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Direitos autorais do texto original copyright © 2022, BRENDA

RIPARDO, ENTREGUE AO MAFIOSO

Capa: Magnifique ♛ Design

Diagramação: Brenda Ripardo

Preparação de texto/Editor: Graci Rocha

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e

acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer


semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desse livro pode ser

utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes — tangíveis ou


intangíveis — sem autori-zação por escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº

9.610/98, punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Este livro segue a norma-padrão do novo acordo ortográfico da

língua portuguesa, mas há muitas abreviações como o "tá", "tô", “pra” e

"pro", de forma que o texto fique o mais natural e verossímil possível.


“Danilo Salvatore é lindo. Mas, até a bíblia fala que o Diabo se

disfarça de um anjo de luz. Por que com ele será diferente?”

Danilo Salvatore é o subchefe do crime organizado em Chicago, de


longe, a máfia com mais poder no estado de Illinois. É um homem

implacável e que desde cedo, aprendeu que as pessoas precisam respeitá-lo


com a mesma intensidade que o temem.

Martina Giordano é filha do primeiro do casamento do pai, o Don da

máfia de Detroit. Foi criada para ser uma boa menina e obediente, mas é

atrevida e linguaruda na maior parte do tempo.

Para solidificar uma parceria entre duas famílias poderosas, um

casamento estratégico precisa acontecer o quanto antes.

Martina não está disponível para casamento, mas Danilo Salvatore

escolhe a garota para ser sua esposa e ele tem tudo o que quer.
Ela sabe que não há como fugir das garras do mafioso ou do destino

que foi traçado no momento em que ele colocou os olhos em cima dela.

Ele é um homem intenso e impiedoso, que foi criado a punho de


ferro e não conhece nada além da destruição e escuridão.

Aos poucos, a união que começou com um contrato de negócios, vai

se transformando numa paixão ardente e indomável. E então, Danilo


Salvatore se vê preso ente honrar os juramentos que fez ao iniciar na máfia

e colocar Martina acima da organização.

Entregue ao Mafioso é o primeiro livro da série “Império


Salvatore”. Por ser com casais diferentes, cada livro da saga pode ser lido

separadamente, mas talvez o posterior contenha spoilers do anterior.

Este é um romance que tem como pano de fundo a Máfia


Italiana, mas se você espera encontrar cenas de extremo abuso, uma

história dark, detalhes sobre as negociações dentro da máfia e

burocracias ou torturas, este livro NÃO corresponderá às suas

expectativas.
Este é um romance hot que tem como pano de fundo a máfia

italiana, mas se você espera encontrar cenas de extremo abuso, uma história
DARK, detalhes sobre as negociações dentro da máfia e burocracias ou

torturas, este livro NÃO corresponderá às suas expectativas.

O foco aqui é o nosso casal principal e a construção do


relacionamento deles.

A história a seguir tem gatilhos e temáticas delicadas como álcool,

drogas, abuso verbal e violência, incluindo temas de consentimento

questionável, linguagem imprópria e conteúdo sexual gráfico.

Apesar do conteúdo sensível, esse NÃO É UM ROMANCE

DARK. Mas é necessário reforçar que por se tratar de uma história sobre a

Máfia Italiana, certas passagens podem ser desconfortáveis ao leitor.


A autora não apoia e nem tolera as ações ilegais e comportamento

de alguns personagens retratados neste livro. A atenção do leitor é

aconselhada. Não leia se não se sente confortável.

A história narrada nas páginas seguintes, foi escrita baseada em

muito estudo sobre a Máfia Italiana, e claro, usando o bom senso da licença

poética e minha criatividade.


ATENÇÃO!

A história do livro se passa na cidade de Chicago, no estado de


Illinois, mas não tem NENHUMA ligação com a Chicago Outfit (máfia de

Chicago). Eu optei por criar minha própria organização criminosa.

Esta é uma obra de ficção destinada a maiores de 18 anos.

Boa leitura!
Phantogram – Black Out Days

Melanie Martinez – Pacify Her

Billie Eilish – No Time To Die

Billie Eilish – Your Power

EMO – Promises

Mr.Kitty – After Dark

Rihanna – Woo

Raphael Lake, Aaron Levy, Daniel Ryan Murphy – Prisioner

Bishop Briggs – White flag

The Weeknd – I Was Never There

Meg Myers – Desire


Meg Myers – Monster

Rosenfeld – Body

Rosenfeld – Do it for me

Rosenfeld – I Want To

Sia – Elastic Heart

Chris Brown – Under The Influence

Aaryan Shah – Renegade


“Não confunda minha bondade com fraqueza. Eu sou uma pessoa

como todas, mas se alguém mexer comigo, ele irá se lembrar de

mim”

~ Al Capone
"Você parece tão certa para mim. Eu quero segurar você com força e

deixar meus lábios deslizarem em seu corpo. Você é realmente única, não
é?"

~ Rosenfeld – Body
Alguns anos antes...

Sienna está submersa numa banheira de água e sangue.

— Puta merda! — Giovanni, meu irmão mais novo, fala ao parar

atrás de mim e observar o corpo sem vida da minha noiva.

Ver sangue sempre foi algo normal para mim. As minhas mãos são
tão sujas, que posso corromper alguém inocente apenas por tocá-lo. Quando

você nasce numa família como a minha, é isso que você faz.

Você destrói.

Você corrompe.

Eu sabia que Sienna não queria casar comigo. Ela odiou o fato de

meu pai tê-la escolhido para ser minha esposa. No entanto, eu a queria.

Qualquer homem no meu lugar desejaria uma garota como ela.


Linda.

Pura.

Inocente.

Agora, morta.

Suja de sangue.

O sangue inocente de Sienna que se mistura com a água da banheira,


embrulha o meu estômago, mas me mantenho impassível.

Ela me odiava, no fundo, eu sempre soube. Apesar disso, nunca

pensei que tiraria a própria vida para não se casar. Não posso culpá-la. Foi a
saída que Sienna encontrou para se livrar de mim.

Errado ou não, foi a primeira decisão que conseguiu tomar sozinha.

A morte é sempre o caminho mais fácil em algumas ocasiões. Para

ela, foi o único que encontrou.

Aproximo-me da banheira e a tiro de dentro da água. O corpo

pequeno e sem vida nos meus braços não pesa nada, quase como se ela

fosse feita de pano. Os cabelos negros molhados encostam no meu braço e


me dão uma sensação estranha no peito.

Encontro os olhos do meu irmão na soleira da porta do banheiro e

digo:
— Avise aos pais de Sienna que ela está morta.
— Chegou a hora de solidificar a nossa parceria com a família

Giordano — o papà[1] fala.

Faz quase um ano que nós controlamos os Giordano. Não foi fácil

no começo, porque Giuseppe, o Don[2] deles, estava irredutível a ceder. No

entanto, existem propostas que são irrecusáveis.

— É uma ótima forma de sossegar o seu pau também.

O papà tem razão, apesar de achar que meu o pau está bem
sossegado dentro das calças no exato momento. Ele não come uma boceta

faz vinte e quatro horas.

— Você vai para Detroit amanhã e escolherá a filha mais bonita que

Giuseppe tem — o Don fala, ordenando enquanto mexe nos papéis em cima

da mesa de madeira escura. — Vai se certificar de fazer um filho o quanto


antes também. Já tem trinta e cinco anos, passou da hora de construir uma

família. Você é o meu sucessor e precisa desse tipo de laço. Precisa de

herdeiros. Homens, de preferência.

Controlo os músculos do rosto para não demonstrar o meu desgosto

ao ouvi-lo e fico quieto. Não tenho a pretensão de fazer um pirralho com o

nariz escorrendo de catarro tão cedo.

Na verdade, não vou colocar uma criança no mundo para criá-lo do

jeito que eu fui criado. Além do dinheiro, poder e bocetas, não há nada de

bom nas nossas vidas.

O meu silêncio faz com que ele me olhe por cima dos óculos de

armação grossa. Acabo me remexendo na cadeira de couro e sou obrigado a

concordar com um balançar de cabeça.

— Claro, a mais bonita e um filho em breve — falo com a expressão

e a voz séria, mas por dentro me contorcendo de raiva.

Giuseppe Giordano é a merda de um ambicioso. Odeia receber

ordens, mas quando se tem muito dinheiro e poder em jogo, o homem

consegue abaixar a crista de vez em quando.

Os negócios sempre vêm em primeiro lugar, porém, para alguns

homens do nosso meio, os filhos são importantes também. Entregar uma


das suas preciosas filhas para nós é sinônimo de que ele sempre será fiel e

não causará problemas no futuro.

E para ser honesto, controlar Giuseppe é ótimo para os negócios e

enche os nossos bolsos com dinheiro, o que nunca é demais. E lógico,

fortalece o nosso império e nos deixa ainda mais fortes e indestrutíveis.

Sempre soube que a união com a família Giordano se solidificaria

com um casamento, mas mesmo assim, eu não tinha pretensão de me casar

agora. Depois do que Sienna fez com a própria vida há cinco anos, não

gosto da possibilidade de escolher uma mulher para ser minha esposa e vê-

la escapar das minhas mãos de novo.

Giancarlo, o consigliere[3], que está em pé ao meu lado e não disse

uma única palavra desde que entrei no escritório do papà, inclina-se um

pouco e me entrega um envelope marrom lacrado.

— Caso queira ver as meninas antes do encontro amanhã — ele diz,

a voz é tranquila, mas irrita meus tímpanos.

Giuseppe tem fama de ter filhas bonitas, as mais belas de toda a

organização de Detroit. E também, é conhecido por mantê-las a sete chaves.

Agora, está entregando as filhas como se fossem uma mercadoria.

Uma carga.
Meu pai faria exatamente a mesma coisa se tivesse uma filha.

Casamentos estratégicos estão na família há tanto tempo, que não lembro a

última vez que alguma das mulheres que nasceram no nosso mundo,
casaram por livre e espontânea vontade. Ou por amor.

Talvez nunca tenha acontecido.

— Como conseguiu isso? — pergunto e percebo o olhar do meu pai

cruzar com o do conselheiro. Não tenho resposta para minha pergunta, o


que também não importa. Amasso e jogo o envelope no cesto do lixo. —

Prefiro vê-las amanhã.

— Como preferir — Giancarlo fala e pela visão periférica, noto o

homem assentindo.

— Esse casamento precisa acontecer, Danilo — meu pai diz ao

prender os olhos frios e sem vidas nos meus. — Giuseppe movimenta


cargas importantes para nós e eu não quero correr o risco de ele ousar se

rebelar. Por isso, preciso que uma das filhinhas dele esteja debaixo das

nossas asas. Então, escolha certo.

Contraio a mandíbula e controlo a vontade de dizer que quem

escolheu Sienna para mim foi ele, não eu. Mas em vez disso, concordo com

um aceno firme de cabeça.


— Escolherei a mais bonita e lhe darei um neto em breve — é o que

digo ao levantar da cadeira acolchoada, mesmo sem ter nenhuma pretensão

de fazer um filho agora.

Meu pai assente, satisfeito.


Mesmo que não assumam em voz alta, muitos pais têm filhos

preferidos.

Lembro de ter lido um artigo de uma psiquiatra de Massachusetts


sobre o assunto. Ela disse que o favoritismo está ligado aos valores que os

pais sentem relação aos filhos.

Às vezes, eles são parecidos. Às vezes, apenas, se completam.

Angelina costuma falar de forma ácida que sou a preferida do papà.

Eu sempre detestei escutar esse tipo de coisa. Toda vez que algo assim

encontra os meus ouvidos, meu coração murcha dentro do peito.

Não quero ser a preferida do papà, mesmo que no momento, isso

signifique a minha salvação.


A mamma[4] penteia os cabelos ruivos e longos de Violetta, que são
iguais aos seus, e tenta esconder as lágrimas que inundam os seus olhos

amendoados.

Violetta tem apenas quinze anos, é pequena, vinte centímetros

menor do que eu. Os olhos são tão expressivos, não é difícil decifrar quando
está triste, com medo ou com raiva.

E agora, ela está com medo. Não são apenas os olhos que expressam

o sentimento, mas cada parte trêmula do corpo miúdo. E eu detesto que ela
esteja usando um vestido tão curto, como se fosse a merda de um produto

prestes a ser exposto em uma vitrine de luxo.

— Ponha esse — é o que digo, depois de fuçar o guarda-roupa de


Violetta e encontrar um vestido delicado e que cai até a altura das canelas.

Ela pega a peça e ruma para o closet, tropeçando nos próprios pés em cima

dos saltos finos.

A mamma me olha em silêncio. Tem tanta compaixão e

agradecimento no seu rosto, que me sinto culpada.

Ela não é minha mãe biológica, no entanto, quando foi dada ao meu

pai em casamento, eu era apenas um bebê. Mamãe me criou bem e me deu

carinho. E mesmo depois de ter a primeira filha com o papai, nunca me

excluiu.
Sempre fui sua filha também.

Enquanto eu, o fantasma da minha falecida mãe biológica. Aquela

garota para quem o papà olha quando quer lembrar do primeiro amor.

Não passo de um fantasma do passado.

— Colocar uma coisa mais comportada não vai ajudá-la em nada,

porque se Danilo Salvatore a escolher, ele a terá — Angelina resmunga,


chamando minha atenção.

Ela olha para mim do outro lado do quarto, o rosto todo enrugado

para demonstrar a insatisfação. E já está usando um vestido lindo e que


desenha bem as curvas do corpo. Pronta para o show de horrores que

acontecerá em minutos.

Nós duas nunca nos demos tão bem, porque ela consegue ver coisas

que as nossas irmãs não enxergam, ou fingem não enxergar.

O favoritismo do nosso pai.

Não a culpo por me odiar na maior parte do tempo, eu sei que ele

está me protegendo. Qualquer um pode enxergar isso no momento, já que

sou a única filha que não está sendo dada em uma bandeja de ouro para que

Danilo Salvatore escolha a futura esposa.

Eu tentei mudar o destino das minhas irmãs ao enfrentá-lo e a única

resposta que recebi é que sou velha demais e o filho do chefe da máfia
Salvatore quer uma garota nova.

É mentira, é claro. O papà é irredutível quando o assunto é me casar

com alguém. Os homens da organização já tentaram colocar as mãos em

mim e me arranjar casamentos com os filhos, e o Don negou com

veemência a cada proposta que recebeu.

— Por favor, não vamos brigar, somos irmãs, precisamos ficar

unidas agora. Pro nosso próprio bem — Caterine diz ao me dar um sorriso
gentil e compreensivo.

Ela acabou de completar dezoito, três anos mais nova que eu, e um

ano mais nova que Angelina. Assim como Violetta, os cabelos são ruivos

como os da nossa mãe e os olhos claros, como os do papai. Caterine é

praticamente uma versão mais velha de Violetta. Linda, cheia de vida e

meiga.

— Quem sabe, a gente tenha sorte e ele não queira nenhuma de nós

— Barbara comenta, semicerrando os olhos, como se buscasse algo no

fundo da mente. — Talvez não sejamos bonitas o suficiente para os

Salvatore.

Impossível.

O Don da máfia de Detroit é conhecido por ter cinco filhas lindas.

As mais belas da organização. Se não fosse por Lorenzo, o papai não teria
nenhum herdeiro homem.

— É a nossa única esperança — Barbara murmura ao apertar os

lábios carnudos, o que não dura muito tempo. Logo o celular em suas mãos,
notifica uma mensagem e ela dá toda a atenção para a tela colorida.

Barbara é a segunda caçula, tem dezesseis anos. Por conta da idade,

ela e Violetta são como unha e carne. E talvez, por serem as mais novas, eu

tenha um cuidado excessivo com elas.

Implorei que o papà livrasse as duas e sei como é injusto com as

outras, mas Caterine concordou que eu tentasse mudar a cabeça do nosso

pai, o que não adiantou de nada.

Ele não está muito satisfeito em dar as filhas de bandeja para um

homem como Danilo, só que não tem escolha. Precisa consolidar a aliança

que fez com os Salvatore há quase um ano.

E no mundo em que nascemos, os negócios vêm em primeiro lugar.

Sempre.

A organização acima de tudo. Acima das nossas vidas. Acima dos

nossos desejos. Acima da nossa felicidade.

O casamento entre as duas famílias acontecerá de qualquer forma.

Minhas irmãs estão condenadas e não existe a possibilidade de elas serem

salvas.
— Não fantasia, Barbara — Angelina grunhe. Ela é meio mal-

humorada de nascença, só que hoje está mil vezes pior. — Danilo Salvatore

vai casar com uma de nós. É o nosso destino.

Abro a boca para falar algo e sou interrompida ao ver Violetta voltar

para o quarto usando o vestido comportado que escolhi e um par de

sapatilhas baixas. Ela está linda, e claro, com medo. Uma combinação

horrorosa que revira o meu estômago.

— Não se culpe tanto, Martina — a mamma fala ao parar ao meu

lado, alcançando o meu rosto e prendendo uma mecha de cabelo detrás da

minha orelha. — Você não tem culpa de nada.

— Não é justo.

— Eu sei que não, mas não temos escolha. E o seu pai sabe o que
faz e o que é melhor para nós — fala.

Eu consigo perceber pela forma que os seus olhos brilham, que

mesmo que ame o papà e não concorde com as decisões dele, mamãe

sempre tentará ver o melhor que há no marido.

Respirando fundo, a mamma se afasta de mim e abre um sorriso

fraco para as meninas antes de começar a dar as devidas orientações.

Não falem a menos que falem com você.

Não olhem nos olhos dele.


Fiquem quietas.

Permaneçam com a cabeça erguida.

Sorriam.

Não chorem.

Se for escolhida, finja que está feliz.

Não implorem.

Sinto o estômago revirar mais uma vez.

Danilo Salvatore tem uma fama. Não é boa. As más línguas dizem
que matou a noiva semanas antes do casamento. É pra esse tipo de monstro

que meu pai está entregando minhas irmãs.

Impossível não o odiar no momento.

Uma batida na porta, faz com que nós seis viremos os rostos na

direção do som.

— Ele chegou — Maria, a empregada mais antiga da família diz ao


surgir na soleira, dando início ao nosso pesadelo.

Barbara é a primeira a sair do quarto.

— O Sr. Giuseppe disse para descerem sem os celulares. Ele não


quer interrupções — Maria informa ao gesticular com o indicador para as
mãos de Barbara, que segura o smartphone. Ela é uma adolescente viciada
em internet e às vezes, é difícil tirá-la do mundo virtual.

Olho para minha irmã e estendo a mão espalmada, ela suspira em

forma de protesto, mas me entrega o aparelho e eu enfio dentro do bolso da


calça jeans.

— Mais alguém? — Maria questiona e elas negam com a cabeça. —


Boa sorte, meninas.

Sorte...

É algo que minhas irmãs vão precisar.


De uma por uma, da irmã mais velha até a mais nova, elas entram

no escritório do papà. Em seguida, a nossa mãe, e antes que consiga espiar


dentro do cômodo, Paolo, o soldado que é o meu segurança desde que me

lembro, fecha a porta e me impede de olhar.

— Suba e espere lá em cima, é ordem do seu pai. Não o contrarie —


ele diz com um tom ameno e tenta abrir um sorriso para mim, que não serve

para nada.

Ainda me sinto angustiada, como se um buraco tivesse se formado

dentro do meu peito.

O homem velho e com barba grisalha dá as costas para mim e abre a

porta do escritório. O movimento acontece bem rápido, no entanto, pela

pequena fresta que se forma quando Paolo entra, consigo ver minhas irmãs

em fileira e de mãos dadas.


A dor no meu coração é insuportável, sufocante. Preciso levar uma

das mãos até o peito e massageá-lo, uma tentativa frustrante de amenizar o

incômodo.

— Suba e se tranque no quarto, Martina — Maria, que nos seguiu

até aqui, pede. Os olhos cintilantes imploram para que eu faça o que acabou

de pedir.

— Como eu posso simplesmente me esconder, Maria? Não posso

condená-las assim. Eu sou a mais velha, devia protegê-las e não me

esconder. Tá tudo errado, eu deveria estar lá dentro também.

— Está fora do seu alcance, menina. O que faria se estivesse lá

dentro? Nada — murmura ao se aproximar de mim e agarrar minhas mãos

com vigor. — Não pode salvá-las, querida. É tarde demais pra isso. Então,

suba e se tranque no seu quarto. Salve a si mesma, é a única coisa que pode

fazer.

Sacudo a cabeça em negativa e inspiro fundo, soltando o ar pelo

nariz com força. Não vou me esconder como um animal indefeso, enquanto

minhas irmãs vivem um pesadelo no escritório do papai.

Solto-me de Maria e dou passos firmes até a porta do escritório.

Envolvo os dedos na maçaneta, Maria começa a murmurar algo e ao prestar

a atenção na sua voz, percebo que começou a rezar o pai nosso. Devagar e
sentindo o sangue bombear nos meus ouvidos, abro a porta de madeira

escura e espio.

Mesmo do lado de fora, consigo sentir o clima tenso e feroz na sala.

Papai está em pé ao lado da mesa de coloração castanho-avermelhada,

observando as minhas irmãs. Não está contente, é visível. E também, sei

que não será o salvador delas, porque ele precisa desse casamento.

Independentemente de qualquer coisa, uma das filhas de Giuseppe

Giordano se tornará noiva de Danilo Salvatore.

Além de Paolo, Lorenzo, o sottocapo[5], Corrado, o conselheiro e o

papà, há mais dois homens na sala. Um tem cabelo loiro e meio comprido,

um olhar cínico destacando o rosto másculo e marcante. O outro, é moreno

e tem um corte de cabelo baixo e uma expressão feroz.

A mamma está num canto mais afastado da sala, observando as

meninas e guardando a própria tristeza. Ela sabe que não deve interferir,

então, não vai fazer nada além de observar. Só está presente para se

certificar de que minhas irmãs façam como ela orientou e sejam obedientes.

E então, eu o vejo.

Danilo Salvatore.

Os passos lentos contra o assoalho de madeira, percorrendo a fila

indiana que minhas irmãs formaram, durante o tempo em que os olhos


duros e severos analisam as meninas como se fossem um produto.

— Está faltando uma. Você tem cinco filhas, não quatro — Danilo

diz, a voz grossa e rouca, com um leve tom devasso atingindo os meus

ouvidos e vibrando nos pelinhos na minha nuca.

Ele se vira para o meu pai e fica de costas para mim.

— Isso já foi conversado com o seu pai. Apenas as quatro estão

disponíveis para casamento — o papà retruca. A postura revelando que faz

muito esforço para manter a calma.

Sem dizer nada, Danilo volta a atenção para as meninas.

Os olhos severos e intensos dele passeiam pelas minhas irmãs de

maneira minuciosa, enquanto elas tremem e permanecem de mãos dadas,

implorando em silêncio para não serem escolhidas.

Ele para na frente de Violetta e meu corpo todo enrijece.

O ar que paira sobre o homem é completamente diferente de todo o

resto do cômodo. É avassalador, sinto que pode destruir qualquer coisa a

poucos metros de distância, como uma força sobrenatural caótica.

Não é a primeira vez que o vejo. O rosto dele é comum nos sites de

fofoca, porque para todos os efeitos, ele é apenas o herdeiro da rede de

restaurantes italianos bem-sucedidos dos Salvatore e um dos solteiros mais

cobiçados de Chicago.
Danilo é lindo, não posso negar. Alto e os músculos por debaixo do

terno slim escuro feito sob medida são evidentes. O cabelo tem um tom

castanho-claro e está penteado para trás, de um jeito natural.

Mas até a bíblia fala que o Diabo se disfarça de um anjo de luz. Por

que com Danilo será diferente?

O celular de Barbara começa a tocar dentro do bolso da minha calça

jeans, irrompendo para dentro do cômodo e atraindo a atenção de todos na

sala. Pego o smartphone e sem olhar o nome que pisca na tela, eu rejeito a

ligação.

As palavras de Maria ecoam dentro da minha cabeça.

Suba e se tranque no seu quarto. Salve a si mesma.

Salve a si mesma.

Suba e se tranque no seu quarto.

Não há nada que você possa fazer.

Está fora do seu alcance.

Salve a si mesma.

Salve a si mesma.

Os olhos severos e profundos de Danilo me encontram pela fresta.

Noto que eles brilham com uma excitação que não consigo entender. E
como se isso fosse um ímã para as minhas ações, eu empurro a porta para

abri-la mais ainda e sinto o tempo congelar ao meu redor.

Sei que estou me condenando ao fazer isso, mas não conseguiria

descansar a cabeça no travesseiro à noite, sabendo que fui uma covarde e

apenas me escondi, enquanto minhas irmãs estavam no abatedouro.

— Saia daqui! — o papà esbraveja e a dureza na sua voz faz o meu


corpo trepidar.

Violetta vira o rosto e me encara. Os olhos azuis encharcados de

lágrimas e o pequeno queixo tremendo por causa do choro que está

segurando. Vê-la assim, me deixa irritada e sinto as bochechas pinicarem de

raiva.

— Quem é você? — Danilo pergunta a mim ao dar um passo para


trás e passear com os olhos dos meus pés até a cabeça, arrepiando a minha

nuca e fazendo a garganta arranhar.

O cretino está me analisando.

— Martina Giordano.

— Saia daqui, Martina! — o papà grita de novo, enfurecido e

soltando fumaça pelas ventas.

Decido ser desobediente e não movo um músculo, apenas olho

Violetta e as lágrimas que começam a escorrer dos cantos dos olhos


aproximados e meigos.

— Por que não estava aqui com as suas irmãs?

Engulo em seco com o questionamento de Danilo.

Faço um esforço para encontrar os seus olhos claros e trinco os

dentes ao notar o pequeno sorriso cínico que curva a boca dele, que

infelizmente, é bem atraente e instigante.

Não tenho dúvidas. Danilo Salvatore é o Diabo disfarçado de um


anjo de luz.

— Ela não está disponível — papai fala.

— Por quê? — Danilo devolve sem tirar a atenção de mim. — É


casada?

— Não — respondo, fazendo o meu pai bufar. Acho que está a um

triz de avançar em cima de mim e me arrastar para fora do escritório.

— É noiva? — ele insiste e a julgar pela maneira que os olhos azuis

reluzem, eu sei que está se divertindo com a situação.

— Não.

— Tem namorado?

— Não podemos namorar — é Violetta quem fala num tom

embargado, fazendo os lábios do homem esticarem de leve mais uma vez.


— Ainda é virgem?

A pergunta atrevida vem com um olhar explorador pelo meu corpo


inteiro, como se quisesse se certificar de que nunca fui tocada. Ranjo os

dentes de raiva e controlo a vontade iminente de avançar em cima do seu


pescoço.

Eu sei como as coisas funcionam para as mulheres que nascem no


nosso mundo. Se não for virgem, não é digna de ser a esposa de alguém de

dentro da organização. Se não é virgem, você não vale merda nenhuma.

Virgindade é sinal de pureza e inocência, como se o nosso mundo


não fosse um mar de sangue cruel e horripilante.

— Claro que minha filha é virgem. Todas elas são — papai diz,
meio alterado.

Lentamente, Danilo encaminha o rosto para a minha irmã e toca o


queixo dela com os dedos, o que me faz dar vários passos para dentro do
escritório. Paolo me segura, me impedindo de afastar o Diabo de Violetta.

— Qual é o seu nome? — ele pergunta à minha irmã.

— Violetta — ela murmura, choramingando.

— Tem quantos anos?

— Não! — eu protesto, sentindo o ar escapar dos meus pulmões e


me dificultando de respirar. — Ela não! — berro, ofegante. Desesperada.
Incrédula. Enfurecida.

O mafioso me ignora e arqueia uma sobrancelha para Violetta,

esperando por uma resposta.

— Quinze anos... — ela balbucia.

Danilo olha para mim, que tento me desvencilhar dos braços de

Paolo e acabo deixando o celular de Barbara cair no chão. Em passos


firmes, porém, arrastados, o homem vem para próximo de mim e se agacha

para pegar o aparelho estatelado no piso de assoalho de madeira.

— Tire-a daqui, Paolo — o papà ordena.

— Não — Danilo rebate, a voz dura e incisiva.

— Eu disse que ela não está disponível, Danilo — meu pai fala sem
conseguir esconder a fúria na voz.

Danilo volta a ficar com a postura erguida, exibindo a imponência

que parece ser sua por natureza, e olha para o meu pai. Não consigo ver a
sua expressão, mas os ombros estão eretos.

Todos os homens no cômodo fazem o mesmo.

— Giuseppe, acho que está me confundindo com um dos seus


homens. Não ouse falar comigo dessa forma outra vez — ele articula, a

ameaça velada na voz.


— Danilo — o homem de cabelo baixo e olhar feroz começa a falar.

— O acordo que Giuseppe fez com o seu pai não inclui Martina.

Danilo olha para ele com afinco.

— Giancarlo, você é conselheiro do meu pai, mas se continuar

assim, não será o meu.

O homem volta a olhar para mim e me oferece o celular. Solto-me


de Paolo e pego o aparelho. Danilo faz questão de tocar nos meus dedos ao

conectar os olhos nos meus. Um arrepio frio se espalha pela minha coluna e
eu sinto como se um tijolo tivesse caído no meu estômago.

— Eu escolhi minha futura esposa — Danilo informa, olhando para


mim com intensidade e uma possessividade absurda. — Você — acrescenta

com um sussurro.

Pisco devagar e não consigo dizer nada.

— Não! — o papà contesta ao passar as mãos nos cabelos. — Ela

não. Martina não está disponível — diz, dessa vez, com um tom mais
ameno, só que não menos desesperado.

— Não? — Danilo questiona ao dar as costas para mim e se


aproximar das minhas irmãs. Assim que para na frente de Violetta, eu dou
um passo para perto dele, o corpo todo retesado. — Não? — repete, como

se fosse a primeira vez que ouve a palavra.


Violetta olha para mim, chorando em silêncio. Danilo quebra a

nossa conexão ao segurar o queixo dela entre o indicador e o polegar,


projetando o rosto para cima e estudando a minha irmã.

— Então... será você, ruivinha.

— Não! — berro ao puxar Violetta, afastando-a de Danilo e


colocando-a atrás de mim. — Ela só tem quinze anos. É nova demais. É só

uma criança.

Eu não devia estar agindo desse jeito, porque além de ser

desrespeitoso para os homens, vivo num mundo em que é quase pecado


capital o atrevimento de uma mulher. Entretanto, não deixarei que toquem

em Violetta.

Não deixarei que toquem em nenhuma das minhas irmãs.

— Isso é problema, Giuseppe? — o cretino pergunta sem desviar a

atenção de mim. — Suponho que não — acrescenta sem dar a chance de


alguém falar algo.

A raiva e a minha aflição começam a martelar nas têmporas.

Pela visão periférica, noto Barbara chorando em silêncio. A mamma


a puxa para mais perto e Caterine e Angelina acabam saindo do fogo

cruzado também. Meus olhos encontram os do nosso pai e eu sei que ele
está a um triz de perder a cabeça.
E ele vai.

Ele vai, porque não permitirei que condene a vida de Violetta.

Não permitirei que se case com esse homem. Ela é apenas uma

criança, não merece ter o destino traçado de uma forma tão cruel e precoce.

— Ela ou você — Danilo articula e curva a boca em um sorriso


cínico quase imperceptível. — Quem será?

Forço o caroço entalado na garganta a descer.

Atrás de mim, consigo sentir o corpo de Violetta tremendo ao

mesmo tempo em que chora e as pequenas mãos agarram a barra da minha


blusa com força, como se não fosse capaz de me soltar.

Respiro fundo.

Olho para a mamma e em seguida, para o papà, que nega com um


aceno de cabeça. Ele não será o salvador de Violetta. Eu sei que não e nem

espero que faça algo, porque a única coisa que ele quer, é proteger a filha do
seu primeiro amor.

A filha preferida.

A filha intocável.

A filha imaculada.

— Será eu.
— Não — o papà resmunga e Corrado, o seu conselheiro, o impede
de se aproximar de nós.

— Parabéns, Martina, você será minha rainha — é o que Danilo diz,


fazendo cada terminação nervosa do meu corpo arrepiar com o tom rouco e

profundo da sua voz.

Estou condenada.

Para sempre.
Elas entram no escritório, aterrorizadas. Dão as mãos e entrelaçam

os dedos, como se unir forças pudesse salvá-las de casar comigo. Devagar,


ando por elas, observando-as com cautela até que me dou conta de algo.

Giuseppe tem cinco filhas. Eu nunca as vi como agora, mas a fama

do Don da máfia de Detroit é grande. Pai de cinco meninas lindas e nenhum


herdeiro homem.

— Está faltando uma. Você tem cinco filhas, não quatro — falo e os

corpos pequenos à minha frente tensionam.

Viro para Giuseppe e espero por explicações.

— Isso já foi conversado com o seu pai. Apenas as quatro estão

disponíveis para casamento — ele diz, tentando se manter calmo.


Giro o corpo e retorno os olhos para as meninas, analisando uma por

uma. Paro em frente a ruiva pequena e trêmula, ela não deve ter treze anos,

o que me faz odiar um pouco o meu pai e Giuseppe.

Eles nem deviam cogitar a possiblidade de eu me casar com uma

menina tão nova. É doentio e imoral até mesmo para nós.

Um som de celular tocando alcança os meus ouvidos e chama a


minha atenção. Ergo os olhos e então, eu a vejo pela fresta da porta do

escritório. Apenas isso é o suficiente para saber que é linda.

Os olhos dela encontram os meus por um segundo. E então, ela


empurra a porta e eleva o rosto, confiante, embora as bochechas estejam

vermelhas e os lábios comprimidos, efervescendo em raiva.

— Saia daqui! — Giuseppe esbraveja, desesperado demais para o


meu gosto.

Essa é a quinta filha indisponível?

A ruivinha à minha frente, vira o rosto para a intrusa e as duas se

encaram por uma eternidade, como se conversassem apenas com um olhar.

— Quem é você? — questiono ao recuar um passo e observá-la com

mais atenção.

Ela é linda e bem gostosa, apesar de não estar tão arrumada como as

irmãs, que se vestiram especialmente para mim. A garota usa blusa azul
claro de mangas curtas e calça justa, que marca bem o quadril.

— Martina Giordano.

Giuseppe grita de novo atrás de mim, exigindo que a filha saia de


perto. Para a minha surpresa, a garota não se move para obedecer a ordem

do pai.

Temos uma filha rebelde então?

Interessante e incitador.

— Por que não estava aqui com as suas irmãs?

Martina engole em seco e assim que meu olhar encontra o dela,

sinto algo incontrolável se agitar dentro de mim, e eu tenho a confirmação

que preciso.

Eu a farei minha.

Ela trinca os dentes. Quase sorrio. Uma garota brava e que parece
pronta para atacar. Tão diferente das irmãs que parecem filhotes indefesos.

— Ela não está disponível — Giuseppe fala.

— Por quê? — questiono sem conseguir tirar a atenção de Martina.

É linda, meiga e também, selvagem. Eu gosto dessa combinação e até

consigo imaginar o corpo com curvas deliciosas e os cabelos longos e

esparramados na minha cama. — É casada?


— Não — ela responde, o queixo elevado.

Giuseppe resmunga algo atrás de mim e eu o ignoro completamente.

— É noiva? — pergunto, não conseguindo esconder a excitação que

vibra dentro de mim. Acho que acabei de escolher minha noiva.

— Não.

— Tem namorado? — quero saber. Se ela não está disponível, deve

ter algum motivo, o que para ser honesto, não fará diferença. Essa garota

será minha de qualquer forma.

— Não podemos ter namorados — a ruivinha fala num tom

comedido.

Assinto em concordância, sentindo a boca curvar, e em seguida,

volto a perguntar:

— Ainda é virgem?

Como em modo automático, meus olhos voltam a passear pelo

corpo de Martina. Aposto que os homens daqui são loucos para colocar as

mãos sujas na filha preciosa de Giuseppe.

— Claro que minha filha é virgem. Todas elas são — O Don retruca

e eu decido ignorá-lo de novo.


Devagar, direciono a atenção para a menina pequena à minha frente.

Envolvo o queixo trêmulo entre os dedos e levanto o seu rosto. Martina se

agita, mas é impedida de se aproximar ao ser segurada por um soldado.

— Qual é o seu nome?

— Violetta — ela sussurra, a voz fraca.

— Tem quantos anos?

— Não! — Martina reclama. — Ela não! — grita comigo.

Decido ignorá-la também e a única coisa que faço é olhar Violetta,

esperando a minha resposta.

— Quinze anos...

Levo a atenção até Martina, que tenta a todo custo se soltar das

mãos do soldado. Ela derruba o celular no chão. Em silêncio, aproximo-me

do aparelho e o apanho para entregar a ela.

— Tire-a daqui, Paolo — Giuseppe ordena.

— Não — rebato de maneira firme.

— Eu disse que ela não está disponível, Danilo — o chefe do crime

organizado de Detroit diz para mim, tão furioso que me faz olhá-lo com a

expressão desgostosa.
— Giuseppe, acho que está me confundindo com um dos seus

homens. Não ouse falar comigo dessa forma outra vez.

— Danilo — Giancarlo, que não falou muito desde que entramos,

resolve que é hora de interferir. — O acordo que Giuseppe fez com o seu

pai não inclui Martina.

— Giancarlo, você é conselheiro do meu pai, mas se continuar


assim, não será o meu.

Eu não o dispensarei, por mais que tenha me irritado no momento,

Giancarlo é um ótimo conselheiro e é fiel, o que não significa que o

deixarei me censurar na frente das outras pessoas.

Volto a minha total atenção à Martina e entrego o seu aparelho,

fazendo questão de roçar os nossos dedos e vendo-a arquejar de leve.

— Eu escolhi minha futura esposa — aviso, focalizando os olhos da

garota. — Você — sussurro.

— Não. Ela não. Martina não está disponível — Giuseppe fala,

tentando manter um tom mais tranquilo.

— Não? — pergunto ao girar nos calcanhares e chegar perto de

Violetta. Martina se aproxima, como uma leoa para defender o filhote em

perigo. — Não? — repito, como se estivesse testando a palavra.


Violetta olha para a irmã, enquanto as lágrimas escorrem pelos

cantos dos olhos. Sou um cretino, pois decido quebrar a conexão das duas

ao segurar o queixo de Violetta e analisar o rosto pequeno e repleto de

medo com atenção.

— Então... será você, ruivinha.

— Não! — Martina grita ao puxar Violetta para longe de mim e

ficar na frente da irmã.

Ela é muito corajosa e insolente.

Desde que entrou, a mãe não fez nada além de ficar quieta,
observando tudo em silêncio. Mas essa garota atrevida está arriscando

muito ao fazer uma cena como essa.

— Ela só tem quinze anos — continua.

— Isso é problema, Giuseppe? — questiono sem desviar a atenção

dela. — Suponho que não.

Silêncio total no escritório.

— Ela ou você. Quem será? — pergunto, curvando a boca em um

pequeno sorriso lascivo.

— Será eu.
— Não! — Giuseppe retruca e percebo um movimento atrás de
mim, mas ninguém se aproxima de nós.

— Parabéns, Martina, você será minha rainha — dou a sentença

dela e a garota é forte o bastante para manter a cabeça erguida.

— Você ia mesmo escolher a garota de quinze anos? — Giovanni


pergunta, forçando uma expressão séria.

Olho para ele, depois para a entrada da casa de Giuseppe. Ele está
na varanda, o seu conselheiro de um lado e o subchefe do outro. Aceno de

maneira firme com a cabeça, obrigando o homem a fazer o mesmo.

Logo atrás, em frente a porta de mogno, Martina me observa com os


olhos afiados e as mãos apertadas em punho. Ela tem uma beleza feroz e

meiga com a mesma intensidade. Para o desgosto do chefe da máfia de


Detroit, isso não passou despercebida aos meus olhos.
Desvio a atenção deles e entro no carro, Giancarlo ocupa o banco da
frente e Giovanni se acomoda ao meu lado. Estreita os olhos para mim e a

boca curva em um pequeno sorriso cínico.

O soldado que veio dirigindo pisa no acelerador e se afasta da casa

dos Giordano.

— Por que ela? — meu irmão pergunta, levemente intrigado.

— Por que não ela? — retruco ao arquear uma sobrancelha para ele,

que encosta a cabeça no banco de couro e inspira fundo. — Ela é linda,


gostosa e tem idade o suficiente para casar comigo em breve.

De longe, Martina é a mais bela das irmãs. É dona de olhos de gelo,


uma pele clara e de tom quente. É pequena e apesar da aura meiga, não
parece frágil ou indefesa. Na verdade, agiu como um animal ferino no

escritório.

Uma leoa indomável, sexy e quente pra caralho.

— Se não pudesse ficar com a Martina, você pegaria a garota de


quinze anos? Acho que Giuseppe a entregaria pra você.

Nego com a cabeça e o conselheiro no banco da frente me observa

pelo retrovisor do carro.

— Ele entregaria qualquer uma das filhas, porque a nossa parceria o

beneficia muito. Giuseppe é inteligente, pode não gostar de solidificar a


nossa parceria com o casamento, mas o faria mesmo assim. Ele o fez.

Giovanni prensa os lábios e uma linha grossa surge entre as

sobrancelhas, mas não diz nenhuma palavra.

— Violetta não parava de olhar para Martina. Nem por um

segundo, a garota olhou para mãe ou para o pai.

Afrouxo o nó da gravata, lembrando da conexão que eu consegui


sentir entre as duas. Ao contrário das irmãs, Martina não estava com medo,

ela apenas, tinha muita raiva. Não faço ideia de porquê Giuseppe a
escondeu.

Talvez, soubesse que no instante em que colocasse os olhos na filha


mais velha, eu a escolheria.

E como não? Ela parece um anjo de cabelos longos e marrons. Os


olhos azuis são tão atrevidos. Mesmo que não tenha dito uma palavra em
voz alta para me desrespeitar, eu sei que ela o fez em silêncio.

E para ser sincero, ninguém costuma me lançar olhares tão


audaciosos. É muito instigante a valentia da garota.

Assim que eu a vi pela fresta da porta entreaberta, observando o que


acontecia dentro do escritório com curiosidade, aflição e raiva, eu soube
que ela seria a minha escolhida.
Não posso negar que Giuseppe tem filhas lindas, porém, nenhuma

delas atraiu minha atenção como Martina fez. Talvez, pelo fato de ela não
estar disponível, fez com que eu a quisesse mais ainda.

E eu tenho tudo que eu quero.

— Martina salvaria a Violetta de qualquer forma.

— Como tem tanta certeza? — Giovanni quer saber.

Olho para ele e franzo as sobrancelhas.

— Ela é a irmã mais velha — digo, como se fosse óbvio. — Eu faria


o mesmo por você ou por Romeo. No meu caso é um pouco diferente,

porque eu mataria qualquer um pra proteger vocês. Martina, teve que se


entregar a mim pra proteger a irmã.

Giovanni concorda com um aceno.

— Proteger a irmã que nunca esteve em perigo de verdade —


resmunga e depois ri de maneira debochada. — Você assustou uma garota

de quinze anos. Ela chorou.

— Tinha que parecer real — devolvo, fazendo meu irmão sacudir a

cabeça em negativa. — Além do mais, Violetta corre perigo, assim como as


outras irmãs. Elas são lindas, não vai demorar pra alguns urubus caírem em

cima das garotas.


— A fama do Don da máfia de Detroit é real. Não teve sorte em ter
filhos homens, mas todas as filhas são lindas. Preciosas demais — meu

irmão comenta e depois lança um olhar pensativo para mim. — Por que ele
a escondeu? Não faz sentido.

— Martina é a filha do primeiro casamento de Giuseppe —

Giancarlo fala, me encarando pelo retrovisor do carro e não está com cara
de quem vai contar mais coisas.

— Ah — meu irmão murmura, suspirando. — É a filha favorita


então. Ele a estava protegendo.

— Não importa, porque Martina agora é minha — é o que digo,

dando o assunto por encerrado.

Ela se tornou minha no momento em que meus olhos a encontraram.


O papà dá um soco na mesa pela quinta vez, fazendo o meu corpo

estremecer com o estrondo.

— Como eu vou te livrar disso agora, Martina?! — pergunta,


gritando. Começa a andar de um lado para o outro, enfurecido. — Eu

mandei que ficasse no seu quarto. Por que me desobedeceu?

— Que bom que eu o fiz — falo ficando de pé e o encarando com


raiva também. Definitivamente, eu perdi a cabeça. — Não acredito que

entregaria Violetta a ele, papà. Ela é só uma criança.

Papai paralisa os passos e direciona a atenção para mim. Espero que


me bata, mas ele não o faz. Nunca o fez, na verdade. Nunca encostou em

mim ou nas minhas irmãs, não acho que começará a ser um completo

cretino agora.
— Um dia ela teria que casar, padrino[6] — Lorenzo diz ao se
aproximar do meu pai e apoiar as mãos nos seus ombros com respeito. —

Danilo será o chefe do Império Salvatore e Martina, a rainha dele.

Lorenzo tem trinta anos e é o homem mais jovem a ocupar a posição

de subchefe na organização. O papà o acolheu e o criou quando ele ainda


era um adolescente órfão, dando ao garoto todo o cuidado que um pai daria

ao seu filho.

Nós sempre convivemos com ele e basicamente, Lorenzo nos viu


crescer. Não é como se fôssemos criados como irmãos, mas ele é

importante para o papai. É importante para nós.

— Não fale — meu pai rosna, afastando-se de Lorenzo, que me


lança um olhar cheio de compaixão. — Ele matou a primeira noiva. O que

te faz pensar que não fará o mesmo com a minha filha?

— Ele não fará, porque se tentar me matar, eu o matarei primeiro —

falo, chamando a atenção de todos para mim.

Corrado, que não tinha dito uma única palavra desde que fui

convocada a entrar no escritório, endireita os ombros e me lança um olhar

inquisidor.

— Ótimo. Entraremos em guerra — é o que o conselheiro fala, me

fazendo suspirar.
— Tudo bem, eu deixarei que ele me mate então — resmungo e

volto a me sentar. Não tenho a menor pretensão de deixar isso acontecer,

mas não sei o que os homens dessa família querem que eu diga.

— Daí eu começarei uma guerra — meu pai fala e eu fecho os olhos

com força. Papai se ajoelha na minha frente, pousando uma das mãos nos

meus joelhos e a outra nos meus cabelos. Ele não costuma demostrar tanto

afeto assim, mas está desesperado porque me perdeu. — Não devia ser

você.

Às vezes, o amor do papà é algo que me magoa e sei que fere

minhas irmãs também. Nunca quis que as coisas fossem assim entre nós,

como se eu valesse mais do que as meninas. Não é justo e apesar de ter

tentado, não consigo mudá-lo.

— Jurei no leito de morte da sua mãe que a protegeria com a minha

vida. Jurei que teria uma vida diferente. Não devia ser você, Martina.

E as minhas irmãs? Elas não têm direito de ter uma vida diferente?

Eu deveria ter deixado Violetta se casar com Danilo e condená-la dessa

forma?

— Por que não eu? — sussurro e pego uma das suas mãos entre as

minhas, buscando os olhos claros. — Papà, pare com isso, por favor. Há

promessas que não podem ser levadas até o fim. As meninas também
merecem esse tipo de proteção, não só eu — emendo, fazendo-o contrair a

mandíbula e se afastar de mim.

— Falarei com Alberto.

— Isso não fará Danilo desistir de Martina. Ele é um predador,

como todos os homens do nosso mundo — Lorenzo informa.

— Ele terá que desistir. Não entregarei minha filha a ele — o Don

fala, como se a sua palavra fosse lei. Geralmente, é. Só que não nesse caso.

Não permitir que eu me case com Danilo tornará tudo mil vezes pior.

Chicago vai massacrar Detroit.

Será um banho de sangue com vidas inocentes.

E eu não posso permitir que a vida das minhas irmãs e mãe corra

perigo. Eu as protegerei, mesmo que isso signifique me entregar a Danilo.

O conselheiro e subchefe começam a tentar convencer o meu pai,


que o melhor será me deixar casar com Danilo. Ele parece irredutível e ao

ouvi-lo dizer que oferecerá Angelina no meu lugar, meu coração martela de

uma maneira ruim dentro do peito.

— Não sou a minha mãe — murmuro, atraindo a atenção dele para

mim. — Eu sei que fez uma promessa a ela, mas isso não depende só de

você.
Com um gesto de mão, o papà faz os homens saírem do escritório e

nos deixarem a sós.

— Martina...

— Pai, por favor — falo baixo, segurando as lágrimas que ardem

nos olhos. — Sei que somos parecidas, mas eu não sou ela. Sinto muito que

ela tenha partido e deixado você, só que não pode ficar preso no passado.

Faz anos, papà. Anos. E agora, você tem uma linda esposa, que está viva e

te ama. E quatro filhas além de mim. Se está disposto proteger só a mim, eu

prefiro que não o faça.

Não espero que diga algo, apenas dou as costas e saio do escritório,
fechando a porta com mais força que o necessário. Tomo um leve

sobressalto ao encontrar a mamma nas escadas.

Ela está chorando.

— Mamma — sussurro.

Sem dizer nada, abre os braços e me envolve nela, me apertando

com força e me fazendo cair em lágrimas.

— Me desculpa, mãe.

— Você não tem culpa de nada, querida — diz e beija o topo da

minha cabeça. — Obrigada por salvar Violetta. Eu fui tão fraca, fiquei
quieta, observando tudo. Sou uma péssima mãe. Nunca fui corajosa, sou

uma vergonha.

Nego com a cabeça ao me afastar um pouco para encontrar os seus

olhos brilhantes.

— Não, não é. Você é maravilhosa, é perfeita. O papai nunca a teria

escutado — digo e me sinto péssima por proferir as palavras.

— Sinto muito que tenha que se casar com ele, Martina.

— Eu faria qualquer coisa por elas. Por você — admito e ela me dá

um sorriso em meio as lágrimas que banham o seu rosto bonito e delicado.

A mamma volta a me abraçar apertado e ficamos assim por um

tempo.

Eu sempre amarei mamãe, ela é a única figura materna que eu

conheço, mas às vezes, não entendo como ela pode me amar de volta. Além

de ser praticamente o fantasma do primeiro amor do seu marido, sou a filha

preferida.

Como ela pode não me odiar? Eu me odiaria.

É tão cruel. Não é justo. Papai sacrificaria Violetta para me proteger

e manter intacta a promessa que fez há tantos anos.

De repente, sinto braços nos contornarem e eu reconheço Violetta

pelo cheiro de morango. Ela enterra o rosto na minha barriga e se


desmancha em lágrimas, o que aperta meu coração.

Saio dos braços da nossa mãe e seguro o rosto de Violetta. Com os


polegares, limpo as lágrimas dela e forço um sorriso.

— Não se sinta culpada. Foi minha decisão. Eu faria qualquer coisa

por você, entendeu?

De lábios prensados, ela assente e volta a me abraçar. Pisco rápido,

na tentativa inútil de controlar as lágrimas.

Eu estou condenada, mas minhas irmãs estão salvas. No fim, é

apenas isso que importa de verdade.


— Se ela tem idade o suficiente, por que não a trouxe logo para

Chicago? — o meu pai pergunta antes de levar o charuto aceso até a boca.

Nós estamos reunidos no escritório subterrâneo, que fica em um dos


nossos restaurantes italianos. Sentados à mesa de mogno, há o Don, o

conselheiro, os caporegimes, incluindo Giovanni, o meu irmão, e eu.

Eu aprendi muita coisa com o Don. Honestamente, eu sou o que sou


hoje por causa dele. Porém, eu não sou cego. Meu pai é a pior espécie que

existe. E não digo isso apenas por ele ser o chefe do crime organizado em

Chicago, mas por todo o resto.

Ele nunca foi fiel à mamma e quando Giovanni, Romeo e eu éramos

crianças, testemunhamos vários episódios em que ele batia nela só por ter

escutado algo que não o agradou.


Para o papà, as mulheres só devem falar quando forem questionadas

diretamente. Fora isso, só servem para dar filhos e ordenar as coisas dentro

de casa.

Claro que ele não bate mais na mamma, porque agora, os seus filhos

são homens e bem, apesar de respeitá-lo, não sentimos nada além disso em

relação ao nosso pai.

Ele é o nosso chefe e fim, temos o mesmo sangue, mas ele é um

velho fodido, essa é a verdade.

A mamma nunca o amou, ela apenas, o teme.

Quando era criança, eu também sentia medo dele, porque sempre foi

perverso e nos criou a punho de ferro. Não vou ser hipócrita, ele ser cruel

comigo e os meus irmãos, foi o que me fez aprender a não ter mais medo
dele.

Ainda lembro do dia em que decidi que nunca mais temeria o papà.

Eu tinha dezessete anos e Romeo onze. Meu irmão estava contente, porque

tinha resgatado um filhote de cachorro na rua. Qual criança não ficaria

animado em ter um bicho de estimação? Para o papà, Romeo sorrindo para

um cachorro, era sinal de que ele estava se tornando fraco.

Então, fez com que Romeo o matasse. Meu irmão ainda levou uma

surra por ter feito isso chorando.


Depois daquele dia, Romeo nunca mais foi o mesmo.

Nunca mais o vi chorar. Também, não o vejo mais sorrir.

— Estou preparando a minha cobertura para recebê-la — é o que


digo.

Eu sou solteiro, embora não leve mulher para comer em casa, o

lugar não é exatamente um lar.

— Ainda acho esse casamento um erro. Devemos casar Danilo com

uma mulher que nasceu na nossa família. As filhas de Giuseppe não estão à

altura dele.

Ao ouvir as palavras de Vittorio, direciono a atenção até ele. O

velho não é muito diferente do meu pai. Quando Sienna, a sua filha, se

suicidou, a única coisa que pensou foi que ela poderia ser substituída pela

irmã mais nova.

Ele mal enterrou uma filha e já queria me entregar a outra. E o papà

cogitou a ideia, mas eu recusei. Vantagem de ser homem no meu mundo. As

mulheres não podem recusar casamentos, mas nós, sim.

Há cinco anos, o Don escolheu Sienna para mim e eu a quis. Mas,

ela não. Por isso, tirou a própria vida.

E o papà decidiu que as pessoas fora da organização não saberiam

que Sienna se suicidou. A única história que escutaram foi que Danilo, o
sucessor de Alberto Salvatore, é um homem implacável que tirou a vida da

própria noiva por ter sido desrespeitado.

Segundo o Don, uma forma de eu ser temido pelos nossos inimigos.

O mais ridículo é que Vittorio não se importou. Ele nunca amou as

filhas de verdade, elas são apenas um meio para chegar nos seus objetivos.

— Você é meu amigo, mas não questione minhas decisões, Vittorio.

Sou o chefe por um motivo — o Don diz, fazendo Vittorio assentir e se

desculpar. — Vamos casá-lo logo. Quero essa garota em Chicago até o final

do mês. Quanto antes colocarmos as mãos nela, melhor — continua.

Não há dúvidas. Eu precisarei tomar cuidado com o papà em relação

à Martina. Pela forma que fala, não vai hesitar em usar minha noiva contra

Giuseppe Giordano.

Troco um olhar com Giovanni e assinto, concordando com o papà.

Ele acha que somos parecidos, que eu o obedeço porque concordo

com todas as suas decisões. A verdade é que não vejo a hora que passe a

coroa para mim e deixe de buzinar no meu ouvido as suas asneiras.

Eu nunca o trairei ou algo parecido, mas às vezes, eu torço para que

encontre “o” rabo de saia e fique tão fissurado nisso, que decida se

aposentar mais cedo que o previsto, o que não vai acontecer.

Meu pai não se importa com ninguém.


Ele não ama.

O Don nunca nos deu nada parecido com carinho, apenas palavras

cruéis que ele achou que nos faria fortes escutá-las.

— Diga a Giuseppe que mandarei dois dos nossos homens tomarem

conta de Martina em Detroit — falo a Giovanni quando estamos

caminhando para o estacionamento privativo do restaurante depois do fim

da nossa reunião.

— Acha que o papà vai tocar na sua noiva?

— Ele não hesitará em usá-la se precisar — pronuncio as palavras

com um gosto amargo na boca.

Com o maxilar cerrado, ele balança de leve com a cabeça e

concorda.

— Ele é o pior — Giovanni comenta.

— Pra ele, isso é elogio — retruco e enfio a mão no bolso da calça

social para pegar a chave do meu carro. — Onde está Romeo?

Romeo é o único de nós três que não almeja um cargo no topo da


hierarquia. Ele apenas se acostumou em sujar as mãos de sangue, enquanto

faz o trabalho sujo e parece estar bom para o caçula, como se não tivesse

objetivos além disso. Mesmo assim, o fizemos um caporegime.

Giovanni dá de ombros.
— Matando alguém, provavelmente. — Ele para em frente à Harley

Davidson e pega o capacete para colocar em cima da cabeça. — Fico me

perguntando quando Romeo vai enlouquecer de vez e dar um fim no velho

— Giovanni pronuncia as palavras com um tom divertido e meio sarcástico.

Eu já me fiz a mesma pergunta.

Nosso pai destruiu Romeo. Claro que fez o mesmo comigo e


Giovanni, mas cada um de nós ruminou o sentimento de um jeito diferente.

Acredito que para o caçula tenha sido pior, porque na sua vez, o papà já não

aceitava erros e qualquer coisa era motivo para uma surra disciplinar.

E nós não podíamos o defender ou interferir, já que isso fazia a surra

durar mais tempo.

Você é um homem, não precisa que ninguém o defenda, o papà dizia


essas palavras como se fosse um mantra.

Dor e sofrimento... são os únicos sentimentos que Romeo conhece

de verdade.
Assim que paro o carro na garagem subterrânea, o celular vibra

dentro do bolso. O número de Luigi, o único soldado que é próximo o


suficiente de mim para considerá-lo um grande amigo, saltita na tela

colorida.

— O que foi? — pergunto ao mesmo tempo em que desço do veículo


e caminho na direção do elevador privativo.

— Sarah está no lobby.

— Estou indo.

Recuo alguns passos e entro no elevador comum e aperto o botão do

saguão. Em questão de minutos, as portas de metal se abrem. Luigi me

alcança quando chego perto do balcão da recepção e faz um gesto com a


cabeça para o lado esquerdo.
No espaço com poltronas confortáveis e mesinha de centro, vejo

Sarah. Está sentada, as pernas desnuas e um salto alto que é exagerado

demais para uma garota nova como ela. Tem maquiagem forte no rosto

pequeno e os cabelos estão soltos.

Bato de leve no peito de Luigi e assinto antes de caminhar na direção

da garota.

Falta alguns meses para Sarah completar dezenove anos. Ela é filha

de Vittorio e a irmã mais nova de Sienna, minha ex e falecida noiva. Não

sou cego, desde pequena, a garota nutriu uma paixão platônica por mim,

mas nunca passou disso.

Paixão platônica.

Há cinco anos, o papà escolheu Sienna para ser minha esposa e eu sei
que Sarah ficou arrasada. Tudo piorou quando no mesmo ano, a irmã mais

velha tirou a própria vida por causa do nosso casamento.

Porém, as coisas mudaram e Sarah não me vê mais com os mesmos

olhos ingênuos de antes. Agora, eu sinto que ela me odeia por ter perdido a

irmã.

— O que está fazendo aqui? — pergunto ao sentar na poltrona de

frente para ela. O rosto está bem maquiado, mas ainda assim, dá para ver

parte de um hematoma no canto inferior do lado direito da boca.


Sei que foi Vittorio. Não é a primeira vez que ele bate em Sarah. Para

ser sincero, eu acho que o faz desde que a garota começou a andar. Com a

esposa não é diferente, sempre com muita maquiagem para esconder os

hematomas.

É claro que há regras dentro da organização e proteger as nossas

mulheres e as crianças é um dos nossos mandamentos. Porém, como

levarão a sério se o próprio Don é um cretino e foi o primeiro a levantar a

mão para a esposa?

— Papai pediu que eu viesse.

Fecho os olhos com força e respiro fundo.

— O que ele pretende?

Sarah ergue os cílios longos e pretos para olhar para mim.

— Que eu te seduza... para você desistir de casar com a garota de

Detroit — fala e desvia a atenção, começa a mexer nas mãos de maneira

ansiosa.

Meu maxilar enrijece.

— Seu pai não tem limites.

— Ele me trouxe aqui e praticamente me jogou em frente ao prédio.

Papai quer que eu saia daqui só depois de conseguir que você me foda

como um animal.
Ouvir o que ela diz, me deixa irritado pra caralho. Ela é apenas uma

garota, que nasceu num mundo cruel e teve a infelicidade de ter um pai

como Vittorio.

— Fique aqui — ordeno e fico de pé. Caminho até Luigi que vem ao

meu encontro com a postura ereta e os olhos afiados me esquadrinhando. —

Leve Sarah pra casa em segurança. Se Vittorio reclamar, mande-o falar

comigo.

Luigi dá um aceno firme de cabeça e passa por mim, indo na direção

da filha de Vittorio. Observo o soldado se aproximar de Sarah e com

delicadeza, levantá-la e levar a garota para fora do prédio.

Estou secando o cabelo com a toalha no momento em que o meu

celular começa a tocar em cima da cômoda ao lado da cama.


É Phil, um dos detetives de polícia de Chicago que está na nossa folha

de pagamento há anos.

— O que foi?

— É a Sarah Canalis...

Depois de ouvir o que o homem tem a dizer, bufo e encerro a ligação.

Calço os sapatos e pego o sobretudo ao mesmo tempo em que digito uma

mensagem para Luigi me encontrar no distrito policial. Faz quatro horas

desde que ele levou Sarah para casa.

Levo cerca de vinte minutos para chegar ao local e ao descer do carro

estacionado, vejo Luigi saindo do seu veículo e vindo até mim.

— O que ela fez?

— Phil não entrou em detalhes — digo ao passar pelas portas

giratórias. Na recepção, chamo a atenção da mulher atrás do balcão, mas

não tenho tempo de falar nada, porque Phil aparece e nos conduz até a sua

sala.

— Por que a trouxe pra cá? — resmungo.

— Estou fazendo o meu trabalho — devolve, atrevido.

Nós entramos na sala e a primeira coisa que meus olhos captam é

Sarah. Ela está sentada de frente para à mesa de Phil e de costas para mim.
A garota me olha por cima do ombro, fazendo-me notar o batom vermelho

da boca borrado e os cílios úmidos.

— Danilo... — ela murmura ao ficar de pé e vir até mim, envolvendo

as mãos no meu tronco e me apertando com força. — Por favor, me tira

daqui.

— O que aconteceu?

— Ela estava num barzinho em North Lawndale e quebrou um copo

de vidro na cabeça de um civil...

— Cadê o civil? — interrompo-o ao olhar de forma sarcástica para os

lados. — Sinceramente, Phil, você é pago pra manter os nossos longe daqui.

O rosto do velho se transforma numa carranca dura.

— Eu sei, Danilo, mas existe coisa que não posso varrer para debaixo

do tapete — resmunga com o maxilar contraído. — O civil não quis dar

queixa e eu não a liberei porque ela parece meio alterada.

Seguro Sarah pelos braços e afasto-a de mim, esquadrinhando o seu

rosto.

— O que aconteceu? — pergunto a ela, esperando ouvir o seu lado da

história.

— Ele me tocou e tentou me beijar a força, eu pedi que parasse, mas o

imbecil disse que iria me foder do mesmo jeito. Estava me defendendo —


sussurra com os olhos marejados.

Encaminho a atenção para Phil, que fala:

— Ela não me disse nada disso.

— Você não perguntou, não quis me ouvir — Sarah retruca, furiosa.

— Só ficou dizendo que eu não podia sair por aí quebrando coisas na

cabeça das pessoas.

Respiro fundo.

— Quem é? Essa merda de civil.

— Não. — Phil balança a cabeça em negativa. — Não, não, não. Não

vou deixar você matar um civil — emenda com a voz baixa.

Abro um sorriso sarcástico.

— Phil, você ama sua filha, não é? Gosta de vê-la feliz? Não esqueça

que todo o sucesso dela é graças a minha família. Se você quer que a sua
garotinha continue sendo uma superestrela, é melhor me passar o nome e o

endereço desse cara.

Resmungando, ele vai para detrás do computador e pega uma caneta

para anotar algo num pedaço de papel. A contragosto, aproxima-se de mim


e entrega o nome do filho da puta e o endereço dele.
— Mantenha a princesinha aí longe dos bairros perigosos — o velho
tem a audácia de lançar uma ordem para mim.

— Não me dê ordens — devolvo, sério.

Entrelaço a mão na de Sarah e saio da sala de Phil com Luigi no meu


encalço.

— O que quer fazer? — meu amigo pergunta quando estamos fora da


delegacia.

Solto a mão de Sarah e como em modo automático, ela cruza os

braços na altura dos seios. Leio o endereço no pedaço de papel e entrego a


Luigi.

— Vou dar uma lição nesse pedaço de merda — informo, fazendo-o


assentir. — Só preciso levar Sarah pra casa antes.

— Não, eu quero ir com vocês.

Respiro fundo.

— Por que saiu de novo? Por que não ficou em casa?

Ela prensa os lábios e treme o queixo.

— Ele ficou furioso — fala num tom baixo e melancólico. — O papai


me culpou por não ter conseguido seduzir você. Não consegui ficar em

casa, ouvindo o quanto sou imprestável. — Sarah limpa as lágrimas com as


costas das mãos. — Não pode casar comigo e me livrar de uma vez desse
pesadelo? Não estou pedindo amor, só que me tire desse inferno de merda.

Sinto os músculos do meu rosto enrijecerem.

Sem dizer nada, abro a porta do carro e faço um gesto com a cabeça
para que Sarah entre.

— Vamos atrás desse idiota.

— Vai levá-la? — Luigi quer saber.

— Vou — digo e ele não questiona.

Mark Washington é o cretino que tocou em Sarah. Mora numa casa

pequena caindo aos pedaços em North Lawndale.

— Tudo limpo — Luigi fala para mim depois de verificar os

arredores.
Olho para Sarah e ordeno:

— Fique aqui dentro.

Ela assente em silêncio.

Desço do veículo e com Luigi na minha cola, caminhamos até a casa.

Com um trancão, abro a porta e vejo que o lugar não tem segurança
nenhuma. O cheiro de mofo invade o meu nariz assim que damos o
primeiro passo para dentro.

— Que merda é essa? — Mark pergunta quando invadimos a sala. O


porco está sentado numa poltrona, bebendo cerveja e coçando o saco.

Luigi, que já está com a 9mm em riste, aponta para a cabeça de Mark
e faz um gesto incisivo com a arma para que ele fique em pé. Com as mãos

em rendição, o cretino faz o que foi mandado.

Aproximo-me dele e esquadrinho o seu rosto. Não deve ter mais de


quarenta anos e a aparência é lamentável, com certeza não come mulher,

por isso tentou pegar Sarah a força.

— Com qual mão você tocou nela? — pergunto, sério, sem me

importar de dar mais detalhes.

Ele franze o rosto em confusão.

— Que merda você tá falando, cara? Acho que pegou a pessoa errada.
Sorrio de maneira cínica.

— Não peguei — devolvo, cético. — Com qual mão você tocou nela?
— insisto.

— Com as duas mãos — Sarah responde de repente, me fazendo

olhar para trás e vê-la na entrada da sala, observando toda a cena com
atenção.

Porra.

— Eu mandei você ficar dentro do carro — grunho e ela me ignora,


apenas olha Mark, com as narinas expandidas e os olhos irradiando fogo.

— O que essa puta tá fazendo na minha casa?

Ao ouvir a voz de Mark, viro num solavanco e acerto o seu rosto com

um soco, fazendo o homem cambalear para trás. Com um chute, eu o


derrubo no chão e Luigi vem para perto de nós, com a arma em punho e o

cretino na mira.

— Qual mão? — pergunto a Luigi ao olhá-lo por um segundo antes


de focar as vistas em Mark. — As duas?

— Não, não. Por favor. Não — ele berra, me deixando irritado.

Sem aviso prévio, eu piso na mão esquerda, fazendo o homem abrir a


boca e gritar, o que é silenciado no instante em que Luigi enfia o cano da

9mm na sua boca. Eu me inclino um pouco e puxo o braço esquerdo dele,


fazendo o pedaço de merda sentar no chão, e então, num único movimento,
eu quebro a mão do imbecil. O som de ossos se partindo preenche a casa e

mesmo com a arma na boca, ele choraminga alto.

— Tem sorte, só vou quebrar uma mão e nem vou te matar —


informo e os olhos esbugalhados cheios de lágrimas me encontram. Faço

um gesto com a mão para que Luigi se afaste e ele obedece. — Por que não
está agradecendo? — questiono.

Mark começa a balbuciar um monte de palavras que mais parecem


xingamentos.

Puxo-o pela camisa e abro um sorriso sarcástico um instante antes de

acertar o seu queixo com vários socos até ver o maxilar quebrado e os nós
dos meus dedos feridos por causa do atrito.

Pego o desgraçado pela gola da camisa de novo e aproximo os nossos


rostos para falar enquanto focalizo os olhos oscilantes.

— Nunca mais vai tocar numa mulher contra a vontade dela,

entendeu? — pergunto e ele assente de imediato, gemendo de dor. — E não


vai falar pra ninguém quem te deu uma surra, sabe por quê? Porque até esse

lado feio da cidade pertence a mim e se eu souber que andou abrindo o


bico, eu venho aqui e corto a sua língua.
Eu tenho uma ótima habilidade.

Fugir de Paolo.

Talvez por eu ter estudado em uma escola só para meninas a vida

toda, sempre ter sido obediente, respeitado as regras e nunca ter entrado em
confusão, ninguém acredita de verdade que eu vá fazer algo rebelde.

Entretanto, a escola só para garotas foi bastante motivadora. Papai

sempre acreditou que minhas irmãs e eu estávamos seguras rodeada de

meninas, o que ele não sabe, é que um dos assuntos mais interessantes

quando se está na puberdade, são os garotos.

E bom, eu sempre fui curiosa e infelizmente, corajosa. Às vezes,

mentirosa também.
Não é comum nós dormimos fora de casa, mas quando eu fiz

dezessete anos, aproveitei muito do favoritismo do nosso pai. Mentia sobre

ter trabalhos em grupos e que precisava passar a noite na casa da Nancy,

uma amiga. Claro que ele não gostava da ideia de me deixar solta por aí,

mas Paolo sempre me acompanhou. O homem ficava tranquilamente


esperando dentro do seu carro do lado de fora da casa.

O que ele nunca soube, é que os meninos entravam pela porta dos

fundos e se escondiam no porão. E todas as vezes que dormir na casa de


Nancy, os seus pais não estavam presentes.

Fui deixando de fazer esse tipo de coisa, porque me sentia culpada

por inventar uma mentira e sair de casa para beijar garotos, enquanto
minhas irmãs ficavam presas na nossa gaiola de ouro.

Mesmo depois de ter tido um ano louco para garotas como nós, e

um ano supernormal para as garotas comuns, eu conheci Jason em uma ida

na farmácia.

O papai saiu em uma viagem de negócios e a mamãe tinha levado

Angelina, Barbara e Caterine ao dentista com Paolo. Violetta e eu

estávamos sozinhas e lembro bem daquele dia, menstruou pela primeira vez

e ficou desesperada.
Eu cogitei oferecer um dos meus absorventes a ela, mas Violetta não

saía de casa para praticamente nada. Então, chamei o homem na porta que

cuidava da nossa segurança e pedi carona até a farmácia.

Ele ficou irredutível em nos levar, mas quando dei instruções sobre

qual absorvente comprar para uma menina pequena e delicada como

Violetta, o homem nos deu carona. Não fez questão de entrar na farmácia, o

que foi bom. Minha irmã estava morrendo de vergonha e ainda não entendia

como o corpo funcionava.

Jason era o atendente naquele dia. Lindo, simpático e o cabelo meio

loiro escuro. Nos tornamos amigos, porque ele tem uma sobrinha da idade

de Violetta.

Depois daquele dia, passei a ir na farmácia mais vezes do que

realmente precisava. Paolo ou qualquer outro soldado que me

acompanhasse, não entrava na loja e foi a oportunidade perfeita para pegar

o número de telefone de Jason.

Foi arriscado, o papai o mataria se soubesse de alguma coisa. Jason

e eu passamos quase um ano e meio conversando apenas por mensagens. E

eu o sentia cada vez mais próximo do meu coração.

Na verdade, da minha calcinha também.


Não é amor ou algo do gênero, mas me senti segura em perder a

virgindade com ele há nove meses. Nossas relações sexuais não se

repetiram tanto quanto eu gostaria, mas a cada momento íntimo foi


melhorando.

Ele ainda não tinha me feito gozar, o que é um problema para nós.

Jason não sabe onde está errando e eu não sou exatamente a pessoa mais

experiente em relação ao sexo.

No entanto, tudo vai acabar agora.

Paolo me trouxe até o Shopping Center no centro da cidade e

quando informei que estou aqui para comprar lingeries para usar na minha

noite de núpcias, ele engasgou e resolveu esperar nas poltronas de

massagem ao lado da loja.

Isso já faz quinze minutos.

Com cuidado, coloco a cabeça para fora e o vejo de olhos fechados,

enquanto a poltrona treme. Papai acabará com ele se descobrir que Paolo

está todo relaxado em vez de estar trabalhando e cuidando de mim.

Mas Paolo é velho, merece descanso também.

Esgueiro-me para a outra saída da loja e corro para o

estacionamento no último andar a céu aberto do Shopping. Se eu fosse uma


pessoa normal, poderia encontrar Jason na praça de alimentação. Mas a

realidade que vivo é bem diferente das meninas da minha idade.

— Martina, o que aconteceu? — ele pergunta assim que me vê.


Jason está em pé, encostado no seu carro.

Nunca disse o que minha família é, só que ele sabe, como todo

mundo na cidade. Meu pai é o chefe do crime organizado em Detroit e

apesar desse detalhe, é intocável, porque tem políticos corruptos e policiais

na folha de pagamento.

Eu sei mais do que deveria, isso é um fato. Mas sempre fui curiosa e

quando o papà está bravo, ele não fala exatamente baixo. Às vezes, quando
passava em frente ao seu escritório durante o dia, conseguia pescar algumas

coisas.

— Não podemos mais nos ver, Jason. Eu vou casar e me mudar para

Chicago — digo tudo de uma vez. Jason é uma pessoa boa, mas não tem

como partir seu coração aos poucos, então eu o faço de uma vez.

Jason pisca devagar e une as sobrancelhas em confusão.

— O que disse?

— Sinto muito — falo num tom baixo, meio triste por não poder dar

mais detalhes ou explicar a situação complicada que eu me meti. Não posso

fazer isso sem comprometer ou arriscar a vida dele.


Dou as costas para ir embora.

Jason me impede ao segurar meu pulso e girar o meu corpo para ele.

Coloca as mãos na minha cintura, mas eu desvencilho-me. Não posso

arriscar que nos vejam juntos dessa forma. Pelo que Paolo comentou,

Danilo é um cara possessivo e em breve, vai ter dois de seus homens

cuidando da sua noiva preciosa não virgem.

Outro problema que eu terei que enfrentar e não faço a mínima ideia

de como fazê-lo. Não sou virgem, mas ninguém além de mim e Jason sabe

disso.

O papà o matará se descobrir.

Danilo o matará se souber a verdade.

Para ser sincera, a família Salvatore nunca me aceitará se souberem

do meu segredo. Ninguém que uma garota impura ou que já foi tocada por

outro homem. Depois, vão considerar uma traição da nossa parte e

acontecerá uma guerra.

Talvez, eu seja expulsa de Chicago. E ninguém em Detroit vai me

querer por perto.

— Vou me casar.

Jason sacode a cabeça, visivelmente atordoado com as palavras que

acabaram de sair dos meus lábios.


— Que merda é essa, Martina? — retruca ao se aproximar de mim e

só não me agarra, porque espalmo a mão no ar para que não fique perto

demais. — Seu pai está obrigando você a casar?

— Não — sou sincera.

Pelo papà, eu nem casaria e viveria pelo resto da minha vida

debaixo da suas asas. Porém, ainda assim, estou sendo obrigada a casar com

Danilo, porque se eu não o fizer, sobrará para alguma das minhas irmãs.

Ou pior, o Diabo disfarçado de anjo de luz pode querer colocar as

mãos sujas em Violetta e é algo que eu nunca permitirei.

— Mentira.

— É complicado — tento explicar em poucas palavras. — Preciso ir

agora. Não posso demorar.

— É complicado? Só isso que tem a me dizer?

— Sim — digo de maneira firme. — Meu mundo é muito

complexo, você não entenderia.

Os olhos escuros dele brilham.

— Complexo como? Eu sei que seu pai é a porra de um criminoso e


toda a fortuna de vocês é paga com dinheiro sujo — crispa, e apesar de
Jason ter razão, eu fico meio que magoada. Não estava esperando esse

julgamento dele, porque sempre foi um cara compreensivo.


Respiro fundo e mantenho o queixo elevado.

— Acabou?

— Eu posso fugir com você. Eu te levo pra qualquer lugar — fala ao

agarrar minhas mãos com carinho. — Eu te salvo de qualquer coisa,


Martina.

Ele me salva de qualquer coisa?

E quem salvará Violetta se eu fugir?

— Sinto muito, Jason. Não tem como me salvar.

— Por que não? — retruca, o aperto na minha mão fica mais firme,

desesperado. — Me diz o motivo.

— Eu não preciso ser salva.

Aos poucos, recolho minha mão e encontro o olhar de Jason, tem


tanta mágoa e decepção, que faz o sangue do meu rosto ferver. Sem dar

mais explicações, eu giro nos calcanhares e deixo Jason para trás.

Foi bom enquanto durou. Eu me diverti com ele e às vezes, nos seus
braços, eu me senti uma garota comum. Só que no fundo, sempre soube que

nunca poderia viver o que tínhamos para sempre.

O meu mundo nunca aceitará Jason. E ele nunca aceitará de verdade

o meu.
Assim que as portas se abrem no andar da loja em que deixei Paolo
na poltrona, vejo o homem me procurando em meio as pessoas que andam

pelos corredores. Nossos olhares se encontram e ele vem até mim, bufando.

— Onde você esteve?

— Fui ao banheiro — explico e dou de ombros. — Problemas

femininos — emendo ao arquear uma sobrancelha na direção de Paolo.

— Sabe que seu pai me mataria se algo acontecesse com você, não

é? Não brinca com a minha vida, Martina. Eu sou apenas um soldado e


tenho dois filhos que ainda não terminaram o ensino médio.

Fecho os olhos e assinto ao soltar um longo suspiro.

— Tá bem, vamos voltar pra loja — falo e ele retesa o corpo, a


expressão de insatisfação se apoderando do rosto velho e cheio de rugas. —

Você pode entrar e esperar ou ficar na poltrona de novo.

Paolo prensa os lábios.

— Vou entrar e vigiá-la. Não te perderei de vista de novo.

Reviro os olhos e deixo os ombros caírem. Não achei que ele fosse
resistir à poltrona de massagem, porém, o velho vai marcar cerrado comigo

agora.
Algum tempo depois...

Hoje é minha festa de noivado com Danilo Salvatore.

Não é como se todos os homens de Chicago fossem aparecer aqui na

nossa casa para vê-lo colocar um anel de diamante no meu dedo. Mesmo
assim, tive que colocar um vestido elegante e sofisticado.

Odeio que casamentos no meu mundo sejam tratados como

negócios. Minha união com ele não passa disso, um contrato, que envolve

poder e dinheiro. Não tem romance. Não tem amor. Apenas, dever.

Meu estômago está revirando e um arrepio frio se instalou na minha

espinha desde que levantei hoje de manhã. A ideia de revê-lo me deixa

nervosa demais, apesar de sentir a sua presença mesmo quando não está
aqui.
Os homens que se tornaram os meus novos guarda-costas não me

deixam esquecer que eu tenho um dono.

A mamma ajeita o meu coque e focaliza meus olhos através do


espelho da penteadeira camarim. Abre um sorriso fraco para mim, que eu

retribuo com o melhor que tenho. A última semana foi difícil, ela sente

gratidão e culpa por causa do meu casamento com Danilo.

— Você está linda — Caterine fala, e ao me virar, vejo-a na soleira

da porta do meu quarto. Ela colocou um vestido comportado e fez uma

maquiagem discreta. Nosso pai deu ordens para que minhas irmãs não

chamassem atenção, porque não está disposto a entregar outra filha para a

família Salvatore.

Não acho que ele hesitaria em colocar uma delas no meu lugar, mas

fico feliz que não esteja inclinado a arrumar outro casamento.

— Obrigada — agradeço e estico os lábios em um sorriso largo e

falso.

Não quero que minhas irmãs fiquem preocupadas comigo. Eu vou

ficar bem. A mamma e eu conversamos bastante nos últimos dias, ela me

deu muitos conselhos. Tentarei ser uma boa esposa, e assim, talvez, Danilo

seja um marido digno também.


Não consigo me imaginar sendo uma boa esposa, porque isso

significa ser obediente. E mesmo que eu tenha crescido obedecendo, parece

que meu corpo quer lutar para fazer o contrário quando o assunto é Danilo

Salvatore.

De repente, Violetta, Barbara e Angelina se espremem na porta para

me observar. Faço um gesto com a cabeça para que entrem e levanto da

cadeira da penteadeira.

— Compramos algo pra você — Barbara diz, olhando para os lados

e fechando a porta logo em seguida.

— Roubamos do papà, na verdade — Violetta fala, deixando a nossa

mãe alarmada e as outras meninas chateadas por ter revelado o segredo.

Rio baixo.

— O que vocês aprontaram?

Angelina levanta parte do vestido longo e revela um coldre discreto

na coxa, comportando uma faca pequena, mas com acabamento em madeira

e linhas finas entalhadas no cabo.

— Dio mio![7] – a mamma exclama, levando as duas mãos até a boca

para esconder o grande “O” que os lábios formam.

Com cuidado, ela puxa parte da bainha, o barulho do velcro ecoa

pelo quarto, em seguida, me entrega. Os olhos brilhantes me encaram por


um longo segundo e ela tenta dar de ombros, como se não fosse grande

coisa me entregar a faca.

Sem conseguir me conter, puxo Angelina para um abraço, que

começa a resmungar uns palavrões, mas envolve os braços finos em torno

de mim.

Sei que não somos as melhores irmãs do mundo, mas eu a amo.

— Não deixe aquele monstro tocar em você, tá certo? — ela

sussurra entre os meus cabelos.

Violetta, Caterine e Barbara se juntam no abraço, o que faz meus

olhos arderem. Pisco rápido, na tentativa falha de segurar o choro.

— Não se preocupem comigo, certo? — digo com um nó grosso e

amargo na garganta. — Eu vou ficar bem.

Não tenho certeza dessas palavras, no entanto, fico feliz quando elas

assentem em sincronia ao concordar comigo. A verdade é que não sei o que

será de mim no momento em que me casar com Danilo. Vou morar em um

lugar totalmente diferente, longe de tudo que eu amo.

Talvez, ele me trate como a maioria dos homens no nosso mundo

tratam suas esposas, como se elas só servissem para foder, aquecer a cama

de noite e dar filhos. E para ser sincera, não sei o quanto disso aguentarei,

só que mesmo assim, prefiro que seja eu em vez de Violetta.


Em vez de qualquer uma delas.

— Você vai ficar bem mesmo, não é? — Violetta pergunta, os olhos

claros me estudando com atenção.

Forço um sorriso e concordo com um aceno de cabeça.

— Eu vou.

A mamãe funga e ao olharmos para trás, vemos que ela está

chorando.

Eu sei que se sente impossibilitada e gostaria de fazer algo por nós.

Tirando o favoritismo, o papà sempre foi bom para as filhas e a esposa, à

sua maneira, claro. Mesmo assim, existe uma coisa que nunca mudará.

Ele nunca escutou e nem escutará a mamãe, enquanto ela confiará

cegamente no seu julgamento.

Injusto e cruel, eu sei.

Infelizmente, a mamãe não tem como nos salvar, porque já

nascemos condenadas.

Alguém dá uma batida forte na porta e antes que eu possa esconder

a faca, o papà entra no quarto. As meninas ficam tensas e os olhos claros

dele brilham ao ver o objeto pontiagudo e afiado.


— Acharam que eu nunca perceberia isso? — questiona, olhando

cada uma de nós. — Não ofendam a minha inteligência.

— Eu peguei — minto.

O papà me ignora e faz um gesto com a cabeça para que as meninas

saiam do quarto. Ele troca um olhar com a mamma, que sai também, mas

não sem antes de tocar minha mão e me presentear com um sorriso doce.

Dou as costas para o meu pai e guardo a faca na primeira gaveta da

cômoda.

— Não veja mais aquele rapaz, Martina. Danilo o matará se souber

da existência dele — fala e como no automático, meu corpo inteiro tensiona

por causa das palavras. Sinto o coração na garganta e um suor frio se

acumular na minha testa.

Papai sabe sobre Jason?

Viro-me para encará-lo.

— O que o senhor disse?

Ele passa os dedos nos cabelos escuros, penteando, e depois, coloca

a mão na cintura e olha para baixo, evitando meus olhos. Geralmente, ele

age assim quando não sabe lidar com as filhas.

O papà é novo. Tem quarenta e sete anos e os cabelos brancos ainda

nem são tão visíveis. Tudo na sua vida aconteceu cedo, casamento, filhos,
perder a primeira esposa para o câncer.

E também, se tornar o Don.

Ele é o homem mais jovem a se tornar chefe da família Giordano.

Não que tenha feito isso por livre e espontânea vontade, mas o meu tio, o

seu antecessor, morreu de um ataque cardíaco e o papà assumiu o título

máximo da hierarquia.

— Eu sempre soube — diz e eleva o rosto para encontrar meus


olhos. Sinto a bile rastejando pela minha garganta. Meu Deus! Eu vou

vomitar. — Talvez, eu devesse ter sido mais duro com você, Martina, como
eu sou com as suas irmãs.

— Tem razão, papà, mas por favor, não o mate.

— Eu não irei, mas não posso impedir que Danilo faça algo se você
continuar o vendo — informa, num tom firme e áspero.

— Eu não o verei. Nunca mais.

— Então, o que ele veio fazer aqui, Martina? — indaga e eu


arregalo os olhos em surpresa. — Paolo acabou de enxotá-lo para fora.

Danilo está em Detroit, se ele imaginar algo assim, aquele garoto morrerá.

Respiro fundo.

— Sinto muito.
O papà assente e solta um suspiro, endireitando a postura.

— Você está linda. — Os olhos brilham de um jeito melancólico,


que me incomoda um pouco. — Parece sua mãe — as últimas palavras me

fazem entender a tristeza.

— Obrigada.

Ele corta a nossa distância e apoia as mãos nos meus ombros para
depositar um beijo terno na minha testa.

— Não está quebrando a promessa que fez a ela, pai — começo a

falar, esquadrinhando o rosto dele. — Você me protegeu a vida inteira, e


agora, vou casar com Danilo para proteger a nossa família.

— Eu sei, querida.

— Já faz anos, deixe-a descansar em paz e perceba a mamma, as


meninas...

As palavras que atravessam minha boca são cruéis e insolentes


demais para dizer a um homem como ele, no entanto, alguém precisa fazê-

lo entender. Não acho que vá mudar da noite para o dia, mas com esforço,
as coisas podem tomar um rumo diferente.

— Às vezes, eu esqueço de como você é atrevida.

Abro meio sorriso.


— Me desculpe.

Em silêncio, ele fica me encarando por um longo segundo. Parece

com alguém que está tentando descobrir a forma certa de dar uma notícia
ruim.

— Preciso contar algo, mas não sei como começar. Não devia ter

deixado pra última hora — ele diz, fazendo o meu estômago virar um nó.
— Eu tentei...

— Quando?

O papà engole em seco.

Não preciso ser uma expert para saber que o casamento acontecerá o

quanto antes. Não me surpreenderei se eu descer até a sala de jantar e


encontrar um padre para nos casar hoje mesmo.

— Em duas semanas.

Assinto.

— Tudo bem, eu sabia que algo assim aconteceria. Nosso casamento

não passa de um contrato.

— Martina, eu...

— Não tem problema, pai — murmuro e tento sorrir. — O que

aconteceria se não concordasse? Eles nos massacrariam. Sempre fomos


menores em comparação a eles. E faz um tempo que não somos apenas a

família Giordano, somos parte do Império Salvatore. Não tem problema, eu


casarei e protegerei vocês.

Meu pai suspira pesado e contrai os lábios, meio irritado, mas acaba

concordando e assentindo. E então, dá as costas para mim e caminha até a


porta.

Papai mal a abre e as meninas se esbarram umas nas outras, porque


estavam ouvindo atrás da porta. Ele balança a cabeça de um lado para o

outro, mas não dá nenhum sermão.

As meninas entram no quarto depressa e trancam a porta.

— Pensei que ele deixaria a gente de castigo — Violetta comenta,

mexendo os botões do vestido fofo e verde menta que está usando.

— E ele deixará. Não disse nada agora, porque é um dia importante.


A amanhã nossas cabeças estarão penduradas no hall de entrada para servir

de exemplo para todos — Barbara fala num tom sério, só que nós
começamos a rir assim que ela fecha a boca.

Vou sentir falta delas quando for embora.


Quando o soldado para a limousine em frente à mansão Giordano,

não passa das dezenove horas. Romeo é o primeiro a sair do carro. Ele
analisa a fachada com atenção, como se procurasse por respostas.

— O papà teria adorado vir aqui e obrigar Giuseppe entregar a filha

mais cedo — meu irmão caçula diz assim que desço do carro e ocupo o seu
lado, enquanto Giovanni faz o mesmo.

Olho para ele e noto a expressão séria estampada no rosto como

uma máscara compacta.

Romeo tem razão.

O nosso pai teria gostado de impor as suas ordens à Giuseppe,

apenas para ver o homem se contorcer de raiva e depois, observá-lo ceder. É


assim que ele é. E só não está aqui, porque Chicago não pode ficar sem o

chefe e o subchefe do crime organizado ao mesmo tempo.


Entretanto, Giuseppe já concordou com a data do casamento que

acontecerá daqui a duas semanas. Não que o homem tivesse escolha ou

coisa parecida, mas não precisamos forçá-lo a mudar mais ainda as coisas.

Uma boa convivência é essencial para os negócios também. E agora,

Martina faz parte disso, da nossa aliança.

Antes de chegarmos à varanda, a senhora Giordano abre a porta de


madeira escura para nós com um sorriso gentil. De maneira majestosa, ela

nos conduz até a sala de estar, onde os homens importantes da família

Giordano se encontram e rola uma música tranquila e em volume baixo.

Giuseppe abre um sorriso pouco simpático para nós ao começar os

cumprimentos.

Não tenho tempo de falar nada ou perguntar sobre a minha noiva,


porque as meninas preenchem a sala de estar. Martina na frente e as irmãs

um pouco mais atrás, como se a escoltassem até aqui.

Os olhos azuis brilhantes encontram os meus e embora goste da

conexão, desvio a atenção e admiro o corpo pequeno cheio de curvas

atraentes.

Ela usa um vestido preto justo ao corpo, que além de evidenciar os

quadris, ressalta bem o tom da pele. Tem uma fenda na coxa esquerda e
apenas uma manga, que é longa. O cabelo foi preso em um coque alto e

fiapos caem sobre o rosto delicado.

Com as irmãs na cola, Martina se aproxima de mim e força meio

sorriso.

— Danilo Salvatore — pronuncia o meu nome como se fosse um

xingamento, o que me faz curvar um pouco os lábios. Não devia estimar

tanto o atrevimento dela, mas é algo que me excita.

— Martina Giordano.

Sem aviso prévio, pego o braço fino e nu, fazendo os pelinhos da


pele dela se arrepiarem e a garota soltar um gemido quase imperceptível.

Gosto que reaja ao meu toque.

— Está linda — acrescento, ouvindo a respiração pesada de

Giuseppe atrás de mim, odiando o fato de eu estar tocando na filha.

— Obrigada.

Não tenho tempo para romance ou enrolação, e o nosso casamento é

um negócio também, então, enfio a mão dentro do terno e retiro a caixa

pequena de veludo. Abro-a e revelo o anel com o diamante grande em cima

da almofada.

Martina prende a respiração.


Deslizo o anel sobre o seu dedo anelar e ela permanece em silêncio,

observando o gesto. As irmãs me encaram com um certo tipo de medo e

raiva, como se eu estivesse prestes a arruinar a vida de Martina.

E talvez, eu esteja mesmo.

Ela recolhe a mão e fixa a atenção no anel, os lábios prensados e os

olhos ferozes brilhando para a joia.

— É oficial — murmura mais para si do que para mim.

— Quando será o casamento? — uma das irmãs questiona, não

lembro o seu nome. Tem um cabelo parecido com o da Martina, mas ao

contrário da minha noiva, os olhos são redondos.

Lanço um olhar afiado para Giuseppe, ele não contou a novidade às

garotas.

— Daqui duas semanas — informo, deixando as irmãs de Martina

aterrorizadas, enquanto ela continua séria.

Não está surpresa.

Ela levanta o olhar, nivelando os nossos rostos. Os lábios bem

desenhados e pintados com um batom claro, levemente entreabertos. A

garota desvia a atenção de mim e tenta sorrir para as irmãs.

— Vamos deixar os homens conversarem — é o que fala, arrastando

as meninas para longe da sala de estar.


Não gosto de vê-la fugindo de mim, me deixa com um gosto ácido

na garganta. Troco um olhar com Giovanni e Romeo, depois encaro

Giuseppe. Ele sabe o que farei e mesmo que não goste, não ousa me

impedir quando movo os pés ao encontro de Martina.

Alcanço as meninas na antessala, rumando para o hall de entrada.

Como se sentisse minha presença, Martina olha por cima do ombro e

captura meus olhos. Ela para de caminhar e fala algo com as irmãs que não

chega aos meus ouvidos.

Espero que todas saiam e me deixem sozinho com ela para voltar a

me aproximar.

— Não fuja de mim de novo — digo e ela contrai o músculo da

mandíbula ao piscar devagar.

— Isso é um pedido ou uma ordem direta de Danilo Salvatore? —

retruca, a voz insolente enviando uma onda eletrizante para o meu corpo e

me acendendo.

Nunca uma mulher tão atrevida mexeu comigo como essa garota
está fazendo. E olha, que é apenas a segunda vez que coloco os meus olhos

nela. É como um gato feral, que eu quero amansar.

— Uma ordem.

Contemplo Martina passar a língua nos lábios carnudos e tentadores.


— E se eu não obedecer? — provoca.

— Não vou gostar — devolvo.

— O que vai fazer se eu desobedecer? Vai me matar também como

fez com a primeira noiva?

A resposta vem afiada e muda o meu estado de excitado para

amargo. Sinto as minhas narinas expandirem de raiva. Odeio que ela esteja

falando de Sienna no momento.

Martina respira fundo e fecha os olhos por um segundo, passando as

mãos no vestido como se quisesse desamassá-lo.

— Me desculpe, não foi o que eu quis dizer. É indelicado da minha

parte falar dela dessa forma.

Ela está se desculpando, mas não há um vestígio de sinceridade na

sua voz.

— Seu pai não te ensinou que é feio mentir? — pergunto ao dar

mais alguns passos na direção de Martina, ficando tão próximo, que o

perfume doce toma conta de todo o ar ao meu redor. — Você será minha

esposa, não quero que minta pra mim.

Tenho vontade de enterrar o rosto na curvatura do seu pescoço e

provar a pele macia, vê-la estremecer com o toque da minha língua.

Martina engole em seco.


— Certo, não acontecerá de novo — concorda, só que está na cara

que ela discorda das próprias palavras.

Levanto a mão para tocar o seu rosto e surpreendo-me ao vê-la se

encolher inteira e piscar com força. No momento em que minha palma

encontra a face, ela bate as pestanas e ergue as sobrancelhas em confusão,

como se estivesse esperando outra atitude.

— O que foi? — questiono.

— Pensei que fosse me bater — admite, a voz baixa e branda.

Fico meio incomodado com o que ela diz.

— Seu pai já bateu em você ou nas suas irmãs?

Giuseppe parece prezar muito as filhas. No entanto, não ficarei

surpreso se ele tiver feito algo parecido. Os homens no nosso meio


costumam pensar que um tapa nos mais fracos resolve muita coisa e abre

portas.

Meu polegar roça na bochecha macia, Martina não recua, só que


está tão confusa, que não deve estar assimilando o que estou fazendo no

momento.

— Não, nunca. Ele não é esse tipo de homem. Papà não é ruim pra

nós.

Concordo com um aceno firme de cabeça.


— Não bato em mulheres, Martina. A não ser, que elas peçam —
digo a última frase com um sussurro e curvo o canto direito da boca em um

sorriso maroto.

Finalmente, ela se dá conta do que estou fazendo e arreda com um


trancão. O peito começa a subir e descer em um gesto hipnótico por causa

da respiração ofegante.

— Não pode me tocar antes do casamento. Está violando uma

tradição importante — fala, os olhos ferozes me estudando e os lábios


provocantes formando um bico sexy.

— Eu a tocarei quando eu quiser, Martina, porque você é minha.

Volto a me aproximar e apenas para mostrar que falo sério, eu afasto


um fio de cabelo caído sobre o seu olho e prendo atrás da orelha pequena,

tocando-a e fazendo a garota estremecer.

Ela ergue os cílios para mim.

— Vai me tocar mesmo se eu disser não? — rebate, afiada.

Os olhos de Martina mostram exatamente o que eu sou. Um


monstro, que tomará posse da sua vida. Só que mesmo assim, tem um

brilho lascivo que dança pelas íris azuis sempre que nossos olhares se
cruzam.

— O que você acha?


Ela molha os lábios antes de responder.

— Eu acho que você vai fazer o que quiser comigo. E como toda

mulher que nasce nesse mundo perverso que é o nosso, com as mãos sujas e
a alma manchada de sangue, tenho que permitir sem reclamar, porque você

será meu marido. Meu dono — ela pronuncia as últimas duas palavras entre
os dentes.

Arqueio uma sobrancelha.

— Mas?

Ela enruga o nariz.

— Mas o quê?

Deslizo com a mão até o pescoço delicado e macio de Martina. Não


consigo parar de tocá-la, é viciante e, fascinante a forma como ela

estremece com o meu toque, mostrando mesmo sem ter consciência, que o
corpo delicioso é meu e nunca será de outro homem.

— Sinto que você não é como toda mulher que nasce no nosso

mundo. Talvez, esteja certa e já tenha a alma manchada de sangue, no


entanto, Martina, sei que não é como as outras.

Os lábios dela se repuxam em um sorriso falso.

— Eu serei obediente — diz, o que acaba me fazendo soltar uma


risada curta. — Qual é a graça?
— Não minta pra mim. Você pode ser muita coisa, mas sei que não

será obediente.

Martina endireita os braços e agarra o meu pulso para afastar da


própria pele. Os olhos ferinos me esquadrinhando e a boca prensada em

uma linha reta.

Está tão sexy, que sinto vontade de cobrir os lábios atrevidos com os

meus e evolvê-la num beijo sedento.

— Sendo assim, prefiro que não me toque até o casamento — diz,


num tom firme e meio ríspido.

Faço um estalo com a língua.

— Ei, olhe o tom. Já cortei línguas por menos — provoco.

Ela respira fundo e cerra os dentes.

— Não ache que está se casando com uma mulher indefesa e burra,
Danilo — resmunga ao dar as costas para mim e sumir do meu campo de

visão.

Enfio a mão no bolso e não consigo reprimir o sorriso de esticar


meus lábios.

Martina com certeza será um desafio.


Não é uma festa de noivado comum, parece mais uma reunião de

negócios. Então, depois que enfio o anel de diamante no dedo de Martina,


Giuseppe faz questão de acelerar o decorrer da noite.

E de manter as outras filhas o mais longe possível de mim e dos

meus irmãos, quase como se fôssemos pegar mais uma para casamento.

Não duvido que o papà pense em algo assim num futuro próximo,

mas não matarei Giuseppe do coração esta noite.

— Te vejo em breve — falo a Martina quando ela nos acompanha


até o hall de entrada.

E ignorando o que a garota disse horas atrás sobre preferir que eu


não a toque, envolvo uma das mãos na sua cintura, roubando um pequeno

gemido sexy. Encosto os meus lábios na bochecha saliente, depois, bem


perto do canto da sua boca, travando o corpo de Giuseppe, que está próximo
demais para o meu gosto.

— Faça uma boa viagem de volta — ela diz, obrigando os lábios a

repuxarem num sorriso.

— Não está rezando para o meu jatinho cair no caminho de volta pra

Chicago, não é? — retruco baixo no ouvido de Martina, apenas para ela me


ouvir e roço os lábios no lóbulo da orelha.

A respiração dela fica pesada e noto o rosto inteiro ruborizar.

— Seria uma traição — emendo, estudando as reações da minha


noiva.

Para minha surpresa, o rosto dela se ilumina e Martina começa a rir,


atraindo para nós dois, a atenção de todos no hall.

Sei que não o faria se estivesse cem por cento sóbria, mas durante o

jantar, ela bebeu vinho como se fosse água.

Talvez, tenha a ver com o fato de que eu não consegui manter os

olhos longe dela. Minha noiva é linda, e hoje, nesse vestido elegante e justo,
me dá vontade de ser um completo cretino como o meu pai, e arrastá-la
comigo para Chicago para tomar posse do que é meu.

— Não sabia que você tinha senso de humor — ela rebate, levando
uma das mãos até a boca para esconder o riso, sem tirar os olhos brilhantes
de mim.

Curvo os lábios de maneira sarcástica, cogitando a ideia de não

voltar para Chicago amanhã de manhã e levar Martina para sair, o que será
novidade até mesmo para mim. Não lembro a última vez que levei uma

mulher para algum lugar que não fosse uma cama ou um sofá para foder.

Desvio a atenção dela ao ouvir um tumulto do lado de fora da casa.


Giuseppe é o primeiro a sair, seguido pelo conselheiro e subchefe. Giovanni

e Romeo trocam um olhar comigo antes de saírem também.

Afasto a mão da cintura de Martina e me junto aos outros do lado de

fora. Dois soldados de Giuseppe seguram um garoto de cabelo meio loiro,


que tenta escapar das mãos dos homens treinados.

— Ah, meu Deus! — Martina berra logo atrás de mim.

Olho-a por cima do ombro. A expressão divertida e sorridente de

segundos atrás deu lugar ao espanto e terror. Ela se aproxima de mim e


envolve as duas mãos pequenas no meu braço, na tentativa ousada de me
puxar para longe.

Ergo uma sobrancelha inquisitiva para ela.

— Vamos entrar, Danilo — ela implora ao focalizar os meus olhos,

o que me deixa em alerta. Implorar não é algo que combine com ela e ainda
está me tocando por livre e espontânea vontade. Duas coisas que não fazem
sentido para mim no momento. — Por favor — emenda com um sussurro.

Franzo o cenho.

— Por quê? — questiono e olho o garoto que tem a atenção presa


em Martina. Ele tem tanta raiva estampada no rosto, que me deixa curioso.
— Você o conhece?

— Martina! — ele berra, respondendo minha pergunta.

Sem fazer esforço, solto-me da minha noiva e desço os três degraus

de escada que separam a varanda do garoto e caminho até ele, que fica
furioso ao me ver aproximar. Giovanni e Romeo se aproximam também,
observando em silêncio.

— Ele não é ninguém importante, Danilo — Giuseppe fala e eu


odeio que esteja insultando a minha inteligência.

Ignoro-o.

— Quem é você?

— Quero falar com a Martina — é o que responde, o que me faz


soltar um suspiro e enfiar uma das mãos no bolso da calça social.

— O que você quer com a minha noiva?


Ele contrai o maxilar com a pergunta, mas não responde. Faço um
gesto com a cabeça para que os soldados o soltem e antes que possa

resolver a situação, Martina surge ao meu lado com uma 9mm em riste.

— Vá embora, Jason — ordena, as narinas infladas e os lábios


apertados em uma linha reta.

— Martina... — ele sussurra, perplexo.

— Vá embora antes que hoje seja o último dia da sua vida — fala,

fazendo-me olhá-la intrigado. — Nunca mais me procure — continua e


quando Jason não move um músculo, ela destrava a arma e dá um passo na
direção dele.

Os soldados ameaçam interferir, mas param ao ver o meu comando


com a mão.

A contragosto, Jason dá as costas e vai embora resmungando alguns


palavrões. Os soldados olham para Giuseppe antes de segui-lo, enquanto
direciono a minha atenção para Martina.

Ela trava a 9mm e entrega ao pai, que nos observa em silêncio.


Devagar, a garota fica de frente para mim e respira fundo, prendendo alguns

fios de cabelos detrás da orelha. As bochechas estão vermelhas e os olhos


dilatados por conta do álcool que ainda corre no sangue.

— Ele não voltará — informa.


— Quem é ele, Martina?

— Ninguém importante — responde rápido demais para o meu

gosto. — Nos vemos em duas semanas. Casaremos e eu serei toda sua.

Martina tenta se afastar de mim e eu a impeço ao agarrar seu pulso.


Faço um gesto com a cabeça para que nos deixem a sós. Giuseppe, o
subchefe e o conselheiro entram na mansão e meus irmãos, na limousine

que nos espera.

— Por favor, não o mate — ela fala antes que eu possa dizer algo.

— Por quê? Ele é importante pra você?

Ela une as sobrancelhas em chateação.

— Por quê? Vai poupá-lo se eu disser que sim? — rebate e tenta se


soltar da minha mão e falha.

— Talvez.

Martina inspira fundo.

— Ele não é importante pra mim, só que é inocente e vive num


mundo diferente do nosso.

Prendo os olhos grandes dela aos meus.

— Ninguém é cem por cento inocente, Martina. Não se engane.


— Então, isso quer dizer que você não é cem por cento ruim? —

questiona de maneira sarcástica. Estou começando a sentir falta da versão


bêbada que ri com facilidade. — Você tem razão. Eu sou ruim também. Me
aproveitei do favoritismo do meu pai, eu menti e fiz coisas que minhas
irmãs nunca farão.

Fico interessado no que ela diz e acabo puxando-a para mais perto

de mim, captando a atenção de Martina.

— Que coisas?

Ela suspira outra vez, parece exausta.

— É isso que você quer saber?

— Sim — respondo, simplesmente.

Num gesto sexy, ela lambe os lábios e dá de ombros.

— Sei lá, dormir na casa das minhas amigas — fala e não estou
convencido que seja apenas isso. — Beijar garotos — emenda, provocativa.
— Pois é, muitos garotos — continua e depois balança a cabeça de um lado
para o outro, como se desse conta de que me atiçar não é uma boa ideia.

Sorrio com a provocação dela, mas não digo o que estou pensando

de verdade. São rudes demais as palavras presas na minha língua, ainda


mais para uma garota linda e meiga com ela.
— Vá descansar — ordeno, mas demoro mais tempo que o

necessário para soltar Martina. A garota fixa os olhos nos meus com afinco,
como nunca fez antes e me deixa meio incomodado pela conexão intensa.

— Boa noite, Danilo.

— Jason morrerá se chegar perto de você de novo — informo,

fazendo-a assentir em silêncio. — Não esqueça que você é minha.

— Impossível esquecer esse detalhe que mudou toda a minha vida.

Sem aviso prévio, beijo a sua bochecha macia, controlando a


vontade de sugar os lábios atrevidos e afundar minha língua na sua boca, e
só então, deixo-a se afastar de mim para entrar na mansão.

Aproximo-me do carro e abro a porta antes de me acomodar no

banco da limousine ao lado de Giovanni e de frente para Romeo.

— Quero saber tudo sobre ele — informo a Giovanni, que concorda


sem hesitar.

— Vai matá-lo? — Romeo quer saber.

— Talvez — falo ao afrouxar o nó da gravata. — Depende de como

ele se comportará de hoje em diante. Não gosto que fique rondando minha
mulher — acrescento com um gosto amargo na boca.
Molho os meus lábios secos ao me sentar no sofá.

O papà está furioso e não duvido que em breve comece a soltar

fumaça pelas ventas. Não posso culpá-lo, sinto que a minha raiva misturada
com uma pitada grande de vergonha está fazendo o meu corpo inteiro pegar

fogo.

Ainda não acredito que Jason veio aqui. Meu Deus, o que ele tem na
cabeça? Até parece que erámos amantes incondicionalmente apaixonados.

Tudo bem que ele adorou ter sido o meu primeiro parceiro sexual, como se

essa merda inflasse o seu ego.

Pelo amor de Jesus Cristo. Eu nunca nem disse que o amava, o

máximo foi um “eu gosto de estar com você” e as palavras meio que saíram

porque Jason tinha dito algumas parecidas antes.


Não vou ser hipócrita, eu gostava de ficar nos seus braços, mas não

é como se estivéssemos predestinados a viver juntos a vida toda. Eu nunca

prometi nada a ele e bem, achei que o sentimento era recíproco.

— O que Danilo disse? — Corrado quer saber, como sempre, calmo

e com uma tranquilidade que às vezes, é bem irritante.

— Que Jason morrerá se chegar perto de mim.

Ele assente, pensativo.

— Convençam o moleque a mudar de nome e ir embora da cidade.


Do País, se preciso for — é o papà quem ordena, fazendo o subchefe e o

conselheiro assentirem e saírem da sala logo em seguida.

— Obrigada — agradeço, porque sei que está fazendo isso por mim.

Se Danilo matar Jason é uma morte que vou ter que carregar pelo resto da

vida. E não sei se posso superar esse tipo de coisa.

— Você ainda é virgem, Martina?

Minhas bochechas queimam ao ouvir o questionamento do meu pai.

É a primeira vez na vida que ele faz esse tipo de pergunta. Nós nunca

conversamos sobre sexo ou algo parecido. Para ser sincera, o assunto é um

tabu dentro da nossa casa e suponho, que dentro das casas de todos os

membros da organização também.


Eles apenas criam as filhas para serem boas esposas, inocentes e

virgens até o casamento.

Até parece que não falar de sexo vai nos impedir de fazer alguma

coisa. O que faz com que a maioria continue virgem e intocada são os

seguranças que são os nossos guarda-costas desde que somos uns bebês. E

no geral, as meninas não se afeiçoam tanto como aconteceu comigo e as

minhas irmãs com Paolo.

— Sou — minto, porque não sou corajosa o suficiente para contar a

verdade ao papà. Além do mais, se o fizer, ele matará Jason por ter tocado

na filha preciosa, não tenho dúvidas.

Observo-o por cima dos cílios, estudando as suas reações.

No fundo, talvez, ele já saiba a verdade, mas prefere fingir que não.

É melhor tampar o sol com a peneira do que lidar com o fato de que não sou

tão pura e intocável como todos em Detroit pensam.

— Ótimo.

— Tenho permissão para levantar do sofá e ir para o quarto? —


pergunto meio debochada.

Não gosto de usar esse tom com o papà, apesar de tudo, eu o

respeito, só que às vezes, eu odeio como o nosso mundo é machista e


ignorante. Os homens aqui são criados tão diferentes de nós.
Eles são instruídos a perderem a virgindade cedo para se tornarem

homens, são iniciados dentro da máfia o quanto antes, enquanto nós, vamos

para escolas de meninas e somos proibidas de falar com garotos.

O papà não diz nada, apenas acena com a cabeça.

Levanto do sofá e faço o caminho até as escadas. Seguro no

corrimão e assim que começo a subir os degraus, noto as minhas irmãs no

andar de cima, empressadas, escutando tudo escondido.

— O que estão fazendo aqui? — pergunto tão baixo, que fico na

dúvida se elas escutaram.

— Achamos que estivesse encrencada — Barbara murmura com os

olhos oscilantes.

Todas ainda estão usando os vestidos de festa, só que os pés estão

descalços. Faço um gesto com o braço para que me sigam e abro a porta do

quarto para que entrem. Barbara e Violetta se acomodam na beirada da

cama, enquanto Angelina e Caterine permanecem em pé.

— Você tem um namorado? — o tom acusatório e de indignação de

Angelina é explícito. É uma pena, logo agora que achei que as coisas entre

nós fossem melhorar, vai tudo por água abaixo. — Eu sabia que isso

aconteceria, você podia dormir na casa da Nancy e nós sempre tivemos que
vir direto pra casa depois da escola. É injusto, não acha? Você teve regalias

que o papai nunca dará para nós.

Respiro fundo e retiro os saltos, pensando em como amenizar o


clima tenso da situação.

— Eu sinto muito. E sim, é injusto demais — começo pelas

desculpas. — Não devia ter escondido isso de vocês — admito.

— É o cara da farmácia. Ele vendeu absorvente pra gente —

Violetta comenta de maneira pensativa, o rosto cheio de sardas encrespado.

— É uma longa história — murmuro.

— Vocês transaram? — Barbara pergunta, é a única que tem uma

expressão curiosa para mim. — Ah, meu Deus! Você tá grávida? Por isso,

ele veio aqui? O que você vai fazer? E o Danilo? E o bebê?

— Você tá grávida? — Violetta repete, horrorizada.

O caos se instala no quarto e as duas mais nova começam uma

conversa desesperada sobre a gravidez e como o papà vai surtar quando

descobrir ao mesmo tempo em que Angelina pede para elas calarem a boca.

Faço um gesto de abano no ar para que elas se acalmem e pisco

devagar antes de começar a falar.

— Não estou grávida — aviso, fazendo Barbara e Violetta

respirarem fundo em alívio. Angelina me observa com chateação palpável,


enquanto Caterine está calma demais. — Sinto muito, nada justifica o que

eu fiz. Não é justo com vocês.

— Nem com você — Caterine fala pela primeira vez. — Você não

tem culpa — as últimas palavras fazem os meus olhos arderem.

Talvez, se elas me odiassem fosse mais fácil e eu deixasse de me

sentir tão culpada por ter feito o que fiz.

— Na verdade, tem um pouco — Angelina bufa e cruza os braços.

— Mas tudo bem, não sei se eu contaria se tivesse conhecido um garoto

também. Essas paredes têm ouvidos.

Desfaço o coque dos meus cabelos e deixo as madeixas caírem

sobre os ombros.

— Você vai embora daqui duas semanas? — Violetta fica de pé e

vem até mim. Ela é tão pequena e linda. — Por que tão rápido? Não tem

nada que o papà possa fazer para adiar o casamento?

Aperto os lábios e nego com a cabeça.

— Podem ir me visitar sempre que quiserem.

— Danilo vai deixar? — Violetta quer saber, o que faz o meu

coração murchar dentro do peito.

Mas lembro o que Danilo me disse sobre ninguém ser cem por cento

bom e espero que isso também se aplique a ele. Se ninguém é totalmente


bom, também, não é totalmente mau.

E talvez, ele não seja tão ruim ou mau como falam por aí.

Finjo um sorriso.

— Claro que vai, ele não é tão ruim assim — digo, desejando do

fundo do meu ser que eu esteja certa.

Violetta envolve os braços na minha cintura e Barbara fica de pé

para fazer o mesmo. As duas me prendem em um abraço quente e


aconchegante, que me rouba um sorriso.

Caterine vem para perto de nós, e embora demore um pouco,

Angelina se rende e acaba se unindo ao abraço quíntuplo das Giordano.

Sei que não sou perfeita, mas eu sou capaz de qualquer coisa para

protegê-las. Mesmo que signifique ser obediente para fazer meu casamento
dar certo com Danilo.

Não tenho ideia de como isso é possível, mas eu o farei pelas

minhas irmãs.
Logo cedo pela manhã, a mamma, as meninas, Paolo, os soldados de

Danilo, que agora são a minha sombra, e eu saímos para comprar o vestido
na melhor loja de noivas da cidade de Detroit.

Minhas irmãs não estão empolgadas. Todas ostentam uma expressão

amuada, até parece que estamos indo para um velório.

A mamma é a única que tenta atenuar o clima com sorrisos e


sugestões sobre o que escolher para o meu grande dia.

Assim que chegamos na loja, somos atendidas. A vendedora nos

guia para a seção de vestidos de alta-costura e os soldados permanecem no


andar de baixo.

O lugar é bem amplo e tem um cheiro agradável de flores, deixando


o ar bem romântico. Há vários manequins usando os mais variados modelos

de vestidos e uma das paredes é feita de espelho do chão ao teto. Tem o


espaço reservado para os provadores e em frente aos dois sofás confortáveis

e de aparência macia, há um pódio grande de granito e um outro espelho de

corpo inteiro com moldura de madeira e cheio de luzes de led ao redor.

As meninas se acomodam no sofá, enquanto a mamma e eu

conversamos com a vendedora para decidirmos quais modelos vou

experimentar.

O primeiro vestido que coloco no corpo é um tradicional. A saia é

longa e volumosa, tem a cintura marcada e me faz parecer uma princesa. É

lindo, só que sinto que falta algo e as meninas não aprovam.

O segundo modelo tem o busto bem justo, o que ressalta bem os

meus seios e uma saia que se estende naturalmente pelo corpo. É um

vestido bem romântico e confortável.

— Não! — as meninas respondem num uníssono.

Volto para o provador e depois de alguns minutos, saio usando outro

vestido. Também tem um estilo clássico e é bem ajustado até a altura da

cintura, fazendo com que a saia se abra em forma de triângulo.

Em cima do pódio, encaro o meu reflexo no espelho e também não


curto o vestido.

— Que tal algum vestido mais moderno? — a atendente pergunta,

chamando minha atenção e das meninas.


Concordo com um aceno de cabeça.

Ela me ajuda a descer do pódio e me conduz até a área dos

provadores. Alguns minutos mais tarde, a atendente volta com outro

vestido. É o primeiro que acho lindo de verdade e meio que me sinto

animada para experimentá-lo.

Parece que foi feito para mim. É a sensação que tenho depois de

vesti-lo. O corte esculpe de maneira perfeita as curvas do meu corpo, só que

não é apertado. Tem mangas longas com detalhes delicados em renda e o

caimento dele lembra sutilmente uma sereia. O decote em V ressalta bem os

meus seios, mas não de um jeito exagerado. E para fechar com chave de

ouro, o vestido tem uma calda, que deixa tudo mais elegante.

Volto para o pódio e os olhares das meninas e da mamãe são de

admiração. Sorrio para elas e comtemplo o meu reflexo no espelho de corpo

inteiro com moldura de madeira. A iluminação aqui é muito melhor, o que

me deixa mil vezes mais bonita.

Por algum motivo inexplicável, a primeira pessoa que me vem à

cabeça é Danilo Salvatore e os olhos severos me venerando. As bochechas

começam a esquentar com o pensamento e faço um esforço para expulsá-lo

da mente.
Tudo bem que ontem, depois de tomar umas taças de vinho, ele até

me fez rir com aquela provocação sobre o jatinho e o beijo quente que

depositou na minha bochecha fez as borboletas do meu estômago dançarem,


o que é normal.

Danilo é lindo.

Um cretino? Definitivamente, sim. No entanto, eu não sou cega e

nem preciso de óculos para conseguir enxergar o quão atraente aquele


homem é. Todo cheio de si, arrogante, sarcástico e me dá vontade de

desmontá-lo todo com o meu atrevimento, só para mostrá-lo que não sou

como as mulheres que ele está acostumado a lidar.

— É perfeito — a mamma fala ao se aproximar de mim.

— É a noiva mais linda que eu já vi na minha vida — Violetta fala,

me fazendo rir de leve.

As meninas sobem no pódio, que é bem espaçoso e me admiram

pelo espelho.

— Não sei se ele merece uma noiva tão linda assim — é Caterine

quem diz, ajeitando a calda do vestido.

— Tá linda mesmo — Angelina comenta de maneira tímida e eu

assinto, dando uma piscadinha para ela.


— Nem acredito que você vai casar — as palavras de Barbara me

deixam pensativa.

Daqui duas semanas Danilo e eu seremos oficialmente marido e


mulher, e as únicas coisas que sei sobre o meu noivo é que ele é o futuro

chefe do crime organizado em Chicago e que matou a primeira noiva.

Para o meu próprio bem, eu devo temê-lo e ser obediente a todo

custo.

Mas, por que eu sinto que nunca serei esse tipo de esposa?
Em silêncio, Giancarlo me entrega um envelope lacrado e desabotoa

um botão do terno moderno antes de sentar no sofá à minha frente.

Ele sempre foi silencioso e centrado, mas depois da morte da


esposa, que estava grávida de cinco meses, o conselheiro se fechou

completamente e se tornou alguém diferente.

Giancarlo é uma das melhores pessoas que eu conheço e era o único


homem no nosso meio que amava e era fiel à esposa. Agora? Não o vejo

mais interessado em nenhuma mulher e casamento é algo incogitável para

ele.

— O que você quer com um civil? — questiona e eu ergo uma

sobrancelha.

— Ele vai matá-lo — Giovanni diz com um tom divertido e Matteo

é o único a rir com o meu irmão.


Matteo é filho da falecida irmã do nosso pai. Além de perder a mãe

quando era criança, também perdeu o próprio pai. Para o infortúnio dele, o

papà não é exemplo paterno para ninguém e criou o nosso primo apenas

com a intenção de transformá-lo em uma máquina de matar.

Os dois estão em frente ao pequeno bar que tem no escritório,

servindo whisky sem gelo em copos de cristais.

Giovanni entrega uma bebida para Romeo, que desde que entrou na

casa que crescemos para o jantar em família, não falou muito, e em seguida,

oferece um copo para mim e outro para Giancarlo.

— Por quê? — o conselheiro quer saber.

— Não vou matá-lo — falo e os quatro me olham como se as

palavras que acabaram de sair da minha boca fossem um completo absurdo.


— Ainda não.

O papà, que estava na varanda do escritório fumando um charuto,

volta para o cômodo e fecha as portas de vaivém antes de se acomodar na

cadeira acolchoada detrás da mesa de madeira maciça feita sob medida.

— Mate-o antes que ele seja um problema — o Don sugere e eu só


consigo pensar em Martina implorando para poupar a vida do desgraçado.

— Sua noiva ainda é virgem? — questiona.

O músculo do meu maxilar contrai.


— Sim — respondo com firmeza, mas a verdade é que não parei de

pensar no que ela disse sobre ter privilégios e ter feito coisas que as irmãs

jamais farão.

— Tem certeza ou precisarei mandar o médico da família examinar

Martina?

— Não será necessário.

— Ótimo. Não quero uma mulher que já foi tocada por outro

homem para casar com o meu filho, sabe o que penso sobre isso — diz,

sério, mexendo nos papéis em cima da mesa. — Sua esposa tem que ser

virgem e inocente, porque você é o único que tem que fazê-la sangrar. Se

Martina não for pura, não vale nada e não vou aceitá-la na nossa família.

Cerro os dentes à medida que sinto o sangue do rosto esquentar.

Romeo fica em silêncio, observando o nosso pai, enquanto


Giancarlo troca um olhar comigo.

O conselheiro não é burro e nem cego. O homem é leal ao meu pai e

sempre vai fazer o melhor para que a família prospere, no entanto, um fato
é um fato.

Alberto Salvatore é um cretino.

— Ou seja, burra — Giovanni resmunga, depois, bebe um gole

generoso de whisky e alonga o pescoço.


— Quanto mais burra, melhor — o papà completa, desdenhoso.

Tenho vontade de fazê-lo engolir as palavras, mas desde muito cedo,

aprendi a controlar os meus instintos. Quando meu pai passar a coroa para

mim e eu estiver no comando de tudo, serei tão duro com ele como o velho

foi comigo e os meus irmãos.

— Preciso sair — o Don avisa ao levantar e pegar o casaco no

cabideiro. Nós ficamos de pé também e ele nega com a cabeça. — Sairei


sozinho. Assunto particular.

Pela visão periférica, noto os ombros de Romeo eretos.

— Fiquei na dúvida agora. A sua puta é burra ou apenas não vale

nada? — o caçula pergunta, a expressão impassível e o tom de voz cheio de

desdém.

Nosso pai abre um sorriso doentio e em seguida, corta a distância

até Romeo, deixando Giovanni, Matteo e eu em alerta.

— Fiquem calmos — ele diz, num tom cheio de sarcasmo. — Ele

não é mais uma criança, não vou surrá-lo por isso. — O Don olha nos olhos

de Romeo ao segurar o seu pescoço com força. — Mas não esqueça, filho,

além de ser o seu pai, eu sou seu chefe também. Não ouse me desrespeitar

de novo.

E, então, larga o meu irmão e ruma para sair do escritório.


— Não faça isso de novo, Romeo — falo num tom de repreensão.

Sei que o nosso pai é o pior de todos. Criou os filhos com punhos de

ferro, sempre traiu a mamma, só que a hierarquia é uma das coisas mais
importantes no nosso meio e se nós não conseguimos respeitá-las

corretamente, os negócios começarão a desandar.

— Como você consegue aturar e respeitar esse velho fodido? — ele

rebate, o tom acusatório explícito. Romeo coloca o copo de whisky de volta

no balcão do bar e sai porta afora.

Se eu fosse igual ao Don Salvatore, obrigaria Romeo a voltar agora

e o faria entender que não pode me desrespeitar. Só que meu irmão é novo e
foi o que mais sofreu nas mãos do nosso pai tirano.

Fazer Romeo matar um cachorro aos onze anos foi apenas o começo

do inferno que ele sofreu para se tornar um homem leal e honrado para a

família.

— Fez bem, Danilo — Giancarlo fala ao ficar de pé, me fazendo

bufar. — Se quer ser o Don e comandar os negócios do seu jeito, não brigue
ou vá contra Alberto — continua.

— Ele cortaria sua cabeça se te escutasse — devolvo, e pela

primeira vez em muito tempo, os lábios do conselheiro curvam em um

quase sorriso.
— Por quê? É meu dever instruí-lo também — é o que diz, dando

um tapa leve no meu ombro e saindo do escritório também.

— Romeo tem razão em agir assim, mas Giancarlo está certo

também — Giovanni comenta, enquanto massageio as minhas têmporas.

— Lar merda lar — Matteo murmura ao mesmo tempo em que leva

o copo de cristal até os lábios.

— Ele fodeu Romeo — admito com a garganta áspera.

— O papà fodeu a todos nós — Giovanni declara.

Meu irmão está certo.

O nosso pai é podre e contamina tudo que toca. Foi o que aconteceu

comigo, com Romeo, Giovanni, Matteo, até mesmo, com a mamma, que

não é a mesma há tanto tempo, que nem consigo lembrar qual foi a última

vez que a vi sorrir de verdade.

Mesmo que tentemos ser diferentes dele, não há como escapar do

que Alberto Salvatore nos transformou.

Em monstros cruéis.

Animais selvagens que não gostam de perder.

Homens que não dão segundas chances.

Fodidos do caralho.
Antes de ir embora, vou em busca da mamma e a encontro sentada

no sofá do solário, que tem o teto e uma das paredes de vidro, dando uma
visão significativa de parte do jardim e da piscina.

Os cabelos loiros e com ondas delicadas caem até a altura dos

ombros. Ela usa um vestido longo e um robe de seda por cima, os pés estão
em cima da mesinha de centro, ao lado de uma taça de vinho meio cheia.

Ela é linda e tão sem vida na mesma proporção. Odeio essa


combinação. É algo que me incomoda pra caralho.

— Mamma — chamo-a.

Ela encaminha o rosto para mim com um breve sorriso meigo e


depois, gesticula com as fotos que tem nas mãos.
— Giancarlo me entregou — comenta e faz um aceno com a cabeça
para que eu sente ao seu lado. — Ela é linda, Danilo. É perfeita pra você.

— Martina é linda mesmo. E atrevida.

Minha mãe ri.

— A cara não nega — retruca.

Ocupo o lugar vazio ao lado da minha mãe e pego uma das

fotografias para olhar. Martina está em pé, olhando meio de lado e com um
sorriso grande esticando os lábios bem desenhados e mostrando os dentes

pequenos. Usa uma blusa branca de mangas longas, saia de couro, exibindo
as belas coxas e sandálias de tiras.

Linda.

E gostosa demais.

— Terão filhos lindos.

Nego com a cabeça ao ouvir o comentário da minha mãe. O rosto


dela enruga inteiro e sei que está prestes a querer me convencer do
contrário.

— Não quero filhos — admito pela primeira vez na vida em voz


alta.
— Danilo — ela murmura, levando uma mão até a minha cabeça e
fazendo carinho. Mesmo que para o papà pareça fraqueza aceitar carinho da

mamma, eu gosto quando ela o faz. — Não diga isso, querido. Ter filhos é
algo bom e vai unir vocês dois.

— Não sei se está certa sobre isso, mamma.

— Você é diferente — fala e eu entendo nas entrelinhas o que ela


quer dizer. Sou diferente do meu pai. Só que a verdade simples e pura é que

eu não sou.

Olho-a por uma fração de segundo e permaneço em silêncio.

Eu sei que o papà quer um neto, mas por que eu colocaria uma
criança no mundo?

Para criá-lo da mesma maneira que ele criou a mim, Matteo e os

meus irmãos? Além do dinheiro e o poder, não há nada de bom no nosso


mundo.

Apenas... sangue e destruição.


Com Romeo e Giovanni, eu volto para Detroit alguns dias depois de

receber o envelope de Giancarlo. Quero ter uma conversa de homem para


homem com Jason. A vida dele dependerá das coisas que falará para mim.

Giuseppe não parece muito feliz por estarmos de volta à sua cidade

e perto das preciosas filhas. Mas é inteligente o suficiente para não


contrariar a nossa visita ou quando falo que quero Jason.

— Vai matá-lo? — o Don quer saber ao me servir whisky num copo

de vidro para mim. Faz uma hora que estamos no seu escritório, enquanto

os soldados dele buscam o moleque pelas ruas. Martina não está em casa e

eu espero de verdade que não esteja com o imbecil.

Será o fim dele.

— Ainda não sei.


— Contanto que limpe a sujeira, faça o que quiser — ele diz,

fazendo-me curvar a boca de forma cínica. Eu farei o que quiser, porque

não preciso da permissão de Giuseppe para isso, mas apenas ergo o copo de

cristal em um brinde. — Não fale pra Martina — emenda.

— Por quê?

— Ela vai se sentir culpada pela morte dele. Melhor que não saiba o
que acontecerá com o garoto — é o que diz, deixando a minha garganta

áspera.

Eu odeio que ela se importe com aquele moleque.

Não concordo. Também, não discordo, apenas fico em silêncio,

encarando o meu futuro sogro com uma carranca dura e desgostosa.

— Eu sei o que está pensando — Giuseppe comenta de repente, me

fazendo arquear uma sobrancelha interrogativa. — Martina é virgem —


acrescenta convicto. — Minha filha é pura.

Assinto, sem dizer nada.

Uma hora depois, Pasquale o caporegime de Giuseppe que foi em

busca de Jason, liga dando notícias. Encontraram o garoto e o levaram para

um galpão abandonado nas extremidades da cidade.

Giovanni e Romeo me acompanham para fora da mansão Giordano,

e o soldado que eu trouxe, nos leva de carro até o endereço que Pasquale
nos deu. O sol está se pondo quando chegamos ao local.

Pasquale espera do lado de fora do galpão, acompanhado de um

soldado. Cumprimento o caporegime com um aperto de mão e ele faz um

gesto com a cabeça para dentro do lugar.

O barracão não é tão grande e está mais limpo do que eu esperava.

O chão de cimento queimado tem várias manchas encardidas, um cheiro

forte de desinfetante misturado a sangue e pouca circulação de ar.

No meio do galpão, há dois soldados e uma cadeira de madeira e

Jason sentado, amarrado com as mãos para trás e um saco de pano preto na

cabeça. Meus irmãos e eu nos aproximamos e eu observo o garoto indefeso

por um tempo.

Faço um sinal com a mão, que Romeo entende de imediato e retira o

saco da cabeça de Jason, deixando-o agitado. Como eu ordenei, não

tocaram nele, apenas o trouxeram para mim.

Estendo a mão para Giovanni e ele me entrega o envelope marrom

pardo com toda a vida do moleque à minha frente.

Ele olha para os lados, atordoado.

— Jason Bowen, vinte e dois anos, estudante de farmácia — leio as

informações no papel, chamando a sua atenção. — Mora com a avó e...

— O que você quer? — interrompe-me.


Dou um passo na direção dele.

— Saber qual é a sua relação com a Martina — digo, simplesmente

e coloco os papéis dentro do envelope de novo e guardo no bolso do terno.

— Não é da sua conta — grunhe.

Sorrio e dou alguns passos na direção dele.

— Sim, é sim. Porque ela é minha noiva. — Inclino-me um pouco e

agarro o seu cabelo, puxando a cabeça para trás. — Tudo que diz respeito a

ela é da minha conta agora.

Jason cerra os dentes.

Eu deveria perguntar se ele já a tocou, mas os soldados de Giuseppe

ainda estão no galpão e não quero desonrar Martina. Talvez, eu só não

queira ouvir a resposta também.

— Você é a porra de um criminoso como o pai dela? — é ousado o


bastante para fazer uma pergunta atrevida.

— O que você acha? — devolvo e ele não responde, mas foca os

olhos nos meus e por alguma razão que não entendo, o rosto de Martina

preenche minha cabeça, me implorando para não matá-lo. — Merda —

resmungo ao recuar.

— O que foi? — Romeo questiona, me estudando com a testa cheia

de vincos.
— Não vai matá-lo? — Giovanni quer saber.

Com a palma das mãos, massageio as têmporas, bufando de ódio.

Respiro fundo e contraio o maxilar, afrouxando o nó da gravata sem desviar


a atenção de Jason. Volto a me aproximar, dessa vez, seguro o seu pescoço

com força, fazendo o garoto gemer de dor.

— Hoje é a merda do seu dia de sorte, garoto — rosno e abro um

sorriso falso. — Você vai sumir dessa cidade. Vai trocar de número de

telefone e nunca mais verá Martina. Nem pensará nela, porque se o fizer, eu

corto o seu pau.

Os olhos brilhantes esbugalham e ele engole em seco, em silêncio.

— Você entendeu? — questiono e ele fica quieto. Aperto ainda mais

o seu pescoço e repito as palavras. — Você entendeu ou não?

— Sim, eu entendi.

Solto Jason.

— Saia da cidade se quiser viver uma vida normal — aconselho ao

girar nos calcanhares. Giovanni e Romeo no meu encalço.

— Nunca vi você poupar ninguém antes — Giovanni comenta,

enquanto Romeo me analisa como se eu fosse outra pessoa.

— Eu sei, eu sei — digo, sem querer conversar sobre o assunto.


— Não ouvi nada. Você o matou? — Pasquale pergunta ao vir para

perto de nós, as sobrancelhas grossas unidas e coçando o cavanhaque.

— Não — grunho e ele não questiona. — Faça com que ele saia da

cidade. Se eu souber que Jason anda pelas ruas de Detroit, eu o matarei.

Pasquale assente e fala com firmeza:

— Sim, senhor.

Meus irmãos e eu entramos no carro de novo e fecho a cara, puto

comigo mesmo. Que merda deu em mim? Por que simplesmente não meti

uma bala na cabeça dele e o matei?

— Não quero ouvir uma palavra sobre hoje — ordeno, os dois

assentem em silêncio. — Me leve de volta pra mansão Giordano — digo ao

soldado no banco do motorista que pisa no acelerador sem hesitar.


Quando voltamos para a mansão Giordano, Giuseppe não está. Fico

quase satisfeito com a notícia de não o ver.

Na sala de estar, Paolo, o velho careca, que é o soldado que cuida da

segurança das meninas e eu derrubaria facilmente, fica nos observando com

afinco.

— Cara, a última vez que alguém me olhou assim... queria me dar

— Giovanni provoca, debochado.

Paolo enruga o rosto numa careta mal-humorada.

— Chame Martina — ordeno a empregada, que faz o que eu mando.

Martina demora mais do que eu gostaria para descer e ao entrar na


sala, meus olhos voam para a garota. Ela usa um vestido azul com estampa

de flores pequenas, que tem mangas curtas e cai até a altura das canelas.

— Saiam — ordeno, sem conseguir parar de olhá-la.

Meus irmãos saem da sala de estar sem hesitar, já Paolo, fica parado

peto da porta com uma posição ereta, que me irrita de verdade.

— Paolo — digo, num tom de reprenda.

— Não deixarei Martina sozinha com você — fala, fazendo minhas


narinas expandirem. — Não devem se tocar antes do casamento. São as
tradições da nossa família. Suponho que dos Salvatore também.
Solto uma risada curta e sarcástica.

— Você é realmente um homem corajoso, Paolo — começo a


articular e ao me aproximar dele, Martina vem para cima de mim.

— Paolo, por favor, me deixe sozinha com o meu noivo — pede e


engole em seco. — Por favor, Paolo.

O velho careca bufa, mas acaba cedendo e sai da sala de estar, nos
deixando sozinhos.

Corto a pequena distância entre nós e ela não olha nos meus olhos.

— Olhe pra mim — ordeno, só que não espero que me obedeça,


envolvo o polegar e o indicador no queixo dela e puxo o rosto para cima,

prendendo os nossos olhos. Ela é linda e os lábios são convidativos pra


caralho.

— O que veio fazer aqui? — questiona com atrevimento.

— Ver você.

Os olhos dela cintilam com as minhas palavras.

Paolo tem razão. As tradições sobre casamentos na máfia são claras

e precisas. Não posso tocá-la de verdade antes do casamento. Ela é minha


noiva, mas será minha mulher apenas depois de trocar os votos no altar.

Mesmo assim, existem tradições que são obsoletas demais.


Envolvo a mão livre na cintura de Martina e a puxo contra o meu
corpo, arrancando um gemido de surpresa dela.

— Danilo... — murmura ao arregalar os olhos. — O que está


fazendo?

— Agora? — pergunto, cínico. — Nada.

Ela suspira e coloca as mãos espalmadas no meu peito para manter


um pouco de distância entre nós.

— Já me viu. Agora pode ir embora — fala, o tom insolente


esticando os meus lábios em um sorriso.

Ignorando o que Martina disse, trago o seu rosto para mais próximo

de mim e esmago a sua boca com a minha. Minha língua exige acesso, que
ela não me dá de imediato, porque é uma garota ousada o bastante para

resistir.

Aperto-a contra mim e a provoco até vê-la ceder contra a minha

boca. Martina geme no momento em que nossas línguas se tocam e aos


poucos, se entrega ao beijo, que é intenso pra caralho.

Ao se dar conta de que está me beijando da mesma forma que eu a

beijo, com um desejo absurdo. Ela desgruda os nossos lábios e dar um


passo para trás. Passa as mãos nos cabelos e prende mechas detrás das

orelhas pequenas.
— Meu pai está chegando. Ele não vai gostar de saber que ficamos

sozinhos — diz.

Volto a me aproximar dela e seguro o rosto delicado com uma das


mãos, roçando parte dos dedos nos cabelos da nuca e o polegar no maxilar,

controlando a vontade de mergulhar a língua nela de novo.

— Até mais, piccolina [8] — é o que falo ao passar por Martina e sair
da sala de estar.
Algum tempo depois...

O papà é orgulhoso.

Mesmo com sugestões, que soaram mais como ordens, para irmos

nos hospedar na mansão Salvatore na Gold Coast, onde acontecerá o


casamento, ele não aceitou. Por isso, acabamos ficando num apartamento

luxuoso no prédio onde Danilo é dono.

E claro, lugar onde ele mora na cobertura.

Não sei qual é a diferença de estar aqui ou na mansão da família


dele, tem soldados por todos os lados, vigiando todos os nossos passos. Até

parece que somos animais enjaulados.

Mas a verdade, é que talvez, nós sejamos mesmo.


Estamos presos em uma gaiola de ouro. Só que ao contrário de mim,

meus pais e irmãs poderão sair dela assim que o casamento acontecer.

E eu estarei presa à Danilo para sempre.

Essa informação deveria me deixar desesperada, porém, eu sou uma

tola. Ainda estou me agarrando ao que ele disse semanas atrás e torcendo

para que há algo parecido com benevolência exista dentro do meu futuro
marido.

Ninguém é cem por cento bom.

Então, ninguém é cem por cento mau.

— Até que aqui não é tão ruim — Angelina comenta, atraindo a

minha atenção. Ela está inspecionando o quarto com uma certa relutância.

É estranho saber que em dezoito andares acima das nossas cabeças,

se encontra a minha nova casa. Meu novo lar. Parte de mim está ansiosa

para saber como é o lugar, a outra parte, está me recriminando por ser

curiosa.

Faz alguns dias que vi Danilo e para ser honesta, não parei de pensar

na boca arrogante dele contra a minha, a língua me provocando e como o

meu corpo reagiu ao seu toque possessivo e sedento.

Toda vez que fecho os olhos, sinto o hálito quente contra a minha

pele e a presença tão forte perto de mim, que nem sei o que pensar. O beijo
foi mais do que bom e isso meio que me apavora.

E para completar, ele mandou tantos presentes nos últimos dias.

Joias e sapatos, quase como se fossem descartáveis e um lembrete que sou

sua.

Papai sempre nos deu tudo e eu achei que vivia uma vida de luxo

em Detroit, mas tenho certeza de que Danilo está prestes a me mostrar um

mundo sem limites e que eu posso decorar tudo com diamantes.

— Nervosa? — Violetta pergunta ao olhar a cidade através da janela

de vidro que vai do chão ao teto no quarto.

— Um pouco.

Mesmo com vários quartos sobrando, as meninas decidiram que

dormirão comigo. Não sei como vai caber nós cinco na cama king size, mas

só quero passar minha última noite agarrada com a minha família.

— Não é tão longe — Caterine diz, tentando parecer animada. —

Três horas de avião. Podemos vir sempre que quisermos.

Abro um sorriso amplo.

— Sim.

— Podemos espiar a cobertura de Danilo? — Barbara questiona, me

fazendo rir e deixando as nossas irmãs pasmas. — O que foi? Ele é dono
desse prédio e olha o lugar que estamos, a cobertura dele deve ser outro

nível.

A ideia de Barbara é interessante, confesso. E, arriscada. Xeretar o

apartamento do futuro chefe do crime organizado? Definitivamente, não é

algo que devemos fazer. É o território deles, não o nosso.

E, não confio cem por cento em mim, muito menos na minha

curiosidade.

— Daqui algumas horas vamos encontrar a mãe de Danilo —

lembro-a.

Vou me casar amanhã e ainda nem conheci minha sogra.

Casamentos arranjados na máfia são realmente tratados como negócios.

— Vai ser rápido — Barbara insiste.

— Não acho que seja uma boa ideia. Não é certo invadir o espaço

dele assim — informo, sentindo um arrepio percorrer a minha espinha.

— Invadir o espaço dele? Danilo invadiu a nossa vida, não apenas

ele, mas todo esse bando de Salvatore. E mesmo assim, você vai ser a

esposa do segundo homem em comando, não pode entrar na cobertura

quando quiser? — Angelina questiona e meu estômago revira.

— Melhor ficarmos aqui e em segurança — Violetta fala, olhando

para mim.
Tadinha. Ela morre de medo de Danilo. Não a culpo por isso, a

primeira vez que ela o viu, o homem foi assustador e a fez chorar, depois,

disse que casaria com ela.

— Concordo com Violetta — falo, na tentativa inútil de parecer

sensata.

— Ah, não. Vamos nos aventurar nesse prédio de vinte e oito

andares — Barbara insiste, fazendo Caterine e Angelina assentirem e

Violetta negar com a cabeça. — Por favor — implora, focalizando os meus

olhos.

Acho que tô ferrada.


É uma péssima ideia explorar o território de Danilo, só que mesmo

assim, estamos fazendo.

Não é fácil passar pelos soldados do meu noivo e subir até a


cobertura, estão irredutíveis sobre nos deixarem entrar.

Eu deveria pegar a recusa como um sinal divino e dar meia volta

com as minhas irmãs.

Claro que faço exatamente o contrário. Eu ergo o queixo e digo aos

homens que amanhã, eu serei a senhora Salvatore e que se não me deixarem

passar, eu acabarei com eles. Não se convencem da minha afronta, mas


depois de uma ligação, nossa passagem está liberada.

Um dos soldados chama o elevador e ao entrarmos, ele digita o


número da cobertura no painel e em seguida, recua alguns passos.

Mantenho o olhar firme para ele até as portas de metal se fecharem.


Respiro fundo, aliviada.

— Pra quem será que ele ligou? — Caterine quer saber.

Dou de ombros, porque não faço ideia.

— Ele deve ter pedido permissão ao Danilo.

Violetta congela ao meu lado ao escutar as palavras de Angelina.

Passo a mão na sua cabeça ruiva e abro um sorriso reconfortante para minha

irmã.

— Ele não está aqui — digo e fico feliz de a voz ter soado firme e

convicta, porque a verdade é que não tenho certeza do que vamos encontrar

lá em cima.

— Com certeza não. Danilo é homem e são onze da manhã. Como

todo mafioso, deve estar trabalhando nos negócios ilícitos — Angelina fala

com uma voz amena e também, sorri para a nossa caçula.

Eu também espero que ele não esteja em casa. Não faço a mínima

ideia do que dizer se o encontrarmos na cobertura. Quero poder explorar o

lugar sem ele por perto, de preferência.

As portas de metal se abrem numa espécie de hall privativo e

luxuoso com um espelho de corpo inteiro de frente para nós. Tem um lustre

enorme e exagerado no teto, uma mesa de centro alta que parece ser feita de
ouro, poltronas confortáveis em um lado e um vaso com uma planta do

outro.

Perto das poltronas, há um pequeno corredor com uma porta de

madeira pesada. Minhas irmãs e eu nos entreolhamos. Não pensamos no

detalhe principal. Como vamos entrar na cobertura se não tiver ninguém em

casa?

Impossível.

— Por isso, eles nos deixaram subir, não tem como passar do hall —

Caterine fala, enrugando o nariz e unindo as sobrancelhas ruivas.

Em vez de falar algo, Barbara ruma na direção da porta e tenta a

sorte. Ao empurrá-la, a madeira desliza para trás de maneira lenta e

silenciosa, fazendo meu coração bombear tão forte dentro do peito, que fica

difícil entender o que as meninas começam a falar.

Que droga!

Eu tenho vinte e um anos, sou a mais velha e há muito tempo, deixei

de ser criança. Mas por que estou agindo como uma? Por que trouxe as
minhas irmãs para xeretar o apartamento de um mafioso que tem fama de

ter matado a primeira noiva?

É uma enrascada e eu sou burra, não tem explicação.


Antes que possa fazer as meninas mudarem de ideia e voltarmos

como um bando de covardes, elas começam a atravessar a porta e entrar na

cobertura.

O papà é superprotetor, mas ser covarde é uma coisa que ele não

ensinou a nós. Apesar de ter orgulho delas por estarem entrando na cova do

leão, ainda sinto um calafrio tenebroso misturado a uma espécie de

excitação se alojar na minha coluna.

Arrasto os pés e acompanho as minhas irmãs, que paralisam alguns

passos depois de entrar. Angelina lança um olhar para mim por cima do

ombro e depois volta a atenção para frente.

Faço o mesmo.

O lugar é imenso. Aparentemente, muito maior do que o

apartamento em que estamos no décimo andar. E além de ser cobertura, tem


uma varanda grande, piscina e espreguiçadeiras. São dois andares e parte

das paredes são feitas de vidro do chão ao teto, o que deixa o lugar bem

iluminado e com uma vista surpreendente do lago Michigan.[9]

No entanto, o mais impressionante é ver Danilo, os seus irmãos e

um homem que eu nunca vi, em volta da mesinha quadrada de centro de


material escuro da sala. Giovanni está em pé, Romeo está sentado ao lado
do meu noivo em um dos sofás e o outro que não sei o nome, no divã de

frente para eles.

Forço o caroço no meio da garganta a descer.

Os olhos de Danilo me capitam e a conexão me faz sentir estranha e

lembrar do nosso beijo na minha casa. Quase consigo sentir a sua língua

invadindo minha boca e marcando território.

Desvio a atenção e noto os papéis espalhados por cima da mesinha

de centro e uma arma compacta servindo de peso para papel.

— As princesinhas de Detroit chegaram — Giovanni anuncia a

nossa entrada, como se não fosse óbvio estarmos ali.

De longe, ele é o homem mais descontraído de todos que conheci na

vida e fazem parte do crime organizado. Bom, existe Pasquale, mas ele é

velho e tem cheiro de cigarro na maior parte do tempo.

Por algum motivo que eu não sei explicar, Danilo volta a chamar

minha atenção e eu noto os lábios arrogantes se repuxarem em um sorriso

para mim.

— Sejam bem-vindas — o anfitrião fala, o tom de voz inofensivo.

Ao levantar do sofá, percebo os pés descalços, o que me faz vê-lo de

uma forma diferente. Não aparenta ser tão perigoso e cruel no momento.
Ele está vestindo uma calça moletom escura, que desenha bem os

músculos das coxas grossas e uma blusa de lã de manga longa da mesma

tonalidade. Os cabelos estão despenteados, deixando o homem incrível e

infelizmente, atraente demais para o meu gosto.

Nem lembra o Diabo que vai tomar posse da minha vida. Da minha

alma manchada de sangue.

Danilo não pede permissão para nada, então, ao caminhar até mim,

envolve a mão firme na minha cintura, deslizando com uma precisão que

faz o meu corpo arrepiar de forma ardente e meio ansiosa. Depois, deposita

um beijo na minha bochecha e abre um sorriso meio sacana, como quem diz

que não vê a hora de reivindicar o que é seu

Meu rosto ferve.

— Dá azar ver a noiva antes do casamento — o homem que não

conheço avisa com um leve tom desdenhoso. Ele é bonito e dono de um

olhar penetrante.

— Foda-se o azar, Matteo — Danilo retruca sem desviar a atenção

de mim. —Fiquei surpreso em saber que estava subindo com a comitiva —

zomba.

— Pensamos que não estivesse aqui, não subiríamos se soubesse

que estava em casa — admito, me sentindo ridícula.


Giovanni e Matteo deixam escapar uma risada. Romeo continua

sério como sempre. Acho que ele é incapaz de sorrir ou mover os músculos

do rosto.

Danilo faz um estalo com a língua.

— Tão atrevida, piccolina. — Ainda com a mão na minha cintura,

ele aperta os dedos em volta dos meus músculos, me fazendo engasgar. —

Precisa de ajuda para conhecer a sua nova casa?

Minha nova casa...

— Não.

Ele ignora a resposta que dou e diz:

— Ótimo, levarei você para conhecer o andar de cima. — Olha para

os três homens na sala e ordena: — Façam com que as meninas se sintam


em casa.

— Impossível — Angelina grunhe e Danilo arqueia uma

sobrancelha desafiadora para ela.

— Esse atrevimento deve ser de família — murmura no pé do meu

ouvido. O hálito quente e com cheiro de menta, roçando no lóbulo da orelha


e fazendo as minhas bochechas corarem.

Minha atenção voa para o rosto dele, e talvez por estarmos muito

próximos e o ambiente iluminado, consigo notar o quão azuis são os seus


olhos. E embora de longe pareçam severos, na verdade, são bem gentis.

Com a mão repousada na minha lombar, nós subimos para o andar


de cima em silêncio. O barulho dos nossos passos sincroniza com os meus

batimentos cardíacos, e a respiração pesada, porém, tranquila de Danilo no


meu cangote, me dá uma sensação estranha de frio no estômago.

No segundo andar, há um corredor extenso com uma parede de


vidro no final. Do meu lado esquerdo há três portas fechadas, e na minha

direita, apenas uma, que Danilo agarra a maçaneta para abrir.

Com um gesto de cabeça, ele me convida para entrar. Ou ordena,


não sei diferenciar.

O quarto é enorme e tudo meio monocromático. Não é ruim, apenas


diferente do que estou acostumada, mas, mesmo assim, é aconchegante. As

paredes de vidro vão do chão ao teto, mas tem cortinas claras para dar
privacidade. Há uma entrada para o closet e outra para o banheiro. Varro os

meus olhos pelo local e paro na cama espaçosa com lençóis brancos.

Se Danilo tiver desvirginado muitas garotas, o que não tenho


dúvidas de que tenha feito, ele vai saber o que acontece na primeira vez de

uma mulher. Não é como um rio de sangue como as pessoas dizem por aí
para assustar as garotas a não transarem antes do casamento.

No entanto, há sangue.
Eu deveria sangrar apenas pelo meu marido.

Foi o que a nonna[10] ensinou para nós quando ainda era viva.
Minhas irmãs e eu devíamos nos manter puras até o casamento e sangrar

apenas por um homem, aquele que viverá para sempre ao seu lado.

Amanhã, eu serei obrigada a deitar com ele e eu não sangrarei por

Danilo. O lençol branco continuará intacto, o que pode desencadear tanta


coisa. Uma guerra. É inadmissível não casar pura, quase como se fosse

pecado deitar com um homem diferente daquele que será seu pelo resto da
vida.

Muito hipócrita, eu sei.

Sinceramente, há crenças e regras nesse mundo que me deixam


confusa e angustiada.

Porém, não há como fugir. Se descobrirem que não sou virgem, a


família Salvatore vai me devolver e pegarão uma das minhas irmãs no meu
lugar. Existem tradições que eles levam a sério demais.

E a virgindade é uma delas.

Como eu vou resolver esse problema? Como vou enganar Danilo

sobre a minha virgindade? Não existe essa possibilidade.

— Algum problema com a cama? — questiona ao parar atrás de


mim, fazendo questão de roçar o peito musculoso nas minhas costas. Ele
pega parte do meu cabelo e afasta para o lado, expondo a pele do pescoço e

enterrando de leve o nariz no local.

Sinto o corpo inteiro pegar fogo com o toque.

— Nenhum. — Levo ar até os pulmões e os olhos dele observam

meu peito subir e descer por causa da respiração funda. — Só me


perguntando quantas mulheres você trouxe pra cá.

Mordo a língua.

Não é bem o que eu estava pensando, mas agora, estou curiosa.


Danilo tem cara de ser um trepador profissional.

Os dedos dele roçam no meu braço e apenas agradeço em silêncio


pelo tecido que separa a sua pele da minha, caso contrário, o homem

perceberia o quanto me deixa mexida com essa aproximação.

— Ah, é?

Se eu fosse sensata, me afastaria dele agora e me manteria longe

pelo tempo que me resta. Mas infelizmente, a verdade pura e simples, é que
o Diabo é lindo e encantador demais para continuar firme e não cair em

tentação.

— Quer saber quantas virgens eu comi? — as palavras rudes enviam


uma vibração intensa para o lugar interessante entre as minhas pernas.
— Aposto que desvirginou muitas garotas inocentes, enquanto

fingia ser um príncipe encantado. Coitadas.

Ele ri de maneira sarcástica.

Por que estou provocando o Diabo? Não faço ideia, só sei que

quando estou perto de Danilo, a minha língua não parece ter freio e as
palavras simplesmente atravessam minha boca como se tivessem vontade

própria.

— Coitadas? — retruca com arrogância. — As mulheres que

passaram pela minha cama não se arrependem disso. Pode ter certeza. Você
também não se arrependerá. A sua primeira vez será inesquecível.

Uma pedra cai no meu estômago e me deixa paralisada. Não tenho o

que falar, então, decido que é uma excelente hora para fazer voto de
silêncio.

— Todos esperam que você sangre por mim, Martina. Vai sangrar
por mim amanhã?

A voz de Danilo revela um tom sereno ao mesmo tempo em que é

acusador, como se no fundo, ele soubesse a verdade.

Parte de mim, uma parte bem tola, deseja com todas as forças que

ele seja um homem bom e compreensivo, que me aceite assim, como eu


sou.
É um mundo tão injusto. Os meninos que nascem no nosso mundo,
iniciam na máfia e matam cedo para provar que são dignos. Mas, a impura

sou eu por não ser mais virgem.

— Vai, Martina? — pergunta de novo, a voz profunda e rouca


atingindo a minha pele e fazendo cócegas.

— É claro — respondo rápido demais.

Venho mentindo tanto, que daqui a pouco ganharei um diploma.

As mãos possessivas pousam na minha cintura e de repente, o

homem me vira e me faz ficar de frente para ele. Por instinto de


sobrevivência, recuo um passo e ele me acompanha, trazendo o corpo cada

vez mais perto de mim.

Paramos apenas quando as minhas costas se chocam contra a parede


de vidro.

— Não minta pra mim — ordena.

— Não estou mentindo — balbucio.

Danilo segura o meu queixo com o indicador e o polegar, projetando

o meu maxilar para cima, o que me faz engolir em seco. Não estou com
medo, é uma sensação diferente.

Devo estar ficando maluca.


— Você não sabe mentir.

Adeus, diploma!

— Não vou sangrar — as palavras atravessam minha boca antes de

o cérebro processá-las. Por alguma razão inexplicável, eu quero ser sincera


com ele. Mas, à medida que vejo os olhos azuis brilhando de um jeito

devasso e furioso, eu volto atrás. — Não vou sangrar, porque não me


deitarei com você amanhã.

— Tem certeza?

Com todo o atrevimento enraizado em mim e que o papà muitas


vezes tentou controlar, entrelaço os dedos em volta do pulso de Danilo e

tiro do meu rosto. Não permitirei que me intimide dessa forma.

Eu serei a sua esposa, não o seu novo brinquedo.

— Vai me tomar a força?

— Eu posso fazer isso — responde, impassível.

— Tente — provoco e como se tivesse apertado um botão


automático, o músculo do maxilar dele se contrai. — E veja o que
acontecerá — emendo, sentindo o juízo saindo de mim e voando para
longe.

— O que acontecerá, Martina? — Danilo insiste, uma das mãos

ainda se mantém firme na minha cintura.


— Eu o odiarei para sempre — murmuro. É verdade, eu o odiarei
com todas as minhas forças, ainda assim, não é apenas isso. Não deixarei

que possua o meu corpo contra a minha vontade sem lutar.

Mesmo que Danilo seja lindo, um pedaço de mal caminho e me


encha de sentimentos de origem questionáveis, não deixarei que me tome a
força. Sei que terei que me deitar com ele, no entanto, acontecerá quando eu
quiser.

Acontecerá no momento em que eu estiver pronta.

— Você ainda vai implorar para ser minha — informa e eu sinto


cada terminação nervosa do meu corpo se fundir em lava.

Nego com a cabeça.

— Não vou, sou uma Giordano. Meu pai não me ensinou a implorar
— rosno entre os dentes, o que faz o cretino curvar a boca em um pequeno

sorriso.

É o Diabo, mas gosto como o seu rosto fica mais leve ao sorrir.

Ele torna a tocar no meu rosto. Agora, as mãos grandes e quentes


me envolvem inteira. Os dedos roçam os cabelos da nuca enquanto o
polegar traça linhas invisíveis na minha bochecha.

E então, os lábios arrogantes falam baixo no meu ouvido, o que me


faz paralisar o corpo.
— Não se preocupe, vai aprender com o tempo, piccolina. E quando
o meu pau estiver na sua boceta, você vai gostar e implorar por mais.

Danilo se afasta, tirando as mãos de mim e saindo do quarto.


Respiro fundo, sentindo o coração bater tão rápido, que é doloroso. Levo a
mão até o peito e massageio, na tentativa falha de me acalmar.

Assim que me sinto confiante de novo, saio do quarto e desço as


escadas. Dessa vez, presto mais atenção no andar de baixo. A sala de estar é

acoplada com a de jantar e cozinha.

Em um canto mais reservado, há espaço para uma sinuca, um


minibar, onde Danilo serve uma bebida num copo de cristal, e há um
tabuleiro redondo pendido na parede. O mais surpreendente é ver Violetta e

Giovanni jogando dardos para acertar a bolinha verde no centro.

Olho para os lados e encontro Angelina, Caterine e Barbara na área


da piscina, conversando com Matteo e Romeo.

Não faço a mínima ideia do que aconteceu aqui, mas chamo a


atenção de Violetta e ordeno que venha para perto de mim. Ela devolve os

dardos que tem nas mãos para Giovanni e se aproxima.

Olho para ela, exigindo explicações.

— Não brigue com ela — Giovanni diz, me irritando.


— Por favor, peço que fique longe da minha irmã — resmungo,

fazendo Giovanni soltar uma risada curta.

As meninas voltam para dentro da cobertura com os homens na


cola.

— Vamos.

— O que aconteceu? — Caterine quer saber e não tenho vontade de


responder.

Como vou falar que Danilo disse que quando o pau dele estiver na
minha boceta eu vou gostar e implorar por mais? Há detalhes que elas não
precisam saber.

— Você está vermelha — ela continua a articular, sussurrando a


última frase e lança um olhar desconfiado para o meu futuro marido, que

ergue o copo de cristal em um brinde silencioso.

— Não aconteceu nada — murmuro.

Faço um gesto com a cabeça para que me sigam e elas o fazem sem
hesitar. Atravessamos a porta e rumamos direto para o elevador, que eu o
chamo e permaneço em silêncio.

Ao sentir as minhas costas queimando, arrisco uma olhadela por


cima do ombro e vejo Danilo no hall privativo, me observando. Bebe um
gole generoso da bebida sem tirar os olhos de mim.
As portas se abrem e nós entramos.

O homem continua me encarando com tanta intensidade, que me faz


estremecer.

Respiro fundo em alívio depois que as portas se fecham.

— O que aconteceu? — Angelina pergunta, estudando as minhas


expressões. — Não minta pra nós, somos irmãs.

— Não sou virgem — admito, encostando a minha cabeça no

espelho do elevador e fechando os olhos com força por alguns segundos. —


Vai ser o meu fim quando ele descobrir.

Vai ser o fim de todos nós. Eles vão massacrar a nossa família.

Mantenho o pensamento comigo, minhas irmãs não precisam saber


o que estou pensando de verdade. Não quero assustá-las.

— Não tem como fingir que é virgem? — Violetta pergunta, me


fazendo rir de desespero.

— Não — respondo com a voz baixa.

— Precisamos resolver isso — Caterine fala, esquadrinhando o meu


rosto. — Precisamos fazer algo, Martina — acrescenta, fazendo-me

perceber que tem noção do que nos espera se a família Salvatore descobrir
que a noiva não é virgem.
— Não tem como resolver. — Odeio estar sendo pessimista.

Infelizmente, é a verdade.

— Deve existir algo que possamos fazer — Angelina articula,


deixando o meu coração aquecido. Nós duas estamos longe de sermos as
melhores irmãs do mundo, mas nos amamos, e é isso que importa.

— Não digam nada a ninguém e não se preocupem comigo — peço


e elas assentem em sincronia. — Vou resolver esse problema.

— Como? — Violetta questiona, a expressão amuada tomando


conta do rosto bonito e delicado.

— Não faço a mínima ideia — sou sincera. Balanço a cabeça de um

lado para o outro. — O que estava fazendo com Giovanni? — pergunto,


porque estou curiosa e quero mudar de assunto. Ficar falando da minha não
virgindade não vai resolver a situação.

Violetta dá de ombros.

— Ele não é tão assustador como seu noivo, sei lá. Até gosta do Led

Zeppelin — minha irmã fala ao apontar com o dedo para o moletom com
estampa de rock que está usando.

Reviro os olhos e começo a rir, fazendo-a as meninas se juntarem a


mim um segundo depois.

As portas do elevador se abrem no nosso andar.


— Não digam nenhuma palavra do que estávamos fazendo para o
papà — aviso e elas concordam sincronizadas outra vez.

Ele nos matará se souber o que estávamos fazendo e que ficamos


sozinhas num apartamento com quatro homens.
Martina não é virgem.

Eu leio bem as pessoas e a garota é uma péssima mentirosa. Os

olhos brilham de uma maneira hesitante quando está mentindo ou apenas,


omitindo a verdade.

Por um momento, eu achei que ela fosse ser sincera e abrir o jogo

comigo, mas eu sou um fodido ciumento, então não consegui aceitar muito
bem e os músculos do meu rosto pareceram ter vida própria ao ouvir que

ela não sangraria por mim.

Não gosto de saber que ela já foi tocada por outro. A garganta fica
áspera e eu fico puto só de imaginá-la revirando os olhos de prazer para

outro homem. Mas eu a escolhi para ser minha esposa e não mudarei por

causa desse detalhe.


O papà não pode descobrir. Não tenho dúvidas que ele o fará se

passar dez minutos a sós com Martina. E se acontecer, ele mandará uma das

irmãs subir no altar em vez da mulher que eu escolhi.

Exagerado e escandaloso? Sim, definitivamente. Mas o meu pai

sempre acreditou que uma esposa tem que ser pura e intocada até o

casamento. Apenas assim para ser digna o bastante de se tornar uma

Salvatore.

O nome Salvatore é oposto do significado que carrega. Não somos o

salvador de ninguém, muito pelo contrário. Nosso nome é coberto de

sangue das vidas que tiramos sem remorso.

Hipocrisia do caralho.

Ao ver as meninas saindo para fora da cobertura, acompanho até o


hall privativo e as observo em silêncio, bebericando a minha bebida.

Martina usa uma calça jeans preta bem justa, que desenha de forma

perfeita o rabo em forma de coração. A blusa de manga longa tem decote

reto e sexy pra caralho, que vai de um ombro a outro, exibindo a pele macia

que não vejo a hora de provar.

Ela lança um olhar sorrateiro para mim e ficamos assim por um

longo segundo, até que a garota engole em seco e desvia a atenção para
entrar no elevador. Meus olhos captam as duas pedras de gelo antes das

portas se fecharem por completo.

Volto para dentro da cobertura e me acomodo ao lado de Romeo no

sofá, colocando o copo de whisky em cima da mesinha de centro. Sentado

no divã, Matteo me observa com o cenho franzido.

Sem paciência, eu resmungo:

— O que foi? Por que está me olhando desse jeito?

— O que aconteceu? — meu primo quer saber. — Parece pronto pra

matar alguém.

Decido ignorar o questionamento ao rebater:

— Vamos voltar ao trabalho.

— Brigou com a noivinha? — Giovanni pergunta curioso ao se

juntar a nós em volta da mesa de centro coberta de papéis.

Devagar, ergo os olhos para o meu irmão e o fuzilo. Ele me conhece

bem, não preciso dizer uma única palavra para ele saber que não quero

conversar no momento.

Retornamos ao trabalho e eu faço um esforço grande para não

pensar em Martina transando com outro cara, ou ficar me perguntando se

Jason é o cretino que tocou na minha noiva.


É ele.

Com certeza, é o imbecil.

Naquela noite, o moleque estava bem obstinado em conversar com

ela e se não fosse pela ameaça que recebeu com uma arma apontada para a

cabeça, não teria desistido.

Eu deveria ter o matado quando o encontrei em Detroit dias atrás.

Se ele não tiver saído da cidade, eu o matarei.

Talvez, eu não seja o primeiro a tocá-la, entretanto, serei o único

homem vivo.
A mãe de Danilo é linda.

Os cabelos loiros caem até a altura dos ombros e os olhos são claros

como os dos filhos. Tem um ar elegante pairando sobre a cabeça, e a


postura é sempre ereta, como se relaxar os ombros fosse proibido.

É dona de um sorriso gentil, porém, triste.

Realmente linda e elegante, ainda assim, um pouco sem brilho.

Para ser sincera, a mãe de Danilo me lembra alguém infeliz. Uma

pessoa que apenas está tentando sobreviver um dia de cada vez. Sem
objetivos ou planos.

Apenas, suportando tudo e esperando o fim.

É triste.

Solitário.
— A fama de Giuseppe Giordano sobre ser o pai das meninas mais

bonitas de Detroit não faz jus ao que é de verdade. Você é uma bela

ragazza[11], Martina — a senhora Salvatore fala, chamando a minha atenção.

Sorrio para ela.

— Obrigada, senhora Salvatore.

Estamos na mansão da família de Danilo para tomar um chá.

Por causa do orgulho do papai, conseguimos escapar de nos

hospedar aqui, porém, as meninas, a mamma e eu não tivemos escolha e

nem como fugir do encontro com a minha futura sogra.

Eu confesso que cheguei a pensar que ela seria uma pessoa terrível.

Pelo que ouvi do sr. Salvatore e a fama de Danilo, achei que apenas uma

pessoa do mesmo nível para conseguir sobreviver a essa família.

No entanto, fico feliz de estar enganada.

A sra. Salvatore é tranquila e simpática, o oposto dos filhos e

marido.

Equilíbrio é tudo.

— Venha, vamos para o jardim — ela fala com um tom gentil e

educado, fazendo um gesto quase imperceptível com a cabeça para que a


sigamos.
A mansão Salvatore tem uma decoração clássica e exuberante, é

enorme e tem três andares. Só que parece vazia e silenciosa demais, mesmo

com os burburinhos que o vento traz do jardim.

Chegamos na cozinha, e as grandes portas de vidro dão uma visão

significativa do esquadrão que trabalha ao ar livre para dar forma ao local

que acontecerá a cerimônia e a festa de casamento amanhã.

Em um canto mais afastado no jardim, há um gazebo delicado feito

em madeira branca e com um telhado hexagonal fofo de tijolos pretos.

Dentro do lugar, tem uma mesa redonda com toalha delicada por cima e

cadeiras acolchoadas.

A senhora Salvatore é a primeira a se acomodar em uma cadeira no

gazebo, depois a mamma. Eu e minhas irmãs fazemos o mesmo, em

silêncio. De onde estamos, dá para ver as pessoas trabalhando no jardim.

De repente, duas mulheres usando uniformes pretos e discretos, se

aproximam de nós e começam a servir chá com macarons.

— Eu sempre quis ter uma menina — ela comenta, olhando para nós

e depois, para a mamãe, que abre um sorriso gentil.

— É uma tremenda confusão. Às vezes, são piores que garotos — a

mamma fala, arrancando uma risada singela da senhora Salvatore.


Ela abre a boca para comentar algo e o seu rosto muda de cor de

forma instantânea ao ver algo atrás de nós. Nem tenho tempo de olhar, pois

logo Alberto Salvatore se junta a nós no gazebo.

Engulo com força.

— Pensei que fosse passar o dia trabalhando, querido — a senhora

Salvatore fala, a voz comedida enquanto tenta sorrir.

O homem a ignora.

Não é preciso muito para perceber que ela o teme. Meu pai não é a

pessoa mais moderna e amável do mundo, porque meus avós o criaram com

rigidez, no entanto, nunca vi a mamãe com medo dele ou algo parecido.

Ela o respeita e nunca o questiona. Mas, na relação deles, não há

medo. Ela o ama, mesmo que o papà não consiga amá-la com todo o seu

coração por causa da minha falecida mãe biológica.

Só que estes dois à minha frente, são completamente diferentes. Ela

o teme antes de respeitá-lo. Talvez, nem o respeite de verdade.

— Martina Giordano.

A voz rouca atinge os meus ouvidos e arrepia os pelos dos meus

braços de maneira tenebrosa. Os olhos duros se focam em mim, me

analisando minuciosamente. Agradeço em silêncio por estar usando casaco

e não ter muita pele à mostra.


Fico sem saber se fico sentada ou me levanto para cumprimentá-lo.

— Senhor Salvatore — falo e sorrio, feliz pela voz ter soado firme e

convicta.

O pai de Danilo olha as minhas irmãs, analisando cada uma e em

seguida, cumprimenta a minha mãe.

— Têm belas filhas, Marta — o chefe do império Salvatore chama a

mamma pelo primeiro nome.

— Obrigada, Don Salvatore — mamãe agradece, embora esteja

nervosa, porque eu sei que está, já que não para de girar a aliança no dedo

anelar, um gesto que sempre faz quando está ansiosa ou nervosa.

Mamãe mantém o queixo erguido.

— Não se preocupe — o Don fala, oscilando a atenção de mim para

a mamma. — Minha família cuidará bem de Martina — acrescenta, mas

não consigo acreditar de verdade nas palavras que saem da boca desse

homem. Tenho a sensação de que ele não hesitará em me usar contra o papà

se for preciso.

Forço os lábios a esticarem em um sorriso e as minhas irmãs fazem

o mesmo.

Por um milagre divino, o celular dele começa a tocar dentro do

bolso da calça social e é o suficiente para o homem se despedir e girar nos


calcanhares.

Noto minhas irmãs respirando fundo.

— Cuidarei de Martina como se fosse minha filha.

A senhora Salvatore fala para a mamma com tanta sinceridade e

lástima, que murcha o meu coração. Não duvido das suas intenções, porque

aparentam ser sinceras. No entanto, por que ela parece tão triste ao falar que

vai cuidar de mim?

— Obrigada, Eleonora — mamãe sussurra.

Fico surpresa ao vê-la pegar as mãos da minha sogra entre as suas e

assentir com um sorriso melancólico no rosto.

Esse deve ser o chá da tarde mais triste do universo.


Acordo esbaforida e com um calor estranho no corpo. Barbara que
está deitada ao meu lado no colchão, resmunga por eu ter me mexido. Sem

fazer movimentos bruscos, rolo para fora da cama e calço as pantufas.

Caminho até o banheiro e paro em frente à pia. Decido molhar o


rosto para me refrescar. Estamos em pleno mês de março e apesar de marcar

o fim do inverno, o frio ainda incomoda. Deve estar uns cinco graus lá fora,
e eu aqui, morrendo de calor por ter tido um sonho bizarro com meu futuro

marido.

As bochechas esquentam de novo e eu jogo água no rosto para

esfriá-las.
Merda.

Foi tão real.

Nós estávamos no seu quarto, em cima da cama, molhando os

lençóis brancos de suor por estarmos transando. Embora fosse eu debaixo


de Danilo gemendo durante o tempo em que ele entrava e saía de dentro de

mim, eu também era apenas a alma flutuante observando tudo pela


perspectiva de uma terceira pessoa.

Enlouqueci de vez.

Preciso espairecer a cabeça.

Saio do banheiro sem fazer barulho, pego o roupão longo em cima

do sofá perto da grande janela de vidro com vista para a cidade. Depois de
passar o tecido macio e quentinho pelo corpo, caminho para fora do quarto.

O apartamento está todo silencioso e escuro. Na penumbra, arrasto

os pés até a porta para sair e caminhar um pouco. Do lado de fora, os


soldados de Danilo ajeitam a postura ao me verem.

A expressão de quem está pronto para a guerra tomando conta dos


rostos pouco amigáveis.

— Algum problema, senhorita Giordano? — um deles pergunta e eu

apenas nego com a cabeça.

— Nenhum, quero apenas caminhar um pouco.


O outro estreita os olhos com desconfiança palpável para mim.

— No meio da madrugada? São duas horas da manhã — retruca

num tom acusatório e cheio de crítica, que me deixa irritada pra caramba.

— Não vou fugir se é isso que passou pela sua cabeça — falo entre
os dentes e o encaro com ódio.

Sem dizer mais nada, dou as costas para os dois e entro no elevador.
O homem com o olhar desconfiado faz um gesto de quem vai entrar para

me acompanhar e eu o impeço ao negar com a cabeça.

Se ele acha que vai insinuar que vou fugir e depois me seguir como

a merda da minha sombra, está enganado.

Aperto o botão do térreo e em seguida, cruzo os braços na altura dos


seios e observo o meu reflexo no espelho.

— Até parece que eu fugiria de pijama e pantufas — começo a


conversar sozinha. — Sem celular ainda por cima.

Fecho os olhos com força e respiro fundo.

As portas de metal se abrem no lobby do prédio. O espaço é bem


elegante e sofisticado, com colunas gregas e piso de mármore branco. Há

homens vestindo terno preto e com rádios comunicadores para todos os


lados, e assim que as atenções deles se fixam em mim, todos ficam em

posição de alerta.
Até o homem detrás do balcão da recepção deve ser da máfia.

Ignorando todos os olhares, atravesso o lobby de cabeça erguida e

passo pelas portas giratórias, o que me arrependo no segundo em que


alcanço a rua. O vento gelado toca o meu rosto com um tapa violento e me

faz gemer de frio.

Contorno o meu corpo com os braços e tento me esquentar para

amenizar o frio da madrugada.

São duas horas da manhã e as ruas continuam agitadas, como se não


dormissem hora nenhuma.

Não há nada para fazer aqui fora, só que não quero dar meia volta e
entrar tão rápido. Ainda mais agora, que vejo dois soldados saindo do

prédio para assistir a cada movimento que dou.

Não é apenas o papà que é orgulhoso.

Eu sou também.

A dignidade e o orgulho me deixam passar frio por uns dez minutos


apenas. Ou eu congelo na rua. Ou dou o braço a torcer e vou para dentro do

prédio.

Estou prestes a girar nos calcanhares quando paraliso ao sentir algo


pesado e quente cobrindo os meus ombros.
Viro o rosto para o lado e os meus olhos encontram Danilo. É

instantâneo, minha cabeça é preenchida com imagens do sonho que tive.


Sinto as bochechas formigarem e o sangue bombear nos meus ouvidos junto

com a voz incisiva do mafioso.

Quando o meu pau estiver na sua boceta, você vai gostar e implorar

por mais...

Ele está arrumado, usando terno bem passado e tem um cheiro


refrescante de pós-barba. Deixo a atenção cair para o sobretudo enorme que

ele colocou em cima de mim.

— Planejando fugir de pijama no meio da noite?

Reviro os olhos e ele me repreende ao fazer um estalo com a língua

contra o céu da boca.

Resolvo ignorar as palavras que saíram dos lábios arrogantes e

sedutores de Danilo.

— Saindo? — arrisco.

Ele está lindo e vestido de uma forma tão impecável. Será que está

indo ver alguma mulher? Não duvido.

O papà nunca traiu a mamma, mas escuto várias histórias sobre os

seus caporegimes e soldados traírem as suas mulheres.


Amar a primeira e falecida esposa pode ser considerado traição?
Porque se sim, meu pai também é um traidor como os outros dentro da

organização.

— Acabei de chegar — ele diz, tão rápido, que fico sem jeito.

Não achei que fosse responder a minha pergunta. Geralmente, os

homens da máfia odeiam que as mulheres se intrometam ou façam


perguntas sobre alguma coisa que não seja filhos e os afazeres de casa.

— Estava no estacionamento quando me disseram que minha noiva

estava fugindo de pijama.

— Não estava tentando fugir, só queria ar fresco — devolvo,

fazendo-o semicerrar os olhos para mim, o que é bem fofo para falar a
verdade. — Está arrumado assim para os negócios? Ou é para alguma

mulher?

A boca de Danilo se curva de maneira prepotente ao me ouvir.


Sinceramente, odeio quando ele faz isso, porque as borboletas no meu

estômago se agitam.

E eu odeio não conseguir controlar a minha própria boca.

— Por que quer saber?

A pergunta faz o meu corpo estremecer ainda mais de frio.


— Não interessa — retruco e passo por ele para alcançar as portas
giratórias, o que o homem me impede de fazer ao envolver a mão na minha

cintura e me puxar contra o próprio corpo. — Me solta, por favor. Quero


entrar.

— Negócios — murmura, capitando os meus olhos.

Faço um gesto positivo com a cabeça e mesmo assim, Danilo não


me larga. Em vez disso, as mãos na minha cintura me giram um pouco e ele

nos conduz para dentro do prédio. O corpo quente e musculoso roçando nos
meus braços, fazendo-me travar um pouco e me deixando meio ansiosa.

Estamos próximos demais.

Atravessamos o lobby juntos. Paramos em frente ao elevador e


Danilo o chama. Ficamos em silêncio, mas o toque dele em mim diz tanta

coisa. Na verdade, grita para todos os olhares direcionados a nós que eu

pertenço a ele.

As portas de metal se abrem e meu noivo me guia para dentro.


Nenhum soldado ousa nos acompanhar, apenas nos observam com olhos de
águia.

Danilo aperta o botão do meu andar.

— O que estava fazendo lá fora?

— Pensando — murmuro.
— Existe algo que eu deva saber, Martina? — pergunta ao se
aproximar de mim de maneira lenta. Cada passo de Danilo vindo na minha

direção, faz o meu corpo encrespar com a ameaça de perigo, mas também
me deixa excitada.

— Não.

— Tem certeza?

— Absoluta — devolvo, e ele solta um suspiro longo e pesado.


Forço o nó entalado no meio da garganta a descer.

O homem fica me encarando de modo intenso, como se lesse meus


pensamentos até as portas se abrirem no meu andar.

Eu sinto que fugir de Danilo não é uma boa ideia, porque ele
aparenta ser alguém que adora uma caçada, mas, mesmo assim, eu o faço.
Saio do elevador tão rápido, que nem tenho tempo de ver as suas reações.

Corro para a porta do apartamento e nem olho para atrás ao abri-la.


O lugar ainda continua silencioso e escuro. De mansinho, me esgueiro até o
quarto e ao tirar o roupão para deitar na cama, me dou conta de que
também, estou vestindo o casaco de Danilo.

O cheiro é bom e meio viciante, e sinceramente, detesto chegar a

essa conclusão. Afundo no colchão, ouvindo Barbara resmungar e encaro o


teto até adormecer.
Não tenho controle.

A primeira pessoa que preenche minha cabeça ao fechar os olhos é

Danilo Salvatore.
— Você está linda, querida — o papà fala ao entrar no quarto e olhar

para mim.

Sinto o rubor subir pelo meu rosto, me perguntando se ele desconfia


que eu trouxe a faca que as meninas pegaram no seu escritório e a coloquei

no coldre que escondi na coxa.

— Perfeita — ele murmura, ainda me admirando.

Ele ostenta um terno italiano cinza elegante. Embora esteja lindo,

não está nenhum pouco feliz com o casamento.

Faz uns quinze minutos que coloquei o vestido de noiva e calcei os

sapatos, que estão incomodando bastante. Mesmo assim, não consigo parar

de admirar a minha imagem refletida no espelho. O vestido cai de forma


perfeita no meu corpo, meu cabelo foi preso em um coque baixo com uma
espécie de trança e há pequenos grampos de diamantes enfeitando o

penteado.

Sorrio para o meu pai ao me virar devagar.

— Obrigada.

— Danilo acabou de sair — informa, como se a essa altura do


campeonato, fosse fazer alguma diferença vê-lo antes da cerimônia. No

entanto, o papà não sabe do nosso encontro de madrugada, muito menos de

que as meninas e eu fomos à cobertura ontem depois de chegarmos aqui.

As minhas irmãs entram no quarto também e ao vê-las prontas, sinto

a ansiedade martelar nas minhas têmporas, me deixando enjoada.

Elas serão as minhas madrinhas e todas usam vestidos longos e da

mesma tonalidade de rosa claro. Desde que acordaram não disseram quase

nada e se arrumaram como se estivessem indo para um velório.

A mamma entra no quarto logo em seguida, segurando um véu

delicado e curto nas mãos. Ao contrário das meninas, o vestido é de um tom

lilás pastel, que combina de maneira perfeita com os cabelos ruivos soltos e

o rosto com pouca maquiagem.

— Não podemos esquecer o algo velho — comenta e tenta me dá

um sorriso encorajador.

— Claro.
Ela se aproxima de mim, e junto com a cabeleireira que veio

especialmente para arrumar as mulheres da nossa família, encaixa no meu

cabelo o véu curto que veio de várias gerações da família da mamma.

É uma piada eu estar usando o véu para representar a minha honra e

dignidade, mas ninguém além das minhas irmãs sabem sobre eu não ser

mais virgem, por isso, fico quieta.

Volto a me olhar no espelho e respiro fundo.

Agora está completo.

Estou com algo emprestado, que é o colar delicado que foi da


nonna, e o algo azul é o meu buquê de flores.

A maquiadora e a cabelereira fazem os últimos retoques antes de me

deixarem sair do apartamento para a mansão dos Salvatore, onde acontecerá

a cerimônia.

— Pronto, mesmo se chorar por causa da emoção, os olhos

permanecerão intactos — a maquiadora diz, sorridente e minhas irmãs e eu

nos entreolhamos.

Chorar por causa da emoção... Com certeza, é algo que não vai

acontecer.

As meninas e a mamma descem primeiro de elevador e depois, o

papà e eu, que vamos na mesma limousine. Ele senta de frente para mim, a
expressão séria e o olhar distante.

— Vai ficar tudo bem — digo, porque sinto que ele precisa ouvir

isso de mim. — Vai ficar tudo bem, papà.

Ele concorda com um aceno firme de cabeça.

— Seja uma boa esposa, Martina. Não seja tão atrevida e nem o

desobedeça — pede.

Talvez, esteja ordenando. E odeio que essa seja a única coisa que as

pessoas esperam que eu faça. Ser obediente e uma boa esposa para Danilo.

Será que ele escuta a mesma coisa da sua família? Que ele deve ser um bom

marido para mim?

Aposto que não.

— Sei o que está pensando, filha — papai diz, chamando minha

atenção e prendendo os nossos olhos. — Mas eu peço isso para o seu bem.

Danilo não é alguém que deva ter os limites testados.

Respiro fundo e anuo.

— Eu sei.

É mentira. Testar os limites de Danilo não é algo que eu meio que

venho fazendo desde que ficamos noivos?


— Então vai ficar tudo bem — comenta, convicto e abre meio

sorriso para mim, tentando esconder a melancolia que faz os seus olhos

brilharem.

— Vai sim, papà — murmuro e me inclino para frente, pegando uma

das mãos dele entre as minhas e apertando com força. — Proteja as

meninas. Por favor.

Papai fecha os olhos por um segundo e prensa os lábios ao fazer um

movimento positivo com a cabeça.

— Não se preocupe, eu as protegerei.

Quando a limusine para em frente a mansão Salvatore, a

cerimonialista pede para esperarmos um pouco. Pela janela do carro,


observo a fachada clássica e suntuosa, tentando acalmar os nervos.
Depois de vinte minutos, um soldado abre a porta da limousine e o

papa é o primeiro a sair, em seguida, estende a mão para mim. Trato de

colocar um sorriso no rosto e parecer uma noiva feliz ao envolver nossos

dedos e descer do carro.

Com delicadeza, o papà traz o véu para frente e esconde o meu

rosto. Não consigo impedir o sentimento estranho que se instala dentro do

peito. Não sou mais virgem e ainda assim, estou fingindo ser uma.

A cerimonialista e mais duas mulheres de terninho preto atrás de

mim, seguram a calda do vestido para que eu possa entrar na mansão sem

dificuldade.

— Pronta, querida?

De repente, não encontro minha voz, então, apenas assinto para o


papai com um sorriso no rosto, mesmo que ele não possa ver.

Entramos no hall de entrada e somos guiados pela lateral da casa, na

direção do jardim. Não sei como me sentir ao ver que pétalas brancas e

vermelhas foram jogadas no caminho que estou percorrendo. É lindo e

romântico. É uma pena não estar casando por amor.

Assim que colocamos os pés para fora da mansão na direção do


jardim, a tradicional marcha nupcial começa a tocar. A sincronização faz o
meu coração acelerar e as borboletas no meu estômago dançarem no ritmo

dos acordes que preenchem os meus ouvidos.

No jardim, tudo combina com o final da tarde de primavera. Há uma

tenda grande do lado esquerdo, com pista de dança e espaço para a banda.

Há também, cinco fileiras de cadeiras de um lado e cinco do outro, tem

tanta gente, que grande parte, não faço a mínima ideia de quem sejam.

Tem um fotógrafo do meu lado esquerdo, que começa a fazer


cliques na minha direção e eu agradeço em silêncio pelo véu conseguir

esconder o meu nervosismo.

Agarrada ao papá, descemos os degraus que separam a mansão do

jardim e todos os rostos viram para mim.

Há alguns metros de distância, foi montado um gazebo de ferro


cheio de flores brancas para comportar o altar. Minhas irmãs já esperam de

um lado e os padrinhos do noivo, no outro.

Danilo está no altar, com um ar grandioso pairando sobre ele.

Lindo.

Impecável.

Todo confiante, como se fosse dono do mundo.

E mesmo com a fama que carrega de ser um monstro cruel, no

momento em que os olhos me encontram, eu consigo notar o quanto são


gentis.

Meus passos até Danilo são lentos, o que me deixa ainda mais
ansiosa. Mesmo que eu tenha vontade de correr para o lado oposto do dele,

quero que a caminhada acabe logo.

Paramos em frente ao altar e com delicadeza, o papà me vira para

levantar o véu e depositar um beijo na minha testa.

Com o maxilar cerrado, ele me entrega ao Danilo.

A mão do mafioso vem firme e quente contra a minha, e por incrível

que possa parecer, até mesmo, aconchegante. O sentimento me faz erguer


os cílios para encará-lo, fazendo uma onda elétrica percorrer o meu corpo

inteiro e se alojar na minha coluna ao mesmo tempo em que arrepia os


pelinhos da minha nuca.

A marcha nupcial cessa e eu escuto o sangue bombear com força


nos meus ouvidos. Para ter um pouco de estabilidade, desvio a atenção de
Danilo e fixo no padre, que dá início a cerimônia.

Dando vida ao casamento que mudará a minha vida para sempre.

Dando vida a união que vai salvar minha família das garras dos

Salvatore. Não completamente, mas o suficiente para me deixar tranquila e


deixá-los seguros.

Pelo menos, é o que eu espero.


O padre faz a saudação e inicia um hino de louvor e adoração antes

da oração inicial.

— Estamos reunidos aqui na presença de Deus para testemunharmos


o Matrimónio de Danilo Salvatore e de Martina Giordano — ele começa a

falar, todo centrado e com a voz tênue, em seguida, dá espaço para o


evangelho, como se as palavras da bíblia fossem fazer alguma diferença de

verdade para nós.

Ele sabe quem somos e o que fazemos, mas dinheiro é dinheiro, não

importa se vem do sangue ou não. E o homem de fé, adora as nossas

doações generosas para a sua igreja.

E então, ele direciona a atenção para nós dois e faz a oração de

intercessão.
— Deus nosso Pai, assim como sustentaste Danilo e Martina em

amor e confiança, permite também que pelo poder do teu Santo Espírito,

eles possam cumprir os votos que vão fazer na Tua presença. Por Jesus

Cristo nosso Senhor. Amém.

Viro o meu corpo para Martina e ela faz o mesmo. Com firmeza,

seguro a sua mão pequena, que por incrível que pareça, não está trêmula. A

garota mantém a cabeça erguida ao olhar para mim, enquanto me escuta

recitar os meus votos.

— A palavra é o melhor que um homem tem a oferecer. Por tanto,

faço uma promessa. A promessa sagrada que não pode ser quebrada. Eu

farei o que for necessário para protegê-la, porque agora, você é minha
esposa. Minha família.

Os olhos dela brilham ao escutar minhas palavras.

— Eu, Danilo Salvatore, recebo você, Martina Giordano, como

minha legítima esposa. Prometo ser fiel, te amar e te respeitar. Na alegria e

na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias

das nossas vidas — continuo, fazendo-a respirar fundo.

Com os olhos fixos em mim, Martina recita os seus votos, a voz

calma e serena.
O padre eleva a almofada pequena de veludo que comporta as

alianças e as dedica a Deus ao falar:

— Senhor Deus, torna estas alianças símbolos do amor destes teus

filhos, e consagra no teu amor, a sua união.

Depois da benção do padre, pego a aliança delicada da almofada e

deslizo pelo dedo anelar de Martina, que começa a respirar ofegante, quase

como se estivesse se dando conta de que não tem mais como voltar atrás.

— Martina, receba esta aliança como sinal do meu amor por você e

da minha fidelidade.

Não existe amor entre nós, nosso casamento é um contrato de

negócios, ainda assim, a aliança que acabo de colocar no dedo de Martina,

representa a nossa união, que jamais poderá ser desfeita.

Nunca.

Não existe possibilidade de divórcio no mundo em que crescemos e

vivemos. Agora, ela está enlaçada a mim pra sempre e será minha até o meu

último suspiro.

— Em nome do pai, do filho e do Espírito Santo. Amém — emendo.

Ela engole em seco e tenta respirar fundo antes de retirar a aliança

da almofada de veludo e colocar no meu dedo, recitando também as

benditas palavras. Falando do amor que não sentimos um pelo outro.


Falando de um amor, que talvez, nós dois, nunca vamos chegar a

conhecer.

— Não separe, o homem, aquilo que Deus uniu. Eu vos declaro

marido e mulher. Pode beijar a noiva.

Depois de ouvir as palavras do padre, devagar, Martina ergue os

cílios para mim. Os olhos azuis me encarando com um brilho absurdo, o

peito subindo e descendo por causa da respiração ofegante e os lábios


aguardando os meus.

Ela é a mulher mais linda que eu já vi na vida. E vestida de branco,

está perfeita.

Sei que os homens que assistem ao nosso casamento no momento,

dariam muito para colocar as mãos em Martina.

E nunca o farão, porque ela é minha.

Enfio uma das mãos na nuca e a outra, na cintura fina e marcada

pelo vestido. Roubo um gemido entrecortado dela ao trazê-la contra o meu

corpo.

Pela visão periférica, vejo o padre pigarreando. Provavelmente, por

causa dos meus gestos inapropriados para o momento.

Curvo um pouco o meu corpo sobre o de Martina, rompendo toda a

distância que restou entre nós. Ela é pequena, mas hoje, por conta dos saltos
que usa, a nossa diferença de altura não é tão grande.

Ela permanece de olhos bem abertos, esperando por mim.

De maneira firme, possessiva e feroz, encosto meus lábios nos de

Martina, fazendo-a fechar os olhos e suspirar, depois, amolecer nos meus

braços. A boca é macia e molhada com um leve gosto de morango.

E eu gosto pra caralho da sensação de tê-la assim, na minha boca,

estremecendo o corpo por causa da minha língua.

Não vejo a hora de fazê-la minha por completo. De tê-la na minha

cama, por debaixo de mim, se contorcendo enquanto me afundo fundo nela

e a escuto gemer o meu nome.

Volto a me afastar, sem soltá-la e ao encarar os olhos azuis e

grandes, noto as bochechas ruborizadas.

Martina molha os lábios com a língua e morde o inferior, o que me

deixa meio hipnotizado. E excitado também.

A mão na sua nuca aperta e ela deixa escapar um pequeno gemido

entrecortado.

— Você é minha.

— Eu sei — admite com um sussurro.


Depois da chuva de arroz e os gritos de alegria, como se fosse um

casamento como outro qualquer, os convidados fazem fila para nos


cumprimentar. Sorrio para todos, fingindo saber o nome de cada um que

aperta minha mão e elogia a minha beleza.

Algumas mulheres ainda arriscam falar que tenho sorte de ter um


marido bonito como Danilo.

Olho-o de esguelha.

Elas têm razão.

Danilo poderia ser como o Pasquale.

Não que eu tenha algo contra ele, mas apesar da boa forma, o
caporegime do papà é esquisito demais e tem um cheiro bem marcante de

cigarro misturado a um toque de perfume amadeirado.


Desde cedo descobri que é uma péssima combinação.

Falando nele, o homem para à minha frente com um sorriso

contagiante e a esposa agarrada ao seu braço. Pasquale tem um cavanhaque


chamativo e olhos acentuados que combina com o seu estilo único.

Sempre que o encaro, a palavra família vem na minha cabeça. Ele

sempre esteve presente na minha vida e das meninas, e nós basicamente


crescemos com Chiara, a sua filha.

Pasquale me dá um abraço bem apertado, o que não passa

despercebido aos olhos de Danilo, que aparentemente, não está muito feliz
com o nosso contato.

O homem contrai o maxilar, mas não diz nenhuma palavra para o

subordinado do papà, apenas finge um sorriso quando ele o cumprimenta


com um aperto de mão e felicita o nosso casamento.

— Ele é corajoso — Danilo fala no pé do meu ouvido, encrespando

a minha pele toda. — Tocando na minha mulher desse jeito.

— Sabe que ele não é uma ameaça, não é? — retruco baixinho e

sorrio para o casal que para na nossa frente e começa a tagarelar.

— Todo homem com um pau é uma ameaça, piccolina — rosna.

Lanço um olhar para ele e o observo por um instante, pensando no

que retrucar. E a única coisa que consigo, é lembrar da sensação dos lábios
de Danilo contra os meus.

Quando ele segurou a minha nuca e me puxou contra o próprio

corpo, eu pensei que fosse me dá um beijo desentupidor de pia, enfiando

toda a língua arrogante na minha boca e me fazendo engasgar.

Até imaginei o padre, pedindo de forma discreta, que ele parasse.

No entanto, foi um beijo singelo, só que feroz também. Os lábios


dele foram precisos, firmes e quentes, o que condiz com a sua

personalidade, mas não posso negar que foi... estranho.

Não de um jeito ruim, muito pelo contrário. Apenas, não imaginei


que ele fosse se comportar. Achei que seria um beijão daqueles, como o que

trocamos na sala da minha casa.

Ele é um homem que faz tudo o que quer. E que também, não hesita

para nada.

Fico me perguntando se já o fez alguma vez na vida. Com o pai que

tem, duvido muito. Só que a senhora Salvatore aparenta ser uma boa

mulher. Sei que deve ter dado amor aos filhos ou protegido os meninos de
alguma forma.

Nem que tenha sido um pouco.

Ou talvez, eu só esteja tentando me enganar em relação ao meu

marido. Talvez, eu queira acreditar que Danilo tem camadas igual uma
cebola, e que aos poucos, se eu tentar, conseguirei ver quem ele é de

verdade.

Nossa relação é um casamento arranjado, mas eu não fui exatamente

obrigada a me casar com ele. Eu me casei com Danilo para salvar Violetta.

E eu o faria de novo, se fosse preciso.

Eu não sou tola, o sentimento de amor entre nós dois, é algo que

pode nunca vir a acontecer. E acho que estou bem com isso, no entanto, não

quero um casamento como o dos seus pais. Minha sogra não ama o marido,

apenas, o teme.

E mesmo com a fama que tem, não quero temer Danilo.

Talvez, eu seja louca e devesse fazer exatamente isso, temê-lo.

Temer Danilo para sobreviver aqui em Chicago e quem sabe, conseguir ver

sempre que quiser a minha família.

As meninas e eu tivemos uma criação regada a tradições, e a

submissão da mamma sempre deixou claro para nós, a forma como

devemos ser como esposas e tratar os nossos maridos.

Porém, devo ter algum parafuso solto dentro da minha cabeça,

porque não consigo me imaginar sendo como a mamãe.

Submissa.

Quieta.
Sinônimos do significado do que é ser uma boa esposa e que não

combinam em nada comigo.

Depois de aceitar a felicitação do último convidado, Danilo envolve


a mão na minha e entrelaça os nossos dedos, me guiando para a mesa

central e enorme que exibe as nossas famílias juntas.

Apesar de não gostar como as outras pessoas podem me observar de

diferentes ângulos a festa inteira, respiro aliviada por sentar a bunda em

algo macio e aconchegante e descansar os meus pés, que estão me matando.

Bebo um gole generoso do champanhe que o garçom serve para

mim e olho para as minhas irmãs, tentando tranquilizá-las apenas com um


olhar. Violetta e Barbara estão apavoradas, enquanto Angelina e Caterine

parecem esperar o primeiro deslize de Danilo para fazer um escândalo, o

que será muito problemático.

De repente, Alberto fica de pé e bate um talher na taça de

champanhe, fazendo o barulho ecoar até os meus ouvidos. Todos

direcionam a atenção para o chefe do Império Salvatore, como se fosse

pecado não prestar atenção no que o homem tem a dizer.

Ele começa com toda aquela ladainha de como está feliz de Danilo

ter encontrado uma mulher tão encantadora como eu.

Que hipocrisia.
Sei que as nossas famílias gostam de manter as aparências e

tradições, mas realmente precisamos disso? Até parece que cada pessoa

nesse jardim não sabe que me casei com um Salvatore para selar um acordo

entre as nossas famílias.

Depois do seu discurso, o papà também fala algumas coisas e

Giovanni não fica de fora, com o seu jeito egocêntrico e sacana de ser. As

mulheres ficam quietas e nenhuma ousa levantar para fazer um discurso.

Desde cedo aprendi que o mundo da máfia foi feito para os homens,

e não para as mulheres.

Depois do jantar e algumas taças de champanhe, os convidados

estão mais animados do que eu esperava e exigindo a primeira dança do

casal para abrirmos a pista.


Tomo coragem e meus dedos agarram a taça de champanhe que

acabou de ser servida para mim por um garçom. Tomo tudo de uma vez,

fazendo com que todos à mesa, me olhem meio chocados. Respiro fundo e

fico de pé, estendendo a mão para Danilo.

Um péssimo comportamento, eu suponho. Mas não nasci para ser

um cordeirinho indefeso esperando o lobo mau me abocanhar.

Os lábios de Danilo se curvam num pequeno sorriso maroto e ele


entrelaça a mão na minha, num aperto firme e sedento. Deixo que me guie

até o outro lado do jardim, e aos poucos, os convidados ficam de pé e nos


acompanham, mas não ousam entrar na pista de dança.

Num rompante, ele me puxa contra o próprio corpo. Acabo soltando


um gemido involuntário, o que faz os olhos azuis do homem brilharem.

Lentamente, mas com precisão, as mãos descem até a minha cintura

e se acomodam no final da coluna, roçando de leve as pontas dos dedos na


bunda. Elevo os braços e entrelaço no seu pescoço, mantendo o queixo

empinado e os olhos fixos nos de Danilo.

A voz masculina grossa e profunda do cantor da banda atinge os

meus ouvidos com uma melodia quente e dançante, num toque lento e
ritmado.
"Eu vejo você, você me vê. Como é agradável essa sensação, o
momento que você me abraça. Senti sua falta. Eu sinto muito, dei o que

tenho. Mostrei que estou crescendo. As cinzas caem lentamente como a sua
voz me consola.

Com o passar das horas, eu vou te avisar. Eu preciso te perguntar

antes que eu esteja sozinho, como é descansar em seus lábios pacientes.”[12]

Como se já não estivéssemos próximos o suficiente, Danilo me

aperta ainda mais contra o corpo duro e quente, que infelizmente, é bem
agradável. Tento resistir, só que é impossível não me deixar envolver pelo

cheiro refrescante dele.

De mansinho e sem pressa, com os olhos cravados nos meus, ele me


guia de um lado para o outro. A música é bem gostosa, então, nem vejo o

tempo passar. Ou apenas, estar sendo bom demais ficar nos braços de
Danilo.

Respiro fundo quando a música acaba e tento me afastar dele, mas


sou impedida de ir para longe. Meu marido faz um estalo com a língua e

balança com a cabeça de um lado para o outro, negando.

De repente, sinto uma das mãos subirem até a minha nuca para
segurar o meu pescoço com força, enquanto a outra mão, permanece no
meu quadril. Lentamente, sinto o meu corpo inteiro entrar em chamas.

— O que está fazendo? — balbucio. Não recebo nenhuma resposta.

Danilo abaixa o rosto, os olhos admirando a minha boca. Ele está


tão perto, que além de sentir o seu hálito fresco, consigo imaginar a
sensação de ter os seus lábios arrogantes em mim outra vez.

Contra a minha pele.

Marcando... tomando posse de cada parte do meu corpo.

E então, ele encosta os lábios nos meus, exigindo o acesso que eu

não consigo negar. Fecho os olhos, deixando que Danilo mergulhe na minha
boca, me envolvendo num beijo sedento e cheio de vontade.

Ainda mantenho as mãos na sua nuca e dominada pelo instinto


primitivo, elas apertam ao redor do pescoço dele. É difícil controlar os

gemidos ao sentir a língua de Danilo tocando a minha, numa intensidade


devastadora, quase quando o fogo encontra a gasolina.

Gemo contra os lábios exigente dele e a única coisa que o homem

faz, é me apertar ainda mais contra o seu corpo, me devorando com toda a
veemência que tem dentro de si, como se eu fosse a presa que ele tanto

almejou capturar.

Ele mordisca o meu lábio inferior e me dá um selinho antes de

interromper o beijo por completo.


Eu sei que cada passo de Danilo, cada movimento desse homem, faz

o meu corpo gritar perigo, mas parece que, infelizmente, me deixa excitada
também.

Só depois de ouvir os convidados aplaudindo e comemorando, que

me dou conta de que a banda começou a tocar outra música. Olho para os
lados e minha atenção encontra as minhas irmãs. Violetta está aterrorizada,

enquanto o papà parece que vai explodir a qualquer momento.

— Não devia ter feito isso — repreendo-o. Até parece que vai servir

de alguma coisa. Danilo Salvatore faz o que quer.

— Por que não? Você é minha esposa e estou convencido que você
gosta quando estou com a minha língua na sua boca.

— Danilo...

Os dedos dele encontram os meus lábios entreabertos, traçando


linhas invisíveis e fazendo meu corpo arrepiar. O homem sorri, bem

satisfeito com a cena que acabamos de protagonizar.

Os convidados começam a encher a pista de dança e é o suficiente

para ele me trazer para mais perto. Meu corpo está tão colado no de Danilo,
que tenho a sensação de que pode escutar os batimentos cardíacos

acelerados do meu coração.

Engulo em seco.
— Eu disse... você vai implorar para ser minha.

Aperto os dentes.

— Não estou implorando.

Ele traz o rosto para perto do meu ouvido ao sussurrar:

— Não foi o que pareceu quando gemeu na minha boca — diz, me


desestabilizando por completo. — Qual é o sabor de perceber que eu estou

certo?

— Amargo — resmungo antes que o cérebro filtre as palavras.

Algo surpreendente acontece, Danilo ri divertido ao me girar e me

puxar contra o corpo de novo. Acho que é a primeira vez que o vejo tão
distraído e relaxado.

E não gosto de como isso faz o meu coração ficar quente.

Danilo será mesmo uma cebola?

Eu terei que tirar cada camada até conhecer quem ele é de verdade?

Meus pensamentos são interrompidos no momento em que o papà

pede para dançar comigo. Vou dos braços de Danilo para os dele, que me
segura de um jeito protetor e firme.

— Você está bem?

— Sim, papà.
Meu pai não se convence.

— Tive que lutar contra todos os meus instintos ao vê-lo te beijar


desse jeito — resmunga apenas para mim.

Se o papai soubesse que não é a primeira vez e que eu gostei de ser


beijada por ele mais do que deveria.

E que agora que é o meu marido, ele fará muito mais do que apenas

me beijar. A bile rasteja pela minha garganta ao pensar no assunto.

Vou do meu pai para o meu sogro. E eu nem consigo controlar o

sentimento tenebroso de perfurar o meu estômago, como uma lâmina afiada


e fria. As mãos determinadas de Alberto Salvatore na minha cintura, me

guiando de um lado para o outro.

— Espero que sangre pelo meu filho e prove sua honra hoje à noite,
Martina, porque se não provar, terei que punir Giuseppe por ter entregado

uma mulher impura ao meu primogênito — ele começa a falar.

E entendo bem o sentimento do papà de lutar contra os instintos.

Porque os meus, nesse exato momento, estão me mandando içar a mão e


acertar uma bofetada no Don.

— E espero que dê muitos filhos ao Danilo.

— Claro — murmuro entre os dentes e finjo um sorriso.


— Faça o seu papel de boa esposa e tudo será um mar de rosas —
emenda, me dando vontade de vomitar.

Eu estou completamente ferrada.

Está na cara que o pai de Danilo só ficará sossegado quando ver a


prova de que o filho tirou minha virgindade. Mas, como ele o fará se a

minha honra de que tanto se fala, eu a perdi há meses?

Para a minha salvação, Romeo vem e me tira para dançar. Ele não

fala muito. Na verdade, é a pessoa mais silenciosa que eu conheço. E ao


movimentarmos de um lado para o outro, eu noto que o fez apenas para me

afastar do seu pai.

— Obrigada — digo, sem ter certeza se é certo ou não. Afinal,


Romeo é filho de Alberto Salvatore, por mais cruel que o pai seja, ainda é o

seu pai.

Ele apenas assente, ainda em silêncio.

Quando a música termina, Romeo me encara com afinco, como se


estivesse tentando me ler.

— Você está bem?

— Meus pés estão me matando.

Ele assente e logo em seguida, me solta ao recuar um passo. Sorrio

em agradecimento e decido sair da pista de dança. Caminho até a mesa


central no jardim, que para o meu alívio, está vazia. Acomodo-me na
cadeira acolchoada e macia e não demora muito para as minhas irmãs se

juntarem a mim.

Graças a Deus, nenhuma delas toca no assunto do beijo. Apenas,


ficam ao meu lado, em silêncio e observando os convidados na pista de
dança.

Violetta segura minha mão, enquanto a Barbara segura a outra,

fazendo meus olhos arderem. Mesmo em silêncio, elas estão se despedindo


de mim. Pisco rápido para não permitir que as lágrimas caiam.

Se eu desabar, será pior.

Minhas irmãs precisam de mim forte para continuarem fortes


também.

— O que fará na noite de núpcias? — Caterine pergunta baixinho e

sem olhar para mim.

— Ainda não sei — admito. — Contar a verdade, talvez.

— Melhor não contar. Ele vai pirar e te entregar para o Don


Salvatore e será um caos total — Angelina comenta entre os dentes.

— Não temos como saber o que vai acontecer — cochicho.

— Trouxe o que te demos de presente no dia da festa de noivado?


— Violetta quer saber e eu apenas anuo, respondendo à pergunta. — Vou
sentir sua falta — acrescenta com um sussurro, partindo meu coração.

Respiro fundo e faço um esforço para sorrir em meio a minha

tristeza. Tento, mas as palavras ficam presas na garganta e eu tenho certeza


que se as pronunciar em voz alta, vou desabar em lágrimas.

— Amamos você, Martina — Barbara diz e eu assinto, evitando


olhar para as quatro.
Com um copo de whisky na mão, o papà me puxa para um lugar

mais afastado da pista de dança. Pousa uma mão no meu ombro e aperta
com força ao focalizar os meus olhos.

— Quero provas da pureza da sua esposa, Danilo — diz ele, a voz

comedida, mas a ordem explícita, deixando um gosto amargo na minha


garganta.

Não é como se fosse uma tradição da nossa família provar a

virgindade da mulher na noite de núpcias. É muito ultrapassado e ridículo.

Entretanto, estamos falando do meu pai. E pra ser sincera, eu sei que ele

desconfiaria de qualquer uma das irmãs Giordano.

— Está me ouvindo? — questiona quando não digo nada de volta.

Curvo a boca num sorriso cínico e anuo com a cabeça.


— Sim, claro. Não se preocupe, ela é virgem, terá a prova que

precisa amanhã de manhã — articulo, controlando o tom da minha voz para

não parecer debochado. Embora, no momento, eu esteja com muita vontade

de mandá-lo à merda.

— Ótimo. Amanhã cedo, mandarei Carmela ir ao seu quarto —

informa, me fazendo contrair o maxilar.

Odeio ter que passar a noite aqui. Seria mais fácil levar Martina para

a cobertura, só que o Don quer mesmo uma prova e não vai sossegar

enquanto não ver um lençol manchado de sangue.

O papà só vai sossegar depois de ter a certeza que Martina sangrou

por mim.

Afasto-me dele e vou na direção da minha esposa, que está sentada à


mesa rodeada das irmãs. A última vez que esteve na pista de dança foi com

o Romeo e isso faz quase duas horas.

Assim que me percebem, as irmãos Giordano ficam em alerta. Elas

me lembram filhotes de gatos ferozes, protegendo um ao outro com tudo

que tem. Gosto da lealdade delas.

— Não a leve agora — Violetta pede com um semblante triste,

fazendo-me sentir um incomodo no peito. A ruiva pequena olha nos meus

olhos pela primeira vez em muito tempo.


Acho que a primeira vez que o fez, foi quando eu estava no

escritório de Giuseppe para escolher minha noiva.

— Tudo bem. — Martina tenta tranquilizar a irmã ao sorrir de um

jeito gentil. — Vão curtir a festa, não quero que passem a noite sentadas

aqui comigo.

A contragosto, as quatro se levantam e voltam para a pista de dança,

me deixando sozinho com ela.

— Por que está aflita? — resolvo investigar a Martina.

Ela esconde algo e eu sei que tem a ver com a virgindade. E bem,
ela vai ter que ser sincera comigo e contar o que aconteceu.

Dá de ombros.

— Estou bem — fala, buscando meus olhos. — Não quero dançar,

meus pés estão me matando — admite e como em modo automático,

minhas vistas se fixam na barra do vestido longo, que esconde os pés de

Martina.

Abaixo-me, atraindo a atenção das pessoas ao redor. Eu sou um

Salvatore, o sucessor do implacável Alberto Salvatore, não me ajoelho para

ninguém. Nunca. Em hipótese alguma.

É algo que acabou de mudar.


Subo o vestido de Martina um pouco e inspeciono os pés pequenos,

que estão inchados e vermelhos. A sandália de salto alto parece ser bem

desconfortável, então, eu a retiro e noto que algumas bolhas se formaram


nos pés dela.

— Por que está usando esses sapatos? — questiono, sem entender.

Martina suspira e prende os olhos brilhantes aos meus.

— Foi o único que combinou com o vestido.

Enrugo a testa, ainda sem entender.

— Seus pés estão machucados. Não poderia ter usado outro? Foda-

se se não combinava com o vestido.

Ela engole em seco e prensa os lábios ao negar com a cabeça.

— Eu precisava estar perfeita pra você hoje, Danilo. Era minha

obrigação — fala num tom baixo e reflexivo, fazendo a raiva martelar nas
minhas têmporas ao assimilar as palavras que atravessam sua boca.

— Se soubesse, teria feito você entrar descalço — grunho, roubando

um sorriso doce dela.

— Obrigada — murmura.

Martina começa a mexer os pés e alongar, respirando fundo e

soltando gemidos sexys ao fechar os olhos, aliviada de não precisar usar


mais o par de saltos. Agarro os sapatos e volto a ficar de pé, coloco em

cima da cadeira ao lado dela e contemplo-a.

Ela volta a bater os cílios e antes de mirar meus olhos, observa ao


redor.

— Seu pai está olhando pra nós.

— O seu também — devolvo, sem precisar mover um músculo para

conferir. Tenho a sensação de que Giuseppe não tirou a atenção de mim

desde que entregou a filha no altar.

Ela arqueia as sobrancelhas e franze o nariz.

— Como sabe?

Enfio as mãos no bolso, mas não respondo.

— Sabe o que vai acontecer agora, não é?

— Claro, eu não sou burra — retruca com sarcasmo e ao notar o

tom que usou, ela repuxa os lábios em um sorriso meigo para mim. —

Desculpe, não vai mais acontecer.

— Não minta pra mim, Martina — falo em um tom de repreensão e

me inclino um pouco para pegá-la no colo. — Sugiro que não use esse tom

comigo de novo. Principalmente na frente dos homens da família.


Ela entrelaça as mãos no meu pescoço e os nossos rostos ficam tão

próximos, que tenho vontade de beijá-la de novo, como eu fiz na pista de

dança. Mas temo não conseguir me controlar se encostar meus lábios nela

agora.

— Anotado — murmura.

Quando começo a caminhar com a noiva nos meus braços em


direção à mansão, os convidados começam a aplaudir animados ao mesmo

tempo em que as irmãs Giordano demonstram a aflição.

Por uma fração de segundo, meus olhos encontram os de Violetta e

eu tenho a impressão de que ela vai começar a chorar a qualquer momento.

Em silêncio, entro na mansão com Martina nos meus braços e ao

chegar na cozinha, ela me encara e diz:

— Pode me colocar no chão agora, não tem ninguém olhando. Vou

caminhando.

— Não — aviso, fazendo-a suspirar.

Subo os degraus para o terceiro andar, mantendo-a firme contra

mim. Ela acaba descansando a cabeça contra o meu peito, como se não

tivesse mais forças para lutar. Abaixo um pouco as vistas e noto o seu peito

subindo e descendo por conta da respiração ofegante.


Ao chegarmos em frente ao quarto que foi meu praticamente a vida

toda, abro a porta de madeira maciça e a coloco no chão. Ela cambaleia um

pouco, mas se agarra ao meu braço para recuperar o equilíbrio.

Martina fica de costas para mim e encara a cama dossel no quarto ao

abraçar o corpo com os próprios braços. Tranco a porta antes de me

aproximar dela, fazendo questão de roçar meu corpo no seu.

Ela fica tensa.

— Vai continuar mentindo pra mim ou vai contar a verdade?

Agarro os braços dela e a viro para mim. Assim que meus olhos
encontram os seus, eu vejo a sua expressão de pavor e tristeza, entretanto,

ela é forte, pois mantém o queixo erguido para mim.

— Seu pai vai me matar — fala ao piscar com força e molhar os


lábios. — Depois, vai matar o meu pai.

— Por quê? — insisto.

— O que vai acontecer? Você vai me devolver como se eu fosse um


produto defeituoso e pegar uma das minhas irmãs?

Os músculos do meu rosto se contraem.

— Talvez — murmuro, sentindo a garganta áspera. — Me diga a


verdade, não vou falar de novo.
Ela me olha por cima dos cílios.

— Não sou virgem.

No fundo, eu sempre soube a verdade, mas escutá-la faz cada

terminação nervosa do meu corpo queimar de raiva.

— Jason?

— Vai matá-lo?

— O que você acha? — Afasto-me dela para desfazer o nó da


gravata e arrancá-la. — Sim, eu vou.

— Não, por favor.

— Por que você ainda está defendendo Jason? — rosno.

— Não é isso. Ele não tem nada a ver com o nosso mundo — diz e

eu fico um tempo em silêncio, pensando que merda fazer. — Meu pai não
sabe — ela começa a articular e dá passos decididos até mim. — Pode

deixar o seu pai fazer o que quiser comigo, mas não culpe o meu ou as
minhas irmãs. Não deixe que ele puna minha família.

Deixar meu pai fazer o que quiser com ela? Essa porra soa tão

errado dentro da minha cabeça, que me deixa nervoso. Mesmo que esteja
espumando de raiva agora, não vou entregá-la ao meu pai.

Levarei a sério o juramento que fiz a ela no altar.


Recuo um pouco e tiro o blazer, jogando a peça de roupa em cima
do sofá perto da varanda.

— Como conseguiu esconder isso de Giuseppe?

Martina senta na beirada da cama e morde os lábios, esquadrinhando


o meu rosto por um longo minuto, que parece mais uma eternidade.

— Mentindo?

— Duvido muito, você é uma péssima mentirosa — devolvo,

ríspido, fazendo-a tirar o véu da cabeça com delicadeza e colocar em cima


da cama. — Como vai enfrentar essa situação? — questiono, levemente

curioso.

— De cabeça erguida. — Ela fica de pé de novo e dessa vez, se


aproxima de mim. — O erro foi meu. Não foi das minhas irmãs. Não da

minha mãe. Não do meu pai. Apenas, meu. Vou enfrentar as


consequências... sozinha.

Suspiro.

Meus olhos dançam pelo corpo de Martina. Faço esforço para


conseguir controlar o meu instinto predador e colar a boca na pele macia do

seu pescoço delicado. Ela é uma presa fácil, se levantar as duas mãos, posso
agarrá-la e tomar posse do que é meu.
— Você deveria sangrar por mim hoje. Deveria sangrar pelo seu

marido. Porra. O que eu faço com você?

Ela engole com força e permanece em silêncio.

— Meu pai quer provas, Martina. — De maneira firme e sedenta,

envolvo as mãos na cintura dela, como uma fera abatendo a presa. Ela não
recua, apenas fixa os olhos grandes nos meus. — Sabe o que isso significa?

A minha última pergunta faz a garota olhar para a porta de madeira

maciça.

— Que ele quer ver um lençol manchado de sangue — balbucia.

— Exatamente.

Ela volta com a atenção para mim.

— É meio ultrapassado. Vocês sempre fazem isso? — pergunta com

prepotência, fazendo-me arquear uma sobrancelha.

— Está calma demais para alguém que pode destruir a família toda
por causa de uma mentira — falo de forma ácida, fazendo-a piscar devagar.

— Estou com medo, mas o que quer que eu faça? Implorar pela
minha vida vai adiantar de alguma coisa? Vocês poupam os traidores

quando eles mentem?

— Não. Nunca.
Ela anui.

— Vai me entregar? — quer saber.

— Não.

— Por que não?

— Eu não sou de quebrar promessas — articulo, levando uma das


mãos até o seu pescoço e enfiando os dedos nos cabelos da nuca. — Não

sou bom. Não sou um herói, mas eu cumpro as promessas que faço. E hoje,
prometi que protegerei você.

Os olhos de Martina brilham.

— Então, por você tudo bem, eu não ser mais virgem? Não te
incomoda?

— Claro que incomoda, penso em arrancar a cabeça de Jason por ter

tocado em você.

— Vamos deixá-lo de fora e resolver as coisas entre nós.

— Certo, vamos resolver.

Dito isso, a minha mão na cintura sobe até as costas para alcançar o
zíper do vestido de noiva, que eu puxo para baixo ao fazê-la recuar um

passo de cada vez. Ela continua com os olhos presos aos meus, mas as
bochechas ruborizam e começa a ofegar.
— Mesmo que tome posse do meu corpo, eu ainda não vou sangrar
— avisa. Ainda assim, eu não consigo parar, apenas continuo descendo com

o zíper até a base da coluna. — Vai me obrigar a ser sua?

— Você já é minha.

— Tem razão, mas se pretende me forçar a transar com você, eu

prefiro que me entregue aos leões.

Paraliso ao ouvi-la.

— Não sabe o que está falando.

Martina prensa os lábios.

— Não quero te odiar, mas eu o farei se tocar em mim contra minha


vontade — diz ao se desvencilhar das minhas mãos. — Você disse que

ninguém é cem por cento bom ou inocente. Tudo bem, talvez tenha razão.
Mas isso também se aplica a você. Sei que não é completamente ruim.

— Os meus inimigos discordariam de você.

— Não quero um casamento como o dos seus pais — ela fala e ao se


dar conta das palavras que disse, os olhos dela oscilam. — Não deveria ter

dito isso, sinto muito.

Martina gira nos calcanhares e tenta se esconder no banheiro, o que

impeço sem dificuldade. Para minha surpresa, ela retira uma faca estilizada
de dentro de um coldre discreto preso na coxa e aponta para mim.
Curvo a boca num sorriso debochado.

— O que pensa que está fazendo com essa faca de cortar pão?

Martina olha para objeto de ponta afiada nas mãos e depois, para

mim.

— Por favor, não se aproxime, não quero chegar ao extremo.

Assinto e escancaro a porta.

Ela recua lentamente, não abaixa a guarda nem por um segundo.


Martina com a faca pontada para mim é de um desrespeito imensurável.

Mas confesso que vê-la assim, linda e com os olhos cintilando bravura na
minha direção é sexy pra caralho e revira algo dentro de mim.

Faz o meu pau contorcer também.

Sou um homem treinado. Desde cedo meu pai me ensinou como


tirar vidas, como ser silencioso, como esconder os rastros. Posso facilmente
contornar a situação e mesmo assim, eu não o faço. É interessante ter essa

garota atrevida e pequena pronta para me atacar com tudo o que tem.

Dou alguns passos para me aproximar dela e ela continua firme,


centrada. Nossos olhos se encontram e acabo repuxando a boca num sorriso
cínico. Ergo a mão e seguro o pulso fino e aperto, o suficiente para fazê-la

soltar a faca, mas não para machucá-la.


Antes que o objeto caia no chão, eu o pego e o observo. Ele tem
acabamento em madeira e linhas finas entalhadas no cabo.

— O que pretendia fazer com isso, Martina?

Solto o pulso dela e envolvo o indicador e o polegar no seu queixo,


projetando para cima e esquadrinhando o rosto delicado. Ela morde o lábio
inferior e noto o rubor subir pelas maçãs salientes.

— Me defender.

— Com essa faca de cortar pão? — devolvo, cético.

Ela une as sobrancelhas e enruga o nariz.

— Isso aí corta mais do que um pão — resmunga.

— Gosto que não tenha medo de se defender, mas precisa fazer mais
do que apontar uma faca para o seu adversário se quiser vencer de alguma
forma.

Arredo a mão e giro nos calcanhares para sair do banheiro. A

destemida vem no meu encalço. Nem parece que segundos atrás, ela estava
pronta para tentar me manter longe com uma faca.

Paro em frente a cama branca e arregaço as mangas da blusa social.

— O que vai fazer?

Olho para Martina.


— Você não sangrou por mim, mas eu sangrarei para protegê-la.

Estou pronto para fazer um corte no antebraço e sou impedido pelas

mãos pequenas, que me seguram com leveza. Ela cruza o olhar com o meu
e ficamos assim por uma eternidade.

Martina está tentando me entender.

— Não faça isso — digo num tom baixo e ao mesmo tempo,


carregado.

As sobrancelhas bem-feitas se unem em confusão.

— Não fazer o quê?

— Tentar me entender.

— Por que não? — retruca, mas não respondo à pergunta, então, ela
solta a minha mão e observa cada movimento que faço. Com a faca de
Martina, faço um corte pequeno e quase profundo no antebraço e sujo os

lençóis brancos de sangue.

Pronto!

A prova que meu pai queria sobre a honra de Martina.

— Então, vamos continuar casados?

— Parece decepcionada — retruco, e ela balança a cabeça de um


lado para o outro em negativa.
— Não pensei que fosse fazer isso por mim. Achei que me

devolveria como um produto com defeito — assume.

— Como eu disse, eu fiz a promessa de protegê-la e eu irei até o fim


por isso. Você é minha mulher. No momento em que nos casamos, se tornou
minha família também.

Ela se afasta de mim.

Não é exatamente a reação que esperava, mas fico quieto e observo-

a entrar no banheiro, revirar os armários e depois voltar com uma caixinha


de primeiros socorros. Martina a coloca em cima da cama e abre, de dentro,
retira antisséptico, gases e esparadrapos.

— O que vai fazer? — quero saber.

— Cuidar do seu ferimento — fala e revira os olhos de maneira

insolente, como se fosse óbvio. Atrevida. — Posso? — questiona ao


gesticular com o queixo para o meu braço.

— Pedindo permissão agora? — resmungo, fazendo-a suspirar.

Não preciso de um curativo. O corte é tão pequeno, que não faz nem
cócegas. Já tive ferimentos piores que se cicatrizaram sozinhos. No entanto,

por algum motivo que eu não sei explicar, ergo o braço para Martina e
arqueio as sobrancelhas.

Quero vê-la cuidando do ferimento que fiz por ela.


— Sente. — A voz dela é baixa, mas vem como uma ordem. Ao

perceber o tom prepotente, ela suaviza o rosto com um sorriso. — Por


favor?

— Não está sendo sincera.

Ela fecha os olhos por uma fração de segundo e respira fundo antes
de voltar a me encarar.

— Danilo...

Sento na beirada da cama e Martina afasta um pouco a caixa de


primeiros socorros para se acomodar ao meu lado. Em silêncio, ela limpa o
corte pequeno, passa uma pomada e faz o curativo com gases e
esparadrapo.

— Obrigada.

— Pelo quê? Você ainda me pertence e está presa a mim.

Ela lambe os lábios, me hipnotizando.

Gosto de quando ela faz isso.

— Por me proteger do seu pai — murmura e coloca tudo dentro da


caixinha de primeiros socorros. — Ele acabaria com a minha família.

— Sim, definitivamente.

Martina abre um sorriso melancólico ao olhar para mim.


— O que vai acontecer agora? Ele vai entrar aqui na madrugada e

pegar os lençóis da cama para ter certeza de que você tirou a minha
virgindade?

Rio com sarcasmo.

— Não é pra tanto — articulo e a garota fica esperando que eu diga

mais coisas. — Carmela... a empregada. Ela virá de manhã trocar a roupa


de cama e levará o lençol para o meu pai.

Martina assente e eu levo um tempo admirando-a. Ela é linda,


atrevida demais para o meu gosto, mas a verdade é que não consigo parar
de desejá-la. Não sei se faria o que fiz por outra mulher.

Eu vou mentir para o meu pai.

Vou mentir para o Don.

Vou mentir para organização para mantê-la salva e segura.

E eu nunca fiz algo parecido antes.

Ela já está me fazendo pensar com a cabeça do meu pau e eu ainda


nem descobri qual é o gosto da carne quente que se esconde no meio das

suas pernas.

Sem conseguir me conter, eu inclino o corpo até Martina e esmago a


boca macia e úmida, engolindo o suspiro de surpresa que ela dá. Agarro a
cintura fina e aperto, trazendo-a para mais perto de mim, enquanto a minha
língua atravessa os lábios quentes, buscando mais.

Martina não recua ou tenta me afastar. Talvez esteja grata por eu ter
sangrado por ela, mas nem me importo, apenas, beijo-a, fazendo arquejar
contra a minha boca. Ela estremece ao sentir a minha mão deslizar na pele

macia que está exposta nas costas.

Tenho vontade de descer o zíper por completo e deixá-la nua, mas


me controlo e nem sei bem o porquê.

Mordisco o lábio inferior e desço para o queixo, meus lábios


percorrem até a curvatura do seu pescoço e ela deixa escapar um gemido

manhoso, só que infelizmente, me para ao ficar de pé e de frente para mim.

— Quero conhecer você antes de deixá-lo me ver nua.

Bufo.

— Quer saber minha comida preferida e essas merdas?


Sinceramente, não tenho saco ou tempo pra isso.

— Quem dera fosse simples assim — rosna.

— Você conhecia bem o falecido Jason? — rebato e não estou feliz


de soar como uma criança ciumenta. Porra. O que está acontecendo
comigo?

É, definitivamente, eu vou matá-lo.


Os olhos dela esbugalham e os lábios fazem um bico bonito.

— O que você quer, Danilo? — questiona ao cruzar os braços de


maneira protetora na altura dos seios. — Que eu seja uma esposa troféu e
submissa? Faça tudo o que você quer? Não faça perguntas? Que eu me deite

na cama de noite e deixe você me foder sem perguntar se estou bem? Que
eu tenha medo de você?

Ela acabou de descrever a esposa perfeita aos olhos do meu pai.


Porém, não é o que eu espero da minha mulher. Eu também não quero um
casamento como os dos meus pais.

Não quero que Martina seja como a minha mãe.

— É o que a organização espera que você seja para mim — começo


a falar e os olhos dela brilham de tristeza.

— É o que você quer?

— Não — confesso e me sinto estranho, com um formigamento no

peito que não consigo entender. — Não estou gostando do rumo dessa
conversa.

Ela volta a sentar ao meu lado e os olhos grandes me examinam.

— Você quer que eu te odeie?

— Como é que é?
Martina respira fundo, endireitando os ombros.

— Se quer que eu te odeie, me tome a força. Faça de uma vez e


acabe logo com isso — fala com a voz embargada, só que mantém a
atenção fixa em mim. — Se quer que esse casamento dê certo, respeite o

meu tempo.

Passo os dedos entre os cabelos e em seguida, massageio as


têmporas.

— Você é muito corajosa pra me desafiar desse jeito. Porra, Martina.

— Não tenho medo de você e talvez, eu devesse ter. Mas eu sei que

não é todo ruim. Eu sei que devem existir partes boas dentro do seu
coração. Sei que existe mais do que apenas escuridão.

Sorrio com sarcasmo.

— Não veja coisas onde não tem.

— Sua mãe é boa e eu sei que ela o ama — diz, e eu levanto, a

cabeça borbulhando com um monte de merda e o desconforto dentro do


meu peito aumentando. — Se ela te ama, é porque conhece você de
verdade.

— Não sabe nada sobre mim, piccolina.

— Não sei mesmo, mas vai me deixar mudar isso ou a nossa união

será como a maioria dos casamentos dentro da máfia?


Olho para Martina e eu nunca me senti tão exposto como agora.

— Se fosse um dos meus homens, eu cortaria sua língua pelo tom de


voz que está usando comigo — digo, mas em vez de assentir em

concordância, ela fica de pé e volta a se aproximar de mim. Toda linda e


atrevida. — Já matei homens por menos, Martina. Cuidado com a sua
coragem, ela pode ser a sua ruína.

— Tem razão, mas eu não sou um dos seus homens, eu sou a sua
esposa, Danilo. Vai me respeitar e proteger como jurou na frente do padre?

Cerro os dentes.

— Está me provocando?

— Não. — Pisca com força e bate as pestanas devagar ao me olhar


de novo. — Você não vai me devolver, então, vamos ficar juntos pelo resto
das nossas vidas. Não quero ter medo de você ou ser infeliz.

Suspiro, impaciente, mas acabo concordando com um aceno de


cabeça.

Se Martina fosse um homem, com certeza seria um conselheiro. Não


tem medo do perigo e muito menos de levantar a voz para alguém como eu.

— Giuseppe sabe que é tão insolente assim?

Ela abre meio sorriso.


— Obrigada.

— Não me agradeça, ainda posso te jogar na cama e reivindicar o


que é meu. Não sabe como estou louco pra experimentar a sua boceta —

falo entre os dentes, a ameaça velada na voz, olhando-a com determinação e


possessividade.

Martina me ignora e fica na ponta dos pés para depositar um beijo


no meu rosto e girar nos calcanhares para entrar no banheiro.
Depois de beijar o rosto dele, um gesto que nem eu mesma esperava

fazer, dou as costas e caminho até o banheiro. Meu corpo sobressalta ao vê-
lo entrar junto, no meu encalço.

Não existe meio termo quando se trata de Danilo Salvatore. Ou é

oito. Ou é oitenta.

Ou estamos em pé de guerra, enquanto eu seguro uma faca apontada


para ele. Ou o homem está sangrando por mim para fingir que tirou minha

virgindade. Ou ele está falando que vai me jogar na cama e reivindicar o

que é seu.

— Vou tomar banho — informo, apenas para o caso de ele estar

pensando que vou escovar os dentes e não ficar pelada debaixo do chuveiro.

— Eu sei.
Uno as sobrancelhas.

— Sabe?

— Quero vê-la nua — ele ordena, e de repente, um sorriso sacana

cruza os seus lábios arrogantes. Pisco devagar, petrificada ao mesmo tempo

em que meu interior parece em chamas.

Não é possível que eu esteja ficando excitada por receber uma

ordem indecente dessas.

— E como vai ser? Você vai ficar parado aí enquanto eu tomo


banho?

Ele encosta parte do corpo no batente da porta e enfia uma das mãos

no bolso da calça social. Os olhos azuis e severos se prendem aos meus à

medida em que assente para responder à pergunta.

— Exatamente. Vou ficar parado aqui admirando o corpo gostoso da

minha esposa.

Respiro fundo, sentindo os pelos da nuca encresparem com a ideia

de acatar a ordem dele. Esse homem é impossível e vai acabar comigo.

Danilo Salvatore deveria vir com um manual de instruções. É difícil

lidar com ele sem sentir que o cérebro vai explodir dentro da cabeça.

— Não acho que seja uma boa ideia.


— Você é minha esposa — grunhe, como se essa pequena frase

fosse a solução de todos os nossos problemas.

Para ele, talvez, seja mesmo. Afinal, é um dos homens com cargo de

respeito dentro da organização.

O sottocapo, e em breve, o chefe do Império Salvatore.

— Promete que vai só olhar?

Meu Deus! O que diabos está acontecendo comigo? Por que vou

permitir uma coisa dessas? Onde foi parar o meu juízo? Em um lugar longe

da cabeça, é a única explicação.

Reúno forças para mandá-lo sair e me dar um pouco de privacidade.

Infelizmente, as palavras ficam presas no meio da garganta e a voz não sai.

Eu travo o corpo ao vê-lo entrar no banheiro completamente e

pousar as mãos na minha cintura com força. Danilo me vira num solavanco,

fazendo com que um gemido escape do fundo da garganta. O movimento é

brusco e sexy pra caramba.

Sem pedir permissão, os dedos firmes deslizam o zíper do vestido

até a minha bunda, arrepiando o meu corpo inteiro. Com uma delicadeza

que não combina com a sua personalidade, o homem arrasta o tecido pelos

meus braços e dá a volta para ficar de frente para mim.

Forço o nó entalado na garganta a descer.


Danilo admira o meu corpo com uma possessividade absurda por

um momento antes de voltar a descer o vestido até os meus pés. Sou

obrigada a dar um passo para o lado e sair de dentro do amontoado de


tecido que se formou no chão.

— Satisfeito?

Mordo a bochecha interna com força.

— Não — a resposta faz o meu coração dá um salto duplo dentro do

peito. — Estou longe de estar satisfeito, piccolina.

Eu devia ter ficado calada.

Ele me vira de novo para desabotoar o sutiã. Por instinto, cruzo os

braços na altura dos seios para protegê-los do frio e, de Danilo. Sinto os

dedos descarados nas laterais da calcinha de renda. Fecho os olhos com

força no instante em que o homem começa a deslizar o tecido pelas minhas

pernas.

Ouço a respiração funda e pesada, que faz cada pedacinho da minha

pele queimar.

Danilo me vira outra vez, colocando-me de frente para ele e me

fazendo bater os cílios. Os olhos azuis cintilando excitação e desejo durante

o tempo em que contempla o meu corpo com uma veneração que eu não

entendo.
Num gesto sedento, que é suave também, ele segura os meus braços

e faz com que eu descubra os meus seios. Ele me observa com tanta

intensidade, que chego à conclusão de que vai me tomar a força.

No entanto, ele não o faz.

Apenas se inclina um pouco para puxar o velcro do coldre que

guardou a minha faca por horas e deixá-la cair no chão.

Não consigo reprimir a surpresa ao vê-lo tirar os grampos com

diamantes dos meus cabelos e colocá-los em cima da pia de mármore.

Nossa diferença de altura nunca fez tanto sentido como agora.

— Esses grampos valem uma fortuna — começo a tagarelar,

rompendo o silêncio entre nós.

— Você vale mais.

Enrugo o nariz e prenso os lábios.

Não sei se a intenção foi essa, mas sinto como se eu fosse a merda

de um produto que Danilo comprou.

No fundo, eu não passo disso, não é?

— Ah, é? Quantos milhões a esposa do subchefe vale? — devolvo

com certo deboche. — Um milhão pelo menos?

Ele ri.
— Martina, agora, você é minha esposa. Sabe quanto os meus

inimigos dariam pra colocar as mãos em você e me atingir? Mais do que

milhões. Eles dariam vidas inocentes por isso. Você vale muito mais do que

dinheiro.

A resposta me pega desprevenida.

— Hum — é o único som que sai da minha boca.

Depois de retirar todos os grampos com pedras de diamantes da

minha cabeça, ele envolve os dedos nos meus cabelos e me surpreende ao

massagear o couro cabeludo com carinho e, de um jeito sensual, o que

acaba me roubando um gemido manhoso.

Sei que gosta do que escuta, pois me dá um sorriso cínico.

— Vá — ordena, e eu não espero que fale de novo.

Afasto-me dele e entro no box. Passa pela minha cabeça fechá-lo,

mas o vidro é transparente e será a mesma coisa de tampar o sol com a

peneira. De qualquer maneira, os seus olhos audaciosos vão me inspecionar

durante o banho.

Ligo o chuveiro e tento esquecer que tem um homem enorme e

cheio de músculos me observando. É uma missão impossível. Os olhos dele

acompanham cada movimento meu e eu acabo passando shampoo na

cabeça duas vezes.


No fim do banho mais atrapalhado da história, ele me oferece uma

toalha e um robe branco, que faz questão de me ajudar a colocar.

— Obrigada.

Ele sai do banheiro e me dá privacidade. Até parece que vai fazer

alguma diferença agora, mas não reclamo. Seco os cabelos com o secador e

ainda usando roupão, volto para o quarto e sob o olhar intenso de Danilo,

entro no closet.

A camisola da noite de núpcias repousa em cima da poltrona

pequena e confortável com uma lingerie de renda do lado. É bem sensual,


só que não é extravagante ou vulgar.

Demoro mais tempo que o necessário dentro do closet e quando


tomo coragem de sair, ouço o chuveiro ligado e vejo que Danilo entrou no
banheiro e guardou a caixinha de primeiros socorros e a minha faca.

Caminho até próximo da cama e observo a mancha de sangue nos lençóis


brancos.

Ainda é difícil de acreditar o que ele fez por mim.

Eu sei que outro homem teria me devolvido. Ou no mínimo, ficado

tão puto por outro ter me tocado, que me tomaria a força como um animal
irracional, sem se preocupar comigo.

Danilo é mesmo uma cebola cheia de camadas.


Ele volta para o quarto, usando calça moletom e sem camisa. Eu
tento ser forte e não ficar secando o peitoral trincado e cheio de gominhos.

E claro, não consigo. Dou a missão como perdida e percorro os olhos pelo
abdômen de Danilo.

Tem uma águia tatuada no peito e um touro no braço direito, e um

leão perto das entradas profundas que se escondem debaixo do elástico do


moletom.

No momento em que para ao meu lado e o cheiro de sabonete cítrico


invade minhas narinas, desvio a atenção e caminho até o sofá perto da

varanda para pegar as pequenas almofadas.

— O que está fazendo? — Danilo questiona.

— Uma barreira de proteção.

Formo uma pilha de almofadas no meio da cama e em seguida,


afundo no colchão, cobrindo o meu corpo com o edredom. Não é apenas
para me proteger dele, é para eu não cair em tentação e esticar a mão para

tocá-lo.

Danilo é terrível? Sim, não posso negar. Só que é muito lindo e

gostoso também.

O homem semicerra os olhos para mim antes de se acomodar na

cama. Sem falar nada, destrói toda a barreira de proteção que eu fiz ao
arremessar as almofadas contra o sofá.

— Tudo bem, sem barreiras — murmuro.

— Sem barreiras — repete ao levantar para desligar todas as luzes


do quarto e então, deitar na cama de novo.

— Obrigada — digo mais para mim do que para ele, fechando os

olhos com força e respirando fundo.

— Durma, piccolina.

Nosso mundo é injusto e há tantas coisas que precisam mudar e

nunca mudarão, mas estou grata por ele ter me protegido hoje. Não
imaginei que a nossa noite de núpcias seria assim.

Pelo menos por enquanto.

Eu estou a salva.

E minha família também.


Tudo acontece como Danilo falou na noite passada.

Carmela, a empregada, vem cedo trocar as roupas de cama. Ela

cruza o olhar comigo ao recolher os lençóis manchados de sangue, a prova


que Alberto tanto quer e precisa. Não diz nenhuma palavra, apenas sai e nos

deixa a sós de novo.

Vê-la atravessar a porta do quarto me deixa ansiosa e preocupada.


Um misto de emoções. E se Alberto não acreditar? Vai ser fácil acabar

comigo, já que estou debaixo do teto onde ele é o rei e a única coisa que

importa é a sua palavra.

— Fique calma — Danilo fala num tom meio incisivo.

— Podemos ir embora? Quero ver minha família antes de eles


voltarem para Detroit.
Ele assente.

— Só precisamos tomar café com os meus pais e irmãos. Consegue

fazer isso?

Respiro fundo e concordo com um leve aceno de cabeça.

O homem se aproxima de mim, colocando uma das mãos firmes na


minha cintura e encostando os lábios exigentes nos meus para um beijo

demorado, gentil e estranhamente familiar.

Não faço ideia de quando concordamos sobre ele poder me beijar


em qualquer momento, mas não ouso questionar. Além do mais, não é ruim.

O toque é possessivo e protetor também. Faz eu sentir que ele vai manter a

promessa que fez para mim ontem à noite.

Danilo vai me proteger.

Por que isso meio que me dá uma excitação inexplicável?

Depois de me arrumar para o café da manhã, eu estou torcendo para

que tudo aconteça num piscar de olhos e eu possa ir embora daqui o mais

cedo possível.

Ao sairmos do quarto, ele pousa uma das mãos na base da minha

coluna, o que faz os meus músculos se contorcerem. Ele abre um pequeno

sorriso, satisfeito por conseguir mexer comigo de alguma forma.


Descemos as escadas, como um casal normal e apaixonados de

recém-casados.

Diferente de ontem, a mansão Salvatore está silenciosa e nada indica

que aconteceu um casamento com festa grande no jardim. Ao chegarmos no

hall de entrada, Danilo me guia por um corredor pequeno com decoração

clássica e no fim dele, encontramos uma porta larga que dá em cima da sala

de jantar.

Meu sogro está sentado na ponta da mesa extensa e a senhora

Salvatore na outra, enquanto Giovanni, Romeo e Matteo estão espalhados

pelos lugares sobrando. Um típico café da manhã italiano já foi servido e

todos estão comendo. O cheiro é agradável, mas não tenho vontade de tocar

em nada.

Assim que os olhos afiados do Don encontram Danilo, ele abre um

sorriso largo, a satisfação é tão palpável, que me enoja. Ele fica de pé e vem

cumprimentar o filho, orgulhoso, como se tivesse feito algo extraordinário e

acabado com a fome e a miséria do planeta terra.

Minha sogra lança um olhar doce para mim e abre um pequeno

sorriso.

— Bom dia, querida — o Don fala e nem me deixa responder, mete

as mãos sujas no meu rosto e deposita um beijo asqueroso em cada


bochecha. Não sei se está sendo sincero ou é apenas encenação.

Sento à mesa e Danilo ocupa o meu lado. Passo a próxima hora em

silêncio e forçando um pedaço de pão com queijo a descer goela abaixo. Os

homens conversam sobre negócios, mas nada comprometedor. Jamais

conversarão coisas importantes de dentro da organização na frente das

mulheres.

No fim do café da manhã, os filhos e Matteo se despedem da


senhora Salvatore e meu peito aperta por deixá-la aqui, sozinha com o

marido, nessa mansão enorme, vazia e silenciosa.

Contorno o corpo esguio da minha sogra e a prendo num abraço

apertado. Ela beija uma bochecha de cada vez e olha dentro dos meus olhos

sem dizer nenhuma palavra. Sem saber o porquê, sorrio e assinto.

— Ela vai ficar bem? — questiono ao senti-lo pousar a mão de


maneira firme na minha cintura e me conduzir até a Lamborghini Aventador

cinza estacionado. — Sinto que não deveria estar fazendo esse tipo de

pergunta.

Em silêncio, Danilo abre a porta do carro para mim e eu deslizo para

dentro. Não entendo nada de carro esportivo, mas o banco é macio e

confortável.
— A mamma vai ficar bem — diz depois de se acomodar no banco

do motorista.

— Ela parece tão infeliz.

Ok. Eu devia calar minha boca agora.

— Eu sei — admite com o músculo do maxilar contraído. — Ela é

forte — acrescenta com o tom penetrante e eu concordo em silêncio.

Conheço pouco o Don Salvatore e mesmo assim, eu sei o tipo de

homem que ele é. Pelo bem da minha sogra, eu espero que Danilo esteja

certo.

Ele estaciona o carro na garagem subterrânea do prédio e desce do

veículo. Não movo um músculo, porque estou reunindo coragem para

enfrentar a minha nova vida.


De repente, Danilo abre a porta e espera de maneira paciente eu

descer.

— Eu não sou o meu pai — ele fala, fazendo-me olhá-lo. Dentro de

mim, não há dúvidas sobre esse fato, mas gosto de ouvi-lo pronunciar as

palavras em voz alta.

Ele estende a mão espalmada para mim e eu a observo por alguns


segundos antes de segurá-la. Caminhamos até um elevador pequeno e

privativo, que eu não fazia ideia da existência.

Em silêncio, enfia a mão dentro da calça jeans e pega o cartão

magnético para chamar o elevador. Fiquei tão nervosa hoje de manhã, que

nem tive tempo de perceber o quanto Danilo fica bonito em roupas tão

despojadas.

As portas de metal se abrem para nós. O espaço é pequeno, cabe no

máximo quatro pessoas e é todo feito de espelho e bem iluminado.

Entramos e embora tente, não consigo desviar a atenção dele.

Como o Diabo pode ser tão lindo?

Danilo tem uma barba bem-feita e nada exagerada. Dá para perceber

que o maxilar é marcado, dando um ar imponente para o homem e me


fazendo imaginar a aspereza contra a minha pele.
Faz eu imaginá-lo entre as minhas pernas, roçando a barba nas

zonas erógenas.

Os lábios são bem desenhados e o inferior é levemente avantajado,

também tem uma rosácea natural e sexy. Há uma pinta na bochecha

esquerda.

Antes que possa continuar com a minha inspeção, ele me olha e eu

desvio a atenção no mesmo segundo.

— Gosta do que vê, piccolina?

Sinto as bochechas ruborizarem e não tenho voz para responder à


pergunta.

O elevador para e as portas se abrem. E apenas quando ele me puxa

para sair, que me dou conta de que ainda estamos de mãos dadas.

Nossos passos vão direto para uma antessala, que eu não vi da

primeira e última vez que estive aqui. Ele nos guia até a sala de estar com
os sofás macios e o divã, de um lado diferente do que eu entrei com as

minhas irmãs daquela vez.

A cobertura tem uma decoração requintada, que combina bem com


Danilo. A sala de estar ampla com lareira de pedra personalizada se abre

para o terraço privativo com piscina e espreguiçadeiras.


Também há uma biblioteca com painéis de madeira e armários
embutidos personalizados do lado oposto do espaço com mesa de sinuca e

minibar.

— Você gosta de ler?

— Parece impressionada.

Sorrio.

— Um pouco — admito.

— Nem tudo se trata de violência e destruição — ele fala e então,

tamborila uma das têmporas com o indicador e o médio. — Precisa ser


inteligente também.

— Foi com inteligência que conseguiram fazer as famílias pequenas

se curvarem pra vocês? — a pergunta ultrapassa meus lábios antes que o


cérebro as processe.

No submundo do crime, os Salvatore têm fama quando o assunto é


fazer os outros se curvarem para eles. Além de comandar o crime

organizado em Chicago e a minha família, eles controlam organizações na


cidade de Indianápolis, no estado de Ohio e Flórida.

E definitivamente, eu não deveria saber tanto, mas Paolo é um

soldado que sempre gostou de conversar.


— Não sei como essa língua grande cabe dentro da sua boca —
retruca, a voz é profunda e grossa, mas por algum motivo, não é rude.

— Como as coisas vão funcionar?

Ele se aproxima de mim, agarrando minha cintura e me fazendo


arquejar com o toque firme e possessivo.

— Esse casamento?

— Preciso pedir permissão pra fazer alguma coisa?

A boca dele curva num sorriso cínico.

— Sei que não vai pedir permissão pra nada. — Danilo eleva a mão
e prende uma mecha de cabelo detrás da minha orelha e eu tento não gostar

dos dedos dele em mim, e falho miseravelmente. — Pode sair sempre que
quiser, mas um soldado vai ser o seu guarda-costas. E eu quero sempre,

Martina, quero sempre saber onde você está. Entendeu?

Assinto, concordando.

— Podia ser pior.

Ele sorri com o meu comentário.


Acho que a despedida é a pior parte de todas. Saber que não vou

mais ver minha família todo santo dia, murcha o meu coração e me deixa
com um frio estranho na barriga, uma sensação de vazio inexplicável.

Abraço cada uma das minhas irmãs com força e é tão difícil deixá-

las ir. Preciso fazer força para engolir o choro.

A mamma envolve os braços em torno de mim e me prende contra o


corpo. Fecho os olhos e respiro fundo. Eu sou tão grata por tudo que ela fez

por mim. Por ter me criado e me dado amor da mesma forma que fez com

as minhas irmãs.

— Mamma...

— Shhi, Martina. Não é uma despedida, é um até logo — fala contra


os meus cabelos e em seguida, beija uma bochecha de cada vez. — Cuide

bem da minha filha, Danilo — ela ordena, me roubando um sorriso.


— Eu cuidarei — ele diz, simplesmente.

Eu passei a manhã inteira com os meus pais e irmãs. Danilo

apareceu depois do almoço, para tratar de negócios com o papà e acabou


que nos acompanhou até aqui e está me vendo despedir da minha família.

O papà me abraça tão forte, que fico sem ar. Não diz muito, mas

deposita um beijo nas minhas bochechas e um no topo da cabeça antes de se


afastar e entrar na limousine, que os levará para o aeroporto e o jatinho

particular da família Salvatore.

Observo o carro andar pela rua de forma compassada até sumir do


meu campo de visão. Levo ar até os pulmões e cruzo os braços na altura do

peito ao mesmo tempo em que sinto uma mão obstinada na minha cintura.

Olho para o lado e encontro o rosto de Danilo bem próximo ao meu.

Depois de termos trocado os votos e as alianças no altar, ele vem me

tocando com muita frequência. E uma parte pequena de mim, quer reclamar

e afastá-lo. Mas a outra parte incrivelmente maior, me lembra que ele

mentiu para o Don para me proteger e que agora, é o meu marido, apesar de

ainda não ter consumado o casamento.

— Eu preciso trabalhar — diz, me surpreendendo. Não achei que

me daria explicações para quando precisasse sair. — Voltarei a tempo de

jantar com você.


— Tá bem — murmuro e algo passa pela minha cabeça.

Não quero ser uma esposa troféu que fica o dia todo em casa. Não

que tenha algo de errado nisso, por mais egoísta que seja, ter a mamma em

casa, cem por centro a nossa disposição, foi maravilhoso. No entanto, eu

não tenho filhos e não quero passar o dia de pernas para o ar.

Em Detroit, eu não estava exatamente fazendo algo de útil da minha

vida. O papà é maravilhoso, mas foi criado à moda antiga. Então, ele

sempre achou que eu não precisava de nada além do ensino médio, porque

sempre terei tudo aos meus pés e ter um emprego não é algo que eu preciso

de verdade.

Até hoje, nenhuma mulher na família Giordano precisou trabalhar

ou fazer algo que não fosse promover o bem-estar da casa e a harmonia da

família. Não quero algo assim para mim. Fico deprimida só de pensar em

passar o dia inteiro em casa, longe das meninas, dos meus pais.

E até mesmo, de Danilo.

Não acho que vou me adaptar a uma vida assim.

— Precisamos conversar algo importante. Tem tempo?

Danilo confere as horas no Rolex e concorda com um balançar leve

de cabeça.

— Sim, vamos entrar.


Antes que possamos dar um passo para dentro do prédio, uma voz

doce e angelical chama o nome de Danilo. Meu corpo age como se

estivesse ligado no automático e se encaminha na direção do som.

Ela é pequena e tem um tom de pele pálido. Os cabelos são longos e

pretos, as sobrancelhas bem expressivas e os lábios lembram o formato de

um coração.

Não demoro para reconhecê-la, estava no casamento ontem, com os


pais. Acho que o seu nome é Sarah. Ela me cumprimentou de forma tímida,

enquanto o pai me olhou com tanta desaprovação, que enrijeceu todo o meu

corpo.

— O que está fazendo aqui, Sarah?

Ela engole em seco e olha oscilante de mim para Danilo.

— Papai disse que o Don Salvatore ordenou que eu viesse para

ajudar Martina a se enturmar. Ela não conhece muito bem Chicago e nem as

mulheres da nossa famiglia — fala com tanto acanhamento, que me lembra

um pouco Violetta.

Sarah tem razão, eu não conheço nada em Chicago e o contato que

tive com as mulheres da família Salvatore foi rápido, apenas para aceitar as

felicitações pelo casamento. Fora isso, a mulher mais próxima de mim aqui,

é a minha sogra.
Sorrio para ela, que fica mais sem jeito ainda.

Danilo me lança um olhar sério, que eu gosto, porque sinto que está

pedindo minha opinião mesmo sem falar em voz alta.

— Nossa conversa pode esperar — digo, fazendo o homem suspirar.

— Acho que pode ser uma boa ideia sair com a Sarah.

Sair com Sarah foi uma péssima ideia.

Ela e eu estamos na casa de um dos caporegimes da família

Salvatore. E há todo tipo de mulher aqui, noiva, solteira e casada. Todas

querem me impressionar de alguma forma, como uma competição para

quem será a minha garota preferida ou melhor amiga.

Tudo isso, porque eu sou a esposa do subchefe, a segunda mulher

mais importante depois da minha sogra para o Império Salvatore.


Até parece que isso fará alguma diferença para nós que vivemos

nesse mundo, que a palavra final é dos homens.

Sarah é a única que não está me bajulando.

Ela não tenta me agradar. Não é como se estivesse sendo mal-

educada comigo, a garota apenas está quieta. Para ser sincera, quieta

demais.

Levanto do sofá que fui obrigada a sentar e ouvir dicas de como

cuidar da casa e de como manter o meu marido satisfeito para não ser

traída, e me aproximo de Sarah, que está perto da janela com vista para o

jardim da casa.

— Tudo bem?

Ela olha para mim de esguelha, mas não sustenta a conexão por

muito tempo.

— Sim — murmura.

— Eu acho incrível que vocês estejam se dando bem — Anna, uma

das poucas que eu decorei o nome, fala para mim, me deixando meio

confusa com o comentário. — Não deve ser fácil saber que Sarah é irmã da

ex do Danilo. Não que tenha problema, ela já morreu mesmo.

Sinto um tijolo cair no meu estômago conforme a informação

indelicada vai alcançando os meus ouvidos.


Sarah espreme os lábios e respira fundo ao rosnar.

— Não fale da minha irmã.

Anna arqueia uma sobrancelha bem-feita e abre um sorriso falso

antes de se desculpar. Não tem um pingo de sinceridade na sua voz, o que

me irrita pra caramba e crio uma lista de mulheres que nunca serão

próximas de mim.

Anna está no topo.

Sarah passa por nós como um furacão e vai em direção ao jardim.

Sem pensar duas vezes, eu a sigo.

— Desculpa, eu devia ter dito que ela era minha irmã — balbucia ao
me olhar por cima do ombro. — Não devia ter escondido algo assim de

você.

Paro de frente para Sarah, alguns passos de distância.

— Tudo bem, não estou brava. — Tento sorrir para amenizar o

clima. — Sente saudade dela? — resolvo perguntar.

Sarah engole em seco.

— Todo dia, mas eu também odeio Sienna por ter me deixado.

Uno as sobrancelhas em confusão. Como assim, Sienna a deixou?


Forço a minha curiosidade a descer pela goela, porque não quero ser
indelicada como Anna foi. E Sarah é uma garota muito fechada, não parece
que vai sentar e me contar a sua vida inteira.

Decido mudar de assunto.

— Elas estão me sufocando com todas as dicas de como ser uma


excelente esposa — falo ao indicar com os dedos de maneira delicada para

a casa atrás de mim.

— São irritantes, mas com tempo você se acostuma.

Enrugo o nariz e pela primeira vez, vejo Sarah sorrir. É algo bem

pequeno e breve, mesmo assim, ainda é um sorriso.

— Vamos embora? — pergunto sugestiva. — Acho que se eu

continuar aqui, vou enlouquecer.

Sarah assente num gesto firme.

Fazendo uma expressão de quem adorou o encontro, mas precisa e ir

embora, eu me despeço das mulheres que compõem o Império Salvatore.


Recebo tantos abraços e beijos, que quase me sinto acolhida de verdade.

Se não fossem um bando de interesseiras...

Luigi, o soldado que nos trouxe aqui, nos espera no carro, do lado
de fora da casa. Eu o conheci hoje, antes de embarcar com Sarah para o

universo da loucura que é o dessas mulheres que acabo de deixar para trás.
Ele não é de falar muito, em contrapartida, tem uma expressão mais
suave, apesar da postura rígida de quem nunca relaxa.

Nós vamos deixar Sarah em casa. Sem aviso prévio, eu a abraço


com ternura. Ela retribui o carinho de volta, me aperta com tanta força, que

me faz pensar que nunca mais vai me soltar.

Sorrindo, afasto-me um pouco e permito que desça do veículo.

Luigi observa tudo pelo retrovisor, em silêncio.

— O que há de errado com ela? — pergunto quando estamos


sozinhos no carro de novo. — Sarah tem um sorriso tão cheio de vida, só

que é tão triste também.

Luigi se remexe no banco do motorista de maneira desconfortável,


mas não diz uma única palavra.

Sinceramente, odeio homens silenciosos.

— É segredo? — insisto.

— Não necessariamente — é a resposta que recebo.

— O que aconteceu com Sienna? — decido perguntar e espero de


verdade por uma resposta que vá me fazer entender Sarah.

É claro que não é o que eu escuto.


— É algo que você terá que conversar com Danilo — diz num tom

sério e de quem não vai falar mais nada a respeito.

Sienna...

O que aconteceu com você?

Será que é o que estou pensando? Por isso, Sarah é tão triste e
solitária mesmo com o seu sorriso brilhante?

Você fez mesmo isso, Sienna?

São um pouco mais das dezoito horas quando entro na cobertura.

Sou tomada pelo silêncio e a solidão. Tudo tão vazio, que faz o meu
estômago revirar. Caminho até a varanda e admiro o lago Michigan,

pensando em como enfrentar minha vida daqui pra frente.


Os olhos ardem e eu engulo com força para não chorar. Eu fui forte

hoje ao me despedir da minha família, não quero desmoronar agora, porque


se eu o fizer, não sei se consigo me reerguer sozinha.

Volto para dentro da cobertura e segurando o corrimão, rumo para o


quarto principal. Não tenho vontade de fazer nada, além de deitar na cama e

fechar os olhos e esperar o dia terminar.

Bato as pestanas e respiro fundo, contando mentalmente até dez,


esperando cair no sono, o que acontece depois de uns minutos.

De repente, sinto alguém me cobrir com edredom. Abro os olhos e


tento me acostumar com a pouca luz dentro do quarto. O cheiro

inconfundível de Danilo invade o meu nariz como um soco certeiro.

— Danilo? — chamo, mesmo tendo certeza de que é ele.

— Você estava encolhida como um filhotinho — fala, ajeitando os

travesseiros atrás da minha cabeça. — Eu queria ter vindo mais cedo, mas
tivemos um problema — emenda.

Decido sentar na cama e acender o abajur do quarto. Checo as horas

no relógio digital. São uma da manhã, nem acredito que dormi tanto. Olho
para frente e o vejo de cócoras, analisando-me.

— Está com fome? — ele quer saber.

— Não. E você?
— Não. Só quero tomar um banho.

Concordo com um aceno de cabeça e ele se levanta, já tirando o


terno moderno feito sob medida e os sapatos antes de entrar no banheiro, e

deixar a porta aberta, o que soa para mim como um convite instigante.

Eu também preciso de um banho e talvez, eu devesse esperar Danilo

sair primeiro antes de entrar, só que estamos casados. Sei que estou testando
os limites do Diabo. Mas a verdade é que eu nunca fui uma boa menina. E

nós estamos casados. Não tem volta ou como fugir disso.

Respiro fundo e levanto da cama. Tiro as roupas antes de entrar no


banheiro. Ele já ligou o chuveiro, então, demora até me notar e quando o

faz, os olhos azuis brilham de excitação.

Faço um esforço enorme para não abaixar as vistas e espiar as partes

baixas de Danilo.

Por incrível que pareça, ele não faz nada. Nem me toca. Apenas, se
afasta para que eu fique debaixo do chuveiro e de costas para ele. A

sensação da água morna contra a minha pele é gostosa e me faz relaxar um


pouco.

— Pode ensaboar as minhas costas? — as palavras atravessam a


minha boca antes que o cérebro tenha tempo de processá-las.
Sem dizer nada, Danilo começa a passar a esponja nas minhas
costas, o cheiro de sabonete cítrico se espalhando pelo ar. Inspiro fundo ao

senti-lo deslizar com ela até a minha bunda, e depois, subir de novo até os
ombros.

Fecho os olhos e viro de frente. Danilo passa a esponja no meu colo,


entre e em cima dos seios. Meu coração bate tão rápido, que acho que ele

pode ouvi-lo. O homem é atrevido e o ousado o suficiente para ensaboar


entre as minhas pernas.

Engasgo com a sensação inebriante que arrepia cada pelinho da

minha pele.

— Algum problema? — questiona, cínico.

— Nenhum — murmuro, querendo pedir que me toque até eu gozar.

Ele se aproxima de mim e com a mão livre, segura o meu queixo e o

levanta. A boca de Danilo encosta na minha, mas em vez de me beijar, ele


morde o lábio inferior, me fazendo gemer.

Uma mão voa para a minha nuca, que ele agarra com força antes de
mergulhar a língua em mim para um beijo debaixo do chuveiro. Acabo me
perdendo na sensação da a boca exigente contra a minha, mas paraliso ao

sentir a ereção contra a barriga.

Caio na tentação e olho para baixo.


Merda.

Danilo está duro pra cacete. O membro rígido e grosso apontando


para mim, insinuando o quanto deve ser bom senti-lo dentro do lugar quente

e úmido que tenho entre as pernas.

— Você tá muito duro.

— Sim. Difícil não ficar de pau duro com você desse jeito na minha
frente, piccolina. É uma tentação do caralho.

Suspiro.

— Hum...

— Quero muito sentir você cavalgando em cima do meu pau —


murmura, fazendo o meu clitóris latejar.

— Ainda não. Quero te conhecer primeiro — falo sem ter tanta


certeza sobre isso. Quero mesmo esperar? Não sei. Ele assim é tão

convidativo e eu sou uma garota nova, cheia de desejos.

Levanto os olhos para encará-lo.

Danilo suspira e contrai o maxilar, mas assente.

Para minha surpresa, ele não me afasta, continua ensaboando o meu


corpo com um cuidado que não esperava receber dele. Acabo pegando a
esponja e colocando sabonete líquido para ensaboá-lo também.
Talvez Danilo não saiba, no entanto, o que estamos fazendo agora é
um passo para frente quando o assunto é sobre nos conhecermos melhor.

Depois de terminarmos o banho, eu seco os cabelos e visto uma


blusa dele como pijama. Ainda não desfiz as malas e não estou a fim de
fuçar até encontrar algo confortável.

Os olhos severos brilham para mim, parece gostar de me ver usando


suas roupas.

Deitamos na cama king size e não demora nada para Danilo


adormecer. Eu fico o observando por um tempo. Dormindo, ele parece
inofensivo, quase como se fosse mesmo um anjo de luz.

Com o som ritmado da respiração dele, eu pego no sono outra vez.


Acordo antes do despertador tocar e com uma ereção do caralho.

Em algum momento da noite, Martina se enroscou no meu corpo e

colocou uma coxa macia em cima da minha virilha. O joelho da garota toca
de leve o meu pau, mesmo assim é o suficiente para me deixar ainda mais

duro e dolorido.

Sem fazer movimentos bruscos, saio da cama e antes de ir para o


banheiro, admiro-a com atenção. Os cabelos escuros estão esparramados

pelos travesseiros e a camisa social que está vestindo subiu até a altura do

cóccix, e apesar de estar usando uma calcinha de tecido macio, parte dele

está enfiado na bunda em formato de coração.

É uma tentação e tanto.

Se eu fosse um cretino como o meu pai, eu a tomaria a força. Porém,

eu jamais me enterrarei numa mulher sem que ela queira que eu faça isso.
E Martina é minha esposa. Além de não ser uma mulher qualquer,

ela merece o meu respeito. Não segundo o Don Salvatore, mas nunca a

maltratarei como o papà faz com a mamma.

Um exemplo que não vou seguir.

Arrasto os pés até o banheiro e desço a calça moletom e a boxer

antes de entrar no chuveiro para bater uma. Estou duro demais para esperar
a excitação passar por livre e espontânea vontade.

Me perco em pensamentos impuros. Todos voltados para Martina.

Me vejo lambendo a pele macia dela, o belo rabo em formato de coração,


apertando, mordendo e marcando cada pedaço dela como minha

propriedade.

Meu pau lateja com força à medida que a fricção que faço com a
mão vai ficando mais rápida, e as imagens na minha cabeça, mais ferozes.

Fecho os olhos e no momento que o faço, vejo Martina de joelhos

no box, engolindo o meu pau inteiro com vontade, sugando até o talo, me

fazendo vibrar contra os lábios carnudos e atrevidos.

Ela faz movimentos precisos de engolir meu pau inteiro e colocar a


língua para fora para lamber a glande...

Gozo como a merda de um adolescente na puberdade.


Fico mais tempo que o necessário embaixo do chuveiro e mudo a

temperatura para frio, na tentativa de acalmar o meu corpo, que ainda

parece tenso por causa do tesão que essa garota me dá.

Vou para o closet, não sem antes espiar Martina na cama. Continua

do mesmo jeito, a bunda deliciosa parece um convite para mim. Com uma

força de vontade, que me surpreende, troco de roupa e calço sapatos.

Estou colocando o Rolex no pulso quando volto para frente da

cama. Admiro o belo rabo da minha esposa por um instante antes de cobri-

la com edredom.

— Danilo... — murmura com a voz de sono.

É sexy pra caralho.

— Durma, estou saindo.

Mesmo sonolenta, ela senta na cama e estica os braços para se

espreguiçar, deixando gemidos escaparem do fundo da garganta, que

começa a querer acender o meu pau de novo.

— É cedo — fala ao bocejar e olhar a hora no relógio digital ao lado

da cama.

Ela está certa. Não passa das sete horas, mas os negócios são

negócios a qualquer momento do dia.


— Tenho uma reunião — digo e me sinto esquisito. Eu venho

dando tantas explicações para Martina de uma forma que nunca fiz antes.

Nem mesmo para a mamma.

— Aproveite o dia e faça o que quiser — me ouço falando, mas nem

sei se ela escutou de verdade, porque voltou a afundar no colchão e não

demora para respiração ficar pesada.

Saio do quarto depois de voltar a cobri-la com edredom e rumo na

direção do elevador privativo. Antes das portas de metal se abrirem, eu

disco o número de Luigi.

Quando Martina estava em Detroit, não precisei mandar Luigi para

lá, porque não tinha dúvidas que os homens de Giuseppe cuidariam bem da

filha do Don. Mandei homens para ficarem de olho em um possível

problema.

Ontem, eu pedi que Luigi cuidasse de Martina, mas não é

necessariamente o que ele é acostumado a fazer. Ele é um excelente soldado

e um ótimo amigo. Eu conheço há anos e além dos meus irmãos e Matteo, e

até mesmo, Giancarlo, é o único homem em que eu confio de verdade.

E como Martina precisa de um segurança, confiarei a minha esposa

a ele quando eu não estiver por perto.


Mesmo que meu amigo tenha um pau, eu sei que o manterá bem

longe dela. Além de ser fiel a mim e me respeitar, ele sabe que odeio

traidores e não costumo dar segundas chances.

— Tenho um trabalho pra você — informo sem rodeios.

— Claro — ele diz com a voz ofegante.

— Espero que não esteja trepando agora — retruco, fazendo meu

amigo rir.

— Corrida matinal.

As portas do elevador privativo que dá direto na cobertura, se

abrem. Não entro de imediato, mas o seguro com a mão para mantê-lo

aberto.

— Preciso que seja o segurança de Martina. Não confio em ninguém

para o serviço.

Ele respira fundo e faz um barulho de deglutição no outro lado da

linha, como se estivesse bebendo água.

— Tudo bem, o que quiser — diz com firmeza.

— Ótimo. Venha o quanto antes — ordeno ao meu amigo e espero a

confirmação para encerrar a ligação e entrar no elevador.


Danilo tem duas empregadas.

Quando saí mais cedo para academia do prédio, que é exclusiva para

o meu marido, elas não estavam aqui. Agora, tem uma mulher com um
aspirador de pó na sala, enquanto a outra, está na cozinha de conceito aberto

picando legumes.

— Danilo não falou da Gina e da Ornella? — Luigi pergunta ao ver


a surpresa estampada no meu rosto. Ele está na minha cola desde que desci

de elevador. Não sei como não morreu de tédio ao me ver usar a esteira por

uma hora e meia.

Nego com a cabeça em resposta.

Ele faz um gesto com a mão para que eu vá até o meio da sala e ele
chama a mulher na cozinha para vir ao nosso encontro. As duas param de

frente para mim e sorriem simpáticas.


Uma delas tem cabelos grisalhos, mas não é tão velha.

Aparentemente, da idade de Maria. A outra, tem um cabelo loiro e longo,

acho que deve estar na casa dos trinta e cinco por aí.

— Essa é Ornella — Luigi fala ao apontar para a mulher de cabelo

grisalho do meu lado esquerdo que assente para mim. Estendo a mão em

cumprimento e ela pega com um aperto firme. — E essa é Gina. — Aponta

para a outra, que estende a mão de imediato.

— Sou Martina — digo o óbvio.

— Elas trabalham de segunda à sexta-feira e estarão a sua


disposição — Luigi diz, fazendo-me olhá-lo por um segundo e refletir que

realmente preciso fazer algo da minha vida ou vou enlouquecer.

— Tomei a liberdade e desfiz suas malas enquanto estava se


exercitando, senhora Salvatore — Gina fala ao me dá um sorriso gentil. —

Se algo não estiver do seu agrado, por favor, me diga, que eu arrumarei de

novo.

Não vejo problema que ela tenha desfeito as malas, mas agora, não

há nada que eu possa fazer além de esperar Danilo chegar do trabalho.

Deprimente.

Tedioso.

Luigi e eu morreremos de tédio.


— Não precisa me chamar de senhora, pode me chamar pelo meu

nome... Martina — informo as duas que se entreolham antes de lançarem

uma olhadela cheia de dúvidas para Luigi ao meu lado.

— O que a senh... o que você quer para o almoço? — Ornella

questiona. Era ela quem estava na cozinha picando os legumes.

— Pode ser um risoto — falo à primeira coisa que me vem à cabeça.

— Pode preparar um jantar para mim e Danilo também? O prato preferido

dele.

Ornella sorri, satisfeita.

Eu preciso ter uma conversa séria com o meu marido sobre como

será a minha vida daqui pra frente e o que farei enquanto ele estiver

trabalhando. Não custa nada tentar agradá-lo antes de informar que não

serei como as outras esposas do nosso mundo.


Resolvo explorar o andar de cima antes de me arrumar para o jantar.

Além da suíte, que ocupa o lado direito inteiro, há três cômodos na minha

esquerda. Dois quartos de hóspedes e um escritório espaçoso com poltrona


e prateleiras com livros de capa dura e alguns sobre finanças.

Sento na cadeira giratória de couro e observo todo o lugar, tentando

conhecer Danilo nas entrelinhas. Uma das gavetinhas da mesa chama minha

atenção, mas ao tentá-la abrir, noto que está trancada.

Eu teria procurado a chave para descobrir o que Danilo mantém

trancado, mas a notificação de uma nova mensagem no celular, tira todo o

meu foco.

É ele.

Danilo: Você quer sair pra jantar? Podemos fazer aquilo que você

quer. Me conhecer melhor antes de me deixar te ver pelada.

Sem saber muito bem o porquê, eu sorrio. Esse homem tem um

senso de humor que destoa muito da cara carrancuda e o jeito mandão de

ser.

Martina: Você já me viu pelada. Duas vezes.

Danilo: Não valeu.

Martina: Podemos sair pra jantar depois. Eu pedi que Ornella

fizesse o seu prato preferido.


Danilo: Luigi apresentou vocês?

Martina: Sim. Que horas você chega?

Danilo: Estarei em casa daqui duas horas.

Martina: Ok.

Estranho como estou me adaptando rápido demais a minha vida de

casada.
Com Giovanni de um lado e Romeo do outro, nós entramos no bar

do moto clube dos Steel Tigers. O lugar é bem espaçoso e amplo, tem
strippers usando roupas insinuantes por todos os lados. No subsolo, há a

casa de prostituição. Não é grande coisa, mas é um extra para a gangue dos

motoqueiros.

Assim que o prospect[13] nos vê, ele nos guia até a sala do presidente.

Ao atravessarmos o bar, os velhos de barbas brancas com jaquetas de couro

e com o fedor de suor misturado a maconha, viram a atenção para nós três.

Entramos num pequeno corredor apertado e escuro antes de

chegarmos à porta de madeira maciça que dá na direção da sala principal.

Logan, o vice-presidente do clube, me cumprimenta com um aperto

de mão e faz o mesmo com Giovanni e Romeo. Se me perguntassem se

confio em alguém deste lugar, a resposta seria ele.


Quando o papà quis dominar as gangues da cidade, foi um caos.

Mas o Don não queria concorrência para vender drogas. Então, decidiu que

seria o único fornecedor de Chicago.

Claro que antes de chegarmos a um acordo, foi um banho de sangue.

Nós somos maiores do que qualquer gangue ou família na cidade, mas até

eles aceitarem isso, muitos morreram para selar um acordo.

No entanto, Steel Tigers foi um grupo que sempre deu trabalho. Eles

não gostam de receber ordens e vivem entrando em confusão com os nossos

soldados.

Até então, nenhum problema grave. Mas acontece, que Malcom, o

presidente do clube de motoqueiros, andou nos roubando e achou que não

seria pego ou punido por fazer isso.

— A vossa realeza visitando a minha pobre e humilde casa. A que

devo a honra? — o velho de cabeça branca pergunta com um tom

debochado enquanto fica de pé e faz uma reverência exagerada e ridícula.

Sorrio, escárnio, devolvendo o seu atrevimento.

— Você é burro, Malcom — digo sem rodeios, fazendo o velho


trincar os dentes. — Achou que eu nunca perceberia? Achou que nós nunca

descobriríamos o que você fez?

Ele franze as sobrancelhas para mim.


— O que você disse?

— Não devia ter nos traído. — Respiro fundo e faço um estalo com

a língua. — Tudo tem um preço. E a traição... ela cobra um preço bem alto,

Malcom. Tem muita sorte de não ser um membro da nossa organização. Se

fosse, o seu destino seria cruel.

— Do que você tá falando, merdinha? — rosna ao vir para cima de

mim, mas é impedido por Romeo, que em um gesto rápido e silencioso,

saca uma arma e aponta para ele.

— Saia! — ordeno ao Logan, que olha para Malcom antes de sair da

sala do escritório.

Logan sabe o que vai acontecer com Malcom por ter nos traído.

Dias atrás, depois de sabermos que fomos roubados, pegamos um dos

motoqueiros para “conversar”. Depois de algumas horas de motivação, ele

abriu o bico e disse a verdade sobre o presidente deles.

Chamei Logan para uma reunião. Ele não estava mancomunando

com os planos de Malcom para tirar dinheiro de nós, então, eu fiz uma

proposta irrecusável.

Ou ele afundava junto com Malcom, ou me ajudava a limpar o clube

de uma vez por todas.


— Achou que podia roubar da gente e sair impune? — pergunto ao

colocar a mão no seu ombro e fazê-lo sentar na cadeira com um trancão. —

Achou mesmo que podia passar a perna em nós?

— Não sei do que tá falando.

— Pare de mentir. Vai morrer como um mentiroso ou vai assumir a

merda que fez? — indago com um tom incisivo.

— Você se acha melhor do que eu? — Malcom pergunta, rangendo

os dentes e bufando. — Somos iguais, a diferença é que você é um

playboyzinho de merda e eu sou um homem de verdade.

Rio com o comentário.

— A diferença entre nós vai além disso — informo ao estender a

mão para Romeo e pegar a pistola do meu irmão. — Você é minha cadela e

eu posso te dispensar no momento em que eu quiser. Sabe por quê? Porque

você é substituível — murmuro ao destravar a arma e depois, enfio o cano

na boca de Malcom com um gesto brusco.

Percebo o movimento que ele faz para pegar algo debaixo da mesa e

o impeço no mesmo instante. Afasto a cadeira para trás, a madeira

arranhando o chão e Giovanni passa por nós para pegar o que está

escondido debaixo da mesa.

É um calibre 38.
— Palavras finais? — pergunto ao Malcom e não o deixo responder.

— Mudei de ideia, não quero ouvir você — acrescento ao apertar o gatilho

e disparar um tiro contra a boca dele.

Respinga sangue na parede e em mim também, o que me deixa meio

irritado. Pego o lenço de dentro do terno para me limpar, e depois, faço um

gesto para que Romeo e Giovanni saiam do escritório.

— Vão ajudar Logan — é a única coisa que digo e eles entendem no

mesmo segundo.

Contando com Malcom, são quatro traidores e sei que os três filhos

da puta que estão faltando, estão aqui. Logan fez um ótimo trabalho em
mantê-los ocupados até a nossa chegada.

Ainda estou me limpando com o lenço no momento em que meus

irmãos e Logan entram no escritório de novo. Dou alguns passos para o

Malcom com a cabeça estourada e enfio a mão dentro do meu terno para

pegar a faca que é da Martina. Sem pressa, corto a costura da insígnia da

jaqueta de couro com a palavra “Presidente” e em seguida, entrego para

Logan.

— Parabéns, você é o novo presidente dos Steel Tigers.


Ao entrar no apartamento, tenho uma sensação inquietante no peito.

É a primeira vez que passo por essa porta e tem alguém além da Gina e
Ornella me esperando chegar em casa.

Depois de retirar o sobretudo, rumo para a sala de estar ao mesmo

tempo em que Martina alcança os últimos degraus da escada.

Ela está linda. Usando um vestido preto de mangas longas, mas com
uma fenda sexy em umas das coxas. Os pés pequenos com unhas pintadas

de branco estão descalços, e os cabelos soltos, caindo em ondas grossas na

altura dos ombros.

— Meu Deus, você tá sangrando — ela diz ao reparar nas manchas

vermelhas no meu terno e blusa social. — Você tá bem? — pergunta,

inspecionando com os olhos as minhas roupas.


— Não é meu — falo, fazendo-a erguer os cílios e prender as duas

pedras azuis brilhantes aos meus olhos, e assentir em silêncio. — Desço em

alguns minutos.

Envolvo as mãos na cintura fina de Martina e aperto, puxando-a um

pouco para mim e arrebatando um gemido manhoso dela. Gosto de tocá-la.

Gosto mais ainda que ela não reclame ou recue quando eu o faço.

É difícil resistir e não jogá-la em cima do sofá e arrancar o vestido e

tomar posse do seu corpo pequeno e atraente. Estou tentando levar a sério

esse negócio de Martina me conhecer primeiro, antes de me enfiar entre as

carnes macias e quentes que estão escondidas entre as belas pernas.

Conhecer bem para poder foder depois.

Difícil e interessante.

No geral, eu não perguntava mais do que o primeiro nome e a idade


para trepar gostoso com uma mulher. Mas essa garota atrevida veio para

testar minha paciência e os limites do meu autocontrole.

Subo as escadas e vou direto para o quarto principal.

Na cômoda ao lado da cama, ela colocou alguns porta-retratos com

fotos das irmãs e dos pais, sempre sorrindo ao lado da família. Fico

observando as fotografias até me dar conta de algo.

Eu também quero conhecer Martina.


Desço as escadas e vejo Martina colocando os pratos e talheres na

ilha de granito.

— Não quis usar a mesa de jantar? — pergunto ao enfiar uma mão

no bolso e caminhar até a bela mulher na cozinha.

Ela enruga o nariz e nega com a cabeça.

— Não. Teríamos que sentar longe demais e a gente precisa

conhecer um ao outro. Sentar longe daquele jeito... — fala ao gesticular

com o dedo para a mesa de jantar comprida. — Não vai rolar.

Concordo com um aceno de cabeça.

— Ravioli?

— Recheado com queijo e ervas finas, o seu preferido — fala,

sorrindo.
Aproximo-me dela, roçando de leve os nossos corpos e estudando as

suas reações. Ela suspira pesado, mas finge não se importar com as minhas

mãos que voam para a sua cintura.

Dou alguns passos para a esquerda até chegar no bar pequeno que

fica perto da cozinha, de dentro da miniadega, eu retiro uma garrafa de

vinho tinto e volto para perto de Martina, dessa vez, sentando em uma das

banquetas depois de servir vinho nas taças de cristais que ela pegou.

Martina se acomoda ao meu lado e eleva o cálice para um brinde.

Sem tirar os olhos dela, bebo um gole generoso de vinho.

Ela respira fundo e molha os lábios ao colocar a taça em cima da

mesa e me encarar.

— Não sei como começar.

Assinto.

Para falar a verdade, nem eu. É novo para mim. Nunca tive um

relacionamento sério. Tudo sempre envolveu sexo e apenas isso. Sem

compromissos. Sem amarras. Apenas, o bom e velho sexo sujo.

— Tá nervosa?

Martina me dá um sorriso tímido.

— Um pouco — admite.
— O que você quer saber sobre mim? — questiono.

Ela semicerra os olhos ao pegar a taça de vinho de novo e beber um

gole. Em seguida, morde o lábio inferior. O gesto envia uma onda quente e
vibrante para o meu pau.

— Tá, tem algo que quero saber. É muito pessoal e invasivo.

Concordo com outro aceno de cabeça.

— Vá em frente.

— O que aconteceu com Sienna? — pergunta de uma vez, fazendo o

meu coração se contorcer dentro do peito. Estava esperando algo do tipo

“quantas mulheres eu comi na minha vida”, sei lá.

Agarro a taça de vinho e tomo outro gole.

Martina continua:

— Eu sei que você não é bom, mas não acredito no que falam por aí.

Não acredito que matou Sienna. Então, por favor, pode me dizer o que

aconteceu? Também vou entender se não quiser tocar no assunto.

Encaminho a atenção até Martina e eu permaneço um tempo em

silêncio, que mais parece uma eternidade.

— Ela se suicidou — as palavras que atravessam minha boca têm

gosto de fel. — Sienna não queria casar comigo, por isso, tirou a própria
vida.

Os olhos de Martina brilham e ela pisca devagar, assimilando a

informação. Os dedos finos envolvem o cálice em cima do granito e ela

bebe todo o líquido de uma vez, depois, pega a garrafa de vinho e serve a si

mesma.

— Confesso que cheguei a pensar nisso, mas não quis acreditar.

— Por que a curiosidade?

— Sarah... ela tem um sorriso tão lindo, mas é tão triste, como se

algo tivesse quebrado dentro dela — murmura, fazendo o meu coração

saltar dentro do peito.

O meu mundo é tão podre e doentio, Martina é o que há de mais

puro na minha vida agora. Não devia gostar disso, mas acontece que eu

gosto. O papà nunca amou a mamma ou a nós. Ele dizia que o amor foi uma

coisa que inventaram para enfraquecer os homens.

— Você gostava dela? — a pergunta me tira do devaneio.

— De quem? Sienna? — retruco e ela assente, me analisando. —

Não era apaixonado por ela — é apenas o que digo.

— Hum.... teve quantas namoradas?

Curvo o canto da boca ao ouvi-la.


— Nenhuma.

Os olhos dela se arregalam em surpresa.

— Nenhuma?

— Eu transei muito. Não namorei ninguém — devolvo e um

pequeno som de “ahh” sai dos seus lábios, como se tudo ao meu respeito

fizesse sentido. — Minha vez. Quantas vezes você transou com Jason?

As bochechas dela ruborizam.

— É uma pergunta muito pessoal — retruca e eu apenas arqueio


uma sobrancelha para ela, esperando que seja sincera e me responda. —

Danilo — repreende, mas continuo com a sobrancelha erguida. — Quer


mesmo saber?

— Sim, por isso, eu fiz a pergunta.

— Algumas — responde e dá de ombros.

— Resposta muito vaga. Seja específica.

Para evitar de me responder, enfia o garfo num Ravioli e leva até a


boca, depois aponta com o indicador para sinalizar que está mastigando.

Mesmo que a vontade seja de ficar bravo por ela estar desviando da minha
pergunta, a única coisa que faço é começar a comer também.
— Hum. Ornella tem mãos de fada. Isso aqui tá delicioso —
murmura com a boca cheia, me roubando um riso curto e seco.

— Como foi o encontro com as mulheres ontem? — pergunto e

acho que estou pegando o jeito desse negócio de conversar e conhecer


melhor.

Ela engole e beberica o vinho antes de voltar a atenção para mim.

— Que bom que perguntou. Lembra que eu tenho algo importante


pra conversar com você?

— Sim. O que você quer?

Martina vira todo o corpo para mim, e como às vezes, gosto de

pensar com a cabeça do meu pau, agarro as mãos na banqueta e arrasto até
próximo de mim. Ela fica tão perto, que sinto o calor da sua respiração e o

leve sabor de vinho.

Ela engole com força e abaixa as vistas até a minha boca.

— Algum problema? — pergunto ao içar a mão e agarrar uma

mecha grossa de cabelo para colocar detrás da orelha.

— Não, mas você é uma distração, sabia?

Abro um sorriso maroto.

— Eu sou?
Martina fecha os olhos e inspira fundo, soltando o ar pelo nariz e
boca. Volta a bater os cílios e me encarar. As pupilas estão dilatadas, o que a

deixa sexy pra caralho.

— Quando vai me deixar foder você?

— Danilo — repreende, mas arqueja no instante em que a minha

mão vai para detrás da sua cabeça, enroscando os dedos nos cabelos da
nuca.

— O que foi? Muito grosseiro pra você?

— Não é isso — balbucia e sacode a cabeça. Ela coloca as mãos nos

meus ombros para me afastar e não funciona, apenas, me dá mais acesso ao


seu corpo pequeno e quente. — Quero trabalhar.

Franzo o cenho sem entender.

— O quê?

Ela suspira.

— Me formei no ensino médio como uma das melhores alunas da

escola. Sou boa com números e acho que me comunico bem com as pessoas
— fala e ainda assim, não entendo.

— Por que quer trabalhar? Você não precisa.


É visível que as palavras que saem da minha boca deixam Martina

chateada, porque ela se desvencilha das minhas mãos e escorrega da


banqueta para sair de perto de mim.

— Me faça entender — digo ao segurar o pulso fino e impedi-la de

sair da cozinha. — Me faça entender, Martina.

— Não quero passar o dia em casa sem fazer nada. Eu sei que você

vai me dar tudo que eu quero e preciso, mas o que eu vou fazer da minha
vida? Não quero ser apenas... uma esposa. Gina e Ornella já fazem tudo em

casa, não que eu ache ruim, não tenho habilidades culinárias ou algo do
tipo, mas eu preciso de algo.

Observo as nossas mãos juntas e acabo entrelaçando os meus dedos

nos seus, enquanto a puxo para mim de novo, colocando-a entre as minhas
pernas. Abaixo um pouco as vistas e admiro o decote, imaginando a minha

língua roçando na pele entre os seios.

Preciso de muito esforço para não ficar duro que nem pedra.

— O que quer fazer? Posso arranjar um emprego pra você — me

ouço dizendo, o que surpreende a ela e a mim também.

Nenhuma das mulheres no nosso mundo têm emprego. Elas são

criadas para serem esposas e cuidar dos maridos, filhos e dos afazeres de
casa.
— Que tal ser gerente de um dos seus restaurantes?

Enrugo a testa e reflito por um longo minuto. Nossos restaurantes,


não são apenas só restaurantes, usamos para lavagem de dinheiro e um

deles, esconde o principal escritório subterrâneo da organização.

No entanto, se Martina trabalhar em um dos nossos restaurantes,


sempre terá alguém para cuidar da sua segurança e protegê-la quando eu

não estiver por perto.

— Ok.

Ela encrespa o nariz e faz um bico bonito, que tenho vontade de

desmontar com um beijo feroz.

— Ok?

— Sim, ok.

— Sério? — pergunta, ainda sem acreditar. — Quero trabalhar de


verdade. Tipo, bater ponto. Sair de manhã e voltar no final da tarde.

— Não precisa trabalhar tantas horas assim — resmungo. — Você é


a mulher do subchefe, vai fazer o seu horário conforme quiser.

Martina semicerra os olhos.

— Então, é de verdade? Eu vou poder trabalhar?

— Sim.
Os lábios carnudos se repuxam em um sorriso largo e ela envolve os
braços em volta do meu pescoço para me abraçar. Contorno a cintura de

Martina e gosto da sensação de abraçá-la, sentir o cheiro doce e de flores


impregnando nas minhas roupas e nariz.

— Obrigada, Danilo — ela murmura sem me soltar e a voz meiga

vibrando contra os meus ouvidos, faz o meu peito esquentar de um jeito


novo e estranho.

O que Martina está fazendo comigo?

Ela afunda no colchão ao meu lado usando uma camisola curta de


seda na cor vermelha. O tecido marca bem as curvas do corpo e não

esconde os mamilos enrijecidos, que são uma tentação.

Sem olhar para mim, a garota puxa o edredom para se esconder das
minhas encaradas intensas.
— Oral conta como sexo? — pergunto, apenas para ver o rosto de
Martina ruborizar. — Precisamos definir algumas coisas. Os nossos limites.

Passo uma das mãos por debaixo do edredom e a puxo para mim,
roubando um gemido de surpresa dela.

— Conta como sexo — murmura ao prensar os lábios.

Subo com a mão esquerda até os seios de Martina e agarro com uma
pegada firme, observando a garota arquejar com o meu toque e as maçãs do

rosto ruborizarem.

— Mão boba conta? — insisto.

— Depende — fala e prende os olhos grandes aos meus. —

Depende de onde até essa mão boba vai descer.

Curvo a boca num sorriso cínico.

— E isso? — Sem conseguir me conter, inclino o rosto para frente e


passo a língua na linha do pescoço dela, descendo pelo colo e mordendo de

leve o mamilo intumescido por cima da seda. — Chupar aqui conta como
sexo?

Martina engole em seco.

— Sabe... não é fácil pra uma mulher ficar excitada — começa a


tagarelar, fazendo-me estreitar os olhos. — Precisamos ter uma conexão

antes.
— Mais do que a nossa conexão? — devolvo ao roçar os dentes na
orelha dela, ouvindo-a gemer manhosa. — Estamos casados. Essa conexão

é forte demais. Não acha, piccolina?

— Danilo... — murmura, suspirando pesado e estremecendo o corpo


debaixo da coberta. — É, mas não é suficiente para uma mulher ficar
excitada.

— Você parece bem excitada.

— Não estou — mente na maior cara de pau e os meus lábios

esticam em um sorriso lascivo.

— Hum, certo. Não está excitada. — Decido que vou entrar na onda
de Martina. É divertido e nem lembro a última vez que me senti assim. — O
que é preciso pra você se excitar?

Ela pigarreia.

— Como?

— Com certeza, já se tocou sozinha, não é? — Continuo dedilhando


o corpo dela, devagar, provocante e sentindo a garota se contorcer debaixo
da minha palma. — Mostra pra mim — ordeno e Martina fica me olhando,
as pupilas dilatadas e a respiração ofegante.

— Não vou conseguir ficar excitada na sua frente — balbucia.

— Eu te ajudo.
Depois de proferir as palavras, abaixo um pouco o rosto e beijo a
curvatura do seu pescoço, meus lábios descem lentamente, provando a pele

macia durante o tempo em que ela solta gemidos baixos para mim.

Arredo um pouco o tecido da camisola e a minha língua toca o seio


de Martina, fazendo-a arquear o quadril. Minha ereção contra o moletom
pulsa de maneira dolorida e ansiosa.

Sugo o seio dela ao erguer os olhos e vê-la com a boca entreaberta,

choramingando, sem conseguir controlar o corpo que estremece com as


minhas investidas. Permaneço com o bico intumescido entre os lábios por
alguns minutos, dando total atenção a essa parte sensível de Martina.

Afasto-me um pouco e ela me olha, inebriada.

Pego a mão pequena e a faço subir parte da camisola sexy e espero

um pouco, mas ela não me para. Coloco os meus dedos por cima dos seus e
deslizo para dentro da calcinha e juntos, tocamos a fenda melada.

Retiro os nossos dedos ensopados com o mel da sua excitação e levo


até a minha boca, chupando com vontade.

— Danilo... — ela sussurra, ofegante.

— Eu disse, já estamos conectados.

Dobro um pouco o corpo, apenas o suficiente para encontrar os


lábios carnudos e beijá-la com lentidão, fazendo-a sentir o gosto do sexo
impregnado na minha língua. Ela geme contra a minha boca e eu devoro

cada suspiro que a garota solta.

Torno a me afastar, se continuar com as provocações, não vou


conseguir me controlar e tomarei posse de cada pedaço de Martina.

— Durma bem, piccolina — sussurro e a vejo engolir em seco. —


Tenha bons sonhos.

— Obrigada, você também — fala num tom baixo e hesitante,

esquadrinhando o meu rosto por alguns segundos antes de fechar os olhos


com força, lembrando alguém que está com vergonha e quer adormecer de
uma vez.

O papà encrespa as sobrancelhas para mim, transformando o rosto


numa carranca mal-humorada. Não deve ser fácil assimilar as palavras que

acabo de soltar.
— Trabalho? — ele repete.

— Sim, em um dos nossos restaurantes.

Os homens em volta da mesa comprida me encaram abismados, e


começam a balbuciar comentários machistas sobre como o único dever de
uma mulher é cuidar da casa, marido e filhos. Menos meus irmãos, Matteo
e Giancarlo. Os quatro permanecem calados e com a expressão impassível.

— Por quê? — o Don resmunga ao pegar um dos charutos em cima


da caixa personalizada e analisar. — Não será mais fácil se der um cartão de
crédito ilimitado pra ela? — pergunta ao pegar a pequena guilhotina para
cortar o charuto e prepará-lo antes de acender.

— Onde já se viu esse absurdo? Uma mulher trabalhar? — Vittorio

começa a falar, deixando visível o descontentamento. — O lugar de mulher


é em casa. É onde elas são felizes — emenda, como se a sua casa fosse um
mar de rosas.

A maioria dos caporegimes em volta da mesa concorda com o que

ele diz.

Respiro fundo, controlando a vontade de pegar a minha pistola do


coldre e enfiar na boca dele apenas para fazê-lo parar de falar asneiras.

— Talvez seja o lugar da sua mulher, não da minha — devolvo,


fazendo o homem se contorcer na cadeira.
— Martina é inteligente — Giancarlo abre a boca pela primeira vez

desde que entramos e tem a atenção do papà. A minha também. — Se


formou como a melhor aluna da escola onde estudou. Não fez faculdade por
causa de Giuseppe. Eu sugiro que mantenha uma mulher inteligente de
cabeça ocupada.

— Inteligente? — Vittorio resmunga.

— Não subestime a minha esposa, Vittorio. — Abro um sorriso


cínico para ele. — Não esqueceu quem eu sou, não é?

Ele cerra o maxilar e tenta sorrir de volta.

— Claro que não. Me desculpe.

O Don respira fundo e leva o charuto aceso até a boca para tragar.

Em seguida, olha para mim.

— Escolha um dos restaurantes pequenos — o papà ordena e eu


assinto. — Não esqueça. Não permito erros — acrescenta, me fazendo
repuxar os lábios em um sorriso falso.

— Não esquecerei.

Faço uma nota mental de dar mais um trabalho para Luigi. Auxiliar
Martina para que ela não cometa erros.
— Como assim? — Violetta pergunta ao prender os cabelos em um

rabo de cavalo do outro lado da câmera. Estamos fazendo uma


videochamada. — Um emprego? Um emprego de verdade? — Ela está

embasbacada.

— Sim. Um emprego de verdade.

Barbara afasta um pouco Violetta para aparecer na tela também. As


sobrancelhas expressivas unidas em desconfiança.

— Por quê? Ele não é tão rico assim? Pensei que fossem

milionários. Milionários não. Bilionários e tudo mais — minha segunda


caçula resmunga.

— Somos bilionários — Giovanni diz com um leve tom sarcástico


ao ocupar meu lado e apoiar a mão na mesa para se intrometer na conversa
com as minhas irmãs. — Oi, garotas de Detroit. Já estão com saudades de

Chicago?

Giovanni e Romeo chegaram faz alguns minutos, estão esperando


Danilo, que está trancado no escritório em uma ligação faz meia hora. Não

estava nos meus planos fazer uma videochamada com elas e ter os meus

cunhados aqui, mas as meninas me ligaram de repente, e eu não quis

recusar.

Mesmo que não faça muito tempo desde a última vez que nos

vimos, eu sinto saudade delas como se estivéssemos separadas por anos.

Barbara fala algo que passa despercebido aos meus ouvidos.

— Não deviam estar na escola? — Giovanni pergunta, visivelmente

interessado.

— Verdade, o que aconteceu? — questiono, intrigada. Quando me


ligaram, estranhei o horário, mas ao vê-las do outro lado da tela do

computador, eu não resistir e esqueci de entender o motivo por estarem em

casa numa quarta-feira de manhã.

— Mamãe nos deu o dia de folga — Violetta fala, assentindo ao


apoiar o cotovelo na mesa e segurar o queixo.

— É, por causa da adaptação — Barbara retruca.

— Adaptação? — Giovanni quer saber.


Sinceramente, estou quase puxando a orelha dele e fazendo-o sair de

perto de mim.

— Nossa família tá incompleta — Violetta comenta, fazendo o meu

coração murchar. — A mamma mal sai do quarto. Não quer conversar com

ninguém. Nem com o papà.

— Não deviam contar os problemas conjugais dos seus pais desse

jeito — Giovanni repreende as minhas irmãs e eu lanço um olhar afiado

para ele.

Abro a boca para pedir com toda a educação que me deixe conversar

a sós com as minhas irmãs e sou impedida, porque Danilo desce as escadas,

chamando os irmãos. Com um pouco mais de privacidade, tento entender o

que está se passando com a mamãe.

— Por que ela está assim? — indago.

De repente, o computador é virado e eu consigo ver Angelina e

Caterina pela primeira vez. Estão todas reunidas no quarto de Violetta e até

então, só tínhamos trocado algumas palavras.

— Ela está sofrendo porque você não está mais aqui — Angelina

diz, simplesmente. — Tô achando que você é a preferida da mamãe

também — emenda com um resmungo, só que abre meio sorriso logo em

seguida.
— Digam a ela que estou bem, tá certo? E que da próxima vez que

me ligarem, eu quero vê-la — falo num tom sério, soando como uma

ordem.

Alguns dias com Danilo e já estou dando ordens.

Fico mais alguns segundos conversando com as minhas irmãs e

encerro a videochamada. Tomo um leve sobressalto ao notar que o meu

marido estava me observando e que Giovanni e Romeo já saíram da casa.

Levo a mão até o coração e massageio o peito.

— Que susto.

— Sua mãe está triste? — pergunta, sem mover um músculo. Como

se o corpo de Danilo fosse a parte do ímã que conecta com o meu, eu dou

alguns passos na direção dele.

— Ela vai ficar bem.

— Por que seu pai não queria te dar em casamento?

A pergunta me pega desprevenida e paralisa os meus pés, e me faz

perceber que não gosto de tocar no assunto. Mesmo assim, eu abro a boca

para falar a verdade para ele, como se já confiasse em Danilo o bastante

para ser sincera em relação a isso.

— Ele fez uma promessa a minha mãe biológica, mas vai muito

além disso. Eu pareço muito com ela e acho que o meu pai nunca deixou de
amá-la. Não gosto de admitir isso, só que qualquer um de fora pode ver, eu

sempre tive privilégios que minhas irmãs nunca terão.

— Você é a preferida.

Engulo em seco.

— Não é que ele não as ame... — começo a falar e odeio ter que

defendê-lo. O favoritismo do papà me faz sentir tão culpada e chateada. —

Ele... ele só não superou o passado.

Danilo concorda com um aceno de cabeça e por alguma razão, que

eu não sei, volto a me aproximar dele. Bem devagar, o que faz o homem

estudar os meus movimentos, como um leão examinando a presa antes do

abate.

— Sua mãe nunca ficou brava com isso?

Nego com a cabeça.

— Se ficou, ela escondeu e esconde muito bem. Sempre me amou e

cuidou de mim sem fazer distinção entre nós cinco. O papà deveria ter

aprendido com ela.

— Você está triste? — Danilo quer saber.

Sorrio e dou de leve com os ombros.

— Vou ficar bem.


Passo as mãos nos cabelos e sacudo a cabeça de um lado para o

outro, pronta para mudar de assunto e falar de qualquer coisa que não seja a

minha família.

Sou surpreendida ao senti-lo envolver as mãos na minha cintura e

me puxar contra ele. Espero que diga alguma indecência ou deslize as mãos

pelo meu corpo, me provocando, porém, Danilo não o faz.

Ele apenas me abraça, fazendo o meu coração bombear nos meus

ouvidos com o gesto carinhoso.


Alguns dias depois...

— Você fez o quê? — pergunto a Danilo ao entrarmos no

restaurante italiano, o meu novo local de trabalho. — Não foi isso que eu
pedi. Eu queria um emprego, não que deixasse alguém desempregado por

minha causa.

— Não se preocupe. Ele estava cansado de gerenciar o restaurante e


passou da hora do velho se aposentar — fala, como se fosse simples.

Apesar de ser um lugar requintado e de alto padrão, a decoração é

bem aconchegante e meio rústica. Tem dois andares e uma das paredes é
coberta com folhas verdes, que olhando de longe, parecem bem reais. As

mesinhas são quadradas e com um acabamento sofisticado, as cadeiras

aparentam ser confortáveis e o chão é uma espécie de cimento queimado.


O lugar ainda está fechado, então, só encontramos os funcionários

que me cumprimentam com simpatia. Com a mão na minha cintura, Danilo

me guia para as escadas vazadas e eu me odeio um pouco por ter escolhido

um vestido para o meu primeiro dia de trabalho.

O segundo andar tem apenas duas salas e uma adega com vinhos

que são mais velhos que o meu pai e o pai de Danilo juntos. Entramos na

segunda porta e dou de cara com o escritório.

É lindo e tem uma decoração bem clean e moderna. E detrás da

mesa feita sob medida, tem janelas grandes com vista para a avenida. Entro

um pouco mais no cômodo e vejo um aparador do meu lado esquerdo e um

banheiro razoavelmente grande do outro lado.

— Gostou? — Danilo quer saber.

Viro o meu corpo para ele abro um sorriso amplo. Coloco a bolsa

em cima do pequeno sofá e já me imagino descansando os pés depois do

almoço ou de um dia cheio de trabalho.

— É perfeito.

Ele dá passos decididos até mim, como um leão faminto e as mãos


voam para o meu quadril, puxando-me contra ele em um trancão que me

arrebata um gemido.
— A única coisa perfeita nesta sala, é você dentro desse vestido

branco — rosna, descendo com a mão para minha bunda e apertando.

— Aqui não — peço, ficando meio tonta com o toque dele.

De maneira convencida, Danilo arqueia uma sobrancelha.

— Vamos conhecer o resto do restaurante.

Concordo com um aceno de cabeça.

Nós saímos da sala e descemos as benditas escadas vazadas.

Rumamos para à cozinha do restaurante e eu fico abismada de como é

grande e organizada. Há vários cozinheiros, mas fico feliz ao ver que o chef

de cozinha, é uma mulher.

— Seja bem-vinda, senhora Salvatore — ela me cumprimenta ao

estender a mão, que pego com afinco.

— Pode me chamar de Martina.

Ela levanta as sobrancelhas e olha para Danilo, que fica em silêncio

e me faz ter a certeza de que ninguém aqui vai me chamar pelo meu

primeiro nome. Tudo bem, eu posso conviver com isso.

Depois de conhecermos a cozinha, vamos até o estoque e a área de

lazer dos funcionários. Todos eles me cumprimentam com sorrisos. Talvez,

estejam fazendo isso apenas porque Danilo está ao meu lado.


Mas para falar a verdade, eu nem consigo me importar com isso.

Estou feliz demais porque tenho algo de útil para fazer durante o dia.

Sou boa com os números, mas não é exatamente fácil gerenciar um

restaurante. Se não fosse por Luigi, o meu segurança e agora, também, o

meu assistente, o primeiro dia de trabalho não teria sido fácil.

Apesar do dia cheio de percalços, gostei de trabalhar e tenho a

sensação de missão cumprida.

Já passam das vinte e duas horas quando Danilo vem me buscar. Ele
disse que eu poderia sair a qualquer hora, mas não seria capaz de sair antes

do restaurante fechar e os funcionários irem embora.

Danilo abre a porta do carro para mim e eu escorrego para o banco

do passageiro. Ele se acomoda no lugar do motorista e eu presto atenção


nas roupas leves, nos cabelos molhados e o cheiro gostoso de loção pós-

barba.

— Como foi o seu primeiro dia?

Não consigo reprimir os lábios de sorrirem para ele. Estou cansada,

meus ombros estão doendo e eu sinto que preciso de um banho morno,

ouvir o interesse de Danilo para saber como foi o meu dia, me mostra que

ele está se esforçando.

— Foi agitado. Sem Luigi, eu teria ficado perdida.

— Ele é um ótimo soldado — diz, num tom sério e meio incisivo de

sempre. — Está com fome?

— Faminta — sou sincera.

— Quer comer fora ou quer que eu cozinhe pra você?

Encaro-o boquiaberta.

— Danilo Salvatore sabe cozinhar?

Ele curva a boca num sorriso cínico.

— Não, mas não deve ser tão difícil — devolve, me roubando uma

risada. — Tem tudo no Youtube hoje, sabia?

Anuo com a cabeça.

— Claro, claro.
Depois de um pouco mais de dez minutos, estamos entrando no

estacionamento subterrâneo. Descemos do carro e o homem logo entrelaça

a mão na minha para caminharmos juntos até o elevador privativo.

Às vezes, eu nem acredito que estou me entregando tão fácil a ele.

Mas, eu sinto que cada dia que se passa, é uma camada que vou tirando de

Danilo para conhecê-lo melhor ao mesmo tempo em que o deixo entrar em

meu coração.

Assim que chegamos na sala de estar, eu vou tirando os meus

sapatos de salto e rumando para o quarto e Danilo vai para à cozinha.

Tomo um banho morno, que consegue relaxar os meus músculos.

Depois, vou para o closet escolher o que usar. Por um momento de

insanidade, eu decido que não vou usar calcinha e ponho apenas um vestido

confortável e desço de pés descalços para o andar de baixo.

Ao chegar na cozinha, eu sinto o cheiro de algo delicioso no forno.

— Você cozinhou de verdade? — pergunto, incrédula, porque eu

nem demorei tanto assim no banho e já tem algo gostoso a caminho.

— Muito surpresa? — devolve e algo no brilho do seu olhar, me

deixa com uma pulga atrás da orelha.

Franzo o cenho.

— Você não cozinhou — concluo em voz alta.


Ele ri. É uma risada divertida, que deixa meu coração bem

quentinho.

— Ornella deixou uma lasanha pronta.

Rio e balanço a cabeça.

— Agora sim, faz todo o sentido — digo ao revirar os olhos e me

aproximar dele, me dando conta de algo. — Queria me impressionar? —

pergunto ao ficar na ponta dos pés para focalizar os olhos azuis e severos.
Ele é bem mais alto do que eu e sem salto, eu alcanço apenas o queixo com

barba bem-feita.

O canto direito da boca de Danilo repuxa e a sombra de um sorriso

atravessa o seu rosto bonito.

— Estava funcionando.

— Sim — admito, e de repente, sinto uma comichão, como se várias

borboletas preenchessem o meu estômago. — Por que está se esforçando


tanto?

— Porque você é minha esposa.

Minha respiração começa a ficar ofegante.

— Só por isso?
— Não — sussurra, a voz grossa e profunda enviando ondas quentes
para o meio entre as minhas pernas. Danilo dá um passo para frente,

encostando o corpo musculoso no meu. Sou envolvida pelo cheiro fresco


dele e fico meio tonta. — Eu quero você também. E a verdade, é que nunca

me esforcei tanto por uma mulher.

Meu coração acelera.

— Isso é ruim?

— Diferente.

Ele me faz recuar até minhas costas encontrarem a ilha da cozinha.


Danilo coloca uma mão de cada lado do meu corpo, segurando a borda do

granito e me prendendo dos três lados.

— É interessante — emenda.

— Você vem sendo um cavalheiro — digo com a voz baixa e tomo

coragem de levantar a mão e alcançar os botões da sua blusa. Não


desabotoo, apenas brinco com eles. — Um príncipe encantado.

— Não sou um príncipe. Acordo todo dia de manhã com uma ereção
do caralho e preciso bater uma pensando em você.

Sinto o rubor subir pelas minhas bochechas.

— É?
— Sim. Você está me deixando louco, Martina.

Molho os lábios antes de morder o inferior.

Não estou tentando seduzir ou algo do tipo, apenas me deu uma sede
e calor demais no momento. E eu sinto como se alguém estivesse apertando
o meu clitóris como se fosse a porcaria de um botão.

— Não estou usando calcinha — assumo.

Não sou exatamente experiente quando o assunto é sexo. Porém, eu

tenho desejos e não posso negar que me sinto atraída pelo meu marido.
Além de lindo e gostoso, tem uma mão grossa e uma pegada tão firme, que

acho que vou derreter sempre que começa a me tocar.

A respiração de Danilo fica pesada e os olhos brilham de um jeito


devasso. Sem dizer nada, ele desliza uma das mãos até as minhas coxas e

levanta a barra do vestido para conferir.

Meu corpo inteiro arrepia com o toque quente e possessivo. Os

dedos salientes fazem caminho até o meio entre as minhas pernas e roçam
em uma das virilhas, me roubando um gemido.

De repente, ele afasta as mãos de mim, apenas o suficiente para

agarrar minha cintura e me colocar sentada na banqueta. Ele puxa o vestido


até a altura da minha cintura e fica me olhando por um segundo tão longo e

intenso, que faz o meu corpo inteiro queimar de tesão.


Jason nunca me olhou dessa forma. Na verdade, ele gostava do

escuro e para ser sincera, o escuro estava bom para mim. Até agora. Gosto
da maneira que os olhos de Danilo adoram o meu corpo.

Esse homem é um predador, e eu preciso admitir que gosto de ser

uma presa.

— Você é linda demais, Martina.

As mãos grossas e firmes deslizam pelas minhas coxas até os dois

polegares pararem em cima da minha boceta, mas apenas um começa a me


tocar. Vem de cima para baixo e ao sentir o mel da minha excitação pelas

minhas dobras, Danilo grunhe.

— Cacete, essa boceta tá muito molhada — rosna, soando muito

provocante. — E é toda minha.

Fico em silêncio, implorando com o olhar que ele comece a tocar o


meu ponto de prazer e faça minhas pernas tremerem.

— Não sou o primeiro a te tocar, mas serei o único de quem você


lembrará, piccolina — fala, a voz é profunda, grossa e autoritária.

Sexy pra caramba.

Eu nem preciso de uma confirmação verbal para saber que Danilo é


o único homem de quem eu lembrarei. Está escrito na sua testa que é um

trepador de carteirinha e que promete muitos orgasmos.


Solto um gemido ao sentir um dos dedos me penetrarem

devagarinho e então, sair e deslizar para cima. O homem faz de novo e eu


arqueio os quadris, abrindo mais as pernas para ele.

Respiro fundo e pesado no instante em que o polegar pressiona o


meu clitóris e começa a fazer movimentos ritmados e em círculos. Acabo

indo para trás e apoiando os cotovelos na bancada e admiro Danilo


enquanto ele me toca.

Ele enfia dois dedos na minha fenda úmida e ensopada, fazendo-me

arquear os quadris contra a sua mão. Os dedos entram e saem, num ritmo
lento e gostoso, viciante. Sinto-o massagear o clitóris com o polegar,

aumentando o calor do meu corpo e me fazendo contorcer com a carícia


deliciosa.

— Danilo...

Ele me puxa para ficar sentada e eu acabo envolvendo as pernas na


sua cintura e entrelaçando os braços em volta do pescoço, para me segurar e

olhá-lo nos olhos durante o tempo em que ele me fode com os dedos.

— Goza pra mim, piccolina — fala baixo, provocante.

Os lábios exigentes me procuram para um beijo sedento, que vem

com mordidas gostosas e lambidas no maxilar, que vão descendo até o colo.
E então, com a mão livre, ele desce parte do meu decote e abocanha um
seio com tanta vontade, fome, que vou à loucura.

Caramba. Isso é bom demais.

Busco a sua boca e no instante em que as nossas línguas se tocam,


os dedos de Danilo trabalham mais rápido entre as minhas pernas.

— Danilo... — choramingo.

As pernas começam a tremerem em volta dele e os meus músculos


tensionam. Jogo a cabeça para trás, fechando os olhos com força e me

entregando completamente ao prazer.

Ele continua ritmado, entrando e saindo de dentro de mim ao

mesmo tempo em que toca o meu clitóris inchado e em chamas.

Solto um gemido bem alto e o meu corpo estremece inteiro,


arrepiando o couro cabeludo e o dedão do pé. Contraio os músculos em

volta dos dedos de Danilo ao alcançar o clímax.

— Que delícia ver você gozar nos meus dedos, piccolina — ele

grunhe, retirando os dedos de entre as minhas pernas e levando até a boca


para chupar. — Tem um gosto delicioso. Doce.

Minhas bochechas formigam.

Ele vem para cima de mim e esmaga minha boca com a sua, me
fazendo sentir o meu gosto, que impregnado nele, é excitante pra caramba.
— Quero muito te foder nessa bancada — diz de um jeito feroz,
arrepiando a minha nuca. — Olha como eu fiquei. — Ele pega minha mão e

leva até a protuberância no meio das calças. Apenas tocá-lo assim, me faz
gemer.

— Podemos comer antes — peço, sorrindo. — Estou morrendo de


fome e nunca ninguém me fez ter um orgasmo assim, ainda mais tão intenso

— assumo antes que o meu cérebro se dê conta.

— Então, quer dizer que o falecido Jason nunca te fez gozar?

Engulo com força.

Não quero responder à pergunta, mas algo me diz que Danilo não

sossegará enquanto não tiver uma resposta verbal.

— Não. Nunca.

Sem dizer nada, ele segura minha nuca e me envolve num beijo tão
feroz e sedento, que sinto meus lábios doerem, mas nem de longe é ruim.

Eu não sabia, mas gosto de força nessas horas.

Antes que eu possa dizer alguma coisa, o timer do forno elétrico


emite um aviso sonoro de que a nossa lasanha está pronta.
Depois de colocarmos o último prato na máquina de lava-louça, eu

me sinto nervosa e ansiosa com a mesma intensidade. O meio entre as


minhas pernas latejando de tesão e implorando para que Danilo me pegue

contra a pia mesmo.

Arquejo ao senti-lo enterrar o rosto na curvatura do meu pescoço.


De mansinho, eu viro o corpo e fico de frente para ele. Meu peito sobe e

desce rápido por causa da respiração acelerada.

— Antes de subirmos mais um nível... — começo a falar e ele

assente em silêncio, tocando o meu rosto. — Preciso ter certeza.

— Certeza de quê? — questiona ao passear com os lábios exigentes

no meu pescoço até o lóbulo da orelha, quase me fazendo perder as

estribeiras.

— Certeza de que serei a única mulher em quem você tocará.


Eu não sou burra. Sei como as coisas funcionam e grande parte dos

homens no mundo da máfia tem as amantes fixas. Alguns deles, mais de

uma. Eles fodem as amantes durante o tempo em que as esposas cuidam da

casa e dos filhos.

Não vou aceitar esse tipo de coisa.

— Eu fui sincero quando disse os meus votos no altar — fala,


segurando o meu rosto com uma das mãos e tocando o lábio inferior com o

polegar. — É a única mulher que eu quero, Martina.

— Por quê? — me ouço perguntando.

— Porque você não tem medo de mim e eu sinto que me desrespeita

mesmo quando não diz nada em voz alta. Meu pau e eu gostamos do seu

atrevimento — Ele abre um sorriso de canto, que eu acho bem sensual. —


Você tentou me matar na nossa noite de núpcias — lembra.

Rio e balanço a cabeça em negativa.

— Eu estava apenas tentando me defender — corrijo-o e prenso os

lábios. — Não sou experiente— decido admitir. — Então, por favor, não

espere que eu consiga fazer malabarismo na cama — emendo para aliviar o


clima.

— É uma pena, mas ok. Malabarismo descartado.

Ele deixa escapar uma risada que consegue me relaxar.


Tomo coragem e entrelaço as nossas mãos, puxando Danilo para o

andar de cima. Rápido, ele contorna a minha cintura com os braços fortes e

morde o lóbulo da minha orelha enquanto subimos os degraus.

Assim que entramos no quarto, ele puxa o zíper do meu vestido e

deixa o tecido cair até os meus pés. Estou completamente nua, também não

coloquei sutiã. Sinto o calor quente dos olhos de Danilo me observando

com atenção e então, dá alguns passos até estar de frente para mim.

Algo no seu olhar mudou. Está feroz e meio sombrio. E sem

entender o porquê, eu gosto de vê-lo assim.

Sem desviar a atenção, ele sai de dentro dos sapatos e puxa a blusa

pela cabeça. Me perco na visão do seu abdômen. Caramba. Danilo é tão

lindo. Uma parede de músculos deliciosa e que faz as minhas entranhas se

contorcerem.

Abaixo um pouco os olhos e fixo na protuberância. Sei que ele é

grande, só que duro, é incrível.

O homem corta a nossa pequena distância com dois meros passos e

uma mão voa para a minha nuca, os dedos se enterrando nos cabelos e a

outra, na minha cintura, que ele aperta, fazendo-me gemer ao mesmo tempo

em que engole os meus sons com o beijo.


Danilo me guia até a cama e me faz sentar, e então se encaixa entre

as minhas pernas ao ficar de joelhos para mim.

— Eu não me ajoelho pra ninguém, Martina — fala com a voz

profunda que faz o meu coração acelerar. — Mas eu sempre o farei pra

você. — Os olhos azuis ficam ainda mais sombrios e eu sinto meu clitóris

pulsar.

Com as mãos firmes, ele abre bem as minhas pernas, me deixando


tão exposta, como nunca estive antes, mas nem consigo raciocinar direito.

O dedo indicador e o do meio escorregam pela minha fenda úmida,

arrepiando todo o meu corpo.

Danilo se inclina sobre as minhas pernas e gruda os lábios quentes

em uma das virilhas, a aspereza da barba me deixando em chamas. Com a

mão livre, ele separa as minhas dobras antes de começar a me explorar com

a língua exigente até encontrar o meu clitóris.

Inebriada pela sensação de ter um homem como Danilo Salvatore

me chupando com tanta vontade, um gemido alto escapa do fundo da

garganta e ecoa pelo quarto.

É tão bom, que nem lembro o motivo de ter resistido tanto ao

momento inevitável entre nós.


Entrelaço as mãos no cabelo castanho-claro dele e puxo de leve, à

medida em que vou rebolando contra o seu rosto, fazendo o homem grunhir

como uma fera faminta.

— Danilo... — choramingo.

Ele retira os dedos de dentro da minha fenda úmida e lambe toda a

minha extensão de baixo para cima, devagar, sem pressa, mas com uma

precisão absurda de quem sabe o que está fazendo.

— Seu gosto é delicioso, Martina — ele rosna contra o meu clitóris

e a voz quente dele na minha pele sensível, me faz contorcer de prazer

ainda mais.

Danilo concentra toda a atenção no meu sexo em chamas, a sua

saliva se misturando com o mel do meu tesão.

— Danilo — chamo por ele, sentindo os meus músculos

tensionarem.

A língua continua me tocando e sinto dois dedos deslizarem para

dentro da minha abertura de novo, num movimento ritmado e eletrizante.

Ele foca no meu clitóris e meu corpo arde com a aproximação do orgasmo.

— Goza bem gostoso na minha boca, Martina — ordena ao

aumentar o compasso das investidas dos dedos dentro de mim.


Puxo o seu cabelo com força, sentindo as pernas tremerem. Meu

olhar encontra o dele e me esforço para ficar observando esse homem lindo

me chupar, mas assim que sou arrebatada com o orgasmo, jogo a cabeça

para trás e gozo na boca de Danilo.

Eu desmorono na cama, extasiada. Ele continua me lambendo

mesmo depois de ter me feito chegar lá. E só após um tempo, fica de pé.

Apoio os cotovelos na cama e admiro o meu marido.

Anjo de luz ou Diabo, não importa. O homem é gostoso e sexy pra

caralho. Uma tentação ambulante.

Danilo desce a cueca boxer, revelando o pau grosso e duro que

aponta para mim. Com uma pegada firme, ele começa a se tocar. Molho os

lábios e ergo os cílios para encará-lo.

— Não vejo a hora de foder essa boca atrevida — diz, me fazendo

engolir em seco. — Mas antes, vou comer essa bocetinha melada. — E ele

vem para cima de mim, num gesto feroz e sedento, enquanto me arrasto

para trás.

Danilo cobre o meu corpo com o dele, e com o joelho, separa um

pouco mais as minhas pernas e segura o membro duro contra a minha

entrada, mas não me penetra de imediato.


Ele roça a cabeça do pênis na minha fenda ensopada. Como se

estivesse ligada no modo automático, arqueio os quadris para Danilo. O

homem me dá um sorriso sacana antes de procurar minha boca e me

envolver num beijo com o gosto de sexo.

Afasta-se um pouco e prende os nossos olhos de um jeito tão doce,

que acaba acordando algo que eu nem sabia que existia dentro de mim.

Envolvo as mãos no seu rosto e o puxo para outro beijo demorado e


me abro mais para ele, que se encaixa perfeitamente entre as minhas pernas.

Sinto a cabeça do pau deslizar para dentro de mim, arrepiando os pelinhos


do meu corpo à medida que me invade inteira.

Gemo contra os seus lábios e isso o faz morder o meu queixo e


descer com a boca pelo meu pescoço, colo e abocanhar um seio com

mamilo intumescido, me deixando louca.

Ele começa num ritmo bem lento até que eu esteja acostumada com
a sua extensão. Aperto as pernas envolta da cintura de Danilo e arqueio

mais o quadril, querendo receber mais dele.

É delicioso e viciante.

Aos poucos, o nosso compasso vai aumentando e eu o sinto cada


vez mais fundo, num ritmo de vaivém impressionante. Finco as unhas nas
costas largas e o puxo para mim, buscando a boca dele para outro beijo.
Ele me mordisca ao mesmo tempo em que aumenta a intensidade.

Com um movimento hábil e certeiro, Danilo envolve as mãos na


minha cintura e me faz sentar e logo o sinto dentro de mim de novo.

Nos olhamos nos olhos, sem perder o compasso do sobe e desce. Ele
deixa escapar uns gemidos roucos também, que parecem coisa de outro

mundo de tão sexy que é. Gosto de fazer um homem como Danilo gemer.

— Tão linda — sussurra.

Entrelaço os braços em volta do seu pescoço e encosto os meus

seios contra a parede dura de músculo quente. Ele finca os dedos nos meus
quadris, me roubando um gemido alto.

Com as duas mãos, ele me faz quicar em cima do seu pau com
força, que me faz perder a compostura. Uma mão iça até os lábios e o

homem chupa o polegar antes de enfiar na minha boca para fazer o mesmo.

Caramba, isso me deixa com mais tesão ainda.

E então, com as vistas fixas em mim, Danilo leva o dedo molhado

com as nossas salivas até o meu clitóris e começa uma carícia delirante com
movimentos circulares.

— Danilo... — gemo, fechando as pestanas.

— Olha pra mim — manda e eu o faço. — Quero ver você gozar no


meu pau — murmura e continua com o polegar no meu ponto de prazer.
Danilo impele com mais força. Duro. Intenso. Perfeito. Gemo o
nome dele outra vez e faço força para manter os olhos abertos.

Ele me observa com adoração, que eu ainda não entendo, mas gosto
muito.

— Eu vou... — choramingo, sentindo o corpo contorcer.

Num ritmo tórrido e intenso, meu marido me faz alcançar outro


orgasmo, que me arrebata de dentro para fora e faz o meu coração bater a

mil por hora.

As mãos firmes e possessivas agarram minha cintura com uma força

surreal e que me deixará marcada amanhã, só que nem me importo. Ele


impele o pau para dentro de mim rápido e duro, até encontrar o próprio
prazer.

O corpo de Danilo tensiona um segundo e depois goza dentro de


mim.

Ele respira fundo e pesado, ainda segurando a minha cintura, ele


desaba na cama, me levando junto.

Sorrio.

— Acabamos de consumar o casamento — falo ao apoiar as mãos


no peito duro e cheio de músculos e traçar linhas invisíveis em cima da

tatuagem. — Não tem mais volta. Agora, eu sou sua.


Ele ri de leve.

— Quem disse que tinha volta antes? Eu te fiz minha no instante em

que olhei pra você.

Uma mão vem para o meu rosto e os dedos prendem uma mecha

detrás da minha orelha. É um gesto simples e que ainda assim, mexe com o
meu coração. Para ser sincera, esse homem vem fazendo muito isso, porque

se mostrou alguém diferente do que eu esperava.

Danilo é minha cebola.

Eu sei, sou uma idiota.

Mas a verdade é que estou me apaixonando por Danilo.

Ele é como uma força poderosa da natureza que é impossível de


escapar. Como um tsunami, mesmo que saiba nadar, não tem como fugir.

E agora, além de ter o meu corpo, esse mafioso vai ser dono do meu
coração também.
Algum tempo depois...

Não lembro de ter tido semanas tão tranquilas na vida como agora.

Não é como se não existisse nenhum tipo de problema, mas os

negócios da organização estão encaminhados e Martina agora é minha. Por


completo. Sem barreiras.

Se tornou a minha coisa preferida chegar em casa e vê-la me

esperando, depois, fodê-la com cada gota de energia dentro do meu corpo.

E ouvi-la chamar por mim ao gozar, agora, é o meu som preferido.

Estou fazendo coisas que nunca pensei que fosse fazer. Ajoelhar-me

para chupá-la. Sinceramente, eu farei sempre. O gosto doce que impregna

na minha língua é viciante pra caralho.

E quem diria que me tornaria um ótimo massagista.


É o que estou fazendo no momento. Martina está sentada no sofá,

com as pernas em cima do meu colo, lendo um livro sobre finanças e as

minhas mãos, apertando os pés pequenos para relaxá-los.

— Se eu precisar fazer faculdade... — ela começa a falar e solta um

gemido no instante em que meus dedos apertam um ponto específico da

planta do pé. — Luigi vai cursar comigo? — interpela com certo deboche.

— Se for para mantê-la segura... sim. Não vejo problema.

Ela estreita os olhos e me encara.

— Você tá brincando, não é?

Levanto uma sobrancelha.

— O que você acha?

Ela fecha o livro num movimento brusco e recolhe as pernas para

ficar de joelhos ao meu lado.

— É demais — sussurra, aproximando uma mão de mim e

entrelaçando nos meus cabelos. — Exagerado.

— Universidade é tipo um clube cheio de homens com hormônios e


paus sem donos — comento, como se fosse óbvio.

Martina deita a cabeça para trás e deixa escapar uma gargalhada tão

gostosa, que me faz sorrir.


— Hum... ótima definição.

Viro um pouco para ficar de frente para ela.

— Está tendo dificuldade no restaurante?

— Não — responde e sinto que é sincera. — Mas eu só me formei

no ensino médio. Não quero que os funcionários digam que sou

incompetente.

Agarro a mão que ainda está em mim e levo até os lábios,

depositando um beijo e fazendo minha esposa sorrir.

— Se alguém no restaurante falar de você, eu vou punir cortando a

língua. Não me importo se é homem ou mulher — informo num tom sério.

Martina arregala os olhos e os lábios formam um bico convidativo.

— Não, Danilo.

— Vou ficar de olho — aviso. — Não deixarei que saiam falando

mal da minha mulher.

— Não — protesta. — Eu consigo me virar sozinha — emenda,

vindo sentar no meu colo e encaixando de forma perfeita as belas coxas na

minha cintura.

— Me avise se estiver com problemas, eu cuidarei de tudo.

Ela abre meio sorriso e anui.


— Tá bem.

Dito isso, ela gruda a boca na minha e mergulho a língua nela,

prendendo-a em um beijo cheio de vontade e tesão.

Depois do sexo suado no sofá, nós tomamos banho na banheira,

ficando mais tempo que o necessário dentro d’água. Saímos e rumamos

para o closet.

Com a toalha amarrada na cintura, eu a observo colocar a camisola

sexy e meio transparente. Sem dúvidas, ela é o meu tipo ideal. As curvas
que desenham o corpo pequeno são tentadoras. O rabo em forma de coração

e as coxas grossas são o paraíso em terra.

Também sob o olhar dela, coloco calça moletom e camisa de

mangas curtas.
Afundo no colchão e Martina vem para cima de mim, se enroscando

contra o meu peito. E inspirando fundo, ela acaba adormecendo em questão

de poucos minutos.

Fecho os olhos e ao som da respiração tranquila e ritmada da minha

esposa, eu durmo também.

Acordo com o celular tocando em cima da cômoda ao lado da cama.

Apesar de tentar me movimentar sem acordar Martina, não dá certo. Ela

senta no colchão e com os olhos inchados e sonolentos, me encara.

Checo a hora no relógio digital antes de atender a ligação. São quase

três e trinta da madrugada. Vejo o nome de um dos soldados que cuida das
nossas cargas.

— Que merda — resmungo.

— Fomos roubados — diz, me fazendo passar do estado de

sonolência para desperto. — Perdemos a carga de cocaína — continua, e eu

passo de alerta para emputecido.

— Que merda você disse? — grunho ao ficar de pé e andar de um

lado para o outro. — A droga dessa carga vale mais de quinze milhões de

dólares, Kellan.

— Eu sei, eu sei, Danilo. Não sei como aconteceu — fala, bufando.

— Porra! — berro, assustando Martina na cama.


— Além de nós, apenas Giuseppe sabia o caminho que Billy

pegaria. Merda. Você não acha que o velho está tentando passar a perna em

nós, não é? Ele seria louco. É um tiro no próprio pé.

Fecho os olhos por uma fração de segundo e levo ar até os pulmões,

tentando me acalmar.

— Me encontre no escritório — ordeno e encerro a ligação. Sem


perder tempo, entro no closet para tocar de roupa e ela vem no encalço,

preocupada.

— Danilo... vai sair agora?

— Sim.

— Algum problema?

— Vou resolver — é o que digo e um monte de merda passa na

minha cabeça. Se Giuseppe tiver feito a burrice de nos trair, eu terei que

matá-lo e se eu o fizer, Martina nunca mais olhará nos meus olhos.

Porra.

Espero que Giuseppe não tenha sido tão burro. Em contrapartida, se

não tiver sido ele, foi um dos nossos. De um jeito ou de outro, a única saída

é matar o traidor.

— É muito grave? — ela insiste.


Pode acabar com o convívio do nosso casamento...

Paro por um minuto e a encaro. Os olhos curiosos e grandes me


esquadrinhando com intensidade. Ela iça as mãos e segura meu rosto e fica

na ponta dos pés para colocar os lábios macios e quentes nos meus num

segundo longo.

— Vai ficar tudo bem — Martina sussurra.

Ela abre um sorriso encorajador, que me faz perder a cabeça por um


instante e agarrá-la com força, enquanto a coloco sentada na bancada que

fica no meio do closet e a devoro com um beijo duro e feroz.

Assim que sinto a ereção tomando conta do meu pau, me afasto e

termino de colocar as roupas. Sem jeito, ela desce da bancada e de maneira


protetora, cruza os braços na altura dos seios.

— Volte pra cama e durma. Luigi estará aqui de manhã cedo — é a

última coisa que digo ao cortar a nossa distância, depositar um beijo na sua
testa e sair.
Desde que Danilo saiu de madrugada, não consegui pregar o olho.

Já são oito horas da manhã e eu não tenho nenhuma notícia dele.

Não é exatamente uma surpresa para mim o que aconteceu, o papà já fez
isso várias vezes. Sair no meio da noite para resolver problemas da

organização.

O que me incomoda é lembrar a forma como ele me beijou. Até


parece que não o faria de novo.

Rolo para fora da cama, coloco um robe de seda e desço as escadas.

Gina, Ornella e Luigi já estão na cozinha. Meu segurança/assistente está


sentado na banqueta de frente para ilha, tomando café.

Paraliso e observo os três, que estão entrosados em uma conversa


que não entendo. Assim que me percebe, Luigi começa a falar:
— Posso tomar café em outro lugar...

— Não, não. Fique — apresso-me em dizer e trato de ocupar um

lugar na ilha também. Ornella serve uma boa xícara de café preto para mim
e pão italiano com manteiga. — Sabe que horas Danilo vai chegar? — me

ouço perguntando.

Por alguma razão inexplicável, sinto o meu coração afundar no peito


e uma sensação de vazio no estômago.

— Tarde — fala depois de tomar um gole generoso de café. — Não

se preocupe, Martina.

Forço um sorriso e assinto, mesmo achando que é impossível.

Depois do café da manhã, subo para o andar de cima e tomo um

banho demorado e morno. Visto blusa social branca, calças jeans e

sapatilhas. Pego o meu casaco felpudo no cabideiro do closet e a bolsa antes


de sair para mais um dia de trabalho.

Ocupar minha cabeça com os problemas do restaurante é o que me

faz não pensar em Danilo durante a manhã inteira. Na hora do almoço,

obrigo Luigi a comer comigo, porque não quero ficar sozinha. Ele fica sem
jeito, mas acaba cedendo.

Às dezoito horas, decido que é hora de terminar o meu expediente.

O restaurante ainda ficará aberto por mais um tempo, no entanto, me dou ao


luxo de sair mais cedo. Além de ter homens de Danilo aqui, cuidando de

tudo, os funcionários são bem competentes.

Luigi abre a porta traseira do carro para mim e eu deslizo para o

banco. Eu fui falante o dia inteiro, porém, agora, quero silêncio e fico

contente ao perceber que o meu assistente não abre a boca o caminho

inteiro.

Remexo dentro da bolsa até encontrar o celular. Não há uma única

mensagem de Danilo. Fico decepcionada e nem entendo bem o motivo. Nós

estamos casados há pouco tempo e não trocamos tantas mensagens assim.

— Não se preocupe — Luigi fala, como se lesse meus pensamentos.

— Danilo está bem.

Sorrio ao notar que ele está me olhando pelo retrovisor do carro,

mas não tenho vontade de comentar nada.

Luigi me acompanha até o último andar, mas vai embora assim que

entro na cobertura. Nem reclamo por ele me deixar sozinha, apenas vou

para o quarto principal e tomo um banho demorado na banheira.

São dezenove e trinta quando decido fazer uma videochamada

repentina com as meninas. Uma tentativa de preencher a solidão que sinto

no momento. É uma hora mais cedo lá e pelo que lembro dos horários,
Caterine, Barbara e Violetta já estão em casa. Angelina sempre está, já que

se formou no ensino médio ano passado.

Fico animada ao ver que Barbara está online. Ligo e ela não demora

para atender.

— Oi, meninas — digo ao ver Barbara e Violetta na tela do

computador. As duas ainda estão usando uniforme e os cabelos presos em

um coque.

— Como está o trabalho? — Violetta é a primeira a perguntar.

— Pra falar a verdade, tá bem legal. — Sorrio. — Cadê a mamma?

— Espera aí — Barbara pede e logo some da tela, me deixando

sozinha com a caçula. Converso um pouco com Violetta e ao perguntar pelo

papà, ela me diz que ele está estressado e em reunião desde que saíram para

escola de manhã cedo.

Nem tenho tempo de questionar, porque assim que vejo a mamma,

eu esqueço dos problemas por alguns instantes. Os olhos claros estão bem

melancólicos, só que ela abre um sorriso verdadeiro para mim.

— Oi, querida.

— Oi, mamma.

Começamos uma conversa animada sobre o meu trabalho e ela me

faz sentir bem. Conto as novidades para a mamma, tentando deixar claro
que estou bem e o casamento não está sendo ruim.

Ela parece acreditar em mim, no entanto, sinto que está me

escondendo algo e sei que não vai falar.

Ficamos uma hora e meia conversando e eu encerro a

videochamada, porque ouço barulho no andar de baixo. Fecho a tampa do

notebook e o coloco em cima da mesinha perto da janela grande.

Estou me preparando para sair do quarto e sou impedida por Danilo,

que entra. A presença forte e intensa tomando conta do ar ao nosso redor.

Eu não sabia que estava com saudade até vê-lo na minha frente.

— Oi — murmuro, capitando os olhos azuis para mim. Ele está

exausto.

O homem não diz nada, simplesmente envolve uma mão na minha

nuca e me prende num beijo intenso, só que tranquilo também. Depois, me

solta e vai para o banheiro ao mesmo tempo em que tira as roupas no meio

do caminho.

Demoro um tempo parada no lugar, pensando no que fazer. Resolvo

sentar na cama e esperá-lo sair do banho. Quinze minutos mais tarde,

Danilo volta, usando apenas uma toalha amarrada na cintura e o cheiro de

sabonete flutua no ar até o meu nariz.


Suspiro e engulo em seco, mas não sou boba e mantenho a atenção

fixa nele até vê-lo sumir do meu campo de visão e entrar no closet. Ele

retorna meio minuto depois, usando moletom e blusa branca de mangas

curtas.

Eu gosto quando ele se veste assim, porque mesmo sem perceber,

Danilo fica com uma aura mais leve e convidativa e, menos perigosa.

O colchão afunda do meu lado com o peso do seu corpo. Ele fecha

os olhos e respira fundo, o que me decepciona. Passei o dia inteiro sem falar

com ele e vai simplesmente se deitar e dormir?

Sem pensar duas vezes, envolvo uma perna em cada lado da cintura

de Danilo, fazendo o homem abrir os olhos de imediato no momento exato

em que me encaixo em cima do seu pau.

Mordo o lábio inferior para conter um gemido.

— Não precisa chegar em casa e me contar os problemas dos

negócios, mas também, não pode se fechar completamente. Somos casados

agora.

Os olhos dele brilham ao me ouvir e as mãos alisam as minhas

pernas.

— Como foi o seu dia? — pergunta, se esforçando.

— Cansativo. E o seu?
— Cheio — fala, suspirando. Os olhos focalizam os meus por um

longo segundo e faz meu coração bombear nos ouvidos. — Não parei de

pensar em você — admite num tom de voz tão baixo, que fico me

perguntando se escutei certo.


O meu dia foi cheio e problemático.

Alguém roubou uma carga valiosa. E para ser sincero, eu nunca me

importei de tirar a vida de um traidor. Porém, pela primeira vez, eu espero


que Giuseppe não tenha metido os pés pelas mãos.

Passei o dia tentando descobrir que merda aconteceu. Conversamos

com Giuseppe, que diz não fazer ideia do que houve, até ficou puto por
termos desconfiado dele, já que trabalhamos juntos há um ano e é a

primeira vez que um problema assim surge.

O papà ordenou que eu fosse para Detroit e interrogasse Giuseppe


pessoalmente, e só voltasse de lá quando tivesse respostas concretas, mas

Giancarlo o fez mudar de ideia, porque a família Giordano faz parte de nós

e um casamento acabou de acontecer para que os negócios se

solidificassem.
Foi um dia de merda.

Eu queria poder deixar o trabalho longe de Martina, só que no

instante em que eu a olho no quarto, fico com uma sensação ruim no peito.
Passei a maior parte do dia imaginando cenários em que eu tirava a vida de

Giuseppe e em nenhum deles, a garota me perdoava por ter feito isso.

E eu sei, as coisas entre nós aconteceram rápido demais, mas agora


que estamos casados, não quero que ela escape de entre os meus dedos.

Eu quero Martina como minha esposa.

Minha mulher.

Quero mantê-la perto de mim, porque ela é a única coisa boa na

minha vida. O ponto de luz na minha escuridão e vida de merda.

É o que tenho de mais puro.

— Também não parei de pensar em você e senti saudade — Martina

diz, os dedos pequenos pegando a barra da camisa e subindo um pouco até a

altura do meu umbigo. — Não saia mais no meio da noite, eu fico

preocupada.

Envolvo as mãos na cintura dela e a seguro enquanto levanto para

sentar no colchão. Arrasto-me para trás até escorar as costas na cabeceira da

cama. O vestido de Martina sobe até metade das coxas, expondo a pele

macia e clara.
— Não precisa se preocupar comigo, eu sempre voltarei inteiro.

Ela deixa escapar uma bufada atrevida e torce os lábios.

— Não tem como garantir isso.

De maneira possessiva, deslizo as mãos pelas coxas dela e subo até

a cintura, por cima do vestido, sentindo a pele arrepiar com o meu toque.

— Não vamos discutir, eu realmente tive um dia cheio — sussurro,

trazendo-a para mais perto de mim, fazendo que os seios redondos e sem

sutiã rocem no meu peito. — Só quero você.

Os olhos de Martina inflamam para mim.

As mãos pequenas encontram a barra da minha camisa de novo e

puxam para cima, passando pela minha cabeça, em seguida, enfia os dedos

nos meus cabelos, levando uma onda quente para o meu pau.

— Tem sorte, porque eu também quero você — murmura com a

insolência que é sua por natureza e os lábios quentes e carnudos tocam o

meu queixo com barba, descendo até a pele do meu pescoço, que ela dá

uma mordida gostosa.

Arrasto o vestido até a sua cabeça e o jogo no chão. Passeio com os

olhos pelo corpo cheio de curvas e suspiro ao ver a calcinha de renda

pequena. Toco os seios redondos com os mamilos entumecidos e sinto o

meu pau pulsar contra as pernas dela.


— Você já tá tão duro — sussurra.

— Difícil não ficar duro com você sentada em cima de mim —

grunho e as minhas mãos deslizam pelas costas dela antes de me inclinar

para abocanhar um seio. Sugo com vontade, buscando os seus olhos,

enquanto o faço e ela geme toda entregue para mim.

— Isso é tão bom, Danilo — choraminga.

— Deixa eu ver essa bocetinha, Martina — digo com a voz rouca,

colocando-a de costas na cama e arredando um pouco para trás. — Abre as

pernas pra mim — mando e ela obedece.

Uma pequena mancha escura se forma na calcinha que cobre a sua

fenda úmida. O jeito que ela amolece e fica excitada quando eu a toco, me

deixa louco de verdade.

Desço da cama e ela me observa, abaixo-me um pouco e passo a

língua de leve na abertura molhada de Martina, por cima da calcinha,

fazendo a garota arquear os quadris contra o meu rosto.

— Essa boceta molhada pra mim... me deixa louco.

Enfio os dedos nas laterais da calcinha e deslizo pelas pernas

grossas e deliciosas de Martina. Cheiro a renda melada com a sua excitação

e os olhos dela cintilam de desejo. Agarro as coxas e mantenho as pernas

abertas para mim.


Ajoelho-me no chão e mergulho a língua nela. Martina choraminga

e as mãos pequenas encontram os meus cabelos, que ela puxa, gemendo

meu nome.

— Delícia — murmuro contra a sua boceta.

Massageio-a com a língua, numa carícia lenta e sedenta na mesma

intensidade. Escorrego dois dedos na abertura quente e macia, fazendo

movimentos de vaivém, vendo-a se contorcer de prazer por causa de mim.

— Danilo — geme alto ao erguer os quadris. — Você vai acabar

comigo — diz, despertando algo feroz dentro de mim.

Não há dúvida que ela acabará comigo também.

— Geme pra mim, piccolina — digo, sem parar com os movimentos

dos dedos e logo voltando a chupá-la com vontade e esquecendo todo o dia

cansativo que eu tive hoje.

Martina arqueia os quadris, choramingando meu nome e puxando os

meus cabelos com força, toda entregue. Sem barreira nenhuma. Minha

língua continua tocando o clitóris inchado e quente até ver o corpo pequeno

estremecer inteiro e aos poucos, senti-la derreter na minha boca.

Dou mais algumas lambidas antes de me afastar dela para descer o

moletom e a cueca boxer.


— Gosto de saber que sou o único homem que te fez gozar —

grunho, e ela senta na cama, ainda está atordoada e ofegante do orgasmo. —

Serei o único homem da sua vida, Martina.

Aproximo-me dela outra vez e ela vem para beirada da cama,

colocando os pés no chão e erguendo as mãos para pegar o meu cacete

duro. Ela o faz com uma pegada forte e precisa, que me rouba um gemido

rouco.

Sem demora, ela lambe os lábios e os abre para mim. Primeiro,

passa a língua na glande, e depois, desliza pela extensão, molhando tudo

com a sua saliva. E então, levanta os olhos para cima e eu a vejo engolir o

meu pau inteiro.

— Você é minha — rosno, olhando-a me chupar.

Envolvo as mãos nos seus cabelos, mas a deixo ditar o ritmo, que

ela faz com maestria. Martina toca as minhas bolas e sinto as panturrilhas

contraírem. Solto um suspiro pesado, me segurando para não gozar como

um adolescente.

Ela suga o meu pau inteiro e depois sobe com os lábios até a glande,

encontrando um ritmo incrível. Não consigo tirar os olhos de Martina,

porque é sexy pra caralho vê-la assim, me chupando.

— Eu vou gozar se continuar assim.


Minhas palavras parecem combustível para as investidas dela,

porque me chupa de um jeito feroz, olhando nos meus olhos e me dou conta

de que ela gosta de ter esse tipo de poder sobre mim.

— Martina, caralho... — grunho, sentindo cada terminação nervosa

do meu corpo tensionar por causa da boca deliciosa dessa garota.

Puxo os cabelos dela, sentindo o corpo explodir, enquanto deixo

escapar um som gutural de mim. Ela engole toda a minha porra sem desviar
os olhos dos meus. Coloca a língua para fora e dá outra lambida antes de

soltar o meu pau por completo.

— Gosto de foder essa boca insolente — murmuro, e ela abre um

sorriso maroto ao deitar na cama de novo. — Mas agora, quero gozar dentro
dessa boceta, que tá sempre pronta pra mim.

Puxo Martina pelas pernas e a trago para mais perto de mim. Com

uma pegada firme, faço fricção no meu pau e roço na fenda macia, quente e
úmida. Ela o engole inteiro, fazendo-me suspirar pesado.

Ela abre mais as pernas e eu cubro seu corpo com o meu, apoiando
os cotovelos na cama, enquanto entro e saio de dentro dela, bem devagar,

provocando-a primeiro e observando as suas reações.

— Danilo... — choraminga, manhosa.


Martina mexe os quadris, encontrando com o ritmo das minhas
investidas e me fazendo uivar de tesão.

— Ei — rosno. — Calma, eu quase gozei — digo, mordiscando o

queixo delicado e ela sorri.

Passo a língua na pele do pescoço e vou até o lóbulo da orelha, ao

morder, ela inclina ainda mais o quadril contra mim, gemendo meu nome.
Deslizo uma das mãos pela lateral do seu corpo e agarro o rabo em formato

de coração.

— Você é tão gostosa, piccolina — digo, buscando seus olhos azuis


dilatados, que ardem em chamas. — Sabe que é minha, não é?

— Eu sei.

— Sou o único homem que vai entrar nessa boceta... que vai te ter

assim — murmuro, possessivo.

— Sim, o único — concorda com um gemido, fazendo-me perder o


controle e entrar com tudo dentro dela, num solavanco, que ela aprova. —

Isso, mais forte — sussurra ao entrelaçar uma perna no meu tronco.

Vou com toda a fome, tesão e energia que existem dentro de mim,

comendo e fodendo a minha esposa como se fosse a última vez. Ela enfia a
mão no meu cabelo e me puxa contra ela, me prendendo num beijo feroz e

sedento.
— Olha pra mim — ordeno, impelindo meu quadril contra ela cada
vez mais forte. Ela prende os olhos nos meus, gemendo. — Goza bem

gostoso pra mim. Goza no meu pau, piccolina.

— Eu vou... — ela nem consegue terminar de falar.

Sinto o corpo pequeno e cheio de curvas tremendo debaixo do meu.

Os músculos em volta do meu pau apertam, me fazendo querer gozar


também. Entro e saio com intensidade, apertando a sua bunda com uma das

mãos e alcançando o meu próprio prazer.

Continuo entrando e saindo de dentro dela, até sentir a última gota

da minha porra se derramando dentro da boceta de Martina.

— Meu Deus, Danilo — sussurra, sorrindo.

Movimento o meu quadril mais um pouco antes de sair e desabar ao

seu lado na cama. Puxo-a para os meus braços, respirando fundo e


depositando um beijo no topo da sua cabeça.

— Sei que ainda não conversamos sobre isso — ela começa a


articular e apoia o queixo no meu peito para focalizar meus olhos. — Mas
seu pai espera que eu te dê filhos e eu estou tomando anticoncepcional —

emenda, fazendo-me tensionar o corpo.

— Continue tomando anticoncepcional — digo, mais ríspido do que

pretendia.
Martina une as sobrancelhas em confusão.

— O quê? Não quer ter filhos? — pergunta, pegando as coisas no ar.

É uma garota esperta.

— Não — sou sincero.

— Por quê? — Martina parece confusa.

— Meu pai... ele me criou da pior maneira que você possa imaginar
— falo em voz alta, pela primeira vez para alguém que não é Giovanni,

Romeo, Matteo ou Giancarlo. Nunca reclamei do meu pai para terceiros.


Mas, Martina não é uma qualquer. Ela é minha esposa. — Não acho que eu

mereça ter um filho.

— Danilo... — ela sussurra, a tristeza na voz é palpável.

Meio incomodado, afasto-me dela e vou para o banheiro. Martina

me segue e juntos, nós entramos no box. Ligo o chuveiro e sem que tenha
me pedido, ensaboo o seu corpo delicioso.

Ficamos em silêncio por minutos.

— Você não é o seu pai — fala, atraindo os meus olhos. Permaneço


quieto. — Lembra que me disse isso? Eu acredito. Você provou que não é

igual a ele, muitas vezes pra ser sincera.

Balanço a cabeça em negativa.


— É diferente, piccolina.

— Não, não é — o tom de repreensão faz as minhas sobrancelhas


arquearem. — Eu sei que nunca criará uma criança como o seu pai.

— Como tem tanta certeza?

Ela passa a língua no lábio inferior antes de mordê-lo.

— Porque eu sei que será bom.

— Não existe nada de bom em mim, Martina. Está vendo coisas

onde não tem — retruco.

— Danilo, você é como uma cebola — comenta, deixando-me

incrédulo.

Ela solta uma risada gostosa, mostrando os dentes pequenos, quase


me fazendo sorrir.

— Com paciência, podemos ir descobrindo as suas camadas. E


posso garantir, que não há apenas escuridão aqui. — Martina leva uma das

mãos até o meu peito, em cima do coração e eu o sinto bombear rápido. —


Não sei se quero ser mãe tipo... mês que vem. Mas quando acontecer, será

por nós e não pelo Don Salvatore. E eu sei que será um ótimo pai, Danilo.

— Você quer ser mãe dos meus filhos? — pergunto, meio intrigado.
Ela ergue os olhos para mim e os estreita logo em seguida,
prensando os lábios de forma pensativa.

— Filhos? No plural?

Curvo a boca num sorriso cínico, mas fico em silêncio.

— Sim — murmura e pega esponja das minhas mãos e começa a


passar pelo meu corpo, ensaboando-me. — Sim, eu quero — repete,

deixando-me estranhamente feliz.

Observo Martina na cama. Os cabelos marrons e longos estão


esparramados pelo travesseiro, tomando conta dele inteiro. O som da

respiração pesada e tranquila preenchendo todo o quarto.

Tiro uma mecha de cabelo que cobre o rosto pequeno e ela se

remexe e solta um gemido, que não compreendo, mas não acorda. Tê-la
assim na minha cama, faz eu me sentir o homem mais sortudo, apesar de
nunca ter acreditado de verdade nesse negócio de sorte ou azar.

Desvio a atenção dela e releio a mensagem que Giancarlo me


mandou há poucos minutos. Sinto a garganta áspera e o coração afundar no

peito. Estou contraindo o maxilar com tanta força, que incomoda.

Giancarlo: Precisamos ir para Detroit e resolver isso o quanto


antes. Seu pai não vai sossegar enquanto não encontrarmos o culpado. E a

carga.

Danilo: Eu sei. Vamos amanhã de manhã.

Giancarlo: Estarei pronto.

Bloqueio a tela do celular e volto a me acomodar no colchão e como


se fizesse parte do meu corpo, Martina envolve o braço no meu tronco se

enroscando no meu peito e me faz pensar que não a mereço.

E a verdade é que eu já fiz tanta crueldade na vida, que se colocar

meus pecados numa balança, não tenho dúvidas que serei condenado ao
inferno. Eu realmente não a mereço.

Martina é pura, meiga e tem um coração bom, completamente


diferente de mim.

Mas, ela é minha.

E eu não a perderei em hipótese alguma.


Danilo vai viajar a negócios.

E como uma boa esposa, não devo questionar, apenas aceitar e

esperá-lo voltar inteiro.

— Pra onde? — pergunto com a voz séria, mandando à merda isso


de boa esposa. — Quando volta?

— O mais rápido possível — é a única resposta que recebo.

Observo Danilo colocar algumas roupas na mala e sinceramente,

tenho vontade de desfazer todo o trabalho que está tendo para ver se o
homem olha nos meus olhos. Ontem, eu senti que estávamos tão próximos

um do outro, e hoje é como se ele tivesse erguido um muro invisível entre

nós.
Ele para um instante e vem até mim, segurando minha cintura e

mirando os meus olhos.

— Vou pra Detroit.

O meu coração dá um salto duplo dentro do peito e preciso conter o

meu instinto de recuar. Em vez disso, uno as sobrancelhas em confusão e

espero que me dê mais detalhes, o que não acontece. Danilo apenas segura
meu rosto com uma das mãos e beija minha bochecha.

— Por quê? — insisto.

— Negócios.

Quero fazê-lo falar e sei que é missão impossível, então, apenas

deixo que termine a mala e a carregue para o andar de baixo. Mal passa das

nove horas da manhã, mas Luigi já está aqui.

— Cuide dela — ordena ao meu segurança/assistente, que dá um

aceno severo e encara Danilo como se fosse dar a sua vida por mim. —

Vem aqui. — Danilo manda e eu continuo parada no pé da escada.

Desistindo de me esperar, ele vem até mim e contorna o meu corpo com os

braços antes de me beijar.

Eu quero rejeitá-lo, infelizmente, não consigo. Apenas cedo com a

língua quente e macia contra a minha, numa carícia doce e cheia de

vontade. Ele encerra o beijo com um selinho demorado.


— Não vou demorar — avisa.

— Tá bem — concordo a contragosto.

Luigi acompanha Danilo para fora da cobertura e eu subo as escadas


correndo, em busca do meu smartphone. Digito o número de Angelina, é a

única das minhas irmãs que está em casa e vai me falar se algo estiver

errado.

É lógico que tem algo errado. Ele não estaria indo para Detroit se

tudo estivesse bem.

— Aqui ainda são oito da manhã sabia — resmunga do outro lado


da linha. — O que você quer?

— Danilo está indo pra Detroit. Sabe o motivo? Aconteceu alguma

coisa aí que eu deva saber? — vou direto ao ponto, não tenho tempo para

enrolação.

Angelina parece despertar do sono ao perguntar com a voz em alto e

bom tom:

— O que você disse?

— Preciso que me conte o que está acontecendo aí.

— A única coisa que sei é que desde ontem o papà tá estranho e

fazendo mais reuniões do que o normal — comenta.


— Consegue descobrir o que aconteceu e me contar? — pergunto,

suspirando e com a sensação de que meu coração vai sair do peito e pular a

dez metros de distância. — Tô com um pressentimento ruim, sei lá.

— Me dê algumas horas — pede, eu concordo e encerro a ligação.

Decido que tirarei o dia de folga hoje.

Desço para tomar café e depois de alguns minutos, Luigi volta para

a cobertura. Tento convencê-lo de ir para o restaurante sem mim, só que o

homem está irredutível a me deixar sozinha em casa.

Não tenho escolha a não ser aceitar que Luigi será minha sombra.

Termino o meu café da manhã e rumo para o andar de cima. Estou com

planos de ir para o quarto, só que algo me chama para o escritório de

Danilo.

Sento na cadeira de couro e tento abrir a primeira gaveta com um

safanão, ela continua trancada. Começo a revirar tudo em cima da mesa e

encontro a bendita chave dentro do porta lápis.

Hesito ao chegar à conclusão de que sou uma péssima esposa.

Atrevida.

Linguaruda.

Curiosa.
Que não quer ficar em casa sem fazer nada.

Que quer um trabalho.

Que não quer ser apenas uma esposa.

Que não quer ser traída.

Que não teme o marido.

Levo ar até os pulmões e assopro com força, aceitando rápido

demais os meus defeitos perante os homens da máfia, e enfio a chave na

fechadura da gaveta. Demoro mais tempo que o necessário para girá-la.

Quando o faço, sorrio ao ouvi-la destravar.

Começo a fuçar os papéis, sem saber realmente o que estou


procurando.

Meus batimentos aceleram ao encontrar uma pasta com fotos

minhas no fundo da gaveta. A mamma as tirou no meu aniversário de

dezenove anos. Foi um dia feliz e eu estou sorrindo em todas as fotografias.

Lembro também de ter visto Corrado, o conselheiro do papà,

fuçando com a mamma os álbuns de fotografia algumas semanas antes do


meu casamento.

Estou organizando tudo para colocar de volta no lugar, no instante

em que vejo o envelope lacrado. Ele é marrom pardo, quase da cor do fundo
da gaveta, por isso não o notei de imediato. Pego-o e o analiso antes de

abri-lo.

Sinto como se um tijolo tivesse caído dentro do meu estômago ao

retirar as fotos e ver que são de Jason com um pequeno dossiê.

A culpa é minha, nunca devia ter me envolvido com ele. Devia ter

respeitado as regras do papà e me mantido longe dos garotos, como todas as


meninas da nossa família. Como as minhas irmãs fazem.

Droga. Droga. Mil vezes droga.

Enfio os papéis e as minhas fotos dentro da primeira gaveta e não

faço questão de trancá-la. Danilo saberá de um jeito ou de outro que eu

andei xeretando suas coisas.

Com o envelope que carrega praticamente toda a vida de Jason nas

mãos, desço as escadas correndo e vou em busca de Luigi. Eu o encontro

fumando um cigarro na varanda, que apaga assim que me vê.

— O que é isso? — pergunto ao encostar de maneira brusca o

envelope contra o seu peito. Sei que é um gesto insolente e desrespeitoso,

mas pelas semanas que convivi com Luigi, sei que não fará nada comigo.

Ele é um bom soldado e um dos melhores amigos de Danilo.

De cenho franzido, abre o envelope, fazendo o maxilar marcado e

sem barba se contrair ao encontrar as fotos de Jason.


— Foi por isso que Danilo foi pra Detroit? Ele vai matar Jason?! —

berro, porque o homem decidiu que é uma excelente e maravilhosa hora

para fazer voto de silêncio.

Enfia tudo dentro do envelope de novo e me entrega.

— Não.

Respiro fundo com a resposta curta que recebo e solto o ar pelo

nariz com força.

— Não? — retruco, furiosa. — É só isso que vai me dizer, Luigi?

— Cazzo.[14] O motivo que levou Danilo a Detroit não tem nada a

ver com Jason. Fique calma e não faça escândalo.

Pisco com força e lambo os lábios. O que acabei de ouvir devia me


acalmar. Infelizmente, não é bem o que acontece.

— Então, você está me dizendo que se por um acaso, Danilo ver


Jason, não o matará? É isso?

Luigi solta uma risada seca.

— Ah, definitivamente, ele o matará se o vir. Não tenho dúvidas.

Emburrada e chateada, giro nos calcanhares e vou para o quarto,

pisando duro ao subir as escadas. Tranco a porta e pego o meu aparelho


celular, disco o número de Jason, na tentativa de conseguir mandá-lo sair da
cidade ou algo parecido, mas não tenho sucesso, porque a voz do outro lado
da linha diz que não está disponível no momento.

Ligo mais algumas vezes e a única coisa que escuto é a voz

eletrônica.

— Merda — xingo e controlo a vontade de jogar o celular do outro

lado do cômodo. — Pense, Martina.

Prendo os cabelos em um rabo de cavalo e começo a andar


lentamente de um lado para o outro, fazendo um esforço desesperado para

acalmar os meus ânimos.

Se Danilo não foi para Detroit para matar Jason, o que ele foi fazer

lá? Por que não gosto dessa lacuna? É como se fosse algo pior, o que é
ridículo.

O que seria pior do que tirar a vida de um inocente?


Angelina realmente demora horas para me ligar de volta. Quase três
para ser mais específica. A ansiedade foi tanta, que a espera por respostas

me fez acabar com as minhas unhas.

— Até que enfim — é a primeira coisa que falo ao atender, o tom


desesperado tão explícito e palpável, que tenho a sensação de que posso

tocá-lo.

— Acha que é fácil pra uma garota como eu escutar detrás da porta?

Olha o meu tamanho, não é fácil passar despercebida.

Reviro os olhos.

Angelina é sete centímetros mais alta do que eu, e ainda assim, não

é exatamente a mulher mais alta que eu conheço.

— Descobriu algo?
Minha irmã respira fundo.

— Mais ou menos. Todos os homens estão aqui. E Paolo foi buscar

mais cedo as meninas na escola — fala, deixando meu coração inquieto e


angustiado. — Ouvi uma conversa do Lorenzo ao telefone e eles falavam

sobre uma carga que sumiu quando estava vindo pra cá.

A voz me falta e eu fico em silêncio por uma eternidade.

— Martina?

— Hum?

— Esse problema... Danilo não vai matar o papà, não é? — faz a

maldita pergunta que revira o meu estômago e torce o meu coração com
tanta violência, que é difícil respirar fundo.

Os homens dentro da organização morrem por muito menos. Não

que eu tenha presenciado algo com os meus próprios olhos, mas nós sempre
ouvimos histórias sobre como qualquer deslize pode levar um homem da

máfia à morte.

Só que Danilo é meu marido.

Ele não fará algo assim.

Ele não fará.


— Não —murmuro, sem ter tanta certeza. — Pode me manter

informada? Estou indo pra Detroit.

— Agora?

— O quanto antes. Só preciso encontrar um jeito de me livrar de

Luigi.

— Você vem sozinha? Você tá louca? Não pode sair assim, Martina

— retruca, exasperada.

— Não posso ficar aqui de braços cruzados.

— E o que vamos fazer quando você chegar? Defender o papà com

taco de beisebol ou spray de pimenta?

— Eu não sei, Angelina — resmungo, irritada também. — Só sei

que não vou ficar aqui — informo e com muita dificuldade, faço Angelina
concordar comigo e encerramos a ligação.

Não sei o que tenho na cabeça, mas vou para Detroit. Preciso ver

minha família e principalmente, conversar com Danilo sobre que merda está
acontecendo. Ele não pode ter ido para a minha cidade natal com os planos

de tirar a vida do meu pai e não ter me dito uma única palavra.

Claro que não teria feito diferença se falasse ou não.

Para ser sincera, eu pensei que estávamos conectados de alguma

forma. Pensei que mesmo inconscientemente, ele estava gostando de mim


da mesma forma que eu estou gostando dele.

Talvez, eu esteja enganada.

Talvez, eu não passe de um sacrifício para Danilo.

Meu coração dói ao chegar a essa conclusão.


Giancarlo e eu chegamos em Detroit um pouco depois das treze

horas.

Giuseppe já sabe que estamos a caminho e não ficou muito feliz ao


saber da minha visita. Não estou exatamente confortável em ver o pai da

minha esposa em circunstâncias de caráter duvidoso, mas eu conheço o


papà, se eu não viesse para Detroit, outro no meu lugar viria.

E apesar de parecer que estou pronto para colocar minha arma e

punho e acusar Giuseppe, quero chegar à solução que não seja eu matando

o meu sogro e deixando cinco meninas órfãs.

Não que alguma vez na vida, eu tenha me importado de verdade

com isso. Entretanto, é a família da Martina, minha esposa. Não posso

simplesmente matar o seu pai e esperar que ela aceite viver ao meu lado em

harmonia.
— Ainda acho que devia ter ficado com o papà — falo ao Giancarlo

ao entrarmos no carro que nos espera no aeroporto.

— Se Giuseppe for um traidor, seu pai não vai hesitar em mandá-lo


matar. Mas ele confia na minha palavra acima de tudo. Vamos descobrir o

que aconteceu e resolver o problema.

Não vou admitir em voz alta, mas ele tem razão. Meu pai é um
homem implacável, ambicioso e nada misericordioso, só que Giancarlo é

um dos únicos homens em quem ele confia de olhos fechados.

Não é surpresa e nem a primeira vez, que um Don confia a vida ao


seu conselheiro. Ainda mais, porque se não fosse por Giancarlo, os

inimigos já teriam feito um buraco na cabeça do chefe do Império

Salvatore.

Ele é o consigliere do papà, mas além disso, o dever de Giancarlo é

manter os negócios prosperando e evitar que entremos em guerra por

motivos que são facilmente resolvidos com um pouco de diálogo.

O carro para em frente à mansão Giordano e nós saímos. O subchefe

já está esperando do lado de fora. Ele é novo, talvez mais do que eu, só que

tem um olhar de quem já viu merda demais nessa vida.

Cumprimento-o com um aperto de mão e ele retribui, sério.


— Você veio na minha casa me acusar de ter traído vocês? É muita

ousadia — Giuseppe resmunga assim que colocamos os pés no hall de

entrada.

Cerro o maxilar ao olhá-lo.

— Sugiro que tome cuidado com as palavras e tom de voz,

Giuseppe. Não preciso lembrá-lo que não sou um de seus homens. E eu não

vim aqui para apontar uma arma para você. Se estivesse com essa intenção,

não teria trazido Giancarlo.

Giuseppe não pede desculpas. Nem espero que o faça. Mas, assente

e suaviza um pouco a carranca mal-humorada e me guia até o escritório.

Giancarlo e Lorenzo vêm na nossa cola.

— Danilo, eu entreguei minha filha a você, acha mesmo que eu

arriscaria a vida dela traindo vocês? Não estou dizendo que sou um homem

bom, mas eu jamais colocarei a vida das minhas filhas em perigo.

Concordo com um aceno de cabeça.

— Precisamos entender o que aconteceu e descobrir onde a porra


daquele caminhão foi parar... — minha voz é silenciada ao ver o celular

notificando uma nova mensagem.

Tiro-o do terno e verifico.

Solto uma baforada de ar ao ler o texto.


Luigi: Martina descobriu sobre as fotos de Jason no seu escritório.

Ela ainda não sabe o motivo de você ter ido para Detroit, mas é esperta,

não vai demorar para descobrir. E quando isso acontecer, ela vai tentar ir
até vocês.

Merda.

Eu devia ter me livrado das fotos do imbecil há tempos. Odeio que

não tenha o matado, mas eu poupei a vida dele por causa dela, para que não
tenha as mãos sujas de sangue inocente.

Jason tem sorte de Martina ser boa demais.

Danilo: Não deixe que ela saia de casa. Vou resolver tudo aqui e

voltar o quanto antes.

Não quero que Martina venha por motivos óbvios. Primeiro, não

vou conseguir me concentrar no que vim fazer.

A organização deve ser a minha prioridade em qualquer situação, foi

o que o papà me fez jurar no dia em que iniciei na máfia. Mas, para ser

sincero, não confio em mim quando a segurança de Martina estiver em

jogo.

Sinto que quebrarei um juramento e protegerei minha esposa a

qualquer custo, mesmo que isso destrua o que o meu pai demorou anos para
construir. E não gosto de saber que uma boceta consegue ter tanta influência

sobre mim.

— Martina sabe que você veio?

— Sim. Então, vamos descobrir que merda aconteceu. Se você não

roubou a carga, quem foi o desgraçado que fez isso? — rosno ao abrir o

botão do terno e sentar no sofá do escritório, olhando de Giuseppe para

Lorenzo, esperando respostas concretas.


Quase como se soubesse que estou querendo escapar de fininho,

Luigi passa a fiscalizar todos os meus passos dentro da cobertura. Vai ser
meio que impossível colocar os pés para fora daqui sem ele no encalço.

— Pode me dar um pouco de espaço? — grunho ao ir para cozinha e

encher um copo com água e vê-lo se aproximando.

— Sei o que quer fazer.

Arqueio uma sobrancelha.

— Ah, é? O quê?

— Ir pra Detroit e entender o que está acontecendo — diz, me

fazendo bufar. Odeio que minhas atitudes sejam tão previsíveis. — É o que
eu faria. Além do mais, você é muito curiosa — emenda, atraindo meus
olhos. — Só que não sairá dessa casa, Martina. Não sairá sozinha. Não sairá

sem mim. Apenas, é claro, se quiser ir para o restaurante trabalhar.

Apesar das palavras dele me afetarem com uma bofetada certeira na


face, eu dou de ombros e finjo que não estou morrendo de vontade de sair

correndo até o elevador e fugir da supervisão dele.

— Vem comigo então. Você me protege e eu não passo o dia inteiro


mal-humorada por não poder fazer o que eu quero — insisto, a um triz de

perder a esperança.

Danilo não atende as minhas ligações, porque ele sabe que


conseguirei convencê-lo a me deixar sair. Infelizmente, não posso fazer o

mesmo com Luigi. É leal demais ao subchefe e melhor amigo.

Ele nega com a cabeça e eu decido que vou ignorá-lo.

— Aqui dentro estará segura — ele volta a articular no momento


exato em que giro nos calcanhares para sair da cozinha. Paraliso os pés e

inspiro fundo, controlando a vontade de soltar um palavrão.

Luigi está sendo insuportável, mas sei que só está seguindo ordens

de Danilo.

Não tem jeito.

É impossível sair de casa durante o dia.


Tudo bem, vou esperar anoitecer e encontrar um jeito de despistar os

olhos de águia do soldado para fugir. Não ficarei aqui, esperando de braços

cruzados Danilo voltar ou Angelina me ligar para dizer que o papà está

morto.

Angelina me manteve informada durante a tarde inteira. Danilo está

em Detroit, enfurnado no escritório do papà há horas, mas fora isso, não

está acontecendo nada demais e as coisas parecem estranhamente calmas.

Mesmo assim, eu preciso ir até lá. Na verdade, eu quero ir e tirar as

conclusões com os meus próprios olhos.

Penso até em usar as informações que Angelina me deu para

convencer Luigi a me deixar sair. Só que desconfio que ele já tenha contra-

argumentos para tudo que sair da minha boca.


Como quem não quer nada, deito no sofá macio e ligo a tevê. Luigi,

que está sentado em uma espreguiçadeira na varanda, mexendo no celular,

me observa sem mover um único músculo. Zanzo pelos canais e paro em


um filme que está passando numa plataforma de streaming. Com cuidado,

ergo o pescoço para ver meu segurança e noto que tirou a atenção de mim

para voltar a focar no smartphone.

Sei que não conseguirei sair daqui com ele na varanda, então, finjo

me concentrar no filme para fugir de fininho no exato momento em que ele

levantar para ir ao banheiro ou algo parecido.

Já estou pronta. Coloquei meus documentos e o cartão de crédito no

bolso da calça jeans, calcei sapatilhas confortáveis e estou usando uma

blusa de manga longa para não precisar pegar casaco. Sairei correndo para

fora daqui na primeira brecha que eu encontrar.

Meu plano de fuga vai por água abaixo quando vejo Luigi entrar e

se acomodar no divã ao meu lado e fixar a atenção na televisão. Se ele fosse

Paolo, em questão de quinze minutos, estaria cochilando, mas além de

Luigi está com uma expressão de alerta estampado no rosto, os ombros

estão eretos.

Confiro as horas no celular. São dezoito e a distância daqui até o

aeroporto são de mais ou menos uma hora. Nesse ritmo, eu nunca


conseguirei chegar em Detroit.

Não me conformo que a minha única solução seja ficar trancafiada

aqui, esperando e rezando para o pior não acontecer.

Apelo e decido fingir que estou dormindo, se Luigi relaxar em

relação a manter os olhos em cima de mim, talvez eu tenha uma chance.

Começo a respirar fundo para dar ênfase a cena e para meu desgosto, acabo

cochilando de verdade.

Acordo com Luigi resmungando no celular atrás do sofá. Levanto

um pouco a cabeça para observá-lo e assim que vira o corpo na minha

direção, deito e fecho os olhos com força. Um tempinho depois, ouço


passadas largas e firmes, e o som que o elevador faz ao parar no andar da

cobertura.

Sem entender bem o que acabou de acontecer, sento no sofá e

confiro as horas no celular. Eu cochilei por quase quarenta minutos. Pelo

menos, não vi o tempo passar e agora, posso sair da cobertura sem Luigi na

minha cola.

Levanto do sofá e checo se os documentos e o cartão de crédito

estão no bolso traseiro e ao ter a confirmação, caminho até o elevador

convencional. Estou alcançando o pequeno corredor que dá na direção do

hall, no momento em que vejo Sarah entrando na cobertura.


Ela tem as mãos trêmulas, enquanto segura uma arma compacta

apontada para mim. Os olhos estão vermelhos e os cílios úmidos. Tem

marcas de dedos no pescoço e alguns hematomas espalhados pelo rosto

delicado.

— Sarah... — murmuro, sem entender o que está acontecendo. Meus

batimentos cardíacos estão tão rápidos, que não consigo respirar direito e o

ouço bombear nos ouvidos. — O que está fazendo? Abaixe essa arma.

Ela vem na minha direção e eu recuo devagar, sem escolha.

— Eu sinto muito — balbucia entre as próprias lágrimas.

— Pelo quê?

Ela prensa os lábios e chora, só que não abaixa a guarda, continua

mirando a arma na altura do meu peito, do lado do coração.

— Só quero que isso acabe — diz, e eu uno as sobrancelhas, sem

entender.

— Sarah, vamos conversar — peço, porque apesar de estar

ameaçando minha vida, ela parece com alguém que precisa de ajuda. E

muita.

— Você não sabe como é ser eu — começa a articular e funga. —

Ele... ele me odeia, me trata como lixo, como se eu fosse um pedaço de

merda. Como se não valesse nada.


— Quem, Sarah? — pergunto, a voz amena, embora sinta que vou

vomitar o meu coração.

— Os pais não deviam tratar os filhos assim. Eu nem pedi pra

nascer — sussurra, me fazendo engolir em seco e sentir um amargor na

garganta. — Ele me culpa por não conseguir fazer Danilo se casar comigo.

Que culpa eu tenho se ele não consegue me enxergar como mulher? Ele

nunca enxergou. Mas a porra da culpa é sempre do mais fraco, de quem não

consegue se defender sozinho.

Franzo o cenho e pisco devagar. Não sabia que o pai de Sarah queria
casá-la com Danilo. Sienna era noiva dele, é no mínimo estranho substituir

uma filha pela outra numa situação tão peculiar como a delas.

— Você tem razão, a culpa é sempre dos mais fracos. Das mulheres.

Somos tratadas como objetos e sei que é injusto.

— Você não sabe de nada! — grita, gesticulando com a arma. — Eu


preciso te matar. Se eu não fizer o que o papai mandou, não vou passar de

uma inútil. — Ela chora, partindo o meu coração em vários pedacinhos. —


Papai disse que tudo vai ficar bem se eu deixar Danilo viúvo.

Respiro fundo e sinto os meus olhos arderem.

— Mas você não quer fazer isso... — arrisco.

Sarah nega com a cabeça, chorando.


— Eu não aguento mais. Só quero que ele me deixe em paz. —
Funga e limpa o nariz com as costas da mão livre. — Só quero que isso

acabe. Só quero que ele finja que eu não existo.

Assinto e com toda a coragem que existe dentro de mim, dou um


passo para me aproximar dela. Sarah movimenta a arma, me parando.

— Não se aproxime — pede.

— Tudo bem, vamos conversar. Vamos resolver isso, Sarah. Danilo


pode te proteger do seu pai — digo. E infelizmente, a verdade pura e

simples é que não sei se ele pode fazer isso.

Sarah sacode a cabeça de um lado para o outro.

— Ninguém pode me proteger do meu pai. Você não o conhece


como eu. Ninguém o conhece como eu.

— Tem razão, eu não o conheço. Mas conheço você e sei que é uma

boa menina. Sei que não é má.

— Você também não me conhece — murmura. — Eu não sou boa.

Como eu seria boa sendo filha do meu pai?

Engulo com força.

— O que será de você se atirar em mim? Como vai se livrar disso?

Pense, vai ser uma tragédia, Sarah.


— Papai vai culpar os inimigos — admite num tom baixo. — Ele
tem tudo planejado. Me desculpa, Martina. Você foi legal comigo, como

nenhuma garota foi.

— Danilo... ele vai descobrir o que aconteceu de verdade. Se fizer

isso, ele nunca vai perdoá-la. E você estará sozinha... com o seu pai —
decido apelar e assustá-la, o que pensando bem, é uma péssima ideia.

— Estou cansada de apanhar... de não ser nada. Mamãe não se

importa. Acho que nunca se importou e desde que Sienna se foi, tudo
piorou. Minha irmã era a única que se importava comigo. E agora, é como

se eu não existisse mais. É como se eu não existisse sem Siena. Você não
entende, os seus pais te amam.

Dou um passo na direção dela.

— Eu sinto muito.

— Não sabe das coisas que ele me obrigou a fazer. De como me

obrigou a me vestir para atrair a atenção de Danilo — choraminga. — Eu


tenho nojo de mim. Não consigo me olhar no espelho sem ter vontade de

vomitar.

Paro a um passo de distância de Sarah, o cano de ferro apontando


para o meio entre os meus seios. Se ela quiser destravar a arma e atirar, será

o meu fim.
— Sinto muito por ter um pai como ele. Você não merece. Ninguém

merece ser tratada assim.

— Ele me obrigou a vir aqui — admite entre as lágrimas. — Eu não


queria, e ele me deu uma surra por discordar dele. Eu preciso obedecê-lo,

Martina.

— Não, não precisa.

— Você não entende. Papai... vai me dar uma surra e fazer da minha

vida um inferno. Um inferno pior do que já é.

Tomo coragem e seguro o cano da arma com as duas mãos, ela

começa a chorar mais ainda e sem lutar, solta o cabo. Respiro fundo,
aliviada. Sem pensar duas vezes, tiro o pente e derrubo todas as balas no

chão, aumentando o choro de Sarah.

Eu devo ser muito idiota, porque a única coisa que faço, é contornar
o corpo pequeno e trêmulo dela com as duas mãos e prendê-la num abraço

apertado, ouvindo-a pedir perdão.

No momento em que Luigi entra no apartamento, os olhos

encontram a arma na minha mão, Sarah nos meus braços e as balas jogadas
no chão, e só então, os olhos encontram os meus e noto que ele tem um

hematoma no queixo e o terno está sujo de sangue.


— Que merda aconteceu aqui? — pergunta, fazendo Sarah se afastar

de mim num solavanco.

— O que aconteceu com você? — devolvo.

Ele vem como um animal bravo para cima de mim e me examina

com atenção, depois lança uma olhadela desconfiada para Sarah.

— Eu resolvi — digo, confiante. — O que aconteceu com você?

— Me ligaram falando que o alarme do meu carro tinha disparado,


mas quando cheguei lá, era uma armadilha. Também resolvi — informa
sem me dar muitos detalhes, e eu assinto. — Sarah, o que veio fazer aqui?

— Matar Martina — admite tão rápido, que eu arregalo os olhos. As


sobrancelhas de Luigi se arqueiam e as narinas inflam à medida que vai

ficando furioso. — Papai... Luigi, eu sinto muito. Ele me obrigou.

— Por quê? Por que ele mandaria você matar Martina? —

questiona, mas me lembra alguém que está buscando algo no fundo da


mente. — Como entrou aqui?

— Gina deixou a porta aberta.

Franzo o cenho, abismada.

— A minha Gina? — retruco.


Gina, a empregada, sempre foi muito prestativa comigo e achei que
nos déssemos bem.

— Ela é uma das amantes do papai — Sarah murmura, entrelaçando

os dedos das mãos e me deixando desnorteada.

Ao ouvir as palavras que saíram da boca de Sarah, Luigi começa

uma busca implacável pelo apartamento, revirando tudo de cabeça para


baixo, o que me deixa nervosa e com um nó na garganta.

— O que está fazendo? — Não tenho respostas. — Achei que Gina

fosse sobrinha de Ornella — emendo ao lembrar que a própria Ornella


comentou comigo sobre a sobrinha.

— E é.

É a única coisa que responde e vasculha a casa inteira, deixando um


caos por onde passa. E no candelabro que ilumina a ilha da cozinha, ele

encontra uma escuta, que esmaga com a mão.

— Uma escuta? — pergunto o óbvio.

— Preciso avisar Danilo o que Sarah fez a mando de Vittorio —


Luigi rosna, pegando o celular dentro do terno. — Depois, terei uma
conversa séria com você — continua ao focar a atenção na garota pequena

ao meu lado.
— Não, espere — peço, fazendo-o enrugar o nariz. — O que será
dela? Não pode entregá-la assim.

— Martina, o que ela fez... é traição.

Assinto, concordando com ele.

— Tem razão, mas ela é só uma garota, Luigi. Não pode condená-la

assim, o pai dela que é um cretino desgraçado. Por favor, ligue, mas não
diga o que aconteceu aqui.

— Não posso mentir pro Danilo. Além de ser meu chefe, é meu

melhor amigo — contesta.

— Pense comigo — digo, segurando o pulso dele e o impedindo de

ligar para o meu marido. — Se você falar, meu pai vai saber e também vai
querer matar Vittorio. Será um banho de sangue. Não acho que o meu pai

vai ficar sentado esperando vocês resolverem tudo, não é?

Luigi passa a língua nos lábios e fecha os olhos com força,

respirando fundo e se preparando para contra-argumentar.

— Vão matá-lo? — Sarah quer saber, ainda está chorando, mas em


silêncio e embora lágrimas banhe o seu rosto pequeno, tem uma expressão
fria. — Vão matar o meu pai?

— Por tentar assassinar a esposa do subchefe? Definitivamente —


rebate e enruga a testa. — Sei que ele empurrou você para Danilo depois da
morte da Sienna, mas não faz sentido. Essa merda toda não faz.

Sarah respira fundo e prensa os lábios.

— Ele... — começa a articular, mas faz uma pausa demorada. Pego

a sua mão entre as minhas e aperto, buscando os olhos dela. — Eu não


deveria saber disso, já levei uma surra antes por escutar conversas que não
devia...

— Diga — encorajo-a.

— A carga roubada... é coisa dele.

Luigi cruza o olhar com o meu antes de dar as costas para ligar para
Danilo. Não o impeço, já que provavelmente a vida do meu pai depende
dessa ligação, mas rezo em silêncio para deixar Sarah de fora.
— Eu preciso fugir — Sarah fala para mim. — Meu pai... vai acabar

comigo antes de conseguirem pegá-lo. Eu o dedurei. Sabe o que isso


significa?

Engulo em seco, sentindo a garganta arranhar.

Luigi volta depois de alguns minutos.

— O que disse? — é a primeira coisa que pergunto, aflita.

— A verdade — fala e bufa ao respirar fundo. — Não entrei em

detalhes, mas ele sabe que Sarah entrou aqui porque Gina deixou a porta
destrancada.

— Vou proteger você — digo a Sarah, que não parece acreditar. —


Precisamos escondê-la de Vittorio.
Luigi une as sobrancelhas e cerra o maxilar. Sorrio quando o vejo

concordando e se afastando de nós para fazer outra ligação. Não sei com

quem fala e nem o quê, mas ao voltar para perto de nós, ele olha para Sarah.

— Vai ficar com Romeo até resolvermos tudo. — Faz um gesto com

a cabeça na direção do elevador privativo. — Vou deixá-la na casa dele, não

é longe. Vou pedir que alguém de confiança suba para ficar de olho em

você.

Reviro os olhos e rio incrédula.

— Se você acha que vou ficar aqui esperando, tá bem enganado.

Agacho-me para pegar as balas no chão e me apresso em colocá-las

no pente da arma compacta de novo. Depois de fazê-lo, enfio dentro da

calça jeans e ergo os cílios para Luigi.

— Você sabe usar...

— Sim, eu sei — interrompo. — Paolo me ensinou. Não é como se

eu fosse uma atiradora de elite, mas ele sempre me aconselhou a mirar nas

bolas.

Luigi arqueia as duas sobrancelhas e pisca devagar antes de assentir.

— Certo.

Nós três rumamos para o elevador privativo e ele o chama.


Sarah parece deslocada e tem tanta culpa no olhar dela, que me

deixa triste. Ela é só uma garota, que sofreu muito nas mãos do pai tirano,

sem ninguém para defendê-la ou para tentar salvá-la. Entrelaço a minha

mão na sua, fazendo Luigi nos observar. É inteligente o suficiente para

permanecer calado.

As portas de metal se abrem e entramos em silêncio. O caminho até

a garagem subterrânea leva uma eternidade e tanta coisa se passa pela

minha cabeça. Assim que saímos, o meu celular começa a vibrar dentro do

bolso.

É Danilo.

Atendo a ligação.

— Fique em casa, estou voltando — é a primeira coisa que ordena.

E mesmo que odeie receber ordens assim, meu coração acelera ao ouvir a

voz dele. — O que Sarah foi fazer aí? Não ouse mentir pra mim.

— Podemos conversar quando você estiver aqui?

— Martina... — repreende.

— Ela veio falar do pai — minto na maior cara de pau e Luigi me

lança um olhar de esguelha.

— Eu já não te disse que é uma péssima mentirosa? Me conte a

verdade. Eu sei que aconteceu algo mais sério do que Luigi me contou.
— Não foi culpa dela.

— Droga — resmunga.

— Vou protegê-la — informo, respirando fundo.

Luigi destrava o carro e faz um barulho alto, o que não passa

despercebido por Danilo. Acomodo-me no banco traseiro e coloco o sinto.

Sarah senta ao meu lado.

— Que merda está fazendo?

Luigi ocupa o banco do motorista e não demora a ligar o veículo e

sair em disparada.

— Estamos levando Sarah para casa de Romeo. Não se preocupe, eu

estou armada — digo, na tentativa de deixá-lo tranquilo. Infelizmente,

acontece o oposto.

— Armada? Está saindo de casa e armada? — retruca, alterado. —


Quero falar com Luigi. Coloque ele na linha — manda e eu não obedeço.

— Não, ele está dirigindo — devolvo, fazendo Danilo bufar e Luigi

me encarar através do retrovisor. — Não se preocupe comigo.

— Impossível, Martina.

— Vou ficar bem. Eu prometo — murmuro.


— Sabe atirar? — questiona, fazendo-me sorrir. — Sabe usar uma

arma de verdade?

— Sim. Paolo me ensinou. Atirarei em qualquer homem suspeito —


falo mais para descontrair. Danilo leva a sério demais.

— Faça isso. Atire na cabeça e não hesite. — A voz grossa e

incisiva faz a minha nuca arrepiar. — Chegarei em Chicago o quanto antes.

— Tá bem.

— Não me faça perder a cabeça, Martina — é a última coisa que diz

antes de encerrar a ligação. Encaro a tela colorida do celular e solto um

suspiro longo. Enfio o aparelho dentro do bolso da calça jeans de novo.

— Ele vai me odiar — Sarah murmura.

— Não, ele vai entender.

Claro que minhas palavras são na tentativa de acalmá-la, no entanto,

a verdade é que não sei mesmo como Danilo vai agir com Sarah quando vê-

la. Mesmo que eu tente, não sei se posso protegê-la da raiva dele.

— Meu pai é um traidor... de uma forma ou de outra, vou sofrer as


consequências — fala, olhando para a rua em movimento.

Luigi e eu nos encaramos pelo retrovisor e ficamos em silêncio. Não

há nada que possamos dizer no momento, porque Sarah tem razão. Traição
é algo que afeta gerações e não importa se ela é inocente ou foi obrigada a

fazer algo, o nome da sua família sempre será manchado.

Estamos entrando na rua pouco movimentada que leva ao cemitério

Graceland no momento em que outro carro em alta velocidade colide contra

nós, fazendo o nosso veículo girar algumas vezes no asfalto. Acontece tudo

tão rápido, que nem tenho tempo de raciocinar direito, só sinto uma dor

aguda na cabeça.

Levo a mão até a testa molhada e percebo que estou sangrando. Tiro

o cinto de segurança e chamo por Luigi, que não me responde. Olho para o

lado e vejo Sarah. Também há sangue saindo da sua cabeça e ela está tão

atordoada quanto eu.

De repente, a porta do lado dela é aberta e um homem a puxa pelos

cabelos, fazendo-a gritar. Ela estende a mão para mim e tento segurá-la,

mas nossos dedos nem chegam a se tocar.

— Seu pai sabia que não faria o trabalho sujo — o homem

resmunga, furioso. — Que merda você fez? O que você disse a ela?

— Nada. Eu não disse nada — Sarah começa a choramingar e ouço

um barulho de bofetada e depois a vejo de cócoras no chão.

— Eu avisei que não era pra deixar as crianças fazerem o trabalho

sujo — diz e vem para o carro. Ele faz menção de quem vai me puxar e eu
acerto o seu rosto com um chute, o que o deixa mais emputecido ainda. —

Putinha do caralho — grunhe.

Ele consegue pegar o meu tornozelo e me arrastar para fora do

carro, fazendo-me cair de bunda no chão. No instante em que meu corpo

choca contra o asfalto, eu o sinto doer por causa da arma compacta.

Tento chutá-lo de novo e Sarah vem para cima dele, tentando

mordê-lo e embora não tenha sucesso, é o suficiente para que eu pegue a


arma compacta e mire contra ele.

Nem penso direito, apenas atiro e acerto o seu peito. Sarah o solta e
eu disparo de novo, dessa vez, tentando acertar no saco, depois, na cabeça.

O corpo do cretino cai no chão sem vida.

Aproximo-me dele e vasculho os seus bolsos, buscando o celular e


arma que usaria para me matar. Ao encontrá-los, entrego a pistola para

Sarah destravada.

— Atire em qualquer homem que se aproximar — ordeno.

— O que vai fazer? — Sarah questiona.

Vasculho as ligações do homem que bateu o carro contra nós e vou


direto no último número para quem ele ligou há duas horas. Toca várias

vezes e já estou quase desistindo e arremessando o celular contra o chão, no


instante em que alguém atende.
— Você ou ela fez o serviço?

Sinto a raiva borbulhando dentro de mim.

— Acha que pode mandar me matar, seu porco nojento? — rosno

para o pai de Sarah. — Vou acabar com você! — berro e ele desliga na
minha cara

— Me desculpe — Sarah sussurra.

— Não assuma a culpa do seu pai, ok? — digo mais brava do que
pretendia, mas a garota assente.

Damos a volta no carro e vejo que está todo arrebentado. Abro a


porta do motorista e tiro o sinto de segurança de Luigi. O airbag o protegeu

bem do impacto, só que ainda está desacordado.

— Luigi! — chamo-o ao mesmo tempo em que o sacudo pelos


ombros. — Luigi! Acorda, pelo amor de Deus! — estou gritando de novo.

Funciona, ele começa a piscar devagar e leva a mão até a cabeça.

— Merda — resmunga ao cair para fora do carro. Tenta se equilibrar

em cima dos dois pés com a intenção de se aproximar do veículo que


colidiu com a gente e paralisa ao ver o homem caído no chão. — Você? —

pergunta e eu assinto.

— Eu acho que estraguei tudo — falo ao me dar conta de que agora


Vittorio sabe que eu sei sobre ele e deve estar fazendo as malas para fugir
do país.

— O que você fez? — ele quer saber.

Balanço a cabeça de um lado para o outro, tentando organizar meus


pensamentos.

— Liguei pra Vittorio e disse que acabaria com ele — falo ao

entregar o celular para Luigi, que fecha os olhos por uma fração de segundo
e respira fundo.
Quando Luigi me liga, quase me sinto aliviado, porque estou a um

triz de perder a cabeça e não aguento mais olhar para cara de Giuseppe ou
Lorenzo. Conversamos com todos os seus soldados e caporegimes e não

saímos do lugar.

É como se a carga simplesmente tivesse evaporado do universo.

— É Vittorio — é a primeira coisa que Luigi fala e eu massageio as


têmporas com a mão. Estou exausto e irritado. — Ele roubou a carga.

Solto uma lufada de ar e fecho os olhos por uma fração de segundo

antes de voltar a falar.

— Suponho que você saiba a gravidade das suas palavras, Luigi.

Está acusando Vittorio de algo muito grave. É traição. Sabe o que acontece
com os nossos traidores.
— Eu sei, eu sei. Não estaria ligando se não tivesse certeza. — Meu

amigo respira fundo do outro lado da linha. — Sarah... ela delatou o pai.

Franzo o cenho, confuso.

— Ela o quê? — retruco, atraindo a atenção de Giancarlo, que se

aproxima de mim, atento e pronto para qualquer bomba que eu vá soltar nas

suas mãos. — Que merda você disse?

— Resumindo, Vittorio está fodendo Gina e ela deixou a porta

destrancada para Sarah entrar aqui sem ser notada. A própria garota disse.

— Por que Sarah entraria na minha casa sem ser notada? — é o que

questiono. — Não faz sentido nenhum.

— Você precisa conversar com a Martina — responde e não gosto

do que eu ouço. — Antes que fale, sei que é meu chefe e devo lealdade a

você. Eu devo a minha vida a você. Mas sinceramente, correndo o risco de


perder minha língua, eu acho que é ela quem deve te contar e não eu.

Solto uma risada seca e sarcástica.

— Você vai ser fiel a minha esposa e não vai contar? É isso que

você disse, Luigi? Eu acho que entendi errado.

— Entendeu certo. Infelizmente, é isso. Deixe pra me punir depois,

precisamos resolver a situação com Vittorio. Ele é o nosso traidor.


— Você é um cretino desgraçado e muito corajoso — grunho,

contraindo o maxilar. — Só me diga uma coisa. Ela está bem?

— Martina? Sim. Tem minha palavra que ela está segura e não tem

nenhum arranhão. Não se preocupe.

Não me preocupar com a minha esposa? Ele está pedindo algo

impossível pra caralho, mas Luigi nunca mentiu para mim. Se diz que

Martina está bem, eu sei que está sendo sincero.

— Ok. Cuide dela com a sua vida.

— Eu cuidarei — fala com firmeza.

— Ligarei pra Giovanni e vou resolver o problema com Vittorio —

informo e encerro a ligação. Os olhos claros de Giancarlo se focam nos

meus. — Vittorio está com a carga.

— Foi um dos seus então? — Giuseppe retruca, ácido e sacudindo a

cabeça em negativa.

— Sim — respondo com um gosto amargo na boca. — Preciso falar

com o meu irmão — acrescento ao discar o número de Giovanni e contar o

que Luigi descobriu.

Pela visão periférica, vejo Giuseppe resmungar ao servir whisky

num copo de cristal.


Depois de falar com Giovanni e colocar os nossos homens de

confiança em busca de Vittorio, mas sem fazer alarde, olho para o

conselheiro do Império Salvatore.

— Precisamos ir.

— O jatinho já está sendo preparado — me informa e eu assinto. —

Levará algumas horas — emenda, me fazendo contrair os músculos do

rosto. — Precisamos conversar sobre outra coisa. — Ele me puxa para um


lado mais afastado do escritório. — Sarah e Sabrina Canalis — diz

respectivamente os nomes da filha e esposa de Vittorio.

— Aquele desgraçado acabou com a vida das duas.

Giancarlo assente.

— Precisamos pensar no que faremos com elas — comenta ao

apoiar a mão no meu ombro, olhando dentro dos meus olhos. — Levar uma

solução para Alberto imediatamente.

Nós odiamos traidores e mesmo que as duas sejam inocentes, o Don

vai querê-las longe, porque não servirão para nada. Nenhum homem

aceitará Sarah em casamento pela traição do seu pai e a senhora Canalis vai

perder a vida de luxo, porque o papà tirará tudo de Vittorio.

— Essa traição vai seguir os Canalis por gerações.

Ele suspira, concordando comigo.


— Eu sei, mas Sarah é só uma garota.

— Que não sabe fazer nada da vida. — É algo duro de se dizer, mas

alguém precisa falar em voz alta. Sarah é uma garota que sempre teve tudo
e não faz muito tempo que se formou no ensino médio. Nunca trabalhou. —

Não posso jogá-las na rua — admito.

— Nem pode levá-las pra sua casa. É casado agora e em respeito à

sua esposa, não colocará outra mulher debaixo do teto.

Lanço um olhar fulminante para ele.

— Eu sei, não estava pensando nisso — resmungo, bufando. E algo

absurdo passa pela minha cabeça. — Você.

— Eu o quê?

— Vai amparar Sarah.

Ele une as sobrancelhas, cético.

— Como é que é?

— O papà confia em você, porque sabe que você sempre coloca a

organização acima de todos nós. Acima da sua vida. Você é leal e

inteligente. Ele vai concordar se você ficar com Sarah e a mãe dela.

Giancarlo balança a cabeça de um lado para o outro.


— Ela tem dezoito anos. Não quero uma adolescente na minha casa,

Danilo. Escolha outro homem.

— Sarah é uma boa garota e acho que você é a melhor pessoa para

cuidar dela — digo, a voz soando alta e firme, chamando a atenção de

Lorenzo e Giuseppe no escritório. — Não estou pedindo pra casar com

ela... — depois que as palavras atravessam minha boca, me dou conta de

algo e tenho uma ótima ideia. — Será ótimo se você casar com ela.

Os olhos de Giancarlo ficam severos ao falar:

— Não pode estar falando sério. — Solta uma risada seca e

incrédula. — Não está falando sério.

Coloco a mão no ombro dele e abro um meio sorriso cínico.

— Mesmo com a traição, ninguém desrespeitará a esposa do

consigliere. Existe uma hierarquia entre as nossas mulheres.

Ele fecha os olhos com força e noto o músculo da sua mandíbula

contrair. O homem respira fundo, pela primeira vez, percebo que falta

pouco para vê-lo perder o controle.

— Eu sou viúvo — lembra-me.

— Sim, eu sei. Pra mim, isso significa disponível — devolvo.

— Não farei isso.


— Se tiver uma solução melhor... — articulo com um sorriso

desdenhoso. — Comece a falar, estou ouvindo.

Carrancudo, o conselheiro me encara com os olhos furiosos, mas

não diz nenhuma palavra.

Por causa da porra do mau tempo, o jatinho não pode sair do


Aeroporto de Detroit. Somos obrigados a esperar, o que me deixa furioso,

porque eu não sou nenhum pouco paciente.

A aeromoça serve whisky com gelo para mim e Giancarlo. Arranco


a minha gravata e a arremesso na poltrona ao lado.

— Paciência é uma virtude.

— Pois é e eu não tenho — resmungo, fazendo a aeromoça tremer

nervosa com a bandeja. — Abra a porta, quero sair.


— Senhor, não podemos... — ela para de falar no momento em que
lanço um olhar na sua direção e ergo uma sobrancelha de forma cética. —

Um momento, por favor.

Depois de quase vinte minutos, ela volta e abre a porta da aeronave


para mim. Sem esperar, desço as escadas e olho para o céu. Mau tempo do

caralho. Giancarlo me segue e estou prestes a resmungar algo quando meu


celular começa a tocar dentro do bolso do terno.

É Romeo.

— Ainda em Detroit — digo, a voz irritadiça.

— Aconteceu algo — começa, e eu solto um palavrão. Estou

exausto. — Martina e Luigi foram atacados quando estavam vindo pra cá.

— O quê? — retruco, enfurecido. — Cadê a minha esposa? —

pergunto com a garganta áspera.

— Ela está bem.

Respiro fundo, sentindo as narinas expandirem.

— Quem? Quem atacou? — questiono, sem entender.

— Vittorio. Ele mandou um de seus soldados para matá-la, mas


preciso admitir que ela é valente. Luigi apagou e Martina conseguiu matar o

cara.
— Aquele porco desgraçado! Eu vou acabar com a raça dele —
grunho, com vontade de socar alguém. — Quero falar com ela — ordeno e

Romeo fica em silêncio, mas o ouço passar o celular para Martina.

— Oi — murmura.

— Você está bem?

— Sim. Foi só um susto — diz e a ouço suspirar do outro lado. —


Estou bem, sério.

— Eu juro por Deus... vou matar aquele desgraçado. Vittorio vai se


arrepender de ter encostado em você.

— Eu sei. Sinceramente, espero que ele sofra.

— Ele vai — faço uma promessa mesmo sem dizer as palavras


exatas.

Martina fica em silêncio por um tempo. Não é ruim, só ouvir a

respiração dela do outro lado da linha, faz o meu peito esquentar.

— Danilo?

— Hum?

— Volte inteiro — pede, fazendo-me sentir estranho e o coração


ficar inquieto. — Vou estar em casa esperando você.
— Tente dormir, vou demorar um pouco. A porra do mau tempo não

deixa o caralho do jatinho sair do aeroporto.

Ela solta uma risadinha.

— Tá bem, tentarei. — Faz um muxoxo. — Acho que agora Sarah

está segura — cochicha, fazendo-me concordar. — Podemos conversar


sobre tudo quando você chegar.

— Sim, definitivamente.

Respiro fundo e engulo o caroço no meio da garganta.

— Até mais tarde.

— Até — digo por fim, encerrando a ligação. Giancarlo me olha,

perguntando o que aconteceu sem falar nada em voz alta. — Vittorio


mandou alguém matar a minha esposa. Quando colocar as mãos nele,

aquele rato vai implorar pra morrer.

— Eu sabia que ele queria casar Sarah com você depois do que

aconteceu com Sienna. — Enfia as mãos nos bolsos da calça social. — E


foi o primeiro a ser contra quando o Don falou que solidificaria a parceria

com os Giordano com o casamento. Mas não imaginei que colocaria tudo a
perder por isso.

Rio com sarcasmo.


— Ele é ambicioso. Achava que casando uma das filhas comigo,

estaria garantido para sempre. Como se as coisas funcionassem assim no


nosso mundo. Não duvido nada que estivesse pensando em passar a perna

no papà se o casamento com Sienna tivesse acontecido.

Giancarlo balança a cabeça de um lado para o outro e fecha os olhos

por um segundo, incrédulo.

— Faz sentido agora.

— O quê?

— O roubo da carga foi uma distração. Ele sabia que o Don o

mandaria pra cá e Martina ficaria sozinha. O desgraçado usou a inteligência


para trair a nossa família. Fodido.

Aperto o celular com tanta força, que os nós dos meus dedos ficam
brancos.

— Vou acabar com ele — rosno.

— E deve — o conselheiro concorda. — Vittorio servirá de exemplo


para os outros. Ele quebrou um juramento, não é mais o nosso irmão.

— Ele terá uma morte digna de um traidor — falo entre os dentes,


inclinando a cabeça para focalizar os olhos de Giancarlo. — Vai querer

nunca ter pensado em matar minha mulher.


Fico surpresa em como Luigi se recupera rápido e nem parece que

desmaiou quando o carro bateu. Acho que ser um homem de honra deve
significar isso, levantar e seguir em frente mesmo que esteja arrebentado.

Ele resolve tudo e em questão de poucos minutos, uma van surge na

avenida para pegar o corpo e Romeo aparece com um carro para nos levar
para sua casa. Luigi fica de nos encontrar lá assim que possível.

Não demora para chegarmos no apartamento de Romeo. Não é uma

cobertura, mas é tão luxuosa como onde moro com Danilo. Nós vamos

entrando e o meu cunhado some apartamento adentro.

Seguro a mão de Sarah e nos guio até a sala para examiná-la. Ela

parece mais machucada do que eu, porque além do nosso acidente de carro,

foi espancada pelo cretino do pai.


— Você é tão boa — sussurra, olhando dentro dos meus olhos e me

fazendo sorrir. — Danilo tem sorte de ter você.

— Nosso mundo é muito machista. Se não nos unirmos, o que será


de nós? — indago, fazendo a garota abrir um sorriso doce. — Ele já tocou

em você de outra forma? — quero saber.

Sarah nega com a cabeça.

— Não. Só pra me bater e me lembrar o quão inútil eu sou —

resmunga, me fazendo trincar os dentes.

Romeo volta segurando uma caixa de primeiros socorros, que me

entrega, sem dizer nada. Muito calado, mas prestativo. Fico imaginando o

que deve ter sofrido nas mãos de Alberto Salvatore para ser tão fechado

assim.

— Obrigada.

— Tem analgésicos aí. Vou buscar água — fala, me fazendo

assentir.

Faço Sarah sentar no sofá e cuido dos machucados causados pelo

acidente de carro e o que o filho da puta do seu pai fez no seu rosto tão

delicado e bonito. Como um pai pode tratar os filhos assim? Nosso mundo é

cruel demais.
— Ele nunca mais tocará em você — eu digo, com tanta confiança,

que sinto que eu mesmo matarei Vittorio se ninguém o fizer.

— Obrigada.

Romeo traz dois copos com água e nós tomamos os analgésicos que

estavam dentro da caixinha de primeiros socorros.

— Vou ligar pro meu irmão — comenta, olhando para mim.


Concordo com um aceno, mesmo ciente que jamais conseguiria impedi-lo

de fazer isso.

Sarah faz questão de cuidar do meu ferimento, o que me rouba um


sorriso e me faz vê-la como uma irmã mais nova.

Romeo conversa com Danilo por alguns minutos e depois passa o

telefone para mim. Só ouvir a voz dele faz o meu corpo inteiro entrar em

combustão. Mais do que nunca, eu queria que ele estivesse aqui.

Tento esconder a decepção ao saber que o voo vai atrasar e me

mantenho firme. Danilo estará em Chicago em algumas horas. Tudo vai

ficar bem. Encerro a ligação e devolvo o celular para Romeo.

— Está tudo pronto no quarto de hóspedes — Romeo informa,

olhando de mim para Sarah.

— Vá tomar banho e descanse, tá bem? Está segura aqui e ninguém

vai tocar em você — digo e os olhos dela brilham por conta das lágrimas, e
depois, envolve os braços em volta de mim para um abraço.

Romeo guia Sarah para o quarto de hóspedes e de repente, Giovanni

entra no apartamento esbaforido. Vem para cima de mim e me segura pelos

ombros, conferindo se não estou machucada.

Quase sorrio.

Os três são intensos demais e unidos, como eu sou com as minhas

irmãs. E ao ver a preocupação estampada no rosto debochado de Giovanni,

sei que me tornei importante para ele no momento em que casei com o seu

irmão.

— Estou bem. Inteira — falo, tentando acalmá-lo.

— Aquele velho fodido perdeu a cabeça — rosna. — Como é que

ele manda alguém matar a esposa do subchefe? Porra. Danilo já sabe dessa

merda?

— Já liguei pra ele — Romeo diz ao voltar para sala.

— Ele vai demorar pra voltar, por causa do mau tempo... —

informo, fazendo os irmãos bufarem. — Onde está Luigi? Ele está bem?

— Já está vindo com um carro novo — Giovanni fala e eu concordo

com um aceno de cabeça. — Fica com ela, eu vou procurar Vittorio com os

outros — articula na direção do irmão e logo em seguida, some de novo.

Tão rápido como apareceu.


— Romeo? — chamo-o e ele ergue os olhos para mim. — Por favor,

cuide da Sarah — peço.

— Eu cuidarei. Não se preocupe.

Depois de algumas horas, Sarah adormece e Luigi vem me buscar.

Mesmo com uma vontade de não a deixar sozinha, eu acompanho o meu

segurança até o carro do lado de fora do prédio.

Ele abre a porta para mim e me acomodo no banco traseiro,

enquanto ele ocupa o lugar do motorista.

Luigi ainda está sujo e machucado.

— Você está horrível — resmungo. — Não pode tirar o resto do dia

de folga? — questiono mais para aliviar o clima tenso entre nós.

— Não — responde o óbvio. — Mas eu farei assim que possível —

emenda, e eu reviro os olhos, porque eu sei que é mentira.

Nós flutuamos pelas ruas de Chicago e logo estamos na cobertura de

novo. Luigi vai para cozinha e eu rumo para o andar de cima. Entro no

banheiro e me olho no espelho pela primeira vez.

Também estou um caco. Não muito diferente de Luigi.

Tiro as roupas para entrar debaixo do chuveiro e me sinto dolorida,

mas fico feliz por não ter nenhum hematoma, apenas o ferimento na testa.
Acho que Danilo perderia a cabeça de vez se eu tivesse me machucado de

verdade.

Relaxo no chuveiro, permanecendo debaixo d’água mais tempo que

o necessário. Seco os cabelos e visto uma camisola antes de afundar no

colchão e encarar o teto.

Que dia louco.

Sinto que vivi uma vida em poucas horas.

Viro o corpo e encaro o lado em que Danilo dorme. Toco no

travesseiro e em silêncio, peço que a porcaria do tempo melhore para meu

marido voltar para casa o quanto antes.

Fecho os olhos e respiro fundo, adormecendo logo em seguida.


São quase seis horas da manhã quando o perfume marcante de

Danilo preenche o meu nariz e me faz abrir os olhos. Sonolenta, sento na

cama e nem tenho tempo de dizer nada, ele envolve os braços em volta de

mim e me aperta contra o corpo. Tão forte, como nunca fez antes.

— Eu estou bem.

Assim que as palavras alcançam os seus ouvidos, os olhos focalizam

no curativo no canto direito da minha testa. Eu ainda estou dolorida por


causa do impacto da batida do carro, mas inteira e viva. No final, é isso que

importa.

— Se não tivesse matado aquele desgraçado, eu teria o feito comer o

próprio pau — Danilo soa rude e protetor com a mesma intensidade.

— Mirei na cabeça, depois de acertar as bolas — zombo, fazendo-o


abrir meio sorriso gentil para mim. Apesar de não acontecer muito, eu gosto

quando sorri assim.

— Fez bem.

Danilo eleva a mão e coloca uma mecha de cabelo detrás da minha


orelha, o toque singelo, queimando a pele inteira. Ficamos um dia longe um

do outro e eu sinto como se eu fosse uma usuária de drogas, viciada na


droga mais potente de todas.

— Encontraram Vittorio?
— Ainda não. Meus homens estão procurando. Não se preocupe, ele
estará morto até o final do dia.

Forço o caroço no meio da garganta a descer.

— E Sarah?

— Me conte tudo que aconteceu. Não diga mentiras, piccolina.

Suspiro, mordendo o lábio inferior. Focalizando os olhos dele, eu

sou sincera e digo a verdade, até mesmo o meu plano de fugir para ir até
Detroit escondido de Luigi. Ele escuta tudo com uma carranca dura e o

maxilar contraído. Não sei se já o vi tão bravo como agora.

— Ele a obrigou — falo, por fim. — Pode protegê-la por mim?

Sarah é apenas uma garota quebrada, sozinha. — Seguro a mão firme de


Danilo, fazendo-o observar o gesto com atenção. — Por favor — eu peço,

faltando pouco para começar a implorar pela vida de Sarah. Realmente,


quero que ela fique bem, porque merece ter uma vida sem as amarras do pai
tirano.

— Vou conversar com ela primeiro.

Molho os lábios.

— Sarah não queria fazer isso, eu vi nos olhos dela. Por favor, não a

culpe pelos erros do pai.

Danilo passa a mão no topo da cabeça e assente, a contragosto.


— Tudo bem, mas ainda conversarei com ela — avisa, e eu
concordo com um aceno de cabeça. — Preciso tomar um banho. Volte a

dormir. Descanse, você precisa — fala ao depositar um beijo na minha testa


e ir para o banheiro.

Afundo no colchão e tento fazer o que ele disse, voltar a dormir e


descansar, e é lógico que não consigo pregar os olhos. Ouço o chuveiro

sendo ligado e mexo de um lado para o outro, tentando encontrar uma


posição confortável e que me facilite adormecer.

Como não encontro, rolo para fora da cama. Calço as pantufas e vou

até a cozinha para beber água. Enquanto faço isso, penso em Gina e
Ornella. Gosto tanto de Ornella, só que sei que a mulher nunca mais

colocará os pés nessa casa por causa da traidora da sobrinha.

Faço o caminho de volta para o quarto e atravesso a porta no mesmo

instante em que ele sai do banheiro com uma toalha branca em volta da
cintura e os cabelos molhados. Uma visão sexy pra caramba.

— Por que não está dormindo?

— Não consigo dormir — sussurro ao cortar a nossa distância. — O


que acontecerá com Gina? — pergunto de uma vez, a curiosidade me

corroendo.

— Não vai querer saber — é o que diz.


E ele tem razão, não vou mesmo.

— Pode poupar Ornella?

— Se ela for inocente, não há motivo para se preocupar — informa,


envolvendo a mão no meu pescoço e fazendo o cheiro de sabonete dançar

pelo ar. — Eu acabarei com qualquer um que ousar machucar você,


Martina. Me odeio por ter saído e a deixado sozinha aqui. É meu dever

protegê-la e não gosto de saber que falhei nisso.

— Não falhou — sussurro. — E, mesmo assim, eu estou inteira.

— Está machucada — contesta, examinando a minha testa.

— Um pouco, mas continuo inteira.

— Eu teria perdido a cabeça se algo tivesse acontecido com você,


piccolina.

— Você teria matado meu pai? — me ouço perguntando com o


coração na garganta. — Você foi lá pra isso, não é?

Danilo balança a cabeça de um lado para o outro, negando.

— Não fui lá para matá-lo. Eu fui para descobrir o que aconteceu.


Nunca me importei com os traidores, mas pela primeira vez, eu torci para

que não fosse o seu pai.

Meu peito sobe e desce com a respiração funda.


— Por quê? Por que se importou com ele?

— Porque não queria que você me odiasse — assume e me


desmonta todinha. — A organização é minha vida e deve vir em primeiro

lugar. Eu fiz um juramento pra isso. Mas, sempre que você ou a nossa
relação estiver em jogo, sei que vou priorizá-la. E eu não fui criado para

pensar dessa forma, mas não consigo controlar, você se tornou a minha
prioridade, Martina.

Danilo está me colocando acima dos juramentos da máfia.

Tecnicamente, é algo que nenhum homem de honra deve fazer. O que ele
disse tem tanto significado, pode ser considerado perigoso e até mesmo,

traição.

Mas para nós, significa amor também.

Não tenho palavras, então, fico na ponta dos pés e o beijo com

vontade, enroscando as nossas línguas e mordiscando o seu lábio inferior,


enquanto as minhas mãos passeiam pelas suas costas largas e o puxam para

mim, colando os nossos corpos.

Danilo agarra a minha cintura com força, me roubando um gemido,

que ele engole com a boca. Minhas mãos descem até a barra da toalha e eu
a puxo, deixando-o completamente nu. A ereção que começa a crescer

encosta na minha barriga, me arrepiando inteira.


Ele mordisca o meu queixo, e a língua vai lambendo meu maxilar, a
pele sensível do pescoço e por fim, os dentes se cravam no meu ombro, me

fazendo soltar um gemido manhoso.

Minhas mãos ávidas deslizam pelo abdômen duro e trincado,


descendo até o membro ereto e quente. Agarro-o com desejo e massageio

com carinho, arrancando suspiros pesados dele, que são excitantes pra
caramba.

— Danilo... — murmuro, sentindo a boca exigente percorrer a pele


do meu pescoço até a orelha e morder o lóbulo. É tão delicioso, que me faz

esquecer todos os nossos problemas.

— Estou viciado em você, piccolina — ele diz, num tom firme e


sexy.

Aperto as mãos em volta do pênis e ele entreabre a boca, deixando


escapar um som gutural do fundo da garganta.

Mordo o lábio inferior.

— Nunca me ajoelhei para um homem, mas vou fazer pra chupar


você — sussurro, mirando os olhos azuis e torcendo para ter sido sensual o

suficiente.

Devagar e sem perder a nossa conexão, começo a lamber o abdômen


duro e cheio de gominhos até o umbigo, em seguida, fico de joelhos de
frente para Danilo. Uma das mãos dele entrelaça no cabelo da minha nuca,
puxando de leve e acendendo ainda mais o meu corpo.

Pego o pau de Danilo com as duas mãos e coloco a língua para fora,
passando-a na glande, bem devagar e observando as suas reações. Ele

contempla a cena com os olhos azuis dilatados e uma expressão sexy e


cheia de tesão.

— Quero fazer você gozar com a minha boca — murmuro e ele

respira fundo e pesado.

Molho os lábios antes de mergulhá-los no pau dele, engolindo-o

inteiro e o observando gemer. Sugo a carne macia e quente, que envia uma
ondulação vibrante para o meio entre as minhas próprias pernas.

Mantenho os olhos abertos e fixos em Danilo, enquanto cubro todo

o seu membro com os lábios e volto para o topo, dando atenção a glande, só

para sugá-lo com vontade depois.

Danilo me contempla, ficando cada vez mais duro dentro da minha


boca.

— Porra, Martina — geme, o que me faz aumentar o ritmo, apenas


para vê-lo perder o controle e se entregar por completo. — Vai devagar,

senão, eu gozo rápido demais — chia e como se fosse um botão automático,


sinto o meu clitóris latejar.
Mergulho os lábios no seu pau e o sugo bem, passando a língua pela
extensão antes de chegar à cabeça e engoli-lo todo de novo. Repito os

movimentos à medida que o vejo ficar ofegante e fechar os olhos por causa
do prazer.

A fim de vê-lo perder as estribeiras e dar mais intensidade ao


momento, acaricio as bolas, roubando gemidos roucos de Danilo. Ele fecha
os olhos e deita a cabeça para trás, apertando a mão na minha nuca com

força.

— Martina... — diz, a voz baixa e profunda.

Adoro saber que consigo desmontar um homem como ele. Sei que
Danilo me tem nas mãos, mas a verdade, é que eu o tenho nas minhas
também.

Aumento o ritmo das minhas investidas e sinto a mão no meu cabelo


me ajudar com o ritmo, arrepiando o meu couro cabeludo. Ergo os cílios
para Danilo e o vejo me admirando com a boca entreaberta.

Tão sexy e entregue.

— Eu vou gozar... — murmura.

Não diminuo o ritmo nem por um instante e não demora muito para

vê-lo retesar o corpo inteiro antes de gozar na minha boca, arrebatado pelo
prazer.
As duas mãos se envolvem no meu rosto e com cuidado, ele me
puxa para ficar de pé para cravar os dentes no meu pescoço e me roubar

gemidos. Danilo sobe com a língua até o lóbulo e dá uma mordidinha que
me faz perder as estribeiras.

— Agora, sou eu quem vai fazer você gozar — diz, com o jeito todo
mandão.

Engulo em seco ao vê-lo se ajoelhar na minha frente e com as duas

mãos, alisar as laterais das minhas coxas antes de me fazer abrir as pernas
para ele. Com medo de não conseguir me manter de pé, apoio as mãos nos
seus ombros largos.

Com os olhos grudados nos meus, Danilo enterra o rosto entre as

minhas pernas e desliza a língua exigente na minha fenda, que já está


pingando de tesão. Ele começa a me lamber de um jeito demorado e
delicioso, fazendo difícil ficar em pé.

— Danilo... — gemo.

— Você é doce, Martina — sussurra contra o meu clitóris, a voz

quente me enlouquecendo.

A língua faz um movimento de baixo para cima e alcança o meu


ponto de prazer em chamas. Enfio os dedos nos seus cabelos, inebriada, eu
o observo me chupar como se eu fosse a melhor coisa do mundo.
De repente, sinto dois dedos escorregarem para dentro de mim e eu

fico nas pontas dos pés, mordendo o lábio inferior com força. Solto um
gemido alto de prazer ao senti-lo entrar e sair de dentro de mim, me
invadindo de uma maneira tão gostosa.

A língua saliente continua dando atenção ao meu clitóris e as


minhas pernas tremem conforme vou me aproximando do orgasmo.

Surpreendo-me ao vê-lo levantar e um gemido involuntário escapa


dos meus lábios. Danilo agarra minha cintura e como no automático,
minhas pernas enroscam no seu tronco ao mesmo tempo em que nos
beijamos, nossos gostos se misturando e me levando à loucura.

Ele me deita na beirada da cama e volta a ficar de joelhos para mim.

— Segure as pernas — ordena ao erguê-las contra a minha barriga.


Acato a ordem sem protestar.

As mãos possessivas alisam as minhas coxas durante o tempo em


que ele mergulha a língua em mim de novo, deslizando para a minha
entrada molhada. Nessa posição fica difícil vê-lo, mas acho que nunca senti

a sua língua tão profunda.

— Danilo — choramingo.

Os dedos voltam a me penetrar, fazendo uma dança deliciosa de


vaivém ao mesmo tempo em que a ponta da língua faz movimentos
circulares e precisos no meu clitóris inchado.

— Caramba — gemo.

Minhas pernas começam a tremer e nunca achei tão difícil segurá-


las. Sinto um espiral começar no couro cabeludo e percorrer todo meu
corpo à medida que o orgasmo explode em mim.

Solto as pernas, colocando-as em cima do ombro do Danilo e

respirando fundo, tonta da onda de prazer que ainda vibra em mim. Olho
para ele e gosto de ver os lábios vermelhos e molhados com os meus
líquidos.

Ele fica em pé e eu me arrasto um pouco para trás. Com uma pegada


firme, agarra o pau duro e começa uma fricção sexy enquanto olha para

mim.

— Quero ver você de quatro, Martina.

Sem demora, eu faço o que ele manda, empinando bem a bunda e o


olhando por cima do ombro. Ele sobe na cama e a mão livre me acaricia.
Gemo com o toque, que é quente e sedento.

Os dedos passeiam entre as minhas dobras, me arrepiando toda e me


enlouquecendo.

— Esse rabo é lindo — diz, ainda me alisando. — E é todo meu —


grunhe.
— Danilo... — choramingo ao sentir um dedo me penetrar e sair

logo em seguida.

— Diz que é minha — ordena.

— Eu sou... sua...

Ao me ouvir, sinto a cabeça do pau roçar na minha entrada


ensopada, o que me faz arquear mais o quadril para recebê-lo inteiro.

Danilo impele o corpo contra o meu, entrando num solavanco e me fazendo


choramingar.

— Cacete — ele geme.

Ele começa a entrar e sair, os movimentos são intensos e profundos,


o que eu gosto bastante. Sem conseguir me controlar, rebolo contra o seu

pau, no compasso das investidas impiedosas.

— Danilo — gemo, muito excitada. — Por favor, mais forte —


imploro, fazendo o homem rosnar como uma fera indomável.

Ele envolve as duas mãos na minha cintura, apertando-me em seus


dedos com força e impelindo o quadril contra mim com tudo que tem.

Agarro o edredom e fecho os olhos, suspirando.

Danilo cobre o meu corpo com o seu e lambe as minhas costas, sem
parar as estocadas profundas.
— Minha — sussurra, cravando os dentes nos meus ombros. — Só
minha, Martina — repete, mordendo a linha do meu pescoço.

Ele entra e sai com força, os dedos nos meus quadris me apertando.
Viro um pouco o rosto e procuro os seus lábios para um beijo, sentindo-o
chupar minha língua com uma vontade incrível.

Puxo o seu lábio inferior entre os dentes, fazendo-o gemer para


mim.

— Danilo... você é meu — as palavras escapam dos meus lábios


antes que eu tenha noção do peso delas.

— Eu sou — concorda e meu coração acelera no mesmo instante em

que fico mais excitada.

Uma mão desliza pela minha cintura e o dedo indicador e o médio


encontram o meu clitóris para um carinho lascivo, levando-me para outro
orgasmo arrebatador.

— Eu vou gozar...

— Isso, eu quero que goze no meu pau, Martina. Quero que goze
pra mim, piccolina — a ordem que soa dos lábios de Danilo é tão sedutora,
que não consigo resistir.

Com as investidas intensas de vaivém e os movimentos circulares


no meu clitóris quente e sensível, eu me deixo levar pela onda de prazer que
me domina mais uma vez. Os músculos da minha boceta se contraem em
volta do pau de Danilo e o meu corpo inteiro vai pelo mesmo caminho, se
contorcendo debaixo dele à medida que o ápice do prazer me arrebata por
completo.

— Danilo — chamo por ele, extasiada.

As mãos voltam para o meu quadril e ele não para, continua com o
ritmo rápido e intenso, buscando a própria satisfação. Sinto-o gozar dentro
de mim e ouço um som gutural escapar do fundo da sua garganta.

— Caralho — murmura e a boca se encaixa no meu pescoço, onde

ele deposita um beijo molhado e quente. Ainda não sai de dentro de mim e
nem para de se mover, apenas, diminui o ritmo. — Você é muito gostosa,
Martina.

Devagarinho, ele se afasta e eu desabo na cama, ficando de barriga


para cima.

Ele deita ao meu lado, apoiando o cotovelo no colchão para segurar


a cabeça e me olhar com a veneração, que se tornou uma das minhas coisas
preferidas. Eu adoro quando Danilo me olha assim.

Sorrio e iço uma mão para entrelaçar nos seus cabelos, que agora
estão molhados de suor.
— Não gosto de ficar longe de você — é ele quem diz, acelerando o
os meus batimentos cardíacos. Para ser sincera, eu nem sei se meu coração
se aquietou desde que o vi ao meu lado na cama.

— Acho que eu... — as palavras ficam entaladas na minha garganta.

O azul dos seus olhos brilha de excitação. — Eu sou mais importante do


que os juramentos da máfia pra você?

— Sim — responde, sem hesitar.

— Eu... — começo a articular de novo, me sentindo estranhamente


indefesa. — Eu acho que me apaixonei por você.

Danilo me encara com tanta intensidade, que as borboletas no meu


estômago dançam como se estivessem participando de uma competição de
ginástica rítmica.

— Nunca existiu uma mulher na minha vida como você.

Uno as sobrancelhas e prenso os lábios.

— Como assim? — quero saber.

— Nenhuma mulher deitou nessa cama antes de você. E além da


minha mãe, Gina e Ornella foram as únicas a entrarem nessa cobertura —
admite. Meu coração sobe até a garganta e as bochechas queimam em
ansiedade. — Você é minha esposa. Dona da minha cama. Da minha vida.

Os meus lábios se repuxam num sorriso tímido.


Danilo segura minha mão e leva até o peito quente e cheio de
músculos.

— E do meu coração também. — Ele aproxima o rosto do meu e

encosta nossos lábios de leve, esquadrinhando meu rosto logo em seguida.


— Pertencemos uma ao outro, Martina. E eu a protegerei com a minha vida,
se for preciso.

— Posso proteger você também.

Ele abre um sorriso sacana.

— Prefiro que não o faça — rebate.

— Por que não?

— Porque você é preciosa demais e eu não quero nunca... que você


se machuque, piccolina.

Dito isso, ele vem para cima de mim de novo, envolvendo as nossas
línguas num beijo lento e dessa vez, apaixonado.

Eu sei que entreguei o meu coração ao Danilo rápido demais. Mas


para nós, nunca existiu um caminho diferente a não ser esse. Estamos
fazendo o melhor que podemos com o nosso casamento arranjado.

E amá-lo não é ruim.

É o que há de mais intenso na minha vida.


No fim da tarde, os nossos homens encontram Vittorio e alguns

soldados traidores tentando fugir da cidade de barco com dinheiro em


espécie, objetos valiosos e as joias da esposa numa maleta de couro.

Ele é um cretino. Não se importou com nada, além de salvar o

próprio rabo por ter sido descoberto.

Vittorio e os soldados são levados para o bunker, que foi construído


debaixo do estacionamento de um dos nossos restaurantes italianos menos

movimentado. Giovanni, Romeo, Matteo e eu chegamos ao mesmo tempo

em que o papà e o conselheiro.

Troco um olhar com o Don e é visível a sua fúria por ter sido traído

por alguém da nossa família.

Descemos as escadas subterrâneas e em questão de segundos, o ar

ao nosso redor fica espesso. Seguimos por um corredor pequeno e pouco


iluminado e entramos na sala ampla que usamos para dar o fim nos nossos

inimigos e traidores.

Os quatros soldados que estavam tentando fugir com Vittorio já


estão mortos, os corpos empilhados em um lado da sala, enquanto o nosso

caporegime está deitado em uma mesa de inox, amarrado dos pés à cabeça e

com a boca costurada.

É assim que tratamos os nossos traidores, sem chances de últimas

palavras.

O Don é o primeiro a chegar perto o suficiente para olhá-lo nos


olhos.

— Achei que fosse meu amigo, Vittorio, mas não passa de um rato

filho da puta — resmunga e cospe no rosto dele. — Usou a sua inteligência


para cometer traição e agora vai morrer por isso — continua e aperta uma

das amarras dele, fazendo o traidor gemer de dor.

O papà se inclina um pouco e aproxima o rosto de Vittorio,

focalizando os olhos esbugalhados e lacrimejantes.

— Que você queime no inferno por ter traído a nossa família —


grunhe, voltando com a postura ereta e recua, colocando as mãos nos bolsos

da calça social.
Sem pressa, dou passos até Vittorio, que se remexe na mesa,

tentando se soltar. Até parece que conseguiria fugir se o fizesse. De um jeito

ou de outro, hoje será o seu fim por ter cometido traição.

— Tentou matar a minha mulher — falo, a voz soando impassível.

Abro um sorriso cínico para ele e sibilo. — Não esteve nessa sala o

suficiente para saber como tratamos os nossos traidores?

Ele geme, na tentativa inútil de falar.

— Shhhi — murmuro com desdém. — Sabe que não damos chances

para traidores falarem. — Depois de falar, acerto um soco na testa de

Vittorio. Uma, duas, três, quatro, cinco e ele desmaia.

Recuo um passo e alongo a mão que usei para socá-lo. Um dos

nossos soldados se aproxima dele com um balde de água gelada e despeja

tudo em cima do seu rosto, fazendo o traidor acordar.

Volto a me aproximar, sentindo os músculos do meu rosto

enrijecerem e uma tensão do caralho nos ombros.

— Se pudesse falar, imploraria para morrer logo. — Balanço a


cabeça, cético. — Mas vai sofrer. Vai sofrer como um traidor merece.

Dois soldados saem da sala e voltam depois de poucos minutos. Um

deles traz uma gaiola de metal sem o fundo e o outro, um rato.


Com um solavanco, rasgo a blusa de Vittorio, fazendo os botões

voarem. O soldado coloca o rato em cima da barriga do nosso traidor, que

se remexe em desespero, e então, a gaiola.

Em um lugar mais afastado da sala, há um balde de ferro com brasa

fervente e uma pá pequena ao lado. Romeo a segura e enfia dentro, pegando

uma quantidade significativa de brasa e me entrega.

Encaro Vittorio enquanto forro a parte superior da gaiola com a


brasa. Os olhos arregalados me encontram e ele tenta se soltar das amarras,

uma tentativa inútil de escapar do seu destino cruel.

Vittorio terá o que merece.

Vai implorar para morrer de uma vez, o que não acontecerá. Vai

sofrer durante o tempo em que o rato dilacera o seu intestino para

sobreviver.
Depois de dar uma morte desumana e digna de um traidor para

Vittorio, saímos do bunker e deixamos que os soldados limpem tudo.

No estacionamento privativo e coberto do restaurante, o papà para o


meu lado, apoiando a mão firme no meu pescoço.

— E a carga? — quer saber

— Já chegou em Detroit — informo, fazendo-o assentir.

Recuperar a carga valiosa, pegar e matar o traidor, e lógico,

continuar ganhando dinheiro e ter o controle de tudo, é praticamente o

nosso final feliz.

Vittorio até pode ter sido amigo do Don, mas os negócios sempre

serão mais importantes acima de qualquer coisa. Para o papà, a organização

sempre esteve acima de nós, os filhos, e a mamma, sua esposa.

E bom, não é que ele esteja errado, quando iniciamos e fazemos o

nosso juramento de sangue, é isso que prometemos.

A organização acima de tudo e que daremos nossas vidas pelos

nossos irmãos se preciso for. E se um dia quebrarmos o juramento,

queimaremos no fogo do inferno.

— Martina está bem? — pergunta, como se estivesse interessado de

verdade no bem-estar da minha mulher.

— Sim.
— Ótimo. Giuseppe sabe o que Vittorio fez contra Martina?

Balanço a cabeça em negativa.

Martina não quis contar ao pai ou as irmãs o que aconteceu ontem

de noite. E sinceramente, prefiro assim. Não quero que Giuseppe ouse falar

que não sei cuidar da minha esposa ou que sou incapaz de protegê-la. Eu

perderia a cabeça e ele se tornaria meu inimigo facilmente.

— Não deixe que Giuseppe saiba o que aconteceu com ela. Não

estou a fim de lidar com isso — fala e eu concordo, assentindo.

O papà dá uma batida de leve na minha nuca, e faz o mesmo com os

meus irmãos e Matteo antes de entrar no carro em que veio com o

conselheiro e ir embora.

Meu celular vibra dentro do bolso do terno e ao pegar o aparelho,

vejo o nome do soldado que coloquei para procurar Gina, piscando na tela

colorida.

Atendo a ligação e escuto o que ele tem para falar. Olhando para

Matteo, Romeo e Giovanni, que param alguns passos distantes de mim, em

silêncio.

— Ok — digo ao desligar e enfiar o aparelho no bolso. — Gina saiu

do país — comento com eles.

— E Ornella? — Giovanni quer saber.


— Não fugiu. Ela não sabia das trapaças da sobrinha, e é só uma

senhora. Não vou matá-la — resmungo.

— Vai demiti-la? — Romeo questiona, cruzando os braços na altura

do peito e com uma carranca fechada que é do seu habitual.

— Mesmo que seja inocente, não colocará os pés na minha casa. Eu

prezava muito Ornella, mas não consigo confiar nela.

Os três assentem.

— E Sarah? Confia nela depois de tudo? — é Romeo quem

pergunta. Hoje, está falador demais para o meu gosto.

Sinto o maxilar cerrar.

— Não exatamente, mas Martina quer protegê-la. E...

— Não deixe o papà saber que você a ama, Danilo — Giovanni me

interrompe para aconselhar. — Não deixe que ninguém saiba. Ou usarão


Martina para atingi-lo.

Meu irmão está certo, mas não significa que eu goste de ouvir o que
diz. Se usarem Martina para chegar em mim, eu farei de Chicago um

inferno e não vou me importar com o tanto de sangue que vou derramar
para protegê-la.

Destruirei qualquer um que ousar tocá-la para me atingir.


É meu novo juramento.
— Ele morreu? — é a primeira coisa que Martina pergunta quando

me vê entrar na cobertura e vir para próximo de mim, parando na minha


frente. Faço um gesto com a cabeça para Luigi que vá embora e nos deixe a

sós, o que ele faz sem questionar.

— Sim, como um traidor.

As mãos pequenas voam para o meu terno e me ajudam a tirá-lo.


Sem que eu tenha pedido, ela desfaz o nó da minha gravata e o tira também.

Em seguida, abaixa os olhos e os fixas nas minhas mãos.

— Está machucado.

— Não é nada comparado ao que ele sofreu — falo num tom frio,

fazendo-a erguer os cílios longos para mim.

— Sarah e a mãe estão seguras agora?


— De Vittorio sim — digo e nós rumamos para o sofá da sala.

Martina coloca a gravata e o terno feito sob medida no divã e vem se

acomodar ao meu lado com vincos desenhados na testa. — Mas ela ficará

bem. Vai casar com Giancarlo — informo.

O conselheiro ainda não engoliu completamente a ideia, mas sei que

acabará cedendo e casando com a garota para salvá-la de um destino cruel.

Não será fácil, o sobrenome ainda será julgado pela traição, mas ninguém

tocará nela.

— Parece que tudo se resume em casamento — ela murmura,

apoiando o braço no sofá e deitando a cabeça, sem afastar as vistas de mim.

— No nosso mundo? Sim. Às vezes, é o que salva.

— Às vezes, é o que destrói — devolve e eu penso na mamma. O


casamento com o papà foi o seu sacrifício, o que a arruinou inteira. —

Pensei que você me destruiria, que esse casamento seria a minha sentença

de morte — admite.

— Não acha que é?

Ela levanta a cabeça, um sorriso insolente atravessando os lábios


carnudos.

— Sua fama não é muito boa — retruca, fazendo-me bufar. — Mas

não é um monstro como as pessoas falam por aí.


Martina está enganada.

Se tivesse me visto hoje com Vittorio e como eu tratei um traidor,

não estaria dizendo isso. Eu sou um monstro e as pessoas têm razão em me

temer. Não sou maleável ou piedoso, mesmo que eu seja assim sempre com

as coisas que a envolvem.

Eu não sou bom.

Eu tento ser bom para Martina.

Há uma diferença grande entre as duas coisas e elas não podem

andar de mãos dadas nem que eu fizesse muito esforço.

— Não sabe o que está falando, piccolina — digo, levando a mão

até o topo da sua cabeça para fazer carinho.

— Você sangrou por mim pra me proteger do seu pai — lembra. —

Nenhum homem teria feito o que fez. Se fosse outro, teria me tomado a

força e depois, me devolvido para minha família como lixo.

Não gosto das palavras que alcançam os meus ouvidos, mas há um

fundo de verdade no que diz. Nós podemos ser grandes imbecis e machistas

do caralho por causa das tradições e poder que temos.

Mas, eu nunca a machucaria.

Nunca a machucarei.
— Isso, porque eu queria sua boceta desde o primeiro dia em que te

vi — resmungo mais para fazê-la sorrir e revirar os olhos.

— Tem que estragar o clima, não é?

Dou um sorriso lascivo para ela.

— Sabe? — fala ao sentar no meu colo, se encaixando

perfeitamente em cima do meu pau. As mãos vão para os meus cabelos e

ela faz carinho, arrepiando o meu corpo inteiro. — Às vezes, me sinto mal

por você não ter sido o meu primeiro. Seria meio romântico eu sangrar por

você — assume num tom baixo.

— Não precisamos disso — retruco, alisando os seus cabelos e a

fazendo suspirar. — Você é minha e é isso que importa. Sangrar significa se

machucar de alguma forma e eu não quero isso pra você.

Ela sorri.

— Tudo bem. — Martina lambe os lábios e arreda um pouco,

fazendo um movimento no ar, como se estivesse segurando algo invisível.

— Consegue ver isso? — questiona, mas não espera por respostas. — É

uma coroa. — Finge colocar em cima da minha cabeça.

— Coroa?

— Você é o único homem que me fez gozar e o único homem de

quem vale a pena lembrar — diz, fazendo meu coração trepidar.


— Posso me conformar com isso — rebato, convencido. — O único

homem pra quem você se ajoelha pra chupar também — emendo.

Ela semicerra os olhos e enruga o nariz, visivelmente desconfiada.

— Você já trepou muito — conclui, de repente. — Quantas vezes se

ajoelhou para outras mulheres? — pergunta, os lábios formando um bico

bonito e convidativo.

— Nenhuma — sou sincero.

— De verdade? — insiste.

— Nunca me ajoelhei pra uma mulher, piccolina — digo, trazendo-a

para mais perto, colando os nossos corpos. — É a única que tem esse poder

sobre mim.

Martina abre um sorriso largo, parecendo satisfeita.

— Posso me conformar com isso — repete as minhas palavras de

antes, me roubando uma risada.

— É a única mulher de quem vale a pena lembrar.

Ela traz os lábios para perto de mim e encosta nos meus de uma

maneira leve e demorada.

— Eu te amo — sussurra, encostando a testa na minha, sem perder

os meus olhos. — Eu te amo, Danilo. Você pode até ser um monstro


perverso, mas vale a pena te amar

— Eu te amo, Martina. É a única coisa que importa na minha vida

de verdade — falo em voz alta e sinto como se tirasse um peso das costas.

Nunca pensei que pudesse amar alguém. Sempre achei que a única

mulher na minha vida de extrema importância, seria a mamma. Mas eu amo

Martina. E sou capaz de trazer o inferno para terra se for preciso para
mantê-la segura e protegida.

Quebrarei juramentos por ela.

Matarei por ela.

Farei tudo que estiver ao meu alcance para manter essa garota

insolente e segura nos meus braços.

Agarro a cintura fina e busco os seus lábios para um beijo lento e

feroz. Martina geme contra a minha boca, enviando uma onda prazerosa

para o meu pau, que fica duro que nem pedra por causa dela.

Sem pressa, as mãos pequenas e ágeis desabotoam os botões da

minha camisa social e em seguida, ela desafivela o cinto da calça, puxando

e abrindo o zíper. Abaixa as vistas para o meu cacete duro e então, me olha

por cima dos cílios.

Puxo-a de novo, esmagando os lábios com os meus e enfiando a

língua dentro da sua boca atrevida de uma forma faminta, fazendo a


engasgar com o meu gesto sedento e animalesco.

Ela se afasta até sair de cima do meu colo. Grunho em protesto e ela
sorri. Com os olhos presos aos meus, Martina retira a blusa de lã, revelando

o sutiã, que o tira também e joga em mim. Depois, desliza o zíper do

próprio jeans e desce a calça até os pés.

Antes que possa tirar a calcinha, eu me inclino um pouco e os meus

dedos salientes puxam o tecido macio para baixo, passando pelas coxas
deliciosas da minha esposa.

Ela vem para cima de mim, desço um pouco a calça social e a cueca
boxer, exibindo o meu pau duro e grosso que salta para fora, pronto para

Martina, que senta em cima dele num solavanco, sua boceta engolindo-o
inteiro e se encaixando perfeitamente no meu colo.

Solto o ar dos meus pulmões com força.

Martina vai acabar comigo.

— Linda — murmuro, passando a língua na curvatura do seu

pescoço e provando a pele macia. Ela arqueja, me deixando louco. —


Minha.

— Meu — diz, buscando a minha boca para um beijo, enquanto

quica no meu pau, fazendo-me perder as estribeiras. — Você é meu,


Danilo?
— Eu sou — digo, baixo, mas num tom firme.

— Eu sempre serei sua — fala contra a minha boca e eu engulo os


seus suspiros com o beijo.

Ela envolve os braços em volta do meu pescoço, as mãos pequenas


bagunçando os meus cabelos, sem perder o ritmo das cavalgadas em cima

de mim, gemendo meu nome, entregue.

E, dona de mim.
Algum tempo depois...

Depois de passar bastante chantilly no bolo e colocar alguns

morangos no meio para decoração, mostro a minha obra de arte para


Danilo, que está sentado à banqueta, me esperando.

O aniversário de Sarah está chegando, fará dezenove anos esse final

de semana. Como ficamos próximas, ela me disse várias coisas sobre sua
vida. Uma delas, é que a mãe nunca tinha feito bolo de aniversário para ela

ou a irmã. As festas de aniversário sempre eram os empregados que

organizavam.

Eu sei que não sou sua mãe, mas me senti mal. Então, resolvi fazer o

bolo que a mamma sempre preparava nos meus aniversários e nos das

minhas irmãs. Bolo de morango com chantilly.


Passei dias vendo vídeos no YouTube e horas preparando. Estou

suja de farinha e tem chantilly na minha testa. Mas, sorrio com o resultado.

Não é o melhor bolo do mundo, só que está lindo.

Demorei quatro receitas para chegar a algo descente.

Corto um pedaço generoso para Danilo e sirvo num prato,

arrastando em cima da ilha até ele, que encara o bolo como se fosse um
extraterrestre.

Ele tem sido minha cobaia. Meus últimos três bolos ficaram

horríveis, mas o homem não disse uma palavra sobre. É forte, comeu tudo
em silêncio e elogiou o meu esforço.

— Seja sincero.

— Eu sempre sou, piccolina — rebate, com uma carranca séria.

Pego um garfo e entrego a Danilo. Ele solta uma lufada de ar e me

encara por cima dos cílios, de um jeito que me derrete inteira. E me faz ter a

certeza absoluta de que não vai falar se o bolo estiver ruim.

Ele dá uma garfada generosa e mastiga sem demostrar nenhuma

emoção.

— Horrível, né?

— Não — murmura, engolindo com dificuldade e bebendo um gole

da cerveja que abriu quando chegou em casa e sentou na banqueta para me


observar decorar o bolo. — Seria menos trabalhoso comprar um bolo

pronto.

— Sabe que não posso fazer isso. A mãe de Sarah é muito... apática

e bem, ela precisa saber que existem pessoas que se importam com ela.

Sarah precisa saber que não está sozinha.

Danilo abre um sorriso de lado, daquele jeito maroto e convencido

que eu adoro.

Tomo coragem para provar o bolo que eu fiz, mas ao contrário dele,

decido que não será uma garfada generosa.

Ainda bem que tomei essa decisão. Está melhor do que os últimos,

só que isso não significa delicioso. A única coisa boa é o chantilly e eu o

comprei pronto.

Não sei onde estou errando.

— Horrível — resmungo. Danilo ri, relaxado. — Não tem como

você continuar sendo a minha cobaia.

— Piccolina...

— Preciso que o próximo bolo saia perfeito.

— Você é perfeita.

— Estou falando sério — retruco.


— Eu também — devolve.

Desamarro o avental e ele se escora nas costas da banqueta,

cruzando os braços e bebendo a cerveja, contemplando os meus gestos.

— Continue, tire tudo. Quero vê-la nua — ordena, um brilho

devasso tomando conta dos olhos azuis. Rio, mas não obedeço. Começo a

organizar a bancada em que estava decorando o bolo. Danilo protesta. —

Deixe o chantilly, quero passar em você e depois lamber.

Uma oferta tentadora.

— Não podemos fazer isso, minhas irmãs estão chegando —

lembro.

As meninas vêm para o aniversário de Sarah e vão passar o final de

semana com a gente.

Danilo fica em pé, deixando a cerveja na ilha. Ao ficar de frente

para mim, envolve as duas mãos na minha cintura, apertando com força,

antes de agarrar o chantilly em spray.

Focaliza meus olhos com um sorriso sacana e sexy, e então, suja o

meu colo com creme branco, arrepiando a minha pele inteira e fazendo

vibrar no lugar sensível entre as pernas.

Ele coloca a língua arrogante para fora e me lambe, limpando o

chantilly e me fazendo suspirar.


— Não aceita um não como resposta, não é?

— Você sabe que não — grunhe, roçando o nariz na curvatura do

meu pescoço e eu solto alguns gemidinhos.

— Realmente, não podemos fazer isso aqui ou agora, minhas irmãs

vão chegar a qualquer momento — murmuro, e o homem rosna, como uma

fera brava por não conseguir abater a presa.

— Vou te fazer gritar à noite, enquanto estiver brincando com os

meus dedos dentro de você.

As palavras atravessam os meus ouvidos e soam como uma

promessa deliciosa e quente, fazendo toda a minha pele queimar de tesão.

Mesmo assim, corto o clima.

— Daí minhas irmãs vão sair correndo daqui — articulo, e ele deixa

escapar uma risada, que aquece o meu coração. — Prometo que serei toda

sua de novo depois que elas forem embora.

Danilo volta com as mãos na minha cintura, me apertando com

força e abaixa as vistas para a minha barriga, focando no lugar por um

segundo longo.

— O que foi?

— Só pensando... que você será uma ótima, mãe.


Abro um sorriso amplo para ele, envolvendo as mãos em cima do

seu pescoço, puxando-o para mim. Encosto nossos lábios e o beijo de leve,

sentindo o gosto de chantilly misturado com cerveja. Uma combinação

estranhamente boa.

— E você será um ótimo pai.

— Como você tem certeza?

— Porque eu te conheço — murmuro, fazendo-o abrir um sorriso

torto.

A verdade é que eu me entreguei ao meu mafioso rápido demais,

mas quando eu o fiz, ele fez o mesmo. Se entregou inteiro a mim e me deu

o seu coração.

Não há apenas escuridão e maldade em Danilo Salvatore. E quando

eu aprendi atravessar as camadas que escondem o seu coração difícil, eu o

peguei para mim e tudo ficou bem.

E eu sei que nem sempre os dias serão bons ou com sorrisos. No

nosso mundo, nem tudo fica tranquilo por muito tempo. Mas, eu sei que se

tivermos uma ao outro, seguiremos em frente, ultrapassando os obstáculos

com o nosso amor.

O nosso amor, que é intenso, todo distorcido, impetuoso e

manchado de sangue.
E não há nada mais forte que isso.

Não há nada mais selvagem do que o amor de um mafioso.


A seguir, eu reservei dois bônus especiais para você. O primeiro é o
que está por vir do próximo livro da série Império Salvatore. E o segundo é

o primeiro capítulo do livro O Homem da Máfia, série Família Carbone que


está em andamento e já tem cincos livros disponíveis na Amazon.

Boa leitura!
Livro 2 – Império Salvatore

A última coisa que eu quero é uma festa de aniversário. Não acho

que minha vida mereça uma comemoração.

Meu pai é um traidor.

Minha mãe não se importa com nada que diz respeito a mim.

Minha irmã mais velha se suicidou há cinco anos para fugir do seu

casamento arranjado.

Mas, como eu posso falar “não” para Martina? Além de ser a esposa

do subchefe e ser a segunda mulher mais importante para o Império

Salvatore, não me odeia pelo que eu fiz meses atrás a mando do meu pai.

Foi um momento de desespero e eu me arrependo amargamente. Se

pudesse, eu faria tudo diferente. Ela foi boa comigo desde a primeira vez
que me viu, tão diferente das outras mulheres do nosso círculo social.

Eu não deveria ter vindo aqui com um revólver para ameaçar a sua

vida, apenas porque era o desejo do meu pai.

Só que eu estava tão cansada.

Cansada dos tapas que eu recebia de graça do papai. Cansada de


ouvir que eu não servia pra nada se não conseguisse me casar com Danilo.

Cansada de ver minha mãe não fazendo nada por mim.

Eu estava cansada da minha vida, que é tão amarga quanto os


whiskys caros que o papai guardava naquela maldita adega, que sempre

prezou mais do que as próprias filhas.

E mesmo com o bolo lindo que Martina fez questão de fazer para o

meu aniversário de dezenove anos, não consigo acreditar que a vida será

doce daqui pra frente. E ela não será.

Papai morreu e infelizmente, não levou os problemas embora. Teve

uma morte miserável que todo traidor tem. E mesmo que pareça que tudo se

resolveu, a traição significa que o nosso nome está na lama.

Sujo da pior forma possível, o que vai durar por gerações.

Agora, mamãe e eu não passamos de um estorvo, que estão jogando

pra lá e pra cá, decidindo o que fazer com as nossas vidas insignificantes.
Já perdemos a nossa casa, dinheiro, tudo. Se não fosse o bom

coração de Martina, eu não sei o que seria de nós. Ela conseguiu convencer

Danilo a ceder um apartamento do seu prédio para não dormimos na rua.

Mesmo assim, não podemos ficar aqui pra sempre.

E não vamos.

Porque eu fui dada em casamento.

Não para qualquer um, mas para o conselheiro, o que faz todos

falarem ainda mais de mim. Um homem tão importante casando com a filha

de um traidor? Inadmissível. Ela é tão suja quanto o pai.

E infelizmente, talvez, tenham razão.

Tão suja, que se não fosse Giancarlo aceitar casar comigo, ninguém

mais o faria, porque para o Don Salvatore, o chefe dos chefes, eu não tenho

valor nenhum.

Não sirvo de moeda de troca, porque ninguém quer se casar com a

filha de um traidor.

Pensei que os tapas que ganhei do meu pai e as palavras que escutei

fossem o pior que a vida podia me dar. Claro que eu sempre estive

enganada.

É muito pior viver num mundo onde todos te olham de baixo para

cima, como se estivesse toda suja ou com uma doença contagiosa. É muito
pior viver num mundo onde todos sabem que o seu pai foi um traidor de

merda e por isso, você não vale nada.

O sobrenome que costumava me abrir portas, agora, faz exatamente

o contrário.

— Não gostou? — Martina pergunta ao se aproximar de mim,

tirando-me da prisão com pensamentos angustiantes e insuportáveis que

minha cabeça se tornou nos últimos meses.

Forço um sorriso para ela e finjo admirar ao redor. A cobertura

parece um mundo cor de rosa com branco. Ela e as irmãs capricharam na

decoração e sou grata por isso, apesar de não me sentir exatamente a

vontade aqui.

— Está tudo perfeito, obrigada.

Martina envolve os braços no meu corpo e me prende num abraço

apertado. Está prestes a falar algo quando a campainha toca e Danilo vai

abrir a porta, segurando o copo de cristal meio cheio de whisky.

Para o meu bem-estar, as únicas pessoas que Martina convidou

foram as irmãs, os cunhados, Matteo e o conselheiro, meu futuro marido.

Alberto e Eleonora Salvatore não precisam de convites, mas duvido que

venham para comemorar meu aniversário.


Se Martina tivesse feito um pedido formal, todas as mulheres do

nosso meio teriam vindo, só que para ser sincera, não aguentaria os olhares

cheio de julgamentos por causa dos pecados do meu pai.

Os homens entram na sala, impondo as presenças fortes mesmo sem

fazer esforço. Em sincronia, varrem os olhos pela decoração cor de rosa,

mas ninguém fala nada.

Recebo os cumprimentos de feliz aniversário e finjo tantos sorrisos,

que sinto os músculos do rosto doerem por causa do esforço.

Giancarlo é o último a me cumprimentar e não significa que seja o

mais fácil de lidar. Ele não sorri, não toca em mim, apenas olha nos meus
olhos e me entrega uma caixa pequena com um laço dourado ao redor.

— Não precisa fingir que está bem perto de mim — fala, sério. Não

é como se estivesse me julgando, é apenas estranho, porque soa muito

compreensivo. — Não quero que finja sorrisos.

Giancarlo sempre foi um incógnita pra mim.

Ele foi casado com uma bela italiana e não é como se o visse

sorrindo por todos os lados. Na verdade, acho que nunca o vi fazer, mas, ele

parecia feliz com o seu casamento.

Depois que a esposa morreu grávida, o ar que paira sobre ele,

mudou completamente. A carranca séria e rígida continua do mesmo jeito,


só que os olhos profundos e claros são vazios na mesma intensidade que são

carregados de um sentimento que não entendo.

Talvez, seja o sentimento de não acreditar que vai encontrar a

felicidade de novo.

Eu entendo bem, foi como me senti quando soube que Sienna tirou a

própria vida para fugir do nosso mundo.

— Obrigada — falo por fim, agradecendo o presente, que não abro.

— Está linda, Sarah — murmura, olhando para mim por um

segundo e depois, desviando mais rápido ainda.

Sinto o rubor esquentar o meu rosto inteiro.

Sei que ele será o meu marido e isso significa coisas óbvias, como

por exemplo, dividiremos a mesma cama e eu serei sua mulher. No sentido

literal da coisa. Mas, mesmo assim, me sinto estranha pelo elogio, porque

nunca ficamos tanto tempo próximos um do outro como agora.

— Obrigada.

— O que você acha de nos casarmos? — questiona num tom frio, só

que não é rude.

Nunca ninguém me perguntou o que eu achava sobre o casamento


com Giancarlo. Em contrapartida, eu sei que não tinha outra saída para
mim. Mamãe não cuidaria de mim e eu, com certeza, não saberia sobreviver

sozinha nas ruas.

— Necessário — as palavras escapam da minha boca antes de me

dar conta do peso que carregam. Ele me olha, me deixando nervosa. — Sou

muito grata. Sei que esse casamento não é exatamente vantajoso para o

senhor — apresso-me em dizer, soa como uma mentira, mas é verdade.

— Não me chame de senhor. — No mesmo instante que parece estar


ordenando, a voz soa como um pedido também.

— Tudo bem, vou tentar me lembrar disso.

Giancarlo olha para mim, conectando os olhos profundos e azuis aos

meus por um tempo longo o bastante para me fazer esquentar inteira. Ao


notar o meu nervosismo, afasta a atenção de mim.

Ele é um homem de honra e todos respeitam sua palavra e escutam

os conselhos que tem para dar. Giancarlo é um bom homem, e isso não
significa que ele seja bondoso ou um príncipe encantado do conto de fadas.

Não sou burra, não existem homens bons na máfia.

Mas, Giancarlo é digno. Talvez, digno demais para a filha de um


traidor. Mesmo assim, vai casar comigo e me salvar.

Ele é aquele que apagará a mancha de traição do nome da minha


família e me dará uma nova perspectiva de vida.
E acho que ninguém faria o que o conselheiro está fazendo por mim.

Nenhum homem além de Giancarlo Belluci, seria corajoso o


suficiente para me resgatar do fundo do poço.

EM BREVE...

Previsão de lançamento: SETEMBRO/OUTUBRO DE 2022


Entro na mansão onde cresci e guardo as melhores lembranças da

infância. Nada mudou, a decoração ultrassofisticada com acabamentos


opulentos são as mesmas desde que sou criança.

Caminho até o piano aberto no imenso hall de entrada e passo os

dedos de leve sobre os teclados, buscando na memória a última vez que


toquei o instrumento.

— Você costumava tocar tanto, bambino[15] — vovó fala ao descer


as escadas. Em passos lentos, ela se aproxima de mim. Abaixo-me um

pouco para que ela segure meu rosto e deposite um beijo na bochecha

esquerda, depois na direita.

— Não sou mais uma criança, nonna[16] — digo, e é minha vez de


segurar seu rosto enrugado e sem maquiagem entre as duas mãos. Ela está
tão velhinha, os cabelos brancos são macios como algodão e tem um cheiro

tão bom. Tem cheiro de lar.

É claro que ela me ignora e se entrelaça no meu braço, me


conduzindo até a estufa nos fundos da casa. Chegando lá, dou de cara com

mamãe cuidando das hortaliças. Faz um frio de menos dez graus e a mulher

está usando apenas calças jeans, cardigã, chapéu extravagante e luvas.

Com cuidado, me afasto da vovó e vou na direção dela, que ainda

nem notou a minha presença.

— Mamma[17], a senhora vai pegar um resfriado — digo e depois

lanço uma olhadela para a moça que estava ajudando a cuidar das plantas,

faço um gesto com a cabeça, que ela entende no mesmo segundo. A mulher
entra em passos rápidos e vai buscar um casaco. — Ainda brava com seu

filho? — pergunto, sugestivo.

De cara fechada, ela deixa o regador de lado, retira as luvas,

colocando-as em cima da mesa de madeira próxima. Segura meu rosto com

as duas mãos quando estou próximo o suficiente, em seguida, deposita um

beijo caloroso em cada bochecha.

— Como posso não estar brava com você? — resmunga, me

roubando um quase sorriso.


Ela ainda não se conforma com o fato de eu ter saído de casa. Eu

sempre prezei pela minha privacidade e mamãe sempre gostou de me ter

debaixo das asas, colocando juízo na minha cabeça e me dizendo o que não

fazer. E claro, o que fazer.

Por sorte, a vovó não ficou tão ressentida com a minha decisão, mas

às vezes, as duas dão uma bela dupla quando o assunto é família.

Antes que possa conduzi-la até dentro de casa, a moça surge com

um casaco grande e acolchoado, que passo pelos braços da mamãe e fecho

o zíper na frente, protegendo-a do frio cortante. Mesmo que ainda esteja

brava comigo, ela me dá um sorriso doce.

— Vem jantar em casa hoje ou tem compromisso com as suas…

— Mamma — interrompo em um tom de repreensão antes que ela

vá longe demais.

A mulher é ciumenta e não gosta do fato de eu estar aproveitando

minha solteirice. Para mamãe e a matriarca, é claro, eu já devia estar bem-

casado como o meu irmão e pensando em pequenos herdeiros.

Se elas soubessem que depois de três meses de casados, Noah ainda

nem tocou na esposa…

— Eu ia dizer amigas — fala na defensiva.

Vovó e eu rimos. Assinto, fingindo acreditar nas palavras dela.


— É claro. — Ofereço meu braço e mamãe se enrosca em mim. —

Venho jantar com a família, não se preocupe.

Quando estamos próximos da porta que dá na direção da cozinha,

vovó se envolve no meu outro braço e eu entro acompanhado das duas

mulheres mais importantes da minha vida. Bem, existe Romie, mas às vezes

eu a amo com a mesma intensidade que a quero longe de mim. Minha irmã

mais nova é muito difícil de lidar.

Depois de amansar a fera que chamo de mãe, deixo-a na sala, junto

da vovó. Só vim fazer uma visita rápida antes dos meus compromissos.

Papai tinha me dito que ela ainda estava brava por eu ter me mudado e eu

precisava resolver as coisas para ele ter um pouco de paz no matrimônio.

Antes de me deixar sair, mamãe começa a dizer que se eu não

aparecer no jantar, ela tornará a casa uma prisão italiana e me obrigará a

morar sob o mesmo teto até os meus últimos dias em vida.

Estaciono o carro no pátio privativo a céu aberto nos fundos do

prédio do hotel cassino e digito a senha na fechadura digital antes de entrar.


Passo pelo refeitório dos funcionários e caminho rumo ao corredor com

acesso exclusivo para membros da família Carbone. Alguns soldados[18] se


encontram em frente à porta do escritório, aguardando em prontidão.

Cumprimento-os e em seguida, giro a maçaneta e entro na sala onde

acontecem as nossas principais reuniões.

Meu irmão e o conselheiro[19] estão perto da mesa de sinuca,


acertando algumas bolas enquanto esperam pelo meu pai e conversam com

os outros capitães. Um deles parece aflito com alguma coisa.

— Não se preocupe — o subchefe da família diz. — Julian cuidará

disso — acrescenta sem olhar para mim.

Ergo uma sobrancelha enquanto enfio as mãos no sobretudo.

— O que aconteceu? — Quero saber.

— É Laila… ela foi roubada das mãos de Mary na saída de um

petshop ontem à noite por um idiota armado — Gabriel fala.

Ele é apenas uns sete anos mais velho que eu, mas acho que viver

muito no submundo do crime lhe rendeu queda de cabelos e os fios que

resolveram ficar, começaram a branquear.

— Resolva isso, Julian — Noah ordena ao deixar o taco de lado.

Caminha até mim e puxa a gola do meu sobretudo, em seguida, finge tirar

poeira da lã com mais força que o necessário. — Resolva de forma passiva.


É apenas um moleque. Pode quebrar um nariz ou um braço, tanto faz.

Apenas isso, ok?

— Sim — respondo com a mandíbula contraída.

Noah leva uma mão até meu rosto e dá uma batidinha de leve,

sorrindo com satisfação. Depois que ele e o meu pai se juntaram na missão

de me manter longe de confusão, a única ação na minha vida é durante a


noite, na cama.

O Don chega acompanhado de Nicholas, meu melhor amigo e

soldado mais próximo do meu pai. Ele está com a família há sete anos,

depois que fugiu de Toronto desolado com a morte do próprio pai, que era

um magnata do ramo da tecnologia. O Don Carbone o acolheu e fez dele

uma arma mortal para nossa família. É o único saldado que acompanha o

Don até nas reuniões mais importantes. É como um irmão para nós e um

filho para o papai.

— Espero que tenha falado com a sua mãe antes de ter colocado os

pés nesta sala, Julian Lorenzo — é a primeira coisa que meu pai diz ao me

ver.

Ele é um homem poderoso e que inspira autoridade, respeito. É

firme nas palavras, mas antes de ser o Don, é o meu pai. Minha família. É

claro que eu o respeito, mas no momento, ele não é o chefe da máfia, parece
apenas um pai, preocupado com o casamento depois de o filho do meio ter

saído de casa.

— Sim, papà[20]. Jantar em família hoje à noite — digo, fazendo

meu pai assentir.

Ele passa por mim, mas antes me dá uma tapinha no ombro e

caminha até a mesa em tora de madeira com formato retângulo e se

acomoda na cadeira de couro acolchoada da ponta. O subchefe se senta ao


seu lado esquerdo e o conselheiro do lado direito, enquanto nós nos

distribuímos nos restantes das cadeiras.

Antes de começar a falar, o Don abre a caixa personalizada onde


guarda os seus charutos preferidos, que está em cima da mesa. Com

paciência e sem pressa, escolhe um, depois pega a guilhotina de uma lâmina
fixa e faz o corte perfeito do charuto. Pega o isqueiro maçarico e com

delicadeza, acende, depois dá uma assoprada para eliminar qualquer

componente que possa afetar o sabor e só então, dá o primeiro tiro[21].

— Fique de olho na sua irmã. Ela anda entrando em encrenca de

novo — fala para mim, e a única coisa que posso fazer é assentir, segurando
a vontade de revirar os olhos.

É verdade que quando eu era apenas um soldado, fazia muito mais


nas ruas que agora. Hoje em dia, ou eu fico de babá, ou resolvo coisas que
não têm ação nenhuma ou casos de cachorros roubados. Parece brincadeira,
mas é isso que venho fazendo nos últimos dois anos.

Meu pai e Noah andam fazendo um esforço muito grande para que

eu não arrisque minha vida. Tudo bem, eles têm seus motivos para tentar
me manter na linha. Depois da Rebecca, eu fiquei acabado e descontrolado,

qualquer coisa era motivo para resolver os problemas com agressão física.

E meu pai tem mantido boa parte das ruas de Montreal limpas, sem

mortes desnecessárias. E digamos que eu estava causando um alvoroço e


tanto.

O luto fode com a nossa cabeça.

E Rebecca era uma das coisas mais importantes para mim.

— Como anda a nossa mercadoria? — o Don pergunta ao Giuliano,

o caporegime mais antigo da família desde a geração do meu pai e bate de


leve com o charuto aceso no cinzeiro de cristal murano.

— Chegou na madrugada, estamos esperando desembaraçar[22] a

mercadoria.

— Quanto tempo?

— Ethan disse que até o final do dia, no máximo, Don Carbone —

Giuliano responde de forma respeitosa e meu pai faz um gesto quase


imperceptível com a cabeça, concordando.
— E Miguel? — o Don pergunta, encarando o charuto.

— O contratempo foi solucionado, ele não será mais um problema

— é Gabriel quem fala, se remexendo na cadeira e apoiando os cotovelos


na mesa.

Miguel era um soldado que achou que conseguiria passar a perna na

família Carbone e abriu o próprio negócio, explorando garotas menores de


idade e ganhando dinheiro com prostituição.

Existem algumas coisas que o Don não tolera. Primeiro, que o


desobedeçam ou achem que ele não é inteligente o suficiente para ler as

pessoas. Segundo, que abusem de mulheres e tentem ganhar dinheiro


explorando-as.

Apesar de não nos envolvermos ou lucrarmos com prostituição, a

família Carbone não é contra isso. Mas o Don não admite, em hipótese
alguma, que algum dos nossos explore ou se beneficie do corpo de qualquer

mulher. É claro que existe prostituição em Montreal, mas pelo menos no


lado leste, norte e sul, elas são donas de si e o chefe da máfia não permite

cafetões pelas áreas.

Para o meu pai, Francesco Carbone, o Don da família, não existe

nada mais vergonhoso para um homem do que depender do corpo de uma


mulher para ganhar dinheiro.
— Que isso sirva de exemplo para qualquer um que queira ir contra

as minhas regras — é o que o Don fala e nós todos assentimos em silêncio.


— E os nossos negócios da reserva?

— Os nossos homens foram até o lado americano da reserva e

conseguiram descarregar sem problema nenhum — Gabriel diz.

— Marque uma reunião com o Nibaa — o Don ordena.

Nibaa é o nosso sócio que trabalha na reserva que fica entre a

fronteira do Canadá e dos Estados Unidos. Ele facilita muito a vida dos
nossos negócios, já que conseguimos passar de tudo sem a alfândega ficar

sabendo disso. E como os policiais não podem cruzar a fronteira, podemos


descarregar sem contratempos.

— Algum problema, Don Carbone? — Giuliano quer saber.

Meu pai nega de leve com a cabeça.

— Não, mas é sempre bom comprar estabilidade. — Dá uma

tragada no charuto e solta a fumaça devagar. — É assim que você mantém


os negócios estáveis, Giuliano.

É claro que Montreal é nossa. Somos a maior família da cidade e o


nosso negócio sempre deu muito lucro. No entanto, ainda existe uma parte
da cidade que não temos controle.
O chefe da família Fontana de Toronto mudou para cá há alguns

anos. Causou comoção, pois queria dominar o porto para o contrabando de


drogas. Mas meu pai conseguiu dar um jeito no problema, fazendo uma

trégua com a família recém-chegada.

Eles eram muito violentos e permanecer brigando continuaria

causando morte de inocentes, e o Don sempre gostou de manter as coisas


tranquilas nas ruas e nos negócios. Embora não tenha nascido aqui, o papà

considera Montreal o seu lar.

O chefe da família Carbone permitiu que os Fontana ficassem com o


lado Oeste, fazendo seus trabalhos. Claro que não foi fácil, afinal, é a nossa

cidade, nossa casa. Mas meu pai sempre foi um visionário e soube ler as
pessoas muito bem.

Fazer uma trégua com a família Fontana e continuar com o controle


do porto, sabendo tudo que entra e tudo que sai, sem precisar responder a

ninguém, a não ser ele mesmo, foi a melhor solução.

No entanto, estamos preparados. Tréguas não duram para sempre e a


qualquer momento, podemos entrar em guerra com a família Fontana e

acabar de uma vez com eles. Faremos o que for necessário para manter
Montreal sob controle.
E bem, eu nasci aqui, é minha cidade, meu lar. Não permitirei que
outra família a não ser a nossa, seja dona de Montreal.
Oi, tudo bem?
Eu espero que você tenha gostado de Entregue ao Mafioso, e que
Danilo e a sua Piccolina tenham feito você suspirar, como fez comigo ao
escrever o romance deles.
Como viu no bônus, o próximo livro da série Império Salvatore será
da Sarah e do Giancarlo. Não vejo a hora de trazer mais um pouco desse
novo universo pra você!
Obrigada por me acompanhar e toda atenção e carinho que você tem
me dado! É essencial pra eu continuar seguindo em frente!
Se você ainda não leu outras histórias minhas, dá uma passadinha na
minha página da Amazon ou no Insta.
E se quiser acompanhar mais sobre os meus lançamentos e tudo que
rola nos bastidores da minha escrita, venha interagir comigo em:
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Beijão e se cuidem!
Prometo que em breve tem mais mafioso chegando...
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MAIS DE VOCÊ – ENTREGUE AO CEO: https://amz.run/57yU
SOCORRO, O CEO SUMIU: https://amz.run/57yW
[1]
Pai ou papai em italiano.
[2]
O chefe dos chefes. Título máximo na hierarquia da máfia italiana.
[3]
Consigliere ou também conselheiro é às vezes visto como o braço direito do Don. Participam da
mediação de disputas, atuam como representantes da família em situações de risco e frequentemente
são a ligação entre o Don e o aspecto judiciário ou político.
[4]
Mãe ou mamãe em italiano.
[5]
Sottocapo ou Subchefe é a segunda posição mais poderosa e importante na hierarquia da Máfia,
diretamente abaixo do Don e acima do Caporegime. O Subchefe é em vários casos um parente do
Don ou apenas um confidente de extrema confiança, sendo nomeado e eleito pelo Don/Chefe em si.
O subchefe está no comando de todos os capos e é geralmente sempre o homem que toma a liderança
temporariamente se o Don é preso permanentemente/temporariamente ou se o Don é morto.
Normalmente, cada família da máfia tem apenas um subchefe.

[6]
Padrinho em italiano.
[7]
Meu Deus em italiano.
[8]
Pequena ou pequenina em italiano.
[9]
O lago Michigan é um dos cinco Grandes Lagos da América do Norte. É o único dos cinco
Grandes Lagos completamente dentro das fronteiras dos Estados Unidos; os outros quatro são
partilhados com o Canadá. O lago Michigan limita-se, em sentido horário a partir do sul, pelos
Estados americanos de Indiana, Illinois, Wisconsin, e Michigan.
[10]
Avó ou vovó em italiano.
[11]
Menina ou garota em italiano.
[12]
Música: Mr.Kitty – After Dark
[13]
É como chamam quem está na fase aspirante. Ele já faz parte do moto clube, porém ainda não
carrega o brasão como um membro efetivo da gangue. Neste estágio, ele é avaliado pelo Moto Clube
para saber se possui perfil e comprometimento para se tornar um membro efetivo.
[14]
Porra em italiano.
[15]
Criança ou bebê em italiano.
[16]
Avó ou vovó em italiano.
[17]
Mãe ou mamãe em italiano.
[18]
É o posto básico da hierarquia. São membros efetivos da organização, conhecidos como homens
feitos. São eles os responsáveis por conduzir as operações nas ruas.
[19]
Conselheiro ou também consigliere. É às vezes visto como o braço direito do Don. Participam da
mediação de disputas, atuam como representantes da família em situações de risco e frequentemente
são a ligação entre o Don e o aspecto judiciário ou político.
[20]
Papai em italiano.
[21]
O primeiro tiro é como chamam a primeira puxada do charuto.
[22]
Significa obter a liberação da alfândega, através de documentações que comprovem legalidade da
operação. Isso acontece para qualquer tipo de produtos que cheguem aos portos.

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