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O LÚDICO E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O

DESENVOLVIMENTO DA ORALIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Jussara Aparecida Duarte Oliveira

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo pesquisar e analisar as


contribuições do brincar para o desenvolvimento da oralidade infantil. Trata-se de
uma revisão de literatura centrada nas contribuições alguns autores e estudos que
investigam o tema, tais como: Huizinga(1980), Kishimoto(2002) Suzuki
(2012),Sommerhalder(2011),Winnicott(1975), Vygotsky(1989), Piaget (1971),
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998), Proposições
Curriculares para a Educação Infantil (SMED,2015).O tema pesquisado justifica-se
pela necessidade de compreender o lúdico como uma forma privilegiada de
aprendizagem infantil, bem como compreender sua relação com o desenvolvimento
da oralidade infantil. O lúdico acompanha o trajeto da humanidade demostrando que
o homem brinca e joga independente de seu tempo. O brincar é uma das formas de
linguagem que a criança utiliza para interagir consigo, com os outros e para
compreender o mundo a sua volta. Pela riqueza de experiências vivenciadas pela
criança ao brincar, podemos dizer que ele é indispensável como espaço de
aprendizagem na Educação Infantil. Diante disso, levanta-se a seguinte
problematização: Como o lúdico pode contribuir para o desenvolvimento da
oralidade na criança? A partir da temática em estudo, propõe-se contribuir com
reflexões sobre possibilidades de práticas que favoreçam o uso da fala em atividades
lúdicas.

PALAVRAS-CHAVE: Lúdico. Brincar. Desenvolvimento. Oralidade. Educação


Infantil

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1.INTRODUÇÃO:

A pesquisa desenvolvida tem como base as contribuições do lúdico para o


desenvolvimento da oralidade na Educação Infantil.

O termo lúdico é usado com conotações similares aos termos brincar, jogo,
brincadeiras, brinquedo, e ludicidade, e situa-se como um elemento da cultura presente em
todas as formas de organização social. No campo da educação, há um vasto estudo a
respeito importância do brincar (lúdico) para o desenvolvimento infantil, sendo apontado
como uma marca singular dessa fase da vida. Por meio do brincar a criança se desenvolve
em seus aspectos físico, cognitivo, motor e psico social. O brincar constitui para a criança
uma maneira de se construir conhecimentos sociais, uma forma privilegiada de
aprendizagem infantil. Uma forma de linguagem que a criança utiliza para interagir
consigo, com o outro e para compreender o mundo ao seu redor.Essas interações que a
criança estabelece, desde o seu nascimento, quando é inserida em um determinado grupo
social, possibilitarão o seu desenvolvimento integral. À medida que vai sendo integrada a
esses grupos, a criança se apropria dos códigos de comunicação e conduta desse grupo,
formando assim sua própria identidade pessoal e social.

O jogo tem um papel importante no desenvolvimento e aprendizagem infantil.


Quando a criança demostra a capacidade de transformar um objeto em outro de forma
imaginária, ela está usando a imaginação para demostrar a sua representação simbólica.
Esse “processo de construção de símbolo está intrinsecamente associado à aquisição da
linguagem e o jogo de representações de situações” (Oliveira, Mello e Vitória ,2011, p.49).

O trabalho com a oralidade nessa fase da infância torna-se fundamental para “a formação
do sujeito, para a interação com as outras pessoas, na orientação das ações das crianças, na
construção de muitos conhecimentos e no desenvolvimento do
pensamento”(BRASIL,1998,p.117).

Diante disso, levanta-se a seguinte problematização: Como o lúdico pode


contribuir para o desenvolvimento da oralidade na Educação Infantil?

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Considerar a importância de se promover o uso da oralidade em situações interativas, como
o brincar “elemento desencadeador do desenvolvimento da criança,” é fundamental para
que a criança possa comunicar-se de forma mais significativa e atuar de forma crítica e
ativa na sociedade. Nesse sentido, o papel do educador é fundamental no planejamento de
espaços, tempos e contextos educativos enriquecedores para as crianças.

O presente trabalho tem como objetivo pesquisar e analisar as contribuições do


brincar para o desenvolvimento da oralidade infantil. Para isso, foram apresentadas
algumas considerações sobre o lúdico e suas contribuições para o desenvolvimento infantil
bem como sua relação com o desenvolvimento da oralidade, observando-se a atuação do
educador nesse processo e as possibilidades de práticas pedagógicas. Trata-se de uma
revisão de literatura centrada nas contribuições alguns autores e estudos que investigam o
tema, tais como: Huizinga(1980), Kishimoto(2002) Suzuki
(2012),Sommerhalder(2011),Winnicott(1975), Vygotsky(1989), Piaget (1971), Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998), Proposições Curriculares para a
Educação Infantil (SMED,2015).A partir da temática em estudo, propõe-se contribuir com
reflexões sobre possibilidades de práticas que favoreçam o uso da fala por meio de
atividades lúdicas no contexto escolar.

2. DESENVOLVIMENTO:

2.1 Lúdico: alguns conceitos

O lúdico faz parte das atividades essenciais do ser humano. Os jogos e brincadeiras
são praticas culturais que permeiam nosso cotidiano e estão presentes em todas as formas
de organização social, das mais primitivas as mais sofisticadas. Lúdico é uma palavra que
deriva do termo latino ludus, que se refere tanto ao brincar quanto ao jogar(CUNHA,

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1986,p.482). Com o passar do tempo, a definição da palavra lúdico deixou de ser
simplesmente sinônimo de jogo, ampliando seu significado, conforme podemos observar
na definição apresentada pelo dicionário da língua portuguesa que confere-lhe o sentido
de:“relativo a jogo ou divertimento; ‘’que serve para divertir ou dar prazer”.( Significado
de Lúdico. Dicionario do Aurélio Online,2019.Disponível
em:<https://dicionariodoaurelio.com/ludico:Acesso em:05deAug.de2019.)

De acordo com as Proposições Curriculares para a Educação Infantil(2015) os


termos “brincar, “jogo”, “brincadeiras”, “brinquedos”, “lúdico”, “ludicidade” são usados
como conotações similares e muitas vezes sobrepostas”Sobre essas diferentes conotações
do lúdico, o documento exemplifica que:

Algumas pessoas referem-se ao jogo como brinquedo, com por exemplo, quando se referem
ao jogo de ludo ou ao jogo de damas e dizem: “vamos jogar damas?” ou “vamos brincar de
damas?”o termo jogo também se mistura ao termo brincadeira como quando se faz referencia
ao jogo de amarelinha ou à brincadeira amarelinha. (PROPOSIÇÕES CURRICULARES
PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL, 2015,p. 65).

SOBRAL(2011)define o lúdico como “um termo usado para situações em que o


indivíduo está vivendo uma ilusão criada quando se participa de uma brincadeira ou jogo,
algo fora da realidade que nos dá prazer e alegria em participar.” (SOBRAL, 2011, p.2).

O historiador Huizinga(1980,p.33) confere ao lúdico um significado bem


abrangente. O autor endossa esse conceito de lúdico definindo-o como

[...]uma atividade voluntária, exercida dentro de determinados limites de tempo e espaço,


segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em
si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser
diferente da vida cotidiana(HUIZINGA,1980,p.33).

De acordo com o autor, entende-se que o lúdico caracteriza-se como atividade


espontânea e satisfatória. Não restringe-se apenas aos jogos e brincadeiras em si,
principalmente quando utilizados de forma pedagogizada e enrijecidas pelos adultos, como
estratégia pedagógica na qual cabe apenas ao aluno atingir os objetivos propostos pelo
professor. Há várias possibilidades de se explorar o lúdico no cotidiano escolar. Seja
através de uma contação de história envolvente, explorando o imaginário da criança;
através de uma música contagiante, ou uma brincadeira musical em que ela possa explorar

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e produzir diferentes sons e ritmos, e até mesmo por meio da magia de uma encenação
teatral.
Nesse sentido, Suzuki (2012,p.4) ressalta que o objetivo de uma atividade lúdica
não deve ser o resultado final, mas “a própria ação, o momento vivido, que propiciará na
criança vivências de fantasias e de realidade, que contribuirão para sua formação”.
(SUZUKI,2012,p.4).

2.2 O lúdico e suas contribuições para a infância

Muitas pesquisas tanto no campo da educação quanto da psicologia atestam a


extrema importância do lúdico para o desenvolvimento infantil. Kishimoto(2002,p.139)
argumenta que:“A brincadeira é uma necessidade básica da criança, e começa desde seu
nascimento no âmbito familiar”, sendo a primeira forma de comunicação com o mundo
que a cerca. Dolto (1998)aponta que as crianças precisam brincar tanto quanto precisam de
contatos afetivos, de fazer, de falar, de ouvir respostas às suas perguntas. Impedindo-as de
mexer em tudo, o adulto priva-as de tornarem-se inteligentes, de adquirirem um
vocabulário.

O brincar inicialmente é desenvolvida pela criança para seu prazer e recreação,


mas também permite a ela interagir com o outro, bem com explorar o meio ambiente. A
medida em que vai crescendo, ela incorpora em suas brincadeiras o que veem, escutam,
sentem observam e experimentam do meio em sua volta. Por meio do lúdico a criança
aumenta sua independência, estimula sua sensibilidade visual e auditiva, valoriza sua
cultura popular, desenvolve habilidades motoras, exercita sua imaginação, sua criatividade,
socializa-se, interage, reequilibra-se, recicla suas emoções, sua necessidade de conhecer, e
reinventar e assim constrói seus conhecimentos.

No Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998),a brincadeira,


como elemento da ludicidade, é defendida como um dos princípios fundamentais para o

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desenvolvimento infantil e reconhecida como um direito, uma forma particular de
expressão, comunicação e interação entre as crianças. De acordo com esse documento:

Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da


autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo, pode se comunicar por meio de gostos, sons
e mais tarde representar determinado papel na brincadeira faz com que ela desenvolva sua
imaginação. Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidades
importantes, tais como a atenção, a imitação ,a memória, a imaginação. Amadurecem também
algumas capacidades de socialização, por meio da interação e da utilização e experimentação
de regras e papéis sociais.(BRASIL,1998,p.22)

Assim, a criança depende do lúdico. Ela precisa brincar para crescer e


desenvolver de forma saudável em seus aspectos motores, cognitivos, afetivos e sociais.
Andrade e Marques(2003,p.41) afirmam que:
Brincando a criança desenvolve o corpo e seus ritmos, o relacionamento com as pessoas e
seus limites, a imaginação e o pensamento poético. Alimentado cotidianamente pela
brincadeira o pensamento da criança encontra soluções inovadoras para velhos desafios,
relacionam e misturam coisas e fontes diversas, sacode as dificuldades com humor e
irreverência. (ANDRADE; MARQUES,2003,p.41)

Para os autores, a brincadeira é entendida como atividade que além de promover o


desenvolvimento integral das crianças, incentiva a interação entre os pares, a resolução de
conflitos, bem como a formação de sua identidade e autonomia.

2.3 O lúdico e o desenvolvimento da oralidade

O lúdico, em seu sentido compreendido anteriormente, é essencial no processo


de desenvolvimento humano. Quando pensamos em jogos e brincadeiras, inevitavelmente
nos reportamos à infância, mas o brincar é muito mais do que um episódio da infância, ele
faz parte da vida de todo ser humano. Engana-se quem acha que na fase adulta deixamos
de brincar e/ou jogar como fazíamos enquanto criança. “A medida que vamos crescendo e
nos desenvolvendo apenas trocamos a simplicidade das brincadeiras por outras mais
complexas como o esporte e a dança”.(SOMMERHALDER,2011,p.12).Nesse sentido,
Winnicott(1975) aponta que o lúdico torna-se o ponto de partida para nossa relação com o
mundo, constituindo-se como o fundamento da experiência cultural do indivíduo.

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SOMMERHALDER, ALVES (2011) exemplifica essa experiência

“é assim por exemplo que o bebe estabelece suas primeiras relações com sua mãe: um jogo de
olhares, toques, expressões que permitem que bebe e mãe se relacionem, se conheçam, se
reconheçam. Cria-se um espaço intermediário entre bebê e mãe onde as necessidades do bebe
se encontram com o desejo da mãe de satisfazê-las, de acolhê-las… É nesse espaço
intermediário que se constitui o brincar, que aos poucos vai ampliando seu espectro de
alcance e, consequentemente, ampliando as possibilidades de relação com o mundo
sociocultural que a cerca”. (SOMMERHALDER, ALVES,2011,p.13)

A experiência cultural surge como extensão direta da atividade lúdica das


crianças, sendo sua primeira forma de comunicação com o mundo que as cerca. Quando
nasce, a criança passa a fazer parte de um grupo, em uma determinada sociedade imersa
em diversas culturas. Gradativamente a criança vai sendo integrada a estes grupos sociais
por meio da aprendizagem de códigos de comunicação e conduta. As interações que ela
estabelece possibilitam a construção de sua identidade pessoal e social, inserindo-a na
cultura e na sociedade e produzindo novos significados para essa cultura. Dentre outras
experiências, a brincadeira é uma das estratégias que a criança utiliza para conseguir
apropriar-se de saberes sociais e culturais que são próprios ao seu meio de vida, ao seu
desenvolvimento e atuação no mundo. Desse modo, o brincar, é para ela, um modo de
construir conhecimentos sociais. Ele não é inato. A criança aprende a brincar a partir do
compartilhamento entre sujeitos, principalmente entre pares de idade e por meio das
significações que os adultos atribuem as suas ações (WINNICOTT,1975).O brincar é uma
das formas de linguagem que a criança utiliza para interagir consigo, com os outros e para
compreender o mundo ao seu redor. Segundo Jobim e Souza(1994), tanto Bakhtin quanto
Vygotsky afirmam que é na interação que se constitui a linguagem.
A necessidade de interação que o bebê expressa através de suas expressões corporais e
gestuais, impulsiona a princípio o desenvolvimento da sua linguagem. Os bebes captam traços
acústicos das vozes das pessoas que escutam e inscrevem em sua psique. Depois utilizam estes
sons para balbuciar o que querem falar para alguém, identificando essa pessoa, porque a trata
pelos mesmos sons que ela produz. Assim, essa interação com o outro permite-lhe uma
integração de formas pré-constituídas da língua, as quais acontecem na integração conjunta
com o outro mais experiente, oportunizando-lhe formas e normas comportamentais, as
relações interpessoais, as palavras da língua e o modo de usá-las.
(DEHEINZELIN,2018,p.23).

A afetividade e o prazer proporcionados aos bebês por meio de atividades


lúdicas como músicas, contação de histórias, brincadeiras corporais (como fazer cócegas

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nas partes do corpo da criança), e brincadeiras orais(rimas e acalantos), em situações do
cotidiano, constituem ferramentas excelentes para o desenvolvimento da oralidade.
Segundo o Referencial Nacional Curricular para a Educação Infantil (1998):
Muito cedo, os bebês emitem sons articulados que lhes dão prazer e que revelam seu esforço
para comunicar-se com os outros. Os adultos e crianças mais velhas interpretam essa
linguagem peculiar, dando sentido á comunicação dos bebês. A construção da linguagem oral
implica, portanto, na verbalização e na negociação de sentidos estabelecidos entre pessoas que
buscam comunicar-se. Ao falar com os bebês, os adultos, principalmente, tendem a usar uma
linguagem simples, breve e repetitiva, que facilita o desenvolvimento da linguagem e da
comunicação (BRASIL, 1998, p. 125).

A criança inicialmente utiliza brincadeiras com o seu corpo, como agarrar,


pegar, sacudir, manipular. Aos poucos começam a perceber e manipular os objetos a sua
volta de forma intencional. As brincadeiras começam a ter uma dimensão mais
socializadoras, e os participantes da brincadeira passam a ter uma atividade comum, que
exige aprender a utilizar o respeito, mútuo, a partilha e o esperar a sua vez. Todos esses
comportamentos é que vão garantir a sua permanência na brincadeira e levá-las a aprender
a conviver gradativamente.

Por meio dessas experiências gradativas, a criança vai construindo


significados. Após várias experiências em diversas situações de interação com o outro e o
meio, ela exercita em situações imaginárias, o uso dos objetos e os papéis sociais
desempenhados pelo adulto, tentando agir como eles. Para Vygotsky(1989) a criança brinca
utilizando a imitação, pois a atividade que mais favorece seu aprendizado e
desenvolvimento é a ação. Ela reproduz por meio de ações a vida que lhe é apresentada,
desse modo ela não inventa situações, mas repete-as. A medida em que se desenvolve, a
criança busca adquirir independência e autonomia. Nessa fase, costuma rejeitar a ajuda do
adulto, tentando fazer as coisas por si só. Quando por exemplo, não aceita ajuda para
vestir-se ou calçar os sapatos, afirmando que “consegue sozinha”, na verdade ela está
reivindicando a possibilidade de agir como vê que o adulto age, numa tentativa de imitá-
lo.. Ao brincar de dirigir um caminhão por exemplo, ela está colocando em prática sua
percepção acerca dessa ação no mundo agindo como gostaria de agir e ainda não pode.
Nessas situações, o brincar torna-se muito importante pois possibilita a criança ser e agir
como ainda não pode ser autonomamente.

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Sommerhalder(2011,p.22), ressalta essa concepção de que os jogos e
brincadeiras infantis são norteados pelo desejo de ser adulto. Segundo a autora, a criança
acredita que o adulto pode tudo, e tem domínio sobre a realidade. “Ao se colocar no espaço
imaginário do jogo, a criança consegue ascender a tão desejada onipotência que acredita no
adulto”. Assim, ela pode reorganizar a realidade a uma nova ordem que lhe seja mais
conveniente e sobre a qual ela tenha domínio.

Progressivamente, a criança amplia a destreza de seus movimentos corporais,


se depara com muitas novidades, mas continua tendo o brincar como atividade privilegiada
de interação e conhecimento de mundo. Nesse contexto, As Proposições Curriculares para
a Educação Infantil(SMED,2015,p.65) salientam que

as brincadeiras pautadas pelo movimento corporal, pela exploração dos sentidos e dos sons que
possibilitam a ampliação dos gestos e do vocabulário que já possuem. E então a imitação torna-
se um mecanismo potentíssimo de desenvolvimento, pois é por meio da ação de imitar, que as
bases neurológicas das competências humanas se estabelecem.(PROPOSIÇÕES
CURRICULARES PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL, 2015,p.71).

Compreender qual é o impacto do brincar na vida das crianças implica conhecer


como acontece o processo de desenvolvimento delas. As crianças se desenvolvem de
forma integrada nos aspectos cognitivo, afetivo, físico motor, moral, linguístico e
social. Esses processos acontecem a partir das interações com o meio físico e social:
elas vão conhecendo o mundo a partir de suas ações sobre este. Nessas interações, as
crianças vão assimilando determinadas situações, de acordo com os seus estágios de
desenvolvimento, segundo a teoria do desenvolvimento da Epistemologia Genética
formulada por Jean Piaget(Piaget, 1974).

Suzuki(2012,p.48) menciona esses estágios,

Os estágios são divididos em seis etapas: sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto


e operatório formal. Cada etapa representa uma idade média para cada uma delas, não sendo
idades fixas. Os estágios são uma parte da explicação de como ocorre o desenvolvimento do
sujeito, e foram elaborados para uma organização didática, porém elas não contemplam toda
a explicação feita pelo autor de como o ser humano se organiza e realiza o processo de
aprendizagem. (SUZUKI,SÃO PAULO,p.48,2012)

Segundo Piaget (1971) o jogo tem um papel importante no desenvolvimento e


aprendizagem da criança. Para o autor, o jogo é um meio de explicação para o processo que
o indivíduo realiza na busca incessante de atingir formas de equilíbrio cognitivo cada vez
melhor a fim de compreender e explicar a sua realidade. Para tanto, o autor apresenta três

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estruturas contínuas que são: jogo do exercício, jogo simbólico e jogo de regra. De acordo
com a teoria piagetiana, comentada por Suzuki(2012,p.48)

em cada uma dessas estruturas estão presentes a assimilação e a acomodação, as quais , por sua
vez, possibilitarão a adaptação. Este processo é apresentado pelo autor como invariantes
funcionais, ou seja, o ser humano para aprender qualquer que seja o conhecimento
necessariamente realizará este processo, e isto se repetirá incessantemente por toda a vida do
indivíduo. (SUZUKI,SÃO PAULO,p.48,2012)

A partir da aquisição da linguagem, a criança começa a desenvolver uma


atividade mais focada nos jogos simbólicos. Nesse momento, a criança começa a se
desvincular da pura imitação dos comportamentos dos adultos para agora iniciar a
sua representação. Vale dizer que, independente da brincadeira, jogo ou brinquedo
que a criança estiver utilizando, ela sempre utilizará suas aprendizagens anteriores
uma vez que a aprendizagem é um processo somatório.

Até o aparecimento da linguagem, as crianças conhecem o mundo por meio dos seus sentidos.
Depois na sequência, entram em um período de elaboração de imagens internas (fantasias,
representações simbólicas) que vão se formando e se expressando; e de percepções externas
que se impregnam nos seus corpos: o que ouvem, o que veem e experimentam fica gravado
com maior ou menor impacto.(Nota 10 primeira infância, p.106

Para melhor esclarecer esse aspecto, é fundamental compreendermos que antes da


aquisição da linguagem, a criança brinca utilizando a imitação,(como fora citado
anteriormente) pois a atividade que mais colabora com o seu aprendizado e com o seu
desenvolvimento, é a ação. Deste modo, podemos compreender que no processo de
aquisição da linguagem a criança passa do jogo da imitação para jogo da representação,
pois a sua atividade principal deixa de ser a ação e passa a ser o simbolismo. A criança cuja
atividade principal é o simbólico, demostra a capacidade de transformar um objeto em
outro de forma imaginária. Esta criança utiliza a imaginação para demostrar a sua
representação simbólica.

Continuamente são ampliadas as habilidades de abstração e de imaginação das


crianças. Elas experimentam diferentes papéis sociais, reelaboram histórias, imaginam e
dão um salto em relação ao desenvolvimento da linguagem oral. Gradativamente passam a
se interessar por universos não percebidos antes, pois sua percepção acerca do sentido das
coisas se refinam o tempo todo. A criança quando brinca, tem a possibilidade de fazer “a

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experiência de tomar a realidade do objeto para transformá-lo, realizando uma tarefa de
construção e reconstrução constante do eu e da realidade. Quando ela é capaz de
transformar um objeto em outro de forma imaginária, ela está utilizando a imaginação para
demostrar a sua representação simbólica. Nesse contexto, entende-se que a ação lúdica é a
representação do pensamento infantil, pois inicialmente o faz de conta representado foi
idealizado no pensamento da criança e depois, somente por meio da ação, é que ele pode
ser demostrado.

Para compreender melhor esta relação de pensamento e imaginação,


materializada por meio da ação, temos o seguinte exemplo: uma criança, ao imitar a
professora, fez anteriormente um exercício mental e definiu por pensamento qual situação
queria imitar. Desse modo, o que ela queria imitar era uma situação de sala de aula, quem
ela queria imitar era a sua professora e qual a forma de imitação era a professora na
rodinha contando uma história. Diante deste exemplo podemos compreender que a
representação da criança no jogo de faz de conta ocorreu posteriormente a todas essas
decisões mentais, sendo possíveis somente através da ação lúdica da criança. Oliveira,
Mello e Vitória (2011, p.49)afirmam que esse “processo de construção de símbolo está
intrinsecamente associado à aquisição da linguagem e o jogo de representações de
situações”.

Dentro da óptica interacionista, da qual Piaget é adepto, o aparecimento da linguagem seria


decorrência de algumas das aquisições do período sensório-motor, já que ela adquiriu a
capacidade de simbolizar ao final daquele estádio de desenvolvimento da inteligência. Soma-se
a isso a capacidade imitativa da criança. As primeiras palavras são intimamente relacionadas
com os desejos e ações da criança. (OLIVEIRA, ROCHA,2007:)

As Proposições Curriculares para a Educação Infantil (SMED,2015,p.88) se


apoiam nessa teoria ao afirmar que a atribuição voluntária de significado feita pela criança
é uma operação mental que se aplica a diversos contextos e situações e é a base do
processo de aprendizagem. Desse modo, podemos afirmar que a criança adquire a
linguagem no momento em que tiver tido experiências capazes de lhe proporcionar o
amadurecimento. Pela experiência, a criança consegue avançar e alcançar o próximo
estágio, no caso específico da linguagem, deixa de dispor apenas das condutas sensório-
motoras e passa a utilizar também a representação. Dessa forma, esse processo inicia a

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partir das experiências obtidas no campo da ação. Em seguida, a criança começa a fazer
acomodações pela imitação, utilizando-se do jogo simbólico. Posteriormente, a criança
começa a utilizar a fala, primeiro na forma de palavras frase e ao fim com frases
propriamente ditas.

Durante os momentos de brincadeira, especialmente das brincadeiras de faz de


conta ou jogos simbólicos, as crianças interpretam o mundo a partir de suas percepções e
elaboram novas percepções no momento que as estão realizando. Assim, quando a criança
utiliza o simbolismo para representar, naturalmente ela reproduz comportamentos e regras
definidos socialmente. Ao brincar de professora, como contar uma história, ou escrever no
quadro, a ela representará o papel de uma professora: sua postura e vocabulário.

Diante disso, podemos comprovar que o brincar proporciona nas crianças


diversas aprendizagens, bem como favorece o desenvolvimento da autoestima, a
autonomia, a criatividade e curiosidade. O brincar propicia o desenvolvimento da
linguagem e do pensamento, da concentração e da atenção.

A esse respeito, Paschoal(2007,p.46)

No faz de conta, enfim, são contemplados objetivos como: formação e desenvolvimento da


linguagem oral; do pensamento; da memória; da atenção; da imaginação; controle da própria
conduta; formação da identidade; criação de uma autoestima positiva; aprendizado do
relacionamento com os colegas; esperar a sua vez; trabalho em grupo; noção de tempo e
espaço; planejar e avaliar o momento em que vive.[...]ao brincar a criança está firmando
valores e sentimentos morais e éticos, percebendo o que é certo e errado. Em outras palavras
está criando as bases da personalidade. (PASCHOAL,2007,p.46)

Mediante a exposição da importância do lúdico para o desenvolvimento infantil e sua


relação com a apropriação da linguagem oral pela criança, faz-se necessário compreender
qual deve ser o papel do professor neste processo.

A medida em que o professor compreende que o brincar é a atividade que mais


favorece a criança a conhecer o mundo e a alavancar consequentemente a organização e
reorganização de seus processos mentais, ele organizará sua prática pedagógica
privilegiando o brincar como ferramenta de aprendizagem. Negrine (1004,p.20), afirma
que “quando a criança chega a escola, traz consigo toda uma pré-história, construída a
partir de suas vivências, grande parte dela através da atividade lúdica”. De acordo com esse

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autor, o professor deve ter conhecimento sobre o saber que a criança construiu junto ao seu
ambiente familiar, para a partir disso elaborar sua proposta pedagógica.

O professor deve explorar ao máximo as potencialidades de seus alunos,


permitindo que passem por todos os estágios de desenvolvimento para que eles tenham
uma aprendizagem significativa. É importante que o professor respeite cada fase de
desenvolvimento de seus alunos, conhecendo a sua realidade e estimulando seu
desenvolvimento integral. As Proposições Curriculares para a Educação Infantil
(SMED,2015,p.95) discorrem como clareza a respeito do preparo dos professores nessa
etapa:

Professores e educadores precisam implementar práticas de planejamento e preparação dos


momentos de brincar, assumir postura investigativa e observadora em relação às crianças
nestes momentos, estando atentos a suas reações, falas e atitudes. Devem identificar elementos
a respeito da identidade das crianças, a maneira como pensam, como estão se expressando,
como estão estabelecendo interações umas com as outras e com os artefatos culturais, que
objetos e brinquedos são preferidos e quais são desprezados pelas crianças, que discursos são
elaborados nestes momentos, se há aspectos discriminatórios presentes, que representações a
respeito dos gêneros masculino e feminino estão presentes, e tantos outros conhecimentos que
são obtidos nas práticas de observação e registro a respeito das brincadeiras das crianças.
(PROPOSIÇÕES CURRICULARES PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL (SMED,2015,p..95)

Suzuki(2012,p.19) ressalta a importância do papel dos professores da Educação


Infantil em relação ao brincar ao afirmar que
Além de mediar o processo de construção do conhecimento por meio do lúdico, o professor
também precisa exercer o papel de facilitador dos jogos e das brincadeiras, fazendo com que
haja momentos em que ele ensine a criança a brincar e também momentos em que ele deixe a
criança escolher as próprias brincadeiras e brinque livremente sem sua interferência, mas sim
sob sua observação. (SUZUKI,2012,p.19)

A autora ainda comenta sobre a importância do olhar do professor quanto a


interação que seus alunos estão tendo com os brinquedos, com a situação lúdica e com seus
colegas e a atuação que deve ter diante dessas observações:
No brincar espontâneo o professor pode registrar algumas ações lúdicas através da observação,
do registro, da análise e do tratamento. No brincar espontâneo o professor consegue
diagnosticar ideias, valores e necessidades do indivíduo, consegue classificar o estágio de
desenvolvimento da criança, consegue diagnosticar também o comportamento dos envolvidos
nos diferentes ambientes lúdicos, conflitos, problemas, valores e outros. No brincar dirigido o
professor pode trabalhar com desafios através da escolha de jogos, brinquedos e brincadeiras.
Suzuki,2012,p. 19).

Assim compete ao professor estar atentos à organização dos espaços e a


preparação de situações de brincadeira de tal modo que eles possam oferecer às crianças
toda a riqueza de experiências que se espera. Para tal, é preciso deixar a disposição das

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crianças materiais adequados a fase de desenvolvimento em que elas se encontram e
garantir um ambiente apropriado para suas experiências lúdicas.

2.4 Práticas lúdicas no desenvolvimento da oralidade na Educação


Infantil

Como visto anteriormente, o lúdico é uma atividade promotora de muitas


aprendizagens. O brincar possibilita as crianças interagirem consigo, com os outros e a
compreenderem o mundo ao seu redor. A partir dessas interações que a criança estabelece,
que promoverão o desenvolvimento da sua linguagem oral. Consequentemente, a
aprendizagem da linguagem oral permitirá que a criança amplie suas possibilidades de
inserção e de participação nas diversas práticas sociais. Por isso, o trabalho com a
linguagem oral na Educação infantil é considerado de extrema importância, como aponta
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998,p.117):

o trabalho com a linguagem se constitui um dos eixos básicos na educação infantil, dada sua
importância para a formação do sujeito, para a interação com as outras pessoas, na orientação
das ações da criança, na construção de muitos conhecimentos e no desenvolvimento do
pensamento. A educação infantil, ao promover experiências significativas de aprendizagem da
língua, por meio de um trabalho com a linguagem oral e escrita, se constitui em um dos
espaços de ampliação das capacidades de comunicação e expressão e de acesso ao mundo
letrado pelas crianças. Essa ampliação está relacionada ao desenvolvimento gradativo das
capacidades associadas as quatro competências linguísticas básicas: falar, escutar, ler e
escrever.(BRASIL,1998,p.117).

Desde muito cedo, a criança utiliza a linguagem oral para se comunicar no seu cotidiano e
mais intensamente quando ingressa na escola. É nesse ambiente, na interação com seus
pares e com os adultos que cuidam dela, que a criança enriquece seu repertório de palavras
e de ações, gestos e comportamentos. No entanto, a ampliação desse repertório verbal pela
criança não se resume apenas à memorização e repetição de sons e palavras; há uma
aprendizagem articulada entre pensamento e ações. Isso pode ser observado na expressão
de seus atos, desejos e sentimentos. Quando consegue compreender e ser compreendida, a

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competência linguística é desenvolvida e aperfeiçoada. Assim cada vez que as crianças vão
testando essa compreensão, aperfeiçoam-na, surgindo novas associações em busca de
significados e contextualizações para sua fala. A partir disso constroem seu repertório
verbal por aproximações sucessivas, ou seja, quanto maior for sua interação com o adulto
ou com seus pares, mais ampliadas estarão as suas capacidades de expressão. O
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998,p.121)endossa que
a linguagem não é apenas vocabulário, lista de palavras ou sentenças. É por meio do diálogo
que a comunicação acontece...Quanto mais as crianças puderem falar em situações diferentes,
como contar o que lhes aconteceu em casa, contar histórias, dar um recado, explicar um jogo
ou pedir uma informação, mais poderão desenvolver suas capacidades comunicativas de
maneira significativa.(BRASIL, 1998, p. 121).

Nesse contexto, faz se necessário reconhecer a importância de se promover o uso da


oralidade em situações interativas como o brincar, uma vez que este constitui para a
criança como forma significativa de comunicação. Sommerhalder,(2011,p.60),acredita que
o jogo pode corroborar com o processo de ensino e aprendizagem uma vez que “pode
tornar a prática educativa mais harmônica, menos aterrorizante, mais clara e compreensiva.
Consequentemente mais prazerosa”.Segundo Lima(1993,p.34):
A atividade escolar deverá ser em forma de lazer para a criança. Todos os conteúdos podem
ser ensinados através de brincadeiras e jogos, em atividades predominantemente lúdicas. Não
existe nada que a criança precise saber que não possa ser ensinado brincando. Se alguma coisa
não é passível de transformar-se em um jogo (problemas,desafios), certamente não será útil
para a criança nesse momento(LIMA,1993,p.34)

No intuito de refletir sobre a temática desenvolvida, listamos a seguir algumas,


dentre muitas possibilidades de atividades lúdicas que ajudam a desenvolver a oralidade de
crianças na educação infantil, sendo elas:
A comunicação oral no cotidiano escolar: A comunicação oral no cotidiano da Educação
Infantil, é uma forma importante de trabalhar a oralidade uma vez que oportuniza às
crianças avanços em suas formas de se expressarem. São várias as situações que os
professores podem brincar com as crianças, como no momento das trocas e higienização,
em que o professor pode acariciar ou fazer cócegas nas partes do corpo da criança, ao
mesmo tempo em que conversa com ela nomeando essas partes; na hora do banho,
disponibilizando bichinhos de borracha, ou cantarolando uma canção de ninar.
A hora da roda: Muito comum no dia a dia, essa forma de organizar o grupo é utilizada
pelos professores da Educação Infantil para reunir as crianças e conversar sobre
determinado assunto ou para iniciar ou realizar alguma atividade. A roda pode ser uma
experiência lúdica que proporciona o desenvolvimento da oralidade infantil. Na roda as

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crianças interagem entre si, e tem a oportunidade de expressar suas opiniões, desejos e
frustrações.
Cardoso(2012,p.51)afirma que “a conversa cotidiana é muito importante para o
desenvolvimento da linguagem, pois a criança precisa ser instrumentalizada para poder
avançar em novas construções discursivas”.
Brincar com textos orais, também, é um recurso importante para a oralidade da criança.
Segundo Augusto (2011), a língua oferece experiência para as crianças, pois brincar com as
palavras é função exercida pelos falantes. “Brincar com palavras é motivo de diversão para
as crianças, não é por acaso que as crianças, na educação infantil, entram em contato com
esse verdadeiro acervo popular.” (AUGUSTO, 2011, p. 56).Repetir parlendas, recitar
poesias, brincar com cantigas de rodas, brincos, trava-língua, rimas e adivinhas é um
exemplo do uso que as crianças fazem desse imenso repertorio oral. Trabalhar textos orais
é extremamente importante, pois a criança terá uma bagagem desse conhecimento que ela
levará por toda a educação infantil. De acordo com Cardoso(2012) o contato com um
repertório diversificado de gêneros orais proporciona um lastro de memória que tornarão o
processo de aprendizagem da leitura e da escrita mais dinâmicos e significativos.
Brincadeiras de faz de conta: As brincadeiras de faz de conta também constituem
momentos ricos para a experimentação de sons, de palavras e da imitação de situações de
comunicação que a criança vivencia no dia a dia. O tema faz de conta pode ser de casinha,
de supermercado, de hospital, de cabeleireiro, de feira, de restaurante, de mecânico, contos
de fada, heróis, entre outros. O professor precisa abrir espaço na rotina para esse tipo de
atividade e propiciar ambientes que incrementem a brincadeira.. O faz de conta promove o
desenvolvimento do discurso narrativo, tao importante para a construção da escrita.
Segundo CARDOSO(2012,p.60): “a criança conquista a capacidade linguística de falar e
de ouvir, cada uma delas em seu tempo, por meio da participação nesse tipo de brincadeira,
e em outros atos de comunicação”.
Contação de Histórias: A contação de histórias é uma atividade que proporciona muito
prazer na criança, além de aguçar a discuriosidade e a capacidade de imaginação.
Abramovich (2001, p. 16) afirma :
Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias...
Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho
absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo.

Sommerhalder(2011,p.60)comenta que “a história inventada pela professora abre um


campo imaginário riquíssimo em que as crianças são convidadas a entrar, compartilhando
suas fantasias, atualizando seus desejos, buscando domínio de seus medos e fertilizando
seu aprendizado”.Há muitas maneiras diferentes de contar e encantar através das histórias.
O professor pode explorar diversos tipos de recursos, tais como fantoches, dedoches,
aventais, livros de diferentes tipos e texturas, dramatizações e etc. Vale lembrar que, ler e

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contar histórias são atividades muito importantes. Porém, há diferenças entre ler e contar.
Neste sentido, Oliveira (2006, p. 04) nos indica que: As histórias contadas oralmente têm
uma força de transmissão oral, isto é: a voz, o olhar e o gesto vivo do contador de histórias,
que alegra ou entristece a sua plateia. Na “contação” usam-se as próprias palavras, há
variações nas versões de cada história, permite-se o uso de recursos e está mais próxima da
oralidade. A criança aprende mais sobre a língua que se fala, amplia seu repertório e seu
universo imaginário, percebe que as histórias podem ser mudadas e começa a criar suas
próprias histórias. Ao ler o professor apresenta aos alunos o universo letrado, instigam a
curiosidade pelos livros e seus conteúdos. Neste caso a história é sempre a mesma,
independente de quem a lê. Podemos modificar a entonação, a altura ou o timbre da voz,
mas o texto é sempre o mesmo. A leitura traz consigo marcas específicas da língua escrita e
que não utilizamos cotidianamente ao falar. A , Ferronato (2014,p. 68) confere a literatura
uma “fonte de prazer e alegria” e como fonte de conhecimento para fortalecer e ampliar as
competências e habilidade dos nossos alunos.”O professor pode criar um cantinho temático
e aconchegante para a leitura ou uma mala de livros. A leitura desperta a curiosidade dos
alunos e o contato com livros oportuniza à criança desenvolvimento da oralidade, a
ampliação do vocabulário e o desenvolvimento de habilidades leitoras. As brincadeiras de
faz de conta não tem regras fixas, pois mudam conforme cada criança, o seu momento, os
objetos com os quais brinca, o que está vivendo, seus companheiros de brincadeira e
situações que deseja compreender.
Músicas: Uma boa forma de interação e brincadeira para crianças pequenas é a música (e a
dança).Ouvindo, apreciando e cantando, cada criança compreende melhor a língua materna
em seus ritmos, entonações e significados. De acordo com Deheinzelind(2018,p.285), “as
cantigas infantis embalam e permeiam a experiência de ser criança”. Desde os bebê que se
encantam com seu ritmo e melodia, até os pequenos que começam a falar e logo nos
surpreendem cantando cantigas de ninar e músicas que ensinamo nas anteriormente.
Conforme crescem, descobrem nas cantigas convites para muitas brincadeiras. O RCNEI
(BRASIL,1998,p.49)reconhece a música como um excelente meio para o desenvolvimento
da “expressão, do equilíbrio, da autoestima e autoconhecimento, além de poderoso meio de
integração social”.
Brincadeiras de roda: As brincadeiras de roda funcionam para juntar as crianças em
grupo. Em geral são acompanhadas de músicas ritmadas e nelas participam todas as
crianças da mesma forma. As regras variam conforme a brincadeira. As canções são
geralmente ritmadas, simples e fáceis de serem memorizadas pelas crianças. Estas
brincadeiras são muito atrativas para os bebês e para as crianças pequenas, pois acolhem,
dão segurança, permitem que elas se vejam, se reconheçam. Aprendem ritmos, a bater
palmas, incorporam novo vocabulário, aprendem a esperar a vez, a sentar, a movimentarem
seguindo uma direção, desenvolvem a motricidade, trabalham o corpo, as emoções, a
autoestima e diversas habilidades.

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Dramatizações e jogos teatrais: Deheinzelin (2018,p.113)define jogos teatrais como:
“uma atividade aceita pelo grupo, limitada por regras e acordo grupal. Também
acompanhada por divertimento, espontaneidade, entusiasmo e alegria, que seguem par e
passo a experiência teatral…” DEHEINZELIND, 2018,p.113).A autora cita algumas
atividades que podem ser trabalhadas com as crianças na Educação Infantil: “jogos de
aquecimento, brincadeiras com objetos imaginários, improvisações e contação de
histórias.”
3. Considerações finais:

O brincar é uma prática que favorece o desenvolvimento integral da criança. É


o recurso, a forma de linguagem que a criança utiliza para compreender a si própria e ao
mundo.
O presente trabalho teve como objetivo discutir a partir de um embasamento
teórico, como as atividades lúdicas são importantes para o desenvolvimento da criança na
etapa da Educação Infantil, buscando compreender a relação entre o brincar e o
desenvolvimento da linguagem oral, bem como as possibilidades de práticas pedagógicas
que contribuem satisfatoriamente para esse processo de desenvolvimento das crianças.
Neste sentido, observamos a necessidade do professor reconhecer a
importância do brincar no processo de ensino e aprendizado, de maneira a orientar sua
prática pedagógica de modo que favoreça o brincar como forma privilegiada de
aprendizagem infantil, organizando espaços e que favoreçam o lúdico.
Diante de embasamentos teóricas destacamos a relevância do trabalho com a
linguagem oral na Educação Infantil enquanto promotora de interação social e formação de
sujeito, por meio de situações de ensino que explorem atividades lúdicas que podem ser
favoráveis a aquisição da linguagem oral pelas crianças, como músicas, brincadeiras orais,
contação de histórias e rodas de conversas, dentre outras.

4. REFERÊNCIAS:

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