Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. Clearance Mucociliar
INTRODUÇÃO
Em pacientes com disfunções pulmonares crônicas - como fibrose cística, bronquiectasia, bronquite
crônica, asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), síndrome ciliar imóvel - e em doenças
neuromusculares, além de ocorrer aumento na produção de muco e alteração de sua composição, a
defesa mecânica pulmonar toma-se ineficaz, o que ocasiona retenção importante de secreções no trato
respiratório. Esse acúmulo de secreções, por sua vez, favorece o estabelecimento de infecções, causando
atelectasias e/ou anormalidades na hematose e na mecânica pulmonar. Perante tais condições, esses
pacientes necessitam de auxílio para que possam eliminar e prevenir o acúmulo das secreções retidas.
CLASSIFICAÇÃO
As técnicas e recursos utilizados para auxiliar na clearance mucociliar podem ser classificados a
partir de seus mecanismos:
Ação da gravidade Drenagem postural ou posicionamento
Choque mecânico Vibratoterapia;
Percussões torácicas;
Tapotagem
Modulação de fluxo (foco do nosso encontro Compressão torácica;
prático) Tosse e suas variações;
Técnica de expiração forçada (TEF - Huff);
Aumento do fluxo expiratório (AFE);
Drenagem autógena;
Ciclo ativo da respiração;
Expiração lenta total com a glote aberta em
decúbito infralateral (ELTGOL);
Pressão expiratória positiva;
Oscilação de alta frequência (Flutter, Shaker e
Acapella; Oscilação de alta frequência da parede
torácica; Ventilação intrapulmonar percussiva)
Tosse dirigida: É executada de maneira mais eficaz quando o paciente está sentado, pois essa posição
facilita a expiração e a compressão torácica. O paciente é orientado a realizar um ato inspiratório profundo
seguido do fechamento da glote, contração dos músculos abdominais e, por fim, a expulsar o ar em alta
velocidade.
Tosse assistida: Consiste na compressão vigorosa do tórax no início da expiração espontânea ou da fase
expiratória da ventilação mecânica. O paciente deve inspirar profundamente (fase de preparação) ou será
auxiliado por meio da aplicação de uma pressão positiva inspiratória durante a assistência ventilatória não
invasiva. Ao finalizar a inspiração, o fisioterapeuta deve aplicar uma rápida pressão manual, durante a fase
expiratória, sobre a margem costal lateral ou sobre o epigástrio.
A característica básica da TEF é a presença do huff, expulsão forçada de ar, porém não violenta,
gerada a partir da contração dos músculos abdominais com a glote aberta. Tal técnica pode variar quanto
ao volume mobilizado. Um huff de médio para baixo volume pulmonar promove a eliminação de secreção
localizada em regiões mais distais da árvore traqueobrônquica, enquanto um huff de maior volume
mobiliza as secreções situadas nas vias aéreas mais próximas à traqueia.
A TEF é uma combinação de um ou dois esforços expiratórios (huffs), realizados com a glote
aberta, partindo da capacidade inspiratória média e chegando à capacidade residual funcional, seguidos
de um período de relaxamento, preferencialmente com respiração diafragmática.
D. Aumento do fluxo expiratório (AFE)
Na técnica do AFE, a mão no tórax realiza a compressão oblíqua, de cima para baixo, de frente
para trás, e a mão abdominal realiza o movimento oblíquo, de baixo para cima, de frente para trás.
E. Drenagem autógena
A drenagem autógena (DA) utiliza inspirações e expirações lentas, de forma ativa, controladas pelo
paciente, que iniciam no volume de reserva expiratório e chegando até o volume de reserva inspiratório.
Com o paciente sentado ou semissentado, a DA é descrita em três fases: descolar, coletar e eliminar.
A fase “descolar” da DA é caracterizada por respirações com volumes pulmonares baixos,
mobilizando muco periférico. A segunda fase, “coletar”, é realizada com respirações no volume corrente,
coletando muco das vias aéreas mediais e, por fim, as respirações com volumes pulmonares mais altos,
com o objetivo de “eliminar” ou “expelir” (terceira fase) secreções das vias aéreas centrais. Em seguida,
solicita-se que o paciente execute um huff a partir de alto volume pulmonar, eliminando, assim, secreções
localizadas na traqueia.
Os aspectos técnicos da técnica do ciclo ativo da respiração podem ser vistos abaixo:
Na ELTGOL, o paciente deve estar em decúbito homolateral ao lado que se deseja remover
secreções e realizar uma expiração lenta e progressiva, com a glote aberta. Para auxiliar nesse processo,
sugere-se o emprego de uma peça bucal entre os dentes do paciente.
Para realização da ELTGOL, o fisioterapeuta se posiciona atrás do paciente e, com uma das mãos,
envolve o mais amplamente possível o hemiabdômen infralateral e auxilia por meio de uma pressão lenta
dirigida de baixo para cima em direção ao ombro contralateral no período expiratório do paciente,
acompanhando até obter uma completa deflação do pulmão infralateral.
Na ELTGOL, a outra mão do fisioterapeuta, espalmada sobre a parede costolateral oposta, realiza
um contra-apoio. Após várias repetições, o paciente é orientado a realizar a tosse dirigida ou técnica.
H. PEP e oscilação de alta frequência
A pressão positiva expiratória é uma pressão supra-atmosférica atuando sobre as vias aéreas
durante a expiração. Acessórios de pressão positiva nas vias aéreas são usados para ajudar a mobilizar
secreções e no tratamento da atelectasia. Como adjuvantes da depuração das vias aéreas, esses
métodos nunca são usados isoladamente, mas sempre combinados com tosse dirigida ou outra técnica de
depuração da via aérea.
Os recursos de pressão positiva mais utilizados no Brasil são conhecidos comercialmente como
EPAP (do inglês, expiratory positive airway pressure) e máscara PEP (do inglês, positive expiratory
pressure). Diferentes aparelhos e componentes de equipamento utilizados para realização da terapia com
pressão positiva expiratória (kit com válvula PEEP, selo d´água, Threshold PEP, respectivamente):
O paciente é instruído a ventilar em volume corrente, expirando de maneira levemente ativa através
do aparelho por 6-10 ciclos. Ao término das respirações, o paciente realiza TEF. A duração e a frequência
da terapia são ajustadas de acordo com as necessidades individuais (e.g., 15 a 20 min, 2 vezes/dia).
A pressão positiva expiratória pode ser associada à oscilação de alta frequência das vias aéreas
através dos instrumentos listados abaixo:
FLUTTER
A pressão positiva expiratória final é criada por uma esfera
de alta densidade e com peso específico que determinará a
resistência ao fluxo expiratório e o nível de pressão gerado. A
elevação da esfera no interior do cone ocorrerá quando a pressão
expiratória atingir valores entre 10 e 25 cmH20, permitindo assim a
passagem do fluxo expiratório. Para que seu funcionamento seja
adequado, é necessário que o dispositivo esteja na posição vertical
evitando grandes variações da pressão positiva.
SHAKER
O Shaker é uma alternativa nacional ao Flutter e apresenta
características semelhantes. No Shaker, a peça bucal é separada do
corpo do aparelho e apresenta diferenças quanto às dimensões de suas
peças em relação ao Flutter. Uma vantagem do Shaker é o baixo
custo,quando comparado ao Flutter. Para um rendimento ótimo, é
importante que o paciente adote uma posição adequada, respeitando os
ângulos de funcionamento do dispositivo.
Britto RR, Brant TCS, Parreira VF. Recursos Manuais e Instrumentais em Fisioterapia Respiratória. 2. ed.
rev. e ampl. São Paulo: Manole, 2014.
Wilkins RL et al. Egan, fundamentos da terapia respiratória. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
Técnicas de remoção de secreções brônquicas. In: Martins JA; Karsten M; Dal Corso S (Orgs.). PROFISIO
– Programa de Atualização em Fisioterapia Cardiovascular e Respiratória: Ciclo 1. Porto Alegre: Artmed,
2015. p. 87-119.
2. Expansão Pulmonar
INTRODUÇÃO
Exercícios respiratórios (Cinesioterapia respiratória): são aqueles exercícios que utilizam pressões
subatmosféricas para geração da entrada de maior volume pulmonar. São empregados por pacientes em
respiração espontânea e em condições de realizar esforços inspiratórios.
Exercícios respiratórios com dispositivos (recursos instrumentais): compreendem a utilização de
dispositivos ou instrumentos, cujo arranjo técnico possibilita a geração de volume inspiratório a partir de
inspirações ativas.
Exercícios respiratórios com pressão positiva inspiratória: a característica é a variação da pressão
alveolar (Palv) a partir da entrada de ar na via com pressões supra-atmosféricas; nesse modelo, há os
aparelhos geradores de pressão positiva intermitente, depressão positiva contínua e de pressões em dois
níveis, inspiratória e expiratória.
PREPARAÇÃO
• Montar o dispositivo – conectar o bucal na traqueia e, em seguida, no orifício da base do
aparelho.
• Posicionar o aparelho verticalmente, à frente do paciente, para obter o efeito de feedback.
• Higienizar as mãos, calçar luvas e utilizar equipamentos de proteção individual (EPIs), quando
necessário.
TÉCNICA
• Solicitar uma expiração labial tranquila até o nível da CRF; a seguir, solicitar ao paciente colocar
o bucal entre os dentes, comprimindo os lábios em torno do bucal para evitar vazamentos.
• Solicitar ao paciente que realize inspiração profunda com fluxo suficiente para elevar as esferas.
É recomendada a sustentação da inspiração máxima por, aproximadamente, três segundos,
seguida de uma expiração normal retirando os lábios do bucal.
PREPARAÇÃO
• Montar o dispositivo – conectar o bucal na traqueia e, em seguida, conectá-la à traqueia na
válvula unidirecional do aparelho.
• Higienizar as mãos, calçar luvas e utilizar equipamento de proteção individual (EPI), quando
necessário.
TÉCNICAS
• Orientar o paciente a segurar a alça do aparelho de forma que fique em posição vertical;
• Solicitar, inicialmente, expiração normal e posicionar o bucal com boa preensão labial;
• Solicitar ao paciente que realize inspiração lenta e profunda a partir da CRF, com intuito de
manter o pistão sempre na posição BEST; retirar o bucal após o término da inspiração,
sustentar por dois segundos e expirar normalmente;
• Aguardar o retorno do êmbolo à posição inicial para nova inspiração; realizar 2 ou 3 séries de
10 repetições, no mínimo, três vezes ao dia; observar o volume máximo atingido e posicionar o
marcador amarelo.
1. Feltrim MIZ, Nozawa E. Técnicas fisioterapêuticas de expansão pulmonar. In: Associação Brasileira de
Fisioterapia Cardiorrespiratória e Fisioterapia em Terapia Intensiva; Martins JA, Karsten M, dal Corso S,
organizadores. PROFISIO Programa de Atualização em Fisioterapia Cardiovascular e Respiratória: Ciclo
2. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2015. p. 79-120. (Sistema de Educação Continuada a Distância, v.
1).
2. Reis LFF, Alves JRC. Terapia de expansão pulmonar no pós-operatóro das cirurgias toracoabdominais.
In: Associação Brasileira de Fisioterapia Cardiorrespiratória e Fisioterapia em Terapia Intensiva; Martins
JA, Karsten M, Dal Corso S, organizadores. PROFISIO Programa de Atualização em Fisioterapia
Cardiovascular e Respiratória: Ciclo 2. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2016. p. 35-65. (Sistema de
Educação Continuada a Distância, v. 4).
3. Treinamento Muscular Inspiratório
O treinamento da musculatura inspiratória (TMI) vem sendo amplamente utilizado na prática clínica
e sua aplicabilidade vem sendo estudada em diversas populações. Na reabilitação cardiopulmonar ele é
um grande adjuvante com efeitos comprovados no ganho de força da musculatura respiratória e periférica,
redução das complicações pulmonares, melhora do VO2 e redução da dispneia.
É sabido que a força e desempenho dos músculos ventilatórios podem estar alterados em distintas
condições fisiopatológicas. Desta forma, levando-se em conta aspectos cardiopulmonares, é possível, que
o prejuízo da função da musculatura ventilatória, limite de certa forma a função cardiovascular.
A presença da fraqueza muscular respiratória é comumente característica de pacientes com
afecções respiratórias e cardiovasculares, acarretando ao indivíduo o desenvolvimento de dispneia a
pequenos esforços, incapacidade ao exercício, redução da capacidade funcional e consequentemente
diminuição da autonomia que, por conseguinte, altera sua qualidade de vida.
O TMI provê aumento da força dessa musculatura, o melhor desempenho e capacidade ao
exercício, e pode influenciar de forma temporária ou permanentemente a modulação cardiovascular em
pacientes com insuficiência cardíaca.
√Quando treinar?
No contexto geral:
• Pimáx, Síndex < do que 70% do previsto (Ex: Fraqueza adquirida na UTI);
• Pneumopatas e cardiopatas crônicas com limitação funcional e intolerância ao exercício;
• Pré- cirúrgico de grande porte;
• Pós- covid;
• Indivíduo atleta ou não atleta com intuito de melhorar o rendimento;
O TMI tem sido contemplado em diversas populações, como por exemplo: no atleta ocasionando melhor
eficiência ao exercício; no DPOC melhora da função pulmonar, capacidade funcional e qualidade de vida;
no paciente após AVE reduzindo complicações respiratórias e favorecendo a funcionalidade global, no
paciente doente renal crônico favorecendo a capacidade funcional, e incremento na função pulmonar, no
paciente pós covid para melhora da capacidade pulmonar e tolerância ao exercício, e ainda tem sido
empregado no tratamento de outras condições, como asma, bronquiectasia, pós- cirúrgicos, doenças
neuromusculares, etc.
√ Princípios de TMI
• Sobrecarga- Duração, intensidade, frequência.
• Especificidade- Força, resistência, potência.
• Reversibilidade– Efeitos transitórios e reversíveis? Manutenção.
Ideal no mínimo 6 semanas, com incremento de carga e tempo com base na avaliação constante (a
cada 5 a 7 dias, estipulado pelo fisioterapeuta), e se possível periodicidade de 3 x na semana.
√ Cargas empregadas
• Treino de FORÇA = 40% a 60% da Pimáx
• Treino de ENDURANCE= 30% a40%
• Eficiência neuromuscular= intercalar treino de força/ endurance= Ganho de potência.
O TMI de força é bem associado ao treino de fortalecimento periférico e o treino de endurance ao
treino aeróbico.
Os treinos de força muscular respiratória assim como da musculatura periférica podem ser feitos
em séries e o de endurance em tempo.
Paciente bastante debilitado- Treino de força inicial- 20 a 30% da Pimáx, quando não consegue iniciar
de 40%.
√ Como fazer?
Mensuração da Força Muscular Inspiratória
A carga imposta em cm/H2O no aparelho para o TMI vai depender do paciente (Explicação no item
“Cargas empregadas”.
Cada tipo de PB possui no seu manual os níveis de carga de acordo com sua cor e sua
especificação. Cada nível possui um valor de centímetros de água.
EXEMPLO 1:
João passou mais de dois meses internado e desses, 10 dias entubado, sendo 6 com bloqueador
neuromuscular. O fisioterapeuta domiciliar avaliou sua Pimáx e obteve um valor de -90,porém, ao aplicar a
fórmula do previsto (abaixo), o mesmo identificou que ele só atingiu 65% do previsto. Tal valor indica
fraqueza muscular inspiratória (<70% do previsto). A carga que eu vou colocar no PB desse paciente
será 40% da Pimáx (-90).
**Se o seu aparelho for o PB branco do modelo classic (mais usado na reabilitação), por exemplo:
Menezes et al. Respiratory muscle training increases respiratory muscle strength and reduces respiratory
complications after stroke: a systematic review. J Physiother. 2016
Karsten et al. The effects of inspiratory muscle training with linear work load devices on the sports
performance and cardiopulmonary function of athletes: A systematic review and meta-analysis.
PhysicalTherapy in Sport, 2018
Campos et al. Effects of respiratory muscle training in chronic hemodialysis patients: a systematic review.
Motricidade, 2018.
Kendall et al. Inspiratory muscle training is effective to reduce postoperative pulmonary complications and
length of hospital stay: a systematic review and meta-analysis. Disabil Rehabil,2018.
Romer LM, McConnell AK, 2013; Sales AT, Fregonezi GA, Ramsook AH, Guenette JA, Lima IN, Reid WD,
2015.