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DISCIPLINA

GESTÃO DE TESOURARIA E CAPITAL DE GIRO


1. Capital de giro
O termo capital de giro é frequentemente utilizado para descrever o
montante aplicado em recursos de curto prazo utilizados nas operações de
transformação de uma empresa. Em outras palavras são os recursos
indispensáveis ao desenvolvimento do ciclo de operações da empresa.
A gestão do capital de giro é de vital importância para o bom
funcionamento de uma organização, trata-se também de uma complexa área
no campo das finanças. O capital de giro diz respeito aos elementos de giro,
que correspondem aos recursos correntes (de curto prazo) da empresa, como
o ativo circulante e o passivo circulante, e de que maneira estes elementos
estão inter-relacionados.

ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE

Gerenciamento Caixa Fornecedores


Inter-
Nível Crédito Empréstimos de CP
relações
Duplicatas Descontadas
Nível Estoques
Salários e Encargos

Figura 1: Adaptado Matias 2007

O gerenciamento do capital de giro refere-se à capacidade da firma em


saldar seus compromissos de curto prazo, e aborda as compras de matérias-
primas, o pagamento de fornecedores, o processo produtivo, os estoques, as
vendas, a concessão de crédito, o recebimento, o pagamento de salários,
impostos e outros encargos referentes à operação das empresas.
Disponível Pagamento
Recebimento

Clientes Fornecedores

Compra de
Venda de
Mercadorias
Mercadorias
Estoques

Figura 2: Adaptado Matias 2007


1.1 Gestão do ativo circulante
No processo de gestão do ativo circulante as principais questões estão
relacionadas com as decisões sobre o gerenciamento de caixa, nível de crédito
e nível de estoque, ou seja, de que maneira os recursos da empresa são
aplicados no capital de giro.

1.2 Gestão do passivo circulante


Na gestão do passivo circulante são abordados o nível de endividamento
e as alternativas e custos de financiamentos. O passivo circulante é
constituído por fontes de recursos de curto prazo, como empréstimos
bancários, descontos de duplicatas, fornecedores, salários e impostos a pagar.

1.3 Capital de giro operacional


Em 1978 o professor Michel Fleuriet propôs uma divisão (bastante
didática) do capital de giro em duas categorias: Operacional e Financeiro. A
categoria operacional aborda tanto origens como aplicações de curto prazo,
que têm como fato gerador a atividade fim de uma empresa. Estão nesta
categoria:

Origens dos Recursos Operacionais:


▪ Fornecedores
▪ Contas a Pagar (Salários, Encargos Sociais, Impostos etc.)

Aplicação dos Recursos Operacionais:


▪ Contas a Receber
▪ Estoques
ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE

Empréstimos e
Caixa e Bancos Financiamentos
FINANCEIRO FINANCEIRO
Aplicações Financeiras Duplicatas Descontadas

Fornecedores
Contas a Receber OPERACIONAL
OPERACIONAL Salários e Encargos
Estoques
Tributos a pagar

Figura 3: Adaptado Matias 2007

1.4 Ciclo operacional


O ciclo operacional é o período que a empresa leva desde a compra de
matéria-prima até o recebimento das vendas de seus produtos. A entrada de
recursos financeiros (recebimento das vendas) caracteriza o término do ciclo
operacional.
Quanto maior for o ciclo operacional, ou seja, quanto mais demorada for
aentrada de recursos financeiros, maior será a necessidade de recursos para
financiar o giro da empresa.

Compra de Início da Fim da Recebimento


Matéria-prima Fabricação Fabricação Vendas das Vendas

PMEMP PMF PMEPA PMR

Figura 4: Adaptado Matias 2007

O período de duração do ciclo operacional é composto por alguns prazos


médios. Dentre esses prazos médios, temos o Prazo Médio de Estoques (PME),
que por sua vez pode ser dividido em:
a) Prazo Médio de Estoques de Matérias-Primas (PMEMP), que é o prazo
médio entre o faturamento da matéria-prima e o início da fabricação;
b) Prazo Médio de Fabricação (PMF), que é o prazo médio entre o início
e o fim da fabricação;
c) Prazo Médio de Estoques de Produtos Acabados (PMEPA), que é o
prazo médio entre o fim da fabricação e as vendas dos produtos.
O Prazo Médio de Recebimento (PMR) é o prazo médio entre a venda de
produtos e os recebimentos das vendas. O ciclo operacional varia de acordo
com o setor de atividade da empresa. Assim, algumas empresas têm ciclo
operacional com prazo de duração inferior a um ano, o que indica que o ciclo
operacional ocorre mais de uma vez no ano. Outras empresas, como
estaleiros, possuem um ciclo operacional mais longo, superior a um ano, na
produção de navios.
O processo produtivo precisa gerar lucro e fluxo de caixa. O lucro trata da
questão do valor adicionado, decorrente da transformação da matéria-prima
em um novo produto, destinado à venda. Esse valor adicionado representa o
lucro da empresa, indispensável para a continuidade do negócio, mas é
possível uma empresa sobreviver, por um determinado período, sem lucros,
mas não sem caixa (dinheiro). O lucro refere-se a fluxo econômico, sendo
especificado na Demonstração do Resultado, e o caixa refere-se a fluxo
financeiro, sendo especificado no fluxo de caixa.
O ciclo econômico considera apenas os acontecimentos de natureza
econômica, envolvendo apenas a compra de matéria-prima até a venda de
produtos, não incluindo o pagamento das compras ou o recebimento das
vendas (movimentações de caixa).
Compra de Início da Fim da Recebimento
Matéria-prima Fabricação Fabricação Vendas das Vendas

PMEMP PMF PMEPA PMR

Ciclo Econômico

Figura 5: Adaptado Matias 2007

1.5 Ciclo financeiro


O ciclo financeiro, por outro lado, focaliza as movimentações de caixa,
abrangendo o período entre o momento em que a empresa realiza os
pagamentos e o momento em que recebe pelas vendas.
Compra de Início da Fim da Recebimento
Matéria-prima Fabricação Fabricação Vendas das Vendas

PMEMP PMF PMEPA PMR

Ciclo Operacional

Ciclo Econômico

PMP PMR
Ciclo Financeiro (Caixa)

Figura 6: Adaptado Matias 2007

Algumas empresas não só conseguem financiar seu capital de giro


através de suas operações, mas também podem utilizar este financiamento
interno, por exemplo, para realizar aplicações no mercado financeiro,
maximizando o retorno deste capital. Uma loja de varejo, por exemplo, que
tenha um prazo médio de estoques de 10 dias, um prazo médio de
recebimento de 15 dias e um prazo de pagamento de 45 dias apresenta um
ciclo financeiro de –20 dias, ou seja, ela se autofinancia, e suas operações
permitem trabalhar com capital livre durante 20 dias, realizando aplicações
financeiras, por exemplo.

2. Necessidade de Capital de Giro (NCG)


Dificilmente os pagamentos que a empresa efetua (saídas de caixa) são
sincronizados com seus recebimentos (entradas de caixa). A falta de
sincronização temporal entre pagamentos, produção, vendas e recebimentos
pode fazer com que o ciclo operacional não gere recursos em montante e/ou
prazo suficiente para sustentar a atividade operacional da empresa, o que
acarreta a Necessidade de Capital de Giro (NCG).
A Necessidade de Capital de Giro (NCG) representa a diferença entre o
Ativo Circulante Operacional e o Passivo Circulante Operacional, como mostra
a seguinte equação:
NCG = AC operacional – PC operacional
A NCG aumenta quando ocorre aumento nos estoques, nas contas a
receber (elementos do ativo operacional), ou com diminuição dos
fornecedores, contas a pagar (elementos do passivo operacional). Por outro
lado, ocorre diminuição na NCG quando as contas a receber e os estoques
diminuem (elementos do ativo operacional) e quando os fornecedores e as
contas a pagar aumentam (elementos do passivo operacional). Ter
Necessidade de Capital de Giro não representa nada negativo para a
organização, desde que ela tenha como financiar esta necessidade e gere
valor com ela.

ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE

Empréstimos e
Caixa e Bancos Financiamentos
FINANCEIRO FINANCEIRO
Aplicações Financeiras Duplicatas Descontadas

Fornecedores
Contas a Receber OPERACIONAL
OPERACIONAL Salários e Encargos
Estoques
Tributos a pagar

Figura 7: Adaptado Matias 2007

2.1 Capital de giro financeiro


A Gestão do Capital de Giro Financeiro focaliza as origens e aplicações de
recursos financeiros.

Empréstimos Bancários e
BANCO Descontos de Duplicatas

Disponível

Pagamento

Conta
Corrente e
Aplicações Clientes Fornecedores
Financeiras

Estoques

Figura 8: Adaptado Matias 2007


Origem dos Recursos Financeiros:
▪ Financiamentos Bancários
▪ Duplicatas Descontadas

Aplicações dos Recursos Financeiros:


▪ Caixa e Bancos
▪ Aplicações Financeiras

2.2 Saldo de Tesouraria (ST)


Um conceito importante na gestão do capital de giro financeiro é o Saldo
de Tesouraria, que integra a captação e a aplicação de recursos financeiros
para o giro. O saldo de tesouraria envolve as contas financeiras, do Ativo e do
Passivo Circulantes

ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE

Caixa e Bancos Empréstimos e


FINANCEIRO Financiamentos FINANCEIRO
Aplicações Financeiras
Duplicatas Descontadas

Duplicatas a Receber Fornecedores


OPERACIONAL Salários e Encargos OPERACIONAL
Estoques
Tributos a pagar

Figura 8: Adaptado Matias 2007

O Saldo de Tesouraria corresponde à diferença entre o Ativo Circulante


Financeiro e o Passivo Circulante Financeiro:

Saldo de Tesouraria = AC financeiro – PC financeiro


O aumento do Passivo Circulante Financeiro, devido, por exemplo, a
sucessivos empréstimos bancários ou descontos de duplicatas, pode
acarretar aperto financeiro e consequente aumento do risco financeiro, isto é,
do risco da empresa tornar-se insolvente. A gestão do capital de giro
financeiro está intimamente ligada à liquidez da empresa, isto é, sua
capacidade de pagamento. Normalmente, problemas na gestão do capital de
giro operacional desembocam em deterioração do saldo de tesouraria.
Referências
MATIAS, A.B. Finanças Corporativas de curto prazo: A Gestão do
Valor do Capital de Giro. V.1, 2 ed. São Paulo: Atlas, 2014. 312p.

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