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SAÚDE
ENFERMAGEM EM DOAÇÃO E
TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS
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122p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-8241-265-7
CDD 610.736
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................4
2
2 HISTÓRIA DOS TRANSPLANTES ............................................................................................5
TRANSPLANTES ................................................................................................................................79
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................119
1 INTRODUÇÃO
No Brasil, o primeiro transplante foi feito em 1985, no Hospital das Clínicas, em São
Paulo, por Raia e sua equipe, que também realizaram o primeiro transplante intervivos, em 1988.
O transplante de partes do pâncreas para o tratamento de pacientes diabéticos foi sugerido no
início de 1924, mas somente após o uso de uma imunossupressão efetiva é que se investiram
grandes esforços no sentido de tratar o diabetes mellitus por meio do transplante total de
pâncreas. Em 1966, Kelly e equipe fizeram um alotransplante de rim e pâncreas em um paciente
portador de uma nefropatia diabética em fase terminal. Desde então, centenas de transplantes
têm sido realizados com o pâncreas total, parcial ou com ilhotas pancreáticas.
Até 1978, o transplante renal tinha progredido para um estágio em que era evidente a
sua contribuição para o tratamento da insuficiência renal, mas havia dúvidas consideráveis sobre
o futuro dos transplantes de outros órgãos. Felizmente, naquele ano, surge uma nova droga
imunossupressora, a ciclosporina, que se revelou um agente imunossupressor tão potente no
homem quanto já havia sido demonstrado em animais. A ciclosporina revolucionou os
transplantes clínicos em todo o mundo, não somente em termos de aumentar o número de
transplantes e o índice de sobrevida, mas também ao encorajar a comunidade em relação aos
transplantes.
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3 ASPECTOS LEGAIS DOS TRANSPLANTES NO BRASIL
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, não estão compreendidos entre os tecidos a
que se refere este artigo o sangue, o esperma e o óvulo.
Artigo 7 – Vetado
1. (VETADO)
2. (VETADO)
5. A doação poderá ser revogada pelo doador ou pelos responsáveis legais a qualquer
momento antes de sua concretização.
7. É vedado à gestante dispor de tecidos, órgãos ou partes de seu corpo vivo, exceto
quando se tratar de doação de tecidos para ser utilizado em transplante de medula óssea e o ato
não oferecer risco à saúde ou ao feto.
b) apelo público no sentido da doação de tecido, órgão ou parte do corpo humano para
pessoa determinada, identificada ou não, ressalvado o disposto no parágrafo único;
Artigo 12 - (VETADO)
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I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
IV - aceleração de parto:
II - enfermidade incurável;
IV - deformidade permanente;
V – aborto;
Lei:
Pena - reclusão, de seis meses a dois anos, e multa de 100 a 250 dias-multa.
Artigo 24 - (VETADO)
Nelson A. Jobim
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
CAPÍTULO I
"Art. 2º ......................................................................
........................................................................." (NR)
"§ 1º Nos casos em que o receptor seja juridicamente incapaz ou cujas condições de
saúde impeçam ou comprometam a manifestação válida da sua vontade, o consentimento de
que trata este artigo será dado por um de seus pais ou responsáveis legais." (NR)
"§ 2º A inscrição em lista única de espera não confere ao pretenso receptor ou à sua
família direito subjetivo a indenização, se o transplante não se realizar em decorrência de
alteração do estado de órgãos, tecidos e partes, que lhe seriam destinados, provocado por
acidente ou incidente em seu transporte." (NR)
José Gregori
José Serra
4 POLÍTICAS PÚBLICAS DE TRANSPLANTES
5. Os dez pacientes não são identificados pelo nome para evitar favorecimento. Só
suas iniciais e números são mostrados. Nesta etapa, todos os profissionais da central têm
acesso ao cadastro;
6. O laboratório refaz vários exames e realiza outros novos com material armazenado
desse receptor. Nesse momento, o receptor ainda não é comunicado;
2) Notificação
3) Avaliação
A OPO informa a Central de Transplantes quando o doador já tem toda a sua avaliação
completa e o mesmo é viável. São passadas todas as informações colhidas, resultados de
exames, peso, altura, medicações em uso, condições hemodinâmicas atuais, bem como local e
hora marcada para a extração dos órgãos.
8) Liberação do corpo
7 - Central de Transplantes com a lista definitiva dos receptores para cada órgão,
informa as Equipes de Transplante;
O doador
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AIDS
Tuberculose ativa
Sífilis
Doença de Chagas
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Débito urinário adequado
Ausência de etilismo
Ausência de tabagismo
Morte Encefálica
Conceituação
De acordo com a Comissão para os Estudos dos Problemas Éticos na Pesquisa
Comportamental Médica e Biomédica, Morte Encefálica (ME) é um quadro clínico num paciente
portador de doença estrutural ou metabólica conhecida, de caráter completa e indubitavelmente
irreversível, expressando falência total de todas as funções de todo o encéfalo, inclusive do
tronco encefálico, quadro clínico este que persiste de maneira invariável por um período mínimo
de seis horas. Portanto, a morte encefálica consiste na parada total e irreversível das
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atividades do encéfalo.
Diagnóstico
1. Critérios Clínicos
2. Exames Laboratoriais
Embora na opinião da maioria dos autores a ME possa ser diagnosticada unicamente
através de critérios clínicos, recomenda-se a confirmação dos achados clínicos por um exame
complementar que evidencie a ausência de fluxo sanguíneo e/ou de eletrogênese encefálicos.
Tais exames podem ser:
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Angiografia cerebral;
Mapeamento cerebral por radionuclídeo, que consiste na injeção
endovenosa de 99mTc, que passa através da circulação cervical para dentro do crânio;
a ausência de circulação intracraniana é confirmatória de ME;
Eletroencefalograma (EEG), que é o exame mais prático e o mais
difundido;
Estudo dos potenciais evocados do tronco encefálico.
Quanto à realização dos testes devem estar presentes 2 médicos no mínimo, sendo
um deles necessariamente especialista em Neurologia. É proibida a participação dos médicos
integrantes da equipe especializada em captação de órgãos e transplante em qualquer etapa do
diagnóstico de ME.
Período de observação
O atestado também deve ser feito por dois médicos capacitados e que não estejam
envolvidos em equipes de transplantes. A terapia contínua após a expedição de um atestado de
ME só se justifica na preservação de órgãos para transplantes ou quando se tratar de uma
paciente grávida com um feto viável. O atestado de ME equivale a um atestado de óbito e a data
documentada por esse atestado é considerada a data do óbito a ser usada para todos os
procedimentos médicos e legais.
Monitorização e avaliação de parâmetros vitais Pulso, saturação de oxigênio, PA, PVC, PAP e
e hemodinâmicos a intervalos regulares. PCP. A manutenção de uma PA sistólica entre
100-120 mmHg é considerado suficiente para
manter a adequada perfusão dos tecidos.
Reposição rigorosa das perdas volêmicas. Manter a PVC no nível considerado ideal. Na
persistência da hipotensão, drogas vasoativas
estão indicadas e sua administração deverá
ser rigorosamente controlada, seus efeitos
detectados e comunicados.
Aplicar colírio em região ocular regularmente e Evitar ressecamento das córneas e formação
ocluir olhos com gaze de úlceras.
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Por serem características gerais das diversas modalidades, trataremos sobre elas de
forma geral, para que depois possamos prosseguir abordando cada modalidade separadamente.
O objetivo desta parte do módulo é apresentar os aspectos principais da imunologia e rejeição
no paciente transplantado, bem como os cuidados com os medicamentos imunossupressores e
as infecções no paciente transplantado.
IRMÃO
C
PORCO
D
D IRMÃO
GÊMEO B
MACACO A IRMÃO
GÊMEO
Tipos de rejeição
Rejeição Hiperaguda
Mediada por anticorpos, ocorre minutos a poucas horas após o transplante em
pessoas previamente sensibilizadas. A sensibilização prévia ocorre após transfusões
sanguíneas, gestações múltiplas ou transplantes anteriores. Um dos exemplos mais dramáticos
é verificado quando órgãos, geralmente rins ou coração, de doadores de grupos sanguíneos A e
B são transplantados para receptores do grupo O, que normalmente possuem isoemaglutininas
pré-formadas contra os antígenos A e B.
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As lesões básicas na rejeição hiperaguda são arterite e arteriolite agudas
disseminadas, trombose vascular e necrose isquêmica. Com a prática das provas de reação
cruzada, que detectam a presença de anticorpos do receptor contra os linfócitos do doador, a
rejeição hiperaguda pode ser evitada.
Rejeição aguda
Ocorre dentro de alguns dias em receptores não tratados com imunossupressores ou,
então, meses a anos após a interrupção da imunoterapia. Nesse tipo de rejeição, pode haver
participação tanto da imunidade celular (rejeição aguda celular), como da humoral (rejeição
aguda humoral), predominando um ou outro mecanismo. A rejeição aguda celular ocorre nos
primeiros meses pós-transplante, com início súbito e é detectada pela deterioração clínica das
funções do órgão. É muito importante o diagnóstico de rejeição celular, pois ela responde
prontamente à terapia imunossupressora.
Rejeição crônica
Usualmente evolui de forma insidiosa e não é passível de reversão com a terapêutica
instituída. Esse tipo “crônico” pode surgir dentro de poucas semanas após o transplante, e é
mais bem observado nos transplantes renais. Por se tratar de um processo inespecífico, é difícil
identificar os mecanismos patogenéticos que levam a ela.
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5.4 Imunossupressão
- FK506: age na inativação das células T; dose calculada de acordo com o peso; nível
da droga é dosado no sangue, em jejum e 1h antes da próxima dose; quando usado, substitui a
ciclosporina. Efeitos colaterais: diarreia, náuseas e vômitos.
Infecções no primeiro mês pós transplante Mais de 90% das infecções são infecções
bacterianas hospitalares. Relacionadas com o
ato cirúrgico, cuidados pós-operatórios e
complicações cirúrgicas.
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Raramente ocorrem infecções oportunistas.
Infecções no segundo ao sexto mês pós- Maior risco de surgimento das infecções pelos
transplante vírus imunomoduladores (citomegalovírus,
herpes vírus e vírus Epstein-Barr)
Infecções após o sexto mês de transplante Os pacientes cujos transplantes foram bem-
sucedidos recebem, a partir deste período, doses
menores de imunossupressores, tendo um
quadro de infecções muito semelhante ao da
população geral. Entretanto, cerca de 10% dos
pacientes desenvolvem infecções crônicas e
progressivas por vírus da hepatite B e C, CMV ou
papilomavírus. Pode ocorrer disfunção do órgão
infectado e o risco de certos tipos de neoplasia é
maior a partir deste período. Outros 5-10% dos
transplantados acabam por desenvolver
episódios recorrentes de rejeição aguda ou
crônica, necessitando de um aumento da carga
imunossupressora, mantendo-se, portanto, em
permanente risco de infecções oportunistas.
A maior parte dos pacientes transplantados que evolui com infecção sistêmica
apresenta febre. Embora isto facilite a suposição diagnóstica sobre processos infecciosos em
geral, é importante lembrar que a imunossupressão interfere nas manifestações clínicas usuais
da infecção, mascarando seus sintomas e sinais, inclusive a própria resposta febril. Na presença
de febre é de fundamental importância a identificação do foco infeccioso. A investigação deve se
iniciar através de uma história clínica bem detalhada e de um exame físico dirigido
especialmente para o tórax, mucosa oral, abdome e região perineal.
O diagnóstico das diversas infecções no transplantado pode, entretanto, ser dificultado
pela existência de processos infecciosos não acompanhados de febre. Além disso, pode ocorrer
febre em doenças não relacionadas com infecção, como nas rejeições agudas, nas reações
hemolíticas, na trombose venosa profunda, nas reações a drogas, nas isquemias ou nos infartos
do órgão transplantado. Deste modo, é de suma importância que a equipe de saúde esteja
sempre com sua atenção voltada para a possibilidade de infecção no paciente transplantado,
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sempre que este apresentar evolução clínica diferente daquela habitualmente esperada.
6 AS DIFERENTES MODALIDADES DE TRANSPLANTES,
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Este módulo tem como objetivo apresentar ao estudante um breve resumo das
diversas modalidades de transplante atualmente disponíveis, destacando suas principais
indicações, contraindicações e resultados. Aborda-se também o xenotransplante, a polêmica
modalidade ainda em fase experimental, que transplanta órgãos e tecidos entre seres vivos de
espécies diferentes. Não é objetivo deste módulo apresentar detalhadamente a descrição de
cada técnica cirúrgica, cabendo ao estudante interessado em determinada modalidade, a busca
por maiores conhecimentos. A assistência de enfermagem dos três tipos de transplantes de
órgãos sólidos mais realizados será apresentada no próximo módulo.
O transplante renal pode ser feito tanto a partir de doador vivo quanto de doador
falecido. O doador vivo é, na maioria das vezes, parente em primeiro grau do receptor. O
parentesco e, quando possível, a seleção do mais semelhante imunologicamente entre eles faz
com que, a médio e longo prazo, a duração do enxerto seja maior no transplante com doador
vivo do que no transplante com doador falecido. O número de indivíduos na fila de espera por
um transplante de rim tem aumentado significativamente nos últimos anos, e, embora o número
de transplantes realizados em cada ano também tenha aumentado, apenas uma pequena
porcentagem dessas pessoas chega efetivamente a ser transplantada.
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Estima-se que 0,3% da população ocidental seja acometida pelo diabetes mellitus tipo
I. Esse grande número de pacientes vem assistindo a um grande progresso no controle
medicamentoso e de suporte da doença que, por muitos anos, levava vidas rapidamente em
quadros de cetoacidose. A descoberta da insulina, entretanto, não significou a cura, mas apenas
um controle eficiente da doença, já que, apesar dos múltiplos regimes terapêuticos disponíveis,
as complicações secundárias da endocrinopatia podem apenas ser adiadas, mas não evitadas.
Além disso, é sabido que os pacientes são submetidos, continuamente, a um regime alimentar
restrito.
O candidato a este tipo de transplante deve ter diabetes tipo I há mais de 5 anos, com
idade superior a 18 anos, sem complicações e com a função renal normal, peso não superior a
60 kg, uso de menos de 30U de insulina por dia e com frequentes crises de hipoglicemia severa
que passam despercebidas. Nesses casos, a substituição da insulina pela imunossupressão é
totalmente justificada.
Quando se faz o transplante, tanto de ilhotas como de pâncreas, não se pode garantir
que o paciente ficará independente das aplicações de insulina. Na grande maioria dos casos, a
quantidade de insulina necessária fica, no mínimo, diminuída, o que já é um grande conforto
para as pessoas que sofriam de hipoglicemias assintomáticas.
Os transplantes intestinais, apesar de ainda não terem obtido o mesmo sucesso dos
transplantes de rins, fígado ou coração, têm sido indicados e realizados com maior frequência
em alguns centros de transplante, com resultados bastante satisfatórios. Comparados com
outros órgãos que são amenos para o transplante, o trato gastrointestinal tem provado ser
particularmente difícil. No mínimo duas questões parecem ser responsáveis. A primeira é que o
trato gastrintestinal é o órgão mais imunologicamente abundante no corpo em termos de
linfócitos. Eles servem como um forte estímulo para a rejeição. O segundo é que a flora
bacteriana do intestino delgado e grosso serve como um grande reservatório de patógenos
potenciais, aumentando o risco de infecção após o transplante.
As tentativas iniciais de transplante do intestino delgado começaram nos meados dos
anos 60 e duraram até o início dos anos 70, mas foram abandonados porque todos os pacientes
morreram. O advento de imunossupressores mais eficazes foi o passo crítico que permitiu ao
transplante do intestino delgado continuar. Tentativas registradas começaram de novo em 1987.
Embora esse paciente também tenha morrido subsequentemente, a duração da sobrevivência
da criança (> 6 meses de sobrevivência) demonstrou que o uso de ciclosporina, como um
imunossupressor, poderia acentuar a sobrevivência significantemente. O próximo avanço
importante veio no início dos anos 90, com o advento de imunossupressores mais efetivos
(tacrolimus). No entanto, a maior barreira ao sucesso dos transplantes intestinais continua sendo
imunológica, cujo progresso depende do desenvolvimento de medidas preventivas, métodos
diagnósticos e tratamento da rejeição.
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O transplante intestinal é indicado para os pacientes com disfunção intestinal ou
submetidos a uma ressecção total ou quase total do intestino delgado, produzindo uma síndrome
de má-absorção, conhecida como síndrome do intestino curto. Os pacientes com essa síndrome
têm uma qualidade de vida ruim e alta mortalidade. Inicialmente, eles devem ser incluídos em
um programa de adaptação intestinal, com o objetivo de conseguir o máximo da capacidade
absortiva dos intestinos. É o período necessário para que o paciente possa utilizar a via oral e
manter o seu estado nutricional. O tempo gasto para esta adaptação pode durar mais de um ano
e depende de dois fatores principais: comprimento com qualidade do intestino remanescente e a
presença do piloro ileocecal.
O transplante intestinal é uma opção viável e a mais promissora para esses casos. No
entanto, devem ser empregados, como primeira opção, outros procedimentos cirúrgicos, tais
como os esfíncteres artificiais e a interposição do segmento do cólon, que podem apresentar
bons resultados, embora não definitivos. A solução definitiva para pacientes com síndrome do
intestino curto, dependentes da nutrição parenteral total, é o transplante intestinal. As principais
causas da síndrome de intestino curto, em crianças e adultos, estão apresentadas no quadro a
seguir.
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Na criança No adulto
A taxa de sobrevivência geral de pacientes com a síndrome de intestino curto nos anos
recentes está na faixa de 80% a 94%, embora, a mortalidade seja maior naqueles com
enterocolite necrosante. Em pacientes (principalmente aqueles com síndrome do intestino curto)
que requerem nutrição parenteral de longo prazo (até 25 anos), a sobrevivência é de
aproximadamente 94%. A sobrevivência em longo prazo após o transplante de intestino delgado
é significantemente menor do que aquele para a nutrição parenteral de longo prazo. Como
observado previamente, entretanto, aproximadamente 4% das crianças desenvolvem
insuficiência hepática. Essas crianças encontram sua única esperança para sobrevivência no
transplante de intestino delgado.
A escolha para utilização de enxertos finos ou grossos, parciais ou totais vai depender
do tipo e das características da área a ser transplantada. Por exemplo, os enxertos finos têm
maior possibilidade de integração em relação aos de pele total que, por sua vez, têm melhores
resultados estéticos e menor tendência à retração em longo prazo. Quanto às áreas doadoras,
praticamente toda a superfície corporal pode ser utilizada como área doadora, principalmente
quando há necessidade de se enxertar grandes áreas, mas algumas áreas são consideradas
preferenciais: costuma-se preferir a retirada de pele das coxas, dos braços, do abdômen e das
costas, pela facilidade da retirada. Não é possível apenas usar a pele das mãos e da face.
Como foi visto até agora, o transplante de pele é um pouco diferente de outros
transplantes. Ele não é um transplante definitivo, quando utilizada pele de doador falecido.
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Inicialmente tem uma durabilidade de duas a três semanas, não mais que isso. A partir desse
período, começa a haver rejeição. Essa pele não sofre uma rejeição imediata porque o paciente
queimado é extremamente imunossuprimido, ou seja, tem uma resistência muito baixa, causada
pela própria queimadura. A queimadura causa um grau avançado de imunossupressão, por isso
na fase inicial o enxerto é aceito normalmente, mas após o período de duas a três semanas o
paciente passa a ter uma melhora clínica por conta do transplante e, consequentemente, uma
melhora imunológica, o que leva à rejeição e a queda da pele enxertada.
Esse transplante com pele doada tem como objetivo fazer com que o paciente tenha
uma melhora clínica. Com a cobertura da pele queimada pela do próprio paciente, essa
definitiva, ou pela de doador, ela promove uma integração e o paciente apresenta uma melhora
do ponto de vista clínico, nutricional e infeccioso, já que a perda de proteínas e nutrientes
causada pela queimadura deixa de acontecer. Com isso, ganha-se tempo para que a pele do
paciente retirada para o transplante definitivo se recupere para que se possa então fazer outros
transplantes nos locais antes cobertos com pele de doador. A cobertura da área queimada é
gradativa.
O tempo de recuperação total para um paciente com uma queimadura grande leva
aproximadamente três meses. Do ponto de vista de cobertura de pele a recuperação é total, mas
esses pacientes, na maioria das vezes, desenvolvem algumas sequelas. A principal delas é
estética. O paciente queimado leva para o resto da vida o estigma das queimaduras, já que é
nítido, ao olhar para a pele, que esta não é natural. Além disso, ele fica com cicatrizes e a
qualidade da pele enxertada nunca é igual à natural, ela é mais sensível e menos elástica.
6.8 Transplante de Ossos
Diferente dos órgãos que podem ser doados, o osso não apresenta nenhum tipo de
rejeição. Como o osso é basicamente de cálcio e fósforo, não existe o antígeno, que vai provocar
um anticorpo no paciente que o recebe. Desta forma, qualquer osso serve pra qualquer pessoa.
O preconceito em relação às doações de ossos é o principal obstáculo às pessoas que estão na
fila de espera para receber um transplante ósseo. Em todo o Estado de São Paulo só foram
realizadas 12 doações de ossos em 2007.
Assim como nos demais órgãos, a doação só pode ser feita após a constatação da
morte encefálica. Em 2007, foram 1.719 mortes nesta situação. Somente 22% doaram qualquer
tecido. Desses, 80% recusaram doar o osso. O primeiro grande motivo é que os familiares
acham que vai deformar o corpo, o que não é verdade. O osso doado é substituído por prótese e 73
o corpo é entregue à família sem deformação alguma.
A córnea raramente é rejeitada porque ela não possui uma irrigação sanguínea própria,
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ela recebe oxigênio e outros nutrientes dos tecidos e líquido próximos. Como os anticorpos
(proteínas produzidas em resposta a antígenos, neste caso as do tecido estranho) e as células
do sistema imune, as quais circulam no corpo, não atingem a córnea transplantada, a rejeição de
um transplante de córnea é menos provável que a de um tecido que possui uma irrigação
sanguínea abundante.
6.10 Xenotransplantes
Barreiras Clínicas
Barreiras Éticas
Barreiras econômicas
Como uma técnica em desenvolvimento, implica em grandes
investimentos.
Além disso, os custos do xenotransplante são astronômicos. O uso
vitalício de medicamentos, as hospitalizações periódicas e a possibilidade de surgirem novas
doenças podem extenuar o sistema de saúde já sobrecarregado.
Além de tudo aquilo já mencionado anteriormente, existe ainda outro problema, que é a
falta de informação do público em geral, referente a possíveis preconceitos ou medos. Existe por
isso uma grande responsabilidade dos pesquisadores, dos meios de comunicação e de todos
aqueles que são responsáveis por informar a sociedade, em dar a conhecer corretamente o
problema.
Na curta história dos xenotransplantes, nenhuma tentativa de colocar um órgão animal
em um corpo humano teve sucesso. As pessoas que receberam órgãos de animais sofreram
graves complicações e nenhuma deixou o hospital com vida. Todas morreram poucos meses
após o transplante. Desde o início dos xenotransplantes, as autoridades de saúde reconhecem
os riscos de transplantes de órgãos de animais para a saúde humana. Portanto, acredita-se que
o mesmo deve ser visto com cautela, e não ainda como alternativa à utilização de órgãos
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humanos. Campanhas que busquem aumentar a conscientização da população sobre a doação
de órgãos, visando aumentar o número de doadores, continuam sendo a opção mais aceitável
do ponto de vista ético e científico.
7 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM DIFERENTES MODALIDADES DE TRANSPLANTES
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A atuação do enfermeiro no transplante hepático inicia-se no ambulatório, quando o
paciente é encaminhado para avaliação da indicação do transplante. É feita uma consulta por um
dos médicos da equipe e, posteriormente, discute-se o caso numa sessão clínica do grupo,
quando é confirmada ou não a indicação cirúrgica. Uma vez candidato ao transplante, o paciente
é encaminhado ao enfermeiro da equipe, que desenvolverá primordialmente as seguintes
funções:
Identificação do paciente
História pregressa
Medicamentos em uso
Hábitos alimentares
Atividade sexual
Traços étnico-culturais
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Higiene corporal
Integridade cutaneomucosa
Edema
Cicatrizes
Perfusão capilar
Para essas informações são utilizados recursos audiovisuais, bem como um manual do
transplantado hepático, elaborado geralmente pela equipe multiprofissional que dá suporte ao
paciente transplantado. Este manual deve trazer, de forma clara e objetiva, as principais
informações e orientações referentes ao transplante, em todas as suas fases, e ser entregue ao 82
paciente e família logo no início das consultas pré-operatórias e de acompanhamento. As
informações importantes, de interesse do paciente, incluindo endereço e telefone do hospital e
da equipe, devem estar contidas nele.
( ) Retiradas jóias e próteses, e familiares foram orientados quanto à guarda dos mesmos
3) Fase transoperatória
Assim como em qualquer cirurgia, o paciente está sujeito a riscos e, entre eles, a
rejeição do órgão transplantado e a infecção pós-operatória merecem destaque. A enfermagem
cirúrgica pode atuar efetivamente no controle da infecção da ferida operatória. A cirurgia de
transplante hepático é considerada uma cirurgia limpa. O tempo cirúrgico varia de 4-12 horas,
exigindo anestesia prolongada, com grande manuseio de tecidos e órgãos, necessidade de
ampla reposição de líquidos e sangue, sem contar o estresse físico e psicológico ao qual o
paciente está sujeito.
O transporte do paciente a ser transplantado é feito até o centro cirúrgico pela equipe
de transporte do setor, sendo recepcionado pelo enfermeiro da equipe, que recebe as
informações referentes ao paciente e confere seu prontuário. O paciente é transportado à sala
cirúrgica e recebido pelos anestesiologistas e equipe de enfermagem da sala de operações. O
receptor é transferido da maca para a mesa cirúrgica, provida de colchão térmico forrado com
controlador de fluidos corpóreos, que os absorve com eficiência minimizando o contato e a
potencial contaminação dos profissionais, além de evitar a hipotermia.
Simultaneamente, são montadas três mesas cirúrgicas, sendo uma para o preparo dos
equipamentos da circulação extracorpórea do fígado (nem sempre necessária), outra com os
instrumentais cirúrgicos, e os instrumentos especiais são dispostos na mesa de Mayo. É feita a
antissepsia das regiões torácicas e axilares, abdominal e inguinais direita e esquerda, utilizando
solução de PVPI degermante e, a seguir, PVPI tópico. São colocados os campos adesivos na
região abdominal.
4) Fase pós-operatória
Na UTI
Na UTI, o planejamento dos cuidados de enfermagem ao paciente transplantado
objetiva avaliar, detectar, antecipar e intervir nas potenciais complicações que se seguem ao
transplante: complicações técnicas resultantes de um procedimento cirúrgico complexo e
extenso, e aquelas decorrentes da resposta imunológica do hospedeiro ao enxerto e do regime
de imunossupressão.
Monitor de eletrocardiograma
Eletrocardiógrafo
Cobertores térmicos
Oxímetro de pulso
Glicosímetro
Relógio/calendário
Diante disso, não oferecemos aqui uma resposta, mas cabe uma política institucional
que defina normas de prevenção e controle de infecção considerando riscos, benefícios e custos
de determinadas práticas. Os princípios de assepsia e lavagem das mãos devem ser reforçados
conforme preconizado, além da adoção de outras precauções padrão, como métodos simples e
de baixo custo na prevenção e redução da incidência de infecções hospitalares.
Na Unidade de Internação
Queixas de dor e sinais de edema, hematoma As discrasias sanguíneas podem persistir até a
e equimoses em qualquer local normalização da função do enxerto.
Verificar parâmetros vitais a cada quatro horas até a estabilização e após, de seis em seis horas.
A hipertensão pode estar relacionada com o esquema de imunossupressão, com a rejeição e
com outras causas. A taquicardia pode refletir instabilidade hemodinâmica, infecção ou rejeição.
A febrícula pode indicar rejeição. Alterações no sistema respiratório são comuns nos pacientes
transplantados.
Observar e comunicar sinais e sintomas de outras complicações como: dispneia, tosse seca ou
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produtiva, náuseas, vômitos ou diarreias prolongadas, dor, sangramento.
Pesar e aferir o perímetro abdominal do paciente diariamente. Estes dados auxiliam na avaliação
do estado nutricional e do equilíbrio hídrico do paciente, além de monitorar a evolução da ascite,
quando presente.
Medir e anotar volume e aspecto da diurese. A síndrome hepatorrenal pré-operatória comum nos
hepatopatas, a nefrotoxicidade da ciclosporina, a resposta ao trauma cirúrgico e a rejeição
comprometem, às vezes de forma grave, a função renal.
Verificar a glicosúria a cada seis horas. Comunicar, se positiva, uma vez que alguns pacientes
necessitam de insulina para controlar a hiperglicemia induzida pelos esteroides.
Fazer balanço hídrico, constituindo um dado para avaliar a função hepatorrenal, controlar o uso
de diuréticos e identificar desequilíbrio hídrico do paciente.
- Cuidados com o dreno biliar, se utilizado e conforme descrição prévia. Por volta do
sétimo dia de pós-operatório são feitas uma colangiografia via dreno biliar, uma ultrassonografia
e uma biópsia hepática percutânea. Havendo alteração importante de crase sanguínea, são 97
prescritos hemocomponentes para infusão antes e após a punção, com o objetivo de evitar
sangramentos. É indicado antibiótico profilático em alguns serviços e administrado antes da
colangiografia. Não havendo alterações na árvore biliar pela ultrassonografia e pela
colangiografia, o dreno é fechado e mantido por três a seis meses, dependendo do serviço,
quando será então retirado. Queixas de cólica abdominal, mal-estar e febre durante as primeiras
24 horas de pinçamento do dreno devem ser notificadas. O aparecimento desses sintomas pode
indicar obstrução ou infecção de vias biliares e requer reabertura do dreno.
- Cuidados com drenos aspirativos, se ainda mantidos nesta fase. Encaminhar pontas
de cateteres e drenos para cultura conforme protocolo do serviço.
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Os cuidados acima mencionados, nessa última fase de contato da enfermagem com o
paciente hospitalizado, devem ter como meta principal a motivação do paciente e familiares no
sentido de prepará-los para o autocuidado, já preparando-os para a alta hospitalar.
Alta hospitalar
O momento da alta hospitalar é muito aguardado pelo paciente e seus familiares, mas
pode ao mesmo tempo gerar muita tensão, uma vez que dúvidas quanto ao estado do paciente e
seus cuidados no ambiente domiciliário podem existir. É importante que o enfermeiro esteja
sensível a estas questões no momento da alta e mesmo durante a internação do paciente,
planejando fornecer as muitas informações de alta em pequenas porções, dia após dia. Tal
medida pode favorecer a assimilação das orientações pelo paciente e familiares, bem como
reduzir a ansiedade. Tais orientações estendem-se a todas as modalidades de transplante.
Por ocasião da alta hospitalar, espera-se que o paciente transplantado esteja apto a:
Manter dieta condizente com suas necessidades nutricionais. Evitar consumo de doces e
frituras, beber somente água filtrada.
Reconhecer sinais e sintomas relacionados aos efeitos adversos das drogas em uso.
Registrar em um diário, criado exclusivamente para este fim, todos os dados da sua evolução
diária.
Evitar aglomerações, contatos com qualquer tipo de animal e pessoas doentes, pelo menos nos
seis primeiros meses pós-transplante. Usar máscara e lavar as mãos, caso necessite se expor.
Compreender a dinâmica com a qual poderá voltar a desempenhar atividades físicas: limitações
de peso por 60 dias após o transplante; esforço: subir escada devagar com uso de corrimão se
necessário; direção de carros após 30 dias apenas; atividade sexual após liberação médica
(geralmente em torno de 30 dias após transplante). Exercícios Físicos: caminhadas de 15
minutos inicialmente; uso de cinta para obesos ou pacientes com sobrepeso, deve ser
providenciada desde a internação.
Acompanhamento ambulatorial
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Após a alta, o paciente é orientado a fazer o controle ambulatorial com retornos
semanais, passando a quinzenais, mensais, conforme a evolução do mesmo. Esse
acompanhamento tem por objetivos:
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Preparo pré-operatório como: jejum, tricotomia, preparo da pele, remoção de prótese dentária,
retirar esmalte
Limitar o número de visitantes e orientá-los a lavar as mãos ao entrar no quarto, para prevenir
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infecção
Estar atento aos principais cuidados na utilização de dispositivos, tais como, drenos, sondas e
cateteres pós-procedimento.
Caso haja prescrição médica pré-definida, realizar a administração dos medicamentos, coleta
de exames padronizados na instituição ou prescritos pelo médico e procedimento preparatórios.
2. Período transoperatório
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Evolução esperada nos primeiros dias após o procedimento, enfocando o funcionamento do rim
transplantado; avaliação da função do enxerto, por meio da avaliação da eliminação urinária,
bem como da evolução dos exames clínicos de função renal (ureia, creatinina, sódio e potássio); 105
Avaliar função renal: controle de diurese a cada hora, objetivando-se um padrão maior ou igual a
30 ml/h; Observar manutenção do cateter urinário pérvio;
Manejo e controle da dor: no paciente consciente, realizar a avaliação da dor utilizando-se escala
numérica ou analógica (5º sinal vital);
Instituir cuidados para a prevenção de infecção: realização de curativos com técnica asséptica,
restrição de visitas, entre outros;
Enxerto
Rejeição Rejeição
A família e o paciente se percebem não podendo mais viver como antes, e então
procuram atravessar a experiência do transplante buscando estratégias que os façam sentir que
estão se fortalecendo em meio às adversidades impostas pela condição da doença. É uma luta
constante de enfrentamento e adaptação à nova realidade. Quando pensamos em
enfrentamento e adaptação da doença, estudos mostram que é necessário que conheçamos o
desdobramento dinâmico da doença em estudo e seus tratamentos e processos de acordo com
o tempo. Assim, se pensarmos na experiência de um transplante de órgãos, podemos designar a
ele as seguintes fases:
WADE C. R.; REITH K. K.; SIKORA J. H.; AUGUSTINE S. M. Postoperative Nursing care of
the cardiac Transplant recipient. Crit. Care Nurs. Q. jan-mar 2004; 27(1):17-28; quiz 29-30.