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LICENCIATURA EM RELAÇÕES LUSÓFONAS E LÍNGUA PORTUGUESA

(PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA)


Unidade Curricular – Técnicas de Expressão Escrita
Ano letivo: 2022/2023
ESE de Bragança
Professor Ilídio Arribada Cadime

2.4. Escrita e Ciberescrita


DA LINGUAGEM HUMANA
A comunicação entre os seres, de um modo geral,
pode acontecer de diversas formas:
A linguagem telegráfica, por exemplo, utiliza sons
longos e breves, traduzidos em letras correspondentes
do alfabeto, como ponto e traço. Esta linguagem vem
desde o ano de 1884, ano em que a primeira linha
telegráfica foi construída, ligando as cidades de
Washington e Baltimore, nos Estados Unidos.
Quem transmitiu a primeira mensagem, usando
essa linguagem nova foi Samuel Finley Breese Morse,
ao escrever em inglês “What had God wright ” (O Que
Deus escreveu!), frase que foi repetida por outro
telegrafista, em Baltimore. 2
Em Washington, onde terminavam os postes com
fios elétricos que conduziam a telegrafia, tinham como
fim de linha, a sala do Supremo Tribunal, no Capitólio,
em cuja porta existe uma placa alusiva a Morse. O
governo foi o primeiro usuário desse tipo de serviço.

Samuel
Finley
Breese
Morse
3
A telegrafia consiste em transmitir mensagens
codificadas a distância, através de um aparelho
específico, chamado telégrafo. Há sinais maiores e
sinais menores além de espaços em cada letra e o ritmo
é que dará a diferença entre as letras os números ou as
acentuações.

A fala telegráfica não deve ser confundida com o


TELEGRAMA, que descreve uma maneira de escrever
cortada, com intenção de abreviar palavras e compactar
informações no menor número possível de palavras e
ou carateres.

4
Exemplo de um telegrama
Na noite anterior, antes de embarcar, enviara de Friedrichshafen um último
telegrama a Amparo, em Valmonte:
“EMBARCO ESTA MADRUGADA SOBREVOANDO LISBOA DIA 1 NASCER
DIA STOP INCRÍVEL PENSAR QUE VOU PASSAR TÃO PERTO DE TI E
TODOS STOP TELEGRAFO CHEGADA STOP PENSO EM VOCÊS E SEI QUE
FIZ BEM STOP BOA NOITE DIOGO STOP”
TAVARES, Miguel Sousa, 2007. Rio das Flores. Cruz Quebrada: Oficina do Livro (3.ª ed.)

Embarco esta madrugada, sobrevoando Lisboa no dia 1 ao nascer do


dia. É incrível pensar que vou passar tão perto de ti e de todos.
Mandarei mensagem do telégrafo à chegada. Penso em vocês e sei que
fiz bem.
Boa noite. Diogo
5
Também o agente regulador de trânsito
lança mão de sons de apito e gestos para efetivar
o cumprimento do respetivo código.
O surdo emprega principalmente a
linguagem de sinais. A expressão "língua gestual"
refere-se à língua materna de uma comunidade
de surdos. As línguas gestuais são línguas
naturais, que surgem e se desenvolvem
naturalmente, como as línguas orais. Esta
língua é produzida por movimentos das
mãos, do corpo e por expressões faciais
e a sua receção é visual.
É um sistema de comunicação
específico e exclusivo do ser humano, com vocabulário e
gramática próprios, tal como as línguas orais. 6
Tudo isso é linguagem. Mas diferente da
linguagem verbal humana, porque não se segmenta.

Essa possibilidade de divisão diferencia


as línguas naturais dos outros processos de
comunicação.
Um termo como “parvo”, vocábulo utilizado num
texto com o sentido de incompetência intelectual, pode
ser segmentado em partes menores até se chegar aos
merisma que, por sua vez, num processo inverso,
compõem unidades cada vez maiores até se chegar ao
vocábulo que, originalmente, foi segmentado.
7
Por isso, o processo agora inverte-se; em vez de
segmentação, passa-se à combinação. Unidades
menores compõem gradativamente outras maiores, até
se chegar-se à frase, que é o nível máximo de análise
da hierarquia gramatical.

Essas possibilidades – segmentação e


combinação – tornando o sistema mais económico
e altamente produtivo, diferenciam a língua das outras
formas de linguagem. As outras formas de linguagem
não alcançam essa dimensão. Por essa razão, são
sempre mais pobres e limitadas em relação às línguas
naturais. 8
A linguagem humana apresenta-se, portanto, como uma
capacidade universal e específica do Homem. 9
Trata-se de um sistema de sinais, signos
ou símbolos escritos ou gestuais
convencionalmente utilizados por uma comunidade
humana ou animal para comunicar. Nesta aceção, o
termo linguagem pode referir-se à linguagem humana
articulada, à linguagem animal (linguagem das abelhas,
dos golfinhos, etc), à linguagem musical, à linguagem
matemática, à linguagem pictórica, à linguagem gestual
(que comporta duas aceções: a linguagem dos surdos-
mudos e o código cinésico que serve de redundância à
expressão linguística), etc. Pode também incluir outros
sistemas de sinais, como o código da estrada, o código
da comunicação marítima ou aérea, etc. 10
A linguagem verbal apresenta-se, pois, como
característica inata, universal e exclusiva do ser
humano.
A linguagem humana atualiza-se nas línguas
naturais que entre si apresentam propriedades e
funcionamento comuns designados por universais
linguísticos. A linguagem pressupõe dois
falantes, um locutor e um alocutário, que comunicam
entre si uma mensagem e que estão inseridos num
contexto específico. Concorrem, para o estudo da
linguagem, outros fatores extralinguísticos
(neurológicos, psicológicos, sociológicos, antropológicos
e culturais), que permitem distinguir a linguagem
humana da linguagem animal ou de sistemas de
códigos. 11
C. F. Hockett (1960, 1968) elaborou um esquema
teórico com o objetivo de distinguir a comunicação
humana da comunicação animal, de onde destacamos
os seguintes traços ou características que podem definir
a linguagem humana:
1. canal vocal auditivo: a linguagem é um continuum sonoro produzido pelo
aparelho fonador e percebido pelo aparelho auditivo;
2. intercambiabilidade: os papéis de locutor (falante) e alocutário (ouvinte)
podem ser trocados numa situação de interação comunicativa;
3. especialização: os sinais linguísticos têm funções comunicativas, sociais,
psicológicas, não apenas biológicas e não necessitam de muito esforço ou
energia para a sua produção.
4. semanticidade: a comunicação realiza-se por signos que se referem a
entidades ou eventos;
5. arbitrariedade: a relação entre o signo e o seu referente na realidade é
puramente convencional e imotivada (significante); 12
6. carácter discreto: a linguagem humana é constituída por segmentos distintos
e separáveis entre si;
7. distanciamento: a linguagem humana pode ser usada para referir coisas
distintas no espaço e no tempo;
8. abertura (ou criatividade): a linguagem humana permite que se combinem os
seus constituintes que existem em número limitado de forma a produzir frases
sempre novas e nunca antes produzidas;
9. tradição: a linguagem humana, através das línguas, é aprendida de geração
em geração, não é o resultado de um mecanismo de hereditariedade;
10. prevaricação: a linguagem humana permite mentir, falar de coisas fictícias
ou inexistentes, criar outros mundos, etc;
11. reflexividade: a linguagem humana permite explicar-se a si própria, falar da
própria linguagem;
12. aprendibilidade: qualquer falante de uma dada língua pode aprender outra
língua nova. 13
A linguagem humana é manifestação de
uma intenção por parte de indivíduos dotados de
consciência e de um aparelho físico que usam para
falar.
Nenhum outro sistema de
comunicação não-humano se aproxima
da complexidade inerente à linguagem
ou linguagens desenvolvidas pelo
homem.
14
A linguagem é uma faculdade unicamente humana
que consiste na capacidade de usarmos
símbolos verbais para representar o
mundo e, por esse processo, conseguirmos realizar
uma série de atividades: dar ordens ou conselhos, fazer
perguntas, formular pedidos, emitir opiniões ou
sugestões, expressar emoções ou sentimentos, fazer
advertências, transmitir informações…

A nossa capacidade de comunicação resulta,


portanto, em grande parte, da possibilidade de
acedermos à linguagem.
15
Podemos também recorrer a formas de
comunicação não verbal, através do gesto, da
mímica, de sinais convencionais (sinais aos quais
se resolveu associar um determinado significado
– código Morse; língua gestual, …). Os sinais de
trânsito constituem exemplos de formas gráficas
às quais se convencionou associar um
significado.

16
José Gomes Ferreira, nas suas Aventuras de João Sem
Medo, até criou uma personagem, o Chico Calado, que apesar de
não falar, entusiasma os ouvintes com a sua eloquência:
– Não tenhas receio – animou-o João Sem Medo. – Impinge-lhes os
elixires.
E o Chico Calado, mudo de nascença, assim fez. Executou os sábios
movimentos de braços e de mãos com que costumava elogiar a proficiência dos
tira-calos maravilhosos…
Que técnica de orador… – cochichavam todos, arrebatados.
– Diz com gestos o que as palavras calam.

A situação mais frequente é, contudo, que o gesto e a


mímica acompanhem a palavra. Estamos de tal modo habituados
a proceder assim que, quando falamos ao telefone, podemos
continuar a gesticular como se estivéssemos a ver. A maior parte
das vezes, a nossa comunicação é simultaneamente verbal e não
verbal. 17
ESCRITA – Comunicação e expressão
A eficácia da comunicação depende de uma
correta adaptação do que dizemos à situação de
comunicação, o que implica, por exemplo, optar pelo
uso oral ou escrito da língua, com as suas marcas
diferenciadoras, por uma forma de tratamento ou por
outra.
A linguagem escrita é caraterística de uma
comunicação/expressão à distância, sem a presença
física do emissor; obedece a regras de escrita e
apresenta-se mais cuidada, trabalhada do que a
linguagem oral; contudo, não tem um poder de
adaptação a todo o momento, de ir fazendo a
adequação constante ao discurso. 18
A escrita alfabética
A invenção da escrita alfabética acompanhou uma
das mais profundas transformações da experiência
humana, que deu origem ao aparecimento das primeiras
civilizações da História.
A protoescrita terá começado por ser pictográfica
e ideográfica, cada signo comportando, ao mesmo
tempo, uma representação dos objetos e uma signi-
ficação. Ainda hoje podemos ter uma ideia do seu
sentido, se repararmos na escrita hieroglífica e na
escrita chinesa. Terá começado por ser uma represen-
tação, de uma forma abstrata, tanto dos objetos e dos
gestos como do pensamento e dos sentimentos. 19
A autonomia da escrita em relação à oralidade
Com a invenção do alfabeto, os signos gráficos
tornam-se representações fonéticas, formas
convencionais abstratas, destinadas já não a
representar objetos ou conceitos, mas a representar
os próprios sons da linguagem. Mas o
fonetismo da escrita alfabética não seria completamente
realizado, continuando a expressão escrita, ainda hoje,
a guardar uma relativa independência em relação à
linguagem oral. Basta observar as diferentes maneiras
de ler a escrita do inglês para nos darmos conta desta
independência da escrita em relação à oralidade.
20
Recordemos, aliás, que, na origem, a escrita dos
povos semitas, como o aramaico, o hebraico ou o
árabe, não representava as vogais, exigindo por
tivesse de
isso que o leitor, para ser capaz de ler,
começar por aprender os textos de cor.
Nestas culturas, a escola ainda hoje tem como
função fazer memorizar os textos sagrados que a
escrita regista. A escrita começou assim, certamente,
por ser uma representação monumental da
palavra oral, destinando-se predominantemente ao
culto da palavra sagrada. 21
Escrita e memória
Encontramos uma das mais antigas reflexões
sobre a escrita alfabética no Fedro. Nos parágrafos 274
a 277 deste dialogo, Platão conta uma lenda do Antigo
Egipto. Segundo essa lenda, o deus Tot teria ido a
Tebas, ao palácio de Tamuz, rei do Egipto, para lhe
pedir que difundisse junto do povo todo um conjunto de
inventos seus. A cada um dos inventos, Tamuz ia
pedindo que Tot lhe dissesse para que servia e ia
formulando um juízo acerca das vantagens ou
desvantagens da sua utilização.

22
Quando chegou à apresentação do invento da escrita, Tot fez
ver ao rei que se tratava de uma invenção que tornaria o povo
egípcio mais sábio e que serviria de remédio (pharmakon) para a
memória e para a ciência. Mas Tamuz não concordou com a
explicação de Tot para as supostas vantagens do seu invento e
disse-lhe: «Como tu és o pai da escrita, por benevolência atribuis-lhe
efeitos contrários aos que ela tem. É que ela desenvolverá o
esquecimento nas almas daqueles que a tiverem adquirido, por
negligência da memória; fiando-se no escrito, e de fora, através de
caracteres estrangeiros, e não por dentro, graças a um esforço
pessoal, que passarão a recordar-se das suas lembranças. Portanto,
tu não encontraste um remédio para fortificar a memória, mas para
ajudar a recordar-se. Quanto à ciência, tu forneces apenas um
semblante de ciência aos teus alunos, e não a realidade. É que,
depois de terem aprendido muito nos livros sem terem recebido
ensinamento, terão ar de ser muito sábios, mas, na maioria dos
casos, serão desprovidos de juízo, insuportáveis por acréscimo,
porque terão a aparência de serem sábios sem o serem.» 23
Vemos assim que, para Platão, o discurso oral
é o discurso vivo, inseparável do seu autor ou do
seu pai, ao passo que os textos escritos, ao
autonomizarem-se da palavra viva, podem errar,
andar à deriva, oferecendo-se a quem os quiser ler,
independentemente da relação imediata e do diálogo
com o seu autor.
E porque, uma vez escrita, a palavra já não
depende do suporte da memória, que Platão a
considera como uma técnica do
esquecimento e não uma invenção destinada a
alimentar a memória. 24
Platão coloca ainda na boca de Sócrates uma
comparação da escrita com a pintura e com a escultura.
Tal como a pintura não mostra as coisas, mas
simulacros enganadores, assim também a escrita não
dá a ver o discurso vivo, mas uma representação morta
e enganadora da palavra.

Escrita e sedentarização

A invenção da escrita alfabética inicia a


viragem técnica mais importante da História
da Humanidade, acarretando transformações, tanto
religiosas e culturais como económicas, sociais e
políticas, de alcance incalculável. 25
é habitualmente associada
É por isso que
ao começo da época histórica, ao processo
de sedentarização e ao aparecimento das
primeiras cidades, caraterizadas pela
implementação de formas hierárquicas de organização
do poder, pelo processo de estratificação e de
especialização das relações sociais.

Uma vez consignadas por escrito, as narrativas


míticas relacionam-se e passam deste modo a formar o
corpo fixo de crenças e de normas abstratas, que se
impõem com a pretensão de serem universalmente
válidas. 26
Os primeiros escritos são textos sagrados, genealogias,
calendários e códigos destinados a regular a
administração política e jurídica da vida coletiva. Trata-
se de documentos que servem para regular as crenças
religiosas, as atividades económicas e os litígios das
primeiras comunidades urbanas, de homens doravante
destinados a partilhar a sua experiência no seio de um
mesmo território comum. Este processo corresponde à
passagem das modalidades nómadas para as
modalidades sedentárias de relação com o território.

27
A imprensa escrita
Durante milénios, a escrita foi uma atividade
manual de que se ocupavam os escribas e os copistas.
A beleza da caligrafia e a riqueza das iluminuras dos
manuscritos revelam-nos a maneira preciosa como esta
atividade foi sendo encarada.
A invenção da imprensa, no século XV, ao
transformar as técnicas da escrita, acompanhou a
irrupção de uma mudança profunda das mentalidades e
das representações do mundo. A essa mudança está
associada a emergência da modernidade ocidental.
Vejamos as principais alterações que se operaram com
o seu aparecimento, com especial enfoque para
Portugal. 28
Para o aparecimento e desenvolvimento da
imprensa contribuíram pelo menos quatro fatores
fundamentais: a invenção de processos técnicos de
reprodução da escrita, o alargamento da instrução
pública, o aparecimento do gosto e dos hábitos de
leitura e a generalização do interesse ou da curiosidade
pelo conhecimento do desenrolar dos acontecimentos
mais significativos.

Embora na China, durante a dinastia dos T’iang,


que reinaram entre 618 e 907, já fosse conhecida e
utilizada a imprensa de carateres móveis e já fosse
utilizado o papel como suporte da escrita impressa, a
sua introdução no Ocidente só teria lugar no século XV,
29
graças aos trabalhos de Gutenberg (Johannes
Gensfleisch), que, por volta de 1440, em Estrasburgo,
inventou a imprensa de carateres metálicos móveis,
tendo publicado, em 1455, agora instalado em Maiência,
a célebre Bíblia de 36 linhas.
A imprensa de carateres móveis depressa se
tornou o meio de publicação do relato dos
acontecimentos que eram considerados mais
importantes ou mais sensacionais, tornando, assim,
mais fácil a difusão das notícia manuscritas que
circulavam, sobretudo nas cidades. Os semanários não
tardaram a aparecer, datando o primeiro de que há memória de
1622, em Londres. Seguiram-se-lhe Paris, Florença, Madrid e até
Pedro, o Grande, criou, na Rússia, o seu próprio jornal, em 1703.30
Escrita propriamente dita
A escrita que combina pequenas unidades de significação
para fazer emergir novas significações só apareceu há cerca de três
ou quatro mil anos (Morais, 1997).

SISTEMAS DE ESCRITA

Representam a linguagem falada Representam a linguagem não falada

Logográfico Silábico Alfabético Pictograma Ideograma

Escrita não Escrita Indicam Indicam


fonográfica fonográfica um objeto uma ideia

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Logográfico Silábico Alfabético Pictograma Ideograma

Escrita não Escrita Indicam Indicam


fonográfica fonográfica um objeto uma ideia

Ieróglifos inscritos
Stela 5 Takalik no obelisco de
Abaj, Guatemala, Hatshepsut
escrita maia erigido no templo
de Karnak.

32
A comunicação verbal
As pessoas comunicam de diversas formas ou tipos, mas a
comunicação verbal oral é a mais comum e refere-se à emissão
de palavras e sons que usamos para nos comunicar, tais como
dar instruções, entrevistar ou informar. A comunicação verbal
escrita refere-se ao registo das ocorrências linguísticas,
tornando-as perenes.
Comunicação verbal é toda a comunicação que utiliza
palavras ou signos. Através da comunicação verbal, simbólica e
abstrata, que se faz por palavras, palavras estas, faladas ou
escritas, o homem compreende e domina o mundo que o rodeia e
entende, assim, os outros.
Os sinais escritos substituem os signos vocais expressos
nas palavras, a escrita é a representação dos sons articulados na
fala, em forma de sinais gráficos, uma transformação da língua
natural num código. 33
Através da comunicação verbal oral, os indivíduos de um
mesmo grupo linguístico criam diversas representações do
mundo, interagem, comunicam, trocam experiências e procuram
soluções para os seus problemas.
O contexto verbal é também imprescindível para
compreendermos um determinado ato de comunicação verbal.
Por exemplo, no excerto a seguir, só compreendemos bem o que
é dito se tivermos em conta informações anteriormente inseridas
no texto:
– Não ponhas, Já bebi. Casaram, pois claro, ele quis sempre casar-se
com ela. Foram para a província. Mas naquele dia, veio a casa almoçar, que
ele nem sempre vinha, foi quando deu a notícia. E o pai, vê lá, pô-la fora de
casa.
– Sim, senhora, há homens assim, ele há-os! Por isso eu te dizia há
bocado, o mundo é bonito, há homem que se sacrifica pelo outro.
Olga Gonçalves, Ora Esgardae
34
É evidente que comunicar através da escrita ou através do
oral acarreta diferenças importantes. Desde logo, por exemplo,
porque:
 no meio oral, não se pode voltar atrás e «apagar» o que foi
dito embora, posteriormente, se possam introduzir precisões ou
alterações; no meio escrito, pelo contrário, há a possibilidade
de refazer um registo anterior;
 à medida que falamos, vamos alterando a situação em que
são produzidas as palavras, logo, o relacionamento entre
interlocutores:
– Bom dia. Sou um veado e procuro trabalho. Não têm nada para
mim?
– Primeiro é preciso ver o que é que tu sabes fazer - responderam os
pais.
– Sei correr, trotar e andar a passo. Sou bastante forte, apesar de ter
as pernas franzinas. Posso carregar fardos pesados. […] 35
– Tudo isso muito bem - concordaram os pais, - mas quais são as tuas
pretensões?
– Alojamento, comida e, evidentemente, descanso semanal ao
domingo.
– Os pais ergueram os braços ao céu. Não queriam ouvir falar em
dia de repouso.
– É pegar ou largar - disse o veado. - Reparem que eu sou muito
sóbrio e que a minha alimentação não vos sairá cara.
Estas últimas palavras acabaram por decidir os pais e ficou
combinado que o aceitariam à experiência por um mês.
Marcel Aymé, «O Veado e o Cão», in Contos do Gato no Poleiro

Repare-se que o veado e «os pais» vão, alternadamente,


ocupando posições de domínio ou subalternidade, consoante as
trocas verbais que realizam.

36
Os enunciados orais apresentam marcas distintivas dos
escritos, como podemos observar nos exemplos que se seguem:
– Tamos a fazer um trabalho prà iscola e podias colaborar, tá?
– Colaborar? Hum… Qué que queres que faça?
– Podias imprestar a tua câmra…
– Pra quê? Pra dares cabo dela?
– Pra quê? Ã… ã… Inda não sei bem… Talvez… O João tev’a ideia e nós… Talvez
pra filmar algumas coisas… à… alguns monumentos da cidade… Percebes?... Mas
prometo… nã ta’strago! É só prum dia.
– Prum dia, nã é? Sei lá… mas… tá bem! Depois vê-s’isso milhor…
– Fixe, pá! Chau! Agora vou-m’imbora. Vou prá aula.
Transcrição da gravação de um diálogo entre dois amigos, com manutenção das marcas de oralidade

– Estamos a fazer um trabalho para a escola. Acho que podias colaborar.


– O que queres que faça?
– Podias emprestar-me a tua câmara de vídeo.
– Para quê? Para me dares cabo dela?
– Ainda não sei bem, mas talvez para filmar monumentos da cidade. Mas prometo
que não a estrago, até porque só preciso dela por um dia.
– Está bem, mas depois vê-se isso melhor.
– Está bem. Até logo, porque agora vou para a aula.
Transcrição da gravação de um diálogo entre dois amigos, na versão na língua escrita
37
Como podemos verificar, há diferenças, apesar da
reprodução do oral já ter, evidentemente, marcas do escrito com
a utilização de grafemas a substituir os fonemas e de vários
sinais de pontuação através dos quais se procura dar indicações
sobre entoação, assinalar pausas e ritmo. Por outro lado, na
escrita há a ausência de mímica e gestos. Mesmo assim, no
primeiro texto há marcas de oralidade: frases curtas, repetições
de palavras e expressões, suspensões, contração de palavras…
No segundo enunciado, a mensagem está ordenada mais
logicamente e, por isso, não se verificam repetições nem
interrupções de frases.

Exemplos de Comunicação verbal escrita: Exemplos de comunicação verbal oral:


• Obras científicas e literárias. • Diálogo entre duas pessoas.
• Cartazes. • Rádio.
• Jornais. • TV.
• Cartas. • Telefone, etc…
• Telegramas, etc… 38
PARA PRODUÇÃO DE TEXTO ESCRITO…
[ESCRITA]

39
[Leitura de imagem - pintura]

Análise da imagem;
Referência a cinco palavras-chave que se
lhe possam associar (a usar no texto);
Elaboração de texto expressivo…
… com utilização obrigatória de conectores de:
. concessão;
. condição / hipótese;
. dúvida;
. oposição / contraste.

Planificação
Textualização
Salvador Dalí, Rosa Meditativa, 1958 Revisão / avaliação
40
PLANIFICAÇÃO
Cinco palavras-chave: suspensa; céu limpo; campo verde; orvalho e manhã.
. o que é que é pedido?
- Texto expressivo: opiniões pessoais (marcas de 1ª pessoa); estrutura
conjunta, onde se devem evidenciar os sentimentos provocados pela
imagem.

. Como elaborar o texto:


- Estabelecer uma relação entre as palavras-chave e o grau de importância:
duas pessoas; suspensa; céu limpo; campo verde; orvalho e manhã.

. … utilização obrigatória de conectores de:


. Concessão (embora, apesar de, mesmo que, ainda que …);
. Condição / hipótese (se, caso, a não ser que …);
. Dúvida (acaso, porventura, possivelmente, provavelmente, talvez …);
. Oposição / contraste (mas, porém, contudo, todavia, no entanto …).
41
TEXTUALIZAÇÃO
A imagem “Rosa Meditativa”, da autoria de Salvador
Dali, transporta-nos para o mundo da ficção. Nela
podemos observar três espaços distintos. Na parte
inferior, há duas pessoas no meio de um campo árido,
iluminado pelo Sol no horizonte, gerando uma sombra.
Provavelmente estarão admiradas com o tamanho da
rosa e com o facto de esta se encontrar suspensa. O
céu encontra-se limpo, formando um cerúleo uniforme,
mas uma rosa, de grande proporção, flutua no céu,
com uma gota de água na parte interna de uma pétala,
dando ideia de ter ainda o orvalho da manhã. Se não
tivesse a gota de água, a imagem estaria mais
adequada ao ambiente em que esta está inserida.
Embora pareça estranha, é considerada uma obra de
arte, sobretudo porque pertence a um artista famoso.
Salvador Dalí, Rosa Meditativa, 1958
42
[Leitura de imagem - pintura]
Análise a imagem;
Identificação da sua possível simbologia;
Indicação de uma metáfora que represente
a simbologia do quadro;
Elaboração de texto descritivo da metáfora…

… com utilização:
… dos nomes e adjectivos
confusão; ferocidade; sangue;
violência; Sol; poder; esplêndida;
grande; insustentável; único; redonda.

Planificação
Textualização
Adolph Gottlieb, Explosão /, 1957 Revisão / avaliação
43
[Banda desenhada]

AFONSO, António, 1999. In Humor Lusófono. Porto: HUMORGRAFE


44
Leitura da banda desenhada;
Análise da história que está a ser escrita pela personagem;

Elaboração de um texto narrativo…


… com utilização obrigatória de conectores de:
. sequencialização temporal;
. sequecialização espacial;
. adição;
. causa;
. tempo.
… com utilização, pelo menos, duas cadeias de
referência.
Planificação
Textualização
Revisão / avaliação
45
[Banda desenhada]

WATTERSON, Bill, 2006. O Indispensável de Calvin & Hobbes. Lisboa: Gradiva (3.ª ed.) (adaptado)

46
Leitura da banda desenhada;
Análise da problemática abordada;
Elaboração de um texto de opinião…
… com utilização obrigatória de conectores de:
. alternativa;
. certeza;
. comparação;
. consequência;
. dúvida.
… com utilização obrigatória das expressões sublinhadas.

Planificação
Textualização
Revisão / avaliação
47
CIBERESCRITA
O século XX foi o século do cinema e da TV, mas foi
também o momento de gestação de outras transformações
tecnológicas, mais relevantes ainda para o domínio das
tecnologias imagéticas e para as formas de organização da
sociedade como um todo. Falamos do desenvolvimento da
Informática. Realidades cada vez mais complexas passaram a
ser traduzidas, calculadas, modeladas a partir de combinações
binárias.
A esse processo, ainda em curso, chamamos Revolução
Digital. Inicialmente aplicada a projetos militares e científicos, a
digitalização alcançou hoje praticamente toda a sociedade, nos
mais diversos setores de atuação, incluindo as ferramentas
(simples e complexas), os serviços, a produção e a circulação de
bens materiais simbólicos, etc. É uma realidade social que se
tornou evidente nos últimos anos e que não mais pode ser
negada (Schaff, Chesneaux, Casttels, Lèvy, Turkle). 48
Santaella refere-se a esse processo da seguinte forma:
Propiciada, entre outros fatores, pelos media digitais, a
revolução tecnológica que estamos atravessando é psíquica, cultural
e socialmente muito mais profunda do que foi a invenção do alfabeto,
do que foi a explosão da cultura de massas, com os seus meios
técnicos mecânicos-eletrónicos de produção e transmissão de
mensagens. Muitos especialistas em cibercultura não têm cessado de
alertar para o facto de que a revolução teleinformática, também
chamada de revolução digital, é tão vasta a ponto de atingir
proporções antropológicas importantes, chegando a compará-la com
a revolução neolítica. Para se ter uma ideia das consequências
trazidas por essa revolução, basta dizer que a nova ordem
económica, social e cultural mundializada não seria possível sem ela.
Na base dessa revolução está o processo digital. Via digitalização,
quaisquer fontes de informação podem ser homogeneizadas em
cadeias sequenciais de 0 e 1. (Santaella, 2001:389)
49
Pouco a pouco, os computadores, inicialmente compostos
de pesados hardwares e de enormes compilações de códigos
numéricos e escritos, foram adquirindo uma interface gráfica e
imagética.
Nos anos 70 do século passado, iniciam-se pesquisas nas
áreas da computação gráfica e das simulações visuais que se
desenvolveriam rapidamente nos anos seguintes. A natureza
binária da linguagem computacional mostra-se como uma
matéria-prima muito mais manipulável do que os fotogramas ou
mesmo as impressões elétricas do vídeo.
Santaella identifica aqui o terceiro paradigma, o digital,
que se relaciona com as imagens produzidas pelos
computadores, denominadas de sintéticas ou infográficas, que se
constituem na reunião de pixels que podem ser visualizados
numa tela de vídeo ou numa impressora. Este terceiro modelo
produz imagens “a partir de três suportes fundamentais: uma
linguagem informática, um computador e algum tipo de interface. 50
Embora a manifestação sensível da imagem na tela do
computador seja uma questão de eletricidade, a sua criação
depende basicamente de algoritmos matemáticos (Santaella,
1999:159).
Os dispositivos de base dessas linguagens (combinações
de 0 e 1) propiciam às tecnologias digitais um poder muito mais
elevado de maleabilidade, flexibilidade, rapidez de transporte
e alta capacidade de armazenamento. Isso facilita e amplia o
poder da captação, modelagem, transformação, armazenamento
e difusão de imagens estáticas e em movimento.
Além disso, temos, pela primeira vez na história, a
possibilidade de integrar, com facilidade, rapidez e criatividade,
todos os tipos de media (incluindo aqueles originalmente não-
digitais) num único suporte. Ao permitir a fusão, mesclagem e
interconexão (não apenas como soma) de diversos tipos de
media, as novas tecnologias abrem possibilidades para a criação
de novas linguagens e novos signos comunicacionais. 51
Estes poderiam integrar linguagens já existentes a formas
inéditas de comunicação e pensamento, como já presenciado
noutros dispositivos ao longo da história. Esse processo poderia
criar fendas e espaços para que brotassem signos “que seriam ao
mesmo tempo suporte e prolongamento do imaginário”, estruturar
reflexões e posicionamentos críticos e levar a transformações
ainda mais significativas no processo de construção e difusão do
saber.
As telas passam, assim, a não mais serem apenas
interfaces privilegiadas das imagens, nem, por sua vez, da escrita
(tal como ocorreu com a página impressa), mas de novas
linguagens que estão sendo geradas a partir dessa nova lógica
estabelecida. Estamos diante do surgimento de uma nova
escrita. Uma escrita que incorpora e transforma as
características da linguagem alfabética, das linguagens
imagéticas clássicas (da pintura à televisão), dos meios sonoros e
da comunicação corporal. Uma escrita que tem como base a
hibridização das tecnologias e a convergência dos media. 52
Chamamos essa nova linguagem Ciberescrita. O conceito
de escrita é aqui retomado de maneira ampla, enquanto forma de
representação e organização de ideias através de signos. Forma
essa que é pensada através de uma lógica, mesmo que esta não
seja a da escrita alfabética.
À escrita agrupa-se a perspetiva de uma cibercultura,
entendida como o “conjunto de técnicas (materiais e intelectuais),
de práticas, de atividades, de modos de pensamento e de valores
que se desenvolvem juntamente com o crescimento do
ciberespaço” (Lèvy, 1999:17). Ou seja, trata-se dos modos de
agenciamentos de ideias organizadas a partir dos dispositivos
digitais e em rede.

A conectividade, a hipertextualidade e a interatividade


estão no centro de formação dessa nova linguagem que, ao que
tudo indica, terá nos audiovisuais sua base de geração de
sentidos. 53
O facto de os discursos produzidos pelos dispositivos
informatizados estarem digitalizados permite aos mesmos
estarem integrados a redes mundiais de comunicação, elevando
as possibilidades de troca e metamorfose constante dos produtos
e saberes, e dificultando, consequentemente, a cristalização de
ideias, conceitos e estéticas. Isso implicaria na ampliação do
caráter coletivo do conhecimento, fruto da viabilidade do
intercâmbio dinâmico e instantâneo de saberes singulares de um
grande número de agentes produtivos, conectados à rede.
Acrescenta-se também que a plasticidade, a flexibilidade e
a rapidez de transformação dos bits geram, cada vez mais,
maiores possibilidades de interação entre emissores, receptores,
mensagens e dispositivos. Estamos a referir-nos a uma das mais
importantes “promessas” dessas tecnologias: interatividade.
Esta é aqui compreendida como uma possibilidade comunica-
cional, que propicia uma troca ativa entre o criador, a obra e
aquele que sobre esta se debruça, não sendo mero espectador. 54
Já é hoje senso comum o facto de que a interatividade não
é uma característica intrínseca das tecnologias digitais.
Aconteceu com a arte, uma das áreas nas quais a interatividade
mais se desenvolveu, seja nos exemplos da arte participacionista,
do romance moderno “aberto” ou ainda hoje com as iniciativas da
arte digital. Mas não é a única a poder aproveitar esse novo
potencial comunicacional aberto pela cibercultura.
Os jogos eletrónicos são também exemplos desse uso, de
forma bastante rica. Essas possibilidades acabam também por
abrir espaço para a criação de uma educação interativa, que teria
no ciberespaço seu locus de ação mais apropriado.
Os cursos online e a utilização de ferramentas de
Eduacação a Distância (EaD), hoje disponíveis no mercado,
mostram-nos que o uso das linguagens audiovisuais poderá vir a
afirmar-se em breve.
55
A ciberescrita abre possibilidades para a criação de novas
linguagens e novos signos comunicacionais. E naturalmente
poderá levar a transformações ainda mais significativas o
processo de construção e difusão do saber. Alves refere:
[...] a uma discussão de como o ensino online pode vir a
incorporar as linguagens audiovisuais, por meio de uma lógica de
organização semântica distinta (que denominamos de ciberescrita),
aproveitando, dessa forma, o potencial trazido pelas tecnologias
digitais, no sentido de criar uma educação mais dinâmica, plural,
“heterárquica” e coletiva. ALVES in SILVA (2003).
É com os Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA),
possibilitados através da Internet, que se torna possível não
apenas o desenvolvimento de tarefas, individuais e/ou grupais,
mas a ocorrência de oportunidades para novas aprendizagens, a
troca de informações entre pessoas de diversos lugares e de
diferentes realidades, o contacto com materiais (textos, softwares,
vídeos, etc.) que estão disponibilizados de forma mais acessível. 56
A possibilidade de que muitos sejam, ao mesmo tempo,
produtores, difusores e consumidores de discursos viabiliza
condições para a concretização de uma possível situação na qual
não existiriam mais centros exclusivos de difusão textual,
enfraquecendo (ao menos parcialmente) toda uma lógica de
produção e consumo de massa, compartilhada durante várias
décadas pela maior parte dos produtos culturais que se tornaram
dominantes no século XX (rádio, cinema e televisão). Nessa pers-
petiva, o próprio saber poderia transformar-se num grande
hipertexto, construído e reconstruído, a milhares de mãos e
cérebros, sem eixos centrais.
Muitos teóricos (Bairon, Plaza, Santaella, Machado,
Landow, Heylighen, Winck, Feldman, dentre outros) vêm também
denominando o que chamamos de ciberescrita com o termo
hipermedia. Segundo Santaella,
Longe de ser apenas uma nova técnica, um novo meio para
transmissão de conteúdos preexistentes, a hipermedia é, na realida- 57
de, uma nova linguagem em busca de si mesmo. Essa busca
depende, antes de tudo, da criação de hiper-sintaxes que sejam
capazes de refuncionalizar linguagens que antes só muito
canhestramente podiam estar juntas, combinando-as, retencendo-as
numa mesma malha multidimensional. Toda nova linguagem traz
consigo novos modos de pensar, agir e sentir. Brotando da
convergência fenomenológica de todas as linguagens, a hipermedia
significa uma síntese inaudita das matrizes da linguagem e do
pensamento sonoro, visual e verbal com todos os seus
desdobramentos e misturas possíveis. Nela estão germinando
formas de pensamento heterogéneas, mas, ao mesmo tempo,
semioticamente convergentes e não-lineares, cujas implicações
mentais e existenciais, tanto para o indivíduo como para a sociedade,
estamos apenas começando a apalpar. (Santaella, 2001:392)

Naturalmente que, passados quase 20 anos do estudo de


Santaella, e dada a velocidade a que as novas tecnologias têm
vindo a desenvolver-se, muitos avanços já se verificaram. 58
Apesar dos avanços realizados pelas tecnologias digitais,
tanto no sentido da democratização da produção envolvendo a
telemática, quanto à ampliação do potencial discursivo e
comunicacional, não podemos deixar de pontuar as contradições,
dificuldades e reveses que ainda permeiam a apropriação
tecnológica no mundo. 59
Urge fazer com que a distribuição tecnológica não se
realize de forma desigual, tanto no que diz respeito às
diferenças regionais, quanto sociais e de renda (Schaff, 1995).
Autores como Castels (1996) afirmam que as tecnologias
da informação são hoje o núcleo básico do processo de
as
reprodução do capital. Torna-se, por isso, imprescindível que
políticas públicas e as organizações sociais
busquem garantir o acesso a essas tecnologias
pelas camadas mais desfavorecidas da
sociedade, impedindo assim que as contradições se ampliem.
E a educação formal, nesse sentido, adquire um papel
fundamental, de fazer com que essas tecnologias cheguem a
uma camada da população que, de outra forma, não teria acesso
às mesmas. 60
Referências
- ALVES, L. R. G., NOVA, C. C. Estação online: a “ciberescrita”, as imagens e a EAD In: Educação
online.1ed.São Paulo : Loyola, 2003, v.1, p. 105-134.
- CADIME, Ilídio, CRISTÓVÃO, Fátima, ROCHA, Manuel, Palavras, para que vos quero –
Português 5.º ano, Santillana, 2015;
- CADIME, Ilídio, CRISTÓVÃO, Fátima, ROCHA, Manuel, Palavras, para que vos quero –
Português 6.º ano, Santillana, 2016;
- GREIMAS, A.J. e COURTÉS, J. Dicionário de semiótica. Trad. de Alceu Dias Lima et alii. São
Paulo: Cultrix, s.d.;
- PEREIRA, Isidro S. J., Dicionário Grego-Português e Português-Grego, Livraria Apostolado da
Imprensa, 7ª edição, Braga, s/d.;
- REIS, Carlos: O Conhecimento da Literatura: Introdução aos Estudos Literários, Livraria
Almedina, Coimbra (1995);
- RICOEUR, Paul. Du texte à l’action, Paris: Seuil: 1986;
- ROCHA, Maria Regina, Gramática de Português – Ensino Secundário | 10.º, 11.º e 12.º anos,
Porto Editora, 2016.
- RODRIGUES, Adriano Duarte, As Técnicas da Comunicação e da Informação, Editorial
Presença, 1ª edição, Lisboa, Agosto de 1999;
- SILVA, Pedro, CARDOSO, Elsa, MOREIRA, Maria Céu, Dinâmicas da Escrita – Da Prática à
Avaliação, Expressões – Português, 12.º ano, Porto Editora, 2012.
- https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/139828/ISSN2175-7054-2009-6972-
6983.pdf?sequence=1 [Consultado a 29-05-2019 - Adaptado]
- https://pt.scribd.com/document/28559166/PP-Estacao-OnLine-a-Ciberescrita-as-Imagens-e-a-
EAD-Cristiane-Nova-e-Lynn-Alves-27pg [Consultado a 29-05-2019 - Adaptado] 61

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