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ELIAS, Norbert. A Civilização Como Transformação do comportamento humano.

I. O DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO DE CIVILITÉ


“O conceito de civilité adquiriu significado para o mundo Ocidental numa é poca
em que a sociedade cavalheirosa e a unidade da Igreja Católica se esboroavam.”
(p. 67)

- De acordo com Norbert Elias, o conceito (civilité) adquire significado a partir da


obra de Erasmo de Rotterdam em 1530.

- O autor assume que o aparecimento ou reforçamento de termos/conceitos indica


mudanças na vida social. (p. 68)

- A obra de Eramos é sintoma de mudança, através da qual novos comportamentos


deveriam ser moldados afim de adequação.

- O conceito de civilitas assume a expressão de um processo social.

“A postura, os gestos, o vestuário, as expressões faciais – este comportamento


“externo” de que cuida o tratado é a manifestação do homem interior, inteiro.” (p.
69)

- A apresentação do tratado e de suas regras é apresentada por Elias em uma relação


duplas entre contrastes: a moralidade da corte estava em oposição ao mundo rural,
dos camponeses.

- Apesar de comportamentos em comum intraclasses, há sempre uma maneira pela


qual a distinção entre estas, privilegiando a classe dominante, se faz presente.

- O embaraço ou estranhamento é próprio do processo civilizatório.

- A civilização pode ser lida, de acordo com Elias, a partir de um processo social,
um estágio ou fase. (p. 73)

“A civilização que estamos acostumados a considerar como uma posse que


aparentemente nos chega pronta e acabada, sem que perguntemos como viemos a
possuí-la, é um processo ou parte de um processo em que nós mesmos estamos
envolvidos.” (p. 73)

“Todas as características distintivas que lhe atribuímos – a existência de


maquinaria, descobertas científicas, formas de Estado, ou o que quer que seja –
atestam a existência de uma estrutura particular de relações humanas, de uma
estrutura social peculiar, e de correspondentes formas de comportamento.” (p. 73)
II. DOS COSTUMES MEDIEVAIS

- Apesar de sua fama, Erasmo não foi o primeiro a propor uma sintetização dos
costumes socialmente aceitos.

- O processo civilizatório tem uma longa trajetória, por isso Norbert Elias utiliza
como metodologia a busca por evidência em longa duração; o seu ponto limítrofe
para análise é a sociedade medieval.

- O comportamento à mesa era central no medievo.

- Poema mnemônicos: tinham como o objetivo de ditar as boas maneiras à mesa.

- Os registros medievais correspondem à um reflexo da coletividade, apresentando


aspectos típicos da sociedade em que o texto circulou.

- Aqui o autor salienta que, nos escritos medievais, os comportamentos “bons”


apareciam em contraste com os “ruins” associados aos camponeses.

- A análises dos escritos medievais salientam uma certa regularidade de aspectos


indicando um padrão entre as relações intrapessoais, a estrutura da sociedade e a
psique medieval. (p. 79)

- As técnicas de comer correspondem a um padrão de relações humanas e estruturas


de sentimentos. (p. 80)

- As maneiras à mesa, destaca ele, são apenas um fragmento de uma totalidade.

- O uso do garfo no Ocidente europeu floresceu mediante à mudanças nas estruturas


das relações humanas.

“O que achamos inteiramente natural, porque fomos adaptados e condicionados a


esse padrão social desde a mais tenra infância, teve, no início, que ser lenta e
laboriosamente adquirido e desenvolvido pela sociedade como um todo.” (p. 82)
III. O PROBLEMA DA MUDANÇA DE COMPORTAMENTO DURANTE
A RENASCENÇA

- Em sua análise do tratado de Erasmo, Elias observa que há uma continuidade em


relação aos costumes medievais, mas que o autor do tratado inaugura e representa o
modus operandi de uma sociedade cujas estruturas renovaram-se.

- Enquanto a sociedade estava em transição, as maneiras também o estavam.

- Na página 84, Elias fala que, diferentemente dos tratados medievais, Erasmo
escreve vivendo o momento e, por isso, atinge o leitor mais eficazmente.

- Na Idade Moderna, diz Elias, que os indivíduos tomavam o outro como molde, em
um relação mútua na qual o comportamento era apreendido. (p. 91)

- Há, contudo, um aumento da coerção de determinados indivíduos sobre outros a


seguir determinados padrões.

“[...] com a transformação estrutural da sociedade, com o novo modelo de relações


humanas, ocorre, devagar, uma mudança: aumenta a compulsão de policiar o
próprio comportamento. Em conjunto com isto é posto em movimento o modelo de
comportamento.” (p. 93)

- Os poemas ou tratados, tanto do medievo quanto da era moderna, são exemplares


históricos das formas de condicionamento ou modelação dos hábitos humanos que
correspondiam às necessidades sociais da época.

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