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Introdução ao Direito – Ano letivo 2022/23

Ficha de trabalho n.º 2

1. A é casada com B há 20 anos. Na semana passada, descobriu que B mantém uma relação
extraconjugal com C há mais de 5 anos. Inconformada, pretende obter o divórcio e ser
moralmente compensada pelo desgosto que está a passar e pela violação da sua honra, uma
vez que, na sua freguesia, já toda a gente diz que “B tem outra e que A é a mulher traída”.
Dirigiu-se ontem a um advogado, C, que lhe disse que o dever de fidelidade, previsto no
artigo 1672.º CC, não tem nenhuma sanção associada à sua violação. À luz do que estudou
sobre as características da ordem jurídica, o que diria a A?

2. D, agente imobiliário, conseguiu que E lhe vendesse a sua casa de praia, sita no Algarve,
com o valor de mercado de 500.000€, por 50.000€. Para celebrar o negócio, D aproveitou-
se do estado em que E se encontrava, uma vez que, desde há 6 meses, andava profundamente
deprimido porque, para além de ter sido diagnosticado com uma doença grave, havia perdido
a mulher e a filha num acidente de viação. Por causa disso, E andava também a ser medicado
para a depressão profunda em que se encontrava. F, filho de E, descobriu o negócio
celebrado pelo pai e pretende obter a anulação do mesmo, nos termos do artigo 282.º CC.
D alega, no entanto, que, para que o negócio possa ser anulado, é necessário que se
demonstre que ele tinha a intenção de explorar a fraqueza de E. Quid iuris?

3. G, aluno do 1.º ano da Licenciatura em Direito, já encontrou em diversos manuais a


expressão “ordem jurídica estatal”. Contudo, enquanto estudava para os exames que se
avizinham, deparou-se com o artigo 8.º, n.ºs 2 e 4 CRP e não entende como é que se pode
falar em “ordem jurídica estatal” quando os princípios de Direito Internacional e as normas
da União Europeia vigoram em Portugal. O que lhe diria?

4. H, advogado, enquanto preparava uma intervenção que ia fazer no tribunal, deparou-se


com um manual de Introdução ao Direito em que se dizia que “a ordem jurídica é
imperativa”. No entanto, H não está convencido disso porque conhece diversas normas,
como é o caso do artigo 772.º, n.º 1 CC, que não se aplicam se as partes manifestarem essa
vontade, pelo que H acha que o manual que leu “só pode estar errado”. Concorda com a
conclusão a que chegou H?

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Introdução ao Direito – Ano letivo 2022/23

5. Em 30 de dezembro de 1997, foi instaurada execução fiscal contra Artur por dívida de
IRS, do ano de 1993, tendo, em 12 de junho de 2006, sido ordenada a penhora mensal de
1/6 do vencimento do executado. De modo a conseguir o levantamento da penhora do seu
vencimento, em 29 de junho de 2006, Artur procedeu ao pagamento da dívida em execução.
No dia seguinte, o processo executivo foi extinto por pagamento voluntário. Em 14 de julho
de 2006, Artur apresenta um requerimento a alegar que a dívida em execução já se encontrava
prescrita na data em que efetuou o pagamento, pois o artigo 48.º da Lei Geral Tributária
prevê um prazo de prescrição de 8 anos, que já havia decorrido. Em consequência, solicita a
devolução da quantia entregue por conta da dívida exequenda. Por despacho do Chefe de
Serviço de Finanças do Porto 6, de 27 de julho de 2006, foi declarada prescrita a dívida
exequenda, mas indeferido o pedido de devolução da quantia entregue, com fundamento no
n.º 2 do artigo 304.º CC. Inconformado, Artur decidiu reclamar do despacho do Chefe de
Serviço de Finanças do Porto 6. Alega, para o efeito, que “na data em que fez o pagamento
da dívida já a mesma estava prescrita e só procedeu ao pagamento porque sabia ser esse o
único meio de levantar a penhora sobre o seu vencimento”. Entende, porém, a Fazenda
Pública que tal argumento não procede, já que bastaria, para o levantamento da penhora, um
requerimento a solicitar ao órgão de execução fiscal a declaração da prescrição da dívida,
devendo, por isso, considerar-se, para todos os efeitos legais, que Artur cumpriu
espontaneamente a obrigação.1

a) Qualifique a obrigação de pagamento da dívida prescrita e indique qual a sua


especificidade no contexto das características da ordem jurídica.

b) Qual(is) a(s) finalidade(s) jurídica(s) subjacente(s) à norma do CC invocada


pelo despacho do Chefe de Serviço de Finanças do Porto 6? Justifique.

1Retirado do teste de avaliação distribuída de 27.01.2022 e baseado no Acórdão do Tribunal Central


Administrativo Norte, proc. 01489/07.2BEPRT, de 10.01.2008.

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