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ASPECTOS CULTURAIS E

BIOPSICOSSOCIAIS DO
ENVELHECIMENTO
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 03

1 A CULTURA COMO ANÁLISE DOS SIGNIFICADOS ......................................... 07


1.1 A significação cultural da velhice ......................................................................... 08

2 OS MITOS E PRECONCEITOS DA VELHICE ........................................................ 9

3 CULTURA, MEMÓRIA E VALORIZAÇÃO DA EXPERIÊNCIA DO IDOSO .......... 14

3.1 Sociedades primitivas ......................................................................................... 15


3.2 Os mitos e rituais de regeneração ...................................................................... 16
3.3 Sociedades capitalistas ....................................................................................... 18
4 QUEM TEM MAIS MEDO DE ENVELHECER: O HOMEM OU A MULHER?20 .. 19

4.1 Envelhecer – Um desafio .................................................................................... 24


4.2 Envelhecimento social ........................................................................................ 26
5 ASPECTOS PSICOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO ...................................... 28

5.1 Mudanças nas funções cognitivas ...................................................................... 32


5.2 Aprendizagem ..................................................................................................... 34
5.3 Funcionamento intelectual .................................................................................. 34
5.3.1 Criatividade ...................................................................................................... 35
5.3.2 Linguagem ....................................................................................................... 35
5.3.3 Outras alterações ............................................................................................. 36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 43
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INTRODUÇÃO

A distinção entre o natural e o cultural ocupou e continua a ocupar um lugar


importante nas discussões antropológicas.

Essa distinção focalizou principalmente a ideia de o homem ter sido moldado


pela cultura e não pelo instinto.

O instinto está presente no comportamento animal, que é programado


geneticamente para, da mesma forma, desenvolver em qualquer tempo e lugar, as
mesmas respostas instintivas tendo em vista os mesmos estímulos.

O comportamento cultural, específico do homem, ao contrário, varia


culturalmente, tendo em vista os diversos momentos históricos e as diferentes
sociedades. Assim, o homem, diferentemente do animal, não possui organização
social, religião, arte, linguagem e pensamento que se desenvolva sem a intervenção
da cultura. Na verdade, o homem é o que é – homem – pela cultura. Também, em
outros termos, não se pode falar de cultura sem homens, e nem de homens sem
cultura.

A antropologia pensada por Lévi-Strauss, etnólogo francês contemporâneo,


preocupado com a questão da natureza e da cultura, estabeleceu uma distinção lógica
entre as mesmas. Segundo ele: “A ausência de regra parece oferecer o critério mais
seguro que permite distinguir um processo natural de um processo cultural”. É também
Lévi-Strauss que em um outro momento explica: “ Em toda parte onde se manifesta
uma regra podemos ter certeza de estar numa etapa da cultura. Simetricamente, é
fácil reconhecer no universal o critério da natureza. Porque aquilo que é constante em
todos os homens escapa necessariamente ao domínio dos costumes, das técnicas e
das instituições pelas quais seus grupos se diferenciam e se opõem. Na falta de
análise real, os dois critérios, o da norma e o da universalidade, oferecem o princípio
de uma análise ideal, que pode permitir – ao menos em certos casos e em certos
limites - isolar os elementos naturais dos elementos culturais que intervêm nas
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sínteses de ordem mais complexa. Estabelecemos, pois, que tudo quanto é universal
no homem depende da ordem da natureza e se caracteriza pela espontaneidade, e
que tudo quanto está ligado a uma norma pertence à cultura e apresenta os atributos
do relativo e do peculiar.” Sintetizando, para Lévi-Strauss a existência da regra –
regras de comportamento, linguagem, magia, pensamento, arte, etc. – evidencia o
universo da cultura, o inverso do mundo da natureza.

Importa ainda aqui apontar, tendo em vista obter uma compreensão mais ampla
do pensamento de Lévi-Strauss, que este último preocupado com a passagem lógica
do estado de natureza para o estado de cultura, indica que a mesma se dá pela regra
universal do incesto. Assim, no dizer deste autor: “a proibição do incesto apresenta,
sem o menor equívoco e indissoluvelmente reunidos, os dois caracteres nos quais
reconhecemos os atributos contraditórios de duas ordens exclusivas, isto é,
constituem uma regra, mas uma regra que, única entre todas as regras sociais, possui
ao mesmo tempo caráter de universalidade.”

Assim, o tabu do incesto apresenta “simultaneamente o caráter distintivo dos


fatos da natureza e o caráter distintivo - teoricamente contraditório do precedente –
dos fatos da cultura.” A proibição do incesto possui ao mesmo tempo a universalidade
das tendências e dos instintos e o caráter coercitivo das leis e das instituições.

Tendo em vista a distinção feita – a natureza e/ou cultura – recoloca-se aqui,


de maneira mais clara, a problemática da velhice como sendo um fato natural e/ou
cultural.

Com certeza a velhice é um fenômeno biológico: o organismo do ser idoso


apresenta certas particularidades. Há no envelhecimento um sentido relativamente
claro da noção de decadência no plano biológico. O organismo entra em declínio
quando se reduzem suas probabilidades de subsistir. Simone de Beauvoir explica:
“O envelhecimento e, em seguida, a morte sobrevêm quando um determinado
programa de crescimento e de maturação chega a seu termo.” A velhice é um
processo comum a todos os seres vivos. Há uma série de transformações que ocorrem
no corpo do indivíduo que envelhece.
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Ainda fundamentada no texto de Simone de Beauvoir, tem-se a descrição rica,


obtida por uma observação perspicaz desta autora sobre as transformações na
aparência física e também sobre a decadência biológica do organismo do indivíduo
que envelhece.

Assim, segundo Beauvoir: “Os cabelos embranquecem e tornam-se mais ralos,


também os pelos embranquecem embora proliferem em certos lugares – como por
exemplo, no queixo das idosas. A pele se enruga em consequência da desidratação
e da perda de elasticidade do tecido dérmico subjacente. Caem os dentes. A perda
dos dentes provoca um encurtamento da parte inferior do rosto, de tal maneira que o
nariz – que se alonga verticalmente devido a atrofia de seus tecidos elásticos –
aproxima-se do queixo. A proliferação senil da pele trás um engrossamento das
pálpebras superiores, enquanto se forma papos sob os olhos; o lábio superior míngua
e o lóbulo da orelha aumenta. Também o esqueleto se modifica. A atrofia muscular e
a esclerose das articulações acarretam problemas de locomoção. O esqueleto sofre
processo de osteoporose, isto é, a substância compacta do osso torna-se esponjosa
e frágil, sendo este o motivo de a fratura do colo do fêmur , que suporta o peso do
corpo, seja frequente.” Em um outro momento de seu texto, Beauvoir explica: “Há
involução dos rins, das glândulas digestivas e do fígado. Os órgãos dos sentidos são
atingidos. O poder de acomodação diminui. A presbiopia é um fenômeno quase
universal entre os idosos; e a vista „cansada‟ faz com que a capacidade de
discriminação decline. Também diminui a audição, chegando frequentemente até a
surdez. O tato, o paladar e o olfato têm menos acuidade que outrora.”

Embora a morte possa ocorrer em qualquer fase da vida, ela frequentemente


sucede à velhice. A morte é a finalização daqueles que atingiram a velhice, ou seja,
dos que ultrapassaram as fases do crescimento, desenvolvimento e maturidade.
Raramente, porém, a velhice por si só acarreta morte sem que uma patologia
intervenha. As chamadas mortes “naturais” – em oposição às mortes por acidentes –
realmente são provenientes de um processo de deterioração orgânica.

Se a partir dos dados fornecidos pelas colocações precedentes explicita-se a


velhice como um fato biológico, portanto natural e universal, por outro lado, somente
este fato é insuficiente para definir a velhice.
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Se a identidade de velho, não se quer aqui negar, se define como um fenômeno


biológico, define-se assim em parte e, com certeza, se cai numa postura equivocada
ao se extrapolar essa parte, ou condição biológica, para explicar a totalidade -
comportamento, atitudes, pensamentos dos indivíduos. Em outros termos, erra-se ao
priorizar a condição biológica como sendo a conformadora do comportamento
psicossocial do indivíduo. Sempre se é velho em algum lugar e num determinado
tempo histórico.

Simone de Beauvoir complementa o que acima se colocou, quando explicita


que “a velhice, como todas as situações humanas, tem uma dimensão existencial:
modifica a relação do indivíduo com o tempo e, portanto, sua relação com o mundo e
com sua própria história.” “Por outro lado, o homem não vive nunca em estado natural;
na sua velhice, como em qualquer idade, seu estatuto lhe é imposto pela sociedade a
qual pertence.”

De acordo com Beauvoir, a sociedade destina ao velho seu lugar e seu papel
levando em conta sua idiossincrasia individual: sua impotência, sua experiência;
reciprocamente, o indivíduo é condicionado pela atitude prática ideológica da
sociedade em relação a ele. “Não basta, portanto, descrever de maneira analítica os
diversos aspectos da velhice: cada um deles reage sobre todos os outros e é afetado
por eles; é no movimento indefinido desta circularidade que é preciso aprendê-la.”

Sintetizando, a partir de todos os elementos até agora avaliados, a velhice para


ser compreendida em sua totalidade, tem que ser analisada não somente como um
fato biológico, mas, também, como um fato cultural.

Falar de cultura, de fatos culturais, imediatamente revela a ideia de fatos que


se modificam. Assim, analisar a cultura implica simultaneamente analisá-la na sua
constante dinâmica.

No que se refere à velhice como um fenômeno biológico mas também cultural,


é importante chamar a atenção que “ser velho” é um fenômeno que se altera no tempo
e no espaço.

Assim, se existir como velho hoje, na nossa sociedade, implica em uma relativa
situação de discriminação social, no futuro, esta situação poderá e deverá ser
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modificada, na medida em que se entenda como constituída culturalmente e, por isso


mesmo, mutável, dinâmica.

1 A CULTURA COMO ANÁLISE DOS SIGNIFICADOS

Fazer uma análise antropológica da cultura é interpretar os diversos


significados simbólicos criados pelos diferentes grupos humanos sobre vários temas.
Neste trabalho, os significados que se está querendo descobrir dizem respeito ao
velho tema, velhice.

O conceito de cultura que busca avaliar os significados é essencialmente


semiótico e é definido pela perspectiva hermenêutica da Antropologia, que tem como
um dos seus maiores representantes o antropólogo Clifford Geertz. Esse autor propõe
um conceito semiótico de cultura, pois acredita “como Max Weber, que o homem é um
animal amarrado a teias e significados que ele mesmo teceu, assumindo a cultura
como sendo essas teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental
em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa à procura de significado”.

A proposta de Geertz é que o antropólogo deve fazer uma etnografia e esta,


por sua vez, implica a realização de uma descrição densa. Tudo isso, nos termos do
próprio autor, revela o seguinte: “O ponto a enfocar agora é somente que a etnografia
é uma descrição densa. O que o etnógrafo enfrenta, de fato – a não ser quando está
seguindo as rotinas mais automatizadas de coletar dados – é uma multiplicidade de
estruturas conceituais complexas, muitas delas sobrepostas ou amarradas umas às
outras, que são simultaneamente estranhas, irregulares e inexplícitas, e que ele tem
que, de alguma forma, primeiro apreender e depois apresentar. E isto é verdade em
todos os níveis de atividade no seu trabalho de campo, mesmo o mais rotineiro:
entrevistar informantes, observar rituais, deduzir os termos de parentesco, traçar as
linhas de propriedade, fazer o censo doméstico, escrever seu diário. Fazer a etnografia
é como tentar ler (no sentido de „construir uma leitura de„) um manuscrito estranho,
desbotado, cheio de elipses, incoerências, emendas suspeitas e comentários
tendenciosos, escritos ou não com os sinais convencionais do som, mas com
exemplos transitórios do comportamento modelado”.
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Enfatiza Geertz, em outro momento de seu texto: “A cultura consiste em


estruturas de significados socialmente estabelecidas, nos termos das quais as
pessoas fazem certas coisas”.

Resumindo o pensamento de Geertz, tem-se que a cultura não é um poder,


alguma coisa à qual se possa atribuir os acontecimentos sociais, as instituições, os
comportamentos ou processos. A cultura apresenta-se como sistemas entrelaçados
de signos interpretáveis. A cultura é um contexto, no qual os acontecimentos, as
instituições e os processos podem ser descritos de forma inteligível, isto é, descritos
com densidade.

1.1 A significação cultural da velhice

Na nossa sociedade, ser velho significa na maioria das vezes estar excluído de
vários lugares sociais. Um desses lugares, densamente valorizado, é aquele relativo
ao sistema produtivo, o mundo do trabalho. Estar alijado ao sistema produtivo quase
que inteiramente define o “ser velho”. O alijamento do mundo produtivo –
extremamente valorizado, na nossa cultura – espalha-se, criando barreiras impeditivas
de participação do velho nas outras tantas e diversas dimensões da vida social.

Assim, a partir da argumentação precedente, uma primeira avaliação do


significado de ser velho, na nossa cultura, deve, sem dúvida, levar em conta a análise
do mundo econômico, do trabalho, das ideias de produtividade/improdutividade e
como esses mesmos elementos são simbolicamente constituídos para os sujeitos –
velhos, não velhos, homens, mulheres, classes sociais, etc. – que vivem nesta
sociedade.

É importante apontar que uma ampliação do significado de produtor está sendo


discutida e, cada vez mais, utilizada pelos profissionais, sejam os que diretamente
trabalham com o segmento idoso, sejam aqueles que são responsáveis pelo desenho
de uma política social para este mesmo segmento. Esta ampliação significa não mais
somente medir a produtividade econômica e, consequentemente definir o produtor a
partir desse único critério, mas alargar o significado de produtor na direção das outras
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esferas da vida social, passando assim a classificar de modo a incluir o velho como
“produtivo” e/ou “produtor social”.

Outros significados aparecem ligados à ideia de velho quando se estuda


identidade social desses sujeitos. Com certeza, a análise da construção das
identidades sociais é um campo vasto e rico de possibilidades de desvendamento de
significados criados pela nossa sociedade, ou setores da mesma, para explicar o que
é, ou quem é velho.

Na construção da identidade de velho evidencia-se a existência de um jogo de


contrastes de identidades sociais, que aponta para o conjunto das mesmas –
identidades – formando um sistema e criando uma estratégia de diferenças. Partindo
dessa concepção se tem clara a ideia de que a identidade do “eu” é construída pela
oposição à identidade do “outro”.

Assim, na nossa sociedade, a identidade de idosos se constrói pela


contraposição à identidade de jovem e, como consequência, se tem também a
contraposição das qualidades: atividade, força, memória, beleza, potência e
produtividade como características típicas e geralmente imputadas aos jovens e as
qualidades opostas a estas últimas, presente nos idosos.

Estes significados levantados sobre “velho” na nossa sociedade representam


uma pequena amostra de um número muito maior de outros significados elaborados
a respeito dos sujeitos idosos.

2 OS MITOS E PRECONCEITOS DA VELHICE

As pessoas individualmente e a sociedade em geral olham o envelhecer com


muitas restrições e ideias preconcebidas, como se essa fase fosse um período
tempestuoso e cinzento, de total decrepitude e até mesmo castigo. Veem a velhice
como sinônimo de senilidade.

A ideia de envelhecimento é um processo pessoal, multidimensional e


multivariado. Diverge de pessoa para pessoa, de grupo para grupo e de época para
época.
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Na opinião dos estudiosos, não há “velhice” (teórica ou abstrata) e sim pessoas


que envelhecem de modo essencialmente personalizado e original. É uma experiência
única e diferenciada.

Gaiarsa, no seu livro Como enfrentar a velhice, diz com muita ênfase: “Ser
velho, além de um fato, é um conjunto de convenções sociais da pior espécie. Não sei
o que pesa mais sobre os velhos, se é a idade ou a ideia que fazem de si mesmos,
movidos pelo modo como são tratados, levados pelas ideias tantas vezes vingativas
que orientam o comportamento da maioria deles”.

Podemos constatar o tratamento que a sociedade dá aos seus velhos porque,


sob esta ótica, é uma parcela da população marginalizada, fruto de muitos
preconceitos incoerentes e inconsequentes.

São falsas várias ideias lançadas sobre o velho, sempre salientando os


aspectos negativos, decadentes, e não os aspectos positivos da sua personalidade,
como: mais sabedoria, mais discernimento, mais segurança, mais liberdade, mais
generosidade e mais experiência.

São aspectos negativos evidenciados como as perdas, a decadência e a


decrepitude. Isso como a esclerose e a senilidade fossem inevitáveis.

Sobre o velho, jogam-se muitos mitos:

Mito da Inutilidade: “O velho não produz, logo pensam que deve ser eliminado
da sociedade”. Num sistema capitalista e consumista, só tem valor quem produz e
quem consome, gerando lucros. O velho é considerado improdutivo. Porém, não é
observado que a experiência e a visão ampla do velho podem quantificar a produção
e acima de tudo qualificá-la. Não é só o jovem que produz e consome, o velho pode
fazer outras atividades também produtivas e se tiver recursos também vai consumir,
não apenas em remédios.

Mito do Antiquado: Julgam o velho inoportuno, superado, desatualizado,


inadequado, quando não até ridículo, têm-no como sinônimo de “velharia descartável”.

É evidente que a evolução industrial e a tecnologia cresceram rapidamente e


as gerações mais antigas não conseguiram acompanhar todo seu avanço. Porém,
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todo desenvolvimento aconteceu graças aos experimentos empíricos ou pouco


científicos por eles realizados.

O ideal é unir a força, o dinamismo e o vigor do jovem com a experiência e a


prudência dos mais vividos, resultando num melhor caminho para o progresso.

Mito da Fealdade: As aparências e a beleza exterior são supervalorizadas em


nossa sociedade: “Tudo o que é novo e belo, tudo o que é velho e feio”. Isto é uma
maneira simplista e superficial de encarar a vida. Até nos meios de comunicação
social, na literatura, no teatro e mesmo no ambiente familiar e social o jovem é o galã,
o mocinho, o bem-sucedido; restando para o velho a fealdade e o ridículo. A fada
aparece sempre como uma bela jovem e a dona bruxa é uma velha horrenda.
Isso não é discriminação?

Os meios de comunicação eventualmente divulgam e elogiam os movimentos,


programas e atividades para idosos, mas paradoxalmente expõe o velho ao ridículo
em novelas, programas humorísticos, charges, etc.

Mito da Esclerose: Identificam o velho como alguém que perdeu a memória, o


raciocínio e até a lógica, como se isso fosse reservado somente aos velhos e,
obrigatoriamente, a todos os velhos. Não percebem que o jovem também esquece,
também se engana e ainda age muitas vezes de maneira ilógica.

Mito da Impotência: Não apenas para o trabalho, mas, sobretudo a


incapacidade sexual, basta ver o apelo da mídia da TV e do cinema. Esse é o mito
mais acentuado e o pior, e por pura ignorância da realidade orgânica e psicológica do
ser humano normal. Hoje os médicos, os psicólogos e sexólogos já desmistificaram
esse assunto tão importante para a pessoa idosa em todas as etapas as sua
existência. A ideia hoje é comum: “O corpo muda, a sexualidade continua, a
sensibilidade fica mais refinada e mais bela”.

Mito de que a Velhice é doença: Não é verdade, há muitos meios de prevenir e


de preservar a saúde física e mental. Há doenças que são atribuídas aos velhos, no
entanto, os jovens também podem ser acometidos de muitas delas que tiveram início
na infância e se agravaram no decorrer da vida. Velhice é uma questão para a
Gerontologia, doença é uma questão para a Medicina Geriátrica.
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Mito da Alienação: Aqui a sociedade cria um estereótipo de pessoa desligada


do real, desengajada. Subestima a capacidade de pensar, de opinar, de participar, de
pessoas aposentadas ou não, com a idade avançada. O velho é rejeitado e
marginalizado, até dentro do próprio lar.

Assim discriminado, o velho, por imposições – veladas ou declaradas – recolhe-


se em seus aposentos (aposentado), dentro de seu pijama, numa cadeira de balanço
e de frente para a televisão. Quanto mais isolado tanto mais alheio, perdendo, assim,
seu referencial, a sua identidade e o seu papel.

Para a sociedade indiferente, quanto mais calado e alheio, tanto melhor. Ele se
acomoda, não reivindica seus direitos, desativa sua atuação social, priva-se da sua
participação política e morre socialmente antes da morte física.

No entanto, quando o idoso é aceito, valorizado e motivado presta significativa


contribuição. A participação na vida familiar, na vizinhança e na comunidade é sempre
uma oportunidade de integração e de vida

O mito da Inflexibilidade: Para não permitir a participação do velho nas decisões


importantes, taxam-no de inflexível, teimosos e até fanático, o que não é verdade. Ele
é prudente e experimentado na faina da vida, mas cede quando percebe a
racionalidade.

Assim citamos alguns mitos e principais tabus que são atribuídos aos velhos.
Estes terminam aceitando-os e sofrendo pela própria retração e consequente
isolamento.

O que se faz necessário, e com a máxima brevidade, é que o próprio idoso


assuma seu papel inalienável na sociedade e não aceite ser submisso ao que lhe
impõe.

Sartre, na sua sapiência, já afirmava: “O pior não é aquilo que os outros fazem
de nós. O pior é aquilo que nós fazemos daquilo que os outros fazem de nós”.

Vale ressaltar que o idoso que se recolhe em seu pijama, não por si mesmo,
mas por imposições da sociedade. Aposentado – recolhido a seus aposentos.
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Muitos são os limites impostos à terceira idade pela sociedade capitalista, sob
o pretexto de que já passou o seu tempo e que agora deve acomodar-se, “descansar
e dar lugar para os mais jovens”.

Sem os mitos e preconceitos sociais, a velhice poderia ser enfrentada com mais
coragem e menos sofrimento, pois como alguém já afirmou com muita sabedoria e
lucidez: “A velhice é o domingo da vida”.

A vida humana é um processo, tem seus altos e baixos, mais vai acumulando
experiências, sentimentos, vivências que enriquecem a caminhada e somam-se os
êxitos e os fracassos como estímulo para novas conquistas.
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3 CULTURA, MEMÓRIA E VALORIZAÇÃO DA EXPERIÊNCIA DO


IDOSO

O envelhecimento não é um fenômeno biológico, fisiológico sobre o qual


podemos meramente, agregar os aspectos sociais, culturais e psicológicos. Todos
estes elementos estão intrinsecamente relacionados e em recíproca inter-relação. As
alterações e modificações que afetam o funcionamento físico ou psíquico do
organismo humano, conforme o contexto social e cultural, podem ser ou não
valorizadas e conferir ou não posição de destaque ao seu portador. Em todas as
sociedades, os seres humanos, enquanto característico universal da espécie nascem,
ficam adultos, envelhecem e morrem, mas o que é variável é o modo como as diversas
sociedades e culturas trabalham com esses momentos da vida. São diversos os
modos como se constrói e se percebe essas etapas e, como decorrência, vamos ter
inúmeras formas de percepção não só da velhice como também de outros momentos
de nossa existência.

A organização social vai determinar para cada época um estatuto diferencial


para a idade. O momento histórico que irá trazer grandes modificações para aquelas
pessoas que foram enquadradas na classe ou grupo de pessoas velhas, será aquele
em que as sociedades passam a se estruturar por meio de contradições com relação
à acumulação de bens, riquezas e propriedades. Os destinos das pessoas de idade
passam a depender da acumulação privada de bens, que vão determinar a miséria de
uns e a possibilidade para outros de uma vivência protegida e cercada pelos laços
familiares. Nesse momento, a equivalência entre acumulação de experiência e
conhecimento sociais, que nas sociedades “primitivas” está ligada à progressão da
pessoa nas etapas do ciclo vital e que, em muitos casos, proporciona uma posição de
destaque no sistema de status, é rompida. Esse rompimento colocará de forma
diferenciada, embora cada vez de modo mais claro, à medida que a propriedade e
acumulação passam a determinar mais e mais os destinos e a valorização social das
pessoas.
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Para examinar a realidade e o significado da velhice, é necessário conhecer em


diferentes épocas e lugares, no conjunto daquela sociedade, qual o lugar nela
atribuído aos velhos.

Conforme Magalhães, nas culturas tradicionais o idoso sempre foi visto como
sendo símbolo de sabedoria, através do ato de lembrar e dar expressão a suas
lembranças: “O papel da memória é tradicionalmente valorizado entre os mais velhos,
assim como suas lembranças constituem o patrimônio coletivo, expresso e revivido
permanentemente no contato com as novas gerações, sejam crianças ou adultos. Ao
velho e ao antigo cabem, na sociedade tradicional, papéis e padrões comportamentais
apoiados no valor da respeitabilidade”.

3.1 Sociedades primitivas

Em muitas sociedades a experiência e os conhecimentos acumulados


constituem um trunfo para os velhos, mas, em algumas delas, em algumas
circunstâncias, não é suficiente para lhes garantir um lugar abrigado que lhes permita
morrer nela amparado pelos demais.

Frazer aponta para a tendência de toda a sociedade: VIVER E SOBREVIVER.


Nesta posição ela exalta o vigor e a fecundidade associados no ciclo de vida à
juventude, enquanto teme o desgaste, a esterilidade da velhice. Em comunidades
onde o chefe é a encarnação da divindade, muitas vezes ao manifestar sinais de
declínio ele deve prontamente ser sacrificado e novo chefe deve ser investido de poder
e prestígio, pois se as forças da divindade se esgotarem com ele, o mundo
rapidamente pereceria.

Entre os Dinda, segundo Frazer, algumas pessoas idosas em uma tribo são
responsáveis por fenômenos e atividades consideradas essenciais à coletividade - a
chuva, a caça, a pesca, etc. Se mostrarem sinais de fraqueza são enterrados vivos -
cerimonial ao qual eles se prestam voluntariamente - pois estão transmitindo a outros,
antes que declinem, poderes necessários à sobrevivência da coletividade. As
cerimônias fúnebres nestes casos representam, pois uma festividade, um
rejuvenescimento do princípio vital.
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3.2 Os mitos e rituais de regeneração

Inúmeros ritos têm por objetivo apagar o tempo decorrido e reiniciar uma
existência livre do peso dos anos. As festas de passagem de ano e Ano Novo são o
nosso rito atual. Nas monarquias europeias existe o: “O rei está morto. Viva o rei”. No
culto Xintoísta no Japão os templos devem ser reconstituídos a cada 20 anos; sua
decoração e mobiliário mudados. É uma demonstração de ligação do indivíduo ao
mundo todo: reconstituindo o edifício fortalecem-se os laços dos homens com as
divindades. Algumas comunidades simulam expulsar os idosos de seu seio,
protegendo-o da deterioração da velhice e fazendo aliança com a juventude (serrar a
velha - bonecos).

Como se vê, para muitas comunidades o passar do tempo pode provocar o


desgaste da natureza. Não vislumbram um porvir diferente, mas procuram se apegar
a um passado reverenciado, segundo o qual se modela o presente.

Quando o velho não significa o envelhecimento do grupo, não existe razão para
supri-lo. Ele terá um status de acordo com as circunstâncias. Em uma sociedade que
cultua a produtividade, se ele se torna improdutivo, também se torna um fardo. Mas,
ao decretar o destino do velho, o adulto estará determinando seu próprio futuro e,
portanto, também deverá levar em conta seu interesse a longo prazo.

Entre os mitos engendrados por uma coletividade e seu comportamento pode


haver muita coincidência e pode haver muita distância. No campo que se refere ao
tratamento dado aos velhos, muitas sociedades primitivas enaltecem a velhice e o
velho enquanto, na realidade seu tratamento não condiz com estes prepostos ideais.
Há deuses muito velhos, muito sábios, ou que inventaram culturas agrícolas,
pecuárias ou artesanatos da maior importância para a nação e como tal são
consagrados nos mitos e lendas. Mas muitas vezes as condições precárias de vida, a
imprevidência, o clima, trazem a urgência do presente, e então passado e futuro
desaparecem, permanecendo apenas a necessidade de sobrevivência no presente.
Sociedades nômades, coletoras, vivem geralmente sob estas condições, onde o
xamanaísmo e a magia predominam. As condições de extrema miséria sufocam os
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sentimentos. Quando a sobrevivência de uma coletividade depende dos mais aptos,


os mais fracos são deixados à míngua ou mesmo sacrificados.

Muitas sociedades respeitam as pessoas idosas enquanto estas se mantém


robustas, lúcidas e desembaraçadas, não tendo, porém escrúpulos em se livrar delas
quando se tornam decrépitas e caducas. Para muitas destas comunidades a pessoa
velha e doente está mais perto da morte e, portanto está em perigo e ameaça aos
demais. Ao se livrarem dela estão ajudando a manter a coesão da comunidade,
definindo o mundo dos vivos e o dos mortos. Para a maioria destas comunidades
primitivas, ao indivíduo que envelhece, é negado por exemplo, o acesso a
determinados lugares, o convívio com o sexo oposto.

A mulher não mais fértil e o homem impotente, podem passar para outra
categoria, diferente do adulto, onde obrigações anteriores não mais existem e novas
atividades e atributos estão ao seu alcance. Mas o progressivo envelhecimento ou às
vezes o abuso dos velhos podem levar os jovens a desejarem se livrar deles.

Há também, no entanto, algumas sociedades que apesar de viverem nas


mesmas precárias condições, reservam para os idosos posições de prestígio e
tratamento diferenciado. Há mesmo uma ênfase em preservar o poder através da
posse e através da autoridade sobre familiares e mesmo sobre outros membros do
grupo. Na interpretação da escritora Simone de Beauvoir, estas coletividades estão
agindo desta maneira porque avaliam sua própria posição e tratamento na velhice e,
portanto, estão sendo prudentes em matéria de organização social, garantindo seu
futuro tanto individual como coletivo. Também em algumas comunidades o velho é
abrigado e respeitado por seus conhecimentos essenciais (artesãos, caçadores,
agricultores, etc.), à manutenção e sobrevivência do grupo. Vivendo em ambientes
hostis ou escasso de recursos, o conhecimento que os mais velhos podem transmitir
passa a ser de vital importância. Em outras culturas, aos velhos compete tarefas
importantes como a marcação do tempo, nomear as crianças que nascem, recitar a
genealogia para indicar adequadamente o papel e o lugar do indivíduo dentro de seu
mundo, transmitir as lendas, e mitos e todo um conjunto que mantém a identidade
daquele povo. Em algumas comunidades este poder pode ser tão grande que eles
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não ensinam, tendo reservado para si alguns segredos que só são transmitidos na
hora morte. É uma maneira de se preservar evitando a destituição do poder.

Nas sociedades primitivas os velhos são pouco numerosos e, por isso mesmo,
em muitas delas, eles são preciosos e respeitados por sua experiência, principalmente
pelo fato de serem eles que, frequentemente, detêm o saber social e o conhecimento
místico, sendo inclusive, temidos por sua proximidade com os ancestrais. Todavia,
apesar disso, é variável o “status” ocupado por aqueles que são definidos como
velhos. Existem sociedades em que as pessoas enquadradas na classe ou grupo de
idade dos anciãos são poderosas na África, as quais alguns autores não hesitam em
classificar em “gerontocráticas”. Em outras palavras, os velhos, além de não terem
poder, podem ser até abandonados em situações em que o grupo enfrenta como fome,
penúria etc.

3.3 Sociedades capitalistas

Eclea Bosi, ao analisar a velhice na sociedade industrial, fornece-nos um bom


material para que possamos refletir sobre esta questão. A sociedade capitalista é que
promove a degradação da força de trabalho, desgasta-a e consome-a. A idade é
utilizada como critério de desvalorização social. A sociedade justifica a opressão na
qual os idosos são submetidos através de vários mecanismos, como por exemplo: a
produção de pesquisas pseudocientíficas que atestam a incompetência social do velho
e que encontram uma pretensa fundamentação a nível natural e biológico para
desvalorizá-lo; o despojamento do velho através de mecanismos psicológicos que
colaboram para construir uma autoimagem negativa; os asilos que lhe tiram toda a
criatividade e força-os a um comportamento padronizado; a recusa ao diálogo e a
reciprocidade por parte das pessoas mais novas, etc.

Observemos o seguinte texto da autora:

Quando as mudanças históricas se aceleram e a sociedade extrai sua energia


da divisão de classes, criando uma série de rupturas nas relações entre os
homens e na relação dos homens com a natureza, todo sentimento de
continuidade é arrancado de nosso trabalho. Destruirão amanhã o que
construirmos hoje. A sociedade rejeita o velho, não oferece nenhuma
sobrevivência à sua obra. Perdendo a força de trabalho ele já não é produtor
19

nem reprodutor. Se a posse, a propriedade, constituem, segundo Sartre, uma


defesa contra o outro, o velho de uma classe favorecida defende-se pela
acumulação de bens. Suas propriedades o defendem da desvalorização de
sua pessoa. A noção que temos de velhice decorre mais da luta de classes
que do conflito de gerações.
O livro de Eclea Bosi abre um caminho fecundo para os trabalhos sobre a
memória. As lembranças, as memórias dos velhos tornam-se, assim, um material de
extrema importância dentro de uma sociedade como a nossa, com brutal concentração
de capital e aceleração das forças produtivas, o sentido de continuidade é arrancado
de nossas vidas. Este ângulo não escapa à Marilena Chaui a qual...
[...] por que temos de lutar pelos velhos? Porque são a fonte onde jorra a
essência da cultura, ponto onde o passado se conserva e o presente se
prepara, pois, como escrevera Benjamim, só perde o sentido aquilo que no
presente não é percebido como visado pelo passado... A função social do
velho é lembrar e aconselhar - memini momeo - unir o começo e o fim, ligando
o que foi e o por vir. Mas a sociedade capitalista impede a lembrança, usa o
braço servil do velho e recusa os seus conselhos... A sociedade capitalista
desarma o velho mobilizando mecanismos pelos quais oprime a velhice,
destrói os apoios da memória e substitui a lembrança pela história oficial
celebrativa.

No capitalismo, portanto, a acumulação de bens constitui-se a marca que pesa


sobre os destinos humanos.

O papel de memória da comunidade e de transmissor da cultura em geral


apareceu mais nas sociedades que preservam seus velhos.

Não são razões econômicas, nem o fato de ser mais primitiva ou mais elaborada
uma cultura, o que leva a tratar os velhos desta ou daquela maneira.
O que define o sentido e o valor da velhice é o sentido atribuído pelos homens
à existência, é o seu sistema global de valores. Se quisermos desvendar este
segredo, muitas vezes cuidadosamente oculto, devemos atentar para o modo
como esta sociedade trata seus velhos. (Simone de Beauvoir)

4 QUEM TEM MAIS MEDO DE ENVELHECER: O HOMEM OU A


MULHER?

Antes de passarmos à reflexão propriamente dita acerca das variáveis que


influenciam a caracterização do grupo etário idoso masculino como minoritário,
necessário se faz situar este grupo no contexto da população brasileira.
20

Embora o envelhecimento seja um processo extremamente individual e


condicionado à história de vida de cada pessoa, a organização Mundial da Saúde
define como idosa a população de mais de 60 anos, entendendo-se este patamar
como o momento em que um número significativo de pessoas passa a apresentar as
características biopsicossociais que definem o envelhecimento.

O aumento da expectativa de vida e o crescimento demográfico da população


idosa no Brasil são fatos recentes, razão pela qual somente nos últimos 20 anos tem
sido discutida, em termos de realidade brasileira, a questão social da velhice.

Pouquíssimos estudos e pesquisas a respeito desse grupo etário foram até hoje
realizados entre nós, razão pela qual praticamente os únicos dados de que dispomos
são aqueles fornecidos pelos censos demográficos e ainda assim com poucas
referências especificas à população de mais de 60 anos.

Do ponto de vista social, a população idosa, tanto masculina como feminina,


apresenta baixo grau de associativismo e reduzida participação política, profissional
ou religiosa, exceção feita às poucas associações de aposentados,
predominantemente masculinas, e aos grupos de lazer, predominantemente
femininos, que muito recentemente vêm sendo criados e multiplicados, e se
constituem nas primeiras tentativas de rompimento do isolamento e da marginalização
social da velhice.

Para este quadro desalentador é que se encaminham, num processo


irreversível e biologicamente determinado, as pessoas que envelhecem.

Numa perspectiva individual - e vale a pena ressaltar uma vez mais o caráter
extremamente pessoal do processo de envelhecimento, o ser ou estar velho traz,
portanto, uma série de consequências que afetam de forma mais ou menos intensa as
pessoas, segundo as suas condições individuais, sejam elas homens ou mulheres.

No que diz respeito ao homem velho, alguns fatores culturais tornam muito difícil
a adaptação a essa nova fase da vida, biologicamente determinada e socialmente
imposta, caracterizada pelo esvaziamento de papéis sociais e por perdas
significativas.
21

O médico Claude Nahun, em seu artigo "A velhice da pessoa", afirma que
trabalho e amor são antídotos para a patologia da velhice. Realmente, a cessação do
trabalho pela aposentadoria, a redução das oportunidades de expressão da
afetividade e as alterações da sexualidade, decorrentes do envelhecimento biológico,
são os fatos que afetam de maneira mais efetiva a identidade masculina.

Podemos dizer que com as mulheres, o mesmo não ocorre, pois mesmo que
se aposentem, o papel de dona de casa, o papel social, continuam, além de aceitar
melhor as alterações da sexualidade. Muitas podem até ter a “crise do ninho vazio”
mas logo conseguem substituir por outros afazeres: Faculdade de Terceira Idade,
rodas de amigas, etc.

Na moderna sociedade capitalista em que vivemos, ser homem significa - e é


valorizado como tal - estar engajado no mercado de trabalho, ser qualificado e
reconhecido como produtor de bens ou serviços, e ter poder aquisitivo para ser um
bom consumidor desses mesmos bens e serviços; em decorrência dessas condições,
ser homem é também exercer autoridade a nível familiar, desempenhar os papéis de
marido e pai de família, bem como o de macho; reprodutor ou não, através de uma
intensa vida sexual, dentro e fora do casamento.

A partir desse enfoque, o desengajamento do mercado de trabalho pela


aposentadoria, nem sempre desejada, muito mais que um prêmio pelo esforço
empreendido ao longo de uma vida, é vivenciado como um processo de
desvalorização social que afeta profundamente o equilíbrio emocional daquele que o
sofre. A este respeito assim se expressa o sociólogo Paul Bastíde em seu artigo "A
ideia do tempo e o envelhecimento": “A dureza da sociedade onde vivemos, dominada
por uma exigência de produção e de eficiência, contribui para agravar o peso do
envelhecimento”.

Esta exigência manifesta-se brutalmente quando o limite de idade obriga a


aposentadoria. “Essa constatação da incapacidade para a produção e da exclusão do
ciclo da rentabilidade equivale para muitos, a uma condenação sem apelo a morte
social, o homem percebe que foi apenas um instrumento de trabalho, sem jamais ter
tido tempo de gostar do que fazia e de fazer aquilo que gostava".
22

A aposentadoria implica necessariamente no retorno a casa, a um convívio


familiar intenso com pessoas das quais o homem permaneceu afastado a maior parte
do seu tempo, voltado até então predominantemente ao trabalho, Nesse retorno, a
grande maioria dos homens constata que o seu papel de provedor da família ficou
bastante abalado pela redução de renda que a aposentadoria acarreta e diminuiu,
assim, de forma considerável a sua autoridade doméstica. Ele percebe também que
seu papel de pai ficou bastante esvaziado: os filhos cresceram, tornaram-se adultos e
donos da sua própria vida; com frequência julgam o pai ultrapassado e implicante,
dificilmente aceitando os conselhos que dele venham por entendê-los inadequados;
constata então o homem o desaparecimento da sua autoridade paterna, Para as
mulheres, hoje com mais de 60 anos, e que, em sua grande maioria, permaneceram
exclusivamente dedicadas aos afazeres domésticos, a presença do homem
aposentado em casa é, muitas vezes, perturbadora da ordem até então por elas
estabelecida; essa situação é geradora de conflitos, os quais, apenas eventualmente,
são bem solucionados através de uma redistribuição de tarefas: e a reafirmação, a
nível doméstico, da sua inutilidade, o relacionamento familiar, que se constituía muito
frequentemente em fonte geradora de afetividade, passa a exercer função exatamente
inversa.

Quase sempre, o único papel social que a família oferece ao homem


aposentado é o de avô, muitas vezes confundido com o de "babá" dos netos, papel
este que, embora possa ser exercido com muita afetividade, não deixa de acentuar a
sua condição de velho, aumentando a sensação de inutilidade e ameaçando
profundamente a sua virilidade. Em face desta situação, o homem aposentado sente-
se um "estranho no ninho", Vê decretada muitas vezes a sua "solidão em família" e
busca então nos bares, nos bancos de praça ou em visitas aos poucos amigos que
restaram, a possibilidade de viver das recordações do seu passado.

A estes sentimentos de solidão e inutilidade vem se juntar, e é até por eles


agravada, uma enorme insegurança quanto ao desempenho sexual, um dos aspectos
mais importantes da afirmação da masculinidade. O desconhecimento do processo
biológico do envelhecimento e os tabus que cercam a sexualidade na velhice,
precipitam o fim de uma vida sexual que poderia ser gratificante até os últimos dias.
23

Sobre esse aspecto do envelhecimento, assim se expressam Robert Butler e Myrna


Lewis, em seu livro "Sexo e Amor na Terceira Idade": "Os homens são as principais
vítimas de uma vida inteira de ênfase excessiva no desempenho físico. A
masculinidade é equiparada à proeza física. os homens mais velhos se julgam e são
julgados pela comparação da frequência e potência do seu desempenho sexual com
as de um homem mais jovem. Estas comparações raramente valorizam a experiência
e a qualidade do sexo. Quando medidos por padrões essencialmente atléticos, os
homens mais velhos são naturalmente considerados inferiores". No, entanto, estudos
e pesquisas (realizados no campo da sexualidade humana) comprovam que sexo e
velhice podem caminhar juntos: é apenas uma questão de ritmo, habilidade e
utilização dos recursos existentes.

Evidentemente o comportamento da companheira pode agravar ou aliviar o


quadro de tensão emocional que se instala, quando do surgimento das primeiras
dificuldades decorrentes do envelhecimento dos órgãos sexuais, razão pela qual,
nessa fase da vida, o diálogo entre o casal sobre sua vida sexual assume uma
importância extraordinária, Da mesma forma, alguma doenças podem trazer
consequências a nível de desempenho sexual mas, com poucas exceções, não
incapacitam permanentemente e podem ser resolvidas ou minimizadas com os
recursos de que dispõe a geriatria.

Estas considerações todas conduzem â conclusão de que não é fácil


envelhecer na nossa sociedade, tanto para o homem como para a mulher. Nem é
agradável, em princípio, passar a compor este segmento minoritário da população
constituído pelos velhos.

Podemos dizer que, e principalmente ao homem, nunca nos foi permitido o


direito ao lazer. Sempre estamos preocupados com o PODER, com o TER,
esquecendo-nos muitas vezes do SER.

Na terceira idade, na velhice, ou ainda na aposentadoria, o indivíduo na maioria


das vezes deixa seu trabalho remunerado, mas não deixa de “fazer”, de “produzir”.
Essa necessidade continua, pois é constante, é dinâmica, é evolutiva.
24

Vários fatores bloqueiam ou dificultam o desempenho natural desse “fazer”


nesse período. Os fatores podem ser: sociais, psicoemocionais, físicos, etc.

Acreditamos que se o lazer for visto como algo importantíssimo no


desenvolvimento do ser humano, desde cedo a pessoa passará a executá-lo, para
mais tarde, quando aposentado ou idoso, saber usar o “tempo” sem sentir-se
“culpado”, “premiado”. Infelizmente nossa sociedade ainda não nos permite enxergá-
lo de modo como “direito” e não um “castigo”, um “pecado”.

Somos preparados para o trabalho e rendimento, muitas vezes, só nos dando


o devido descanso e lazer, quando ficamos doentes, onde não temos outra opção.

Cada pessoa é única e especial, desenvolve seu próprio processo de


envelhecimento e o envelhecimento entre os sexos tem pesos e valores diferentes.

A mulher tem medo de envelhecer, mais em relação a estética, pois ela está
sempre preparada para atividades sociais, com trabalhos caseiros ou não, ou então,
vão em busca de algo para se realizarem, pois muitas vezes chegou a chance de
tornarem-se donas de seu tempo, seu tempo livre, de lazer.

O homem, após aposentado, dificilmente busca outra atividade. Se sente,


conforme diz o texto, realmente “aposentado”, como se tivesse que ficar dentro dos
aposentos da casa. Dificilmente, ele busca algo que o realize, percebem que seu
tempo livre é “seu”, mas está tão condicionado ao trabalho, que não se permite.

Acredito que em termos de estética, a mulher tem mais medo ou preocupação,


pois já pesquisei junto a meninas e meninos, crianças e adolescentes, e veem a
imagem de “FICAR VELHA É FICAR FEIA”.

Quanto ao homem, é o medo de perder a virilidade, o papel de provedor e o


deslocamento social.

Saber quem tem mais medo de envelhecer entre os sexos, acredito ser difícil
de medir, pois cada indivíduo é único, tem e dá o seu valor para a velhice ou
envelhecimento.

4.1 Envelhecer – Um desafio

Viver bem a idade que se tem é uma sábia aventura.


25

Saber envelhecer com tranquilidade é um desafio salutar e permanente. A


velhice é uma importante etapa do ciclo vital, uma fase natural do desenvolvimento da
vida humana. Pode não ser a melhor, mas certamente não será a pior; é mais uma.
Sabe-se que é privilégio de poucos, daí a importância de enfrenta-la com alegria e
otimismo.

Envelhecer é um processo vital e único, por isso cada um constrói o seu próprio
roteiro, é ator e diretor da sua existência, por isso pode programar um “final feliz”. E
mais, já que a morte é inevitável, por que não esperá-la vestida de gala, como para
uma grande festa, o coroamento de uma bela caminhada terrena?

O idoso, na verdade, não é apenas um idoso, é uma pessoa dotada de


prerrogativas próprias. É um ser a “vir a ser”, sempre em transformação.

Difícil é enfrentar os estigmas que lhe são impostos. Ao invés de indivíduos, as


pessoas passam a ser apenas: mulher, negro, deficiente, carente, excepcional,
mendigo ou velho. São olhados apenas pela ótica do estigma. Porém, muito pior do
que o estigma social é o estigma que o indivíduo carrega, ele próprio, a respeito da
sua condição estabelecida.

Como já nos referimos anteriormente, Sartre já constatava essa acomodação


da pessoa em aceitar todas as imposições feitas pelos outros. O velho introspecta
esses estigmas e já não reage, talvez por julgar natural ou por sentir-se muito só para
uma batalha tão feroz e até cruel.

Em nossa sociedade há três preconceitos básicos: a cor, o sexo e a idade,


sendo este último mais acentuado e profundo.

Em se tratando do idoso, (carregado de idade), essa carga é extremamente


agravada, pois ele se sente fragilizado ao acumular idade e aceita passivamente o
que o meio lhe impõe.

A velhice representa, para muitos, uma ameaça à vida, um caminho que


aproxima, a cada dia, a chegada à morte, o desgaste da vida.

Diz a Dra. Mônica Rebouças – Geriatra, Coordenadora do Centro Geriátrico das


Obras Sociais Irmã Dulce, BA: “Ao contrário do que se pensa, a decadência física não
26

é o problema maior para as pessoas, o espelho incomoda, mas não assusta as


pessoas. O medo da morte é real”. E nós acrescentamos: e cruel.

Se a pessoa que envelhece for bem aceita, sem preconceitos, certamente terá
novas e salutares expectativas para o seu futuro. Além disso, dará ainda uma
perspectiva alvissareira e otimista para seus pósteros. Por isso é procedente afirmar:
“Quem investe nos idosos investe no futuro da juventude”.

4.2 Envelhecimento social

Além do envelhecimento pessoal, acontece também o envelhecimento social,


hoje talvez com um acentuado tom de melancolia e angústia.

Pesquisas científicas, um tanto recentes, revelaram que boa parte das


modificações mentais e comportamentais verificadas nos velhos não representam
efeitos biológicos do envelhecimento, mas sim consequência das mudanças e até
imposições de papéis na sociedade.

Eis algumas situações que se evidenciam no estudo da problemática do idoso:

 Progressiva diminuição nos contatos sociais:

Os familiares vão diminuindo – a viuvez, os contemporâneos se ausentam,


diminuem também as chamadas telefônicas, as cartas, as visitas, etc. O escritor
Tristão de Atayde escreveu um dia: ”Mais um companheiro que desce, antes do

tempo e antes de mim...” Isso assusta a qualquer um.  Distanciamento social:

As gerações mais novas, a cada ano, estão realizando mais cedo o que era
privilégio dos mais velhos, e, por vezes, o fazem com maior eficácia e perfeição – a
tecnologia e a informática – isso propicia o afastamento das gerações.

Quem pode garantir que quem se afasta dos próprios grupos consiga integrar-
se e adaptar-se a outros grupos? Mudança de emprego, aposentadoria, mudança de
residência?  Progressiva perda do poder de decisão:
27

Quando adultos, homens e mulheres aprenderam a analisar possíveis


alternativas para as situações que enfrentavam, aprenderam, sobretudo, a decidir
sobre o que lhes parecia mais acertado; desejavelmente, tornaram-se capazes de
enfrentar os resultados positivos ou negativos das escolhas feitas. Com o passar do
tempo, os mais jovens, progressivamente, começam a “resolver” a vida dos velhos.
Muitas vezes os filhos passam a fazer o papel dos pais, decidem e até superprotegem
os mesmos.  Progressivo esvaziamento dos papéis sociais:

Intimamente ligado à perda de poder de decisão e, quase simultaneamente,


como causa e consequência está o progressivo esvaziamento dos papéis sociais.

Os velhos passam a ser valorizados pelo que “foram” – “meu avô foi” – e aí os
idosos assumem e dizem “eu fazia”, “eu costumava dizer”, “no meu tempo”, vivem no
passado, mas ainda estão vivos, isso é terrível. Corrói a própria identidade.

 Alterações no processo de comunicação:

Uma das possíveis consequências da perda de autonomia é a preocupação dos


jovens em esconder os velhos fatos que eles, os mais jovens, acham que trariam
preocupação, emoção. Tais atitudes aceleram o envelhecimento social e dão lugar a
ressentimentos para com essas pessoas quando descobrem que lhe ocultaram
alguma notícia, e o levam à solidão e à desconfiança.  Crescente importância do
passado:

O passado aos poucos se torna mais importante que o presente, pois o sujeito
da ação, antigamente, era ele, o idoso de hoje. Pelo fato de ele ter, na atualidade,
menor preocupação (a sua participação foi dispensada), ele pensa na morte, com
muita frequência, pois perdeu o seu papel na família e na comunidade.
Isto é a morte social que acelera a morte física.
Concluindo, podemos afirmar que pelo fato de o homem ser um ser
essencialmente social, o natural é que o mesmo se integre na sua comunidade e ali
possa trocar experiências, fazendo acontecer a realização pessoal e a dos seus
semelhantes.
28

Cabe à sociedade organizar-se de tal forma que possa assegurar um padrão


mínimo de sobrevivência digna aos que nos precederam e construíram, com seu
esforço e dedicação, o mundo que aí está. Prosseguir no seu aprimoramento depende
de todos.

O compromisso é bilateral. Assim como a pessoa é responsável pela


sociedade, esta também é responsável pelos seus componentes. Quanto mais afinada
a relação, tanto maior será a harmonia e o bem-estar.

Aqui muito bem cabe aquela assertiva: “Ninguém é tão pobre que nada tenha a
dar, como ninguém é tão rico que nada tenha a receber”.

O idoso, que contribuiu para a construção da sua comunidade e do seu mundo,


merece respeito e recompensa por sua doação, pela contribuição que acrescentou ao
mutirão humano.

5 ASPECTOS PSICOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO

O interesse pela psicologia do envelhecimento começou no início do século


XX, quando alguns textos foram publicados por volta de 1922, pelo americano Stanley
Hall, porém, como é sabida no início do século passado, a transição demográfica das
populações de modo geral eram bem distintas do que se percebe hoje.

A velhice é um conceito abstrato considerado como uma etapa da vida. A


psicologia do desenvolvimento, os autores tem denominado velhice como a última das
etapas do ser humano: infância, adolescência, idade adulta e velhice. Mas, assim
como está claro de que a infância começa quando se inicia a vida fora do útero
materno, a adolescência quando começam os primeiros embates da puberdade e a
idade adulta quando o indivíduo se torna independente, assim fica a pergunta: Em
qual a idade que começa a velhice?

Algumas pessoas acreditam que a velhice não está necessariamente associada


à idade e que são outros fatores como perder a ilusão pela vida ou as transformações
físicas e mentais que marcam seu início. Outros consideram uma determinada idade
cronológica como a fronteira da velhice. A resposta não está clara nem para as
29

pessoas comuns, nem para os estudiosos, pois não existe uma idade que suceda algo
de concreto que faça o indivíduo entrar na velhice.

Como a idade cronológica não é um bom identificador da velhice, alguns


autores tem se ocupado do conceito de “idade funcional” como o preditor obtido de
diferentes indicadores sobre o funcionamento biológico, social e psicológico (o
biopsicossocial) do indivíduo. Assim, por exemplo, a idade funcional seria obtida por
indicadores como a desempenho do indivíduo nos aspectos biológico, psicológico e
social.

Como se pode constatar, não é tarefa fácil operacionalizar quanto ao marco da


velhice. É interessante mencionar ainda que em países desenvolvidos, podemos
considerar hoje que a velhice é aquela etapa da vida em que o indivíduo se aposenta,
ou seja, deixa suas funções laborais. No entanto, ao considerarmos indivíduos que
ingressaram cedo no trabalho, vamos concluir que os mesmos se aposentarão cedo
também, alguns até mesmo antes dos 50 anos de idade.

Finalmente, uma distinção que se faz necessário realizar é que pode se


estabelecer entre o processo de envelhecimento que ocorre ao longo da vida e a
velhice como um estado que começa em um momento não muito bem definido, já que
faz parte do ciclo da vida. Na realidade, esse processo começa quando se inicia a
vida, de maneira que não existe vida orgânica sem envelhecimento. Assim, pode- se
dizer que o envelhecimento é vida e viver leva, necessariamente, ao envelhecimento
e nesse processo se produzem alguns padrões de mudanças e de estabilidade, assim
como de desenvolvimento e declínio.

Algo que é considerado velho é algo que já existe há muito tempo. No entanto,
esse tempo não ocorre da mesma forma para todas as pessoas. O envelhecimento é,
portanto, um processo individual e, por isso mesmo é uma experiência diferente para
cada indivíduo.

Em 1963, Erik Erikson, um dos pioneiros nos estudos sobre o desenvolvimento


humano, com a formulação da Teoria do Desenvolvimento durante toda a vida,
explicitava que o desenvolvimento se processa ao longo da vida e que o sentido da
30

identidade de uma pessoa se desenvolve através de uma série de estágios


psicossociais durante toda a vida.

Esta teoria compõe-se de oito estágios, sendo o período da vida adulta (após
41 anos) denominado de integridade do ego versus desespero, sendo que a
integridade do ego é caracterizada por fatores intrínsecos à velhice como: dignidade,
prudência, sabedoria prática e aceitação do modo de viver, e desespero seriam
possivelmente medo da morte. Erikson, através destes estudos, contribuiu
significativamente para a compreensão das transformações ocorridas na velhice,
salientando-se o que, até então, nenhum outro autor na área da psicologia havia feito:
dado ênfase ao estágio do desenvolvimento humano contemplando a vida adulta.

A teoria de Erikson colaborou no sentido de oferecer sínteses sobre o


desenvolvimento cognitivo e da personalidade, sobretudo na vida adulta. Após o
desenvolvimento desta teoria, passaram-se décadas na psicologia sem a formulação
de outra teoria do desenvolvimento da vida adulta.

Em 1978, outra teoria, desenvolvida por Gould, enfatiza os processos do


desenvolvimento da velhice, seguindo uma abordagem similar a de Erikson, propondo
também estágios de desenvolvimento. Estas teorias desencadearam, dentro da
Psicologia do Desenvolvimento, relevância a este estágio do desenvolvimento
humano, pois neste período já era despertado, em várias áreas do conhecimento,
sobretudo a Gerontologia, o interesse em conhecer melhor os fenômenos peculiares
ao processo de envelhecimento e à velhice.

Denota-se, com os avanços dos estudos da Psicologia do Envelhecimento, a


busca da velhice bem-sucedida, e, para tanto, alia-se a experiência de vida que os
idosos possuem e os fatores da personalidade para que estes possam desenvolver
mecanismos que contribuam para uma boa saúde física e mental, autonomia e
envolvimento ativo com a vida pessoal, a família, os amigos, o ócio, o tempo livre e as
relações interpessoais (Neri, 2004).

A psicologia do envelhecimento é hoje a área que se dedica à investigação das


alterações comportamentais que acompanham o gradual declínio na funcionalidade
31

dos vários domínios do comportamento psicológico, nos anos mais avançados da vida
adulta.

Ela se refere à forma como o sujeito percebe a realidade e a interpreta, como


se sente e valoriza esta relação com os demais e com o seu ambiente e acima de tudo
como se comporta.

O envelhecimento psicológico é o ponto de vista da ação e do efeito do tempo


sobre as distintas funções psicológicas a respeito de tópicos tais como: personalidade,
as funções cognitivas, a capacidade perceptiva, de aprendizagem e criatividade, a
comunicação, a interação social com seus semelhantes e a afetividade e como os
principais componentes do ser humano em qualquer momento de seu ciclo vital.

O relacionamento do idoso com o mundo se caracteriza pelas dificuldades


adaptativas, tanto emocionais quanto fisiológicas; seu desempenho ocupacional e
social, o pragmatismo, a dificuldade para aceitação do novo, as alterações na escala
de valores e a disposição geral para outros relacionamentos. No relacionamento com
sua história o idoso pode atribuir novos significados a fatos antigos e os tons mais
maduros de sua afetividade passam a colorir a existência com novos matizes: alegres
ou tristes, culposas ou meritosas, frustrantes ou gratificantes, satisfatórias ou sofríveis.
Por tudo isso a dinâmica psíquica do idoso é exuberante, rica e ao mesmo tempo
complicada.

O médico Freud afirmava, com notável sabedoria, que os determinantes


patogênicos envolvidos nos transtornos mentais poderiam ser divididos em duas
partes:

1- aqueles que a pessoa traz consigo para a vida; 2-


aqueles que a vida lhe traz.

Na senilidade isso fica mais evidente ainda, de um lado os fatores que o


indivíduo traz consigo em sua constituição e, de outro, os fatores trazidos a ele pelo
seu destino. O equilíbrio psíquico do idoso depende, basicamente, de sua capacidade
de adaptação à sua existência presente e passada e das condições da realidade que
o cercam.
32

Segundo o psiquiatra Ajuriaguerra, ao afirmar que "envelhece-se como se


viveu", certamente estava se referindo aos traços pessoais de nossa constituição que
acabam ficando mais marcantes com o envelhecimento. A prática clínica tem
mostrado, embora nunca de maneira absoluta, que os indivíduos portadores de
dificuldades adaptativas em idade pregressa envelhecem com maiores problemas do
ponto de vista emocional.

Se os acontecimentos existenciais eram sentidos com alguma dificuldade ou


sofrimento na idade adulta ou jovem, quando a própria fisiologia era mais favorável e
as condições de vida mais satisfatórias e atraentes, no envelhecimento, então, quando
as circunstâncias concorrem naturalmente para um decréscimo na qualidade geral de
vida, a adaptação será muito mais problemática. Portanto, está correto dizer que
quanto melhor tenha sido a adaptação da pessoa à vida em idades pregressas, melhor
será também sua adaptação no envelhecimento.

Por outro lado, alguns autores observam uma significativa melhora em alguns
casos de transtornos com o envelhecimento, fato também observável na prática
psiquiátrica. Isso nos mostra, de fato, não haver uma desestruturação psíquica no
envelhecimento, mas sim, uma alteração estrutural na dinâmica psíquica, novos
arranjos psicodinâmicos e nova arquitetura afetiva distinta da anterior.

Porém, vale destacar que o processo de envelhecimento, mesmo diante de


circunstâncias existenciais favoráveis para alguns idosos, como viver em um ambiente
cheio de carinho, respeito e atenção, ao lado da família, adaptar-se satisfatoriamente
a esta fase não é fácil, devido a certa fragilidade emocional própria dos traços afetivos
dos idosos. Nestes casos não é, absolutamente, a vida ou as circunstâncias
ambientais correlacionadas à senilidade que estariam proporcionando condições
necessárias para a eclosão de transtornos, mas sim, as condições de personalidade
prévia do idoso. É por causa disso que se envelhece como se viveu.

5.1 Mudanças nas funções cognitivas


33

As funções cognitivas são aquelas funções e processos que o indivíduo recebe,


armazena e processa a informação relativa a si mesma, aos outros e ao mundo. Entre
estas funções se destacam: a atenção, a percepção, a memória, a orientação e o juízo.

A memória é a função cognitiva mais importante. Em relação às mudanças


globais das funções intelectuais dos idosos, a memória exerce um papel cada vez
mais importante. Ela é básica para a resolução de problemas e para a adaptação ao
meio.

Existem diferentes tipos de memória, assim como também muitas formas de


classificá-las. Apresentaremos a seguir a forma mais conhecida:

Memória Sensorial: É a responsável em registrar a informação que nos chega


através dos órgãos dos sentidos. Esta informação fica retida durante apenas
alguns segundos em relação a cada um dos nossos sentidos (visão, audição,
olfato, etc.).
Memória de Curto Prazo: Podemos entendê-la como o local onde se guarda
a informação durante alguns segundos. Ela é limitada no sentido de não
transferir a informação registrada para a memória de longo prazo, ela se

perde. Assim por exemplo quando “gravamos” um número de telefone, logo em


seguida nos esquecemos.
Memória de Longo Prazo: É um armazenamento ilimitado, onde parte da
informação que nos chega permanece durante muito tempo e inclusive de
maneira “permanente”, uma vez que podemos recordar a informação, quem
sabe para o resto de nossas vidas. A memória de longo prazo pode ser
dividida em 03 tipos:
 Memória Episódica - É responsável por recordar fatos concretos, como por
exemplo, o que fizemos no natal passado, o nascimento de um filho ou qualquer
outro acontecimento;
 Memória Semântica – É responsável pelos conhecimentos de um modo
geral, tais como a tabuada, os acontecimentos da II Guerra Mundial, ou seja, tudo o
que aprendemos através dos nossos estudos;
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 Memória de Procedimentos – É aquela que serve para recordar a forma como


se amarra um sapato, andar de bicicleta, correr, nadar, ou seja, todas as ações que
aprendemos quando ainda éramos bem pequenos.

Com o envelhecimento podem ocorrer determinadas patologias que levam o


indivíduo a perder a memória, como por exemplo, a Doença de Alzheimer.

De qualquer forma, mesmo em idosos saudáveis, é comum ocorrer uma


dificuldade de memória, principalmente para memória recente, como com relação aos
recados e compromissos. Esta dificuldade progride até certo nível e estabiliza.
Esta situação é conhecida como perda benigna de memória da senilidade.

5.2 Aprendizagem

Existe um estereótipo de que o idoso não apresenta condições para aprender


coisas novas. Ao contrário, existem diferentes estudos em que são demonstrados na
prática que eles possuem uma plasticidade intelectual e conductual, ou seja, a
capacidade de aprender, gerar estratégias, substitutivas para conseguir a
aprendizagem.

Os idosos necessitam de um tempo de reação mais longo, que se observa em


situações como entrevistas, a condução de veículos, o uso do telefone celular, o
manejo com o computador, etc.

Podem ter dificuldades na utilização de algumas técnicas de aprendizagem,


como a associação e a visualização. Além disso, existe uma tendência a serem mais
precavidos.

Assim como na memória, pode-se afirmar que na aprendizagem, a maior


complexidade, rapidez e abstração ocorrem com maior dificuldade.

5.3 Funcionamento Intelectual


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Os resultados obtidos segundo estudos e investigações é que existem fatores


que influenciam no funcionamento intelectual, tais como grau de escolaridade, o
entorno estimulador, o estado de saúde física e psíquica, as perdas sensoriais, os
aspectos biográficos e de personalidade, a motivação e a relevância do material
utilizado.

Com o passar dos anos necessitamos de mais tempo para a resolução de


problemas, por exemplo, pois a inteligência fluída diminui, isto é, a agilidade mental.
O idoso apresenta uma maior lentidão na solução de problemas, elaboração de
informações e no tempo de reação diante das atividades e tarefas, enquanto que a
inteligência cristalizada melhora, pois esta é baseada nos conhecimentos adquiridos
através da experiência.

No funcionamento intelectual, destacam-se os seguintes aspectos:

a) São mantidos: A compreensão, a capacidade do juízo, o vocabulário e os


conhecimentos gerais.

b) Diminuem: A memória, a atenção, a concentração, a assimilação e a agilidade


da reação.

As mudanças rápidas no rendimento cognitivo são indicadores significativos de


deterioração física ou psíquica que merecem uma investigação e acompanhamento
médico.

5.3.1 Criatividade
A curiosidade com relação às perguntas e respostas e às novidades é mais
presente na população jovem, porém, os estudos apontam que a relação entre
criatividade e idade se mantém estáveis ao longo do tempo. Podemos comprovar esta
tese através das artes (música, literatura, etc.).

5.3.2 Linguagem

Podemos apontar algumas características descritas em diferentes estudos são:


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Tendência em utilizar frases mais longas e complexas;


Diminuição da discriminação e compreensão da linguagem falada;
Diminuição da capacidade de nomeação;
“Erro semântico”, tendência a circunlóquios (explicação substituindo a palavra
em falta, por exemplo, em lugar de “copo”, pode ser dito “isso aí que serve para
beber água”);
Mudanças nas conversas, pois se recordam que disseram algo, mas custam
para recordar para quem disseram por exemplo.

5.3.3 Outras Alterações

 Capacidade Psicomotora

Entre as modificações mais importantes na capacidade psicomotora se


destacam:

Alteração dos reflexos;


Transtornos do equilíbrio;
Transtornos do conhecimento do próprio corpo;
Transtornos na execução dos atos voluntários;
Diminuição da capacidade de conhecimento perceptivo e de identificação;
Transtornos da escrita.

É importante assinalar que quanto às alterações nas articulações e ossos, que


podem provocar osteoporose e osteoartrite, muito presentes na população idosa,
principalmente feminina.  Personalidade e Ajustes

Durante muito tempo a personalidade do idoso foi caracterizada pela redução


da energia, da força, da resistência e uma diminuição da atividade social, redução de
interesses, de metas e projetos.

Sob outras perspectivas, hoje se fala mais de uma mudança que propriamente
de diminuição.
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Alguns estudos apontam que a ideia principal com relação à personalidade do


idoso é de que esta tende a se tornar estável e não mais marcada por tantas alterações
e nuances como em outras fases da vida.

Como fase mais avançada do processo evolutivo, ao chegar à velhice a


integridade, como uma aceitação do que foi possível realizar ao longo da vida,
aceitando os êxitos e assumindo os fracassos se torna mais fácil.

 Reações frente às mudanças

Como enfrentamos às mudanças com o passar dos anos? As reações afetivas


e emocionais são diversas e é importante destacar:

A problemática;

Os vários tipos de personalidade; A história pessoal e de


aprendizagem.

Desta forma, algumas reações são possíveis:

Recolher-se, evitando as situações estressantes como forma de


autoproteção;
Irritação, mau humor pelo aumento da dificuldade para o ajuste social;
Dependência de algum familiar ou de alguém, por exemplo, um Cuidador.
Este é um reflexo claro da diminuição da competência e um fator de risco
para a depressão;
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Afrontamento de novas situações através de novos interesses, novas


estratégias de ajustamento, um maior esforço para aproveitar a relação com os
demais.
 Perdas e Viuvez

Nesta etapa do ciclo vital aumenta consideravelmente a possibilidade de


ocorrer perdas vitais significativas e da viuvez, que é sem dúvidas a crise mais
prejudicial nesta etapa.

Ocorrem perdas reais como a viuvez, perdas físicas de amigos, perda física
do emprego com a aposentadoria e perdas simbólicas, como a perda do papel
profissional com a saída do mercado laboral.

O ser humano enfrenta estas perdas através de um processo denominado


duelo, mecanismo adaptativo que permite superar a dor e o impacto psicológico.
BOWLBY fala de várias fases neste processo:

Embotamento afetivo (dificuldades em expressar sentimentos e


emoções);
Desejo intenso e busca da figura perdida;

Desorganização e desesperança; Reorganização.

Nem sempre se realiza de maneira adequada este processo e pode haver


problemas. É importante diferenciar alguns sinais e sintomas e, esses podem
denominar de duelo psicológico.

 Duelo Normal

No duelo normal existe uma causa desencadeante, estão presentes a tristeza


e o retraimento, e se dá uma aceitação da perda sem desaprovação. Tudo isso se
configura em um processo necessário.

Neste duelo existem fases, a saber:


Fase:
Tem a duração de várias semanas e se inicia logo em seguida a morte do ente
querido.
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Comoção e incredulidade;
Mostra-se ausente e confuso;
Relacionamentos frios e distantes;
Instaura-se uma barreira diante da pessoa;
Possível estado de dor aguda (moléstias orgânicas do tipo nervoso,
sensação de rigidez, vazio estomacal, cansaço muscular, tensão);
Sentimento de culpa;

Inquietude e dispersão nas tarefas; Eventual hostilidade com os


familiares;
2ª Fase:
Inicia-se após 03 semanas e dura aproximadamente até 01 ano.

Recordação obsessiva do (a) falecido (a);


Aceitação gradativa da realidade quanto à perda;
Repentinas e fortes reações de dor; Necessidade de relacionar-se
com as demais pessoas.
3ª Fase:
A partir do 2º ano.

O sujeito se adapta a perda do ente querido;


Consciência da inutilidade de refugiar-se ao passado;
Melhora nas relações familiares e sociais; Amadurecimento quanto
ao significado da própria vida.

 Duelo Patológico

A diferença do duelo que o idoso realiza normalmente pode surgir:

A não aceitação da perda;


Muita referência ao objeto perdido;
A resposta emocional dura por meses ou anos;
Eventuais transtornos psicossomáticos;
Desorganização;
Bruscas mudanças entre calma e irritabilidade;
Depressão;
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Insônia;
Autodesvalorização;
Baixa autoestima;
Sintomas hipocondríacos (crença de padecer de uma doença grave) e
fóbicos
(medo, temor de algo ou de situações);
Enjoos e dores de cabeça;
Sintomas que identificam com a enfermidade do (a) falecido (a);
Incapacidade de superação e consequentemente necessidade de
acompanhamento terapêutico.

 Relações Familiares

As relações familiares exercem um papel primordial no sentimento do bem


estar psicológico. Nos idosos ocorre um processo de reestruturação familiar
motivado pela saída dos filhos de casa, pela aposentadoria, incorporação de novos
membros na família ou perdas.

Atualmente as relações familiares e a estrutura da instituição familiar foram


modificadas consideravelmente e as principais características são: a diversidade de
modelos e arranjos desta instituição, ou seja, o surgimento de famílias
monoparentais em decorrência das separações, divórcios, aumento do número de
pessoas solteiras e sem filhos. Também é importante destacar a transformação da
família extensa com muitos filhos (03 gerações) para a família nuclear, a
incorporação da mulher no mercado de trabalho, as dificuldades das famílias em
desempenhar o papel de cuidadoras dos seus idosos, em função de suas residências
cada vez menores e o importante aumento do custo de vida.

No entanto, a família segue desempenhando este papel de suporte


comunitário e apoio psicoafetivo e emocional de maneira fundamental para seus
idosos, e, esta realidade está presente principalmente nos países latinos e em países
em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.
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 Sexualidade

Ainda é visível o discurso social e o preconceito que a sociedade tem em


relação à sexualidade na Terceira Idade. As pessoas em sua grande maioria,
insistem em acreditar que o desejo e a atividade sexual desaparecem à medida que
o sujeito envelhece. A crença de que o avançar da idade e o declínio da atividade
sexual estejam ligados, faz com que não se dê a devida atenção a uma das
atividades associadas à qualidade de vida, como é o caso da sexualidade.

A nossa cultura moderna preconiza que o corpo velho não é algo desejável.
Os avanços tecnológicos na área da estética estão cada vez mais presentes com o
objetivo de retardar o processo do envelhecimento. Apresentam-se uma variada
oferta de produtos endereçados àqueles que buscam se esquivar dessa
confrontação com o real do corpo. Desta forma, é então instituído um novo mercado
de consumo com a promessa da “eterna juventude”.

CONFORT (1985) menciona que a resposta sexual humana na velhice é


normal se não é afetada por enfermidades psíquicas, ansiedade ou expectativas
sociais, que é o principal fator da diminuição da conduta sexual.

Uma das variáveis mais relevantes na conduta sexual e afetiva é a


disponibilidade do (a) parceiro (a), especialmente das mulheres.

O interesse sexual no passado, a própria experiência da pessoa, a frequência


das relações sexuais são os principais preditores do comportamento sexual atual,
associado ao estado geral de saúde e às modificações fisiológicas provenientes do
processo do envelhecimento.

No sexo feminino cabe destacar as mudanças hormonais após a menopausa,


que é caracterizada pela cessação da menstruação e carência do estrógeno. Desta
forma, as mulheres sofrem uma série de mudanças físicas com a alteração dos
tecidos da vulva, vagina, trompas, seios, mucosa da bexiga e também a perda da
fertilidade. Com a diminuição da lubrificação da vagina, ocorre, portanto, maior
dificuldade para o ato sexual, e consequentemente maior risco de infecções vaginais.
Com isso, perde-se os padrões da juventude, o que não significa dizer que se perde
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o desejo sexual, que permanece por toda a vida. Os sentimentos de perda, de


falência, podem surgir neste período e devem ser considerados.

No sexo masculino por sua vez, ocorre a andropausa, e ao contrário das


mulheres, não existe uma idade pré-estabelecida para determiná-la. Manifestam
uma gradual perda da potência sexual com a diminuição hormonal da testosterona e
também, há alteração da capacidade erétil devido a problemas vasculares,
incompetência dos corpos cavernosos e problemas emocionais com o rebaixamento
da libido (desejo). Porém, o homem não perde a capacidade reprodutiva como a
mulher.

Na atividade sexual, seja ela com o (a) parceiro (a), seja ela através da prática
masturbatória, a fantasia é fundamental. Desenvolver a imaginação erótica faz parte
da vida sexual, inclusive na velhice, onde a sexualidade ganha um conteúdo mais
qualitativo do que quantitativo. Mesmo com o passar dos anos, o sexo representa
um papel importante na vida das pessoas. O limite físico não impede que o indivíduo
possa demonstrar seus desejos. É importante encontrar formas de satisfação, pois
a sexualidade faz parte da vida do ser humano e como vivenciá-la pode mudar de
alguma forma, de acordo com a singularidade de cada um.

Em um corpo mesmo envelhecido, é necessário encontrar beleza, pois é com


este corpo que o sujeito vai de encontro ao outro e assumir a passagem dos anos
lhe permite uma aceitação afetiva de si e também do outro.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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