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ESTADO DE SANTA CATARINA


PODER JUDICIÁRIO
Vara da Família da Comarca da Capital - Continente
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ALIMENTOS - LEI ESPECIAL Nº 5.478/68 Nº 5001844-40.2021.8.24.0091/SC


AUTOR: MARINA HORTENCIA SEEMANN SEVERO
RÉU: HELIO JOAO SEVERO (RELATIVAMENTE INCAPAZ (ART. 4º CC))
RÉU: ODETE SILVEIRA SEVERO (CURADOR)

SENTENÇA

Vistos etc.

I - RELATÓRIO

MARINA HORTÊNCIA SEEMANN SEVERO ajuizou a presente ação de


alimentos com pedido de fixação de alimentos provisórios em face de seu genitor HELIO
JOÃO SEVERO, representado por sua curadora Odete Silveira Severo.

Argumentou, em síntese, que necessita voltar a receber alimentos do


genitor, uma vez que está impossibilitada de trabalhar, em razão de ser portadora de
"Transtorno afetivo bipolar (CID 10 – F31), flutuando entre Transtorno afetivo bipolar,
episódio atual maníaco sem sintomas psicóticos (CID 10 - F31.1) e Transtorno afetivo
bipolar, episódio atual maníaco com sintomas psicóticos (CID 10 – F31.2)" ( Evento 1,
INIC1). Juntou documentos.

5001844-40.2021.8.24.0091 310048741315 .V38


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A decisão de Evento 19 fixou alimentos provisórios em 1 (um) salário
mínimo em favor da parte autora, deferiu o benefício da gratuidade da justiça, bem
como designou sessão de conciliação e mediação.

O requerido agravou da decisão liminar, conforme consta no Evento 57;


todavia, foi indeferida a tutela recursal (Evento 73).

Em audiência de mediação, a proposta conciliatória restou inexitosa (Evento


69).

Contestação no Evento 78 e Réplica no Evento 82.

No Evento 101, determinou-se a realização de perícia médica, a fim de aferir se


a requerente é acometida de doença incapacitante para o trabalho.

Laudo juntado no Evento 176.

Intimadas para especificarem as provas que ainda pretendam produzir (Evento


195), a parte demandada manifestou-se pela desnecessidade de dilação probatória (Evento
202) e a parte autora quedou-se silente (Evento 204).

O Ministério Público opinou pela improcedência do pedido inicial (Evento


213).

É o relatório.

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Decido.

II - FUNDAMENTAÇÃO

Cuida-se de ação de alimentos com pedido de fixação de alimentos


provisórios proposta por MARINA HORTÊNCIA SEEMANN SEVERO em face de seu
genitor HELIO JOÃO SEVERO, representado por sua curadora Odete Silveira Severo.

De início, observo que as partes não manifestaram o desejo de produzir outras


provas, restando preenchidos os requisitos do art. 355, I, do CPC, o que autoriza o
julgamento antecipado da lide.

No que concerne aos alimentos, a obrigação alimentar decorrente da relação


paterno-filial está fundada no dever de sustento daqueles que exercem o poder familiar
(artigo 1.634, I, CC e artigo 1.696, CC).

É certo que os pais se sujeitam para com os filhos a duas modalidades de


encargos alimentar, quais sejam, o dever de sustento/poder familiar e a obrigação
alimentar/solidariedade familiar.

O primeiro é diretamente vinculado ao poder familiar (artigos 1.566, inciso III,


e 1.568 do Código Civil) e cessa com a maioridade ou com a emancipação da prole. Já no
segundo, a obrigação alimentar, refere-se a direito obrigacional e deflui da relação de
parentesco próximo, da solidariedade familiar, tendo como causa jurídica o vínculo da

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consanguinidade (art. 1.696 do Código Civil). Para esta obrigação, não há limitação temporal,
ficando sujeita apenas à comprovação dos pressupostos da necessidade do alimentando e da
possibilidade do alimentante.

Prescreve o Código Civil, em seu art. 1.696 que "o direito à prestação
de alimentos é recíproco entre pais e filhos", e em seu art. 1.694 que "podem os parentes, os
cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitam para viver de
modo compatível com a sua condição social".

Porém, a obrigação alimentar decorrente do vínculo de


consanguinidade reclama plena comprovação da necessidade para quem solicita, além da
capacidade financeira de quem se obriga.

Com a maioridade, a presunção de necessidade alimentar, que antes se


estabelecia em favor dos filhos, inverte-se, passando eles a ter o ônus de demonstrar a sua
necessidade, bem como as possibilidades do alimentante, nos termos do disposto nos arts.
1.694 e 1.695, do CC (TJSC, Apelação cível n. 2005.011192-0).

A propósito:

"O advento da maioridade não extingue, de forma automática, o direito à percepção


de alimentos, mas esses deixam de ser devidos em face do Poder Familiar e passam a ter
fundamento nas relações de parentesco, em que se exige a prova da necessidade do
alimentado. (...)" (STJ. REsp n. 1.218.510/SP, rel. Mina. Nancy Andrighi, j. em 03-10-2011).

Pois bem.

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A autora argumenta que necessita voltar a receber alimentos do genitor, uma
vez que está impossibilitada de prover seu próprio sustento, em razão de ser portadora
de "Transtorno afetivo bipolar (CID 10 – F31), flutuando entre Transtorno afetivo bipolar,
episódio atual maníaco sem sintomas psicóticos (CID 10 - F31.1) e Transtorno afetivo
bipolar, episódio atual maníaco com sintomas psicóticos (CID 10 – F31.2)" ( Evento 1,
INIC1).

A única prova que trouxe aos autos para comprovar suas alegações é o laudo
médico juntado no Evento 1 (ATESTMED6), que atesta que a autora é portadora de
transtorno afetivo bipolar (CID 10 – F31) e que "não apresenta regularidade nas funções
sócio-laborais, necessitando de suporte para manter-se economicamente, visto
impossibilidade dos ciclos, apesar da medicação”.

Todavia, o que foi atestado no laudo não comprova a tese de impossibilidade


para o exercício de atividade remunerada, mas sim uma irregularidade nas funções sócio-
laborais, conforme ponderado pelo Ministério Público em sua manifestação no agravo de
instrumento n. 50241309120218240000, apenso a estes autos. Veja-se:

"(...) Ao ajuizar a demanda em análise, em 08/08/2021, agora com 32 anos de idade, a


Agravada argumentou a necessidade de voltar a receber alimentos do pai, aqui Agravante, em
razão de ser portadora de Transtorno afetivo bipolar (CID 10 F31), flutuando entre
Transtorno afetivo bipolar, episódio atual maníaco sem sintomas psicóticos (CID 10 - F31.1) e
Transtorno afetivo bipolar, episódio atual maníaco com sintomas psicóticos (CID 10 F31.2),
problemas mentais que segundo atestado médico que juntou a impossibilitaram de exercer
atividade laborativa.

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No entanto, ao analisar tal documento, que repousa no Evento 1.6 da origem, retira-se a
seguinte informação “[...] tal situação implica em grande insegurança para a paciente, visto
que a mesma não apresenta regularidade nas funções sócio-laborais, necessitando de suporte
para manter-se economicamente, visto impossibilidade dos ciclos, apesar da medicação.”.

Entende-se, por isso, que não foi comprovada a impossibilidade de a Agravada exercer
atividade remunerada, já que o próprio atestado médico que trouxe ao feito aponta uma
irregularidade, e não incapacidade do exercício de suas funções sóciolaborais.

Então, considerando que o referido atestado médico é a única prova trazida aos autos
relativamente à aventada impossibilidade de a Agravada em prover o seu próprio sustento, e
tendo em vista a ausência de similaridade do documento com a tese defendida pela Recorrida
para o pagamento da verba alimentar, crê-se seja impossível utilizá-lo como fundamento ao
deferimento do pedido liminar para fixação de alimentos provisórios em seu favor como fez o
juízo singular, já que ausente a probabilidade do direito invocado, na forma do art. 300 do
CPC, razão pela qual deve a interlocutória ser reformada nesse aspecto, com o indeferimento
da tutela provisória. (...)" (Evento 19 do agravo de instrumento n. 50241309120218240000)

Dessa maneira, não há nos autos prova que sustente a tese de que a parte
autora é incapaz para o trabalho ou que a moléstia que lhe aflige impede o seu sustento por
próprias forças.

Ainda, o laudo confeccionado pelo perito judicial confirma que a autora é


portadora de CID-10 F31.7: Transtorno afetivo bipolar, atualmente em remissão. Entretanto, a
enfermidade não é incapacitante ao trabalho, conforme se extrai das respostas do perito aos
quesitos do Ministério Público (Evento 176):

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"1) É o examinando portador de enfermidade incapacitante? Em caso afirmativo, qual a
espécie nosológica?

Possui enfermidade do tipo mental crônica, porém não se pode assumir que a mesma seja
incapacitante.

2) Quais os tratamentos a que o examinando deve ser submetido para melhorar?

Tratamento medicamentoso contínuo associado a psicoterapia e estilo de vida com prática de


atividade física e rotina estabelecida.

3) O examinado tem consciência de em quem pode confiar?

Sim.

4) Qual o limite e o alcance da autonomia pessoal do examinado?

Total.

5) Em caso de incapacidade, esta é irreversível? Não

6) Existem atos da vida civil aptos a serem exercidos pelo examinando? Sim.

7) Tem condições de gerir e acompanhar rendimentos? Especifique os atos que o examinando


pode exercer, tais como:

A) tem condições de votar? Sim.

B) tem condições de realizar empréstimos e transações bancárias ou financeiras? Sim.

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C) tem condições de administrar seus bens? Sim.

D) tem condições de trabalhar? Sim. "

Dessa maneira, da análise de todo o arcabouço probatório produzido, verifico


que os requisitos para o recebimento da verba alimentar em favor da demandante não estão
preenchidos, de modo que a improcedência do pedido é a medida que se impõe.

III - DISPOSITIVO

Diante do exposto, com fulcro no art. 487, inciso I, do Código de Processo


Civil, JULGO IMPROCEDENTE o pedido formulado por MARINA HORTÊNCIA
SEEMANN SEVERO em face de HELIO JOÃO SEVERO, e,
consequentemente, REVOGO a decisão liminar do Evento 10.

Condeno a parte autora ao pagamento das custas processuais e honorários


advocatícios, os quais fixo em 10% (dez por cento) do valor corrigido da causa,
permanecendo suspensa a exigibilidade da obrigação pelo prazo de 05 (cinco) anos, pois
mantenho os benefícios da justiça gratuita já deferidos.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Certificado o trânsito em julgado e cumpridas as formalidades legais, arquivem-


se os autos.

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11.419, de 19 de dezembro de 2006. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço
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Signatário (a): RUY FERNANDO FALK
Data e Hora: 14/9/2023, às 14:26:0

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