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Ética e Deontologia – Cursos Médios

ÍNDICE

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA ÉTICA E DEONTOLOGIA.............4

1.1. Conceitos Iniciais..................................................................................................4

1.1.1. O que é a Ética?...............................................................................................4

1.1.1.1. Objectivos.......................................................................................................4

1.1.1.2. Enquadramento e Âmbito de Acção..............................................................5

1.1.2. Moral e Ética......................................................................................................7

1.1.3. Deontologia.......................................................................................................7

1.1.4. Princípios bioéticos-----------------------------------------------------------------------7


1.1.4. Código De Ética Profissional...........................................................................12

1.1.5. Ética Na Profissão...........................................................................................12

CAPÍTULO II – A HISTÓRIA DAS PROFISSÕES....................................................13

2.1. Conceitos............................................................................................................13

2.2. O Surgimento Das Profissões – Evolução Histórica...........................................14

2.2.1. O Mundo Das Profissões: Passado, Presente e Futuro..................................15

2.3. A Profissão De Enfermagem..............................................................................17

2.3.1. A História Da Enfermagem..............................................................................18

2.3.1.1. O Tecnico de Enfermagem...........................................................................18

2.3.2. A Enfermagem Moderna.................................................................................19

2.3.3. Código De Ética Do Técnico De Enfermagem................................................22

CAPÍTULO III - A POLÍTICA DE SAÚDE EM ANGOLA..........................................26

3.1. Introdução...........................................................................................................26

3.2. Organização e Estruturas...................................................................................26

3.2.1. Hierarquia De Prestação De Cuidados De Saúde...........................................26

3.3. Lei De Bases Do Sistema De Saúde..................................................................29

3.4. Divisão De Trabalho Em Saúde..........................................................................30

CAPÍTULO IV – HIGIENE E SEGURANÇA NO TRABALHO..................................33

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4.1. Introdução...........................................................................................................33

4.2. Conceitos............................................................................................................34

4.3. Objectivos Da Higiene No Trabalho....................................................................35

4.4. Efeitos das Condições Físicas Na Saúde e Segurança.....................................36

4.4.1. Doenças Infeciosas..........................................................................................36

4.4.2. Ruído Excessivo..............................................................................................37

4.4.3. Ataques Físicos...............................................................................................37

4.4.4. Movimentos Repetitivos...................................................................................37

4.4.5. Temperaturas Extremas (Calor e Frio)............................................................38

4.4.6. Substâncias Tóxicas........................................................................................39

4.5. A Segurança No Trabalho e a Legislação..........................................................39

CAPÍTULO V - DIREITOS E OBRIGAÇÕES EM GERAL........................................42

5.1. Declaração Universal Dos Direitos Do Homem..................................................42

5.2. Direitos e Deveres Fundamentais Do Homem...................................................50

5.2.1. Princípios De Vida Pública...............................................................................52

5.2.1.1. Direito à Vida................................................................................................52

5.2.1.2. Direito à Liberdade........................................................................................52

5.2.1.3. Direito à Saúde e a Assistência à Saúde......................................................54

5.2.1.4. Direito à Informação......................................................................................56

5.2.1.5. Direito à Verdade..........................................................................................56

5.2.1.6. Direito à Privacidade.....................................................................................57

5.3. O Segredo Profissional.......................................................................................57

5.3.1. O Segredo Profissional e Sua Importância Na Prática Da Saúde...................59

5.3.2. Segredo Profissional Versus Sigilo Profissional..............................................62

5.3.3. Tipos De Segredo e Conteúdos.......................................................................63

5.3.4. Formas de Possível Revelação Do Segredo Profissional...............................65

5.3.5. Quebra Do Segredo Profissional.....................................................................65

5.3.6. Considerações Finais......................................................................................67

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CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA ÉTICA E DEONTOLOGIA

1.1. Conceitos Iniciais

1.1.1. O que é a Ética?


A palavra Ética é de origem grega, com a seguinte etimologia:

- Éthos,que significa hábito ou costume, o que dá origem ao termo


latino morus (Moral).

- Éthos, que significa propriedade do carácter, sendo o princípio


orientador do que se denomina por Ética.

Ambos os vocábulos são dissociáveis, segundo Aristóteles (384-322


a.c.), uma vez que a personalidade ou modo de ser do homem se
desenvolve a partir dos seus hábitos e costumes.

Assim, por definição, Ética é um conjunto de regras ou normas que


regulam o comportamento do profissional de saúde. É a ciência do bem; da
elevação dos princípios de convivência social, de cidadania. Identificar
atitudes positivas e aplicá-las para o bem social.

As variáveis como a racionalidade prática, a virtude, o papel do


hábito e da prudência na Ética são postos em evidência no conceito de
Ética.

1.1.1.1. Objectivos
Porque estudar Ética e Deontologia?

Estudar Ética e Deontologia visa potenciar os estudantes com valores


profissionais, humanos, intelectuais, sociais, etc., para que enquanto

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profissionais, estes valores sirvam de instrumentos eficientes e credíveis na


relação profissional-utente, observando simultaneamente as regulamentaçõ
es dimanadas pelos superiores hierárquicos dentro duma
organização/instituição.

1.1.1.2. Enquadramento e Âmbito de Acção


O homem não é perfeito, mas pode ser influenciado para a perfeição.
É um ser social em convivência com outros agentes sociais, como o
homens. Neste caso, cabe-lhe pensar na interacção salutar perante outros.

A Ética surge para regular situações de conflitos entre os homens, e


pela observância dos seus preceitos promove a existência do equilíbrio e
funcionamento social, elevando a justiça social.

De forma particular para os profissionais da saúde a Ética procura


dirimir problemas de falta de uma clara definição de responsabilidade, de
direitos e das obrigações entre os agentes intervenientes no processo
laboral e utentes. A Ética inculca no profissional práticas social e
laboralmente aceites de humanização e dignidade profissional, alertando e
direccionando-os para o bem, para o correcto, o perfeito, o respeito e amor
ao trabalho e ao próximo.

Podem considerar-se âmbitos especiais do estudo da Ética:

 Ética da Educação;
 Ética da Comunicação Social;
 Ética Profissional;
 Ética Internacional.

Nota:

 Se a Ética é ciência que estuda os valores e princípios morais


de uma sociedade e seus grupos, logo, a pessoa que não

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segue a Ética da sociedade a qual pertence é chamada


antiético, assim como o acto que pratica.
 Cada sociedade e grupos sociais segue e possui seus próprios
Códigos de Ética.
Ex.: Em algumas sociedades é legal o aborto e o casamento entre
pessoas do mesmo sexo. Noutras sociedades estes são actos ética
emoralmente reprováveis.
A violação de uma conduta de Ética pode ser crime.

 Os principais conflitos entre os homens (profissionais de


saúde) podem estar relacionados com:

- Saúde (doenças)

- Psicológicos (stress, problemas de relacionamento com o


próximo)

- Laborais (falta de condições de trabalho, promoção,


motivação)

- Culturais e religiosos (hábitos, costumes e certas crenças)

- Ambientais (dificuldades de adaptação ao clima, tempo, etc.).

Para explicar as suas matérias e actuar sobre os profissionais e


agentes envolventes a Ética serve-se de algumas ciências, tais como:

 A Sociologia, para aplicar e promover a justiça social.


 A Psicologia, para conhecer atitudes, comportamentos do
profissional, a fim regulá-los para o bem-comum.
 A Filosofia: a razão de ser da coisa. Se o objectivo é
estabelecer o bem-comum, a felicidade entre os homens, a

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busca constante de como conseguir este bem, esta felicidade,


traduz-se em Filosofia.
 O Direito, estudo e aplicação de normas de conduta social, da
justiça e direitos humanos.
 A Teologia, a palavra de Deus, a iluminação divina tem servido
como fonte de orientação para o exercício do justo e o
correcto.

1.1. 2. Moral e Ética


Os dois conceitos confundem muitas pessoas.

Em definição, Moral é um conjunto de normas em que o homem deve


viver em sociedade.

Já a Ética regula o comportamento do homem. Nem sempre as


normas em que a sociedade impõe traduzem o certo. Assim sendo, a Ética
é um comportamento universal, independente do local em que estiver.

1.1.3. Deontologia
Palavra derivada do grego Deon (dever, obrigação) e logos (ciência).
Na Filosofia moral contemporânea, é uma das teorias normativas segundo
as quais as escolhas são normalmente necessários proibidos ou
permitidos.

O termo foi introduzido em 1834 por Jeremy Betham, para se referir


ao ramo da Ética cujo objecto de estudo são os fundamentos do dever e as
normas morais. Conhecida também sob o nome de “Teoria do Dever”, é um
dos dois ramos principais da Ética Normativa.

Assim, por definição, Deontologia é um conjunto de comportamentos


exigíveis aos profissionais, muitas vezes não expressos em
regulamentação jurídica.

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Conhecer e seguir os princípios deontológicos traduz-se no


enveredar pelo caminho da perfeição pessoal, profissional e colectiva.

A Deontologia também se refere ao conjunto de princípios e regras


de conduta (os deveres) inerentes a uma determinada profissão. Assim,
cada profissional está sujeito a uma Deontologia própria que regula o
exercício da sua profissão, conforme o Código de Ética da sua
profissão/categoria.

1.1.4. Princípios bioéticos

O que é bioética?
A bioética é um campo de estudo onde são abordadas questões de dimensões
morais e éticas, que relacionam pesquisas, decisões, condutas e
procedimentos da área da biologia e da medicina ao direito à vida.
O conceito de bioética é interdisciplinar e contempla áreas como biologia,
direito, filosofia, ciências exatas, ciência política, medicina, meio ambiente,
etc.
Os princípios da bioética
Na definição de bioética predominam duas questões: conhecimentos
biológicos e valores humanos.
Ela subdivide-se em princípios básicos que buscam solucionar problemas
éticos originados ao longo do desenvolvimento de procedimentos com seres
vivos de todas as espécies.
No que diz respeito à ética médica, Hipócrates é um nome que se destaca.
Considerado o “pai da medicina”, o médico grego costumava aliar medicina e
filosofia.
O foco de sua relação com o paciente era o bem, e sua abordagem era
orientada principalmente por dois princípios: o princípio da não maleficência
e o princípio da beneficência.
1. Princípio da não maleficência
O princípio da não maleficência se baseia na ideia de que nenhum mal deve
ser feito ao outro. Assim, não é permitida nenhuma ação que consista em
malefício intencional a cobaias ou a pacientes.

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O princípio é representado pela frase em latim: primum non nocere (primeiro,


não prejudicar). Tem como objetivo evitar que um tratamento ou pesquisa
cause mais danos do que os possíveis benefícios.
Alguns estudiosos defendem que o princípio da maleficência é, na verdade,
parte do princípio da beneficência, pois o ato de não causar mal ao outro já é,
por si só, uma prática do bem.
Exemplo de bioética na aplicação do princípio da não maleficência: Em
uma pesquisa para o desenvolvimento de uma vacina, é chegada a fase de
testes em humanos.
Os testes demonstraram que em 70% dos casos, os pacientes que receberam a
vacina foram curados, mas 30% morreram em consequência de efeitos
colaterais.
Os estudos serão interrompidos e a vacina não poderá ser produzida apesar de
um índice alto de cura, causar a morte de pessoas é causar o mal e fere o
princípio da não maleficência.
2. Princípio da beneficência
Esse princípio consiste na prática do bem; na virtude de beneficiar o próximo.
Assim, os profissionais que atuam na área de pesquisas e experimentos devem
assegurar a precisão da informação técnica que possuem e estar convictos que
seus atos e decisões têm efeitos positivos.
Dessa forma, espera-se que qualquer ato tenha como objetivo fundamental o
bem, nunca o mal.
Exemplo de bioética na aplicação do princípio da beneficência: uma
médica está socorrendo um paciente que está correndo risco de morte. Esse
paciente é um conhecido assassino.
Objetivo dessa médica sempre será salvar a vida de seu paciente e mobilizará
todas as alternativas para que isso aconteça.
Segundo o princípio da beneficência, deve-se apenas ter em vista o bem. O
descaso ou a omissão (ainda que pudesse ser justificado) consistiria em um
mal e feriria o princípio bioético.
3. Princípio da autonomia
A ideia central desse princípio é de que todos têm capacidade e liberdade de
tomar suas próprias decisões.
Assim, qualquer tipo de procedimento a ser realizado no corpo de um
indivíduo e/ou que tenha relação com a sua vida, deve ser autorizado por ele.

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No caso de crianças e de pessoas deficientes, o princípio de autonomia deve


ser praticado pela respectiva família ou pelo responsável legal.
É importante que esse princípio não seja praticado em detrimento do princípio
da beneficência; por vezes, ele precisa ser desrespeitado para que a decisão de
uma pessoa não cause danos a outra.
O princípio da autonomia é amparado pelo direito, ao abrigo do Código de
Ética Médica Brasileiro (Capítulo V, Artigo 31).
Tal artigo destaca o direito do paciente de ter a sua autonomia respeitada, no
seguinte trecho onde é indicado que o médico é proibido de:
(...) desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir
livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo
em caso de iminente risco de morte

Exemplo de bioética na aplicação do princípio da autonomia: quando um


paciente é diagnosticado com uma doença terminal, já não existem
tratamentos que possam curá-lo. Geralmente, o que se faz nesses casos é dar a
esse paciente os cuidados paliativos, de forma que ele se sinta aliviado dos
sintomas do mal que o acomete.

No entanto, cabe ao paciente decidir se deseja ou não avançar com esses


cuidados paliativos, visto que eles não tornam possível a cura; apenas
amenizam (por vezes) os malefícios da doença.
Cabe ao profissional médico respeitar a decisão do paciente, caso ele não
queira receber tais cuidados.
4. Princípio da justiça
No domínio da bioética, esse princípio se baseia na justiça distributiva e na
equidade.
Ele defende que a distribuição dos serviços de saúde deve ser feita de forma
justa e que deve haver igualdade de tratamento para todos os indivíduos.
Tal igualdade não consiste em dar o mesmo para todos, mas sim em dar a
cada um, o que cada um precisa.
Exemplo de bioética na aplicação do princípio da justiça: um caso real que
exemplifica o princípio da justiça, aconteceu em Oregon, nos Estados Unidos.
Com o objetivo de proporcionar um atendimento básico de saúde a um maior
número de pessoas, o governo local reduziu os atendimentos de saúde que
imputavam custos altos.

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Dessa forma, foi possível realizar uma distribuição mais alargada dos recursos
disponíveis de forma a ajudar solucionar os problemas de uma parcela maior
da população.
Para que serve a bioética?

A aplicação do conceito de bioética tem como objetivo garantir que haja uma
responsabilidade moral nos procedimentos, pesquisas e atos médicos e
biológicos.
A bioética busca garantir que os valores morais humanos não se percam,
independentemente do desenvolvimento histórico e social da humanidade,
durante as tentativas de solução de conflitos e/ou dilemas éticos.

Com base nos seus quatro princípios, ela preza os comportamentos adequados
a cada situação específica.
Alguns dos assuntos que mais requerem a intervenção da bioética são:
 Aborto;
 Clonagem;
 Engenharia genética;
 Eutanásia;
 Fertilização in vitro;
 Uso de células-tronco;
 Uso de animais em experimentos;
 Suicídio.

É de se referir que a aplicação dos princípios da bioética relativamente aos


casos acima pode variar consoante o país onde é praticado. O que, por vezes,
é permitido em determinados países, pode ser classificado como crime em
outros. O aborto e a eutanásia exemplificam essa situação.

1.1.5. Código De Ética Profissional


São normas estabelecidas pelos próprios profissionais, tendo em
vista não exactamente a qualidade moral, mas a correcção das suas
intenções e acções, em relação aos direitos, deveres ou princípios, na
relação entre a profissão e a sociedade.

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Existirá assim, uma série de normas representadas num código de


Ética, supervisionadas por um Colégio Profissional ou por um grupo de
Ética, dentro duma instituição.

1.1.6. Ética Na Profissão


A Ética como ciência normativa sobre a rectidão dos actos humanos,
tenta explicar questões como a liberdade, a natureza do Bem e do al, a
virtude, a felicidade...

A Ética Prática é a aplicação da Ética ou da Moral a questões


práticas (relacionadas com a Biologia, a prática médica, os negócios, a
política, etc.), como o aborto, a eutanásia, o tratamento das minorias
étnicas, a igualdade das mulheres, a utilização dos animais para a
alimentação e a investigação, a conservação do meio-ambiente e outros
temas.

Com antecedentes históricos na chamada casuística, a Ética prática


engloba disciplinas como a Bioética e a Ética dos negócios.

Bioética é uma das áreas da Ética de pesquisa Biológica.

A profissão tem uma dimensão social de servir a comunidade, tendo


como finalidade o bem-comum e o interesse público, antecipando-se
sempre ao benefício particular e individual que se retira do exercício da
mesma.

CAPÍTULO II - A HISTÓRIA DAS PROFISSÕES

2.1. Conceitos
O Que é Profissão?

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Profissão, do latim profissio é a acção e o efeito de professar (exercer


um ofício, uma ciência ou arte). A profissão, por conseguinte, é o emprego
ou o trabalho que alguém exerce e pelo qual recebe uma retribuição
económica.

De uma forma geral as profissões requerem competências


especializadas e formais que se adquirem com a formação universitária ou
profissional.

Os ofícios, no entanto, consistem em actividades informais ou cuja


aprendizagem consiste na prática. Em alguns casos, de qualquer forma, a
fronteira entre profissão e ofício é difusa.

Aquele que exerce uma profissão é um profissional. Este pessoa


frequentou um curso e é titular dum certificado ou diploma que credita as
suas competências; está credenciado para a prática profissional ou
desempenho do seu trabalho.

Um exemplo de profissão é a medicina, cujos profissionais são os


médicos. Estes especialistas fazem estudos universitários para se
especializarem nos cuidados e na recuperação da saúde humana, através
do estudo, do diagnóstico e do tratamento de enfermidades. Neste caso, é
imprescindível que o médico tenha um diploma que o comprove, uma vez
que a vida do paciente depende do seu trabalho. Se uma pessoa se fizesse
passar por um médico e prescrevesse um tratamento, estaria a cometer um
delito. esta prática é conhecida como exercício ilegal da medicina.

2.2. O Surgimento Das Profissões – Evolução Histórica


Neste tema impõe-se uma abordagem sobre as transformações
económicas, tecnológicas e sociais que levaram à crise, desaparecimento
ou transformação de inúmeras profissões tradicionais ao longo do séc. xx.

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O avanço da industrialização do séc. xx, especialmente no período


posterior ao fim da segunda Guerra Mundial, fez com que grande oferta de
produtos manufacturados e as inovações tecnológicas aliadas a mudanças
sociais e culturais passassem a ameaçar antigos ofícios manuais que antes
eram os responsáveis por atender as mais variadas necessidades das
pessoas, do alfaiate até o amolador de facas.

Antes do avanço decisivo do processo de industrialização ocorrido de


forma decisiva no séc. xx, uma enormidade de profissões , hoje em desuso,
era responsável por atenderàs demandas de produtos e serviços da
sociedade, desde a área dos transportes até ao vestuário. Em algumas
civilizações, por exemplo, apesar do desprezo que recebiam da
aristocracia, os chamados “ofícios mecânicos”, eram imprescindíveis
mesmo nas menores aglomerações urbanas, oferecendo uma ampla
variedade de serviços ligados à construção civil (mestres, canteiros e
pedreiros), a metalurgia (funileiros e ferreiros), ao vestuário (alfaiates e
modistas), aos transportes (tropeiros), entre tantos os outros.

Neste tempo os bens manufacturados eram escassos e, por isso,


uma pessoa que precisasse de ferramentas e utensílios de ferro, por
exemplo, teria que os encomendar a um ferreiro do que comprá-los. Da
mesma forma com que era mais fácil encomendar roupas ou artigos de
couro aos artesãos especializados.

As profissões aparecerem, muitas a partir de ofícios que ganharam


outras plataformas de dimensão, tendo em conta a dinâmica social, e nesta
mesma ordem das coisas, desapareceram e surgiram outras, muito por
força da modernidade e dos avanços tecnológicos.

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2.2.1. O Mundo Das Profissões: Passado, Presente e Futuro


A existência das profissões está directamente ligada à dinâmica
social, visto que elas servem os interesses sociais. A sociedade, por sua
vez, sujeita-se à tecnologia. Os hábitos e usos sociais ou dos homens
identificam-se com os avanços tecnológicos conquistados na produção de
bens e serviços aptos a satisfação de variadíssimas necessidades, daí que
comparar profissões passadas com as presentes pode significar o risco de
se parar no tempo.

O mundo sofre constantes mudanças, como se sabe, e nessa


corrente são amiúde arrastadas as profissões que também sofrem
transformações.

O futuro é tecnológico, logo, muitas profissões deixarão de existir. Se


pararmos para reflectir podemos concluir que desde que o mundo existe
como tal eque a divisão do trabalho existe, muitas profissões surgiram e
desapareceram. E isso continua a acontecer. Esta extinção de profissões
pode acontecer por muitas razões, mas a principal é o advento da
tecnologia. Ano após ano, e de forma mais assombrosa, inventam-se os
robóts, softwares, máquinas supertecnológicas e muitas outras coisas.
Todas estas invenções têm um alto custo, mas comparando o tempo de
vida de uma máquina e a sua produção com o tempo de trabalho de um
ser humano e seus gastos gerados, pode-se perceber que as máquinas
apresentam muitas mais vantagens. Isso quer dizer que daqui a alguns
anos muitos profissionais serão substituidos pelas máquinas. Na verdade
isso já tem acontecido, mas a tendência é de que este fenómeno se
intensifique.

Quais então as profissões em risco de desaparecer?

Alguns sociólogos apontam algumas que, substituídas pela


tecnologia, cairão no cemitério das profissões, como é o caso dos alfaiates,

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sapateiros, correctores, despachantes, entregadores, carteiros,


recepcionistas, operadores de caixa, balconistas, barbeiros, entre outros.

As funções de escritório e administrativas, bem como de fabricação e


de produção vão sofrer fortes declínios, afectando mais de seis milhões de
postos de trabalho, ao longo dos próximos anos. Por outro lado, as funções
nas áreas comercial, financeira e computacional irão aumentar. Todas
essas transformações terão como base os avanços da tecnologia, como a
inteligência artificial, a impressão 3D, a robótica e a produção com a
utilização sustentável dos recursos.

Ao mesmo tempo, novas funções serão criadas, permitindo trabalhos


remotos e espaços co-working. Os avanços na tecnologia móvel e em
nuvem que permitem o acesso remoto e instantâneo são apontados como o
driver tecnológico mais importante dessa mudança, permitindo a rápida
disseminação de modelos de serviços com base na internet.

O futuro é, pois, tecnologicamente desafiante. Deste modo, torna-se


absolutamente decisivo encontrar mecanismos para preparar os filhos,
estudantes, famílias e, enfim, a sociedade, para aproveitar da melhor
maneira possível o poder desta tecnologia, a fim de transformar o nosso
mundo e fazer dele um lugar melhor para se viver. isso significa:

 Garantir que as escolas preparem as crianças e adolescentes


para o futuro;
 Dar incentivos para a aprendizagem contínua em sintonia com
o rítmo do avanço tecnológico;
 Reinventar o Sector dos Recursos Humanos, equipando-o para
avaliar e preparar continuamente os funcionários;
 Garantir que as gerações actuais e futuras não sejam deixadas
para trás na corrida global das competências digitais.

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2.3. Tecnico De Enfermagem

O técnico em Enfermagem é responsável pela atuação em funções básicas


de manutenção e prevenção da saúde. Uma de suas principais tarefas é
fornecer o devido suporte para os enfermeiros durante os cuidados com os
pacientes, o que pode incluir:

 Planejamento e execução de serviços relacionados à assistência de


pacientes
 Cuidados com pacientes em estado grave
 Garantir a higiene e segurança do local de trabalho

Embora o técnico de enfermagem seja um profissional de nível médio, é


importante comentar que essa modalidade de curso, o técnico, é um dos
tipos mais populares entre os interessados na área da saúde.

2.3.1. A História DA Enfermagem

Origem da Profissão
A profissão surgiu do desenvolvimento e evolução das práticas de
saúde no decorrer dos períodos
históricos. As práticas de saúde instintivas foram as primeiras formas de
prestação de assistência. Num
primeiro estágio da civilização, estas ações garantiam ao homem a
manutenção da sua sobrevivência,
estando na sua origem, associadas ao trabalho feminino, caracterizado
pela prática do cuidar nos grupos
nômades primitivos, tendo como pano-de-fundo as concepções
evolucionistas e teológicas, Mas, como o
domínio dos meios de cura passaram a significar poder, o homem,
aliando este conhecimento ao
misticismo, fortaleceu tal poder e apoderou-se dele. Quanto à
Enfermagem, as únicas referências
concernentes à época em questão estão relacionadas com a prática
domiciliar de partos e a atuação

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pouco clara de mulheres de classe social elevada que dividiam as


atividades dos templos com os
sacerdotes. As práticas de saúde mágico-sacerdotais, abordavam a
relação mística entre as práticas
religiosas e de saúde primitivas desenvolvidas pelos sacerdotes nos
templos. Este período corresponde à
fase de empirismo, verificada antes do surgimento da especulação
filosófica que ocorre por volta do
século V a.C. Essas ações permanecem por muitos séculos desenvolvidas
nos templos que, a princípio,
foram simultaneamente santuários e escolas, onde os conceitos
primitivos de saúde eram ensinados.
Posteriormente, desenvolveram-se escolas específicas para o ensino da
arte de curar no sul da Itália e na
Sicília, propagando-se pelos grandes centros do comércio, nas ilhas e
cidades da costa. Naquelas escolas
pré-hipocráticas, eram variadas as concepções acerca do
funcionamento do corpo humano, seus
distúrbios e doenças, concepções essas, que, por muito tempo, marcaram
a fase empírica da evolução dos
conhecimentos em saúde. O ensino era vinculado à orientação da
filosofia e das artes e os estudantes
viviam em estreita ligação com seus mestres, formando as famílias, as
quais serviam de referência para
mais tarde se organizarem em castas. As práticas de saúde no
alvorecer da ciência - relacionam a
evolução das práticas de saúde ao surgimento da filosofia e ao progresso
da ciência, quando estas então
se baseavam nas relações de causa e efeito. Inicia-se no século V a.C.,
estendendo-se até os primeiros
séculos da Era Cristã. A prática de saúde, antes mística e sacerdotal,
passa agora a ser um produto desta
nova fase, baseando-se essencialmente na experiência, no conhecimento
da natureza, no raciocínio lógico
- que desencadeia uma relação de causa e efeito para as doenças - e na
especulação filosófica, baseada na
investigação livre e na observação dos fenômenos, limitada,
entretanto, pela ausência quase total de
conhecimentos anatomofisiológicos. Essa prática individualista volta-se
para o homem e suas relações
com a natureza e suas leis imutáveis. Este período é considerado
pela medicina grega como período
hipocrático, destacando a figura de Hipócrates que como já foi
demonstrado no relato histórico, propôs

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17
Ética e Deontologia – Cursos Médios

uma nova concepção em saúde, dissociando a arte de curar dos preceitos


místicos e sacerdotais, através
da utilização do método indutivo, da inspeção e da observação. Não há
caracterização nítida da prática de
Enfermagem nesta época. As práticas de saúde monástico-medievais
focalizavam a influência dos
fatores sócio-econômicos e políticos do medievo e da sociedade
feudal nas práticas de saúde e as
relações destas com o cristianismo. Esta época corresponde ao
aparecimento da Enfermagem como
prática leiga, desenvolvida por religiosos e abrange o período medieval
compreendido entre os séculos
V e XIII. Foi um período que deixou como legado uma série de valores
que, com o passar dos tempos,
foram aos poucos legitimados a aceitos pela sociedade como
características inerentes à Enfermagem. A
abnegação, o espírito de serviço, a obediência e outros atributos
que dão à Enfermagem, não uma
conotação de prática profissional, mas de sacerdócio. As práticas de saúde
pós monásticas evidenciam a
evolução das ações de saúde e, em especial, do exercício da Enfermagem
no contexto dos movimentos
Renascentistas e da Reforma Protestante. Corresponde ao período
que vai do final do século XIII ao
início do século XVI. A retomada da ciência, o progresso social e
intelectual da Renancença e a
evolução das universidades não constituíram fator de crescimento para a
Enfermagem. Enclausurada nos
hospitais religiosos, permaneceu empírica e desarticulada durante
muito tempo, vindo desagregar-se
ainda mais a partir dos movimentos de Reforma Religiosa e das
conturbações da Santa Inquisição. O
hospital, já negligenciado, passa a ser um insalubre depósito de
doentes, onde homens, mulheres e
crianças utilizam as mesmas dependências, amontoados em leitos
coletivos.

Sob exploração deliberada, considerada um serviço doméstico, pela


queda dos padrões morais que a
sustentava, a prática de enfermagem tornou-se indigna e sem
atrativos para as mulheres de casta social
elevada. Esta fase tempestuosa, que significou uma grave crise para a
Enfermagem, permaneceu por muito

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18
Ética e Deontologia – Cursos Médios

tempo e apenas no limiar da revolução capitalista é que alguns


movimentos reformadores, que partiram,
principalmente, de iniciativas religiosas e sociais, tentam melhorar as
condições do pessoal a serviço dos
hospitais. As práticas de saúde no mundo moderno analisam as
ações de saúde e , em especial, as de
Enfermagem, sob a ótica do sistema político-econômico da sociedade
capitalista. Ressaltam o surgimento
da Enfermagem como atividade profissional institucionalizada. Esta
análise inicia-se com a Revolução
Industrial no século XVI e culmina com o surgimento da
Enfermagem moderna na Inglaterra, no século
XIX.

Enfermagem Moderna

O avanço da Medicina vem favorecer a reorganização dos hospitais.


É na reorganização da Instituição
Hospitalar e no posicionamento do médico como principal responsável
por esta reordenação, que vamos
encontrar as raízes do processo de disciplina e seus reflexos na
Enfermagem, ao ressurgir da fase sombria em
que esteve submersa até então. Naquela época, estiveram sob piores
condições, devido a predominância de
doenças infecto-contagiosas e a falta de pessoas preparadas para cuidar
dos doentes. Os ricos continuavam a
ser tratados em suas próprias casas, enquanto os pobres, além de não
terem esta alternativa, tornavam-se
objeto de instrução e experiências que resultariam num maior
conhecimento sobre as doenças em benefício
da classe abastada. É neste cenário que a Enfermagem passa a
atuar, quando Florence Nightingale é
convidada pelo Ministro da Guerra da Inglaterra para trabalhar junto aos
soldados feridos em combate na
Guerra da Criméia.

Período Florence Nightingale

Nascida a 12 de maio de 1820, em Florença, Itália, era filha de


ingleses. Possuía inteligência incomum,
tenacidade de propósitos, determinação e perseverança - o que lhe
permitia dialogar com políticos e oficiais

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19
Ética e Deontologia – Cursos Médios

do Exército, fazendo prevalecer suas idéias. Dominava com facilidade


o inglês, o francês, o alemão, o
italiano, além do grego e latim. No desejo de realizar-se como
enfermeira, passa o inverno de 1844 em
Roma, estudando as atividades das Irmandades Católicas. Em 1849 faz
uma viagem ao Egito e decide-se a
servir a Deus, trabalhando em Kaiserswert, Alemanha, entre as
diaconisas. Decidida a seguir sua vocação,
procura completar seus conhecimentos que julga ainda insuficientes.
Visita o Hospital de Dublin dirigido
pela Irmãs de Misericórdia, Ordem Católica de Enfermeiras, fundada 20
anos antes. Conhece as Irmãs de
Caridade de São Vicente de Paulo, na Maison de la Providence em Paris.
Aos poucos vai se preparando para
a sua grande missão. Em 1854, a Inglaterra, a França e a Turquia
declaram guerra à Rússia: é a Guerra da
Criméia. Os soldados acham-se no maior abandono. A mortalidade
entre os hospitalizados é de 40%.
Florence partiu para Scutari com 38 voluntárias entre religiosas e
leigas vindas de diferentes hospitais.
Algumas enfermeiras foram despedidas por incapacidade de adaptação e
principalmente por indisciplina. A
mortalidade decresce de 40% para 2%. Os soldados fazem dela o seu
anjo da guarda e ela será imortalizada
como a "Dama da Lâmpada" porque, de lanterna na mão, percorre as
enfermarias, atendendo os doentes.
Durante a guerra contrai tifo e ao retornar da Criméia, em 1856,
leva uma vida de inválida. Dedica-se
porém, com ardor, a trabalhos intelectuais. Pelos trabalhos na Criméia,
recebe um prêmio do Governo Inglês
e, graças a este prêmio, consegue iniciar o que para ela é a única
maneira de mudar os destinos da
Enfermagem - uma Escola de Enfermagem em 1959. Após a
guerra, Florence fundou uma escola de
Enfermagem no Hospital Saint Thomas, que passou a servir de modelo
para as demais escolas que foram
fundadas posteriormente. A disciplina rigorosa, do tipo militar, era
uma das características da escola
nightingaleana, bem como a exigência de qualidades morais das
candidatas. O curso, de um ano de duração,
consistia em aulas diárias ministradas por médicos. Nas primeiras escolas
de Enfermagem, o médico foi de
fato a única pessoa qualificada para ensinar. A ele cabia então
decidir quais das suas funções poderiam

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20
Ética e Deontologia – Cursos Médios

colocar nas mãos das enfermeiras. Florence morre em 13 de agosto de


1910, deixando florescente o ensino
de Enfermagem. Assim, a Enfermagem surge não mais como uma
atividade empírica, desvinculada do saber
especializado, mas como uma ocupação assalariada que vem
atender a necessidade de mão-de-obra nos
hospitais, constituindo-se como uma prática social institucionalizada e
específica.

2.5. Código De Ética Do Técnico De Enfermagem

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

A enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde e a qualidade


de vida da pessoa, família e coletividade. O profissional de enfermagem
atua na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde, com
autonomia e em consonância com os preceitos éticos e legais. O
profissional de enfermagem participa, como integrante da equipe de
saúde, das ações que visem satisfazer as necessidades de saúde da
população e da defesa dos princípios das políticas públicas de saúde e
ambientais, que garantam a universalidade de acesso aos serviços de
saúde, integralidade da assistência, resolutividade, preservação da
autonomia das pessoas, participação da comunidade, hierarquização e
descentralização político-administrativa dos serviçosde saúde. O
profissional de enfermagem respeita a vida, a dignidade e os direitos
humanos, em todas as suas dimensões. O profissional de enfermagem
exerce suas atividades com competência para a promoção do ser humano
na sua integralidade, de acordo com os princípios da ética e da bioética.

CAPÍTULO I

DAS RELAÇÕES PROFISSIONAIS DIREITOS

Art. 1º - Exercer a enfermagem com liberdade, autonomia e ser tratado


segundo os pressupostos e princípios legais, éticos e dos direitos
humanos.

Art. 2º - Aprimorar seus conhecimentos técnicos, científicos e culturais


que dão sustentação a sua prática profissional.

Art. 3º - Apoiar as iniciativas que visem ao aprimoramento profissional e à


defesa dos direitos e interesses da categoria e da sociedade.
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Ética e Deontologia – Cursos Médios

Art. 4º - Obter desagravo público por ofensa que atinja a profissão, por
meio do Conselho Regional de Enfermagem

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 5º - Exercer a profissão com justiça, compromisso, eqüidade,


resolutividade, dignidade, competência, responsabilidade, honestidade e
lealdade.

Art. 6º - Fundamentar suas relações no direito, na prudência, no respeito,


na solidariedade e na diversidade de opinião e posição ideológica.

Art. 7º - Comunicar a OREDENFA e aos órgãos competentes, fatos que


infrinjam dispositivos legais e que possam prejudicar o exercício
profissional.

PROIBIÇÕES

Art. 8º - Promover e ser conivente com a injúria, calúnia e difamação de


membro da equipe de enfermagem, equipe de saúde e de trabalhadores
de outras áreas, de organizações da categoria ou instituições. Art. 9º -
Praticar e/ou ser conivente com crime, contravenção penal ou qualquer
outro ato, que infrinja postulados éticos e legais.

SEÇÃO I

DAS RELAÇÕES COM A PESSOA, FAMILIA E COLETIVIDADE.


DIREITOS

Art. 10 - Recusar-se a executar atividades que não sejam de sua


competência técnica, científica, ética e legal ou que não ofereçam
segurança ao profissional, à pessoa, família e coletividade.

Art. 11 - Ter acesso às informações, relacionadas à pessoa, família e


coletividade, necessárias ao exercício profissional.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 12 - Assegurar à pessoa, família e coletividade assistência de


enfermagem livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou
imprudência.

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

Art. 13 - Avaliar criteriosamente sua competência técnica, científica, ética


e legal e somente aceitar encargos ou atribuições, quando capaz de
desempenho seguro para si e para outrem.

Art. 14 - Aprimorar os conhecimentos técnicos, científicos, éticos e


culturais, em benefício da pessoa, família e coletividade e do
desenvolvimento da profissão.

Art. 15 - Prestar assistência de enfermagem sem discriminação de


qualquer natureza.

Art. 16 - Garantir a continuidade da assistência de enfermagem em


condições que ofereçam segurança, mesmo em caso de suspensão das
atividades profissionais decorrentes de movimentos reivindicatórios da
categoria.

Art. 17 - Prestar adequadas informações à pessoa, família e coletividade


a respeito dos direitos, riscos, benefícios e intercorrências acerca da
assistência de enfermagem.

Art. 18 - Respeitar, reconhecer e realizar ações que garantam o direito da


pessoa ou de seu representante legal, de tomar decisões sobre sua saúde,
tratamento, conforto e bem estar.

Art. 19 - Respeitar o pudor, a privacidade e a intimidade do ser humano,


em todo seu ciclo vital, inclusive nas situações de morte e pós-morte.

Art. 20 - Colaborar com a equipe de saúde no esclarecimento da pessoa,


família e coletividade a respeito dos direitos, riscos, benefícios e
intercorrências acerca de seu estado de saúde e tratamento.

Art. 21 - Proteger a pessoa, família e coletividade contra danos


decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência por parte de
qualquer membro da equipe de saúde.

Art. 22 - Disponibilizar seus serviços profissionais à comunidade em casos


de emergência, epidemia e catástrofe, sem pleitear vantagens pessoais.

Art. 23 - Encaminhar a pessoa, família e coletividade aos serviços de


defesa do cidadão, nos termos da lei.

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

Art. 24 - Respeitar, no exercício da profissão, as normas relativas à


preservação do meio ambiente e denunciar aos órgãos competentes as
formas de poluição e deterioração que comprometam a saúde e a vida.

Art. 25 - Registrar no prontuário do paciente as informações inerentes e


indispensáveis ao processo de cuidar.

PROIBIÇÕES

Art. 26 - Negar assistência de enfermagem em qualquer situação que se


caracterize como urgência ou emergência.

Art. 27 - Executar ou participar da assistência à saúde sem o


consentimento da pessoa ou de seu representante legal, exceto em
iminente risco de morte.

Art. 28 - Provocar aborto, ou cooperar em prática destinada a


interromper a gestação. Parágrafo único - Nos casos previstos em lei, o
profissional deverá decidir, de acordo com a sua consciência, sobre a sua
participação ou não no ato abortivo.

Art. 29 - Promover a eutanásia ou participar em prática destinada a


antecipar a morte do cliente.

Art. 30 - Administrar medicamentos sem conhecer a ação da droga e sem


certificar-se da possibilidade de riscos.

Art. 31 - Prescrever medicamentos e praticar ato cirúrgico, exceto nos


casos previstos na legislação vigente e em situação de emergência.

Art. 32 - Executar prescrições de qualquer natureza, que comprometam a


segurança da pessoa.

Art. 33 - Prestar serviços que por sua natureza competem a outro


profissional, exceto em caso de emergência.

Art. 34 - Provocar, cooperar, ser conivente ou omisso com qualquer forma


de violência.

Art. 35 - Registrar informações parciais e inverídicas sobre a assistência


prestada.

SEÇÃO II

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

DAS RELAÇÕES COM OS TRABALHADORES DE ENFERMAGEM, SAÚDE


E OUTROS DIREITOS

Art. 36 - Participar da prática multiprofissional e interdisciplinar com


responsabilidade, autonomia e liberdade.

Art. 37 - Recusar-se a executar prescrição medicamentosa e terapêutica,


onde não conste a assinatura e o número de registro do profissional,
exceto em situações de urgência e emergência.

Parágrafo único - O profissional de enfermagem poderá recusar-se a


executar prescrição medicamentosa e terapêutica em caso de identificação
de erro ou ilegibilidade.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 38 - Responsabilizar-se por falta cometida em suas atividades


profissionais, independente de ter sido praticada individualmente ou em
equipe.

Art. 39 - Participar da orientação sobre benefícios, riscos e conseqüências


decorrentes de exames e de outros procedimentos, na condição de
membro da equipe de saúde.

Art. 40 - Posicionar-se contra falta cometida durante o exercício


profissional seja por imperícia, imprudência ou negligência.

Art. 41 - Prestar informações, escritas e verbais, completas e fidedignas


necessárias para assegurar a continuidade da assistência.

PROIBIÇÕES

Art. 42 - Assinar as ações de enfermagem que não executou, bem como


permitir que suas ações sejam assinadas por outro profissional.

Art. 43 - Colaborar, direta ou indiretamente com outros profissionais de


saúde, no descumprimento da legislação referente aos transplantes de
órgãos, tecidos, esterilização humana, fecundação artificial e manipulação
genética.

SEÇÃO III

DAS RELAÇÕES COM AS ORGANIZAÇÕES DA CATEGORIA DIREITOS

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

Art. 44 - Recorrer ao Conselho Regional de Enfermagem, quando


impedido de cumprir o presente Código, a legislação do exercício
profissional e as resoluções e decisões emanadas do Sistema
COFEN/COREN.

Art. 45 - Associar-se, exercer cargos e participar de entidades de classe e


órgãos de fiscalização do exercício profissional.

Art. 46 - Requerer em tempo hábil, informações acerca de normas e


convocações.

Art. 47 - Requerer, ao Conselho Regional de Enfermagem, medidas


cabíveis para obtenção de desagravo público em decorrência de ofensa
sofrida no exercício profissional.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 48 - Cumprir e fazer os preceitos éticos e legais da profissão.

Art. 49 - Comunicar ao Conselho Regional de Enfermagem fatos que firam


preceitos do presente Código e da legislação do exercício profissional.

Art. 50 - Comunicar formalmente ao Conselho Regional de Enfermagem


fatos que envolvam recusa ou demissão de cargo, função ou emprego,
motivado pela necessidade do profissional em cumprir o presente Código
e a legislação do exercício profissional.

Art. 51 - Cumprir, no prazo estabelecido, as determinações e convocações


do Conselho Federal e Conselho Regional de Enfermagem.

Art. 52 - Colaborar com a fiscalização de exercício profissional.

Art. 53 - Manter seus dados cadastrais atualizados, e regularizadas as


suas obrigações financeiras com o Conselho Regional de Enfermagem.

Art. 54 - Apor o número e categoria de inscrição no Conselho Regional de


Enfermagem em assinatura, quando no exercício profissional.

Art. 55 - Facilitar e incentivar a participação dos profissionais de


enfermagem no desempenho de atividades nas organizações da categoria.

PROIBIÇÕES

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

Art. 56 - Executar e determinar a execução de atos contrários ao Código


de Ética e às demais normas que regulam o exercício da Enfermagem.

Art. 57 - Aceitar cargo, função ou emprego vago em decorrência de fatos


que envolvam recusa ou demissão de cargo, função ou emprego motivado
pela necessidade do profissional em cumprir o presente código e a
legislação do exercício profissional.

Art. 58 - Realizar ou facilitar ações que causem prejuízo ao patrimônio ou


comprometam a finalidade para a qual foram instituídas as organizações
da categoria.

Art. 59 - Negar, omitir informações ou emitir falsas declarações sobre o


exercício profissional quando solicitado pelo Conselho Regional de
Enfermagem.

SEÇÃO IV

DAS RELAÇÕES COM AS ORGANIZAÇÕES EMPREGADORAS DIREITOS

Art. 60 - Participar de movimentos de defesa da dignidade profissional, do


aprimoramento técnicocientífico, do exercício da cidadania e das
reivindicações por melhores condições de assistência, trabalho e
remuneração.

Art. 61 - Suspender suas atividades, individual ou coletivamente, quando


a instituição pública ou privada para a qual trabalhe não oferecer
condições dignas para o exercício profissional ou que desrespeite a
legislação do setor saúde, ressalvadas as situações de urgência e
emergência, devendo comunicar imediatamente por escrito sua decisão ao
Conselho Regional de Enfermagem.

Art. 62 - Receber salários ou honorários compatíveis com o nível de


formação, a jornada de trabalho, a complexidade das ações e a
responsabilidade pelo exercício profissional. Art. 63 - Desenvolver suas
atividades profissionais em condições de trabalho que promovam a própria
segurança e a da pessoa, família e coletividade sob seus cuidados, e
dispor de material e equipamentos de proteção individual e coletiva,
segundo as normas vigentes.

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

Art. 64 - Recusar-se a desenvolver atividades profissionais na falta de


material ou equipamentos de proteção individual e coletiva definidos na
legislação específica.

Art. 65 - Formar e participar da comissão de ética da instituição pública


ou privada onde trabalha, bem como de comissões interdisciplinares.

Art. 66 - Exercer cargos de direção, gestão e coordenação na área de seu


exercício profissional e do setor saúde.

Art. 67 - Ser informado sobre as políticas da instituição e do serviço de


enfermagem, bem como participar de sua elaboração.

Art. 68 - Registrar no prontuário, e em outros documentos próprios da


enfermagem, informações referentes ao processo de cuidar da pessoa.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 69 - Estimular, promover e criar condições para o aperfeiçoamento


técnico, científico e cultural dos profissionais de Enfermagem sob sua
orientação e supervisão.

Art. 70 - Estimular, facilitar e promover o desenvolvimento das atividades


de ensino, pesquisa e extensão, devidamente aprovadas nas instâncias
deliberativas da instituição.

Art. 71 - Incentivar e criar condições para registrar as informações


inerentes e indispensáveis ao processo de cuidar.

Art. 72 - Registrar as informações inerentes e indispensáveis ao processo


de cuidar de forma clara, objetiva e completa.

PROIBIÇÕES

Art. 73 - Trabalhar, colaborar ou acumpliciar-se com pessoas físicas ou


jurídicas que desrespeitem princípios e normas que regulam o exercício
profissional de enfermagem.

Art. 74 - Pleitear cargo, função ou emprego ocupado por colega,


utilizando-se de concorrência desleal.

Art. 75 - Permitir que seu nome conste no quadro de pessoal de hospital,


casa de saúde, unidade sanitária, clínica, ambulatório, escola, curso,

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

empresa ou estabelecimento congênere sem nele exercer as funções de


enfermagem pressupostas.

Art. 76 - Receber vantagens de instituição, empresa, pessoa, família e


coletividade, além do que lhe é devido, como forma de garantir
Assistência de Enfermagem diferenciada ou benefícios de qualquer
natureza para si ou para outrem.

Art. 77 - Usar de qualquer mecanismo de pressão ou suborno com


pessoas físicas ou jurídicas para conseguir qualquer tipo de vantagem.

Art. 78 - Utilizar, de forma abusiva, o poder que lhe confere a posição ou


cargo, para impor ordens, opiniões, atentar contra o pudor, assediar
sexual ou moralmente, inferiorizar pessoas ou dificultar o exercício
profissional.

Art. 79 - Apropriar-se de dinheiro, valor, bem móvel ou imóvel, público ou


particular de que tenha posse em razão do cargo, ou desviá-lo em
proveito próprio ou de outrem.

Art. 80 - Delegar suas atividades privativas a outro membro da equipe de


enfermagem ou de saúde, que não seja enfermeiro.

CAPÍTULO III - A POLÍTICA DE SAÚDE EM ANGOLA

3.1. Introdução
Ao abrigo da Lei de Bases do Sistema Nacional de Saúde (SNS), é
da responsabilidade do Estado angolano a promoção e garantia do acesso
de todos os cidadãos aos cuidados de saúde nos limites dos recursos
humanos e financeiros disponíveis. No entanto, a promoção e a defesa da
saúde pública são efectuadas através da actividade do Estado e de outros
agentes públicos ou privados, podendo as organizações da sociedade civil
serem associadas àquela actividade.

Assim, os cuidados de saúde são prestados por serviços e


estabelecimentos do Estado ou sob fiscalização deste, por outros agentes
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Ética e Deontologia – Cursos Médios

públicos ou entidades privadas, sem ou com fins lucrativos. Sendo que, a


protecção à saúde constitui um direito dos indivíduos e da comunidade, que
se efectiva pela responsabilidade conjunta dos cidadãos, da sociedade e do
Estado, em liberdade de procura e de prestação de cuidados de saúde.

3.2. Organização e Estruturas

3.2.1. Hierarquia De Prestação De Cuidados De Saúde


O sistema de prestação de cuidados de saúde subdivide-se em três
níveis hierárquicos de prestação de cuidados da saúde, baseados na
estratégia dos cuidados primários.

O primeiro nível - Cuidados Primários de Saúde


(CPS)representado pelos Postos/ Centros de Saúde, Hospitais Municipais,
postos de enfermagem e consultórios médicos, constituem o primeiro ponto
de contacto da população com o Sistema de Saúde.

O nível secundário ou intermédio, representado pelos Hospitais


gerais, é o nível de referência para as unidades de primeiro nível.

O nível terciário, é representado pelos Hospitais de referência mono


ou polivalentes diferenciados e especializados, é o nível de referência para
as unidades sanitárias do nível secundário.

Apesar da hierarquia estabelecida, o sistema de referência e de


contra-referência não tem sido operacional por vários factores,
principalmente, por causa da desestruturação do sistema de saúde e da
redução da cobertura sanitária decorrente do longo conflito armado que o
país viveu.

Compilação do Prof. Silvestre Domingos – EFTS L. e o prof. Bernardo Gomes – I.T.S-BPágina


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Ética e Deontologia – Cursos Médios

Estima-se que cerca de 30% a 40% da população tem acesso aos


serviços de saúde. A prestação de cuidados de saúde é feita pelos sectores
público, privado e da medicina tradicional.

Sector Público

O sector público inclui o Serviço Nacional de Saúde(SNS), os


serviços de saúde das Forças Armadas Angolanas (FAA) e do Ministério do
Interior, bem como de empresas públicas, tais como a SONANGOL,
ENDIAMA e, etc.

O sector público permanece como o principal prestador dos cuidados


de saúde ao nível nacional. O SNS e os outros serviços do sector público,
partilham as mesmas dificuldades resultando na prestação de cuidados da
saúde sem a qualidade desejada na maioria dos casos.

A comparticipação nos custos de saúde, nos moldes actuais de


implementação, no sector público, foi reconhecida como um obstáculo ao
acesso aos cuidados de saúde e à equidade.

Sector Privado

O sector privado lucrativo está ainda confinado aos principais centros


urbanos do país. Os preços dos cuidados de saúde limitam a acessibilidade
da população ao sector privado lucrativo. Os preços praticados não são
objecto de nenhuma regulação. À semelhança do que acontece no sector
público, a qualidade dos serviços prestados está aquém do desejado. Na
sua maioria, o pessoal do sector privado é o mesmo que trabalha no sector
público, com evidentes prejuízos para ambos os sectores.

O sector privado não lucrativo, essencialmente ligado a entidades


religiosas e Organizações Não-Governamentais (ONG’s), tende a
direccionar a prestação de cuidados para as camadas mais vulneráveis das
áreas suburbanas e rurais.
Compilação do Prof. Silvestre Domingos – EFTS L. e o prof. Bernardo Gomes – I.T.S-BPágina
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Ética e Deontologia – Cursos Médios

O fraco sistema de fiscalização e controlo favoreceu a existência de


um sector privado informal de prestação de cuidados em condições
inaceitáveis e frequentemente praticado por indivíduos sem a mínima
qualificação.

Sector da Medicina Tradicional

A medicina tradicional encontra-se num estado de organização ainda


incipiente. Embora sem número conhecido de pacientes, que recorrem a
este sector, há evidências que revelam que muitos utentes recorrem à
medicina tradicional e por vezes simultaneamente à medicina ocidental
assim como à medicina chinesa ou asiática.

Por ausência de um quadro legal, a falta de integração no sistema


nacional de saúde e de articulação com os outros prestadores de saúde,
leva a que os valores positivos da medicina tradicional não sejam
devidamente aproveitados em benefício da saúde da população.

Os medicamentos tradicionais encontravam-se à venda nos


mercados informais e nas ervanárias, sem qualquer controlo de qualidade e
em inadequadas condições de conservação.

Não existe nenhuma regulamentação sobre os medicamentos


tradicionais, bem como os homeopáticos que são importados. Há falta de
uma Farmacopeia Nacional para os medicamentos tradicionais. Os
produtos fornecidos pelos ervanários e pelos terapeutas tradicionais
resultam muitas das vezes de conhecimentos que se transmitem através de
gerações e que se mantêm como segredo familiar, o que constitui um
entrave para a investigação e o desenvolvimento dessa área.

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32
Ética e Deontologia – Cursos Médios

3.3. Lei De Bases Do Sistema De Saúde


A política de saúde desenvolvida em Angola é executada pelo
Ministério da Saúde (MINSA) através dos seus desmembramentos. Esta
política pode ser reflectida pelos objectivos de desenvolvimento sanitário do
país; o objectivo essencial de aumentar o acesso aos cuidados e melhorar
a qualidade destes últimos.

As políticas de saúde visam a melhoria das condições sociais,


promovendo as condições do meio ambiente e o acesso aos serviços de
saúde.

A Lei nº 21 – A/92 (Lei de Base do Sistema de Saúde), estabelece as


linhas gerais da política de saúde.

O artigo19º do capítulo II estabelece que compete às autoridades da


saúde propor os planos de actividade e o orçamento respectivo, bem como
acompanhar a sua execução e deles prestar contas.

O artigo31º do Capítulo III regula o apoio do Sector Privado.

O artigo 33º, a intervenção das instituições privadas de fins não


lucrativos com objectivo da saúde.

A Lei nº 5/87 (regulamento sanitário da República de Angola),


estabelece as competências das actividades sanitárias e da política
sanitária e mortuária, assim como a obrigatoriedade de participação das
doenças transmissíveis e das etapas a seguir nestes casos. Esta Lei
contempla também a fiscalização de géneros alimentícios.

A política de ambiente desenvolvida pelo Governo da República de


Angola, está consubstanciada no decreto nº 51/04 de 23 de Julho – Lei de
base do ambiente que define os conceitos e os princípios básicos da
protecção e conservação do ambiente, promoção e qualidade de vida e do
uso racional dos recursos naturais.
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Ética e Deontologia – Cursos Médios

De acordo com o artigo 19º, «o Governo deve fazer cumprir a


legislação e controlo da produção, emissão, depósito, importação e gestão
de poluentes gasosos, líquidos e sólidos. Esta lei contempla a educação
ambiental (artigo 20º).

3.4. Divisão De Trabalho Em Saúde


O trabalho em saúde está derivada em três (3) categorias, de acordo
com a área de actuação, nomeadamente:

 Área Administrativa
 Área de prestação de cuidados
 Área de ensino

A área administrativa compreende todos os serviços administrativos,


desde a organização do expediente e todos os serviços e pessoal de apoio.

A área de cuidados contínuosassume cada vez mais importância


primordial no Sistema de Saúde, definindo-se como a recuperação e
reintegração de doentes crónicos e pessoas em situação de dependência.
São intervenções integradas de saúde e apoio social que visam a
recuperação global, promovendo a autonomia e melhorando a
funcionalidade da pessoa dependente, através da sua reabilitação,
readaptação e reinserção familiar e social.

Compreende:

a) A Área Hospitalar
b) As Unidades de Saúde Familiar (USF)
c) As Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados
d) As Unidades de Cuidados na Comunidade (UCC)
e) A Unidade de Saúde Pública (USP)
f) O Centro de Diagnóstico Pneumológico (CDP)
g) O Serviço de Atendimento de Situações Urgentes (SASU).

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

A área do ensino cuida de potenciar o profissional de qualidades


profissionais, que são os qualificativos indispensáveis para o técnico de
saúde deve possuir para o desempenho eficaz das suas funções. Estas
qualidades agrupam-se em:

a) Qualidades Físicas

Permitem uma resistência física eficiente de conservar a saúde,


sendo para isso necessários os bons hábitos higiénicos, boa alimentação,
repouso, distracção e exercícios físicos.

b) Qualidades Morais

Baseiam-se, sobretudo, no sentido de responsabilidade que têm por


base a seriedade e o cumprimento do dever. O profissional poderá ter a
noção de responsabilidade perante o doente, prestando a ele toda a
assistência, respeitando e mantendo a individualização.

c) Qualidades Técnicas

São indispensáveis para se saber executar cuidados que lhe são


atribuídos. Assim, o profissional deve cultivar habilidades, delicadeza e
mesmo uma boa ética no trabalho.

d) Qualidades Sociais

Como membro de uma boa equipa necessita de ter boas relações


humanas, assim como o profissional deve ser:

 Educado, amável, compreensível, simpático e alegre;


 Ser capaz de incutir coragem e confiança;
 Respeitar a opinião dos outros, a maneira de ser das outras
pessoas;
 Aceitar a crítica, tirando dela o positivo;

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

 Ser paciente com o doente;


 Ter respeito mútuo e consideração;
 Colaborar sempre que seja possível.

e) Qualidades Espirituais

Estas baseiam-se:

 No respeito espiritual de cada um;


 No respeito à religião dos outros;
 Não constituir um obstáculo ao confronto espiritual do doente;
 Servir de intermédio entre o doente e os serviços religiosos,
caso ele peça ou necessite.

CAPÍTULO IV - HIGIENE E SEGURANÇA NO TRABALHO

4.1. Introdução
Desde muito tempo levantou-se a preocupaçao de segurança para o
trabalhador no seu local de trabalho por forma a entao, prevenir incidentes,
acidentes e, por conseguinte, as doenças laborais. Logo, surgiu a
necessidade de se criar condiçoes dignas nao só para evitar problemas
citados, como também para valorizara condiçao do trabalhador e aumentar
o seu empenho e produtividade, tirando dele o máximo rendimento.

Todos os dias, trabalhadores de todo o mundo são expostos a


múktiplos riscos para a saúde, tais como:

 Poeiras
 Gases
 Ruído
 Vibrações
 Temperaturas extremas.
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Ética e Deontologia – Cursos Médios

Surge entao a Ergonomia, como ciência de organizaçao do trabalho,


cujos pressupostos resumem-se em:

 Providência de equipamentos que bloqueiam ruídos e


vibrações;
 Criação de ambiente ventilado e com temperatura amena, sem
poeiras, odores fortes (toxidade) e vapores.

Para aqueles trabalhadores cuja natureza do trabalho passa pelos


pressupostos acima citados, caso de mineiros, trabalhadores de industrias,
portanto, os que no seu labor diário nao podem evitar ruídos, pó e poeira,
gases, etc, devem usar equipamentos que atenuem os efeitoss destes
fenómenos.

Todos nós nos sentimos bem em segurança, trabalhando em


ambientes saudáveis manuseando equipamentos que nao acarretem riscos
à nossa saúde, às nossas vidas.

4.2. Conceitos
Higiene do Trabalho é o conjunto de normas e procedimentos desde
a limpeza, asseio, para salvaguardar o bem-estar social e mental do
trabalhador, aumentando, assim, a produtividade da actividade.

Por Higiene no Trabalho pode ainda entender-se como o controlo de


variáveis no ambiente de trabalho, no sentido de reduzi a incidência de
doenças profissionais. Segurança no Trabalho significa a utilização e
interacção segura com métodos de trabalho, instalações, equipamentos de
trabalho e ambientes de trabalho. No actual enquadramento legislativo e
social só um adequado Sistema de Gestão da Segurança, Higiene e Saúde
no Trabalho (SST) que aborde convenientemente todos os aspectos
técnicos relacionados com as vertentes da segurança, Higiene e saúde

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

permitirá à instituição desenvolver a sua estratégia em condições


concorrenciais de competitividade.

Podem-se considerar três (3) fases que podem exprimir o conceito de


higiene no trabalho:

 Antecipação do risco; nesta fase são realizadas avaliações


dos riscos potenciais e o estabelecimento das medidas
preventivas antes que se inicie alguma tarefa.
 Reconhecimento do risco; nesta fase é relevante salientar
que é realizado um levantamento detalhado de informações e
de dados sobre o ambiente de trabalho, com a finalidade de
identificar os agentes existentes, os potenciais de riscos a eles
associados. Qual a prioridade da avaliação, controlo para esse
ambiente de trabalho. É crucial exprimir que para se realizar
esta fase é necessário conhecer a tecnologia de produção de
processos usados de modo a combater esses riscos de uma
forma eficaz, desenvolvendo assim, uma produtividade segura
dentro de uma organização.

Acidente de Trabalho – é todo o acontecimento súbito que se


verifique no local e no tempo de trabalho ou ainda no trajecto de e para o
local de trabalho. Esses acidentes podem resultar em incapacidades
permanentes, não só para o trabalho, mas também para uma boa
qualidade de vida.

Doença Profissional – Toda a lesão resultante da exposição


prolongada e repetida à riscos profissionais, habitualmente só perceptíveis
ao fim de algum tempo.

Por exemplo: doenças pulmonares graves, da pele, tumores ou


outras intoxicações provocadas por poeiras, fumos, pela utilização

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

inadequada de certos produtos, como diluentes, colas e vernizes,


exposição a radiações, etc.

4.3. Objectivos Da Higiene No Trabalho


É fundamental para promover um ambiente saudável e sustentável
aos trabalhadores dentro de uma organização. Visa:

 Proteger e promover a saúde do trabalhador;


 Proteger o meio ambiente;
 Contribuir para um desenvolvimento económico e sustentável;
 Motivar os trabalhadores na execução das tarefas, reduzindo
assim, os riscos.

4.4. Efeitos das Condições Físicas Na Saúde e Segurança

4.4.1. Doenças Infecciosas


A Saúde do Trabalhador

Algumas doenças profissionais têm sido reconhecidas ao longo dos


anos e afectam os trabalhadores de diferentes formas, dependendo da
natureza do perigo, da via de exposição, da dose, etc. Algumas doenças
profissionais conhecidas incluem:

 A Asbestose (provocada por partículas de amianto, muito


comuns em diversas utilizações de muitos equipamentos, quer
industriais, quer domésticos, como por exemplo: no isolamento,
nos revestimentos para travões de automóveis, etc.).
 A Silicose (provocada pela sílica, comum na actividade
mineira, jactos de areia, o envenenamento por chumbo, comum
nas fábricas de baterias, tintas, etc.).

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

 A Perda auditiva, induzida pelo ruído (provocada pelo ruído,


comum em muitos locais de trabalho, incluindo os aeroportos e
locais onde são utilizadas máquinas ruidosas, como prensas ou
brocas, etc.).

Existem também alguns problemas de saúde potencialmente


incapacitantes que podem ser associados a condições de trabalho
deficientes, tais como: Doenças cardíacas, distúrbios músculo-esqueléticos,
(tais como lesões lombares permanentes ou distúrbios musculares),
alergias, problemas do aparelho reprodutor, distúrbios relacionados com o
stress, entre outros.

4.4.2. Ruído Excessivo


Problemas que o ruido pode causar:

 Aumenta o risco de acidentes ao impedir que sinais de aviso


sejam ouvidos;
 Aumenta o risco de perda de audição por interacção com a
exposição a determinados químicos;
 Factor causal no stress relacionado com o trabalho;
 Efeito fisiológico relacionado ao sistema cardiovascular,
provocando a libertação de catecolaminas e o aumento da
pressão arterial. Os níveis de catecolaminas no sangue
(incluindo epinefrina – adrenalina), estão associados ao stress.

4.4.3. Ataques Físicos


Relacionados aos golpes acidentais a que o trabalhador está sujeito,
com os instrumentos ou equipamentos de trabalho, originando ferimentos
ou doenças muitas vezes graves.

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

4.4.4. Movimentos Repetitivos


Técnica de Trabalho

 Diminuir o número de movimentos repetitivos


 Alterar as tarefas, a fim de não permanecer com o corpo na
mesma posição por tempos prolongados durante o trabalho
 Usar o apoio para o teclado e para o mouse, de modos a
posicioná-los correctamente
 Ajustar e posicionar o monitor de forma que ao olhar para ele o
pescoço fique em posição recta.

4.4.5. Temperaturas Extremas (Calor e Frio)


O ser humano dispõe de mecanismos eficazes porque precisa
manter a temperatura interna do seu corpo, praticamente constante, entre
36ºC e 38ºC, mesmo em condições ambientais muito agressivas. Para
evitar que o calor recebido do ambiente e o produzido internamente devido
a actividade física realizada desestabilizem a temperatura corporal, o
organismo utiliza processos físicos e fisiológicos para dissipar o excesso de
calor.

Calor

A exposição prolongada ao calor excessivopode causar um aumento


de irritabilidade, fraqueza, depressão, ansiedade e incapacidade para
concentrar-se. Nos casos mais graves pode ocorrer alterações físicas, tais
como desidratação, erupção (vesículas roxas na área afectada da pele) e
cãibras (espasmos e dor nos músculos do abdómen e das extremidades).

Frio – lesões causadas

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

Hipotermia – Todo o corpo esfria até a uma temperatura


potencialmente perigosa. Atinge principalmente as pessoas muito idosas ou
muito jovens expostas ao ar frio (vento) ou imersão em água fria. Os
sintomas são graduais, ocorrendo movimentos lentos e desordenados,
confusão mental, alucinações, perda da consciência e morte por parada
cardíaca e respiratória.

Geladura (Congelamento parcial) – Partes da pele congelam,


sofrem lesões superficiais, mas não são lesadas de modo permanente. As
áreas congeladas da peleficam brancas e firmes e, em seguida, inchadas e
dolorosas. Posteriormente, a pele pode descamar, como ocorre nos casos
de queimadura solar.

Congelamento – Alguns tecidos do corpo são realmente destruídos.


As mãos e pés expostos são as partes mais vulneráveis. A lesão causada
pelo congelamento é consequência da diminuição do fluxo sanguíneo e da
formação de cristais de gelo nos tecidos. No congelamento a pele fica
hiperemiada (vermelha), demasiada inchada e dolorosa e em seguida,
preta. As células nas áreas congeladas morrem. Dependendo da extensão
do congelamento, o tecido afectado pode recuperar-se ou pode gangrenar.

4.4.6. Substâncias Tóxicas


São substâncias capazes de provocar a morte ou danos à saúde
humana se ingeridas, inaladas ou por contacto com a pele, mesmo em
pequenas quantidades.

As vias pelas quais os produtos químicos podem entrar em contacto


com o nosso organismo são três: inalação, absorçãocutânea e ingestão.
A inalação é a via mais rápida de entrada de substâncias para o interior do
nosso corpo e a mais comum. Já com relação a absorção cutânea,
podemos dizer que existem duas formas das substâncias tóxicas agirem. A
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Ética e Deontologia – Cursos Médios

primeira é como tóxico localizado, onde o produto em contacto com a pele


age na superfície, provocando uma irritação primária e localizada. E a
segunda forma é como tóxico generalizado, quando a substância tóxica
reage com as proteínas da pele, ou mesmo penetra através dela, atinge o
sangue e é distribuída para o nosso organismo, podendo atingir vários
órgãos.

4.5. A Segurança No Trabalho e a Legislação


Todos nós nos sentimos bem e seguros, trabalhando em ambientes
saudáveis manuseando equipamentos que nao acarretem riscos à nossa
saúde, às nossas vidas.

A Legislaçao Laboral, no seu artigo 85, nº 1, alíneas a), d), e), h) e i),
dispõe, respectivemente, o seguinte, no que respeita à Segurança e
Higiene no Trabalho:

 Tomar as medidas úteis necessárias que sejam adaptadas às


condiçoes de organizaçao de Empresa ou centro do trabalho,
para que este seja realizado em ambiente e condiçoes que
permitam o normal desenvolvimento físico, mental e social dos
trabalhadores e que protejam contra acidentes de trabalho e
doenças profissionais;
 Cuidar que nenhum trabalhaador seja exposto à acçao das
condiçoes ou agentes físicos, químicos, biológicos , ambientais
ou de qualquer outra natureza ou a pensos sem ser avisado
dos prejuízos que possam causar à saúde e dos meios de os
evitar;
 Fornecer aos trabalhadores roupas , calçados e equipamentos
de protecçao individual quando seja necessário, para prevenir,
na medida em que seja razoavel, os riscos de acidentes ou de

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

efeitos prejudiciais para a saúde, impedindo o acesso ao posto


de trabalho dos trabalhadores que se apresentem sem o
equipamento de protecção individual;
 Aplicar medidas disciplinares adequadas aos trabalhadores
que violem culposamente e de forma indesculpavel as regras e
instruções sobre a segurança e higiene no trabalho;
 Cumprir todas as demais disposições legais sobre segurança,
higiene e saúde no trabalho que lhe sejam aplicáveis, bem
como as determinações legítimas de Inspecção Geral do
Trabalho e demais autoridades competentes.

Particularizando esta questão no quadro das obrigações dos


empregadores, as autoridades hospitalares devem providenciar, nos
serviços de Radiologia/Imagiologia, em benefício dos Técnicos, estas
mesmas condições, com maior relevo:

CAPÍTULO V - DIREITOS E OBRIGAÇÕES EM GERAL

5.1. Declaração Universal Dos Direitos Do Homem


Preambulo

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos


os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis
constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo;

Considerando que o desconhecimento e o desprezo dos direito do


homem conduziram a actos de barbárie que revoltam a consciência da
Humanidade e que o advento de um mundo em que os seres humanos
sejam livres de falar e de crer, libertos do terror e da miséria, foi proclamado
como a mais alta inspiração do homem;
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Ética e Deontologia – Cursos Médios

Considerando que é essencial a protecção dos direitos do homem


através de um regime de direito, para que o homem não seja compelido,
em supremo recurso, à revolta contra a tirania e a opressão;

Considerando que é essencial encorajar o desenvolvimento de


relações amistosas entre as nações;

Considerando que, na Carta, os povos das Nações Unidas


proclamam, de novo, a sua fé nos direitos fundamentais do homem, na
dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos
homens e das mulheres e se declaram resolvidos a favorecer o progresso
social e a instaurar melhores condições de vida dentro de uma liberdade
mais ampla;

Considerando que os Estados membros se comprometeram a


promover, em cooperação com a Organização das Nações Unidas, o
respeito universal e efectivo dos direitos do homem e das liberdades
fundamentais;

Considerando que uma concepção comum destes direitos e


liberdades é da mais alta importância para dar plena satisfação a tal
compromisso:

A Assembleia GeralProclama a presente Declaração Universal dos


Direitos do Homem comoideal comum a atingir por todos os povos e todas
as nações, a fim de que todos osindivíduos e todos os órgãos da
sociedade, tendo-a constantemente no espírito, seesforcem, pelo ensino e
pela educação, por desenvolver o respeito desses direitos eliberdades e
por promover, por medidas progressivas de ordem nacional einternacional,
o seu reconhecimento e a sua aplicação universais e efectivos tantoentre
as populações dos próprios Estados membros como entre as dos
territórioscolocados sob a sua jurisdição.

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

Artigo 1.º

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em


direitos.Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os
outros em espíritode fraternidade.

Artigo 2.º

Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as


liberdadesproclamados na presente Declaração, sem distinção alguma,
nomeadamente deraça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião
política ou outra, de origemnacional ou social, de fortuna, de nascimento ou
de qualquer outra situação. Alémdisso, não será feita nenhuma distinção
fundada no estatuto político, jurídico ouinternacional do país ou do território
da naturalidade da pessoa, seja esse país outerritório independente, sob
tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação desoberania.

Artigo 3.º

Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança


pessoal.

Artigo 4.º

Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura


e otrato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos.

Artigo 5.º

Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos


cruéis,desumanos ou degradantes.

Artigo 6.º

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento em todos os


lugares dasua personalidade jurídica.

Artigo 7.º

Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual
protecçãoda lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer
discriminação que viole apresente Declaração e contra qualquer
incitamento a tal discriminação.

Artigo 8.º

Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições


nacionaiscompetentes contra os actos que violem os direitos fundamentais
reconhecidos pelaConstituição ou pela lei.

Artigo 9.º

Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo 10.º

Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa


sejaequitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e
imparcial quedecida dos seus direitos e obrigações ou das razões de
qualquer acusação emmatéria penal que contra ela seja deduzida.

Artigo 11.º

1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se


inocente até que asua culpabilidade fique legalmente provada no decurso
de um processopúblico em que todas as garantias necessárias de defesa
lhe sejamasseguradas.

2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no


momento da suaprática, não constituíam acto delituoso à face do direito

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

interno ouinternacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais


grave do que aque era aplicável no momento em que o acto delituoso foi
cometido.

Artigo 12.º

Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua


família,no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua
honra e reputação.

Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a


protecção da lei.

Artigo 13.º

1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a


suaresidência no interior de um Estado.

2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se


encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país.

Artigo 14.º

1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e


de beneficiar de asilo em outros países.

2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo


realmente existente por crime de direito comum ou por actividades
contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas.

Artigo 15.º

1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade.

2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade


nem do direito de mudar de nacionalidade.

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

Artigo 16.º

1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar


e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou
religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm
direitos iguais.

2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno


consentimento dos futuros esposos.

3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem


direito à protecção desta e do Estado.

Artigo 17.º

1. Toda a pessoa, individual ou colectiva, tem direito à propriedade.

2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade.

Artigo 18.º

Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de


consciência e dereligião; este direito implica a liberdade de mudar de
religião ou de convicção, assimcomo a liberdade de manifestar a religião ou
convicção, sozinho ou em comum,tanto em público como em privado, pelo
ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.

Artigo 19.º

Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o


queimplica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de
procurar, receber edifundir, sem consideração de fronteiras, informações e
ideias por qualquer meio deexpressão.

Artigo 20.º

Compilação do Prof. Silvestre Domingos – EFTS L. e o prof. Bernardo Gomes – I.T.S-BPágina


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Ética e Deontologia – Cursos Médios

1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação


pacíficas.

2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo 21.º

1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos


negócios públicos do seu país, quer directamente, quer por intermédio
derepresentantes livremente escolhidos.

2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade,


às funções públicas do seu país.

3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes


públicos; edeve exprimir-se através de eleições honestas a realizar
periodicamente porsufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo
processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto.

Artigo 22.º

Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança


social;e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos,
sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à
cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de
cada país.

Artigo 23.º

1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho,


acondições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o
desemprego.

Compilação do Prof. Silvestre Domingos – EFTS L. e o prof. Bernardo Gomes – I.T.S-BPágina


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Ética e Deontologia – Cursos Médios

2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por


trabalho igual.

3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e


satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a
dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios
de protecção social.

4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas


sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses.

Artigo 24.º

Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres e,


especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e a férias
periódicas pagas.

Artigo 25.º

1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe


assegurar eà sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à
alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda
quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no
desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros
casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes
da sua vontade.

2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência


especiais.

Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimónio, gozam da


mesma protecção social.

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

Artigo 26.º

1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser


gratuita, pelomenos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O
ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional deve ser
generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos
emplena igualdade, em função do seu mérito.

2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade


humana e ao reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais
e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as
nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o
desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção
da paz.

3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de


educação adar aos filhos

Artigo 27.º

1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida


cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso
científico e nos benefícios que deste resultam.

2. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais


ligados aqualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria.

Artigo 28.º

Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano


internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos
e as liberdades enunciadas na presente Declaração.

Artigo 29.º

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não


é possívelo livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade.

2. No exercício deste direito e no gozo destas liberdades ninguém


está sujeitos e não às limitações estabelecidas pela lei com vista
exclusivamente apromover o reconhecimento e o respeito dos direitos e
liberdades dos outrose a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da
ordem pública e dobem-estar numa sociedade democrática.

3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos


contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas.

Artigo 30.º

Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada


demaneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o
direito de se entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto
destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.

5.2. Direitos e Deveres Fundamentais Do Homem


Na linguagem corrente, fala-se principalmente em direitos do homem.
E não é por acaso que isso sucede: não apenas porque da Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 à Declaração Universal dos
Direitos do Homem se desenvolve o percurso decisivo na aquisição jurídica
dos direitos fundamentais como porque a expressão traduz bem a ideia de
direitos do homem, só por ser homem, e direitos que, por isso mesmo, são
comuns a todos os homens.

Todavia, apesar da constante referência de direitos fundamentais a


direitos do homem (e vice-versa), contra a adopção deste termo em Direito
constitucional milita o que acabámos de dizer acerca dos direitos
fundamentais em sentido material.
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Ética e Deontologia – Cursos Médios

Para lá de qualquer profissão de fé nos direitos do homem, do que se


cura aqui é de direitos assentes na ordem jurídica, e não de direitos
derivados da natureza do homem e que subsistam sem embargo de
negação ou de esquecimento da lei. Que a ordem jurídica não seja ou não
deva ser apenas a dos preceitos positivos, não se discute; mas tem de ser
sempre através de normas positivas, ainda que de Direito natural positivado
— como são tantas das Constituições e da Declaração Universal — que
tais direitos têm de ser captados e estudados.

Repetimos: os direitos fundamentais, ou pelo menos os


imediatamente conexos com a dignidade da pessoa humana, radicam no
Direito natural (ou, se se preferir, em valores éticos superiores ou na
consciência jurídica comunitária), de tal sorte que devem ser tidos como
limites transcendentes do próprio poder constituinte material (originário)e
como princípios axiológicos fundamentais. Não se esgotam, porém, no
Direito natural.

Nestas condições, embora já usada no século XIX, a locução


«direitos fundamentais» tem vindo, desde a Constituição de Weimar de
1919, a generalizar-se nos textos constitucionais e na doutrina.

Explicam esse fenómeno não só o enlace entre direito e Constituição


mas também outras razões: a ligação a outras figuras subjectivas e
objectivas, a consideração do «homem situado» e o aparecimento do
direito das pessoas colectivas e até de grupos não personalizados.

Já em Direito Internacional, tende a prevalecer o termo direitos do


homem— ou o termo protecção internacional dos direitos do homem — em
parte por, assim, ficar mais clara a atinência dos direitos aos indivíduos, e
não aos Estados ou a outras entidades internacionais, e em parte por ser
menos extenso o desenvolvimento alcançado e procurar-se um «mínimo
ético» universal ou para-universal.

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

5.2.1. Princípios De Vida Pública

5.2.1.1. Direito à Vida


É um princípio defendido por todos os ordenamentos jurídicos,
porquanto, outros direitos serão concretizados a partir deste. Só um vivo
poderá usufruir de outros direitos. Alguns autores chamam-no de «direito
de permanecer vivo».

A vida é um dos direitos fundamentais de todo ser Humano. Está


consagrado no art.º 12º, da Declaração Universal dos Direitos Humanos.No
nosso ordenamento jurídico o Direito à vida está consagrado no art.º 30º,
da Constituição da República de Angola (CRA), sendo o Estado o garante
da vida da pessoa humana.

O Direito à vida cessa com a Pena de Morte e com o aborto, quando


o ordenamento o permita.

5.2.1.2. Direito à Liberdade


É com o cristianismo que todos os seres humanos, só por o serem e
sem acepção de condições, são considerados pessoas dotadas de um
eminente valor. Criados à imagem e semelhança de Deus, todos têm uma
liberdade irrenunciável que nenhuma sujeição política ou social pode
destruir.

«Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus»


(Evangelho segundo S. Mateus: 22, 21).

«Bem-aventurados vós os pobres, porque vosso é o reino de Deus.


Bem-aventurados vós que agora tendes fome, porque sereis saciados»
(Evangelho segundo S. Lucas: 6, 20 e 21).

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

«Levantou-se entre eles uma disputa sobre qual deles devia ser
considerado o maior. Jesus disse-lhes: «Os reis das nações fazem sentir o
seu domínio sobre elas e os que exercem autoridade tomam o nome de
benfeitores. Entre vós não seja assim: quem quiser ser o maior entre vós
seja como o mais pequeno; e aquele que manda seja como o que serve…
Eu estou no meio de vós como o que serve» (ibidem: 22, 24 a 27).

«O Senhor é espírito e onde está o Espírito do Senhor há liberdade»


(2.ª Epístola aos Coríntios: 3, 17).

«Não há judeu, nem grego, não há escravo nem homem livre, não há
homem nem mulher: todos vós sois um só em Cristo» (Epístola aos
Gálatas: 3, 26).

«Vós, Irmãos, fostes chamados à liberdade; convém somente que


não façais desta liberdade um pretexto para viver segundo a carne, mas
servi-vos uns aos outros pela caridade do Espírito» (Epístolaaos Gálatas: 5,
13).

«Não há poder que não venha de Deus» (Romanos: 13, 1).

«Velai e procedei como pessoas que devem ser julgadas segundo a


lei da liberdade. Porque será julgado sem misericórdia aquele que não usar
de misericórdia. A misericórdia triunfará do juiz» (Epístola de S. Tiago: 2,
12, 13).

A liberdade é, essencialmente, a liberdade interior, espiritual, dos


filhos de Deus. Não é a liberdade política — que não teria sentido no
contexto em que o Cristianismo se difundiu, primeiro no meio adverso do
Império Romano pagão, depois no cesaropapismo constantiniano e
bizantino, a seguir na insegurança provocada pelas invasões bárbaras e,
por último, na nova sociedade homogénea, a Cristandade ocidental,
resultante da reconstrução e da fusão dos elementoslatinos e germânicos.

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

Liberdade e Responsabilidade

Trata-se da liberdade de eleição (escolher) e de tomar decisões. Tem


limites na verdade (fazer e agir sempre em verdade, a verdade que liberta);
na lei (lei que encaminha a liberdade, liberdade em fazer o que é justo); no
Bem Comum (conjunto de condições materiais e espirituais que ajudam na
perfeição do homem, quer como indivíduo, quer como comunidade – só
somos bem quando a nossa existência beneficia o próximo).

Liberdade responsável significa comprometer o homem para agir de


forma responsável, de modo racional.

O art.º 36º, nº 1 e 2 da CRA, consagra o Direito à liberdade.

5.2.1.3. Direito à Saúde e a Assistência à Saúde


A Ética contemporânea não se coloca contrária ao desenvolvimento
técnico-científico, mas considera que os limites a serem estabelecidos
devem ser dados pela garantia do respeito à dignidade humana,
transformada em valores essenciais para a coesão social.

Todo o ser humano, quando na posição do paciente deve ser tratado


de acordo com as suas necessidades de saúde e não como um meio para
a satisfação de interesses de terceiros, da ciência, dos profissionais de
saúde ou de interesses industriais e comerciais. A Assembleia Geral das
Nações Unidas reconheceu a saúde como sendo um direito de todo ser
humano, em Dezembro de 1966. Portanto, a saúde é um direito de todos e
dever do Estado, que deve implementar políticas económicas e sociais que
viabilizem esse direito por meio de acções de promoção, protecção,
recuperação e reabilitação da saúde. O Direito à Saúde é igual em todo o
mundo.

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

O paciente tem direito a uma assistência de saúde de qualidade,


sem riscos:

 Direito a um atendimento humano, atencioso e respeitoso por


parte dos profissionais de saúde;
 Direito de ser identificado pelo seu nome e não da doença que
sofre;
 Direito de ser esclarecido sobre os objectivos dos
procedimentos a ele propostos, diagnóstico e terapêutica;
 Direito de recusar ou receber assistência psicológica, social ou
religiosa;
 Direito de ser informado sobre a natureza dos procedimentos, a
duração do tratamento, benefícios prováveis, desconfortos
físicos, psíquicos, económicos e sociais que podem surgir;
 Direito à segurança e à integridade física nos estabelecimentos
de saúde, privados e estatais. Além destes direitos destacam-
se o de decidir sobre a sua saúde, o da reclamação, a
privacidade e confidencialidade das informações.

O direito à saúde está consagrado no art. 77º da CRA, sendo que o


Estado é chamado a criar condições necessárias para que todos
tenhamos a assistência médica e sanitária.

5.2.1.4. Direito à Informação


A informação é a base da fundamentação das decisões autónomas
do paciente, necessária para que ele possa recusar ou consentir as
medidas ou procedimentos de saúde a ele propostos. A informação gerida
nas relações entre os profissionais da saúde e seus pacientes constitui um
direito legal e moral destes últimos. Os profissionais de saúde ao passarem
as informações não têm necessariamente que utilizarem termos técnico-

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

científicos. É necessário que sejam simples, aproximativos, inteligíveis,


leais e respeitosos, ou seja, as informações devem ser fornecidas dentro
dos padrões acessíveis à compreensão intelectual e cultural do paciente,
porque quando indevidas e mal organizadas está-se perante uma
desinformação.

5.2.1.5. Direito à Verdade


Existem correntes éticos que se orientam pelo dever e não aceitam a
validação das consequências dos actos na tomada das decisões éticas.
Consideram que todas as pessoas têm direito à informação, não podendo
ser enganadas, respeitando sua autonomia. Entendem que falar a verdade
é sempre uma obrigação ética do profissional de saúde,
independentemente das consequências da informação revelada.

Os utilistas consideram que em certas circunstâncias a informação


deve ser oculta, pois esta conduta terá consequências mais positivas e
maiores benefícios. As informações a serem fornecidas pelos profissionais
de saúde ao paciente devem ser qualitativas e não conter factos que
possam deteriorar o estado físico e psíquico do mesmo, afectando a sua
tomada de decisões. A ética reprova amentira em algumas situações e
defende em outras, dependendo dos resultados que a mentira/verdade
possam acarretar.

A verdade pode aliviar a angústia e ansiedade sentida pelas pessoas


quando desconhecem os motivos dos sinais e sintomas que possuem.

A pessoa autónoma também tem direito de “não ser informada”. Ser


informado é um direito e não uma obrigação para o paciente. Ele tem direito
de recusar a informação. Nestes casos, os profissionais de saúde devem
questionar sobre quais parentes ou amigos quer que sirvam como canais
das informações.
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5.2.1.6. Direito à Privacidade


Consagrado no art.º 32º da CRA, a privacidade é um princípio
derivado da autonomia e engloba a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas. A privacidade de uma pessoa requer a observância
da confidencialidade das suas informações. Cabe aos profissionais de
saúde estabelecerem condições favoráveis para que o paciente possa
decidir quais as informações que deseja manter sob o seu controlo e as
que deseja comunicar à família, colegas ou a sociedade; decidir quando,
onde e em que condições quer que sejam reveladas. O ser humano tem
liberdade de guardar para si factos pessoais que não deseja que sejam
revelados a outras pessoas.

5.3. O Segredo Profissional


A vida humana implica em inter-relação. Ao viver em sociedade as
pessoas necessitam umas das outras, o que caracteriza a própria essência
do processo social. As regras implícitas e explícitas que organizam esse
processo definem tanto a posição dos interlocutores quanto aquilo que se
espera de cada indivíduo. São definidos os comportamentos esperados
entre pais e filhos, nas diferentes etapas da vida de cada um, de
subalternos e superiores, na relação profissional e nas expectativas entre
governantes e governados na esfera pública.

Na área da saúde, o fenómeno se manifesta no contacto diário entre


profissional e paciente. Diferentemente do que ocorre em outras relações
sociais, objectiva um resultado: a cura. Este processo é ancorado na troca
de informações, conselhos e cuidados de saúde entre os profissionais e
pacientes, considerando as dimensões mental, física e espiritual.

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No intento de que a relação cumpra seu objectivo, o profissional


deve, com base em seu conhecimento, colocar-se à disposição do paciente
com vistas a ajudá-lo a discernir o caminho para promover, prevenir ou
recuperar os agravos ou distúrbios de saúde que o incomodam. Este, por
sua vez, procura o profissional para usufruir de seu conhecimento e obter
conforto pessoal ou familiar, bem como definir o tratamento efectivo para os
problemas de saúde que o aflijam.

Para que desse relacionamento surta o efeito esperado, é importante


que o paciente franqueie ao profissional detalhes sobre sua vida e rotinas,
a fim de que este possa entender a natureza e a causa do problema, ou
seja, que elabore o diagnóstico. Nesse processo, surgem revelações de
factos, muitas vezes, de carácter íntimo, que os confidentes não pretendem
que sejam revelados. Trata-se de um princípio natural de confiança,
respeito e dignidade que o confidente transfere para o confiado. Na maioria
dos casos, esses factos não apresentam maior relevância social ou
pessoal. Entretanto, existem aqueles que necessitam ser mantidos em
absoluto sigilo, pois sua revelação poderá causar sérios danos ou prejuízos
materiais ou morais. Por essas razões, tutela-se a liberdade individual
relacionada à inviolabilidade dos segredos, no que tange à oferta de
serviços de saúde.

A questão referente ao sigilo profissional e confidencialidade de


informações dos usuários do serviço de saúde é de fundamental
importância para uma adequada assistência. O que requer dos
profissionais envolvidos (médicos, enfermeiros, dentistas, técnicos
administrativos, entre outros) formação idónea para lidar com os aspectos
directamente ligados ao resguardo de informações e dados do paciente.

Diversos instrumentos abordam o tema, como, por exemplo:

 Código Penal,

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 Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem,


 Código de Ética dos Profissionais de Radiologia,
 Código de Ética dos Profissionais de Farmácia,
 Código de Ética dos Profissionais de Odontologia,
 Código de Ética Médica, etc.

Estes possuem normas específicas para o tema do segredo


profissional, estabelecendo direitos e deveres dos profissionais em diversas
situações e contextos.

5.3.1. O Segredo Profissional e Sua Importância Na Prática Da


Saúde
É de extrema importância manter segredo das informações do
cliente, nas situações adequadas, e preservar sua privacidade, o que
remete a questões de ética e moral, bem como aspectos relacionados à
humanização dos serviços. Deve-se considerar que, se tratando de
privacidade, não importa a cor, sexo ou orientação sexual do paciente. É
um aspecto que deve contemplar, inclusive, a dimensão etária,
estendendo-se desde os recém-nascidos até as pessoas idosas.

Na sociedade actual, há um conjunto muito vasto de informações a


respeito dos indivíduos e das instituições para viabilizar o atendimento aos
pacientes, planejar a alocação de recursos e a gestão de serviços de
saúde, entre outras funções. Diante de tantas informações, obtidas das
mais diversas formas, ampliam-se as possibilidades e os riscos do uso
indevido e de quebra de privacidade de indivíduos e, mesmo, de
instituições.

Discutir esses aspectos direccionando as abordagens para a área de


saúde é de significativa relevância, pois esses profissionais lidam
directamente com essas questões na maior parte do seu tempo. Ainda mais
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Ética e Deontologia – Cursos Médios

considerando-se que estes profissionais estão em constante contacto com


o usuário, sendo responsáveis por atender grande parte das suas
necessidades e, portanto, constituindo parte indispensável para uma
assistência de qualidade.

A privacidade consiste no conjunto de informações sobre uma


pessoa, que pode decidir mantê-las sob seu exclusivo controlo ou
comunicá-las, decidindo em que medida e a quem, quando, onde e em que
condições o outro poderá acessá-las. Por sua vez, a confidencialidade se
relaciona com a garantia (no sentido de confiança) de que as informações
prestadas não serão reveladas sem prévia autorização da pessoa que as
confiou. A privacidade das informações é um direito dos usuários dos
serviços de saúde, ao mesmo tempo em que a confidencialidade é um
dever dos profissionais em relação às informações geradas e confiadas na
relação profissional-paciente.

O segredo profissional adquiriu fundamentação mais rigorosa ao ser


centralizado na necessidade e direito do cidadão à intimidade, passando a
ser entendido como confidencialidade. Esta dupla natureza do conceito de
segredo profissional transforma-o num direito-dever, à medida que,
sendodireito do paciente, gera uma obrigação específica aos profissionais
de saúde.

Qualquer informação fornecida por pacientes na ocasião de seu


atendimento no hospital, posto de saúde ou consultórios privados, bem
como as provenientes de resultados de exames e procedimentos realizados
com finalidade diagnóstica ou terapêutica são de sua exclusiva
propriedade.

Mas nem sempre isso foi assim interpretado.

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

Houve, durante muito tempo, a percepção de que tais informações


pertenciam ao médico ou à instituição de saúde. Daí decorrem as
denominações “prontuário médico” e “arquivo médico”, até hoje comumente
encontradas. Na verdade, os trabalhadores de saúde e as instituições são
apenas depositários dessas informações, o que traduz a necessidade de
actualizar a forma como são tratadas as informações do usuário. O que
justifica o acesso às informações contidas no prontuário é a necessidade
profissional, e qualquer um que delas faça uso não tem o direito de utilizá-
las livremente, o que traduz um direito ao acesso somente às informações
que efectivamente contribuam para o atendimento do paciente.

O profissional de saúde, no seu contacto diário com pacientes,


familiares e funcionários, depara-se com informações que não pode revelar
e outras que pode ou mesmo deve revelar. Mas como saber o que revelar
ou não? E a quem? São questões levantadas principalmente considerando-
se que esse assunto diz respeito a aspectos humanos, jurídicos e
deontológicos. O segredo fundamenta-se na confiança, na confidência e na
justiça. E ao se guardar ou revelar um segredo indevidamente, respeita-se
ou desrespeita-se a justiça, tendo em vista que a informação pertence ao
usuário do serviço.

Portanto, em qualquer especialidade da atenção à saúde é


importante reflectir sobre as implicações éticas da relação terapêutica,
considerando se os pacientes estão sendo respeitados em relação à
confidencialidade das informações obtidas durante o atendimento.

O dever ético e legal dos profissionais de saúde tem origem


justamente na garantia da privacidade e confidencialidade das informações
dos pacientes, mantendo, desse modo, o sigilo das informações.

O segredo profissional no trabalho de assistência à saúde é


evidenciado no pensamento hipocrático, que afirmava: «As coisas que eu

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

verei ou ouvirei dizer no exercício da minha arte, ou fora de minhas


funções, no comércio dos homens, e que não deverão ser divulgadas, eu
calarei, percebendo-as como segredos invioláveis».

5.3.2. Segredo Profissional Versus Sigilo Profissional


A definição dicionarizada dos termos sigilo e segredo é mutuamente
referente, sendo cada uma destas palavras remetida a outra para a
definição de significado. Entretanto, muitas vezes esses termos são
utilizados de forma inadequada. A palavra “segredo” pode significar
simplesmente ocultação ou preservação de informações, as quais dizem
respeito à intimidade da pessoa e, nessa condição, devem ser mantidas e
preservadas de forma idónea.

A denominação “sigilo” tem sido cada vez menos utilizada e seu uso
nos diferentes idiomas está relacionado a aspectos de ocultação, sendo por
isso menos utilizada no sentido de preservação de informações.

Na área da saúde, a diferenciação mais actual entre segredo e


sigilo profissional consiste em definir segredo como tudo aquilo que não
pode ser revelado, enquanto sigilo seria característico das relações de
confiança, haja vista que as profissões desta área se estruturam
essencialmente nessa prerrogativa. Poder-se-ia então dizer que o sigilo
profissional é relativo ao atendimento por profissionais da área da saúde e
o segredo profissional diz respeito àqueles profissionais de outra
formação que trabalham em instituições de saúde e, portanto, têm acesso a
informações de pacientes – por exemplo, as pessoas que ocupam funções
administrativas nos serviços de saúde.

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A manutenção do segredo profissional deve ser o comportamento


adoptado pela totalidade dos envolvidos em práticas sanitárias, não sendo
exclusivo daqueles que executam as actividades-fim da área, como
dentistas, enfermeiros, médicos, psicólogos, psicanalistas, fonoaudiólogos,
fisioterapeutas, entre outros. É uma obrigação ético-legal concernente a
todos os que atuam nos serviços de saúde, estendendo-se ao corpo
técnico-administrativo, mesmo àqueles cujas profissões não estejam sob
controle de normas deontológicas ou de conselhos de ética profissional.

O carácter sigiloso das informações deve ser observado tanto em


comunicações orais quanto escritas com os profissionais, com a imprensa
ou mesmo com autoridades; o sigilo aplica-se, dessa forma, em cartas,
divulgações à imprensa, boletins médicos, discussões de casos,
conferências e congressos com exibição de imagens, fotografias,
radiografias – e nas perícias e auditorias.

5.3.3. Tipos De Segredo e Conteúdos


Existem vários tipos de segredos, mas podemos dividi-los em dois
principais: Segredo Natural e Segredo Profissional.

Segredo Natural – Abrange o que se vem a conhecer sem estar no


exercício de uma profissão.

Segredo Profissional - É o que se vem a saber exercendo uma


actividade profissional.

Cada profissão, por exemplo a de um médico, um advogado, um


sacerdote, possui o seu conteúdo específico frente ao segredo.

Para o Técnico de saúde o conteúdo do segredo é tudo o que se


refere ao paciente, a família, aos funcionários sob seu comando, ao
hospital e seu campo de actividade. Tudo o que se refere ao paciente está
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Ética e Deontologia – Cursos Médios

contido no seu prontuário (diagnóstico, resultados dos exames, prescrições,


assuntos particulares, etc.).

Problemas dos familiares também sabidos no exercício da profissão,


igualmente fazem parte do segredo, assim como os problemas dos
funcionários e da instituição onde trabalha.

Segredo profissional: manter ou revelar?

A manutenção do segredo está vinculada tanto à questão da


privacidade quanto da confidencialidade. Tratando-se de privacidade, o
profissional tem o dever de guardar as informações que teve contacto e
preservar o paciente, o que se traduz até mesmo num dever institucional.
Já a confidencialidade pressupõe que o usuário repasse as informações
directamente ao profissional, sendo este responsável pela preservação das
mesmas.

A palavra “confidencialidade” tem origem no termo “confiança”,


condição fundamental para o bom relacionamento terapêutico. O usuário
confia que o profissional de saúde preservará tudo o que lhe for dito, tanto
que, muitas vezes, até mesmo as pessoas que lhes são mais próximas não
têm conhecimento dessas informações.

5.3.4. Formas de Possível Revelação Do Segredo Profissional


O segredo profissional é passível de ser revelado de forma directa
ou indirecta. Diz-se que a revelação é directa quando são publicados o
conteúdo e o nome da pessoa a quem pertence o segredo; e indirecta se
forem oferecidos indicativos para o conhecimento do segredo e
identificação do seu dono.

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

O direito à privacidade e à confidencialidade dos dados não é


considerado absoluto, tanto ética quanto legalmente.

5.3.5. Quebra Do Segredo Profissional


A quebra do sigilo pode acontecer devido ao próprio consentimento
do paciente ou de seu representante legal, por dever legal ou mesmo pela
existência de uma “justa causa”.

A legislação prevê as situações nas quais o segredo deve ser


revelado. Dentre estas:

1) Quando se tratar de uma declaração de nascimento;


2) Evitar um casamento, nos casos em que patologias possam
pôr em risco um dos cônjuges ou a prole;
3) Na declaração de doenças de notificação compulsória;
4) Facto delituoso previsto em lei;
5) Caso de sevícias de menores;
6) Conhecimento de abortadores profissionais;
7) Nas perícias médico-legais e nos registos de livros
hospitalares.

Pode-se revelar o segredo, ainda, quando o dono permite; quando o


bem de terceiros o exige; quando o bem do depositário oexige ou quando o
bem comum o exige.

Fica nítido, portanto, que a quebra do sigilo pelo profissional pode


ocorrer sob o amparo da legislação em situações onde haja justa causa,
como aquelas compatíveis com a gravidade da informação. Alinha-se neste
pressuposto a notificação à autoridade competente sobre a existência de
doenças ou situações de informação compulsória; maus tractos em
crianças ou adolescentes, abuso de cônjuge ou idoso e ferimento por arma

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Ética e Deontologia – Cursos Médios

de fogo ou outro tipo de arma, quando se suspeita que a lesão tenha


ocorrido em função de acto criminoso.

A legislação estende a confidencialidade aos casos em que o


profissional é intimado a testemunhar em corte judicial. Mesmo nestas
circunstâncias, ele deve declarar-se impedido de revelar qualquer
informação, pois está eticamente comprometido com seu resguardo. No
entanto, existem situações em que um juiz pode assumir a
responsabilidade e requerer a revelação das informações, mesmo que isso
contrarie o que estabelece o código de ética profissional, desde que tal fato
fique claramente registado nos autos do processo, o que caracteriza uma
excepção e não a mera quebra da confidencialidade. Esse caminho pode
corresponder aos aspectos legais do ato de revelar informações
caracterizadas como confidenciais, mas não contempla plenamente os
aspectos morais e éticos envolvidos.

Ocultar um facto de que se tem conhecimento, mas que deveria ser


revelado, pode igualmente infringir a Justiça e o direito comunitário. Por
exemplo, quando um cliente revela a um profissional de saúde que possui
doença contagiosa de notificação compulsória, tal segredo não deve ser
mantido, pois coloca em risco a saúde da comunidade. Perante situações
como essa, evidencia-se a importância de conhecer as determinações
legais para saber avaliar quando é preciso revelar ou guardar um segredo.

Todas as situações que envolvem o segredo profissional devem ser


enfrentadas com sabedoria, considerando-se tanto as previsões legais
quanto os princípios formais e informais que regem as relações pautadas
na confiança. É fundamental reconhecer a dignidade das pessoas,
independentemente de sua idade, sexo ou capacidade, pois todas

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merecem respeito e cuidado, incluindo-se neste o resguardo das


informações a elas pertinentes.

Sobressai-se, assim, o respeito ao paciente em todos os aspectos,


sobretudo àqueles relacionados às informações prestadas e a seus dados
pessoais, inerentes a sua história de vida e definição como pessoa em
sociedade.

5.3.6. Considerações Finais


Fica patente a importância de se considerar a problemática relativa à
questão do segredo e sigilo profissional, para o aprimoramento dos
serviços de saúde. Constata-se que há obrigação dos profissionais e
serviços de saúde adoptarem medidas para minimizar as violações dos
princípios éticos e garantir o carácter sigiloso das informações, sendo tal
obrigação invariável, ou seja, aplica-se tanto a serviços públicos como
privados, em âmbito ambulatorial ou hospitalar, em convénios ou serviços
gratuitos. Portanto, os profissionais de saúde precisam ter sempre em
mente que só têm autorização para acessar as informações sobre os
pacientes em decorrência de sua função laboral, em trabalho clínico ou
administrativo. Mesmo considerando que a manutenção da
confidencialidade não é absoluta, precisam estar cientes de que só é
legalmente permitida em situações particulares.

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