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Samuel
Finley
Breese
Morse
3
A telegrafia consiste em transmitir mensagens
codificadas a distância, através de um aparelho
específico, chamado telégrafo. Há sinais maiores e
sinais menores além de espaços em cada letra e o ritmo
é que dará a diferença entre as letras os números ou as
acentuações.
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Exemplo de um telegrama
Na noite anterior, antes de embarcar, enviara de Friedrichshafen um último
telegrama a Amparo, em Valmonte:
“EMBARCO ESTA MADRUGADA SOBREVOANDO LISBOA DIA 1 NASCER
DIA STOP INCRÍVEL PENSAR QUE VOU PASSAR TÃO PERTO DE TI E
TODOS STOP TELEGRAFO CHEGADA STOP PENSO EM VOCÊS E SEI QUE
FIZ BEM STOP BOA NOITE DIOGO STOP”
TAVARES, Miguel Sousa, 2007. Rio das Flores. Cruz Quebrada: Oficina do Livro (3.ª ed.)
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José Gomes Ferreira, nas suas Aventuras de João Sem
Medo, até criou uma personagem, o Chico Calado, que apesar de
não falar, entusiasma os ouvintes com a sua eloquência:
– Não tenhas receio – animou-o João Sem Medo. – Impinge-lhes os
elixires.
E o Chico Calado, mudo de nascença, assim fez. Executou os sábios
movimentos de braços e de mãos com que costumava elogiar a proficiência dos
tira-calos maravilhosos…
Que técnica de orador… – cochichavam todos, arrebatados.
– Diz com gestos o que as palavras calam.
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Quando chegou à apresentação do invento da escrita, Tot fez
ver ao rei que se tratava de uma invenção que tornaria o povo
egípcio mais sábio e que serviria de remédio (pharmakon) para a
memória e para a ciência. Mas Tamuz não concordou com a
explicação de Tot para as supostas vantagens do seu invento e
disse-lhe: «Como tu és o pai da escrita, por benevolência atribuis-lhe
efeitos contrários aos que ela tem. É que ela desenvolverá o
esquecimento nas almas daqueles que a tiverem adquirido, por
negligência da memória; fiando-se no escrito, e de fora, através de
caracteres estrangeiros, e não por dentro, graças a um esforço
pessoal, que passarão a recordar-se das suas lembranças. Portanto,
tu não encontraste um remédio para fortificar a memória, mas para
ajudar a recordar-se. Quanto à ciência, tu forneces apenas um
semblante de ciência aos teus alunos, e não a realidade. É que,
depois de terem aprendido muito nos livros sem terem recebido
ensinamento, terão ar de ser muito sábios, mas, na maioria dos
casos, serão desprovidos de juízo, insuportáveis por acréscimo,
porque terão a aparência de serem sábios sem o serem.» 23
Vemos assim que, para Platão, o discurso oral
é o discurso vivo, inseparável do seu autor ou do
seu pai, ao passo que os textos escritos, ao
autonomizarem-se da palavra viva, podem errar,
andar à deriva, oferecendo-se a quem os quiser ler,
independentemente da relação imediata e do diálogo
com o seu autor.
E porque, uma vez escrita, a palavra já não
depende do suporte da memória, que Platão a
considera como uma técnica do
esquecimento e não uma invenção destinada a
alimentar a memória. 24
Platão coloca ainda na boca de Sócrates uma
comparação da escrita com a pintura e com a escultura.
Tal como a pintura não mostra as coisas, mas
simulacros enganadores, assim também a escrita não
dá a ver o discurso vivo, mas uma representação morta
e enganadora da palavra.
Escrita e sedentarização
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A imprensa escrita
Durante milénios, a escrita foi uma atividade
manual de que se ocupavam os escribas e os copistas.
A beleza da caligrafia e a riqueza das iluminuras dos
manuscritos revelam-nos a maneira preciosa como esta
atividade foi sendo encarada.
A invenção da imprensa, no século XV, ao
transformar as técnicas da escrita, acompanhou a
irrupção de uma mudança profunda das mentalidades e
das representações do mundo. A essa mudança está
associada a emergência da modernidade ocidental.
Vejamos as principais alterações que se operaram com
o seu aparecimento, com especial enfoque para
Portugal. 28
Para o aparecimento e desenvolvimento da
imprensa contribuíram pelo menos quatro fatores
fundamentais: a invenção de processos técnicos de
reprodução da escrita, o alargamento da instrução
pública, o aparecimento do gosto e dos hábitos de
leitura e a generalização do interesse ou da curiosidade
pelo conhecimento do desenrolar dos acontecimentos
mais significativos.
SISTEMAS DE ESCRITA
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Logográfico Silábico Alfabético Pictograma Ideograma
Ieróglifos inscritos
Stela 5 Takalik no obelisco de
Abaj, Guatemala, Hatshepsut
escrita maia erigido no templo
de Karnak.
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A comunicação verbal
As pessoas comunicam de diversas formas ou tipos, mas a
comunicação verbal oral é a mais comum e refere-se à emissão
de palavras e sons que usamos para nos comunicar, tais como
dar instruções, entrevistar ou informar. A comunicação verbal
escrita refere-se ao registo das ocorrências linguísticas,
tornando-as perenes.
Comunicação verbal é toda a comunicação que utiliza
palavras ou signos. Através da comunicação verbal, simbólica e
abstrata, que se faz por palavras, palavras estas, faladas ou
escritas, o homem compreende e domina o mundo que o rodeia e
entende, assim, os outros.
Os sinais escritos substituem os signos vocais expressos
nas palavras, a escrita é a representação dos sons articulados na
fala, em forma de sinais gráficos, uma transformação da língua
natural num código. 33
Através da comunicação verbal oral, os indivíduos de um
mesmo grupo linguístico criam diversas representações do
mundo, interagem, comunicam, trocam experiências e procuram
soluções para os seus problemas.
O contexto verbal é também imprescindível para
compreendermos um determinado ato de comunicação verbal.
Por exemplo, no excerto a seguir, só compreendemos bem o que
é dito se tivermos em conta informações anteriormente inseridas
no texto:
– Não ponhas, Já bebi. Casaram, pois claro, ele quis sempre casar-se
com ela. Foram para a província. Mas naquele dia, veio a casa almoçar, que
ele nem sempre vinha, foi quando deu a notícia. E o pai, vê lá, pô-la fora de
casa.
– Sim, senhora, há homens assim, ele há-os! Por isso eu te dizia há
bocado, o mundo é bonito, há homem que se sacrifica pelo outro.
Olga Gonçalves, Ora Esgardae
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É evidente que comunicar através da escrita ou através do
oral acarreta diferenças importantes. Desde logo, por exemplo,
porque:
no meio oral, não se pode voltar atrás e «apagar» o que foi
dito embora, posteriormente, se possam introduzir precisões ou
alterações; no meio escrito, pelo contrário, há a possibilidade
de refazer um registo anterior;
à medida que falamos, vamos alterando a situação em que
são produzidas as palavras, logo, o relacionamento entre
interlocutores:
– Bom dia. Sou um veado e procuro trabalho. Não têm nada para
mim?
– Primeiro é preciso ver o que é que tu sabes fazer - responderam os
pais.
– Sei correr, trotar e andar a passo. Sou bastante forte, apesar de ter
as pernas franzinas. Posso carregar fardos pesados. […] 35
– Tudo isso muito bem - concordaram os pais, - mas quais são as tuas
pretensões?
– Alojamento, comida e, evidentemente, descanso semanal ao
domingo.
– Os pais ergueram os braços ao céu. Não queriam ouvir falar em
dia de repouso.
– É pegar ou largar - disse o veado. - Reparem que eu sou muito
sóbrio e que a minha alimentação não vos sairá cara.
Estas últimas palavras acabaram por decidir os pais e ficou
combinado que o aceitariam à experiência por um mês.
Marcel Aymé, «O Veado e o Cão», in Contos do Gato no Poleiro
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Os enunciados orais apresentam marcas distintivas dos
escritos, como podemos observar nos exemplos que se seguem:
– Tamos a fazer um trabalho prà iscola e podias colaborar, tá?
– Colaborar? Hum… Qué que queres que faça?
– Podias imprestar a tua câmra…
– Pra quê? Pra dares cabo dela?
– Pra quê? Ã… ã… Inda não sei bem… Talvez… O João tev’a ideia e nós… Talvez
pra filmar algumas coisas… à… alguns monumentos da cidade… Percebes?... Mas
prometo… nã ta’strago! É só prum dia.
– Prum dia, nã é? Sei lá… mas… tá bem! Depois vê-s’isso milhor…
– Fixe, pá! Chau! Agora vou-m’imbora. Vou prá aula.
Transcrição da gravação de um diálogo entre dois amigos, com manutenção das marcas de oralidade
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[Leitura de imagem - pintura]
Análise da imagem;
Referência a cinco palavras-chave que se
lhe possam associar (a usar no texto);
Elaboração de texto expressivo…
… com utilização obrigatória de conectores de:
. concessão;
. condição / hipótese;
. dúvida;
. oposição / contraste.
Planificação
Textualização
Salvador Dalí, Rosa Meditativa, 1958 Revisão / avaliação
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PLANIFICAÇÃO
Cinco palavras-chave: suspensa; céu limpo; campo verde; orvalho e manhã.
. o que é que é pedido?
- Texto expressivo: opiniões pessoais (marcas de 1ª pessoa); estrutura
conjunta, onde se devem evidenciar os sentimentos provocados pela
imagem.
… com utilização:
… dos nomes e adjectivos
confusão; ferocidade; sangue;
violência; Sol; poder; esplêndida;
grande; insustentável; único; redonda.
Planificação
Textualização
Adolph Gottlieb, Explosão /, 1957 Revisão / avaliação
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[Banda desenhada]
WATTERSON, Bill, 2006. O Indispensável de Calvin & Hobbes. Lisboa: Gradiva (3.ª ed.) (adaptado)
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Leitura da banda desenhada;
Análise da problemática abordada;
Elaboração de um texto de opinião…
… com utilização obrigatória de conectores de:
. alternativa;
. certeza;
. comparação;
. consequência;
. dúvida.
… com utilização obrigatória das expressões sublinhadas.
Planificação
Textualização
Revisão / avaliação
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CIBERESCRITA
O século XX foi o século do cinema e da TV, mas foi
também o momento de gestação de outras transformações
tecnológicas, mais relevantes ainda para o domínio das
tecnologias imagéticas e para as formas de organização da
sociedade como um todo. Falamos do desenvolvimento da
Informática. Realidades cada vez mais complexas passaram a
ser traduzidas, calculadas, modeladas a partir de combinações
binárias.
A esse processo, ainda em curso, chamamos Revolução
Digital. Inicialmente aplicada a projetos militares e científicos, a
digitalização alcançou hoje praticamente toda a sociedade, nos
mais diversos setores de atuação, incluindo as ferramentas
(simples e complexas), os serviços, a produção e a circulação de
bens materiais simbólicos, etc. É uma realidade social que se
tornou evidente nos últimos anos e que não mais pode ser
negada (Schaff, Chesneaux, Casttels, Lèvy, Turkle). 48
Santaella refere-se a esse processo da seguinte forma:
Propiciada, entre outros fatores, pelos media digitais, a
revolução tecnológica que estamos atravessando é psíquica, cultural
e socialmente muito mais profunda do que foi a invenção do alfabeto,
do que foi a explosão da cultura de massas, com os seus meios
técnicos mecânicos-eletrónicos de produção e transmissão de
mensagens. Muitos especialistas em cibercultura não têm cessado de
alertar para o facto de que a revolução teleinformática, também
chamada de revolução digital, é tão vasta a ponto de atingir
proporções antropológicas importantes, chegando a compará-la com
a revolução neolítica. Para se ter uma ideia das consequências
trazidas por essa revolução, basta dizer que a nova ordem
económica, social e cultural mundializada não seria possível sem ela.
Na base dessa revolução está o processo digital. Via digitalização,
quaisquer fontes de informação podem ser homogeneizadas em
cadeias sequenciais de 0 e 1. (Santaella, 2001:389)
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Pouco a pouco, os computadores, inicialmente compostos
de pesados hardwares e de enormes compilações de códigos
numéricos e escritos, foram adquirindo uma interface gráfica e
imagética.
Nos anos 70 do século passado, iniciam-se pesquisas nas
áreas da computação gráfica e das simulações visuais que se
desenvolveriam rapidamente nos anos seguintes. A natureza
binária da linguagem computacional mostra-se como uma
matéria-prima muito mais manipulável do que os fotogramas ou
mesmo as impressões elétricas do vídeo.
Santaella identifica aqui o terceiro paradigma, o digital,
que se relaciona com as imagens produzidas pelos
computadores, denominadas de sintéticas ou infográficas, que se
constituem na reunião de pixels que podem ser visualizados
numa tela de vídeo ou numa impressora. Este terceiro modelo
produz imagens “a partir de três suportes fundamentais: uma
linguagem informática, um computador e algum tipo de interface. 50
Embora a manifestação sensível da imagem na tela do
computador seja uma questão de eletricidade, a sua criação
depende basicamente de algoritmos matemáticos (Santaella,
1999:159).
Os dispositivos de base dessas linguagens (combinações
de 0 e 1) propiciam às tecnologias digitais um poder muito mais
elevado de maleabilidade, flexibilidade, rapidez de transporte
e alta capacidade de armazenamento. Isso facilita e amplia o
poder da captação, modelagem, transformação, armazenamento
e difusão de imagens estáticas e em movimento.
Além disso, temos, pela primeira vez na história, a
possibilidade de integrar, com facilidade, rapidez e criatividade,
todos os tipos de media (incluindo aqueles originalmente não-
digitais) num único suporte. Ao permitir a fusão, mesclagem e
interconexão (não apenas como soma) de diversos tipos de
media, as novas tecnologias abrem possibilidades para a criação
de novas linguagens e novos signos comunicacionais. 51
Estes poderiam integrar linguagens já existentes a formas
inéditas de comunicação e pensamento, como já presenciado
noutros dispositivos ao longo da história. Esse processo poderia
criar fendas e espaços para que brotassem signos “que seriam ao
mesmo tempo suporte e prolongamento do imaginário”, estruturar
reflexões e posicionamentos críticos e levar a transformações
ainda mais significativas no processo de construção e difusão do
saber.
As telas passam, assim, a não mais serem apenas
interfaces privilegiadas das imagens, nem, por sua vez, da escrita
(tal como ocorreu com a página impressa), mas de novas
linguagens que estão sendo geradas a partir dessa nova lógica
estabelecida. Estamos diante do surgimento de uma nova
escrita. Uma escrita que incorpora e transforma as
características da linguagem alfabética, das linguagens
imagéticas clássicas (da pintura à televisão), dos meios sonoros e
da comunicação corporal. Uma escrita que tem como base a
hibridização das tecnologias e a convergência dos media. 52
Chamamos essa nova linguagem Ciberescrita. O conceito
de escrita é aqui retomado de maneira ampla, enquanto forma de
representação e organização de ideias através de signos. Forma
essa que é pensada através de uma lógica, mesmo que esta não
seja a da escrita alfabética.
À escrita agrupa-se a perspetiva de uma cibercultura,
entendida como o “conjunto de técnicas (materiais e intelectuais),
de práticas, de atividades, de modos de pensamento e de valores
que se desenvolvem juntamente com o crescimento do
ciberespaço” (Lèvy, 1999:17). Ou seja, trata-se dos modos de
agenciamentos de ideias organizadas a partir dos dispositivos
digitais e em rede.