O (A) Exmo. Sr. Juiz Federal Pablo Baldivieso (Relator Convocado)

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Documento id 2000348704 - Acórdão

JUSTIÇA FEDERAL
Tribunal Regional Federal da 1ª Região

PROCESSO: 0040160-87.2014.4.01.3500 PROCESSO REFERÊNCIA: 0040160-87.2014.4.01.3500


CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198)
POLO ATIVO: EMPRESA GESTORA DE ATIVOS S.A. - EMGEA
REPRESENTANTE(S) POLO ATIVO: THYAGO MELLO MORAES GUALBERTO - GO18771-A
POLO PASSIVO:EDIFICIO RIO DAS PEDRAS
REPRESENTANTE(S) POLO PASSIVO: ARTUR NASCIMENTO CAMAPUM - GO44006 e LUISA CARVALHO
RODRIGUES - GO59936
RELATOR(A):RAFAEL PAULO SOARES PINTO

PODER JUDICIÁRIO
Tribunal Regional Federal da 1ª Região
Gab. 33 - DESEMBARGADOR FEDERAL RAFAEL PAULO
Processo Judicial Eletrônico

APELAÇÃO CÍVEL (198) n. 0040160-87.2014.4.01.3500

RELATÓRIO
O(A) EXMO. SR. JUIZ FEDERAL PABLO BALDIVIESO (RELATOR CONVOCADO):

Cuida-se de Apelação interposta pela EMPRESA GESTORA DE ATIVOS – EMGEA em face de sentença que a
condenou ao pagamento das despesas condominiais vencidas desde 04/10/2012, referentes ao apartamento de número
801 do Edifício Rio da Pedras.

Alega a apelante (fls. 312/316, arquivo ID 35741080), em síntese, que, com a anulação do procedimento de execução
extrajudicial do imóvel, a propriedade do bem teria retornado aos mutuários WILLIAN DE CARVALHO ALMEIDA e
MARIA TEREZA TEIXEIRA E SILVA ALMEIDA, os quais seriam os verdadeiros responsáveis pelo débito.
Subsidiariamente, sustenta a necessidade de fixação de um termo final para a obrigação, para que seja limitada às
prestações vencidas até a data do trânsito em julgado. Requer, assim, a reforma da sentença de fls. 278/284, integrada
às fls. 304/307 (arquivo ID 35741080).

Intimado, o apelado CONDOMÍNIO DO EDIFÍCIO RIO DAS PEDRAS apresentou as contrarrazões de fls. 331/334.
Reafirmou a responsabilidade da apelante pelo pagamento das despesas de condomínio, na medida em que figura
como proprietária do apartamento junto ao registro de imóveis. Ao mesmo tempo, sustentou a possibilidade de inclusão,
na fase de cumprimento de sentença, das prestações vencidas no curso do processo.

Intimado, o apelado WILLIAN DE CARVALHO ALMEIDA não apresentou contrarrazões.

É o relatório.

Juiz Federal PABLO BALDIVIESO

Relator Convocado

Assinado eletronicamente por: PABLO ENRIQUE CARNEIRO BALDIVIESO - 16/11/2023 14:01:50 Num. 2000348704 - Pág. 1
https://pje1g.trf1.jus.br:443/consultapublica/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23111614015000000001979888887
Número do documento: 23111614015000000001979888887
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PODER JUDICIÁRIO
Processo Judicial Eletrônico
Tribunal Regional Federal da 1ª Região
Gab. 33 - DESEMBARGADOR FEDERAL RAFAEL PAULO

APELAÇÃO CÍVEL (198) n. 0040160-87.2014.4.01.3500

VOTO
O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL PABLO BALDIVIESO (RELATOR CONVOCADO):

Apelação que preenche os requisitos subjetivos e objetivos de admissibilidade.

Quanto ao mérito, observa-se que o apartamento nº 801 do Edifício Rio da Pe dras foi dado como garantia
hipotecária pelos antigos proprietários WILLIAN DE CARVALHO ALMEIDA e MARIA TEREZA TEIXEIRA
E SILVA ALMEIDA à CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, conforme certidão de matrícula de fls. 86/87
(arquivo ID 35741079).

O mesmo documento revela que a cédula hipotecária foi objeto de execução extrajudicial, na forma do
artigo 31 e seguintes do Decreto-Lei nº 70/1966, o que resultou na arrematação do bem pela EMPRESA
GESTORA DE ATIVOS – EMGEA. Já a cópia do mandado de fls. 273/274 (ID 35741080) aponta que a
EMGEA obteve a imissão na posse do imóvel em agosto de 2011, por meio da ação judicial nº 43540-
60.2010.4.01.3500.

Ocorreu que, em outubro de 2012, a aludida execução extrajudicial veio a ser anulada pelo Tribunal
Regional Federal da 1ª Região (processo nº 2010.35.00.000098-0), conforme demonstram os documentos
de fls. 56/119 (ID 35741079). Como consequência, seriam nulos também os atos que resultaram na
aquisição do bem pela apelante.

Nesse contexto, indaga-se de quem seria a responsabilidade pelas despesas condominiais vencidas
desde 04/10/2012, referentes ao imóvel.

Aqui, vale lembrar que as dívidas de condomínio tem natureza propter rem, isto é, elas acompanham o
bem independentemente do proprietário, de acordo com o artigo 1.345 do Código Civil:

Art. 1.345. O adquirente de unidade responde pelos débitos do alienante, em relação ao


condomínio, inclusive multas e juros moratórios.

Não obstante, em determinadas circunstâncias, tais obrigações são de responsabilidade daquele que,
embora não seja proprietário, detém a posse do bem, como na hipótese prevista pelo artigo 27, §8º, da Lei
nº 9.514/97:

Art. 27. Uma vez consolidada a propriedade em seu nome, o fiduciário, no prazo de trinta dias,
contados da data do registro de que trata o § 7º do artigo anterior, promoverá público leilão
para a alienação do imóvel.

(...)

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§8º Responde o fiduciante pelo pagamento dos impostos, taxas, contribuições condominiais e
quaisquer outros encargos que recaiam ou venham a recair sobre o imóvel, cuja posse tenha
sido transferida para o fiduciário, nos termos deste artigo, até a data em que o fiduciário vier a
ser imitido na posse.

Aliás, o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do tema repetitivo nº 886, fixou tese na qual
estabelece a posse como fonte da obrigação de pagar as despesas de condomínio:

“ O que define a responsabilidade pelo pagamento das obrigações condominiais não é o


registro do compromisso de venda e compra, mas a relação jurídica material com o imóvel,
representada pela imissão na posse pelo promissário comprador e pela ciência inequívoca do
Condomínio acerca da transação (…)”.

No caso dos autos, apesar de ter sido anulada a execução extrajudicial que culminou na arrematação do
apartamento nº 801 do Edifício Rio da Pedras pela EMPRESA GESTORA DE ATIVOS – EMGEA, restou
demonstrada a imissão da apelante na posse (fls. 273/274) e a ciência por parte do CONDOMÍNIO DO
EDIFÍCIO RIO DAS PEDRAS (fls. 86/87).

Portanto, ainda que esteja juridicamente inquinado o registro da transferência do bem (forma de aquisição
da propriedade), é certo que a relação jurídico-material de posse foi mantida pela EMGEA a partir da
imissão ocorrida aos 22 de agosto de 2011, não havendo nos autos nenhum elemento de prova em
sentido contrário. Dessa relação, que inclui a disponibilidade de uso e gozo do espaço condominial, é que
se extrai a responsabilidade da apelante pelas despesas em cobrança, vencidas desde 04/10/2012.

Seguindo o mesmo raciocínio, conclui-se que não é possível fixar o termo final da obrigação na data do
trânsito em julgado, como pretendido pela apelante. Ora, considerando que o dever de pagar as despesas
de condomínio decorre da posse, enquanto não houver demonstração de alteração do quadro fático, a
obrigação deve incluir as prestações vencidas no curso do processo, conforme deferido pela sentença de
fls. 304/307 (ID 35741080):

“(…) todas as prestações derivadas da mesma relação material, que se vencerem ao longo do
processo, inclusive após a sentença até a satisfacão final do autor, podem ser exigidas do réu,
inclusive durante o 'cumprimento de sentença' (arts. 475-1 a 475-R) desde que ele, em
homenagem aos princípios do contraditório e da ampla defesa, possa se manifestar
previamente sobre o valor exigido.”

Ante o exposto, nego provimento à apelação.


Sem majoração de honorários, tendo em vista que a sentença foi proferida sob a égide do CPC/73.

É o voto.

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Gab. 33 - DESEMBARGADOR FEDERAL RAFAEL PAULO
Processo Judicial Eletrônico

PROCESSO: 0040160-87.2014.4.01.3500 PROCESSO REFERÊNCIA: 0040160-87.2014.4.01.3500


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REPRESENTANTES POLO ATIVO: THYAGO MELLO MORAES GUALBERTO - GO18771-A
POLO PASSIVO:EDIFICIO RIO DAS PEDRAS
REPRESENTANTES POLO PASSIVO: WASHINGTON LOPES CARDOSO - GO23365-A

E M E N T A
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA. DESPESAS DE CONDOMÍNIO. OBRIGAÇÃO
PROPTER REM. RESPONSABILIDADE DO ARREMATANTE IMITIDO NA POSSE. POSTERIOR
ANULAÇÃO DA ARREMATAÇÃO. IRRELEVÂNCIA. LIMITAÇÃO DA OBRIGAÇÃO AO TRÂNSITO EM
JULGADO. IMPOSSIBILIDADE. APELAÇÃO DESPROVIDA.

1. A s dívidas de condomínio tem natureza propter rem, isto é, elas acompanham o bem
independentemente do proprietário, de acordo com o artigo 1.345 do Código Civil. Não obstante, em
determinadas circunstâncias, tais obrigações são de responsabilidade daquele que, embora não seja

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proprietário, detém a posse do bem (artigo 27, §8º, da Lei nº 9.514/97 e tema repetitivo nº 886 do STJ).

2. No caso dos autos, apesar de ter sido anulada a execução extrajudicial que culminou na arrematação
do apartamento nº 801 do Edifício Rio da Pedras pela EMPRESA GESTORA DE ATIVOS – EMGEA,
restou demonstrada a imissão da apelante na posse (fls. 273/274) e a ciência por parte do CONDOMÍNIO
DO EDIFÍCIO RIO DAS PEDRAS (fls. 86/87). Dessa relação jurídico-material de posse, a qual inclui a
disponibilidade de uso e gozo do espaço condominial, é que se extrai a responsabilidade da apelante
pelas despesas de condomínio.

3. Não é possível fixar o termo final da obrigação na data do trânsito em julgado, como pretendido pela
apelante. Enquanto não houver demonstração de alteração do quadro fático, a obrigação deve incluir as
prestações vencidas no curso do processo, conforme pleiteado na petição inicial e deferido pela sentença.

4. Apelação desprovida.

ACÓRDÃO

Decide a Décima Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, por unanimidade, negar provimento à
apelação, nos termos do voto do relator.

Brasília,

Juiz Federal PABLO BALDIVIESO

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