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PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 21ª REGIÃO
1ª VARA DO TRABALHO DE NATAL
ATOrd 0000993-30.2023.5.21.0001
RECLAMANTE: MARCELO MAIA SARAIVA
RECLAMADO: BANCO SANTANDER (BRASIL) S.A.

SENTENÇA

I - RELATÓRIO

MARCELO MAIA SARAIVA, qualificado, invoca a tutela


jurisdicional do Estado em face de BANCO SANTANDER (BRASIL) S.A., igualmente
qualificado, postulando, com fundamento nos fatos articulados em sua petição inicial, a
condenação do reclamado, conforme pedidos ali especificados. Atribui à causa o valor
de R$ 279.818,06.

Devidamente notificado, o reclamado apresentou defesa,


acompanhada de documentos.

Sobre os documentos juntados, a parte autora se manifestou.

À audiência de instrução foram ouvidas as partes e duas


testemunhas.

Sem outras provas, encerrou-se a instrução processual.

Razões finais oportunizadas.

Tentativas conciliatórias infrutíferas.

É, em síntese, o relatório.

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II - FUNDAMENTAÇÃO

NOTIFICAÇÃO EXCLUSIVA

Defiro o requerimento da reclamada principal de notificação


exclusiva em nome de seu advogado, qual seja, NELSON WILIANS FRATONI
RODRIGUES, inscrito na OAB/SP sob nº 128.341 e OAB/RJ136.118 (Suplementar), nos
termos da Súmula nº 427 do TST.

LIMITAÇÃO AO VALOR DA CAUSA

As principais finalidades da atribuição de valor à causa, nos


termos do art. 840 da CLT, em cotejo do disposto no art. 2º da Lei 5.584 /70, são a
definição da alçada e a determinação do rito a ser observado para a tramitação do
feito.

Logo, reveste-se de natureza diversa e finalidade distinta do


valor de condenação, este sim, resultante da estimativa aritmética das pretensões
acolhidas e que representa o verdadeiro proveito econômico obtido pela parte litigante.

A jurisprudência do c. TST é no sentido de que os valores


indicados pela parte na petição inicial não vinculam o magistrado, que poderá fixar os
devidos valores na liquidação de sentença.

Diante disso, não há falar em limitação da condenação ao valor


atribuído à causa.

PRESCRIÇÃO QUINQUENAL

O contrato de trabalho firmado entre o autor e o réu teve início


em 21/01/2019 e o ajuizamento da presente reclamação ocorreu em 11/12/2023.

Sendo assim, inexiste prescrição quinquenal a ser pronunciada.

SISTEMA DE REMUNERAÇÃO VARIÁVEL E PROGRAMA PRÓPRIO


ESPECÍFICO - DIFERENÇAS E REFLEXOS

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A parte autora afirma que vendia produtos e serviços do banco
reclamado, recebendo, em contraprestação, comissões/prêmios pagos mensal e
semestralmente.

Sustenta que as comissões correspondentes às suas vendas não


foram adimplidas corretamente e muitas sequer foram pagas, pois o reclamado deixou
de considerar a totalidade das vendas realizadas para a apuração da sua total
produtividade.

Informa que os contratos em situação de inadimplência eram


abatidos do montante de sua produção, impactando em sua variável.

Assevera que o reclamado habitualmente majorava as metas


estabelecidas no início de cada mês, fazendo com que estas não coincidissem com os
números finais e impossibilitando a percepção da totalidade das comissões a que faria
jus.

Argumenta que o reclamado criou ainda critérios subjetivos


como o AQO (Avaliação da Qualidade Operacional) para o pagamento das comissões
/prêmios.

Diz que a remuneração variável dependia do valor orçado


atribuído para o período de apuração, sendo que a divulgação daquele, que deveria
ocorrer no início do semestre sempre atrasava, deixando o empregado sem um
balizador para autoavaliar a sua produção e estimar a remuneração variável a que faria
jus ao final do semestre.

Em virtude desses procedimentos do reclamado, alega que


deixou de receber a SRV ou somente a recebeu de forma parcial.

Postula o pagamento das comissões/prêmios não quitados ao


longo do contrato de trabalho em importe médio mensal de R$ 1.500,00 quanto às
comissões que compõem o SRV e semestral de R$ 6.000,00 em relação ao Programa
Próprio Específico - PPE.

Requer a integração das comissões/prêmios (SRV e PPE) na base


de cálculo do descanso semanal remunerado para com este os refletirem em férias + 1
/3, 13º salário, horas extras (inclusive intervalares), FGTS e PLR.

O reclamado alega que existem dois tipos de remuneração


variável para o cargo ocupado pelo reclamante, quais sejam, Sistema de Remuneração
Variável - SRV e Programa Próprio Específico – PPE.

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Aduz que ambas levam em conta a produtividade do
empregado, sendo regulamentadas conforme cartilha própria.

Afirma que a RV é apurada e paga mensalmente dois meses


após a apuração, bem como que o PPE é apurado bimestral, trimestral ou
semestralmente e pago uma vez ao ano.

Esclarece que as metas e resultados que compõem a produção


do empregado a ser considerada para o pagamento da remuneração variável constam
do Extrato Mais Certo, acessível aos empregados.

Afirma que o PPE se trata de complementação da PLR, não se


tratando de parcela de natureza salarial, conforme acordos coletivos de trabalho.

Refuta as pretensões autorais consoante demais argumentos


lançados na contestação.

Embora a parte autora tenha impugnado os documentos


acostados aos autos, não logrou êxito em desconstituí-los, tampouco, em apontar
especificamente sequer um mês em que recebera valor inferior ao efetivamente devido
a título de SRV e de PPE.

Da prova oral colhida, infere-se que havia acesso ao extrato


onde constavam a projeção das metas e o potencial de ganho, bem como a existência
de canal de atendimento onde o empregado poderia comunicar eventual equívoco na
apuração da remuneração variável.

Não se observa, pois, nenhum desvirtuamento à natureza da


remuneração variável paga pelo reclamado, a qual oscilava de acordo com a produção
e o alcance das metas.

Denota-se ainda da prova oral que o valor indicado no


"simulador" se tratava de um parâmetro norteador, não significando que o empregado
receberia exatamente aquele. Isso porque, em se tratando de remuneração variável,
natural que diversos fatores previstos nos normativos do reclamado fossem
considerados nos cálculos da parcela final recebida pelo empregado.

Nesse contexto, verifica-se no Programa Mais Certo o


estabelecimento de aceleradores, mas também de redutores que poderiam impactar
na apuração na verba em comento, inclusive, levando ao não recebimento da parcela.

Não se constata, assim, a ocorrência de alteração contratual


lesiva, tampouco, ofensa à boa-fé objetiva, pois, os critérios de apuração da SRV e do
PPE encontram-se definidos nas cartilhas de amplo acesso a todos os empregados.

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Vê-se que o reclamado trouxe aos autos os extratos do
Programa Mais Certo do reclamante relativo ao período contratual, sendo que
naqueles constam os indicadores e as respectivas referências de pontuação para o
cálculo da SRV e do PPE.

Entretanto, como já dito, o reclamante não se manifestou


pormenorizadamente sobre a documentação. Não fez o cotejo de um mês sequer
entre o extrato do SRV e os valores que recebeu sob esta rubrica, conforme ficha
financeira.

A não demonstração do efetivo prejuízo a partir da análise da


documentação juntada pela empresa aliada aos argumentos acima expostos
conduzem o Juízo ao indeferimento do pedido de diferenças de remuneração variável e
de PPE.

INTEGRAÇÃO DAS COMISSÕES/PRÊMIOS EM DSR E OUTRAS


PARCELAS

O reclamante requer a integração das comissões/prêmios sobre


os repousos semanais remunerados (incluindo sábados, domingos e feriados - cláusula
8ª, § 1º das CCT´s dos bancários e Súmula 27 do c. TST), e, após, os reflexos em férias,
gratificações natalinas, nas horas extras, na PLR e no FGTS. Sem razão.

Entretanto, as parcelas sob análise baseiam-se na produtividade


do empregado e, nesse sentido, não repercutem sobre repouso semanal remunerado,
consoante o disposto na Súmula 225 do TST.

Dos contracheques acostados, observa-se que a parcela SRV era


computada na remuneração do autor como base de INSS e FGTS, por exemplo.

Ademais, o parágrafo primeiro da cláusula oitava da CCT, assim


dispõe: “O cálculo do valor da hora extra será feito tomando-se por base o somatório
de todas as verbas salariais fixas, entre outras, ordenado, adicional por tempo de
serviço, gratificação de caixa e gratificação de compensador”.

A norma coletiva referente à PLR igualmente prevê regra que


inclui apenas o salário base e verbas fixas de natureza salarial no cálculo daquela
parcela.

Portanto, tratando-se de parcelas variáveis, ou seja, não fixas, de


acordo com a norma coletiva, não devem integrar a base de cálculo das horas extras,
nem da PLR.

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Quanto à comissão capitalização, esta somente foi paga uma
vez, não se verificando o critério da habitualidade necessário para justificar a
repercussão sobre outras parcelas. A comissão seguros sequer foi paga ao autor ao
longo do contrato, consoante se denota das fichas financeiras acostadas.

Sendo assim, por qualquer ângulo que se analise o pleito


autoral, não há outra solução que não a sua improcedência.

LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ

A reclamada sustenta ser o autor litigante de má-fé.

Sem razão.

O procedimento adotado pelo autor no decorrer do processo


não evidencia a prática de quaisquer das condutas elencadas no art. 80 do CPC/2015,
tampouco ofensa ao art. 5º do mesmo diploma legal, não havendo falar, portanto, em
litigância de má-fé.

Esclareço que a mera formalização de pedidos sem a devida


comprovação da tese não tem o condão de evidenciar o propósito de distorcer a
verdade dos fatos. Da mesma forma, não verifico a existência de pretensão deduzida
contra texto expresso de lei ou fato incontroverso.

Diante do exposto, indefiro o requerimento.

JUSTIÇA GRATUITA

Preenchidos os requisitos do art. 790, § 3º, CLT, defiro o


requerimento de justiça gratuita. De acordo com o referido dispositivo, observada a
nova redação vigente quando do ajuizamento da presente ação, terá direito ao
benefício aquele que perceber salário igual ou inferior a 40% (quarenta por cento) do
limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social.

HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA

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Em conformidade com o art. 791-A da CLT, condeno a parte
autora ao pagamento de honorários advocatícios sucumbenciais no percentual de 5%
sobre o valor da causa. Registro que na fixação deste percentual foram observados os
requisitos contidos no § 2º do art. 791-A da CLT.

Uma vez preenchidos os requisitos do art. 790, § 3º, CLT, foram


deferidos os benefícios da justiça gratuita.

Por conseguinte, sendo a parte autora beneficiária da justiça


gratuita e não tendo obtido em juízo créditos capazes de suportar a despesa, os
honorários decorrentes de sua sucumbência “ficarão sob condição suspensiva de
exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos dois anos subsequentes ao
trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de
existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade,
extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário” – art. 791-A, § 4º,
CLT.

III - CONCLUSÃO

Ante o exposto, rejeito a preliminar e a prejudicial suscitadas; no


mérito, julgo IMPROCEDENTE o pedido deduzido por MARCELO MAIA SARAIVA em face
de BANCO SANTANDER (BRASIL) S.A., conforme fundamentação que integra este
dispositivo para todos os efeitos legais.

Concedo os benefícios da justiça gratuita à parte autora.

Sendo a parte autora beneficiária da justiça gratuita e não tendo


obtido em juízo créditos capazes de suportar a despesa, os honorários decorrentes de
sua sucumbência “ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão
ser executadas se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que
as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de
recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo,
tais obrigações do beneficiário” – art. 791-A, § 4º, CLT.

Para os fins do art. 489, § 1º, do novel CPC, reputo que os


demais argumentos invocados pelas partes nos autos não possuem a potencialidade
de infirmar a conclusão adotada na fundamentação deste julgado.

Custas pelo reclamante no percentual de 2% sobre o valor da


causa, dispensadas ante a gratuidade judicial concedida.

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Após o trânsito em julgado, arquivem-se os autos.

Intimem-se as partes.

NATAL/RN, 12 de abril de 2024.

ILINA MARIA JUREMA MARACAJA COUTINHO DE SA


Juíza do Trabalho Substituta

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https://pje.trt21.jus.br/pjekz/validacao/24022709465827100000019276838?instancia=1
Número do processo: 0000993-30.2023.5.21.0001
Número do documento: 24022709465827100000019276838

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