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Contabilidade gerencial como

instrumento da administração

Apresentação
O cenário globalizado e de alta competitividade acentua a necessidade de reunir profissionais cada
vez mais preparados para os desafios empresariais nas áreas da administração. O profissional da
contabilidade está inserido nesse contexto. Este, entre diversas características, deve ser detentor
de uma visão ampla e sistêmica do negócio, observando os impactos causados por elementos,
como os custos no processo decisório nas organizações.

Cabe ressaltar a grande importância desse profissional na gestão de custos para as organizações,
pois por meio de um controle adequado de gastos, os gestores podem ser mais ágeis no processo
decisório, minimizando, assim, as ameaças do competitivo mundo empresarial.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você estudará o objetivo e as principais atividades da gestão de


custos na contabilidade gerencial, no sentido de minimizar a possibilidade de riscos e incertezas
com a elaboração de cenários. Além disso, verá as funções desempenhadas pelo profissional em
contabilidade e as principais habilidades para esse exercício.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Descrever as funções desempenhadas e respectivas habilidades requeridas do profissional de


contabilidade.
• Identificar o papel da gestão de custos na contabilidade gerencial.
• Avaliar riscos e incertezas a partir da simulação de cenários.
Desafio
A compreensão e a análise de cenários é indispensável para manter a saúde financeira de uma
empresa. Assim, é necessário estar atento aos riscos e às incertezas do negócio para tomar as
melhores decisões.

Imagine que você é um profissional da área de contabilidade de uma empresa de médio porte.

Para estar preparado para as imprevisibilidades do mercado, você deve:

a) calcular o ponto de equilíbrio para cada um desses cenários.

b) antecipar a situação e indicar possíveis ações para um cenário pessimista.


Infográfico
A análise de cenários na contabilidade de custos voltados a decisões gerenciais permite que sejam
elaboradas distintas perspectivas, tendo em vista a compreensão de diferentes realidades de uma
organização, possibilitando, assim, que a partir do processo decisório possam ser antecipados
possíveis acontecimentos relacionados à saúde financeira de uma empresa.

Neste Infográfico, você vai ver diferentes possibilidades de cenários a partir do orçamento de uma
empresa.
Aponte a câmera para o
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conteúdo ou clique no
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Conteúdo do livro
O profissional da área de contabilidade tem uma série de responsabilidades e atividades. Tendo em
vista a possibilidade de desempenhar essas atividades da melhor forma possível, é necessário que
este desenvolva as habilidades e competências requeridas para seu melhor desempenho. Em
relação às atividades e às tarefas desempenhadas por profissionais da contabilidade está a gestão
de custos, objetivando fornecer informação que irão subsidiar o processo decisório nas empresas,
avaliando os principais riscos inerentes à tomada de decisão.

No Capítulo Contabilidade gerencial como instrumento da administração, base teórica desta


Unidade de Aprendizagem, você vai estudar o objetivo e as principais atividades da gestão de
custos na contabilidade gerencial, no sentido de minimizar a possibilidade de riscos e incertezas
com a elaboração de cenários. Além disso, vai ver as funções desempenhadas pelo profissional em
contabilidade e as principais habilidades para esse exercício.

Boa leitura.
CONTABILIDADE
GERENCIAL
Contabilidade
gerencial como
instrumento da
administração
Ricardo da Silva e Silva

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Descrever as funções desempenhadas e respectivas habilidades requeridas


do profissional de contabilidade.
>> Identificar o papel da gestão de custos na contabilidade gerencial.
>> Avaliar riscos e incertezas a partir da simulação de cenários.

Introdução
Os profissionais da área da contabilidade devem reunir uma série de habilidades,
visando à realização de suas atividades da melhor forma possível. Entre o rol de
atividades realizadas pelo profissional da área contábil estão aquelas relacionadas
ao gerenciamento de custos para subsidiar gestores no processo decisório das
organizações, fazendo com que a tomada de decisão seja mais assertiva.
Neste capítulo, você vai estudar o objetivo e as principais atividades da gestão
de custos na contabilidade gerencial, no sentido de minimizar a possibilidade de
riscos e incertezas com a elaboração de cenários. O capítulo destaca também
as funções desempenhadas pelo profissional em contabilidade e as principais
habilidades para esse exercício.
2 Contabilidade gerencial como instrumento da administração

Perfil e atividades do profissional


de contabilidade
Toda a área de atuação profissional exige uma série de competências e ha-
bilidades para seu exercício. Na área da contabilidade não é diferente, pois
o profissional contábil precisa organizar uma série de rotinas, muitas rela-
cionadas à elaboração e à análise de relatórios financeiros, ao controle de
impostos e ao gerenciamento de custos.
No decorrer dos anos, a área da contabilidade passou por diversos avanços
relacionados à globalização, que acarretou extrema competitividade. Deixou
de ser uma área apenas de registros de informações financeiras para fornecer
informações e análises que auxiliam a tomada de decisão, além de tornar
empresas mais competitivas por meio de diversas atividades, inclusive o
controle de custos.
Para acompanhar as alterações dos últimos anos, o profissional na área
da contabilidade também passou por várias transformações. Ott et al. (2011)
afirmam que as atuais demandas da sociedade e do mercado requerem um
profissional mais preparado para os novos desafios das organizações.

Habilidades e competências do profissional


de contabilidade
As habilidades e competências necessárias ao profissional contábil são de-
finidas pelas empresas contratantes e pelos cursos técnicos e de graduação
da área da contabilidade. As competências são compostas por uma série
de habilidades. As habilidades, por sua vez, representam as características
necessárias para que o profissional de uma área possa exercer as ativida-
des de sua área de atuação. Perrenoud (1999) afirma que a habilidade pode
ser definida como uma sequência de operações que permite ao indivíduo a
utilização de seus conhecimentos para resolver problemas. O mesmo autor
define competência como “[…] uma capacidade de agir eficazmente em um
determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se
a eles” (PERRENOUD, 1999, p. 7).
O Quadro 1 aponta as competências e habilidades necessárias ao profissio-
nal de contabilidade, indicando de que forma contribuem para a constituição
desse profissional.
Contabilidade gerencial como instrumento da administração 3

Quadro 1. Habilidade e competências do profissional contábil

Habilidades e
competências Contribuição para a área de atuação

Intelectuais Solução de problemas e apoio ao processo decisório.


Julgamento de situações complexas e cotidianas.

Técnicas e Realização das atividades gerais da contabilidade,


funcionais domínio da matemática, da estatística e das novas
tecnologias.

Pessoais Atitudes e comportamentos que permitem o


aperfeiçoamento contínuo do profissional da área, além
de uma conduta ética.

Interpessoais e Adequada interação com outras áreas e departamentos,


de comunicação assim como o trabalho em equipe.

Organizacionais e Visão sistêmica e capacidade de pensamento e


de gerenciamento planejamento estratégico, além da capacidade de
gerenciar projetos.

Fonte: Adaptado de IAESB (2014).

O desenvolvimento das habilidades e competências ressaltadas no Quadro


1 é indispensável e, para que seja possível, é necessário, além da experiência
profissional, a educação formal e continuada com a realização de cursos que
possibilitem a ampliação de tais competências e habilidades.

Atividades do profissional de contabilidade


A área da contabilidade possui diversas ramificações, cada uma delas cum-
prindo importante papel para uma empresa, conforme a seguir.

„„ Contabilidade financeira: responsável pela geração de informações


e relatórios que irão subsidiar o público externo das empresas de
informações relativas à sua situação financeira. Crepaldi (2012) a define
como a área que atende autoridades com documentos legalmente
exigidos por normas contábeis.
„„ Contabilidade gerencial: dá suporte ao processo decisório com a análise
de indicadores que indicam a saúde financeira da empresa. Para Atkin-
son et al. (2011, p. 36), “[…] é o processo de identificar, mensurar, relatar
e analisar informações sobre os eventos econômicos das organizações”.
4 Contabilidade gerencial como instrumento da administração

„„ Contabilidade de custos: gerencia os custos em uma empresa. Para


Santos (2018), a contabilidade de custos fornece informação tanto para
a contabilidade financeira quanto para a contabilidade gerencial, além
de mensurar e avaliar custos de acordo com as normas de contabilidade.

Com base nessas ramificações, da contabilidade e o escopo de cada


uma delas, a Resolução nº. 560, do Conselho Federal de Contabilidade (CFC),
no capítulo I, indica o rol de áreas de atuação do profissional da área da
contabilidade:

O contabilista pode exercer as suas atividades na condição de profissional liberal


ou autônomo, de empregado regido pela CLT, de servidor público, de militar, de
sócio de qualquer tipo de sociedade, de diretor ou de conselheiro de quaisquer
entidades, ou, em qualquer outra situação jurídica definida pela legislação, exer-
cendo qualquer tipo de função. Essas funções poderão ser as de analista, assessor,
assistente, auditor, interno e externo, conselheiro, consultor, controlador de arre-
cadação, controller, educador, escritor ou articulista técnico, escriturador contábil
ou fiscal, executor subordinado, fiscal de tributos, legislador, organizador, perito,
pesquisador, planejador, professor ou conferencista, redator, revisor (CFC, 1983,
documento on-line).

Dependendo da área de atuação, o profissional em contabilidade pode


realizar cálculos, controle de custos, despesas e receitas da empresa com o
acompanhamento de fluxo de capitais, realizar análises da saúde financeira de
uma empresa, cuidar de questões patrimoniais e tributárias, gerar relatórios
para controle de custos e orçamentos, além de auditar aspectos financeiros
de uma organização.

Gestão de custos na contabilidade gerencial


Entre as diversas responsabilidades e atividades de um profissional de con-
tabilidade, destaca-se o gerenciamento de custos, que visa classificar e
organizar os gastos de uma empresa. Essa organização permite a definição de
informações como o preço de venda de produtos e serviços e de indicadores
contábeis, como o ponto de equilíbrio. Para Martins (2010), a contabilidade
de custos fornece informações para o nível gerencial de uma organização,
auxiliando no planejamento, controle e tomada de decisão.
Contabilidade gerencial como instrumento da administração 5

Classificação de gastos de uma empresa


A gestão de custos permite tipificar todos os gastos de uma empresa, sendo
possível reduzir riscos financeiros e gastos desnecessários e tornar as organi-
zações mais competitivas. É necessário, para isso, classificar detalhadamente
todos os gastos. Essa organização permite definir se uma empresa gasta muito
com mão de obra ou matéria-prima, impostos, publicidade e propaganda.
Isso permite, também, tomar uma série de decisões estratégicas.
Os gastos de uma organização podem ser classificados em custos e
despesas, divididos, em seguida, em despesas e custos fixos ou variáveis,
conforme a Figura 1.

Figura 1. Classificação dos gastos empresariais.


Fonte: Adaptada de Martins (2010).
6 Contabilidade gerencial como instrumento da administração

A classificação destacada na Figura 2 apresenta a tipificação de gastos


em custos e despesas. Os custos são aqueles que possuem relação com o
processo produtivo. Já as despesas possuem relação com as atividades de
vendas, ou seja, a geração de receitas. Martins (2010) distingue os tipos de
custos e despesas conforme a seguir.

„„ Custos variáveis: associados à produção — quanto maior o volume


produzido, maior a quantidade de insumos e, consequentemente,
maiores os custos variáveis.
„„ Custos fixos: ocorrem independentemente da produção.
„„ Despesas fixas: ocorrem independentemente dos índices de comer-
cialização da empresa.
„„ Despesas variáveis: variam conforme o volume de vendas — se aumen-
tam as vendas, consequentemente aumentam as despesas variáveis.

Como já destacado, a classificação dos gastos de uma empresa permite


definir o preço de venda, o ponto de equilíbrio e a possibilidade de redução
ou ampliação dos investimentos em demais áreas. O controle de custo é tão
importante que a lucratividade de uma empresa está diretamente relacionada
ao adequado planejamento e à organização de seus custos.

Métodos de custeio
Para que seja possível gerenciar gastos, são utilizados métodos de separação
e organização dos custos e despesas de uma empresa, denominados métodos
de custeio. Com eles, é possível compreender o percentual do custo de cada
produto ou serviço e realizar uma leitura dos produtos que geram maiores
ou menores custos, além de determinar mais adequadamente preços, avaliar
os estoques e definir os custos unitários para a produção da unidade de
um produto. Martins e Rocha (2010) afirmam que o método de custeio visa
aprimorar ou reduzir atividades que não geram valor ao produto, bem como
analisar quais custos devem ser computados na mensuração dos custos de
produção individual.
Há diversos métodos de custeio, com características distintas que visam
à adequação na organização e no controle de custos, conforme o Quadro 2.
Contabilidade gerencial como instrumento da administração 7

Quadro 2. Métodos de custeio

Método Característica Conceito

Por Torna possível que cada Consiste na observância de todos


absorção produto fabricado por uma os custos envolvidos na produção
empresa absorva uma fatia de um bem. Todos esses custos
dos custos produzidos. são divididos nos custos dos
São considerados todos os produtos.
custos.

Variável São considerados apenas Consiste na ideia de que os custos


os custos de fabricação, e as despesas inventariáveis
ou seja, os custos variáveis (debitados aos produtos em
na composição dos custos processamento e acabados) são
do produto. Os custos apenas aqueles diretamente
fixos e as despesas são identificados com a atividade
considerados apenas produtiva.
no resultado final das
operações da empresa.

ABC Há separação dos custos Combina pessoas, tecnologias,


por atividades de produção materiais, métodos e seu
de cada produto de uma ambiente para produzir produtos,
empresa. projetos, serviços e ações de
suporte a esses processos.

UEP Separa apenas os Baseia-se no foco nas atividades


custos associados à produtivas diretas da empresa
transformação de um (todas as atividades diretamente
produto, visando à melhoria envolvidas na fabricação
do processo produtivo dos produtos). Os esforços
e desconsiderando das atividades auxiliares são
aqueles relacionados à repassados às atividades
matéria-prima. Devem ser produtivas e, daí, aos produtos.
analisados separadamente. Assim, a fábrica é dividida
em postos operativos, que se
caracterizam por se envolverem
diretamente com os produtos.

Fonte: Adaptado de Nakagawa (2001), Bornia (2010), Leone (1997) e Martins (2010).

Martins e Rocha (2010, p. 166) explicam que:

[…] nenhum método de custeio atende a todas as necessidades informativas dos


gestores, dada a complexidade do processo de administração das organizações;
nenhuma informação de custos, qualquer que seja o método de custeio, substitui o
julgamento e o bom senso das pessoas que analisam e das que decidem. o melhor
será aquele que melhor ajude a resolver o problema que se apresente em determi-
nada situação, induzindo os gestores a tomar decisões adequadas em cada caso.
8 Contabilidade gerencial como instrumento da administração

Cada organização tem suas particularidades e deve, portanto, observar a


melhor forma de gerenciar seus custos com algum dos métodos de custeio.

Riscos e incertezas com a simulação


de cenários
O gerenciamento de custos é indispensável, pois, a partir dos custos, pode ser
definido o êxito de uma empresa em relação às suas finanças. Uma empresa
que tem dificuldade em controlar adequadamente seus custos pode não
obter lucratividade e, dessa forma, não poderá honrar com suas obrigações.
Empresas que controlam adequadamente seus gastos tendem a estar mais
preparadas para os desafios do mercado e, principalmente, conseguem traçar
estratégias para lidar com os impactos, riscos e incertezas.

Riscos e incertezas financeiras


O risco empresarial é decorrente das várias situações enfrentadas por um
negócio, que podem gerar lucro ou prejuízo, e estão fora do controle da gestão.
Já a incerteza é fruto do desconhecimento de todas as informações necessárias
para o processo decisório. Andrade (2009) afirma que o risco representa a
estimativa da incerteza, através das projeções de estados futuros.
O empreendedor deve compreender os riscos, formulando estratégias
de negócio, analisando as possíveis consequências positivas ou negativas
para o negócio.

Na gestão de riscos negativos, uma organização analisa suas fontes de risco de


forma a identificar os eventos (ameaças) com consequências negativas (perdas)
sobre os resultados da organização. Em oposição, na gestão de riscos positivos,
as mesmas fontes de risco deverão ser analisadas. Mas dessa vez, o foco deverá
ser a busca de eventos (oportunidades) com consequências positivas (ganhos)
que levem a organização a alcançar resultados superiores aos obtidos atualmente
(MACIEIRA, 2008, p. 5).

Uma série de riscos pode influenciar diretamente nos gastos de uma orga-
nização, como aumento dos salários ou encargos sobre a mão de obra, perdas
nos estoques ou variações nos valores de matéria-prima, além dos custos de
depreciação de equipamentos, taxas de juros, entre outros. O empreendedor
deve estar atento aos diferentes cenários, que podem influenciar no preço
de venda e, consequentemente, no ponto de equilíbrio. Para compreender
como elaborar cenários para avaliar riscos e incertezas do mercado e suas
Contabilidade gerencial como instrumento da administração 9

relações com a gestão de custos, é necessário entender como são formados o


preço de venda e os diferentes tipos de ponto de equilíbrio de uma empresa.

Formação do preço de venda


O gerenciamento de custos influencia a formação do preço de venda. Imagine
o processo de fabricação de um produto: quanto maiores os custos envolvidos
na fabricação ou na aquisição desse produto, maior será o preço de venda.
Santos (2018) apresenta os elementos que formam o preço de venda, os
custos e despesas, fatores determinantes no preço oferecido ao consumidor.

„„ Custos e despesas variáveis: matéria-prima, comissão de venda e


outras variáveis.
„„ Impostos sobre as vendas: IPI, ICMS, PIS e COFINS.
„„ Custos e despesas fixas: salários gerais, encargos sociais, depreciação,
pró-labore e manutenção em geral.
„„ Lucro: remuneração do capital.

Além dos custos envolvidos, outros elementos devem considerados no


momento de definir o preço de venda, como motivos, objetivos, estruturas de
mercado e foco na determinação dos preços (PADOVEZE, 2006). A construção
do preço de venda é um elemento estratégico nas organizações, pois, além
de necessitar cobrir os gastos da empresa, apresenta a margem de lucro
definida pelos empreendedores. A margem de lucro, por sua vez, é “[…] a
diferença entre o preço de venda e o custo por unidade” (CREPALDI, 2012, p.
326) e representa a capacidade de uma organização em ser lucrativa.
Na formação do preço de venda, deve ser considerado o método de custeio
utilizado pela empresa, de modo a definir quais gastos impactam no preço
oferecido para o consumidor. Uma das técnicas mais utilizadas na formação do
preço de venda é o markup, que agrega ao valor do preço de venda as despesas
fixas e variáveis, além da margem de lucro presumida pelo empreendedor.
Crepaldi (2012, p. 325) define o markup como o “[…] valor acrescentado ao
custo de um produto para determinar o preço de venda final”. O cálculo do
markup gera um índice, que torna possível descobrir o preço ideal, cobrindo
despesas e alcançando a margem de lucro presumida.
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Ponto de equilíbrio
Com o ponto de equilíbrio, é possível definir a quantidade de vendas necessária
para cobrir todos os gastos de uma empresa. O ponto de equilíbrio identifica
a partir de que momento a empresa passa a ter lucro, considerando as vendas
realizadas. Martins (2010) salienta que o ponto de equilíbrio representa a
capacidade mínima necessária de operação de uma empresa para que não
tenha prejuízo.
O ponto de equilíbrio é um importante indicador do risco de operações de
um negócio, envolvendo os custos de produção e considerando a demanda
pelo produto. Esse importante indicador pode ser compreendido por três
distintas perspectivas: financeira, econômica e contábil. O Quadro 3 apresenta
a conceituação dessas três perspectivas do ponto de equilíbrio, a fórmula
para encontrá-los e o índice resultante.

Quadro 3. Tipos de ponto de equilíbrio

Perspectiva Conceito Fórmula

Contábil A receita total


iguala-se aos custos
e despesas totais,
não havendo,
contabilmente, nem
lucro nem prejuízo.

Financeira Informa o quanto


(PEF) a empresa terá de
vender para não
ficar sem dinheiro
para cobrir suas
necessidades de
desembolso.

Econômica Diferencia-se
do contábil por
considerar que,
além de suportar os
custos e despesas
fixos, a margem de
contribuição deve
cobrir o custo de
oportunidade do
capital investido na
empresa.

Fonte: Adaptado de Ribeiro (2015), Bornia (2010) e Megliorini (2012).


Contabilidade gerencial como instrumento da administração 11

O ponto de equilíbrio e o preço de venda indicam a viabilidade financeira


de um negócio, sendo indispensáveis na avaliação de riscos de mercado.

Simulação de cenários
Os riscos em uma empresa podem ser relacionados a aspectos internos, como
gerenciamento e organização, mas, em geral, estão relacionados a fatores
externos, não controlados pela vontade dos empreendedores. É de extrema
importância acompanhar tais fatores visando antecipar situações que possam
pôr em risco a saúde financeira de uma organização.
Como vimos, para uma adequada avaliação de riscos e redução de incer-
tezas, é indispensável o controle de custos. O processo orçamentário é uma
ferramenta de grande valia para esse controle, já que permite maior margem
de lucro e, consequentemente, de lucratividade. Com o orçamento dos custos,
é possível descobrir a margem de contribuição, definir o preço de venda e
o ponto de equilíbrio. Lunkes (2007) define o orçamento como a expressão
quantitativa dos planos e estratégias de uma empresa, contingenciando,
organizando e controlando os gastos.
Para Schwartz (2003, p. 15), projetar cenários é “[…] uma ferramenta para nos
ajudar a adotar uma visão de longo prazo num mundo de grande incerteza”.
Marcial e Grumbach (2002, p. 35) afirmam que “[…] os estudos de cenários
prospectivos são uma das ferramentas mais adequadas para a definição de
estratégias em ambientes turbulentos”. Portanto, visando a uma análise deta-
lhada das variações, riscos e incertezas de um negócio, a projeção e a análise
de cenários é uma ferramenta de grande importância para a organização
empresarial. Permite compreender e analisar os contextos interno e externo
das organizações, projetando alternativas para uso dos recursos financeiros.
É possível que os profissionais de uma organização projetem uma grande
quantidade de cenários, analisando diferentes perspectivas envolvendo
custos, despesas e demanda de consumo, visto que, para que seja atingido o
ponto de equilíbrio, é necessária a comercialização de uma série de unidades
de um bem de consumo. Uma das metodologias para a criação de cenários
é o método Delphi, que permite mensurar a opinião de especialistas de uma
área para projetar diferentes realidades. Conforme Marcial e Grumbach (2002),
o método consiste em consultar uma série de especialistas, projetando
eventos futuros com base em suas respostas, para, a partir disso, definir se
tais eventos são favoráveis ou não para a empresa.
12 Contabilidade gerencial como instrumento da administração

Em seguida, são propostos cenários otimistas, realistas e pessimistas. O


cenário otimista contempla eventos favoráveis à empresa, com redução de
gastos e/ou alta previsibilidade de demanda. O cenário realista é aquele com
maiores probabilidades de ocorrência. Já o cenário pessimista indica eventos
desfavoráveis a uma organização. Nesse caso, pode haver uma elevação
de custos, impactando na formação do preço de venda ou dificuldade na
comercialização de produtos, dificultando o alcance do ponto de equilíbrio.
O Quadro 4 apresenta a prospecção de diferentes cenários, analisando o
impacto nos custos, despesas e faturamento da empresa em decorrência
das variações ambientais de um negócio.

Quadro 4. Prospecção de cenários

Controle do fluxo de Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3


capitais em uma empresa (Realista) (Pessimista) (Otimista)

Saídas Custos fixos R$ 20.000,00 R$ 35.000,00 R$ 15.000,00


e variáveis

Despesas R$ 8.00,00 R$ 8.000,00 R$ 6.000,00


fixas e
variáveis

Entradas Faturamento R$ 60.000,00 R$ 40.000,00 R$ 55.000,00

SALDO R$ 32.000,00 (R$ 3.000,00) R$ 34.000,00

Como vimos, as habilidades e competências do profissional da área de con-


tabilidade devem estar alinhadas às necessidades das organizações, princi-
palmente em relação ao gerenciamento de custos, possibilitando que esse
controle e essa organização possam subsidiar empreendedores no processo
decisório e minimizar os riscos de um negócio.

Referências
ANDRADE, E. L. de. Introdução à pesquisa operacional: métodos e modelos para análise
de decisões. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2009.
ATKINSON, A. A. et al. Contabilidade gerencial. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
BORNIA, A. C. Análise gerencial de custos: aplicação em empresas modernas. 3. ed.
São Paulo: Atlas, 2010.
CFC. Resolução CFC nº. 560/83. Dispõe sobre as prerrogativas profissionais de que trata
o artigo 25 do Decreto-lei nº 9.295, de 27 de maio de 1946. Rio de Janeiro: CFC, 1983.
Contabilidade gerencial como instrumento da administração 13

Disponível em: https://www.crcam.org.br/docs/RESOLU%c3%87%c3%83O-CFC-N560.


pdf. Acesso em: 13 dez. 2020.
CREPALDI, S. A. Contabilidade gerencial: teoria e prática. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
IAESB. International Education Standard (IES) 3: initial professional development: pro-
fessional skills (revised). New York: IAESB, 2014. Disponível em: https://www.ifac.org/
system/files/publications/files/IAESB-IES-3-(Revised)_0.pdf. Acesso em: 6 nov. 2020.
LEONE, G. S. G. Curso de contabilidade de custos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1997.
LUNKES, R. J. Manual de orçamento. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
MACIEIRA, A. Gestão baseada em riscos: reinventando o papel da gestão de riscos
integrada ao negócio. Rio de Janeiro: Elo Group, 2008.
MARCIAL, E. C.; GRUMBACH, R. J. dos S. Cenários prospectivos: como construir um futuro
melhor. Rio de Janeiro: FGV, 2002.
MARTINS, E. Contabilidade de custos. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
MARTINS, E.; ROCHA, W. Métodos de custeio comparados: custos e margens analisados
sob diferentes perspectivas. São Paulo: Atlas, 2010.
MEGLIORINI, E. Custos: análise e gestão. 3. ed. São Paulo: Pearson, 2012.
NAKAGAWA, M. ABC: custeio baseado em atividades. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2001.
OTT, E. et al. Relevância dos conhecimentos, habilidades e métodos instrucionais
na perspectiva de estudantes e profissionais da área contábil: estudo comparativo
internacional. Revista Contabilidade e Finanças, v. 22, n. 57, 2011. Disponível em: http://
www.revistas.usp.br/rcf/article/view/34343/37075. Acesso em: 22 dez. 2020.
PADOVEZE, C. L. Curso básico gerencial de custos. 2. ed. São Paulo: Thomson, 2006.
PERRENOUD, P. Construir competências desde a escola. Porto Alegre: Artmed, 1999.
RIBEIRO, O. M. Contabilidade de custos. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
SANTOS, M. A. dos. Contabilidade de custos. Salvador: UFBA, 2018. E-book. Disponível
em: https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/30859/1/eBook%20Contabilidade%20
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SCHWARTZ, P. Cenários: as surpresas inevitáveis. Rio de Janeiro: Campus, 2003.

Leitura recomendada
SANTOS, J. J. dos. Fundamentos de custos para formação do preço e do lucro. 5. ed.
São Paulo: Atlas, 2005.

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Dica do professor
A gestão e o controle de custos influenciam diretamente na competitividade e saúde financeira das
organizações. Esse controle pode auxiliar na determinação de uma série de importantes decisões da
empresa, como as definições sobre o preço de venda.

Nesta Dica do Professor, você vai ver a influência da gestão de custos na formação do preço de
venda.

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Exercícios

1) A classificação e separação dos custos em uma empresa é fundamental para analisar quais
são os principais gastos de uma organização, dessa forma, é possível realizar um adequado
gerenciamento de custos e despesas.

Considerando a classificação dos tipos de custos, é correto afirmar que custos fixos são:

A) gastos que ocorrem independentemente do volume de produção.

B) gastos que não variam de acordo com o volume de produção.

C) gastos relacionados a impostos e taxas.

D) gastos que variam de acordo com o nível de lucro da empresa.

E) gastos que não variam de acordo com a lucratividade da empresa.

2) Um profissional da área de contabilidade reúne uma série de habilidades e competências


para que possa melhor exercer suas atividades e rotinas profissionais.

As habilidades e competências pessoais são aquelas que contribuem para:

A) solucionar problemas relativos ao processo decisório.

B) a adequada interação entre setores e o trabalho em equipe.

C) a postura ética e as atitudes de comportamento.

D) a visão sistêmica e a capacidade de gerenciamento.

E) o domínio da matemática para a realização de atividades técnicas.

3) Margem de contribuição é um indicador que sinaliza se a receita de uma empresa é


suficiente para obter lucro após o pagamento de todas as despesas e os custos fixos.

Em relação a esse índice, é correto afirmar que ele é:

A) o indicador que aponta com precisão se um produto pode gerar lucro ou não.
B) o indicador que apresenta quantos produtos precisam ser vendidos para cobrir os custos de
uma empresa.

C) o indicador que torna possível controlar todos os custos de uma empresa.

D) o indicador que aponta o valor mais adequado do preço de venda.

E) o indicador que considera a análise da concorrência para a definição do preço de venda.

4) Um produto foi adquirido por R$ 50,00. A porcentagem de despesas variáveis


correspondentes a esse produto é de 10%; as despesas fixas totalizam 15%. A margem de
lucro presumida é de 30%.

De acordo com essas informações e utilizando o markup como técnica para a formação do
preço de venda, defina qual o preço de venda desse produto.

A) R$ 31,50.

B) R$ 315,00.

C) R$ 40,00.

D) R$ 111,00.

E) R$ 11,10.

5) Segundo Martins (2010), os métodos de custeio permitem aprimorar ou reduzir atividades


que não geram valor ao produto, além de analisar que custos devem ser computados na
mensuração da produção. Um dos métodos de custeio mais utilizado é o ABC.

O que é correto afirmar em relação a esse método?

A) Não considera nenhum tipo de custo.

B) Considera todos os custos envolvidos na produção.

C) Considera apenas os custos de fabricação.

D) Separa os custos por atividades.

E) Considera apenas os custos relacionados à transformação de um produto.


Na prática
Para que seja possível a organização dos custos em uma empresa. é indispensável que sejam
utilizados métodos de separação de gastos, permitindo, assim, a gestão do custo unitário de um
produto, além de possibilitar a definição de preços, da análise de desempenho financeiro e demais
informações.

Neste Na Prática, você vai conhecer um estudo de caso sobre a importância da separação e da
classificação dos gastos.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

Análise do perfil do profissional contábil requerido pelas


empresas do Vale do Taquari/RS
A temática deste artigo é centrada nas definições do perfil do profissional de contabilidade,
requerido por empresas da região do vale do Taquari/RS. O estudo foi realizado a partir de análise
qualitativa e quantitativa, aplicada em mais de 100 gestores responsáveis por contratações na área.
Veja a seguir.

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A relevância da gestão dos custos como estratégia para


formação do preço de vendas: um estudo de caso em uma
indústria no ramo de laticínios de médio porte
O presente artigo apresenta os principais elementos que indicam a importância da gestão de custos
como ferramenta estratégica nas organizações. O estudo aborda a formação dos preços de venda
como fator diferencial e de competitividade. Confira.

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