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Conceitos
Estudos laboratoriais
A anemia não é uma entidade específica, mas sim pode resultar de qualquer
processo patológico subjacente. A fim de estreitar as possibilidades de
diagnóstico, as anemias podem ser classificadas com base em sua
morfologia e/ou fisiologia:
Anemia megaloblástica
Anemia ferropriva
Etiologia:
- RN com baixo peso de nascimento (pouca reserva de ferro) e perda
sanguínea perinatal são mais susceptíveis;
- Consumo excessivo do leite de vaca está relacionado à anemia ferropriva:
baixo conteúdo de ferro e perda sanguínea pela colite proteica do leite
[especialmente em RN];
- Considerar sempre perda sanguínea: lesão em TGI [divertículo de Meckel,
pólipo, hemangioma, DII, etc].
- Considerar tricuríase, malária e H. pylori.
Manifestações clínicas:
- Geralmente assintomática, e identificada em triagem laboratorial;
- Palidez nas palmas das mãos, leitos ungueais e conjuntivas é o sinal clínico
mais importante. Entretanto, esta só é visível quando a Hb está abaixo de 7-
8 g/dL, e os pais costumam não notar por se tratar de uma instalação
insidiosa;
- Outros sintomas/sinais incluem: adinamia; intolerância ao exercício;
cefaleia; fraqueza muscular; taquicardia; sopro cardíaco diastólico por
hipercinesia.
- Numa deficiência de ferro leve/moderada (Hb entre 6-10 g/dL), os
mecanismos compensatórios (aumenta 2,3-DPG; curva de dissociação de
O2) podem ser capazez de mascarar os sintomas, a não ser uma leve
irritabilidade. Porém, em níveis abaixo de 5 g/dL, há irritabilidade, anorexia,
letargia, sopro, taquicardia e, eventualmente, IC;
- Sintomas extra-hematológicos: comprometimento de algumas funções
intelectuais e motoras (irritabilidade, atenção reduzida, déficit de memória,
prejuízo na aprendizagem, atraso na aquisição da linguagem e
desenvolvimento motor); perversão do apetite (pagofagia, PICA, ingesta de
substâncias não nutritivas); redução da capacidade bactericida dos
neutrófilos e diminuição da eficácia da imunidade celular (infecções
respiratórias e gastrointestinais).
De uma forma geral:
- Deficiência de ferro: astenia, dor em mmii, unhas quebradiças,
estomatite angular, perversão do apetite, redução da atenção;
- Anemia (maior comprometimento hemodinâmico): apatia, irritabilidade,
palidez, repercussão cardíaca (sopro e taquicardia).
Resultados laboratoriais:
- Deficiência de ferro progressiva segue uma ordem de eventos bioquímicos
e hematológicos;
- Primeiro, os depósitos de ferro do tecido são esgotados. Esse esgotamento
é refletido por um nível de ferritina sérica diminuído (<20 ug/dL; uma
proteína que fornece uma estimativa relativamente precisa dos depósitos de
ferro do corpo na ausência de doença inflamatória);
- Em seguida, o nível sérico de ferro diminui, a capacidade de ligação de
ferro no soro (transferrina sérica) aumenta e a saturação da transferrina cai
abaixo do normal;
- À medida que os depósitos de ferro diminuem, o ferro torna-se
indisponível para complexos com protoporfirina para formar o heme. As
protoporfirinas eritrocitárias livres (PELs) acumulam-se e a síntese da
hemoglobina é comprometida. Nesse ponto, a deficiência de ferro evolui
para a anemia ferropriva;
- Com menos hemoglobina disponível em cada célula, os eritrócitos tornam-
se menores. Essa característica morfológica é mais bem quantificada pela
diminuição do volume corpuscular médio (VCM) e da hemoglobina
corpuscular média (HCM);
- A variação aumentada no tamanho da célula ocorre à medida que os
eritrócitos normocíticos são substituídos por eritrócitos microcíticos. Essa
variação é quantificada pela largura de uma distribuição elevada de
eritrócitos (RDW);
- Contagem de eritrócitos também diminui;
- A porcentagem dos reticulócitos pode ser entre normal e elevada, embora
as contagens absolutas de reticulócitos indiquem uma resposta insuficiente
ao grau da anemia (reduzidas);
- O esfregaço sanguíneo revela os eritrócitos hipocrômicos e microcíticos
com variação substancial no tamanho da célula;
- A contagem de leucócitos é normal e a trombocitose costuma estar
presente. A trombocitopenia ocasionalmente é vista com a deficiência de
ferro muito grave, confundindo potencialmente o diagnóstico com as
doenças de insuficiência medular;
- Para diagnóstico:
1. Depleção dos estoques de ferro: ferritina [< 5 anos: < 12 ug/L; 5-12
anos: < 15ug/L]. É uma proteína de fase aguda pró-inflamatória, podendo
alterar resultados em inflamações;
2. Deficiência de ferro: ferro sérico [< 30mg/dL], saturação de
transferrina [< 16%], capacidade total de ligação de transferrina [>250-390
ug/dL];
3. Anemia: Hb e Ht reduzidos [tabela no começo]. Na maioria dos casos,
uma contagem sanguínea completa demonstra uma anemia microcítica com
um alto RDW, eritrócitos reduzidos e uma contagem de plaquetas normal a
elevada é suficiente para um diagnóstico presumível.
- A pesquisa de sangue oculto nas fezes deve ser realizada a fim de
excluir a perda sanguínea como causa de deficiência de ferro;
- Exames essenciais: hemograma; contagem de reticulócitos; esfregaço
de sangue periférico.
Diagnóstico diferencial:
- Considerar quando a anemia microcítica não responde à ingestão oral de
ferro: dose está adequada? ; Há má absorção do ferro? ; Há perda de
sangue contínua (TGI, principalmente)? ; Há infecção ou inflamação
concomitante? ; Há deficiência de folato ou B12? ;
- Talassemias: contagem alta de eritrócitos e RDW normal;
- Anemia da doença crônica: geralmente normocítica;
- Intoxicação por chumbo.
Prevenção:
- Aleitamento materno exclusivo. Caso não seja possível, a fórmula deve ser
fortificada com ferro (12mg/L) no primeiro ano;
- Introdução de cereais fortificados por ferro na dieta;
- Restringir consumo de leite de vaca;
- Triagem Hb/hematócrito aos 12 meses de idade, ou aos 4 meses se a
criança for alto risco.
- Suplementação profilática de ferro:
Tratamento:
1. Sulfato ferroso:
- O sulfato ferroso consiste em 20% de ferro elementar;
- Barato e eficaz;
- Tem gosto desagradável, podendo gerar intolerância à ingestão oral. Pode
ser propriamente dado entre as refeições com suco;
- Crianças mais velhas e adolescentes podem apresentar queixas
gastrointestinais;
- Dose 3-5 mg/kg/dia, por pelo menos 8 semanas.
- Sais de ferro: mais barato, porém com mais efeitos adversos e sofre
influência da dieta (1h antes das refeições com suco);
- Sais férricos e aminoquelatos: menor interferência e efeitos adversos;
- Via parenteral: má absorção presente. Mais caro e tóxico.
2. Orientações dietéticas: reduzir consumo de leite de vaca;
3. Acompanhamento:
- O bom acompanhamento é essencial para garantir uma resposta ao
tratamento;
- Se a anemia for leve, a avaliação laboratorial deve ser realizada em
aproximadamente quatro semanas após o início do tratamento. Nesse
ponto, a hemoglobina aumentou em pelo menos 1-2 g/dL e está
normalizada;
- Se a anemia for mais grave, a confirmação prévia do diagnóstico pode ser
feita pelo aparecimento de um reticulócito em 48-96 horas de tratamento
instituído. Então, a hemoglobina irá começar a aumentar de 0,1 a 0,4 g/dL
por dia, dependendo da gravidade da anemia. A medicação com ferro deve
ser mantida por oito semanas após os valores sanguíneos normalizarem
para restabelecer os depósitos de ferro.
- Ou seja:
. Dosar reticulócitos e hemograma a cada 30-60 dias;
. Perfil de ferro e ferritina com 30 e 90 dias.
Anemia fisiológica
Metabolismo do ferro
Distribuição
Disponibilidade