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Augusto Langeloh
Beatriz Araújo do Rosário
Carlos Henrique de Araújo Cosendey
Denise Costa Rodrigues
Maria Elisabete Costa Moreira
Patricia Lydie Voeux
FARMACOTERAPIA
A 12a edição do texto original revisa a fisiopatologia relevante e os objetivos gerais da farmaco-
terapia da psicose e mania. Independentemente da patologia subjacente, o objetivo imediato do
tratamento antipsicótico é a diminuição dos sintomas agudos que induzem a angústia do paciente,
particularmente sintomas comportamentais (p. ex., agitação, hostilidade) que podem representar
um perigo para o paciente ou outros. A dosagem, via de administração e escolha do antipsicótico
dependem do estado subjacente da doença, acuidade clínica, interações medicamentosas com medi-
cações concomitantes e sensibilidade do paciente a efeitos adversos de curto ou longo prazo. Com
exceção da eficácia superior da clozapina no tratamento da esquizofrenia refratária, nem a apresen-
tação clínica nem os biomarcadores preveem a probabilidade de resposta a uma classe ou agente
antipsicótico específico. Como resultado, evitar os efeitos adversos com base nas características
do paciente e do fármaco, e explorar determinadas propriedades de medicamentos (p. ex., sedação
relacionada à histamina H1 ou antagonismo muscarínico) são os principais determinantes para a
escolha do tratamento antipsicótico inicial.
MAO
DAT D 1R
SEÇÃO GERAIS
Algum
Estimulantes antipsi
II
Figura 16-1 Locais de ação de agentes antipsicóticos e Li+. Após liberação exocitótica, a DA interage com receptores
pós-sinápticos via transportador de DA DAT, com deaminação secundária por monoaminoxidase mitocondrial (MAO). A
NEUROFARMACOLOGIA
As doses mais bem toleradas em pacientes com demência são um quarto da dose do adulto com esquizofrenia.
Embora os sintomas neurológicos extrapiramidais (SEP), ortostase e sedação sejam particularmente problemáticos
nessa população de pacientes (Capítulo 22). Os benefícios antipsicóticos significativos são geralmente observados
na psicose aguda em um período de 60-120 min após a administração do fármaco. As preparações com compri-
mido de dissolução oral (CDO) para a risperidona, aripiprazol, olanzapina ou formas líquidas concentradas de
risperidona ou aripiprazol são opções para alguns pacientes. Os comprimidos de dissolução aderem à língua ou
a qualquer superfície oral úmida, e não podem ser cuspidos e são, então, engolidos junto com as secreções orais.
A administração intramuscular (IM) de ziprasidona, aripiprazol ou olanzapina representa uma opção para o trata-
mento de pacientes agitados e minimamente cooperativos e apresenta menos risco de parkinsonismo induzido por
fármacos do que o haloperidol. O prolongamento de QTc associado ao droperidol via intramuscular e a administra-
ção intravenosa de haloperidol reduziram o uso dessas formulações especiais.
MANIA. Todos os agentes antipsicóticos atípicos, com exceção da clozapina e iloperidona, têm indi-
cações para mania aguda e as doses são tituladas rapidamente até a dose máxima recomendada nas
primeiras 24-72 h de tratamento. Os pacientes com mania aguda que apresentam psicose precisam de
doses diárias muito elevadas. A resposta clínica (diminuição da agitação psicomotora e irritabilidade,
A B 253
100
100
SEP
SEP 80
80 5HT2
5HT2
% Ocupação
Antipsi
% Ocupação
Antipsi 60
60 D2
D2
40 40
20 20
CAPÍTULO 16
0 0
0 2 5 10 20 3040 1 2 4 6 8 10 15
Dose de olanzapina (mg/dia) Dose de risperidona (mg/dia)
Figura 16-2 Ocupação do receptor e resposta clínica para agentes antipsicóticos. Tipicamente, na ocupação do receptor
D2 pelo fármaco maior que 60% produz efeitos antipsicóticos; ocupação do receptor maior que 80% causa sintomas
extrapiramidais (SEP). Agentes atípicos combinam bloqueio fraco do receptor D2 com antagonismo/agonismo inverso
de 5-HT2A. O agonismo inverso nos subtipos do receptor 5-HT2 pode contribuir para risco reduzido de SEP da olanzapina
DEPRESSÃO MAIOR. Pacientes com transtorno depressivo maior com características psicóticas exigem
doses inferiores à medida de medicamentos antipsicóticos, administrados em combinação com um antide-
pressivo. A maioria dos fármacos antipsicóticos apresenta benefício antidepressivo limitado como agentes
de monoterapia. No entanto, os agentes antipsicóticos atípicos são eficazes como terapia adjuvante na
depressão resistente ao tratamento. Sua eficácia clínica pode estar relacionada com o fato de quase todos os
medicamentos antipsicóticos atípicos serem potentes antagonistas de 5-HT2A (Figura 16-2).
O antagonismo de 5-HT2A e 5-HT2C facilita a liberação de DA e aumenta o fluxo noradrenérgico a partir da subs-
tância ferruginosa. A administração de antagonistas de 5-HT2A e 5-HT2C sob a forma de baixas doses de antipsi-
cóticos atípicos, juntamente com os inibidores seletivos de receptação da serotonina (ISRSs), aumenta as taxas de
respostas em não respondentes dos ISRSs. Uma preparação combinada de baixas doses de olanzapina e fluoxetina
está aprovada para depressão bipolar, e doses baixas de risperidona (ou seja, 1 mg) aumentam as taxas de resposta
clínica quando adicionadas ao tratamento existente com ISRS em não respondentes ao ISRS. O aripiprazol é
aprovado pelo FDA para uso adjuvante em pessoas que não respondem ao antidepressivo, novamente com doses
baixas (2-15 mg). O aripiprazol e a maioria dos outros fármacos antipsicóticos são ineficazes como monoterapia
para depressão bipolar, sendo que a quetiapina é a única exceção.
ESQUIZOFRENIA. Os agentes antipsicóticos atípicos mais recentes oferecem um melhor perfil de efeito
colateral neurológico do que os fármacos antipsicóticos típicos. Os agentes atípicos apresentam risco
de SEP acentuadamente em comparação com agentes antipsicóticos típicos. O bloqueio excessivo
de D2aumenta o risco de efeitos neurológicos motores (p. ex., rigidez muscular, bradicinesia, tremor,
acatisia), atrasa o processo do pensamento (bradifrenia) e interfere nas vias de recompensa central,
resultando em queixas do paciente de anedonia. Na psicose aguda, a sedação pode ser desejável, mas
o uso de um medicamento antipsicótico sedativo pode interferir na função cognitiva do paciente e em
sua reintegração social.
Os pacientes com esquizofrenia têm uma prevalência duas vezes maior de síndrome metabólica e diabetes melito
(DM) tipo 2 e taxas de mortalidade relacionada a problemas cardiovasculares (CV) duas vezes maiores do que a
população geral. As diretrizes consensuais recomendam a determinação de momento basal da glicose, lipídeos,
254 peso, pressão arterial e, quando possível, circunferência da cintura e história pessoal e familiar de doença metabó-
lica e CV. O parkinsonismo induzido por fármaco também pode ocorrer, especialmente entre os idosos expostos a
agentes antipsicóticos que têm alta afinidade para D2 (p. ex., fármacos antipsicóticos típicos); as doses recomenda-
das são de aproximadamente 50% das utilizadas em pacientes mais jovens com esquizofrenia.
Os tratamentos antipsicóticos são associados a riscos metabólicos que incluem: ganho de peso, dislipidemia (prin-
cipalmente hipertrigliceridemia) e um impacto adverso na homeostase glicose-insulina, incluindo o início recente
de DM tipo 2 e cetoacidose diabética (CAD), com mortes relatadas em decorrência dessa última. A clozapina e a
II
olanzapina têm o maior risco metabólico e são usadas apenas como último recurso.
Os pacientes agudamente psicóticos em geral respondem em um período de horas após a administração do
fármaco, mas podem ser necessárias semanas para atingir a resposta máxima ao fármaco, especialmente para
NEUROFARMACOLOGIA
os sintomas negativos. As doses habituais para o tratamento agudo e o de manutenção são observadas no Quadro
16-1. Os efeitos adversos limitantes do tratamento podem incluir ganho de peso, sedação, ortostase e SEP, que até
certo ponto pode ser prevista com base nas potências do agente selecionado para inibir os receptores do neuro-
transmissor (Quadro 16-2). A detecção de dislipidemia ou hiperglicemia baseia-se no monitoramento laboratorial
(Quadro 16-1). Alguns efeitos adversos, tais como hiperprolactinemia, SEP, ortostase e sedação podem responder
à redução da dose, mas as anormalidades metabólicas melhoram apenas com a suspensão do agente agressor e uma
mudança para uma medicação metabolicamente mais benigna. Os pacientes com esquizofrenia refratária sob trata-
mento com clozapina não são bons candidatos para a mudança, porque eles são resistentes a outros medicamentos
(ver definição de esquizofrenia refratária mais adiante nesta seção).
O problema comum da não adesão ao tratamento medicamentoso entre pacientes com esquizofrenia levou ao
desenvolvimento de medicamentos antipsicóticos injetáveis de longa ação (ILA), frequentemente chamados de
antipsicóticos de depósito (depot). Existem quatro formas de ILA disponíveis nos EUA: ésteres decanoato de
flufenazina e haloperidol, microsferas impregnadas de risperidona e palmitato de paliperidona. Os pacientes que
recebem medicamentos antipsicóticos ILA apresentam taxas de recidiva consistentemente mais baixas se compa-
rados aos pacientes que recebem formas orais comparáveis e podem sofrer menos efeitos adversos.
A ausência de resposta às doses adequadas de antipsicóticos para períodos adequados de tempo pode indicar
doença refratária ao tratamento. A esquizofrenia refratária é definida usando os critérios de Kane: insucesso de
experimentos de seis semanas de dois agentes separados e um terceiro experimento de um agente antipsicótico
típico de alta dose (p. ex., haloperidol ou flufenazina, 20 mg/dia). Nessa população de pacientes, as taxas de res-
posta a agentes antipsicóticos típicos, definidas como 20% de redução dos sintomas com uso de escalas de classifi-
cação padrão (p. ex., Escala da Síndrome Positiva e Negativa [PANSS]), são de 0%, e para qualquer antipsicótico
atípico, exceto clozapina, são menos de 10%. A dose terapêutica de clozapina para um paciente específico não é
previsível, mas vários estudos encontraram correlações entre os níveis séricos mínimos de clozapina maiores que
327-504 ng/mL e a probabilidade de resposta clínica. Quando as concentrações séricas terapêuticas são atingidas,
a resposta à clozapina ocorre em oito semanas.
A clozapina tem inúmeros outros efeitos adversos, por exemplo, o risco de agranulocitose que exige monitora-
mento hematológico contínuo de rotina, alto risco metabólico, redução dependente da dose do limiar convulsivo,
ortostase, sedação, efeitos anticolinérgicos (especialmente obstipação) e sialorreia relacionada com o agonismo
muscarínico em receptores M4. Como resultado, o uso da clozapina é limitado aos pacientes com esquizofrenia
refratária. A eletroconvulsoterapia é considerada o último recurso de tratamento na esquizofrenia refratária e
raramente é empregada.
CAPÍTULO 16
Flufenazina O, S, IM 2,5-1,5 5-20 2,5-10 5-15 +/– – –
Decanoato de flufenazina +/– – –
Depot IM Não é para uso agudo 5-75 mg/2 semanas
Outros agentes típicos
Molindona O, S 15-50 30-60 15-50 30-60 – – –
Loxapina O, S, IM 15-50 30-60 15-50 30-60 + – –
12):2-97.
Doses em pacientes no primeiro episódio, mais jovens ou virgens de tratamento com antipsicóticos são menores do que para pa-
cientes com esquizofrenia crônica. A dose em pacientes idosos com esquizofrenia é de aproximadamente 50% daquela usada em
adultos mais jovens ; a dosagem para psicose relacionada com demência é de aproximadamente 25%.
bDevido ao risco de ortostase, a titulação da dose de iloperidona é de 1 mg 2 vezes/dia no dia 1, aumentando para 2, 4, 6, 8, 10 e
equivalentes a 6 mg orais de paliperidona durante a primeira semana, e pico no dia 15 em um nível comparável a 12 mg orais
de paliperidona. Nenhum antipsicótico oral necessário na primeira semana. Doses de manutenção IM podem ser administradas
no deltoide ou glúteo a cada quatro semanas após o 8o dia. Opções de dose de manutenção: 39, 78, 117, 156 ou 234 mg a cada
quatro semanas. A falha em administrar as doses de iniciação (exceto para aqueles que mudam de depot) irá resultar em níveis
subterapêuticos durante meses.
dNão disponível nos EUA.
eDose oral deve ser administrada com alimentos para facilitar a absorção.
MECANISMO DE AÇÃO. Todos os antipsicóticos clinicamente disponíveis são antagonistas dos recepto-
res D2 de dopamina. Esta redução na neurotransmissão dopaminérgica é atualmente atingida através
de antagonismo de D2 ou agonismo parcial de D2 (p. ex, aripiprazol).
O aripiprazol tem uma afinidade com receptores de D2 apenas ligeiramente inferior à DA em si, mas sua ativi-
dade intrínseca é de aproximadamente 25% a da dopamina. Ou seja, quando DA é incubada com concentrações
PRINCÍPIOS
SEÇÃO GERAIS
II NEUROFARMACOLOGIA
256
Quadro 16-2
Potências dos agentes antipsicóticos nos receptores dos neurotransmissoresa
DOPAMINA SEROTONINA 5HT2A/D2 DOPAMINA MUSCARÍNICO ADRENÉRGICOS HISTAMINA
D2 5-HT1A 5-HT2A 5-HT2C RAZÃO D1 D4 M1 α1A α2A H1
Agentes típicos
Haloperidol 1,2 2.100 57 4.500 47 120 5,5 > 10.000 12 1.130 1.700
Flufenazina 0,8 1.000 3,2 990 3,9 17 29 1.100 6,5 310 14
Tiotixeno 0,7 410 50 1.360 72 51 410 > 10.000 12 80 8
Perfenazina 0,8 420 5,6 130 7,4 37 40 1.500 10 810 8,0
Loxapina 11 2.550 4,4 13 0,4 54 8,1 120 42 150 4,9
Molindona 20 3.800 > 5.000 10.000 > 250 > 10.000 > 2.000 > 10.000 2.600 1.100 2.130
Tioridazina 8,0 140 28 53 3,5 94 6,4 13 3,2 130 16
Clorpromazina 3,6 2.120 3,6 16 1 76 12 32 0,3 250 3,1
Agentes atípicos
Asenapinab 1,4 2,7 0,1 0,03 0,05 1,4 1,1 > 10.000 1,2 1,2 1,0
Ziprasidona 6,8 12 0,6 13 0,1 30 39 > 10.000 18 160 63
Sertindolb 2,7 280 0,4 0,90 0,2 12 13 > 5.000 1,8 640 130
Zotepinab 8,0 470 2,7 3,2 0,3 71 39 330 6,0 210 3,2
Risperidona 3,2 420 0,2 50 0,05 240 7,3 > 10.000 5,0 16 20
Paliperidona 4,2 20 0,7 48 0,2 41 54 > 10.000 2,5 4,7 19
Iloperidona 6,3 90 5,6 43 0,9 130 25 4.900 0,3 160 12
Aripiprazol 1,6 6,0 8,7 22 5,0 1.200 510 6.800 26 74 28
Sulpiridab 6,4 > 10.000 > 10.000 > 10.000 > 1.000 > 10.000 54 > 10.000 > 10.000 > 5.000 > 10.000
Olanzapina 31 2.300 3,7 10 0,1 70 18 2,5 110 310 2,2
Quetiapina 380 390 640 1.840 2,0 990 2.020 37 22 2.900 6,9
Clozapina 160 120 5,4 9,4 0,03 270 24 6,2 1,6 90 1,1
a
Os dados são os valores médios de Ki (nM) de fontes publicadas determinados por competição com radioligandos para ligação aos receptores humanos clonados indicados. Os dados derivados da ligação do
receptor a tecido cerebral humano ou de rato são usados quando não há dados de receptor humano clonado.
bNão disponível nos EUA.
Fonte: NIMH psychoactive Drug Screening Program (PDSP) Ki Database: http://pdsp.med.unc.edu/pdsp.php (acesso em 30 de junho de 2009).
crescentes de aripiprazol, a inibição máxima da atividade de D2 não excede 25% da resposta da DA, o nível de 257
agonismo fornecido pelo aripiprazol. A capacidade do aripiprazol de estimular os receptores de D2 em áreas do
cérebro onde os níveis sinápticos de DA são limitados (p. ex., neurônios do PFC) ou diminuir a atividade dopami-
nérgica quando as concentrações de dopamina são elevadas (p. ex., córtex do sistema mesolímbico) é a base para
os seus efeitos clínicos na esquizofrenia. Mesmo com 100% de ocupação do receptor, o agonismo dopaminérgico
intrínseco do aripiprazol pode gerar um sinal pós-sináptico de 25%, implicando uma redução máxima de 75% na
neurotransmissão de DA, abaixo do limiar de 78% que desencadeia SEP na maioria dos indivíduos.
A base farmacológica para a eficácia clínica sem indução de SEP dos antipsicóticos atípicos resulta de um anta-
gonismo significativamente mais fraco de D2, combinado com potente antagonismo de 5-HT2. A clozapina possui
atividade em outros receptores, incluindo antagonismo e agonismo em vários subtipos de receptores muscarínicos
e antagonismo em receptores D4 da dopamina. No entanto, os antagonistas D4 que não têm antagonismo de D2 não
possuíam atividade antipsicótica. O metabólito ativo da clozapina, N-desmetilclozapina, é um potente agonista
muscarínico M1.
CAPÍTULO 16
A hipótese de hipofunção do glutamato na esquizofrenia levou a novos modelos animais, que analisam a influ-
ência dos agentes antipsicóticos com propriedades agonistas em receptores metabotrópicos de glutamato mGlu2 e
mGlu3 e outros subtipos. Os fármacos antipsicóticos atípicos são melhores do que os medicamentos antipsicóticos
típicos para reversão dos sintomas negativos, déficits cognitivos e isolamento social induzido por antagonistas do
glutamato.
TOLERÂNCIA E DEPENDÊNCIA FÍSICA. Conforme definido no Capítulo 24, os fármacos antipsicóticos não provo-
cam adicção; no entanto, a tolerância aos efeitos anti-histamínicos e anticolinérgicos dos agentes antipsicóticos
geralmente se desenvolve ao longo de dias ou semanas.
ABSORÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E ELIMINAÇÃO. A maioria dos antipsicóticos é altamente lipofílica, liga-se com
abundância às membranas ou proteínas e acumula-se no cérebro, nos pulmões e em outros tecidos com irrigação
sanguínea profusa. Além disso, esses fármacos entram na circulação fetal e chegam ao leite materno. Apesar das
meias-vidas que podem ser curtas, os efeitos biológicos de doses únicas da maioria dos medicamentos antipsicó-
ticos geralmente persistem por pelo menos 24 h, possibilitando dosagem de uma vez ao dia para muitos agentes
uma vez que se adaptem aos efeitos adversos iniciais.
258 A absorção é bastante alta para a maioria dos agentes e a administração concomitante de agentes antiparkinsonia-
nos anticolinérgicos não diminui de maneira apreciável a absorção intestinal. A maioria dos comprimidos de desin-
tegração oral (CDO) e as preparações líquidas fornecem farmacocinética semelhante. A asenapina continua sendo
a única exceção; está disponível apenas como preparação CDO administrada por via sublingual e a absorção ocorre
através da mucosa oral, com biodisponibilidade de 35% por esta via. Se engolido, o efeito de primeira passagem
é superior a 98%, indicando que a ingestão do fármaco com secreções orais não é biodisponível. A administração
intramuscular evita grande parte do metabolismo entérico de primeira passagem e fornece as concentrações men-
suráveis no plasma em um período de 15-30 min. A maioria dos agentes é altamente ligada às proteínas, mas tal
ligação pode incluir locais de glicoproteína. Os medicamentos antipsicóticos são de modo predominante altamente
lipofílicos com volumes aparentes de distribuição de até 20 L/kg.
A eliminação do plasma pode ser mais rápida nos locais com concentração e ligação lipídicas altas, principal-
mente o SNC. A remoção lenta dos fármacos pode contribuir para o agravamento geralmente tardio da psicose
depois que o paciente interrompe o tratamento. Ésteres decanoato depot de flufenazina e haloperidol, palmitato
PRINCÍPIOS
de paliperidona, assim como microsferas impregnadas de risperidona, são absorvidas e eliminadas muito mais
lentamente que as preparações orais. Por exemplo, a meia-vida de flufenazina oral é de cerca de 20 h, enquanto
SEÇÃO GERAIS
o éster decanoato injetado por via intramuscular tem meia-vida de 14,3 dias; o haloperidol oral tem meia-vida
de 24-48 h em metabolizadores extensos da CYP2D6, enquanto o haloperidol decanoato tem meia-vida de 21
dias; o palmitato de paliperidona tem meia-vida de 25-49 dias se comparado com a meia-vida de paliperidona
II
com paliperidona ILA gera níveis terapêuticos na primeira semana, evitando a necessidade de suplementação
com antipsicóticos orais de rotina.
Com exceção da asenaprina, paliperidona e ziprasidona, todos os fármacos antipsicóticos passam por extenso
metabolismo de fase 1 pelas CYP e subsequente glicuronidação de fase 2, sulfatação e outras conjugações. Os
metabólitos hidrofílicos desses fármacos são excretados na urina e em menores quantidades na bile. A maioria dos
metabólitos oxidados dos antipsicóticos é biologicamente inativa; alguns (p. ex., metabólito P88 da iloperidona,
metabólito hidroxílico do haloperidol 9-OH risperidona, N-desmetilclozapina e desidroaripiprazol) são ativos.
Esses metabólitos ativos podem contribuir para a atividade biológica do composto original e complicar os níveis
séricos correlatos do fármaco com efeitos clínicos. O Quadro 16-3 na 12ª edição do texto original descreve as vias
metabólicas dos agentes selecionados em uso comum.
USOS TERAPÊUTICOS
Os agentes antipsicóticos também são utilizados em diversos transtornos neurológicos não psicóticos
e como antieméticos.
TRANSTORNOS DE ANSIEDADE. Os tratamentos adjuvantes com fármacos antipsicóticos são benéficos no trans-
torno obsessivo compulsivo (TOC) e no transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). O uso adjuvante em baixa
dose de quetiapina, olanzapina e, em especial, risperidona, reduz significativamente o nível geral de sintomas de
TEPT resistente a ISRS e os pacientes com TOC com resposta limitada ao esquema-padrão de 12 semanas de altas
doses de ISRS também se beneficiam da risperidona adjuvante (dose média de 2,2 mg), mesmo na presença de
transtornos comórbidos de tiques. Para transtorno de ansiedade generalizada, os experimentos clínicos duplos-
-cegos placebo-controlados demonstram eficácia da quetiapina como monoterapia e para a risperidona em baixa
dose como adjuvante.
DOENÇA DE HUNTINGTON. A doença de Huntington está associada a patologia dos núcleos da base. O bloqueio de
DA pode suprimir a gravidade dos movimentos coreoatetóticos, mas não é fortemente apoiado devido aos riscos
associados de antagonismo excessivo de DA que superam os benefícios marginais. A inibição do transportador
vesicular de monoamina tipo 2 (VMAT2) com tetrabenazina substituiu bloqueio do receptor de DA no tratamento
da coreia (Capítulo 22).
AUTISMO. A risperidona tem aprovação do FDA para irritabilidade associada ao autismo em crianças e adolescen-
tes com idades entre 5-16 anos, com uso comum para problemas de comportamento destruidor no autismo e outras
formas de retardo mental. As doses iniciais diárias de risperidona são de 0,25 mg para pacientes com peso inferior
a 20 kg e 0,5 mg para os outros, com uma dose-alvo de 0,5 mg/dia naqueles com peso inferior a 20 kg e 1,0 mg/
dia para os outros pacientes, com uma variação de 0,5-3,0 mg/dia.
Quadro 16-3 259
Efeitos colaterais neurológicos dos fármacos antipsicóticos
ÉPOCA DE INÍCIO E
INFORMAÇÕES DE MECANISMO
REAÇÃO MANIFESTAÇÕES RISCO PROPOSTO TRATAMENTO
Distonia aguda Espasmos dos Tempo: 1-5 dias. Antagonismo de Agentes
músculos da Pacientes jovens, DA agudo antiparkinsonianos
língua, da face, nunca tratados são diagnósticos e
do pescoço e do com antipsicóticos curativosa
dorso apresentam maior
risco
CAPÍTULO 16
Acatisia Inquietação Tempo: 5-60 dias Desconhecido Reduzir a dose ou
subjetiva e substituir o fármaco;
objetiva; não clonazepam,
ansiedade ou propranolol
“agitação” mais eficazes
do que agentes
antiparkinsonianosb
Parkinsonismo Bradicinesia, Tempo: 5-30 dias Antagonismo da Redução da dose;
com seus efeitos antipsicóticos duradouros (p. ex., agentes injetáveis de longa ação), a bromocriptina pode ser tolerada em doses
grandes (10-40 mg/dia). Agentes antiparkinsonianos não são eficazes.
USO ANTIEMÉTICO. A maioria dos fármacos antipsicóticos protege contra os efeitos que induzem náuseas e vômi-
tos dos agonistas de DA. Fármacos ou outros estímulos que causam vômitos por uma ação no gânglio nodoso ou
localmente no trato gastrintestinal não são antagonizados por fármacos antipsicóticos, mas piperazinas e butirofe-
nonas potentes são por vezes eficazes contra náuseas causadas pela estimulação vestibular. Os antieméticos comu-
mente utilizados fenotiazinas são antagonistas fracos da DA (p. ex., proclorperazina) sem atividade antipsicótica,
mas podem ser associados a SEP ou acatisia.
260 EFEITOS ADVERSOS PREVISTOS POR AFINIDADES PELO RECEPTOR MONOAMINO (QUADRO 16-2)
Receptor D2 de dopamina. Com exceção do agonista parcial D2 aripiprazol, todos os outros agentes antipsicó-
ticos possuem propriedades antagonistas dos receptores D2, sendo que sua força determina a probabilidade de
SEP, acatisia, risco de discinesia tardia em longo prazo e hiperprolactinemia. As manifestações de SEP estão
descritas no Quadro 16-3, juntamente com a abordagem de tratamento usual. As reações distônicas agudas ocor-
rem nas primeiras horas e dias de tratamento com maior risco entre os pacientes mais jovens (idades de maior
incidência 10-19), especialmente indivíduos nunca antes tratados com antipsicóticos, em resposta a reduções
abruptas na neurotransmissão nigroestriatal de D2. A distonia tipicamente envolve os músculos da cabeça e do
pescoço, a língua e, em sua forma mais grave, a crise oculogírica, músculos extraoculares, sendo muito assus-
tadora para o paciente.
O parkinsonismo semelhante a sua forma idiopática ocorre quando a ocupação estrital de D2 excede 78%. Clinica-
mente, há um alentecimento generalizado e um empobrecimento do movimento volicional (bradicinesia) com fácies
PRINCÍPIOS
inexpressiva e redução dos movimentos dos braços ao andar. Em geral, essa síndrome evolui gradativamente ao longo
de vários dias ou semanas, à medida que o risco de ocorrerem distonias diminui. O tratamento da distonia aguda e do
SEÇÃO GERAIS
parkinsonismo induzido por antipsicóticos envolve o uso de agentes antiparkinsonianos, embora se deva considerar
uma redução da dose como estratégia inicial para o parkinsonismo. Os receptores muscarínicos colinérgicos modulam
a liberação nigrostriatal de DA, com bloqueio que aumenta a disponibilidade sináptica de DA. Questões importantes no
uso de anticolinérgicos incluem o impacto negativo na cognição e na memória, efeitos muscarínicos periféricos adversos
II
(p. ex., retenção urinária, boca seca, ciclopegia etc.) e o risco relativo de agravar a discinesia tardia.
A amantadina, inicialmente comercializada como um agente antiviral para o vírus influenza A, representa o medica-
NEUROFARMACOLOGIA
mento não anticolinérgico mais comumente utilizado para parkinsonismo induzido por antipsicótico. Seu mecanismo
de ação não está esclarecido, mas parece envolver o bloqueio da recaptação pré-sináptica de DA, facilitação da libe-
ração de DA, agonismo pós-sináptico de DA e a modulação do receptor.
A discinesia tardia é uma situação de aumento da atividade dopaminérgica nigrostriatal como resultado de super-
sensibilidade do receptor pós-sináptico e suprarregulação decorrente de níveis cronicamente altos de bloqueio
pós-sináptico de D2 (e possíveis efeitos tóxicos diretos dos antagonistas de alta potência da DA). A discinesia
tardia é caracterizada por movimentos coreiformes estereotipados, repetitivos, indolores, involuntários, rápidos
(semelhantes a tiques) da face, pálpebras (piscar ou espasmo), boca (caretas), língua, extremidades ou tronco. Os
movimentos discinéticos podem ser suprimidos parcialmente pelo uso de um antagonista de DA potente, mas essas
intervenções ao longo do tempo podem aumentar a gravidade. Mudar o tratamento dos pacientes de antagonistas
potentes de D2 para agentes mais fracos, especialmente a clozapina algumas vezes demonstrou ser eficaz. Quando
possível, a descontinuação do fármaco pode ser benéfica, mas geralmente não pode ser oferecida a pacientes com
esquizofrenia.
A acatisia foi muito comumente observada durante o tratamento com doses elevadas de antipsicóticos típicos de alta
potência, mas também pode ser observada com agentes atípicos, como aqueles com fraca afinidade pelo D2 (p. ex., que-
tiapina) e aripiprazol. Apesar da associação com bloqueio de D2, a acatisia não tem uma resposta robusta aos fármacos
antiparkinsonianos, portanto outras estratégias de tratamento devem ser empregadas, como o uso de benzodiazepínicos
de alta potência (p. ex., clonazepam), β-bloqueadores não seletivos com boa penetração no SNC (p. ex., propranolol),
e também uma redução da dose, ou a mudança para outro agente antipsicótico. O fato de o clonazepam e o propranolol
terem atividade cortical significativa e serem ineficazes para outras formas de SEP aponta para uma origem extraes-
triatal dos sintomas da acatisia.
A síndrome neuroléptica maligna (SNM) rara assemelha-se à forma muito grave do parkinsonismo com sinais
de instabilidade autônoma (hipertermia e instabilidade do pulso, da pressão arterial e da frequência respiratória),
estupor, elevação da creatinocinase sérica e, em alguns casos, mioglobinemia potencialmente nefrotóxica. A pre-
valência dessa reação é maior quando são usadas doses relativamente grandes dos agentes potentes, em especial
quando administrados por via parenteral.
A hiperprolactinemia resulta do bloqueio de ações hipofisárias dos neurônios tuberoinfundibulares dopaminérgi-
cos que distribuem DA para a hipófise anterior. Os receptores D2 em lactotropos na hipófise anterior medeiam a
ação tônica de inibição da prolactina da DA. As correlações entre a potência de D2 de fármacos antipsicóticos e
elevações da prolactina são excelentes. Com exceção da risperidona e paliperidona, agentes antipsicóticos atípicos
apresentam efeitos limitados (asenapina, iloperidona, olanzapina, quetiapina, ziprasidona) ou quase ausentes (clo-
zapina, aripiprazol) sobre a secreção de prolactina.
Receptores H1. O antagonismo central dos receptores H1 está associado a dois efeitos adversos importantes: seda-
ção e ganho de peso através da estimulação do apetite. Exemplos de fármacos antipsicóticos sedativos incluem
agentes de baixa potência típicos, tais como clorpromazina e tioridazina, e os agentes atípicos clozapina e que-
tiapina. O efeito sedativo é facilmente previsível pela sua alta afinidade pelo receptor H1 (Quadro 16-2). Haverá
desenvolvimento de certa tolerância às propriedades sedativas.
Receptores M1. O antagonismo muscarínico é responsável pelos efeitos colinérgicos centrais e periféricos de
medicamentos. A maioria dos medicamentos antipsicóticos atípicos não tem afinidade muscarínica e nenhum
efeito anticolinérgico apreciável, enquanto a clozapina e as fenotiazinas de baixa potência têm efeitos adversos
anticolinérgicos significativos (Quadro 16-2). A quetiapina possui uma afinidade muscarínica modesta, mas o seu
metabólito ativo norquetiapina é provavelmente responsável por queixas anticolinérgicas. A clozapina é particu- 261
larmente associada à constipação significativa. O uso rotineiro de laxantes e a pesquisa repetida sobre os hábitos
intestinais são necessários para evitar obstrução intestinal grave decorrente de constipação não detectada. As medi-
cações com propriedades anticolinérgicas significativas devem ser particularmente evitadas em pacientes idosos,
especialmente naqueles com demência ou delirium.
Receptores α1. O antagonismo α1-adrenérgico está associado ao risco de hipotensão ortostática e pode ser par-
ticularmente problemático para os pacientes idosos que têm o tônus vasomotor precário. Comparado a agentes
típicos de alta potência, os agentes típicos de baixa potência têm afinidades significativamente maiores para
receptores α1 e maior risco para ortostase. Embora a risperidona possua Ki que indica maior afinidade pelo
α1-adrenérgico que a clorpromazina, tioridazina, clozapina e quetiapina, na prática clínica a risperidona é uti-
lizada com 0,01-0,005 vezes as doses desses medicamentos e, portanto, provoca uma incidência relativamente
mais baixa de ortostase em pacientes não idosos. Como os pacientes tratados com clozapina têm poucas outras
opções de antipsicóticos, o potente mineralocorticoide fludrocortisona é por vezes tentado na dose de 0,1 mg/dia
como expansor de volume.
CAPÍTULO 16
EFEITOS ADVERSOS NÃO PREVISTOS POR AFINIDADES AOS RECEPTORES
DE MONOAMINA
EFEITOS METABÓLICOS ADVERSOS. Esses efeitos tornaram-se a área de maior preocupação durante o
tratamento antipsicótico em longo prazo, em paralelo com a preocupação global de alta prevalência de
condições pré-diabéticas e diabetes melito tipo 2 e mortalidade por doença cardiovascular duas vezes
EFEITOS ADVERSOS CARDÍACOS. As arritmias ventriculares e a morte súbita cardíaca (MSC) são preo-
cupações com o uso de antipsicóticos.
A maioria dos agentes antipsicóticos mais antigos (p. ex., tioridazina) inibe os canais de K+ cardíacos e todos os
medicamentos antipsicóticos comercializados nos EUA possuem uma etiqueta de advertência a respeito de prolon-
gamento de QTc. Existe alerta tarja preta para tioridazina, mesoridazina, pimozida, droperidol IM e haloperidol IV
(mas não por via oral ou IM) devido a casos relatados de torsade de pointes e subsequentes arritmias ventriculares
fatais. Embora se acredite que os novos agentes atípicos tenham menos efeitos sobre a eletrofisiologia do coração
em comparação com os agentes típicos, uma análise retrospectiva recente encontrou um risco aumentado depen-
dente da dose para MSC entre os usuários de antipsicóticos mais novos e mais antigos semelhante em comparação
com os não usuários de antipsicóticos, com um risco relativo de 2.
262 Outros efeitos adversos. O risco de convulsão é um efeito adverso incomum de fármacos antipsicóticos. Nos
EUA, há um alerta no rótulo para risco de convulsão em todos os medicamentos antipsicóticos, com incidências
relatadas bem abaixo de 1%. Entre os fármacos antipsicóticos mais comumente usados, somente a clozapina tem
um risco de convulsão dependente da dose, com uma incidência de 3-5% ao ano. Os pacientes com transtorno
convulsivo que iniciam tratamento antipsicótico devem receber profilaxia adequada, considerando evitar a car-
bamazepina e a fenitoína, devido à sua capacidade de induzir CYP e glicoproteína P. A carbamazepina também é
contraindicada durante o tratamento com clozapina, devido aos efeitos na medula óssea, particularmente leucope-
nia. A redistribuição e o aumento do espaçamento entre as doses para minimizar os altos níveis de pico séricos da
clozapina pode ajudar, mas os pacientes podem subsequentemente necessitar de medicamentos anticonvulsivantes.
Os derivados do ácido valproico (p. ex., divalproato de sódio) são frequentemente utilizados, mas irão agravar o
ganho de peso associado à clozapina.
A clozapina possui uma série de efeitos adversos incomuns além de indução das convulsões, sendo que o mais
preocupante é a agranulocitose. A introdução da clozapina nos EUA foi baseada em sua eficácia na esquizofrenia
PRINCÍPIOS
refratária, mas veio com monitoramento de hemograma completo exigido pelo FDA, que é supervisionado por
registros criados pela indústria. Agora que diversas formas genéricas de clozapina estão disponíveis, os médicos
SEÇÃO GERAIS
devem verificar junto a cada fabricante a história de exposição prévia. O aumento do risco está associado a deter-
minados tipos de HLA e à idade avançada.
Embora raramente utilizado devido a seu risco de prolongamento de QTc, a tioridazina também está associada a
II
retinopatia pigmentar em doses diárias iguais ou superiores a 800 mg/dia. As fenotiazinas de baixa potência estão
associadas ao desenvolvimento de fotossensibilidade, que necessitava de advertências relativas à exposição ao sol.
As fenotiazinas também são associadas ao desenvolvimento de um quadro colestático em avaliações de laboratório
(p. ex., fosfatase alcalina elevada) e raramente a elevações das transaminases hepáticas.
NEUROFARMACOLOGIA
Aumento da mortalidade em pacientes com demência. Todos os agentes antipsicóticos possuem um alerta no
rótulo sobre o risco de mortalidade para seu uso em pacientes com demência. A mortalidade é causada por insu-
ficiência cardíaca, morte súbita ou pneumonia. A overdose com agentes antipsicóticos típicos é uma preocupação
especial com os agentes de baixa potência (p. ex., clorpromazina) devido ao risco de torsade de pointes, sedação,
efeitos anticolinérgicos e ortostase. Os pacientes que tiveram overdose de fármacos antipsicóticos típicos de alta
potência (p. ex., haloperidol) e as benzamidas substituídas apresentam maior risco de SEP devido à alta afinidade
de D2, mas também devem ser observadas para detecção de mudanças no ECG.
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS. Os antipsicóticos não são inibidores importantes das enzimas CYP
com poucas e notáveis exceções (clorpromazina, perfenazina e tioridazina inibem a CYP2 D6). A
meia-vida plasmática de vários desses agentes é alterada por indução ou inibição de CYP hepáticas
e por polimorfismos genéticos que alteram atividades específicas de CYP (Quadro 7-3; ver tam-
bém Quadro 16-3 no texto original, 12ª edição). O tabagismo causa suprarregulação da atividade de
CYP1A2 e alterações no estado de tabagismo pode ser especialmente problemático para pacientes
tratados com clozapina e irão alterar os níveis séricos em 50% ou mais.
USO PEDIÁTRICO. Tanto a risperidona quanto o aripiprazol têm indicações para transtorno bipolar em crianças e
adolescentes (mania aguda) para idades entre 10-17, e para a esquizofrenia na adolescência (idades entre 13-17).
A risperidona e o aripiprazol são aprovados pelo FDA para irritabilidade associada ao autismo em crianças e ado-
lescentes com idades entre 5-16 anos. Os pacientes que nunca receberam tratamento com fármacos antipsicóticos
e pacientes mais jovens são mais suscetíveis a SEP e ao ganho de peso. A utilização de dose mínima eficaz pode
minimizar o risco de SEP.
USO GERIÁTRICO. O aumento da sensibilidade a SEP, ortostase, sedação e efeitos anticolinérgicos são questões
importantes para a população geriátrica e muitas vezes determinam a escolha do medicamento antipsicótico. Evi-
tar interações medicamentosas também é importante, já que pacientes idosos sob tratamento concomitante com
inúmeros medicamentos apresentam várias oportunidades de interações. Os pacientes idosos têm risco aumentado
para discinesia tardia e parkinsonismo. O aumento do risco de eventos cerebrovasculares e mortalidade por todas
as causas também é observado em pacientes idosos com demência. Em comparação com pacientes mais jovens, o
ganho de peso induzido por antipsicóticos é menor em pacientes idosos.
USO NA GRAVIDEZ E LACTAÇÃO. Os agentes antipsicóticos possuem advertências de classe B ou C. Os dados
em humanos indicam pouco ou nenhum padrão de toxicidade e nenhuma taxa aumentada consistente de malfor-
mações. O haloperidol frequentemente é citado como o agente com o melhor índice de segurança com base em
décadas de acúmulo de registros de exposição humana. Os fármacos antipsicóticos são projetados para atravessar
a barreira hematoencefálica, e todos têm altas taxas de passagem placentária. O uso na lactação apresenta um con-
junto distinto de preocupações devido ao baixo nível de atividade catabólica hepática infantil nos primeiros dois
meses após o parto. A incapacidade do recém-nascido de metabolizar adequadamente os xenobióticos apresenta
um risco significativo de toxicidade do antipsicótico.
TRATAMENTO DA MANIA
A mania é um período de humor elevado, expansivo ou irritável, com sintomas coexistentes de
aumento de energia e da atividade dirigida a um objetivo e menor necessidade de sono. A mania
representa um polo do que foi chamado de doença maníaco-depressiva, mas atualmente é chamado 263
de transtorno bipolar. A mania pode ser induzida por medicamentos (p. ex., agonistas da DA, anti-
depressivos, estimulantes) ou por substâncias de uso abusivo, principalmente cocaína e anfetaminas,
embora períodos de mania induzida por substâncias não devam ser invocados apenas para fazer um
diagnóstico de transtorno bipolar.
A mania distingue-se de sua forma menos grave, a hipomania, pelo fato de que a hipomania, por definição, não
resulta em prejuízo funcional ou hospitalização e não está associada a sintomas psicóticos. Pacientes que expe-
rimentam períodos de hipomania e depressão maior têm transtorno bipolar tipo II, aqueles com uma mania em
qualquer momento tem transtorno bipolar tipo I, e aqueles com hipomania, nas formas menos graves de depressão,
tem ciclotimia. A prevalência de transtorno bipolar I é de aproximadamente 1% da população e a prevalência de
todas as formas de transtorno bipolar de 3-5%. Estudos genéticos do transtorno bipolar produziram vários locais
de interesse associados a um risco de doença e preditores de resposta ao tratamento, mas os dados ainda não estão
na fase de aplicação clínica.
CAPÍTULO 16
Nenhuma medicação foi projetada para tratar todo o espectro do transtorno bipolar. Embora muitas classes de
agentes demonstrem eficácia na mania aguda, como o lítio, os fármacos antipsicóticos e determinados anticon-
vulsivantes, nenhuma medicação superou a eficácia do lítio na profilaxia de futura mania e fases depressivas do
transtorno bipolar, e nenhum outro medicamento demonstrou redução causada pelo lítio a suicidabilidade entre
pacientes bipolares.
significativos de retenção do Li+. O Li+ é completamente filtrado e 80% são reabsorvidos nos túbulos proximais
A transpiração profusa leva a secreção preferencial do Li+, em comparação com o Na+; no entanto, a repleção de
SEÇÃO GERAIS
sudorese excessiva com uso livre de água sem eletrólitos pode causar hiponatremia e promover a retenção do Li+.
Os diuréticos tiazídicos depletam Na+ e reduzem a depuração de Li+ que resulta em níveis tóxicos. Os diuréticos
poupadores de K+ triantereno, espironolactona e amilorida têm efeitos modestos na excreção de Li+. Menos de 1%
da dose ingerida de Li+ é eliminado do organismo pelas fezes; e 4-5% são secretados no suor. O Li+ é secretado
II
na saliva em concentrações cerca de duas vezes maiores que a concentração plasmática, mas seu nível nas lágri-
mas é praticamente igual à concentração no plasma. O Li+ é secretado no leite humano, mas os níveis séricos nos
lactentes que estão sendo amamentados são de aproximadamente 20% daquele dos níveis maternos, e não estão
NEUROFARMACOLOGIA
MONITORAÇÃO DOS NÍVEIS SÉRICOS E POSOLOGIA. Tendo em vista o índice terapêutico baixo do Li+, as
determinações periódicas das concentrações séricas são cruciais.
As concentrações consideradas eficazes e relativamente seguras oscilam entre 0,6 e 1,5 mEq/L. A faixa de 1,0-1,5
mEq/L é preferível para o tratamento dos pacientes com mania ou hipomania aguda. Níveis um pouco menores
(0,6-1,0 mEq/L) são considerados adequados e mais seguros para profilaxia em longo prazo. Observou-se que as
concentrações séricas de Li+ acompanham um relação dose-efeito evidente entre 0,4 e 1,0 mEq/L, mas com um
aumento correspondente dependente da dose de poliúria e tremor como índices de efeitos adversos. Entretanto, os
pacientes que mantêm níveis mínimos de 0,8-1,0 mEq/L apresentam redução do risco de recidiva em comparação
com aqueles mantidos em concentrações séricas mais baixas.
USOS TERAPÊUTICOS
TRATAMENTO MEDICAMENTOSO DO TRANSTORNO BIPOLAR. O tratamento com Li+ idealmente é reali-
zado em pacientes com funções renal e cardíaca normais. O Li+ é o único estabilizador do humor com
dados sobre redução de suicídio em pacientes bipolares e Li+ também tem vários dados de eficácia
para o aumento em pacientes com depressão unipolar, que respondem de maneira inadequada à tera-
pia com antidepressivos.
CAPÍTULO 16
o tratamento estabilizador de humor pode ser considerado em pacientes que tenham sofrido apenas um episódio
maníaco durante a vida, e que se apresentem eutímicos por períodos prolongados. A descontinuação do tratamento
de manutenção com Li+ em pacientes bipolares I tem um risco elevado de recorrência e de comportamento suicida
durante um período de vários meses. Este risco pode ser moderado pela remoção lenta e gradual do Li+, enquanto
a interrupção rápida deve ser evitada, a menos que determinada por emergências médicas.
OUTROS USOS DO LÍTIO. Demonstrou-se que o Li+ era eficaz como terapia adjuvante para a depressão maior resis-
tente ao tratamento. Os dados clínicos também apoiam o uso de Li+ como monoterapia para a depressão unipolar.
INTERAÇÕES COM OUTROS FÁRMACOS. As interações entre o Li+ e os diuréticos (especialmente tiazídicos, espi-
ronolactona e amilorida), inibidores da enzima conversora da angiotensina e agentes anti-inflamatórios não este-
roides têm sido discutidas anteriormente. A amilorida tem sido usada com segurança para reverter a síndrome do
diabetes insípido nefrogênico associado à terapia com Li+, mas exige acompanhamento cuidadoso e redução da
dosagem de Li+ para evitar toxicidade do lítio.
EFEITOS ADVERSOS
Efeitos no SNC. O efeito mais comum no SNC do Li+ no âmbito da dose terapêutica é o tremor fino postural das
mãos. A gravidade e risco para tremor são dependentes da dose, sendo que a incidência varia de 15-70%. Além
de evitar a cafeína e outros agentes que aumentam o tremor, as opções terapêuticas incluem a redução da dose
(tendo em mente o aumento do risco de recidiva com níveis séricos menores de Li+) ou bloqueio β-adrenérgico
O tratamento com valproato apresenta problema semelhante e a solução para conter o tremor induzido por
valproato é idêntica. Nos níveis séricos de pico (e no SNC), alguns indivíduos podem queixar-se de falta de
coordenação, ataxia ou fala arrastada, os quais podem ser evitadas através do uso de Li+ na hora de dormir. O
Li+ rotineiramente provoca alterações no EEG caracterizadas por desaceleração difusa, espectro de frequência
ampliado e potencialização com a desorganização do ritmo de fundo. As convulsões foram relatadas em pacien-
tes não epilépticos, com concentrações plasmáticas terapêuticas de Li+. O tratamento com Li+ também tem sido
associado a aumento do risco de confusão após eletroconvulsoterapia e geralmente é reduzido de forma gradual
antes de um curso de ECT.
O tratamento com Li+ (e valproato) resulta em ganho significativo de peso, um problema que é aumentado pelo uso
concomitante de fármacos antipsicóticos.
Efeitos renais. A capacidade dos rins de concentrar a urina diminui durante o tratamento com Li+ e aproximada-
mente 60% dos indivíduos expostos ao Li+ apresentam alguma forma de poliúria e polidipsia compensatória. O
mecanismo de poliúria não está esclarecido, mas o resultado é a diminuição da estimulação feita pela vasopressina
da reabsorção renal de água, e o quadro clínico de diabetes insípido nefrogênico. Os volumes médios urinários de
24 h de 3 L/dia são comuns entre usuários de Li+ de longo prazo, mas a interrupção do Li+ ou a mudança para uma
única dose diária pode reverter o impacto sobre a capacidade de concentração renal em pacientes com menos de
cinco anos de exposição ao Li+. A função renal deve ser monitorada com níveis séricos bianuais de ureia e creati-
nina, cálculo da TFG estimada utilizando fórmulas e medição anual do volume urinário de 24 h.
Efeitos tireoidianos e endócrinos. Um pequeno número de pacientes em tratamento com Li+ desenvolve um
aumento da tireoide benigno, difuso, não sensível, sugestivo de comprometimento da função da tireoide, embora
muitos destes pacientes venham a ter função normal da tireoide. Os efeitos mensuráveis do Li+ nos índices da
tireoide são observados em uma fração dos pacientes: 7-10% desenvolvem hipotireoidismo evidente e 23% têm
doença subclínica, sendo que mulheres têm um risco 3-9 vezes maior. O monitoramento contínuo de TSH e T4 livre
é recomendado ao longo do curso de tratamento com Li+.
Efeitos no ECG. O uso prolongado de Li+ provoca um achatamento benigno e reversível da onda T em aproximada-
mente 20% dos pacientes e o surgimento de ondas U, efeitos não relacionados à depleção de Na+ ou K+. O efeitos
induzidos pelo Li+ sobre a condução cardíaca e automaticidade do marca-passo tornam-se pronunciados durante
266 a overdose e levam a bradicardia sinusal, a bloqueios atrioventriculares e a possível comprometimento cardiovas-
cular. O monitoramento de rotina com ECG pode ser considerado em pacientes idosos, particularmente naqueles
com história de arritmia ou doença cardíaca coronária.
Efeitos na pele. Reações alérgicas como dermatite, foliculite e vasculite podem ocorrer com a administração de
Li+. Piora da acne vulgar, psoríase e outras doenças dermatológicas são um problema comum que em geral é tra-
tado com medidas tópicas, mas em um pequeno número pode melhorar apenas com a interrupção do Li+. Alguns
pacientes sob tratamento com Li+ (e valproato) podem sofrer alopecia.
GRAVIDEZ E LACTAÇÃO. O Li+ é classificado como categoria de risco D. O uso de Li+ no início da
gravidez pode estar associado a um aumento na incidência de anomalias cardiovasculares do recém-
-nascido, especialmente malformação de Ebstein. Embora os anticonvulsivantes ácido valproico e
carbamazepina também sejam categoria D de risco na gravidez, esses agentes estão associados a de-
feitos do tubo neural que são irreversíveis. Os tratamentos potencialmente mais seguros para a mania
PRINCÍPIOS
Na gravidez, a poliúria materna pode ser agravada pelo uso de Li+. O uso concomitante de Li+ com medicamentos
que perdem Na+ ou uma dieta com baixo Na+ durante a gravidez pode contribuir para a intoxicação materna e neo-
natal por Li+. O Li+ cruza livremente a placenta e pode haver desenvolvimento de toxicidade fetal ou neontal ao Li+
II
quando os níveis sanguíneos maternos estão dentro da faixa terapêutica. A exposição fetal ao Li+ está associada ao
bócio neonatal, depressão do SNC, hipotonia (síndrome do “bebê flácido”) e sopro cardíaco. A maioria recomenda
suspender a terapia com lítio por 24-48 h antes do parto.
NEUROFARMACOLOGIA
Outros efeitos. Ocorre um aumento benigno, prolongado, dos leucócitos polimorfonucleares circulantes (12.000-
15.000 células/mm3), durante o uso crônico de Li+, que é revertido em uma semana após o término do tratamento.
Alguns pacientes queixam-se de paladar metálico, o que torna os alimentos menos palatáveis. A miastenia grave
pode piorar durante o tratamento com Li+.
TOXICIDADE AGUDA E OVERDOSE. A intoxicação aguda caracteriza-se por vômitos, diarreia profusa, tremor gros-
seiro, ataxia, coma e convulsões. Os sintomas de toxicidade mais branda incluem náuseas e vômitos, dor abdo-
minal, diarreia, sedação e tremor fino. Os efeitos mais graves referem-se ao sistema nervoso e incluem confusão
mental, hiper-reflexia, tremor grosseiro, disartria, convulsões, déficits dos nervos cranianos e outros sinais neuro-
lógicos focais, algumas vezes com progressão para o coma e a morte. Em alguns casos, os déficits neurológicos
cognitivos e motores podem ser irreversíveis, sendo que o tremor cerebelar persistente é o mais comum. Outros
efeitos tóxicos são arritmias cardíacas, hipotensão e albuminúria.
Para uma listagem bibliográfica completa, consulte As Bases Farmacológicas da Terapêutica de Goodman
e Gilman, 12a edição.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.