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DISCIPLINA: Literatura | PROFESSOR(A): Paulo Bittencourt

Questão 1 (Inédita/Autoral: Paulo Bittencourt)


Cartas Chilenas
[...]
O povo, Doroteu, é como as moscas
Que correm ao lugar, aonde sentem
O derramado mel, é semelhante
Aos corvos e aos abutres, que se ajuntam
Nos ermos, onde fede a carne podre.
À vista, pois, dos fatos, que executa
O nosso grande chefe, decisivos
Da piedade que finge, a louca gente
De toda a parte corre a ver se encontra
Algum pequeno alivio à sombra dele.
Não viste, Doroteu, quando arrebenta
Ao pé de alguma ermida a fonte santa,
Que a fama logo corre e todo o povo
Concebe que ela cura as graves queixas.
Pois desta sorte entende o néscio vulgo
Que o nosso general lugar-tenente,
Em todos os delitos e demandas,
Pode de absolvição lavrar sentenças.
Não há livre, não há, não há cativo
Que ao nosso Santiago não concorra.
Todos buscam ao chefe e todos querem,
Para serem bem vistos, revestir-se
Do triste privilégio de mendigos. [...]
GONZAGA, Tomás Antonio. Cartas Chilenas. Ed. Matrin Claret, 2012.
O trecho acima faz parte de uma obra do poeta e inconfidente Tomás Antonio Gonzaga,
representante do movimento neoclássico no Brasil. Acerca do poema destacado, é possível
afirmar que ocorre a prevalência de um estilo que
a) baseia-se na idealização de locais amenos para se viver uma vida tranquila, sem luxo e
sem carências.
b) faz referência a um local da mitologia regido por uma ideia de natureza exuberante,
favorável à contemplação e à reflexão poética.
c) tem como princípio fundamental uma devoção ao momento presente e aos prazeres de
uma vida campesina e simples.
d) se relaciona intimamente com a história brasileira, mais particularmente o movimento
da Inconfidência Mineira, a partir de uma visão nacionalista crítica e independentista.
e) a partir do uso de pseudônimos, confere ao texto uma visão problematizadora dos
aspectos políticos e da má administração pública.
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Questão 2 (Inédita/Autoral: Paulo Bittencourt)


Vila Rica

Por muitos anos sei como ignorada


Foi aos humanos esta Serra: agora
A têm tentado alguns e nela mora
Um corpo de Europeus, a quem oculto
Tenho ainda os tesouros que sepulto.
Permite o Céu que sejas o primeiro,
A quem eu patenteie por inteiro
Todo o segredo das riquezas minhas.
Já desde quando no projeto vinhas
De encontrar as preciosas esmeraldas,
Eu te esperava deste monte às faldas.
[...]
Com o louro metal, geral o fruto,
O nome de Gerais por atributo
Estas Minas terão; vês os diamantes:
Eles vêm de outras serras mais distantes,
Mas tudo corre a encher os meus tesouros;
Hão de brilhar os séculos vindouros
Com esta fina pedra; em abundância
Vencerão os que vêm de outra distância;
[E do Indo será menor a glória,]
Quando vir apagar sua memória,
Nas terras onde o Sol iguala o dia,
Do meu Jequitinhonha, a onda fria.
Sobre grossos canais ao alto erguidas
As correntes do Rio, e divertidas
Da margem natural, darão entrada
À industriosa mão, que já rasgada
Uma penha, e mais outra, faz que a terra
Descubra aos homens o valor que encerra.
COSTA, Cláudio Manuel da. Vila Rica. RJ: Ed. Nova Aguilar, 1996.
Sobre o excerto do poema Vila Rica, publicado por Cláudio Manuel da Costa em 1773, é correto
afirmar que ele
a) evoca um sentimento nostálgico, pautado pelo saudosismo a uma terra à qual o poeta
nunca pertenceu, pois que idealizada pelos ideais neoclássicos.
b) carrega um sentimento melancólico do eu-lírico, na medida em que não há identificação
do sujeito com a terra e com a pátria por ele evocada.
c) concilia o caráter mítico ao histórico, visando compor um poema de exaltação da terra
e das origens de formação da capitania das Minas Gerais.
d) tece uma crítica à exploração das terras de Minas pelos bandeirantes e mineradores,
processo que resultou na degradação do local.
e) exalta o processo de conquista dos bandeirantes e ergue a condições heroicas os
portugueses exploradores das terras mineiras.
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Questão 3 (Inédita/Autoral: Paulo Bittencourt)

A moça com o talhe languidamente recostado no espaldar da cadeira, a fronte reclinada,


os olhos coalhados em uma ternura maviosa, escutava as falas de seu marido; toda ela se
embebia dos eflúvios de amor, de que ele a repassava com a palavra ardente, o olhar rendido e
o gesto apaixonado.
— É verdade então que me ama?
— Pois duvida, Aurélia?
— E amou-me sempre, desde o primeiro dia que nos vimos?
— Não lho disse já?
— Então nunca amou a outra?
— Eu lhe juro, Aurélia. Estes lábios nunca tocaram a face de outra mulher que não fosse a
minha mãe. O meu primeiro beijo de amor, guardei-o para minha esposa, para ti…
Soerguendo-se para alcançar-lhe a face, não viu Seixas a súbita mutação que se havia
operado na fisionomia de sua noiva. Aurélia estava lívida e a sua beleza, radiante há pouco, se
marmorizava.
— Ou de outra mais rica!… — disse ela retraindo-se para fugir ao beijo do marido e afastando-
o com a ponta dos dedos.
A voz da moça tomara o timbre cristalino, eco da rispidez e aspereza do sentimento que
lhe sublevava o seio e que parecia ringir-lhe nos lábios como aço.
— Aurélia! Que significa isto?
— Representamos uma comédia, na qual ambos desempenhamos o nosso papel com perícia
consumada. Podemos ter esse orgulho, que os melhores atores não nos excederiam. Mas é
tempo de pôr termo a esta cruel mistificação com que nos estamos escarnecendo mutuamente,
senhor. Entremos na realidade por mais triste que ela seja; e resigne-se cada um ao que é: eu,
uma mulher traída; o senhor, um homem vendido.

ALENCAR, José de. Senhora. Palanus Editora, 2005.


Representante da prosa romântica no Brasil, José de Alencar conta com uma vasta obra que se
contempla diversas temáticas, como a regionalista, a indianista e a urbana, da qual o romance
“Senhora”, de 1875, é representante. Acerca da passagem destacada acima, pode-se dizer que
a) há uma idealização do amor, procedimento característico do Romantismo enquanto
movimento estético, amor este que se apresenta em seu aspecto de pureza e eternidade.
b) ocorre um procedimento ambíguo, já que ao mesmo tempo se apresentam a
configuração de um casamento arranjado – como era comum à época –, mas de um amor
que precede e supera quaisquer obstáculos.
c) o questionamento da personagem se dá pela desconfiança com relação a uma pessoa
pouco conhecida, mas que, ao final, revela o virtuosismo de seu caráter.
d) o ideal do amor romântico é desconstruído pela presença da cobiça e da busca pela
ascensão social e financeira a partir do casamento, que é desmistificado.
e) os juramentos do casamento entre Aurélia e Seixas são celebrados com a união não só
sentimental, mas também patrimonial, elevando as condições das famílias de ambos.
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Questão 4 (Inédita/Autoral: Paulo Bittencourt)

TEXTO 1

AMOEDO, Rodolfo. O Último Tamoio (1883)


TEXTO 2

O rosto de Peri irradiava com o sentimento de um gozo imenso, de uma felicidade infinita;
meteu as pistolas na cinta de penas e ergueu a cabeça orgulhoso, como um rei que acabasse de
receber a unção de Deus. Para ele essa menina, esse anjo louro, de olhos azuis, representava a
divindade na terra; admirá-la, fazê-la sorrir, vê-la feliz, era o seu culto; culto santo e respeitoso
em que o seu coração vertia os tesouros de sentimentos e poesia que transbordavam dessa
natureza virgem.

ALENCAR, José de. O Guarani. Ed. Martin Claret, 2012.

A cultura e a arte brasileiras do século XIX foram marcadas por uma tentativa de construir e
consolidar símbolos nacionais visando à identificação do povo brasileiro e à formação de um
sentimento de nação em um território recém-independente. No que se refere a esse contexto, o
quadro e o trecho do romance
a) trazem aspectos tipicamente nacionais em suas composições, a fim de introduzir no
imaginário sociocultural dos cidadãos as características particulares da natureza
brasileira e de sua abundância.
b) romantizam a figura do indígena brasileiro, dotando-o de um caráter tipicamente
europeizado, com valores similares a de um guerreiro medieval, como a coragem e a
devoção.
c) buscam o enaltecimento da imagem do índio frente aos portugueses, explicitando as
particularidades da sua cultura e de seu modo de organização social.
d) utilizam a imagem do indígena como forma de promover um conjunto de regras e
valores morais, financiados e patrocinados pela família real brasileira na época do
Império.
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e) evocam uma lamentação e um sentimentalismo, respectivamente, típicos do movimento


romântico indianista, ressaltando ora a violência contra os povos originários, ora uma
idealização amorosa entre índios e portugueses.
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Questão 5 (Inédita/Autoral: Paulo Bittencourt)

TEXTO 1
Canção do Exílio
Gonçalves Dias
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o Sabiá,
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
[...]
DIAS, Gonçalves. Poesia e Prosa Completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998.
TEXTO 2
Canção do Exílio
Murilo Mendes
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
MENDES, Murilo. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2007.
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O Texto 2 apresenta uma reescrita da “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias, pelo poeta
mineiro Murilo Mendes. A estratégia de intertextualidade utilizada na composição poética é
marcada pelo (a)
a) citação, uma vez que o poema de Murilo Mendes replica de maneira literal o título dado
por Gonçalves Dias.
b) paráfrase, já que no Texto 2 há uma reescrita em que se mantêm os sentidos originais
da Canção do Exílio de Gonçalves Dias.
c) ironia, porquanto o poeta mineiro promove uma crítica das diferenças sociais e políticas
entre os contextos históricos relativos às duas Canções.
d) pastiche, visto principalmente na manutenção formal e na repetição de estruturas
semânticas, reiterando a obra original.
e) paródia, a partir do momento em que ocorre uma sátira do texto original de Gonçalves
Dias, destituindo-lhe a idealização romântica.
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Questão 6 (Inédita/Autoral: Paulo Bittencourt)

AMÉRICO, Pedro. Libertação dos Escravos (1889).

As alegorias do abolicionismo no Brasil do final do século XIX são marcadas por inúmeras
críticas à escravidão e por fortes pressões sociais pelo fim do sistema escravocrata no país.
Pedro Américo, importante pintor e gravurista da época, retrata, no quadro Libertação dos
Escravos, de 1889, uma visão desse processo que
a) glorifica o papel real no processo de abolição a partir da exaltação da figura da Princesa
Isabel e das figuras mítico-religiosas dela acompanhadas, ao passo que representa uma
subserviência e uma participação coadjuvante dos negros nesse movimento.
b) reitera a visão do grupo liberal, que enxergava a abolição a partir não só do valor
fundamental da liberdade, mas também do ponto de vista socioeconômico como sendo
fundamental para o desenvolvimento do Brasil.
c) romantiza o processo da abolição, afirmando a participação heroica dos negros
escravizados no processo que levou à libertação de seus povos dos grilhões de um
sistema violento de desumano.
d) mistifica o abolicionismo como sendo fruto de obra divina, mobilizando diversas
imagens religiosas e mitológicas com intuito de demonstrar a graça concedida ao povo
negro no contexto brasileiro e a ausência de participação popular no processo.
e) realça a figura mítica da Liberdade, representada por uma figura feminina angelical,
assim como centraliza a Princesa Isabel, enaltecendo uma benevolência típica dos
membros da realeza e da nobreza imperiais.
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Questão 7 (Inédita/Autoral: Paulo Bittencourt)

A Lagartixa
Álvares de Azevedo
A lagartixa ao sol ardente vive
E fazendo verão o corpo espicha:
O clarão de teus olhos me dá vida,
Tu és o sol e eu sou a lagartixa.
Amo-te como o vinho e como o sono,
Tu és meu copo e amoroso leito...
Mas teu néctar de amor jamais se esgota,
Travesseiro não há como teu peito.
Posso agora viver: para coroas
Não preciso no prado colher flores,
Engrinaldo melhor a minha fronte
Nas rosas mais gentis de teus amores.
Vale todo um harém a minha bela,
Em fazer-me ditoso ela capricha...
Vivo ao sol de seus olhos namorados,
Como ao sol de verão a lagartixa.
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos Vinte Anos. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
Sobre o poema destacado acima, é possível inferir que
a) o eu-lírico se identifica com a figura da lagartixa, demonstrando o prazer advindo de
seu contato com a natureza, habitat natural do animal representado.
b) o sujeito do poema se enamora com a mulher amada, dotando-a de um caráter místico
o qual é constituído por figurações advindas de uma natureza idílica.
c) o enaltecimento da figura feminina a partir do amor do sujeito se constrói por meio de
símbolos naturalistas, os quais servem de palco para a concretização desejo erótico.
d) a lagartixa é uma metáfora para um arquétipo da figura feminina, já que, assim como
tais animais, a mulher do século XIX tinha um espaço reservado para banhos de sol nos
períodos de verão.
e) o amor do sujeito evocado no poema é dedicado antes à boemia que à mulher amada,
como é característico do estilo ultrarromântico.
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Questão 8 (Inédita/Autoral: Paulo Bittencourt)

Sortimento de Gorras (Para Gente de Grande Tom)


Luiz Gama
[...]
Se os nobres desta terra, empanturrados,
Em Guiné têm parentes enterrados;
E, cedendo à prosápia, ou duros vícios,
Esquecendo os negrinhos seus patrícios;
Se mulatos de cor esbranquiçada,
Já se julgam de origem refinada,
E curvos à mania que domina,
Desprezam a vovó que é preta-mina: –
Não te espantes, ó Leitor, da novidade,
Pois tudo no Brasil é raridade!
[...]
Se a Justiça, por ter olhos vendados,
É vendida, por certos Magistrados,
Que o pudor aferrando na gaveta,
Sustentam – que o Direito é pura peta;
E se os altos poderes sociais,
Toleram estas cenas imorais;
Se não mente o rifão, já mui sabido:
Ladrão que muito furta é protegido –
É que o sábio, no Brasil, só quer lambança,
Onde possa empantufar a larga pança!
[...]
GAMA, Luiz. Primeiras Trovas Burlescas de Getulino. Ed. Principis, 2021.
Conhecido como “Advogado dos Escravos”, o também poeta e jornalista Luiz Gama é um
representante da poesia satírica do século XIX no Brasil. Acerca do excerto extraído do poema
destacado acima, pode-se afirmar que a visão crítica do autor se faz presente a partir do(a)
a) enaltecimento de algumas virtudes em contraposição a vícios característicos dos
trabalhadores brasileiros, os quais agiam somente em prol de interesses pessoais.
b) estereotipação de algumas figuras públicas importantes no cenário político do Brasil
Imperial, transformando-as em caricaturas grotescas a partir de um sarcasmo
debochado.
c) reprovação do comportamento da elite agrária brasileira, que explorava a mão de obra
escrava utilizando-se de castigos físicos e outras formas de exploração violenta.
d) sátira das instituições brasileiras, as quais se apresentam corrompidas por um processo
de deturpação de valores fundamentais para a formação da sociedade, como a liberdade
e a justiça.
e) condenação da reprodução de comportamentos vis e moralmente desviantes tanto da
nobreza quanto das classes mais desfavorecidas.
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Questão 9 (Inédita/Autoral: Paulo Bittencourt)

Os Dois ou O Inglês Maquinista

FELÍCIO – Sr. Negreiro, a quem pertence o brigue Veloz Espadarte, aprisionado ontem junto
quase da Fortaleza de Santa Cruz pelo cruzeiro inglês, por ter a seu bordo trezentos africanos?
NEGREIRO – A um pobre diabo que está quase maluco... Mas é bem feito, para não ser tolo.
Quem é que neste tempo manda entrar pela barra um navio com semelhante carregação? Só um
pedaço de asno. Há por aí além uma costa tão longa e algumas autoridades tão
condescendentes!...
FELÍCIO – Condescendentes porque se esquecem de seu dever!
NEGREIRO – Dever? Perdoe que lhe diga: ainda está muito moço... Ora, suponha que chega
um navio carregado de africanos e deriva em uma dessas praias, e que o capitão vai dar disso
parte ao juiz do lugar. O que há de este fazer, se for homem cordato e de juízo? Responder do
modo seguinte: Sim senhor, sr. capitão, pode contar com a minha proteção, contanto que V.
S.ª... Não sei se me entende? Suponha agora que este juiz é um homem esturrado, destes que
não sabem aonde têm a cara e que vivem no mundo por ver os outros viverem, e que ouvindo
o capitão, responda-lhe com quatro pedras na mão: Não senhor, não consinto! Isto é uma infame
infração da lei e o senhor insulta-me fazendo semelhante proposta! – E que depois deste aranzel
de asneiras pega na pena e oficie ao Governo. O que lhe acontece? Responda.
FELÍCIO – Acontece o ficar na conta de íntegro juiz e homem de bem.
NEGREIRO – Engana-se; fica na conta de pobre, que é menos que pouca coisa. E no entanto
vão os negrinhos para um depósito, a fim de serem ao depois distribuídos por aqueles de quem
mais se depende, ou que têm maiores empenhos. Calemo-nos, porém, que isto vai longe.
PENA, Martins. Os Dois ou O Inglês Maquinista. Domínio Público.
O teatro brasileiro se consolida enquanto expressão artística e cultural no século XIX, em que
surge a chamada comédia de costumes: um gênero teatral, baseado no humor e na sátira, que
abordava os comportamentos da sociedade da época, com personagens caricatos. Acerca do
trecho da peça de Martins Pena acima, pode-se afirmar que o diálogo entre os personagens
Felício e Negreiro comporta um(a)
a) crítica de ambos ao sistema escravocrata brasileiro e ao descumprimento da Lei Eusébio
de Queiroz, a qual proibia o tráfico negreiro em território nacional.
b) complacência com relação à escravidão e à comercialização de negros escravizados,
uma vez que ambos concordam que a escravidão seria a melhor forma de dar um fim
objetivo à ociosidade dos trabalhadores negros.
c) divergência de opiniões, já que Felício questiona o descumprimento da proibição do
trafica negreiro no Brasil, ao passo que Negreiro defende esta prática pois sua negação
sugeriria condições negativas para os negros que chegavam.
d) oposição ao estabelecimento de regras burocráticas para a compra de força de trabalho
escrava, pois que esses procedimentos retardariam a destinação dos escravos às suas
respectivas designações, ficando em condições insalubres.
e) defesa irrestrita da abolição, já que as condições dos navios negreiros e do trabalho
forçado eram violentas e extremamente degradantes para a população negra
escravizada.
DISCIPLINA: Literatura | PROFESSOR(A): Paulo Bittencourt

Questão 10 (Inédita/Autoral: Paulo Bittencourt)

Notícia da Atual Literatura Brasileira: Instinto de Nacionalidade


Machado de Assis (1873)
O romance brasileiro recomenda-se especialmente pelos toques do sentimento, quadros
da natureza e de costumes, e certa viveza de estilo mui adequada ao espírito do nosso povo. Há
em verdade ocasiões em que essas qualidades parecem sair da sua medida natural, mas em regra
conservam-se estremes de censura, vindo a sair muita coisa interessante, muita realmente bela.
O espetáculo da natureza, quando o assunto o pede, ocupa notável lugar no romance, e dá
páginas animadas e pitorescas, e não as cito por me não divertir do objeto exclusivo deste
escrito, que é indicar as excelências e os defeitos do conjunto, sem me demorar em pormenores.
Há boas páginas, como digo, e creio até que um grande amor a este recurso da descrição,
excelente, sem dúvida, mas (como dizem os mestres) de mediano efeito, se não avultam no
escritor outras qualidades essenciais. (...)
Há também uma parte da poesia que, justamente preocupada com a cor local, cai muitas
vezes numa funesta ilusão. Um poeta não é nacional só porque insere nos seus versos muitos
nomes de flores ou aves do país, o que pode dar uma nacionalidade de vocabulário e nada mais.
Aprecia-se a cor local, mas é preciso que a imaginação lhe dê os seus toques, e que estes sejam
naturais, não de acarreto. Os defeitos que resumidamente aponto não os tenho por incorrigíveis;
a critica os emendaria; na falta dela, o tempo se incumbirá de trazer às vocações as melhores
leis. Com as boas qualidades que cada um pode reconhecer na recente escola de que falo, basta
a ação do tempo, e se entretanto aparecesse uma grande vocação poética, que se fizesse
reformadora, é fora de dúvida que os bons elementos entrariam em melhor caminho, e à poesia
nacional restariam as tradições do período romântico.

Machado de Assis, além de reconhecido como um dos maiores escritores da Literatura


Brasileira, também publicou ensaios críticos acerca da produção artística de sua época. Acerca
dos excertos extraídos do texto Instinto de Nacionalidade, pode-se afirmar que a visão crítica
de Machado
a) baseia-se em um elogio à produção literária romântica do Brasil, tanto em sua prosa
quanto em sua poesia, atestando o valor que a incorporação dos elementos locais tem
na constituição de uma literatura nacional.
b) volta-se contra os aspectos descritivos da literatura produzida no território brasileiro,
principalmente por esse aspecto estético advir de influências europeias, principalmente
a francesa.
c) pondera o critério da incorporação daquilo que ele intitula “cor local” como sendo uma
tentativa de trazer para as obras literárias aspectos da essência nacional, o que se mostra
ora interessante, ora, porém, limitado como recurso estético para a formulação de uma
literatura essencialmente brasileira.
d) critica a poesia ao passo que elogia o romance, uma vez que este estaria produzindo de
fato espetáculos naturais interessantes e bem construídos e aquela estaria se limitando a
ilusões nacionalistas que não representariam de fato o Brasil.
e) opõe-se radicalmente à escola do Romantismo, mostrando como ela limita a
interpretação nacional e se atém somente à descrição dos aspectos naturais em
detrimento de uma reflexão mais aprofundada acerca da realidade do país de maneira
mais crítica.
DISCIPLINA: Literatura | PROFESSOR(A): Paulo Bittencourt

GABARITO

Questão 1 E

Questão 2 C

Questão 3 D

Questão 4 E

Questão 5 E

Questão 6 A

Questão 7 B

Questão 8 D

Questão 9 C

Questão 10 C

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