 a 97%).
Manifestações clínicas:
As principais manifestações da PV devem-se à hiperviscosidade sanguínea,
podendo no entanto não apresentar nenhuma alteração.
Sinais/sintomas:
• Cefaleias;
• Tonturas;
• Zumbidos;
• Distúrbios visuais;
• Prurido após banho quente;
• Úlcera gástrica;
13
• Eritromelalgia ;
• Face pletórica;
• Esplenomegália (60%);
12
Excluir causas secundárias.
13
Sensação de queimadura nos dedos .
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• Fenómenos trombóticos arteriais e venosos – principal causa de morte (AVC; AIT;
Isquémia do miocárdio);
• Gota (devido à hiperuricémia por aumento de turnover eritrocitário);
• Hemorragias devido a plaquetas disfuncionais.
• Podem também apresentar leucocitose e trombocitose.
Tratamento:
1- Fase inicial – Pletórica
• Transfusões:
• Irradiação esplénica:
• Esplenectomia.
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12
• TROMBOCITÉMIA ESSENCIAL
Manifestações clínicas:
• Hemorragias;
• Trombose venosa e arterial (mais frequente que a venosa);
• Oclusões microvasculares;
• Cefaleias;
• Toracalgia incaracterística;
• Isquémia cerebral;
• Abortos de repetição;
• Eritromelalgia;
• Tonturas.
Diagnóstico:
• Aumento das plaquetas;
• Plaquetas hipogranulares;
• Megariócitos aumentados, em grupos;
• Agregação plaquetária anormal, com menor resposta à epinefrina.
Tratamento:
• Anticoagulação oral;
• Anagrelide (inibe maturação dos megacariócitos e agregação plaquetária);
• Hidroxureia;
• Plaquetaferese;
• Controlo de Factores de risco cardiovascular.
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• MIELOFIBROSE IDIOPÁTICA
É uma síndrome caracterizada pela hiperplasia dos megacariócitos que produzem PDGF
(factor de crescimento derivado das plaquetas) originando fibrose intensa da medula óssea e
14
metaplasia mielóide .
O esfregaço de sangue periférico revela alterações leucoeritroblásticas caracterizadas
por eritrócitos em forma de lágrima, plaquetas gigantes, e percussores não leucémicos eritróides,
mielóides e leucocitários.
Manifestações clínicas:
• Sintomas hipermetabólicos: suores nocturnos, febre e perda ponderal.;
• Saciedade precoce;
• Hemorragia gastro intestinal;
• Desconforto abdominal devido à hepatoesplenomegália;
• Sintomas de aplasia medular: anemia, infecções e hemorragias;
• Insuficiência cardíaca;
• Hemorragia intracraniana; principais causas de morte (juntamente com
• Embolia pulmonar. Infecções).
Diagnóstico:
• Anemia Normocitica/normocrómica;
• Mielémia+dacriócitos;
• Leucocitose/trombocitose;
• Agregação plaquetária anormal;
• Mielograma “dry tap”;
• Biópsia óssa com hiperplassia das 2 séries (fibrose colagénica e reticulínica).
Tratamento:
• Transplante alogénico de medula óssea (associado a grande mortalidade);
• Suporte de medula;
• Transfusões, eritropoeitina, androgénios e talidomida caso exista anemia
sintomática;
• Hidroxiureia;
• INF-alfa;
14
Hematopoiese no fígado e baço – hepatoesplenomegália.
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• Esplenectomia;
• Irradiação paliativa do baço a doentes não candidatos a cirurgia.
o Dç mieloproliferativa crónica
Apresentação clínica:
Cerca de 50 % dos doentes são assintomáticos (50% dos casos são diagnosticados em
exames de rotina) no início da fase crónica enquanto outros apresentam sintomas gerais como
fadiga, mal-estar e perda ponderal ou sintomas resultantes da esplenomegalia, como saciedade
precoce e dor no hipocôndrio esquerdo.
Achados Laboratoriais:
• Leucocitose com células imaturas em vários estádios de maturação;
• Trombocitose;
• Anemia ligeira (normocitica e normocrómica);
• Basofilia - A produção de histamina secundária à basofilia está associada, nos estadios
tardios, a manifestações como prurido, diarreia e rubor.
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No mielograma detecta-se uma medula óssea hipercelular com grande predomínio de
células da linhagem mielóide.
Evolução da Doença
85% dos doentes são diagnosticados na fase crónica, que dura 5 a 6 anos. Esta
caracteriza-se por uma elevada eosinofilia e basofilia, com poucos blastos no sangue periférico.
A entrada na fase acelerada é caracterizada, clinicamente, por febre, perda ponderal, dores
ósseas (devido à renovação celular na MO) e agravamento da esplenomegalia, e,
laboratorialmente, por acentuação da leucocitose e aumento do nº de blastos circulantes.
A crise blástica corresponde a uma leucemia aguda secundária, na qual a MO é
preenchida por blastos (> 20% das células da MO), com perda de elementos celulares maduros
na periferia. Os doentes morrem em semanas a meses sem tratamento.
Na sequência da crise blástica 2/3 dos pacientes desenvolvem LMA (leucemia mielóide
aguda), enquanto o restante 1/3 desenvolve LLA (leucemia linfóide aguda), o que comprova que
a célula neoplásica inicial é capaz de diferenciação em várias linhagens.
Citogenética:
O diagnóstico da LMC é estabelecido pela identificação da expansão clonal de uma
célula estaminal hematopoiética com a translocação recíproca entre os cromossomas 9 e 22,
resultando na fusão do gene bcr (cromossoma 22q11) com o gene abl (cromossoma 9q34) –
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Cromossoma Philadelphia. A detecção do cromossoma Philadelphia (positivo em mais de 95%
dos doentes) é feita através da cariotipagem, PCR ou FISH.
O gene quimérico BCR/ABL produz uma nova proteína que possui actividade tirosina
cinase constitutiva, o que permite a proliferação celular independente de factores de regulação.
Terapêutica:
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IV – Histórias clínicas15
História Clínica 1:
EO (de relevante):
Palidez acentuada da pele e mucosas;
Pele e escleróticas anictéricas;
Hipertrofia gengival;
Petéquias e equimoses dispersas nos membros inferiores.
E. C. Diagnóstico:
Hb – 6.8 g/dL (13-18)
6
Leucócitos – 184.070 × 10 /L (4.000 – 11.000); Neutrófilos 3% (40-75%),
linfócitos 6% (20-45%), células indiferenciadas 90% que, por citometria de fluxo, se
verificou terem o seguinte imunofenótipo: CD13+, CD33+, CD14+, HLA-DR+;
6
Plaquetas – 3.000 × 10 /L (150.000-400.000);
Pesquisa de sangue oculto nas fezes – negativa;
LDH – 967 U/L (70-250);
Funções hepática e renal normais.
Neste caso temos uma anemia marcada, trombocitopénia marcada e uma leucocitose
com grande percentagem de blastos.
Marcadores imunofenotipicos:
CD13 e CD33 – linhagem mielomonocíti;ca;
CD14 – diferenciação monocitica;
A hipertrofia gengival é característica de LMA da linhagem monocitica (LMA M4 ou M5
da classificação FAB).
A rapidez com que se instalou o quadro clínico está de acordo com o diagnóstico de
leucemia aguda.
15
As histórias não foram apresentadas na aula, por serem iguais às do ano passado, como tal transcrevemos
as histórias clínicas da desgravada do ano anterior.
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Questões
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A anemia pode provocar dispneia, apesar de um indivíduo jovem tolerar bem uma
anemia de 6,8 g/dL em repouso.
A leucocitose acentuada pode provocar leucostase, devido à incapacidade de as células
leucémicas fluírem normalmente na microcirculação (particularmente ao nível do cérebro e
pulmões). Além do número elevado de células em circulação, neste caso particular, os
monócitos são células grandes e pouco deformáveis.
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Para reverter as citopenias é adequada a transfusão de concentrados eritrocitários (CE)
e plaquetários (CP). A trombocitopénia de instalação rápida, como neste caso, pode ter
consequências graves, como uma hemorragia intracraniana, por exemplo.
História Clínica 2 :
EO (de relevante):
Palidez da pele e mucosas;
Escleróticas anictéricas;
Algumas petéquias nos membros inferiores.
E. C. Diagnóstico:
6
Hb – 7.8 g/dL VGM 105 fl; Leucócitos – 1190 × 10 /L; Neutrófilos 48%, linfócitos
28%, células indiferenciadas 19% peroxidase+ e esterase específica+, monócitos 3%
6
Plaquetas – 23.000 × 10 /L ;
LDH – 667 U/L ↑;
Funções hepática e renal normais.
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Questões
c. O doente tem uma síndrome com deleção do braço longo do cromossoma 5 (5q-
). FALSO
Geralmente, esta alteração citogenética origina uma síndrome mielodisplásica em que,
apesar de ser característica uma anemia macrocítica, o número de plaquetas é normal ou
elevado e geralmente surge em mulheres. Contudo, seria necessária uma cariotipagem para
excluir esta hipótese.
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a. Infiltração do sistema nervoso central. FALSO
É rara a infiltração do SNC por LMAs, sendo a leucemia monocítica a que apresenta
maior probabilidade de infiltração no SNC. Pelo contrário, a infiltração do SNC é mais frequente
nas LLAs.
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Em primeiro lugar, esta é uma LMA secundária e não “de novo”, tendo em princípio pior
prognóstico. Além disso, em doentes idosos, a quimioterapia de indução pode diminuir a
sobrevida e qualidade de vida, devendo ser utilizado um esquema mais conservador.
História Clínica 3:
DA - ♀, 42 anos, fumadora, trazida ao serviço de urgência pelo marido com uma história
de grande astenia nas últimas 2 semanas e febre nos últimos 3 dias. Tem dispneia há cerca de
12 horas.
EO (de relevante):
Palidez acentuada da pele e mucosas;
Dispneia para pequenos esforços;
Linfadenopatias cervicais. Ponta de baço palpável;
Petéquias dispersas nos membros inferiores.
E. C. Diagnóstico:
6
Hb – 9.8 g/dL; Leucócitos – 14070 × 10 /L; Neutrófilos 3%, linfócitos 6%, células
indiferenciadas 90%, PAS+, que, por citometria de fluxo, se verificou terem o seguinte
imunofenótipo: CD19+, CD22+, HLA-DR+, cadeias κ e λ de superfície-;
O cariótipo revelou a presença do cromossoma Filadélfia;
6
Plaquetas – 13000 × 10 /L. LDH – 1200 U/L.
Questões
16
Segundo o Cecil é recomendado a <40 e segundo o Oxford é reservado a <55.
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a. Trata-se de uma leucemia monoblástica aguda. FALSO
CD19 e CD22 – marcadores da linhagem B.
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Não porque o nº de blastos não é muito elevado, o que se pode deduzir pelo nº
de leucócitos e pelo facto da elevação da LDH não ser muito acentuada. Na L3 é mais
frequente um nº elevadíssimo de blastos, com ácido úrico muito aumentado.
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Anotadas do 4º Ano – 2007/08 Data: 12 de Dezembro de 2007
Disciplina: Seminário Prof.: Professor Ducla Soares
Tema da Aula: Diáteses Hemorrágicas
Autor(es): Lia Rocha
Equipa Correctora: M. Inês Pereira
Alterações da hemostase
Hemorragias
=
Diátese Hemorrágica Tromboses
(conjunto de patologias
que originam hemorragia)
Causas de Hemorragia:
Anomalias das plaquetas
Alterações dos factores da coagulação
Anomalias dos vasos
Avaliação Clínica
1
Anamnese
Exame Físico
Categorização clínica
Princípios de Investigação
ANAMNESE
Pontos críticos do interrogatório:
2 – Factores desencadeantes
• Traumatismos – mas estes dão hemorragia em qualquer pessoa,
sendo difícil avaliar a sua relevância em casos de discrasia
hemorrágica.
2
Hipoplasia medular (↓ plaquetas)
• citostáticos
• tiazidas
• benzeno (gasolina, colas rápidas, sprays tira-nóduas, tintas)
Anticorpos anti-plaquetas ( ↓ plaquetas por fagocitose pelos
macrófagos)
• digoxina
• tiazidas
• rifampicina
Lesão funcional das plaquetas
• AAS
• nitrofurantoína
• insecticidas
Alteração da síntese de factores de coagulação
• dicumarínicos – anticoagulantes orais
Alteração funcional de factores da coagulação
• - heparina
3
Carência de vit.K (ex: álcool e má nutrição) que impede síntese de
f.coagulação
células neoplásicas expressão factor tecidual (III – via extrínseca) em grandes quantidades
activação fibrinólise
Discrasia hemorrágica
4
4 – Tipo de Hemorragia
- petéquias
Mucocutâneas - equimoses
- hematomas
Profundas - hemartroses
- digestivas
Outras - ginecológicas
- epistáxis
TIPOS DE HEMORRAGIA
Petéquias
Máculas/manchas punctiformes, purpúreas com <3mm
(podendo por vezes coalescer e adquirir dimensões superiores aos 3mm)
Não desaparecem à vitropressão (vs equimose e telangiectasia)
5
Distinguem-se 2 tipos de petéquias:
A B
C D
6
Petéquias por vasculite (vasculopatia)
Além das petéquias, dá manifestações do processo inflamatório dos vasos:
o Prurido
o Eritema
o Edema
o Urticária
o Úlceras
o Vesículas “Púrpura Palpável”
o Nódulos
A B
Equimoses
C D
7
• vermelha roxa verde amarela
Corresponde a hemorragias arteriais ou venosas
Causas de equimoses: - trombocitopénia
- vasculopatias
- coagulopatias
A B
Figura 3 – equimoses
A – equimose traumática na mão
B – equimose extensa no membro
superior após punção para colheita
de sangue
Hematomas
Colecções hemorrágicas em espaços dissecados (hemorragia colectada
entre estruturas normais que foram separadas e formaram uma
cavidade).
Um hematoma que num indivíduo normal seria de pequenas dimensões,
pode assumir grandes dimensões em doentes com diátese hemorrágica.
Sintomas: - dor
• - tumefacção
Sinais indirectos de compressão
8
o - trombocitopénias
A B
Figura 5 – hematomas
A – hemtoma da região rotuliana
B – hematoma subungueal
C – hematoma lingual (pelo edema pode levar E
a asfixia)
D – hematoma craniano no recém-nascido
E – hematoma rectro ocular (esquema) – dá
exoftalmia unilateral, compressão do nervo
óptico e consequente necrose do mesmo.
9
Hemartroses
Colecções hemorrágicas intra-articulares
Sintomas: - dor (muito dolorosas)
- tumefacção – com recidivas provoca anquilose
(destruição da cartilagem e formação de pontes ósseas entre duas
superfícies de osso)
- calor
Numa situação aguda, o doente apresenta-se muito quieto, numa posição
que faça a menor distenção da cápsula articular possível – semiflexão
articular.
Ter uma hemartrose aumenta a probabilidade de ter outra hemartrose na
mesma articulação, posteriormente.
Causas de hemartroses:- Coagulopatias
- Trombocitopénias
A B
C Figura 6 – hamartrose
A – hemartrose rotuliana
B – Rx mostrando o desaparecimento das
cartilagens e anquilose (pontes ósseas) após
hemartroses de repetição
C – remoção do sangue intra-articular
10
Outros aspectos importantes a pesquisar no Exame Objectivo indicativos
de doenças subjacentes:
11
Quando uma pessoa tem um traumatismo, e tem uma perturbação da
hemostase primária, começa a sangrar imediatamente. No entanto, se tiver uma
doença dos factores de coagulação, há um intervalo entre o traumatismo e o
início da hemorragia. Isto acontece porque a rede de fibrina que solidifica o
rolhão plaquetário não se forma capazmente, devido a um défice de factores de
coagulação. Tendo em conta que o rolhão plaquetário é instável, quando é
removido a pessoa sangra.
12
Hemostase Primária – Patologias mais frequentes
Congénitas
- Doença de von Willebrand (a mais frequente, as restantes são raras)
- Função plaquetária
- Trombocitopénia
- Afibrinogenemia
Adquiridas
- Púrpura trombocitopénica autoimune (mais comum)
- Hiperesplenismo
- Aplasia medular
- Coagulação Intravascular Disseminada (comum no contexto de sépsis, de
aborto induzido, feto morto, embolia do líquido amniótico, neoplasias); Púrpura
Trombótica Trombocitopénica
- Doença de von Willebrand
Em relação às trombocitopénias, estas podem ser de diversas etiologias:
• Menor produção - aplasia, fibrose, infiltração medular
• Sequestração - esplenomegália
• Maior consumo - coagulação intravascular
• Maior destruição – mecânica; imunológica
13
Adquiridas
- Doença hepática (mais comum) - I, II, V, VII, IX, X, XI
- Coagulação Intravascular Disseminada
- Pode ter 3 apresentações:
(1) Não ter apresentação clínica
(2) Existência de trombos em número e posição variada
levando a disfunção de órgão
(3) Hemorragias por deplecção de factores de coagulação
- Carência Vitamina K - II, VII, IX, X
- Anticoagulantes
- Inibidor Factor coagulação
Testes Laboratoriais
14
É sensível a deficiências dos factores XII, HMWK, PK, XI, IX, VIII, V, X e
protrombina (II).
O intervalo do APTT vai de 25 a 37s.
Usado para monitorização dos níveis de heparina não fraccionada.
15
NOTA: resumo do Harrison
Trombocitopénia:
Definição: nº plaquetas < 100.000/mm3
(normal 150.000 – 350.000 / mm3)
Tempo hemorragia aumentado se plaquetas < 100.000/mm3
Hemorragia espontânea se plaquetas < 20.000/mm3
Causas:
- defeitos produção - lesão da medula óssea
- invasão medular
- sequestro por esplenomegália
- destruição acelerada
– fármacos (quimioterapia, tiazidas, etanol, estrogéneos,
sulfonamidas, quinina, metildopa)
– trombocitopénia induzida por heparina (por agregação
plaquetária ou por aparecimento de anticorpos anti factor plaquetário 4)
– destruição autoimune (idiopática, LES, linfoma, HIV)
– púrpura trombocitopénica idiopática
– CID – consumo plaquetas + deplecção factores coagulação +
estimulação fibrinólise (causa: infecciosa, queimadura extensas,
traumatismo, trombose, transfusão sanguínea incompatível..)
– púrpura trombocitopénica trombótica – anemia hemolítica + febre
+ trombocitopénia + disfunção renal + disfunção neurológica
(causa: incapacidade da normal clivagem do factor von
Willebrand)
16
Perturbação de coagulação
Congénitas – hemofilia A: carência recessiva ligada ao sexo, de factor VIII
- hemofilia B carência recessiva ligada ao sexo, de factor IX
- doença de von Willebrand – autossómica dominante
Adquiridas – carência vit K – menor produção de factores II, VII, IX, X
- doença hepática – menor produção de todos os factores
excepto o VIII
- outras: - CID, carência fibrinogénio, anticoagulantes
circulantes (LES, linfoma, idiopática), transfusão maciça (coagulopatia por
diluição).
DISCRASIAS HEMORRÁGICAS
1. Défice factor VIII: hemofilia A
1.1. Geral: X-recessivo, 1/10.000 ♂.
1.2. Patofisiologia: factor VIII sintetizado no fígado e circula em complexo com
vWF; sintomas se factor VIII <5% (grave se <1% – hemorragia espontânea;
moderada 1-5%; ligeira se >5% – hemorragia pouco frequente e geralmente
após trauma).
1.3. Clínica: hemorragia horas-dias após trauma e, se não tratada, pode durar
dias → ↑ pressão tecidos → s. compartimental, congestão venosa
(pseudoflebite) e isquemia nervosa; colecções podem formar massas
calcificadas (s. pseudotumural); comum diagnóstico feito após parto por
cefalohematoma extenso, mas se moderada pode só ser diagnosticada com o
início marcha/gatinhar ou, se ligeira, na idade adulta; típico dor e edema em
17
articulação carga (anca, joelho, tíbio-társica) – hemartrose → se recorrente,
osteoartrite, fibrose articular, anquilose e eventual atrofia muscular; hematúria
comum (maioria auto-limitada); complicações mais graves são hemorragia
orofaríngea e hemorragia no SNC.
1.4. Laboratório: ↑ aPTT, com PT, tempo hemorragia e plaquetas normais.
1.5. Terapêutica: plasma fresco, concentrado de factor VIII e crioprecipitado;
actualmente factor VIII recombinante ou purificado por ac monoclonais é
preferido para minimizar risco infecção viral e exposição a proteínas plasma;
factor VIII tem ½-vida 8-12h (infusão contínua ou, pelo menos, 2x/dia);
desmopressina ↑ transitoriamente níveis factor VIII na hemofilia ligeira; se
hemorragia precoce ou não complicada, infusão factor VIII até níveis 15-20%
(cada unidade [1mL] ↑2%/kg); se extensa manter níveis 25-50% durante mínimo
72h e se grave (p. ex. SNC, cirurgia major) infusão longa (~2 semanas)
mantendo níveis ≥50%; se procedimento dentário dose única factor VIII seguido
de ácido ε-aminocapróico 4x/dia durante 3-4 dias (inibe activadores do
plasminogénio), mas se procedimento major internar para infusão de factor VIII;
infusões profiláticas de factor VIII se hemorragia recorrente.
18
1.8. ♀ portadoras: por vezes níveis <50%; menorragia e hemorragia pós trauma;
raramente podem ser verdadeiras hemofílicas (síndrome de Turner e
mosaicismo X0).
4.2. XII: ↑↑ aPTT (>100s), mas hemostase normal; não requer terapia.
19
6. Défice factor XIII: muito raro; hemorragia neonatal; por vezes ↓ cicatrização,
↑ risco hemorragia intra-cerebral, infertilidade (♂), aborto (♀); fármacos
(isoniazida) podem simular ↓ factor XIII; infusão única de plasma fresco é eficaz
(½-vida 14 dias).
20
8.5. Terapêutica: corrigir desencadeante, controlar sintoma major (hemorragia –
plasma fresco e plaquetas [heparina controversa – reservar para hemorragia
refractária]; trombose – anticoagular com heparina EV) e instituir profilaxia para
prevenir CID crónica (heparina a longo prazo; não responde a varfarina).
21
trombose sobretudo em doentes com LES; não tratar se assintomático;
anticoagulação crónica se trombose (controverso se trombose minor em doente
sem LES) ou mais do que 1 aborto no 2º trimestre (sobretudo se LES).
22
Módulo V.I - Hematologia
Data: 1 de Dezembro de 2015
Docente: Prof. Dr. Forjaz de Lacerda
Tema da aula: Alteração da Hemostase e Trombofílias
Desgravada por: Catarina Ribeiro
Corrigida por: (não corrigida)
comissaodesgravadas1218@gmail.com
Índice
Introdução …………………………………………………………….………. 2
Trombose …………..……….....……………………..……………………… 22
Arterial ………………………………….………..………………. 22
Venosa ………………………………….…………………………. 22
Fatores de risco ……………………..….…………………………. 23
Indicadores clínicos de trombofílias ….…………………………. 24
Anticoagulantes …..……….....……………………..……………………… 25
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Introdução
Figura 1 - Coagulação
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É claro que quando nós temos uma trombose do ponto de vista clínico,
pode ocorrer em dois tipos de vasos: artérias ou veias. Também podemos ter
uma trombose em vasos saudáveis ou com patologia. De longe, o mais frequente
é ter trombose em vasos com patologia, como num doente com angor ou com
um enfarte agudo do miocárdio, é um vaso que está lesado, tem placas de
ateroma, não é um vaso normal.
Há cerca de 20 anos julgava-se que a via intrínseca, que não tinha a ver
com fatores de lesão do vaso endotelial, era a mais importante nesta cascata.
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Realmente, já está identificada há muitos anos e que tem a ver com esta cascata
sucessiva da identificação dos fatores XII, XI, IX, com interação com o fator VII
e depois, finalmente, a entrada na via comum, com ativação do fator X,
passagem de protrombina a trombina, fibrinogénio a fibrina, com formação do
trombo.
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Investigação Clínica
a. Isolado ou múltiplo?
b. Escasso ou abundante?
c. Há história familiar? Se já há história de um familiar que sangrava
muito, com uns pontos vermelhos no nariz e nos dedos, podemos
começar a suspeitar que naquela família existe uma discrasia
hemorrágica com componente hereditária.
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Investigação Analítica
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1
Foi referido na aula de Hemostase e Trombofílias de Medicina Laboratorial que já não se faz, por ser doloroso e poder
originar cicatrizes. Para se avaliar o tempo de hemorragia atualmente, passa-se o sangue numa membrana com
pequenos poros e quantifica-se o tempo que demora a ocluir estes poros.
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• Tempo de trombina –
avalia a parte mais final da
coagulação. Está
prolongado quando há
deficiência ou disfunção
do fibrinogénio e ainda
com inibidores do
fibrinogénio (heparina e
produtos de degradação
da fibrina).
• Teste da estabilidade do
coágulo – permite avaliar Figura 3 - Avaliação analítica da Cascata de Coagulação
se o coágulo é estável
depois de ser formado.
Discrasias Cutâneo-Mucosas
Vamos agora abordar as patologias mais comuns, começando pelas
discrasias cutâneo-mucosas. Regra geral, devem-se a alterações plaquetária,
em número ou em função, mas podem ser também devidas a problema dos
vasos (nomeadamente as púrpuras vasculares – vasos têm problemas em
termos do suporte de colagénio e deixam passar o sangue, seja por alterações
genéticas ou por inflamação).
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Em termos de expressão, todos estes exemplos que vimos até agora são
relativamente raros, são mais importantes do ponto de vista fisiopatológico.
Trombocitopenias
Aquilo que nós hematologistas vemos com muito mais frequência são as
trombocitopenias, as diminuições da contagem plaquetária. Se nos reportarmos
ao seminário de anemias, os problemas são exatamente os mesmos: diminuição
da produção na medula ou aumento da destruição, do consumo, a nível periférico
ou do baço.
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Púrpuras Plaquetárias
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que está diminuída. Isto constituiu a base de algumas das novas terapêuticas de
agonistas da trombopoietina.
è PTI no adulto: é tendencialmente uma doença crónica (pode ficar curada mas
é menos frequente). Pode ter que ser tratada, dependendo do nível de
gravidade: doentes com contagens de plaquetas entre 70 000 e 150 000 não
precisam de ser tratados, mantêm apenas vigilância periódica.
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2
Efeito da corticoterapia, melhor explicado em http://www.ebmconsult.com/articles/demargination-wbc-glucocorticoids-
mechanism-selectin
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o Púrpura trombocitopénica
o Febre
o Anemia hemolítica microangiopática
o Alterações renais
o Manifestações neurológicas
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Caso clínico 2
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disseminada, na qual ocorreria também consumo dos FC, o que não se verifica
neste caso.
Discrasias Profundas
1. Hemofilia A
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1. Deficiência de Vitamina K
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Trombose
Arterial
Venosa
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Fatores de Risco
Existem vários fatores de risco para trombose (tabela 1), vou falar-vos
apenas de alguns:
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Estes são os testes que fazemos em doentes que nos são referenciados com
tromboses fora do contexto. As principais causas de flebotromboses em doentes
sem história para as ter continuam a ser os anticontracetivos orais, o tabagismo
e a obesidade.
Anticoagulantes
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Bom estudo!
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