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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA

Portal Educação

CURSO DE
NUTRIÇÃO CLÍNICA

Aluno:

EaD - Educação a Distância Portal Educação

AN02FREV001/REV 4.0

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CURSO DE
NUTRIÇÃO CLÍNICA

MÓDULO III

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
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mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são
dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

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MÓDULO III

17 A DIETA HOSPITALAR: MODELOS ALIMENTARES DE ROTINA

O valor da alimentação para a saúde e para a sua recuperação é


reconhecido desde a Antiguidade, que tinha na Dietética um dos ramos
fundamentais da Medicina, juntamente com a Cirurgia e a Farmacologia. Segundo
Jorge (2005), a dietética é o ramo da medicina que se ocupa do estudo da dieta,
sendo esta a ingestão habitual de alimentos ou aquela que se faz visando atender
às necessidades específicas de um indivíduo, incluindo ou excluindo determinados
alimentos e/ou preparações de sua alimentação.
O termo hospital origina-se do latim hospitalis, que significa ser hospitaleiro,
acolhedor. No início da era cristã a terminologia mais utilizada relacionava-se com o
grego nosocomium, que significa lugar dos doentes. A assistência a indivíduos
doentes sempre foi oferecida independente da existência de hospitais propriamente
ditos. Os hospitais iniciaram sua função terapêutica no final do século XVIII, quando
passou a ser aberto à visitação.
Antes era apenas uma instituição de assistência aos pobres e de exclusão
dos doentes, protegendo os demais habitantes do “perigo” que esses representavam
à sociedade. As pessoas que trabalhavam nos hospitais praticavam a caridade para
conseguir a própria salvação e as dietas dos indivíduos internados tinham as
características de uma alimentação familiar e caseira, sendo este serviço prestado
por religiosas (GODOY, LOPES, GARCIA, 2007).
A dieta hospitalar era preparada artesanalmente na cozinha, com fogão à
lenha ou a carvão. A maior parte dos alimentos era produzida na própria instituição
(possuíam hortas, pomares e até galinheiros) complementando-se as refeições com
a compra de cereais e carnes. As despesas dos hospitais com alimentos naturais
eram bem maiores que as despesas com medicamentos. Em certas instituições as
cozinhas dos hospitais funcionavam como um refeitório, com grande movimentação,

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tanto das equipes de trabalho quanto de pacientes, podendo ainda “atender” às
crianças do orfanato, à escola de moças ou idosos de um asilo.
A separação física da cozinha e do refeitório, segundo Nogueira e Lopes
(2003) apud Godoy, Lopes e Garcia (2007), somente ocorreu na década de 1970.
Nessa mesma década, segundo os mesmos autores, as religiosas afastaram-se do
setor de alimentação, voltando para o trabalho nas capelas hospitalares, ao mesmo
tempo em que se iniciava o ingresso de nutricionistas nos hospitais. Também houve
a substituição do termo “cozinha hospitalar” por “serviço de nutrição e dietética”.
Atualmente os hospitais são estruturas complexas, definidas por proverem
leitos, terapia médica, alimentação e cuidados de enfermagem constante, com o
objetivo de recuperar a saúde do paciente (GARCIA, 2006). O processo de
alimentação tornou-se mais complexo e exige uma competência técnica
especializada para tal atividade, própria do avanço das tecnologias na área da
saúde.
A tecnicização do processo de alimentação hospitalar tem sido lenta, pois o
Serviço de Nutrição e Dietética das instituições dependem da valorização, por parte
dos gestores, para ganhar prioridade de investimento em equipamentos,
infraestrutura e recursos humanos, bem como uma autovalorização dos próprios
profissionais que compõem esse serviço, desde cozinheiros, copeiros e, inclusive,
nutricionistas, para que identifiquem e busquem formas de melhorar seu serviço,
sentindo-se pertencentes a este e fundamentais nas suas tarefas e rotinas.
Este processo de aperfeiçoamento tecnológico combina com uma divisão
mais profissional e minuciosa das funções, dependendo de uma formação mais
especializada de nível médio e superior. De acordo com Godoy, Lopes e Garcia
(2007), os indivíduos que trabalham algum tempo nas unidades de alimentação e
nutrição hospitalares são, predominantemente, de origem pobre, e possuem uma
moral de trabalho semelhante àquela dos empregos exercidos historicamente por
seus antepassados, as atividades de natureza doméstica; ao passo que os
indivíduos mais jovens possuem um comportamento mais racional e técnico.
A valorização de intervenções e ações que contemplam mais tecnologia do
que aquelas identificadas como atividades de caráter doméstico, caso da
alimentação estimula os procedimentos ligados as novas tecnologias e produtos de
caráter mais medicamentoso do que alimentar (uso de suplementos nutricionais

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industrializados, fórmulas industrializadas para uso enteral, etc.). Essa visão pode
contribuir para certa negligência dos hospitais com a alimentação, considerada uma
área de pouca importância. Cabe então ao nutricionista, responsável pelo setor,
buscar o aprimoramento tecnológico para avançar suas atividades para além do
conceito doméstico.

a) ALIMENTAÇÃO NO HOSPITAL: PRINCIPAIS MODIFICAÇÕES DIETÉTICAS

O indivíduo saudável necessita de um esquema alimentar que o mantenha


sadio, balanceado em energia e nutrientes e preparado de forma correta, caso isso
não ocorra este organismo é capaz de lançar mão de mecanismos adaptativos para
continuar a funcionar normalmente. Entretanto, com o indivíduo enfermo esses
mecanismos estão limitados e instalam-se sinais e sintomas característicos das
carências e/ou excessos nutricionais, aliado a um estado patológico que exige
energia e nutrientes deste organismo, tornando-o mais vulnerável e frágil,
dificultando ou retardando o tratamento adequado.
Para Augusto (2002), os nutricionistas e demais profissionais da saúde
devem conhecer a diferença entre uma alimentação normal e uma alimentação
especial dietoterápica, bem como identificar os tipos de dietas modificadas que
existem em seu serviço e suas indicações mais comuns. Para tal, esta autora define:

a) Alimentação Normal: dieta que fornece ao organismo todos os


elementos (energia e nutrientes) necessários ao crescimento e reparação de tecidos
e funcionamento normal dos órgãos. Deve ser de fácil preparação, com uma
apresentação agradável, adequada a indivíduos sadios e àqueles doentes que não
necessitam de nenhum tipo de modificação na sua dieta em virtude de sua
patologia.
b) Alimentação Especial: segue as mesmas diretrizes de uma alimentação
normal, oferece energia e nutrientes adequados ao estado físico, nutricional e
patológico do indivíduo, mas apresenta modificações nas suas características
organolépticas, físicas e químicas, para melhor atender às necessidades do

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indivíduo doente. Às vezes, o esquema alimentar do indivíduo enfermo requer
restrições drásticas e modificações significativas dos hábitos alimentares, nesses
casos a abordagem de uma equipe multiprofissional que conheça estas
modificações é importante para o esclarecimento do paciente a respeito do seu
estado patológico e nutricional e as interações com o tratamento clínico e nutricional
que está recebendo, facilitando, dessa forma, sua adesão a todo o tratamento
instituído.

FIGURA 8

FONTE: Disponível em: <www.hcor.com.br>. Acesso em: 15 set. 2009.

As principais modificações encontradas nas dietas hospitalares serão


apresentadas abaixo:

17.1 QUANTO AO NÚMERO DE REFEIÇÕES

Normalmente há uma divisão de cinco a seis refeições ao dia, podendo ter a


inclusão, nesses ou em outros horários, de suplementação nutricional via oral. Este
maior fracionamento favorece a oferta adequada de energia e nutrientes sem
sobrecarregar o trato gastrointestinal, além de manter um funcionamento metabólico
adequado. As refeições são divididas em:

a) Desjejum ou café da manhã: primeira grande refeição, servida no início


da manhã para interromper o jejum após o período regular de sono.

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b) Colação ou lanche da manhã: refeição servida durante a manhã, entre
o desjejum e o almoço. Aplaca um pouco a fome antes do almoço.
c) Almoço: grande refeição servida no meio do dia.
d) Lanche da tarde ou merenda: pequena refeição servida à tarde para
reduzir a fome antes do jantar.
e) Jantar: grande refeição servida no início ou meio da noite.
f) Ceia: pequena refeição servida aproximadamente duas horas após o
jantar e antes do indivíduo dormir.

17.2 QUANTO AOS HORÁRIOS

Este é um dos aspectos da dieta hospitalar que, devido às mudanças no


estilo de vida atual, provocam certo estranhamento nos pacientes, por trazerem
horários das refeições diferentes daqueles da sua rotina diária. Em média os
hospitais servem suas refeições nos seguintes horários: desjejum (entre 06h30 e
07h30 da manhã), lanche da manhã (09h00 às 09h30), almoço (11h00 às 12h00),
lanche da tarde (14h00 às 15h00), jantar (17h00 às 18h00) e ceia (20h00 às 21h00).
Esses horários são seguidos de forma rigorosa para agilizar o trabalho da produção
de refeições, além de estarem adequados para o número de refeições servidas
habitualmente nos hospitais.

17.3 QUANTO AO SABOR

As dietas hospitalares, em geral, apresentam sabor suave evitando-se altas


concentrações de açúcar, sal, ácidos e de condimentos fortes. Entretanto, esta
característica pode ser modificada em função da necessidade orgânica, nutricional e
patológica do indivíduo doente, uma vez que a dieta pode ser doce, salgada, de
sabor intenso e excitante, como forma de estimular o paladar.

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17.4 QUANTO À TEMPERATURA

A dieta pode ser ofertada à temperatura ambiente, quente, fria ou mesmo


gelada. Tal característica também pode ser modificada para atender às
necessidades do enfermo, uma vez que temperaturas extremas atenuam ou
amortizam a sensibilidade das papilas gustativas e as preparações quentes têm um
potencial maior de promover saciedade. A movimentação do estômago é acelerada
pelos alimentos frios e gelados e retardada pelos quentes. Com relação à
temperatura, o principal cuidado é fornecer a refeição na temperatura indicada para
o paciente, sem que haja o risco de contaminação microbiana.

17.5 QUANTO AO VOLUME

O coeficiente grama/caloria representa a concentração calórica das


preparações dietéticas em relação à sua massa. Assim, de acordo com o volume
uma dieta pode ser de:
 Volume normal: tem coeficiente grama/caloria igual a 1.
 Volume reduzido: tem coeficiente menor que 1.
 Volume excessivo: tem coeficiente maior que 1.
Nos casos em que não se deseja distensão gástrica é recomendado
aumentar a frequência das refeições e diminuir seu volume.

17.6 QUANTO AO CONTEÚDO DE RESÍDUO

Diz respeito à quantidade de celulose dos alimentos vegetais servidos e com


a rigidez do tecido conectivo das carnes oferecidas nas preparações. A escolha da

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quantidade de resíduo depende da função gastrointestinal, pois quanto maior o
conteúdo de resíduos maior a estimulação para o aparelho digestivo. Com relação
às necessidades do paciente, quanto ao resíduo à dieta pode ser:

 Isenta de resíduos: dietas líquidas claras;


 Com poucos resíduos: frutas e/ou verduras cozidas em forma de purê e
dietas líquidas e coadas;
 Com resíduos brandos: cereais triturados, verduras e frutas cozidas;
 Rica em resíduos: vegetais folhosos, frutas cruas e com casca, cereais
integrais.

17.7 QUANTO À CONSISTÊNCIA

Modificar a consistência de uma dieta diz respeito a modificar suas


características físicas, utilizando-se de técnicas dietéticas que vão desde moer,
triturar, picar até liquidificar e coar, passando pela forma de cocção, se cozido,
assado, grelhado ou frito. Assim, a dieta pode ter consistência normal, branda,
pastosa, semilíquida e líquida, sendo oferecida de acordo com as características do
indivíduo doente. O detalhamento destas dietas será enfatizado nos tópicos 4, 5 e 6.

18 GASTRONOMIA HOSPITALAR

A refeição hospitalar ainda é rejeitada pela maioria dos indivíduos


internados, que a consideram repleta de proibições e de privações (BARBOSA, et
al., 2006). Os hospitais eram atendidos por leigos e irmãs de caridade e o risco em
relação à alimentação era amenizado com alimentos chamados de dieta (com pouco
sal, sem gordura, sem temperos), determinando o termo “comida de hospital”, que
se reflete até nossos dias, sinônimo de comida sem gosto, ruim e intragável.

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FIGURA 9

FONTE: Disponível em: <www.hcor.com.br>. Acesso em: 15 set. 2009.

A palavra gastronomia vem do grego, com mistura de duas palavras: gaster,


que significa estômago e nomo que quer dizer lei (ESQUIVEL, 2008). Define-se
gastronomia como a arte de cozinhar e preparar iguarias de modo a tirar delas o
máximo prazer ou a arte de escolher e saborear os melhores pratos. Define-se
também como prática e conhecimentos relacionados com a arte culinária; prazer de
apreciar pratos finos (VILLAR, 2007).
A gastronomia passou a fazer parte dos objetivos das unidades de nutrição e
dietética hospitalares para a satisfação de pacientes e acompanhantes, cuja queixa
principal é, na maioria das vezes, que as refeições não têm sabor e, por isso, são
rejeitadas. Segundo Jorge (2008), gastronomia hospitalar é a arte de conciliar a
prescrição dietética e as restrições alimentares dos pacientes à elaboração de
refeições nutritivas e saudáveis, com o intuito de promover a associação entre os
objetivos dietéticos, clínicos e sensoriais da promoção da nutrição com prazer.

FIGURA 10

FONTE: Cliparts Word, 2007.

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Jorge (2005) cita que em 1956 Sambaquy já destacava que a gastronomia
deveria associar-se à dietética na assistência técnico-alimentar nos hospitais: “O
doente deve comer com gosto, o ato de comer deve constituir um prazer gustativo,
visual, olfativo e tátil, considerando que a principal exigência de toda preparação
dietética é agradar”. Em ambiente hospitalar a palatabilidade e o princípio dietético
estão separados, por participarem de esferas distintas do reconhecimento, em que
para a gastronomia, as formas e modalidades de alimentação não visam saciar a
fome e se projetam como promessa prazerosa escondida além da saciedade
(GARCIA, 2006).
A humanização do Serviço de Nutrição e Dietética deve ser o principal
propósito quando se deseja integrar princípios dietéticos com a gastronomia; sendo
representado, principalmente, pelo atendimento nutricional individualizado e
personalizado como sendo o maior diferencial para o alcance do conceito de
gastronomia hospitalar. Para Mezomo (1994), as principais características dos
cardápios e dietas hospitalares, além de prover as necessidades terapêuticas,
devem respeitar:

a) Os hábitos alimentares do paciente (pontos de cocção, temperos,


consistência, apresentação, variedades).
b) A necessidade do paciente em termos da quantidade de sua
alimentação.
c) O direito de escolha, ou alternativa de opção, do paciente.
d) O direito do paciente ao diálogo com o responsável pela administração
do serviço.
e) O direito do paciente à informação relativa à dieta que lhe é servida.

A inclusão da gastronomia em um hospital requer uma mudança de conduta


dos nutricionistas e pessoal envolvido na produção e distribuição das refeições,
necessitando de treinamento constante para a incorporação e realização diária
dessa tarefa. Um Chef de cozinha, especialista em gastronomia, deverá ser

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contratado para compor a equipe de nutrição e, nutricionistas e Chef devem
trabalhar em parceria em uma troca constante de conhecimentos.
Não se deve questionar quem será o chefe de quem, mas de que forma
cada um, e ambos, poderão contribuir na recuperação do paciente. Destaca-se que
não apenas os aspectos relacionados à apresentação da dieta são alvo da
gastronomia, mas toda uma mudança de condutas e rotinas que vão desde a
escolha e seleção correta dos alimentos a serem usados até a distribuição das
refeições com utensílios e equipamentos que proporcionem todo o bem-estar que se
deseja associar ao momento da refeição.
O cardápio oferecido deve ser bem variado e flexível, com mais de uma
opção para o prato principal e, até mesmo, para a sobremesa. Os alimentos usados
precisam estar seguros do ponto de vista higiênico-sanitário, com ingredientes de
boa qualidade, fornecidos adequadamente. Esta refeição deve ser oferecida por
uma equipe prestativa que apreciem lidar com o ser humano e que gostem de servir.
O nutricionista precisa ter um contato diário com todos os pacientes internados para
verificar a aceitação das refeições, orientá-los acerca das escolhas mais saudáveis e
sobre as restrições necessárias a cada caso.
Se cada paciente internado receber uma dieta que, além de bem calculada
para atender suas demandas energéticas e nutricionais, seja composta de
preparações servidas com arte, na temperatura correta, com alimentos da sua rotina
habitual, que aguçam os órgãos dos sentidos pela aparência, odor e textura, o
nutricionista estará assumindo integralmente sua responsabilidade diante do
tratamento do paciente (VILLAR, 2007).

19 TIPOS DE DIETAS HOSPITALARES

Dieta modificada é aquela que, em qualquer de suas características físico-


químicas, necessita ser ajustada a uma alteração do processo digestivo ou de
funcionamento geral do organismo, sendo modificada a partir da dieta normal
(CLEMENTE; JAIME, 2005). Sob esse aspecto, as dietas hospitalares são divididas
em duas categorias:

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b) Dietas de Rotina: apresentam mudanças físicas nas suas
características e são conhecidas pelas modificações de consistência. Além disso,
podem ser usadas de forma sequencial na progressão da alimentação de um
indivíduo doente. São elas: dieta geral ou normal, branda (leve), pastosa,
semilíquida e líquida (geral e restrita).
c) Dietas Especiais ou Terapêuticas: caracterizam-se pelas mudanças na
sua estrutura química (modificação de nutrientes) com finalidades terapêuticas,
podendo também incorporar as alterações de consistência. Assim, temos dietas com
manipulação proteica para mais (hiperproteica) ou para menos (hipoproteica), rica
em fibras, sem lactose, hipossódica, dentre outras.

20 CARACTERÍSTICAS GERAIS, INDICAÇÕES E COMPOSIÇÃO ALIMENTAR


DAS PRINCIPAIS DIETAS DE ROTINA EM HOSPITAIS.

Nos subitens abaixo serão usadas as referências Martins; et al., (2001),


Augusto; (2002), Caruso (2007) e Pereira; et al., (2007).

20.1 DIETAS LÍQUIDAS

20.1.1 Líquida Restrita ou Dieta de Líquidos Claros ou Dieta Hídrica ou Dieta Líquida
Cirúrgica

a) Características: é uma dieta muito restrita, geralmente usada em pós-


operatórios, principalmente de cirurgias relacionadas ao trato gastrointestinal, com
finalidade exclusiva de hidratação e de readaptação do processo digestivo e
absortivo após paralisação por anestesia. Fornece um mínimo de resíduos,
propiciando o máximo de repouso intestinal. Suas principais características são:

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- Composta de alimentos líquidos ou que se liquefazem a temperatura
corporal em contato com a boca. Basicamente consiste em água, líquidos límpidos e
carboidratos.
- Constituída por líquidos claros, límpidos e transparentes, sendo, portanto,
limitada em alimentos, pois a grande maioria dos mesmos não apresenta esta
capacidade. Leite e líquidos preparados com leite e gorduras são excluídos.
- Possui baixo valor calórico (hipocalórica), em torno de 400 a 800 kcal (com
média de 500 kcal/dia), por não conter uma variedade alimentar que propicie oferta
calórica adequada, devendo ser ofertada por pouco tempo, pois não tem o objetivo
de nutrir, apenas de hidratar. Nutricionalmente é hiperglicídica (até 70%),
hipoproteica e hipolipídica. Fornece prioritariamente líquidos e eletrólitos.
- São preparações de fácil absorção e com pouco resíduo, pela própria
característica física da dieta – líquida – e tipos de alimentos usados.
- Deve ser administrada por no máximo 24 a 48 horas, sob o risco de
precipitar ou piorar a condição de desnutrição do indivíduo.
- Deve ser oferecida em pequenos volumes (100 a 150 ml/refeição) e com
maior fracionamento (10 a 12 refeições/dia) para hidratar os tecidos e evitar
distensão abdominal.

b) Indicações

 Função digestiva restrita;


 Restrição severa de resíduos;
 Preparo de exames (principalmente de visualização dos cólons);
 Pré e pós-operatório (principalmente cirurgias do trato gastrointestinal).

c) Composição Alimentar

Permite-se água sem gás, água de coco, bebidas isotônicas, chás claros
(ervas claras, frutas e flores), sucos de frutas naturais não ácidas (coados e sem
adição de açúcar), caldo de vegetais e de carne coado sem temperos (oferece-se o
caldo do cozimento!), gelatina em temperatura ambiente.

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Abaixo se apresenta um quadro com uma lista proposta de alimentos que
podem ser incluídos e que devem ser excluídos deste tipo de dieta:

GRUPO ALIMENTAR PERMITIDOS EVITADOS


PÃES, CEREAIS, ARROZ, Nenhum Todos
MASSAS, TUBÉRCULOS
VEGETAIS Caldos* e sucos coados Leguminosas
FRUTAS Caldos* e sucos coados Frutas que não produzem
(pera, maçã, limão) sucos claros (abacate,
manga, etc.), oleaginosas
LEITE E DERIVADOS Nenhum Todos
CARNES, AVES, PEIXES E Caldo de carne ou frango Ovos, carnes gordas,
OVOS desengordurado (leve) frituras, embutidos, etc.
GORDURAS, ÓLEOS E Óleos vegetais sem Excesso de óleos e
AÇÚCARES excessos; mel, mel Karo, gorduras e açúcar.
dextrosol.
OUTROS Chás claros, água de coco, Chá-
gelatina em temperatura preto, café, condimentos
ambiente, adoçante. fortes e picantes.

d) Exemplo de Cardápio de Dieta Líquida Restrita

FIGURA 11

FONTE: Disponível em: <www.marcelokatsuki.folha.blog.uol.com.br>. Acesso em: 15 set. 2009.

06h00 Chá de ervas;


08h00 Suco de maçã;
10h00 Água de coco;
12h00 Caldo de carne desengordurado;
14h00 Limonada;
16h00 Gelatina líquida;

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18h00 Caldo de vegetais;
20h00 Água de coco;
22h00 Chá de ervas.

20.1.2 Dieta Líquida Completa ou Líquida Geral

a) Características

É composta por preparações líquidas, às quais são adicionadas substâncias


que permaneçam dissolvidas na solução de forma que continue líquida. Ainda
oferece pouco resíduo e é de fácil digestão e absorção. Suas outras características
são:
 Fornece alimentos e preparações na forma líquida ou que se
liquefazem a temperatura corporal.
 Permite adição de leite e derivados, ovos e cereais refinados, sendo o
leite a maior fonte proteica líquida e, em casos de intolerância à lactose ou alergia à
proteína do leite de vaca, podem ser usados produtos isentos de lactose ou fórmulas
hidrolisadas.
 Pode apresentar baixo valor nutritivo, sendo necessário fazer
complementação calórica e nutricional quando houver necessidade de prolongar o
uso desta dieta. Sua oferta calórica fica em torno de 1.200 a 1.500kcal/dia.
 Nutricionalmente pode oferecer 50g de proteínas, 50 a 65g de lipídios e
150 a 170g de carboidrato.
 Propicia pouca saciedade, sendo necessário aumentar o fracionamento
(8 a 10 refeições/dia) com volume médio de 200 a 300 ml por refeição para evitar
distensão gástrica.

b) Indicações

 Evolução pós-cirúrgica (dieta de transição após o uso da dieta líquida


restrita).

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 Após cirurgias de cabeça e pescoço.
 Dificuldade de mastigação e/ou deglutição.
 Para pacientes que não toleram alimentos sólidos.

c) Composição Alimentar

É fundamentalmente à base de leite e bebidas lácteas (preferencialmente


desnatados), sem açúcar e alimentos gás-formadores, sendo permitido: cereais
refinados, ovos, sucos naturais de frutas peneiradas sem açúcar, caldos
liquidificados (carne, frango, peixe, vegetais), além de pudins e iogurtes. As
preparações devem ser liquidificadas e coadas a ponto de poderem ser tomadas por
canudos, caso necessário.
Importante ressaltar que não se recomenda seu uso por sondas enterais
devido o descontrole de viscosidade e osmolalidade das preparações artesanais. O
quadro abaixo exemplifica melhor as permissões e exclusões alimentares:

GRUPO ALIMENTAR PERMITIDOS EVITADOS


PÃES, CEREAIS, ARROZ, Cereais refinados e cozidos, Alimentos integrais, com
MASSAS, ETC. mingaus finos, como espessante sementes, farelos.
de sopas (farinha de aveia,
creme de arroz, milho e trigo),
macarrão, arroz.
VEGETAIS Caldos e sucos liquidificados e Vegetais crus e inteiros,
coados* folhosos, leguminosas.
FRUTAS Sucos liquidificados e coados Frutas inteiras e flatulentas
LEITE E DERIVADOS Produtos integrais e Queijos ricos em gordura
desnatados, bebidas lácteas,
iogurtes líquidos, requeijão
cremoso, queijos brancos e
macios, pudim
CARNES, AVES, PEIXES E Liquidificados na sopa, ovos Carnes gordas, embutidos
OVOS moles
GORDURAS, ÓLEOS E Todos, sem excessos; gelatina, Doces em pasta
AÇÚCARES sorvete, geleia, pudim
OUTROS Chás, temperos naturais Café, chá-preto, tereré,
excesso de condimentos

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d) Exemplo de Cardápio de Dieta Líquida Completa

FIGURA 12

FONTE: Disponível em: <www.vejasaopaulo.abril.com.br>. Acesso em: 15 set. 2009.

07h00 Mingau ralo;


09h00 Suco de fruta;
11h00 Sopa de carne com hortaliças liquidificada e coada;
13h00 Gelatina;
15h00 Vitamina de leite desnatado com maçã, sem açúcar;
17h00 Sopa de frango com vegetais, liquidificada e coada;
19h00 Mingau ralo;
21h00 Chá de ervas.

20.2 DIETA SEMILÍQUIDA

a) Características

São preparações de consistência espessada, constituída de líquidos e


alimentos semissólidos, para propiciar repouso digestivo ou quando alimentos

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sólidos são mal tolerados. Algumas instituições adotam essa dieta com a
nomenclatura de dieta leve. Outras características desta dieta são mostradas
abaixo:

 Esta dieta fornece preparações de consistência espessada, com


líquidos e alimentos semissólidos, cujas partículas se encontram em suspensão ou
emulsão, como sopas, carne moída ou desfiada e tecido conectivo das carnes
abrandado pela cocção. Os alimentos sólidos são adicionados às bases líquidas
para espessar e enriquecer calórica e nutricionalmente as preparações.
 Apresenta pouco resíduo, requerendo um mínimo de trabalho digestivo
e excluindo a mastigação do processo.
 Teor calórico diminuído, quando comparada às próximas dietas,
devido, ainda, uma limitação alimentar.
 Assim como a dieta líquida completa, requer complementação calórica
e nutricional, caso haja necessidade de prolongamento do uso desta dieta.

b) Indicações

 Destina-se a pacientes com problemas mecânicos na ingestão e


digestão dos alimentos.
 Preparo de exames e alguns pós-cirúrgicos.
 Propiciar repouso digestivo com o mínimo de resíduos.
 Quando alimentos sólidos não são bem tolerados.
 Pode ser usada na transição para dieta branda e geral.

c) Composição Alimentar
Os alimentos devem apresentar baixa viscosidade e serem de fácil digestão,
excluindo-se também os gás-formadores. O quadro a seguir demonstra os alimentos
permitidos e evitados nesta dieta:

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GRUPO ALIMENTAR PERMITIDOS EVITADOS
PÃES, CEREAIS, ARROZ, Mono e dissacarídeos a 20%; Alimentos integrais, com
MASSAS, ETC. farinhas a 15%; dextrinas a sementes, farelos.
10%; pectina, fécula de amido
ou batata a 5%
VEGETAIS Purê de vegetais, caldo de Vegetais crus e inteiros,
vegetais desengordurados folhosos, leguminosas.
FRUTAS Sucos coados, purê de frutas Frutas inteiras e flatulentas
LEITE E DERIVADOS Leite, queijo cremoso, Queijos ricos em gordura
CARNES, AVES, PEIXES E Caldo de carne Carnes gordas, embutidos
OVOS desengordurado, clara e gema
de ovos adicionados às
preparações
GORDURAS, ÓLEOS E Óleo vegetal, margarina, creme Doces em pasta
AÇÚCARES de leite, gelatina, sorvete, pudim
OUTROS Chás, sopas espessadas, Café, chá-preto, excesso de
liquidificadas e sopas creme condimentos

d) Exemplo de Cardápio de Dieta Semilíquida

FIGURA 13

FONTE: Disponível em: <www.menusp.com.br>. Acesso em: 15 set. 2009.

07h00 Leite com biscoito tipo maisena e mamão;


09h00 Suco de frutas;
12h00 Sopa de carne com macarrão e vegetais e gelatina com creme de leite;
15h00 Leite enriquecido com fruta e biscoitos doces;
17h00 Canja de galinha;
19h00 Chá com torradas.

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20.3 DIETA PASTOSA

a) Características

Dieta que favorece a digestibilidade em situações especiais, proporcionando


também certo repouso digestivo. Seus principais destaques são:

 Os alimentos estão sob forma de purê, amassados, liquidificados,


moídos, exceto se naturalmente macios. Também apresenta preparações do tipo
mingaus, suflês e mouses. As carnes devem ser batidas, trituradas ou desfiadas e
abrandadas pela cocção.
 Calórica e nutricionalmente adequada fornecendo em média até 2.000
kcal/dia, distribuídas em seis refeições diárias.
 Se for de transição para dieta branda ou geral ainda tem controle de
resíduos.

b) Indicações

 Fornecer dieta para ser mastigada e/ou deglutida com pouco ou


nenhum esforço (retardo mental severo, problemas neurológicos, doenças do
esôfago, falta de dentes, etc.).
 Alguns pós-operatórios.
 Em fases críticas de algumas doenças como insuficiência cardíaca e
respiratória.

c) Composição Alimentar

Os alimentos permitidos e excluídos deste tipo de dieta são mostrados no


quadro a seguir:

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GRUPO ALIMENTAR PERMITIDOS EVITADOS
PÃES, CEREAIS, ARROZ, Todos em purê, arroz e Pães duros ou com sementes,
MASSAS, ETC. macarrão tipo “papa”, cereais secos, biscoitos
biscoitos, mingaus mais amanteigados, recheados,
espessos produtos de pastelaria
VEGETAIS Sucos coados, purês (batata, Hortaliças cruas, com sementes,
cenoura, abóbora, etc.) com casca, vegetais folhosos, gás-
formadores
FRUTAS Sucos coados, purês, cozidas Frutas difíceis de transformar em
e amassadas (mamão, maçã, purê (laranja, uva, abacaxi, etc.),
banana, pera, etc.) gás-formadores
LEITE E DERIVADOS Leite desnatado e integral, Iogurtes com pedaços de frutas
milk-shake batido com frutas,
mingaus, achocolatados,
pudim, requeijão, queijos
amassados (prato, fresco e
ricota)
CARNES, AVES, PEIXES E Cozidos sem pele, moídos, Carnes duras, gordurosas,
OVOS purês, ovos mexidos, ovos empanados, ovos fritos
moles ou gemada
GORDURAS, ÓLEOS E Óleos e gorduras excessos, Bacon, azeitona, coco, banha,
AÇÚCARES gelatina, sorvete, geleia, mel, frituras
açúcar, pudim, bolo simples
OUTROS Café (não puro), chás, Pimentas e condimentos fortes
temperos sem excessos

d) Exemplo de Cardápio de Dieta Pastosa

07h00 Leite desnatado com pão macio e margarina;


09h00 Frutas em pedaços amassados;
12h00 Arroz tipo “papa” com caldo de feijão, carne moída e purê de cenoura;
15h00 Iogurte com biscoito e mamão;
18h00 Macarrão bem cozido com frango desfiado e purê de abóbora;
21h00 Chá com torradas.

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20.4 DIETA BRANDA

a) Características

Dieta em que há a necessidade de abrandar os alimentos para sua melhor


aceitação. Seus outros destaques são:
 Alimentos com consistência macia pela cocção.
 Devido sua consistência atenuada, possui menor quantidade de
resíduos.
 Não há diferenças significativas quanto ao teor calórico e nutricional em
relação à dieta normal. Em média oferece 2.000kcal/dia em um fracionamento de 6
refeições/dia.
 Pode ser usada como transição entre a dieta pastosa e a dieta geral.

b) Indicações

 Transição entre dietas líquidas e normais.


 Alguns pós-operatórios.
 Situações onde a motilidade gástrica e ação química do trato digestivo
está debilitada, como gastrite ou úlcera.
 Dificuldades de mastigar e/ou deglutir.
 Dieta com mínimo de fibras e quantidade moderada de resíduos.

c) Composição Alimentar

Todos os alimentos são modificados pela cocção para abrandar as fibras


(celulose) por ação da cocção ou ação mecânica, conferindo-lhes uma consistência
menos sólida, com exceção de algumas frutas com menor teor de celulose, sucos de
frutas e vegetais. As carnes devem ser abrandadas no seu tecido conectivo. Evitar
alimentos flatulentos como: brócolis, couve-flor, couve-de-bruxelas, rabanete,

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repolhos e ovos cozidos. Frituras, alimentos que fornecem resíduos não digeríveis,
vegetais crus, a maioria das frutas cruas, cereais integrais também devem ser
excluídos.

GRUPO ALIMETAR PERMITIDOS EVITADOS


PÃES, CEREAIS, ARROZ, Pães moles, de forma, biscoitos Pães duros, com sementes,
MASSAS, ETC. sem recheio, panquecas, pastelarias, feitos com nozes,
torradas, cereais cozidos (arroz frutas secas
e massas em geral), integrais de
acordo com tolerância
VEGETAIS Todas cozidas e picadas, exceto Vegetais crus, folhosos, gás-
flatulentas formadores
FRUTAS Sucos, todas cozidas Frutas cruas, cítricas e
flatulentas
LEITE E DERIVADOS Pouca gordura, queijos prato, Queijos gordurosos
mussarela, ricota, requeijão
CARNES, AVES, PEIXES E Carnes magras, cozidas, Carnes gordas, duras,
OVOS moídas, desfiadas, purê, ao empanados, frituras, ovo frito
molho, ovos mexidos, moles,
gemada
GORDURAS, ÓLEOS E Todos, sem excessos Nenhum
AÇÚCARES
OUTROS Chás, temperos normais Condimentos fortes e picantes,
refrigerantes, álcool, água com
gás, sucos artificiais

d) Exemplo de Cardápio de Dieta Branda

06h00 Leite desnatado, pão com margarina e melão;


09h00 Suco de frutas;
12h00 Arroz, caldo de feijão, carne bovina cozida e legumes cozidos;
15h00 Leite enriquecido com fruta e torradas com geleia;
18h00 Arroz, caldo de feijão, frango cozido e chuchu refogado;
21h00 Chá com bolachas doces.

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20.5 DIETA LEVE

Em algumas instituições a dieta leve é a mesma dieta semilíquida, com suas


indicações e restrições. Entretanto, convém destacar que a dieta leve também pode
ser considerada uma dieta branda com menor teor de lipídios (hipolipídica), sendo
indicada em situações de dificuldades mastigatórias ou comprometimento da
digestão de gorduras.

20.6 DIETA GERAL OU DIETA NORMAL OU DIETA LIVRE

a) Características

 É uma dieta suficiente, harmônica, completa e adequada em calorias e


nutrientes, sem alterações significativas na consistência.
 É calórica e nutricionalmente adequada, fornecendo, em média, 2.500
kcal/dia, com uma composição aproximada de 15% de proteínas, entre 25 e 30% de
lipídios e 55 a 60% de carboidratos.
 Também é balanceada em micronutrientes.
 O controle de volume deve ser mantido ofertando-se, em média, 6
refeições/dia.
 Evita excesso de frituras e condimentos fortes e picantes.

b) Indicações: em situações em que a condição clínica e nutricional não


justifica restrições ou modificações dietéticas.

c) Composição Alimentar: não há restrições alimentares.

d) Exemplo de Cardápio de Dieta Geral:

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06h00 Leite com café, pão com margarina e pera;
09h00 Suco de fruta;
12h00 Arroz, feijão, bife bovino na chapa, cenoura refogada, salada de
alface com tomate e melancia;
15h00 Leite com achocolatado e bolacha doce;
18h00 Arroz, macarrão ao sugo, frango assado, couve refogada, beterraba
ralada e laranja;
21h00 Chá com torradas.

21 CARACTERÍSTICAS GERAIS, INDICAÇÕES E COMPOSIÇÃO ALIMENTAR


DAS PRINCIPAIS DIETAS MODIFICADAS EM NUTRIENTES

Neste tópico daremos destaque para calorias e macronutrientes e para o


sódio, mas ressalta-se que podem ser feitas as mais variadas alterações nas
características químicas (composição de nutrientes).

21.1 QUANTO ÀS CALORIAS

Considerando-se que uma oferta calórica de 25 a 30 kcal/kg de peso


corporal adequado/dia é suficiente para manutenção de peso em indivíduos adultos,
então, sopesa-se esta oferta como uma dieta normocalórica. Caso necessite de
maior oferta calórica – dieta hipercalórica (casos de desnutrição, convalescença,
cicatrização, etc.) deve-se oferecer mais que 30 kcal/kg peso/dia e, se a
necessidade for reduzir a ingestão energética – dieta hipocalórica (redução de peso,
por exemplo), oferece-se menos que 25 kcal/kg peso/dia.

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21.2 QUANTO ÀS PROTEÍNAS

A necessidade proteica recomendada para indivíduos adultos é de 0,8 a 1,0


g proteína/kg peso adequado/dia; considerando-se uma dieta normoproteica, o
cardápio que oferecer esta quantidade. Se houver necessidade de maior oferta
proteica (desnutrição, reparos teciduais, melhora do sistema imune, etc.), oferta-se
mais que 1,0 g proteína/kg peso/dia – dieta hiperproteica (em média 1,5 a 2,5 g
proteína/kg peso/dia) e, nas situações de redução proteica – dieta hipoproteica
(insuficiência renal crônica sem diálise, por exemplo) recomenda-se menos que 0,8
g proteína/kg peso/dia (em média 0,6 g proteína/kg peso/dia).

21.3 QUANTO AOS LIPÍDIOS

As recomendações para oferta lipídica giram em torno de 25 a 30% do valor


calórico total da dieta (VET)/dia. Assim, em situações onde há necessidade de
restrição de gorduras – dieta hipolipídica (alterações do pâncreas, vesícula,
hepáticas com icterícia) oferta-se menos que 25% do VET (em média 15 a 20% do
VET), tomando-se o cuidado de não ofertar muito abaixo de 15%, pois há o
comprometimento da oferta de ácidos graxos essenciais, podendo afetar significativa
a resposta imunológica.
Nas situações de maior oferta lipídica (dieta hiperlipídica), como casos de
insuficiência pulmonar crônica com retenção de CO2, recomendam-se teores
maiores que 30% do VET, cuidando-se para não exagerar no fornecimento de
gorduras saturadas e colesterol, evitando-se, assim, comprometimento
cardiovascular.

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21.4 QUANTO AOS CARBOIDRATOS

A oferta adequada de carboidratos deve atender, principalmente, além da


oferta calórica mais viável, a “poupança” da proteína para fins energéticos. Para tal
recomenda-se em torno de 55 a 65% do VET/dia (dieta normoglicídica). Mas nos
casos de necessidade na redução de carboidratos (dieta hipoglicídica) oferece-se
menos que 55% do VET (casos de insuficiência pulmonar crônica com retenção de
CO2). Já em situações de maior oferta energética, a partir dos glicídios (dieta
hiperglicídica), sugere-se mais que 65% do VET/dia.

21.5 QUANTO AO SÓDIO

A restrição de sódio torna-se necessária em algumas condições clínicas


como presença de edema e ascite importantes, insuficiência renal crônica e
descompensações de algumas doenças cardíacas e pulmonares. Os teores médios
de recomendação de sódio são de 2.400mg de sódio/dia ou o equivalente a 6g de
cloreto de sódio (sal de cozinha)/dia.
Mas como não podemos comer apenas sal de cozinha e, como todos os
alimentos contém teores variáveis de sódio em sua composição, recomenda-se
como uma dieta normossódica, 4g de cloreto de sódio/dia, ou menos (em torno de
1.600mg sódio/dia) e o restante deve ser ofertado pelo sódio intrínseco (presente
naturalmente nos alimentos).
Dessa forma, uma dieta hipossódica deve ofertar menos que 2.400mg
sódio/dia, devendo-se avaliar a quantidade a ser ofertada de sal de cozinha (cada
grama de cloreto de sódio oferece 400mg de sódio) e tomando-se o cuidado de
ofertar a quantidade mínima recomendada de sódio que é de 500mg/dia. Situações
de restrição mais severa (250mg/dia) devem ser cuidadosamente monitoradas e

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usadas por pouco tempo. Nas situações de maior necessidade de sódio oferecer
teores maiores que 2.400mg sódio/dia, avaliando a condição cardiovascular.
Ressalta-se que dieta hipossódica, não é necessariamente uma dieta sem
sal de cozinha, devendo essa última condição ser nomeada corretamente de dieta
acloretada (sem cloreto de sódio), pois uma dieta assódica é impossível de
conseguir já que todos os alimentos, uns mais outros menos, contêm teores de
sódio em sua composição química.

22 CARACTERÍSTICAS GERAIS, INDICAÇÕES E COMPOSIÇÃO ALIMENTAR


DAS PRINCIPAIS DIETAS TERAPÊUTICAS

22.1 DIETAS NAS DOENÇAS DO TRATO GASTROINTESTINAL

a) Dispepsia ou Indigestão

Caracteriza-se por demora do processo digestivo com pirose, sensação de


plenitude, eructação, distensão abdominal e sonolência. Não é uma patologia e sim
um sintoma de alguma alteração gastrointestinal, mas em geral é funcional. Na
maioria das vezes usa-se as mesmas recomendações para gastrite acrescidas de
orientações sobre maior fracionamento, implementar a mastigação e excluir
alimentos de difícil digestão (couve, pimentão, cebola, melão, melancia, frituras,
refogados).

b) Gastrites/Úlceras

A gastrite trata-se de uma inflamação da mucosa gástrica sem alteração da


secreção e a úlcera é uma erosão (ferida) nesta mucosa. As modificações dietéticas
variam em função da gravidade do caso, mas em geral recomenda-se: proibição de
condimentos irritantes (pimentas, páprica, etc.), álcool, fumo e cafeína. As refeições

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devem ser mais fracionadas e de consistência branda. Convém destacar que outras
limitações dependem das intolerâncias individuais.

c) Constipação Intestinal

Retenção exagerada de matéria fecal ou retardo além do tempo fisiológico


de evacuação: até 48 horas ou, pelo menos, três vezes por semana.
Fundamentalmente a técnica dietoterápica requer escolha de alimentos com alto
conteúdo de fibras e lubrificar a parede intestinal com aumento da ingestão hídrica.
Incluem-se grande quantidade de frutas, hortaliças e grãos integrais e maior
consumo de alimentos laxativos (ameixa, maçã com casca, mamão, etc.).

d) Diarreias

Aumento do volume e da frequência das evacuações e diminuição da


consistência das fezes. Requer reposição de líquidos e eletrólitos (reidratação) e
evita-se cafeína, condimentos picantes e grandes concentrações de açúcares. O
leite pode ser mal tolerado devido à redução da enzima lactase. Dar preferência à
consistência branda (tudo cozido) e utilizam-se alimentos considerados constipantes
(banana, maçã sem casca, goiaba, suco de caju e suco de limão).

22.2 DIETAS NAS DOENÇAS CARDIOVASCULARES

a) Hipertensão Arterial Sistêmica

Trata-se de uma condição patológica onde a pressão arterial está


permanentemente elevada. As principais recomendações recaem sobre a restrição
de sódio (até 2.400mg/dia), com exclusão de alimentos industrializados e maior
oferta de alimentos ricos em potássio (leguminosas, frutas, hortaliças e legumes).
Sugere-se também controle de gordura e redução da oferta de gordura saturada e
colesterol.

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b) Infarto Agudo do Miocárdio (IAM)

É definido como morte ou necrose da célula do músculo cardíaco devido à


isquemia resultante da obstrução total ou parcial de uma artéria coronária. Nas
primeiras 12 horas após o IAM deve-se manter o paciente em jejum e, após o
quadro ser estabilizado, introduz-se uma alimentação gradual (dietas hospitalares de
rotina), priorizando maior fracionamento e menor volume, alimentos de fácil digestão
e consistência mais abrandada para não aumentar o esforço cardíaco.

22.3 DIETA NAS DOENÇAS PULMONARES

Quando a alteração pulmonar leva à maior retenção de gás carbônico


prioriza-se um menor coeficiente respiratório (menor produção de CO 2) por meio do
aumento na oferta de gorduras e redução de carboidratos. Também se recomenda
abrandar a consistência para não piorar o esforço respiratório ao mastigar mais e
pode-se restringir sódio, caso haja necessidade, se houver retenção de líquidos
(edema).

22.4 DIETAS NAS DOENÇAS RENAIS (INSUFICIÊNCIAS RENAIS)

Nos casos de insuficiência renal aguda a restrição proteica (0,6g


proteína/kg/dia) é o foco da recomendação dietética, acompanhado de restrição de
sódio e líquidos. Na insuficiência renal crônica depende se há condição dialítica, ou
não, e do tipo de suporte (se hemodiálise ou diálise peritonial). Se não há tratamento
dialítico, a recomendação é semelhante à insuficiência renal aguda. Quando há
suporte dialítico, principalmente hemodiálise, pode haver maior liberação proteica
(há perda no processo), mas inclui-se controle de nutrientes que não são totalmente

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“filtrados” na hemodiálise, como potássio e fósforo. Em ambos os casos deve haver
oferta adequada de ferro e cálcio.

22.5 DIETA PARA DIABETES MELLITUS

Distúrbio metabólico crônico determinado pela ausência total de insulina


(diabetes mellitus tipo 1) ou parcial (diabetes mellitus tipo 2), neste último caso,
associado à maior resistência periférica à insulina, caracterizado pela hiperglicemia
constante. Essas alterações acarretam distúrbios no metabolismo de carboidratos,
lipídios e proteínas.
Atualmente as recomendações dietéticas para indivíduos com essa patologia
não diferem muito das propostas para indivíduos saudáveis, com distribuição normal
de macronutrientes, maior fracionamento, intervalos regulares entre refeições e
oferta de alimentos com baixo índice glicêmico. Ressalta-se controle de gorduras
saturadas e colesterol, sódio e maior oferta de fibras, principalmente solúveis.

22.6 DIETAS PARA PREPARO DE EXAMES

São preparações dietéticas que são fornecidas antes da execução de


alguns exames necessários à formulação de diagnóstico e controle clínico do
paciente hospitalizado, ou mesmo ambulatorial. Há restrições específicas de acordo
com cada tipo de exame. Devem ser procedimentos padronizados junto ao
Laboratório de Análises Clínicas da instituição. Os principais cuidados nutricionais
para o preparo de exames serão apresentados a seguir (AUGUSTO, 2002):

a) Pesquisa de Gordura nas Fezes (Sudam III): observar presença de gordura nas
fezes.
 Característica principal: consumir uma grande quantidade de gordura/dia.
 Deve ser iniciada três dias antes da realização do exame.

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Oferta Média de Lipídios/Dia
IDADE QT LIPÍDIO (g/DIA) %VCT
0-6 meses 30g/dia 30
6-12 meses 55g/dia 40
1-2 anos 75g/dia 45
2-6 anos 75g/dia 40
Adolescentes e adultos > 100g/dia 45

b) Enema Opaco ou Clister Opaco ou Preparo do Cólon

 Características: promover esvaziamento total do cólon.


 Tempo: oferecer até três dias antes. No 4º dia é realizado o exame
com o paciente em jejum.
 Tipo de dieta recomendada nos três dias:
1º Dia: Dieta Pastosa sem Resíduos – chá, limonada, torradas, bolachas,
pera, maçã sem casca, banana, arroz, macarrão, batata, cenoura, chuchu, frango
sem pele.
2º Dia: Dieta Semilíquida sem Resíduos – chá, limonada, geleia, torrada,
sopa de legumes liquidificada, gelatina, banana, maçã e peras cozidas sem casca.
3º Dia: Dieta Líquida sem Resíduos – chá, torradas, caldo ralo de legumes,
gelatina. Aumentar a ingestão de água.

c) Colonoscopia: visualizar todo o cólon.

 Características: dieta líquida sem resíduos com maior oferta hídrica.


 Tempo: oferecer na véspera do exame.
 Alimentos permitidos: macarrão, purê de batatas, sopas coadas, caldo
de galinha, peixe, ovos, queijo branco, cremes, pudins, torradas, biscoito de
polvilho, sorvetes, gelatinas, geleias, suco de frutas coadas.

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 Alimentos proibidos: carnes, verduras, polpa de frutas, cereais
integrais.
 Dia do exame: realizada lavagem intestinal.

d) Pesquisa de Sangue Oculto nas Fezes: observar presença de hemácias nas


fezes.

 Características: não consumir carnes de qualquer tipo (vermelhas e brancas),


vegetais (beterraba, rabanete, tomate, cenoura, nabo, abóbora, espinafre,
alface), feijão, gema de ovo, goiabada.
 Tempo: 3 a 4 dias antes do exame.

e) Urografia Excretora: observar as vias urinárias.

 Características: dieta isenta de resíduos, hipofermentativa e com restrição


hídrica (consumir somente alimentos sólidos).
 Tempo: véspera do exame.
 Alimentos permitidos: chuchu, manteiga, ovo, arroz, carne, bolachas, gelatina.
 Alimentos proibidos: hortaliças cruas, alimentos gás-formadores, leguminosas,
vegetais ricos em celulose, doces muito concentrados, doces em calda,
refrigerantes.

f) Dosagem de Ácido Vanil-Mandélico Urinário: determinação deste metabólito na


urina para diagnóstico de doenças das suprarrenais.

 Características: não consumir café, chá, mate, chocolate, frutas em geral,


baunilha, sorvetes, pudim, sucos artificiais, refrigerantes, alimentos
aromatizados com vanilina.
 Tempo: preparo de sete dias e o exame é realizado no oitavo dia.

g) Cintilografia da Tireoide: projetar a imagem da tireoide.

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 Características: proibidos peixes, frutos do mar, e alimentos bociogênicos
(brócolis, agrião, alface, soja, couve, amendoim, repolho, ervilha, espinafre,
mandioca, milho, batata-doce).
 Tempo: iniciar 7 dias antes do exame.

j) Prova de Controle da Tiramina: para pacientes em uso de medicamentos


antidepressivos inibidores da monoamina oxidase (IMAO).

 Características: proibir café, queijos envelhecidos, fígado, salsicha, salame,


linguiça, carnes envelhecidas, extrato de carne, amendoim, abacate, molho de soja,
creme azedo, achocolatados, iogurte, feijão-fava, figos enlatados, passas,
chocolate, cerveja, fermentos, levedo de cerveja e vinho.

FIM DO MÓDULO III

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