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Citopatologia Clínica

Técnica de coleta, preservação


e coloração de esfregaço
cervico-vaginal

Profa. Dra Mª Eduarda França

Aula 2
INTRODUÇÃO

Entre séculos XV e XVI


Era realizada observação dos órgãos do corpo, feita
principalmente às custas das atividades de necropsia

Fim do século XIX

Morfologia microscópica das alterações patológicas,


especialmente do câncer passou a ser objeto de investigações

Aula 2
INTRODUÇÃO

Início do século XIX

Microscópio composto ponto de partida essencial para


um estudo detalhado das células e tecidos

Várias publicações apresentavam


ilustrações sobre células vaginais

Aula 2
INTRODUÇÃO

Início do século XX
As descrições morfológicas dos tecidos humanos normais
estavam praticamente completas

Aula 2
CITOPATOLOGIA

Aula 2
CITOPATOLOGIA

Área da Patologia que estuda as doenças a partir de

observação ao microscópio de células obtidas através:

• Esfregaços

• Aspirações

• Raspados

• Centrifugação de líquidos

Aula 2
CITOPATOLOGIA

Estudo das células e suas alterações em casos patológicos

O exame citopatológico, " ginecológico preventivo”

Faz a avaliação morfológica das céls que é determinante para a


detecção pré-maligna

Aula 2
CITOPATOLOGIA

Permite:
• Analisar claramente o paciente
• Direcionar um tratamento específico
• Detecção precoce das lesões precursoras

Método rápido, custo, se realizado adequadamente e por


profissional treinado, é de grande confiabilidade

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VISÃO HISTÓRICA

George Papanicolaou (1883-1962)

• Nasceu em 13 de maio de 1883 na


Grécia

• Formou-se médico na Alemanha


• Em 1910 foi para EUA (terra das
oportunidades)

Aula 2
VISÃO HISTÓRICA

Dados publicados por diversos pesquisadores confirmaram que


o rastreamento citológico leva

incidência de câncer no colo uterino

Aula 2
Principais problemas apresentados pelo sistema de
detecção citológica do câncer cervical:

I) Técnicas de preparo dos esfregaços são falhas

Esfregaço inadequado pode levar a resultados falso-negativos

II) Técnicas de coloração, rastreamento e interpretação

Resultados falso-negativos podem gerar repercussões, deve

haver monitoramento dos métodos de coleta e interpretação

Aula 2
O sucesso desses programas está relacionado:

• Cobertura efetiva da população de risco

• Qualidade na coleta e interpretação do material

• Tratamento e acompanhamento adequado

Aula 2
CÂNCER DO COLO
DO ÚTERO

Aula 2
CÂNCER DO COLO DO ÚTERO

Câncer do colo do útero (cervical) é causado principalmente


pela infecção persistente por alguns tipos de HPV

A infecção genital pelo vírus pode provocar alterações


celulares que poderão evoluir para o câncer

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CÂNCER DO COLO DO ÚTERO

Detecção precoce  necessária, o CCU tem evolução lenta e

seu processo inclui lesões neoplásicas ou pré-neoplásicas,

podendo ser observadas no exame de Papanicolau

Aula 2
CÂNCER DO COLO DO ÚTERO

3o tumor mais frequente em mulheres

4a causa de morte de mulheres por câncer no Brasil

1990  70% dos casos diagnosticados eram da doença

invasiva

Atualmente  Cerca de 44% dos casos são de lesão in situ

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CÂNCER DO COLO DO ÚTERO

Diagnóstico precoce  chances de cura do câncer cervical


são de 100%

Evolução da doença  sintomas  sangramento vaginal,


corrimento e dor  prognóstico ???

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EXAME DE PAPANICOLAOU

Aula 2
1947
Ernest Ayre criou a espátula de madeira (espátula de Ayre)

Utilizada até hoje na coleta de material biológico para


realização do exame de Papanicolaou

Aula 2 Espátula de Ayre


EXAME DE PAPANICOLAOU

 Indicado para mulheres entre 25 e 64 anos que tem ou


já teve vida sexual

 Indolor, simples e rápido

 Pode causar pequeno desconforto que diminui se a


mulher conseguir relaxar e se o exame for realizado de
forma adequada

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ANTES DO INÍCIO DA COLETA

• Não estar menstruada (aguardar o 5º dia após o término)

• Não usar creme vaginal

• Não manter relações sexuais (24h antes da coleta)

• Deixar o fixador próximo a lâmina já identificada

Aula 2
ANTES DO INÍCIO DA COLETA

•Identificar a lâmina, na extremidade fosca com o lápis (não


utilizar canetas)

- nome
- idade
- data da última menstruação ou menopausa
- uso de medicações

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ANTES DO INÍCIO DA COLETA

Material para coleta:

• Par de luvas para procedimento

• Formulário de requisição do exame

• Lápis

• Máscara cirúrgica*

• Avental

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ANTES DO INÍCIO DA COLETA

Material para coleta:

Espéculo Lâmina com uma Espátula de Ayre


extremidade fosca

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ANTES DO INÍCIO DA COLETA

Material para coleta:

Escova cervical Fixador apropriado Recipiente para


acondicionamento
das lâminas

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COLETA DE MATERIAL PARA
PAPANICOLAOU

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COLETA DE MATERIAL PARA PAPANICOLAOU

1.Acolher a paciente, orientá-la sobre o exame e prepará-la


para a coleta

Descrever no prontuário se há lesões, secreção, verrugas

2.Preparar previamente todo o ambiente da sala de coleta e


todos os materiais necessários ao exame

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COLETA DE MATERIAL PARA PAPANICOLAOU

3. Posicionar a paciente deitada em posição ginecológica

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COLETA

Orifício

Aula 2
Aula 2
COLETA DE MATERIAL PARA PAPANICOLAOU

4. Introdução do espéculo e abertura do mesmo lentamente e


com delicadeza

5. Com as reentrâncias da espátula de Ayre, realiza-se a


coleta da ectocérvice. Sendo executado um raspado na junção
escamocolunar (JEC) através de movimento de rotação de 360º.

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COLETA DE MATERIAL PARA PAPANICOLAOU

Retira-se material do fundo de saco da vagina (extremidade


côncava)

Aula 2
COLETA DE MATERIAL PARA PAPANICOLAOU

6. A escova é inserida através do orifício cervical externo, para coletar material da


endocérvice

Sendo executada uma rotação completa no canal que pode ser finalizada com um
movimento de vai e vem, com cuidado para não traumatizar a mucosa, evitando
sangramento.

Aula 2
COLETA DE MATERIAL PARA PAPANICOLAOU

Aula 2
Colheita - Endocérvice

Aula 2 Ectocérvice (JEC) Endocérvice


COLETA

As céls são colhidas:

• Ectocérvice (abertura do colo)


• Fundo de saco posterior da vagina (fundo de saco vaginal)
• Endocérvice (interior do colo)

Colocadas em uma lâmina transparente de vidro, coradas e


levadas a exame ao microscópico

Aula 2
https://www.youtube.com/watch?time_continue=705&v=7v
WPRpkfh6A&feature=emb_logo

7’18

Aula 2
Dificuldade na coleta

 Há maior dificuldade na colheita das amostras em mulheres pós-


menopausadas devido ao dessecamento das mucosas pela diminuição
fisiológica das secreções glandulares.

 Esfregaço pode conter escassa celularidade e alterações degenerativas


concomitantes, devendo ser categorizada como insatisfatória para a
avaliação.

 Recomenda-se o uso vaginal de estrógenos conjugados ou estriol, com


repetição do exame citológico sete dias depois da interrupção do tratamento

Fornecendo geralmente amostra de boa


qualidade, com celularidade representativa
Aula 2
COLETA DE MATERIAL PARA PAPANICOLAOU

São comercializados diferentes tipos de escovas cervicais que

possibilitam a coleta das células que revestem o canal cervical

O uso das escovas a eficácia da detecção


das lesões situadas neste local

Aula 2
COLETA DE MATERIAL PARA PAPANICOLAOU

Cervex  composta de filamentos plásticos de tamanhos

variáveis permite coleta do canal endocervical e da

ectocérvice podendo substituir a utilização de escova +

espátula

Aula 2
Confecção dos Esfregaços Citológicos

ATENÇÃO:

Ambas as superfícies da espátula e todas as faces da escova

devem entrar em contato com a lâmina de vidro, tomando

cuidado pois movimentos circulares podem lesar as células

Aula 2
Confecção dos Esfregaços Citológicos

Aula 2
Confecção dos esfregaços citológicos

Aula 2
Aula 2
FIXAÇÃO DO ESFREGAÇO CITOLÓGICO

Fixação do material
Deve ser procedida imediatamente após a coleta do material

Mantém características originais das céls, impedindo-as de


dessecar

Dessecamento produz modificações morfológicas


e tintoriais das células

Aula 2
FIXAÇÃO DO MATERIAL

Fixador ideal: não pode ser tóxico, custo deve ser aceitável

Álcool é considerado o fixador ideal seja em forma líquida


(etanol 95%) ou aerossol (álcool isopropílico e glicol).

Aula 2
FIXAÇÃO DO MATERIAL

Álcool: desnatura as proteínas e ácidos nucleicos tornando-os

insolúveis e estáveis

Tempo de fixação: Mínimo 15 minutos


Máximo 2 semanas

Outros fixadores: isopropanol, propanol

Aula 2
FIXAÇÃO DO MATERIAL

Fixação com aerossol


O orifício de saída do fixador deve estar a 30 cm da superfície
da lâmina

Aula 2
FIXAÇÃO DO MATERIAL

Fixação com aerossol


Se aplicado muito próximo da lâmina, o jato pode deslocar e
danificar células criando artefatos dificultando a análise do
esfregaço

A distância superior a 30 cm pode prejudicar a fixação

Aula 2
Efeitos podem ser encontrados nas amostras dessecadas
(exposição prolongada no ar):

• Aspecto opacificado, turvo, dando a impressão de que a amostra está fora do


campo de visão;
• Aumento da eosinofilia citoplasmática;
• Aumento nuclear (de quatro a seis vezes maior ao verificado nas amostras
fixadas imediatamente) e perda dos detalhes da estrutura cromatínica.

Aula 2
Quando os esfregaços são fixados com Carbowax ou “cito-sprays”, devem ser
acondicionados em caixas de papelão assim que o material secar.

A exposição prolongada no ar ambiente aumenta o risco de contaminação por


fungos que estão presente no ar, como Aspergillus.
Aula 2
CITOLOGIA EM BASE-LÍQUIDA

Transferir todo o material celular coletado para


meio líquido (morfológicas e moleculares).

 Maior controle da fixação

Aula 2 Material para coleta da citologia em base-líquida


Esfregaços base líquida/convencionais

Aula 2
COLETA DE MATERIAL PARA PAPANICOLAOU

Concluindo o procedimento

 Fechar o espéculo e retirá-lo

 Auxiliar a paciente para descer da mesa

 Envio das lâminas ao laboratório

Aula 2
Coloração das Amostras Citológicas
 O método de coloração foi elaborado pelo próprio Papanicolaou;

 Consiste na aplicação de um corante nuclear, a hematoxilina, e dois corantes


citoplasmáticos, o Orange G6 e o EA (eosina, verde-luz ou verde-brilhante e
pardo de Bismarck).

Aula 2
Coloração das Amostras Citológicas

Núcleos: captam os elementos basófilos dos corantes

assumindo uma cor azul ou tom azulado. Hematoxilina

Citoplasma: pode assumir uma cor rosa (eosinofílico) ou azul

(cianofílico)

 O verde-brilhante cora o citoplasma em verde-azul das células escamosas


parabasais e intermediárias, células colunares e histiócitos.
 A eosina cora em rosa o citoplasma das células superficiais, mucina
endocervical e cílios.
 O Orange G6 cora as hemácias e as células queratinizadas em laranja-
Aula 2brilhante.
Aula 2
Aula 2
Montagem dos esfregaços citológicos

É fundamental que o procedimento de montagem seja rápido, imediatamente após a


remoção do esfregaço do xilol, impedindo a penetração de ar entre a lâmina e a lamínula
Aula 2
Falhas na montagem dos esfregaços citológicos

A,b - Pigmento acastanhado (setas) se sobrepondo às células epiteliais por falha na


montagem (evaporação do xilol antes da montagem e aprisionamento de ar entre a lâmina
e a lamínula);

c; d - Bolhas. Aparecimento de bolhas (setas) devido à demora no processo de montagem


comAula 2
aprisionamento do ar entre a lâmina e a lamínula.
LEITURA E INTERPRETAÇÃO

Aula 2
LEITURA E INTERPRETAÇÃO

O esfregaço contém

• Céls epiteliais descamadas do epitélio vaginal e cervical

• Muco, leucócito, macrófagos

•Raramente encontra-se células de origem endometrial,

tubária e ovariana

• Pode conter fungos, bactérias, parasitas e vírus

Aula 2
Avaliação microscópica das amostras citológicas

 Inicialmente, checar as iniciais do nome e sobrenome da paciente. Observar as


informações clínicas

 Verificar a qualidade da fixação e coloração, assim como a celularidade (quantidade


de células), a composição celular (tipos de células) e a sua distribuição. Esses
aspectos são considerados no item adequabilidade da amostra;

É importante observar que a ausência dos componentes da zona de transformação (células


glandulares
Aula 2 endocervicais e/ou metaplásicas escamosas), deve ser registrada
II. Interpretações ou Resultados

 Adequação do espécime

- Satisfatório

- Insatisfatório

 Negativo para lesão intraepitelial ou malignidade

-Outros: flora, agentes microbianos, etc.

 Anormalidades em células epiteliais

Aula 2 Solomon; Nayar, 2004


Classificação do Esfregaço quanto a sua Adequabilidade

• Satisfatória
A amostra que apresenta células em quantidade representativa (estimativa mínima de
aproximadamente 8.000-12.000 células escamosas) bem distribuídas, fixadas e
coradas, de tal modo que a sua visualização permita uma conclusão diagnóstica.

• Satisfatória, mas limitada para a avaliação


Falta de informações clínicas. Esfregaço obscurecido entre 50% a 75% de sua
totalidade por vários fatores, entre eles: esfregaço acentuadamente hemorrágico
devido ao trauma na colheita , acentuada sobreposição celular, esmagamento das
células por compressão excessiva durante a confecção do esfregaço, dessecação,
falhas na técnica de coloração. Escassez de células epiteliais no esfregaço ou a
sobreposição acentuada das células epiteliais por exsudato leucocitário.

• Insatisfatória
Esfregaço acelular ou obscurecido em mais de 75% da sua totalidade. Nessa situação o
exame deve ser repetido o mais breve possível, uma vez que o estudo oncológico foi
comprometido ou não foi possível, respectivamente.

Aula 2
Aula 2
Laudo Diagnóstico
 Avaliação inicial de todo o esfregaço, registrando o que foi
observado (Negativo para lesão intraepitelial ou malignidade;
microrganismos, anormalidades em células epiteliais)

 O diagnóstico citopatológico dos esfregaços cervicovaginais segue a


classificação do Sistema Bethesda

 Arquivo: As lâminas de exames citopatológicos (negativas ou positivas


para malignidade) devem ser mantidas em arquivo por cinco anos no
próprio laboratório
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EXAME DE PAPANICOLAOU

Se realizado de acordo com o padrão de qualidade,

abrangência de 80% ou mais da população e tratamento

adequado

Diminui incidência de 90% dos casos de câncer do colo do

utero
Aula 2
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mariaeduarda.rfranca@gmail.com

@prof.mariaeduarda

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