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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 20ª Região

Ação Trabalhista - Rito Ordinário


0000626-04.2021.5.20.0001

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 28/07/2021


Valor da causa: R$ 411.752,47

Partes:
RECLAMANTE: ADRIANO FERREIRA DA SILVA
ADVOGADO: Clodoaldo Andrade Júnior
RECLAMADO: DISTRIBUIDORA COUBER LTDA
ADVOGADO: PATRICK DIEGO DIAS DA SILVA CAVALCANTE COUTINHO
TERCEIRO INTERESSADO: UNIÃO FEDERAL (PGF)
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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 20ª REGIÃO
1ª VARA DO TRABALHO DE ARACAJU
ATOrd 0000626-04.2021.5.20.0001
RECLAMANTE: ADRIANO FERREIRA DA SILVA
RECLAMADO: DISTRIBUIDORA COUBER LTDA

DECISÃO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

I – RELATÓRIO

ADRIANO FERREIRA DA SILVA, DISTRIBUIDORA COUBER LTDA. e


UNIÃO, nos autos da ação trabalhista em epígrafe, opuseram os presentes EMBARGOS
DE DECLARAÇÃO, nos termos dos petitórios anexados ao feito, que foram tempestivos
e que se encontram em ordem para julgamento.

É o relatório.

II – FUNDAMENTAÇÃO

A) DOS EMBARGOS DO RECLAMANTE

DA OMISSÃO POR AUSÊNCIA DE MANIFESTAÇÃO JURISDICIONAL


A RESPEITO DO PEDIDO DE ITEM 13.5 (VERBAS SALARIAIS NA BASE DE CÁLCULO)

O Reclamante aduz que há omissão na sentença com relação ao


pedido de 13.5, adiante transcrito:

“14.5 – Requer que todas as verbas salariais


pagas no contracheque sejam utilizadas como base de cálculo das
demais verbas pleiteadas nesta ação, e que eventuais diferenças
das verbas pagas nos contracheques, oriundas das verbas aqui

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deferidas, também sejam objeto de condenação e cálculo quando


da liquidação, respeitando-se os percentuais legais, normativos ou
contratuais pagos para cômputo de todos os direitos adiante
perseguidos;”

O que embargante pretende? Que o Juízo declare que “todas as


verbas salariais” compõem a base de cálculo das diferenças salariais deferidas? Das
horas extras deferidas?

O Juízo fixou o valor das diferenças das comissões devidas ao


reclamante em conformidade com os valores apontados pelo autor em seu
depoimento (média R$ 750,00) 

E, no tocante às horas extras, é uma platitude dizer que “verba


salarial” integra a sua base de cálculo. Ainda assim, este juízo foi expresso quando fez
constar na sentença o seguinte: “Para o cálculo dos valores devidos ao reclamante
deverá ser considerada na base de cálculo todas as parcelas de natureza salarial pagas.”

O reclamante não pediu que o Juízo se manifestasse sobre a


natureza jurídica de uma verba específica que transitou pelo contracheque. 

Não diviso omissão, aqui.

DA OMISSÃO QUANTO AO DIREITO AO RECEBIMENTO DO RSR


EM DOBRO QUANDO HOUVE TRABALHO POR MAIS DE 7 DIAS CONSECUTIVOS (OJ 410)

Aduz, o embargante que este Juízo, quedou-se omisso quanto


ao direito ao recebimento do RSR em dobro quando houve trabalho por mais de 7 dias
consecutivos (OJ 410).

Sem razão.

O pedido foi julgado improcedente, como se percebe da leitura


do capítulo destinado à jornada, vejamos:

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“Por fim, no que diz respeito às dobras, não


demonstrando, o reclamante, de forma suasória, que laborou em
dias que seriam destinados ao descanso, ou seja, em feriados e
sem repouso semanal remunerado, INDEFIRO os pleitos relativos
às dobras, bem como os reflexos.

Observe-se nos controles de frequência não


há qualquer informação de que não havia folga semanal ou
trabalho em feriados civis e religiosos previstos em lei.” 

Só para que não pairem dúvidas, é de bom alvitre deixar


registrado que o autor, na réplica, foi incapaz de indicar os dias de labor por mais de
sete dias consecutivos, razão pela qual não prospera o direito invocado pelo autor,
conforme já decidido por este Juízo na sentença embargada. 

Nada a reparar, portanto.

DA CONTRADIÇÃO – HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS 

O embargante interpôs embargos de declaração alegando


contradição na sentença ora embargada, posto que por um lado ressaltou a
inconstitucionalidade da condenação do beneficiário da justiça gratuita ao pagamento
de honorários advocatícios sucumbenciais, por outro lado, condenou o reclamante ao
adimplemento da referida verba.

Sem razão.

Inicialmente, cumpre evidenciar que a contradição ensejadora


dos embargos é aquela existente internamente, entre a fundamentação e a conclusão
do julgado, e não o descontentamento da parte com o desfecho do julgado ou entre os
fundamentos da decisão e artigos de lei.

Sabe-se que o recurso manejado é um instrumento processual


de fundamentação vinculada e, assim sendo, para o seu cabimento é imprescindível a
demonstração que a decisão embargada se mostrou obscura, contraditória, omissa ou
que nela tenha havido erro material.

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Deve-se ter em mente que os embargos aclaratórios não devem


ser agitados como uma espécie de “pedido de reconsideração” ou mesmo de
“reanálise” do que foi decido pelo Juízo. Para sua oposição, a parte deve cumprir
estritamente os requisitos impostos em lei, o que não inclui irresignações relacionadas
ao entendimento contrário deste juízo ao manejado pela embargante em seus
empachos. Não se prestam, portanto, sob a invocação de omissão, contradição ou
obscuridade, à reanálise de questão já decidida sobre a qual especificamente já se
tenha manifestado, sem qualquer vício, o Órgão Julgador.

Nota-se que toda argumentação da embargante é fruto do seu


inconformismo com as razões de decidir deste Juízo, cuja intenção é a reanálise da
matéria atacada. 

No caso, este juízo foi claro nas suas razões de decidir, vejamos:

“ Ainda, tendo o reclamante sido


sucumbente no pedido de pagamento das dobras pelo labor em
domingos e feriados civis e religiosos previstos em lei, fica o
mesmo condenado a pagar 5% do valor dos pleitos julgados
improcedentes, aos patronos da reclamada, no valor arbitrado de
R$ 1.231,28.

Todavia, declarada a inconstitucionalidade


da expressão “desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em
outro processo, créditos capazes de suportar a despesa”, contido
nodo art. 791-A, § 4º, da CLT, (ADI 5766 - STF, julgamento
20.10.2021), e não possuindo a autora condições de arcar com os
custos da demanda, deverão os patronos da ré demonstrarem, em
ação autônoma, a capacidade de pagamento da autora, dos
honorários advocatícios no prazo de dois anos após o trânsito em
julgado da decisão. Caso não haja capacidade para pagamento no
prazo legal, ficará extinta a obrigação, consoante o disposto na
verba acima mencionada”

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Com efeito, segundo o STF, se vencido o beneficiário da justiça


gratuita, é inconstitucional afastar, ipso facto, a presunção de insuficiência de recursos
tão somente pela obtenção da parte em juízo, ainda que em outro processo, de
créditos capazes de suportar a despesa.

Porém, a obrigação da parte sucumbente permanece sob


condição suspensiva de exigibilidade e poderá ser executada se, em até dois anos,
contados do trânsito em julgado da decisão que certificou o crédito, o credor dos
honorários advocatícios sucumbenciais (advogado) demonstrar — sendo um ônus seu,
do qual deve desincumbir-se cabalmente — que deixou de existir a situação de
insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade.

Caso não exista essa prova — de que a situação de insuficiência


de recursos deixou de existir —, dentro do prazo de dois anos assinalado acima, aí sim,
a obrigação da parte beneficiária da justiça gratuita em pagar os honorários
advocatícios sucumbenciais é extinta, de forma definitiva.

Recentemente, o TST, ao reconhecer expressamente a


transcendência jurídica da questão controversa — ou seja, a existência de questão
nova em torno da interpretação da legislação trabalhista (artigo 896-A, §1º, IV, da CLT)
—, publicou acórdão, de forma didática, neste exato sentido, ipsis litteris:

“RECURSO DE REVISTA. REGÊNCIA DA LEI Nº


13.467/2017. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. HONORÁRIOS
PERICIAIS. JUSTIÇA GRATUITA. ARTIGOS 791-A, §4º, E 790-B DA CLT.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº 5. 766/DF.
TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA. 

1. Este Relator vinha entendendo pela


inconstitucionalidade integral dos dispositivos relativos à cobrança
de honorários advocatícios do beneficiário da gratuidade judiciária,
com base na certidão de julgamento da ADI 5.766/DF, julgada em
20/10/2021 

2. Contudo, advinda a publicação do acórdão


, em 03/05/2022, restou claro que o Supremo Tribunal Federal, no
julgamento da referida ação, declarou a inconstitucionalidade do
trecho 'desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em outro

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processo' do artigo 791-A, §4º, e do trecho 'ainda que beneficiária


da justiça gratuita', constante do caput do artigo  790-B, e da
integralidade do §4º do mesmo dispositivo, todos da CLT

3. Em sede de embargos de declaração o


Supremo Tribunal Federal reafirmou a extensão da declaração de
inconstitucionalidade desses dispositivos, nos termos em que
fixada no acórdão embargado, em razão da existência de
congruência com o pedido formulado pelo Procurador-Geral da
República

4. A inteligência do precedente firmado pelo


Supremo Tribunal Federal não autoriza a exclusão da possibilidade
de que, na Justiça do Trabalho, com o advento da Lei nº 13.467/17,
o beneficiário da justiça gratuita tenha obrigações decorrentes da
sucumbência que restem sob condição suspensiva de exigibilidade
; o que o Supremo Tribunal Federal reputou inconstitucional foi a
presunção legal, iure et de iure, de que a obtenção de créditos na
mesma ou em outra ação, por si só, exclua a condição de
hipossuficiente do devedor.

5. Vedada , pois, é a compensação


automática insculpida na redação original dos dispositivos;
prevalece, contudo, a possibilidade de que, no prazo de suspensão
de exigibilidade, o credor demonstre a alteração do estado de
insuficiência de recursos do devedor, por qualquer meio lícito,
circunstância que autorizará a execução das obrigações
decorrentes da sucumbência.

6. Assim, os honorários de advogado


sucumbenciais devidos pela parte reclamante ficam sob condição
suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executados se,
nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que
os certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação
de insuficiência de recursos do devedor, que, contudo, não poderá
decorrer da mera obtenção de outros créditos na presente ação ou
em outras. Passado esse prazo, extingue-se essa obrigação do
beneficiário.

7. Em relação aos honorários periciais, a seu


turno, a supressão resulta em que a União arque com a obrigação,
quando sucumbente o beneficiário da justiça gratuita, não mais se
cogitando do aproveitamento de créditos. 8. A Corte de origem, ao

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aplicar a literalidade dos artigos 791-A, § 4º, e 791-B, da CLT,


decidiu em desconformidade com o entendimento firmado pelo
Supremo Tribunal Federal. Recurso de revista conhecido e
parcialmente provido.” (TST-RR-97-59.2021.5.12.0016, 3ª Turma,
relator ministro Alberto Bastos Balazeiro, DEJT 24/06/2022.) (grifo
nosso)

Sendo assim, ausentes os requisitos que ensejam a oposição


dos embargos declaratórios, não merecem vingar estes opostos pela parte Reclamante,
razão pela qual NÃO ACOLHO a insurgência em apreço.

DO TERMO INICIAL DA APURAÇÃO DAS PARCELAS DEFERIDAS

Argumenta, o reclamante, que a prescrição deve ser contada a


partir do dia em que a parcela pode ser exigida e que a Contadoria não observou tal
comando ao proceder com os cálculos, pois as verbas deferidas foram apuradas de
forma proporcionalizada no mês julho/2016, sendo que o correto é apurar de forma
integral, vez que os créditos só se tornaram exigíveis após o 5º dia útil do mês seguinte.
Em face disto, requer que seja determinada a apuração das parcelas referentes a julho
/2016 na sua integralidade, porquanto tornaram-se exigíveis somente após o 5º útil do
mês subsequente ao da prestação dos serviços.

Ao exame.

Quanto à controvérsia relativa à delimitação do marco inicial da


prescrição quinquenal em relação às verbas salariais, não assisti razão ao embargante,
pois não houve omissão do Juízo, vez que houve a declaração do marco prescricional
sem ressalva, razão pela qual procedeu com acerto a contadoria ao apurar as verbas
de forma proporcional em julho de 2016. 

Lado outro, inova, o embargante, em sede recursal, pois,


quando da manifestação sobre a defesa e os documentos, nada mencionou acerca do
tema. 

Acaso tenha alguma razão, será típico erro no julgamento, o


qual não pode ser apreciado por meio de embargos declaratórios, haja vista que não
se prestam a corrigir error in judicando. Portanto, deve o embargante valer-se de
remédio processual próprio, isto é, do recurso ordinário.

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Nada a reparar.

DA OMISSÃO QUANTO A REPERCUSSÃO DO RSR DECORRENTE


DAS COMISSÕES DEVIDAS EM VERBAS RESCISÓRIAS

Sustenta, o reclamante, que este Juízo não se manifestou acerca


do pedido de repercussão do RSR decorrente das comissões devidas em aviso prévio,
saldo de salário, férias com 1/3 e 13° salários.

Ao exame.

Este juízo foi expresso a deferir os reflexos das diferenças de


comissões sobre o RSR, vejamos:

“Defiro, ainda, o reflexo das comissões no


aviso prévio; saldo de salário; férias acrescidas do terço
constitucional e gratificação natalina proporcional; RSR; FGTS e
multa de 40%. Quanto à exação, esta deverá incidir, inclusive, na
diferença das verbas resilitórias”. (destaque nosso)

Também, este juízo, fez constar na sentença embargada o


seguinte:

“3.5– DO REFLEXO DO RSR

Cancelada a OJ 394 da SBDI- 1, do C. TST,


defiro o reflexo do RSR decorrentes das horas extras e intervalo
(até 10.11.2017), sobre o FGTS e multa de40%, devendo ainda ser
considerado para o cálculo do aviso prévio; férias acrescidas do
terço constitucional, saldo de salário e gratificações natalinas.”

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No entanto, não se manifestou de forma expressa quanto ao


pleito para que os reflexos das diferenças de comissões em RSR integralizem a base de
cálculo das férias mais 1/3, 13º salário, aviso prévio e saldo de salário, razão pela qual
passo a colmatar a sentença, nos seguintes termos:

Integrando o RSR à remuneração do empregado, uma vez


majorada tal parcela, em razão do deferimento de diferenças de comissões, incidem
reflexos do RSR majorado no cálculo de férias + 1/3, 13º salário, saldo de salário e aviso
prévio, conforme postulado pelo autor.

Desta forma, ACOLHO a insurgência em apreço, para


DETERMINAR que a contadoria proceda com o refazimento dos cálculos, observando os
termos da presente decisão.

DA BASE DE CÁLCULO DO ADICIONAL DE PERICULOSIDADE

Sustenta, o embargante, que as contas de liquidação foram


contraditórias em relação ao comando diretivo, vez que deixou de incluir na base de
cálculo do adicional deferido as diferenças de comissões, bem como do RSR sobre
comissões pagas e RSR sobre as diferenças de comissões.

Ao exame.

Este juízo acerca do tema assim se manifestou:

“Quanto à base de cálculo, nos termos do


disposto no artigo 193 e súmula 191 do C. TST, o adicional deverá
incidir somente sobre o salário básico, e não sobre este acrescido
de outros adicionais.”

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Ocorre que, conforme restou provado e decidido por este Juízo,


o autor recebia como forma de salário, o salário contratual mais a parte variável
atinente às comissões recebidas. 

Nesse toar, com razão o reclamante, na medida em que as


comissões recebidas fazem parte do seu salário básico, devendo incidir na base de
cálculo do adicional de periculosidade.

No mesmo sentido, segue o TST:

RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA


VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017. ADICIONAL DE PERICULSIDADE.
BASE DE CÁLCULO. INTEGRAÇÃO DAS COMISSÕES.
TRANSCENDÊNCIA RECONHECIDA. Considerando a possibilidade
de a decisão contrariar entendimento jurisprudencial desta Corte,
verifica-se a transcendência política, nos termos do artigo 896-A, §
1º, II, da CLT. ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. BASE DE CÁLCULO.
INTEGRAÇÃO DAS COMISSÕES. PROVIMENTO. Cinge-se o debate
em saber se as comissões integram ou não a base do cálculo do
adicional de periculosidade. Acerca da questão, a jurisprudência
desta Corte firmou entendimento de que o adicional de
periculosidade incide apenas sobre o salário básico, sem o
acréscimo de outros adicionais, conforme consubstanciado na
Súmula nº 191. O § 1º do artigo 193 da CLT dispõe que o
empregado que trabalha em condições perigosas tem o direito de
receber adicional de 30% sobre o salário, sem os acréscimos
resultantes de gratificações, prêmios ou de participações nos
lucros da empresa. Considerando que as comissões pagas pelo
empregador integram o salário, nos termos do § 1º do artigo 457
da CLT, tem-se que deve integrar a base de cálculo do adicional de
periculosidade, cabendo destacar que as comissões não se
inserem em nenhuma das hipóteses excludentes previstas na
Súmula nº 191 e no § 1º do artigo 193. Precedentes. Nesse
contexto, a decisão do Tribunal Regional que determinou a
exclusão do pagamento do adicional de periculosidade sobre as
comissões recebidas, contraria o entendimento desta Corte e viola
o disposto no artigo 193, § 1º, da CLT. Recurso de revista de que se

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conhece e a que se dá provimento. (TST - RR: 5179320175100102,


Relator: Guilherme Augusto Caputo Bastos, Data de Julgamento: 15
/09/2021, 4ª Turma, Data de Publicação: 17/09/2021)

Sendo assim, considerando que as comissões pagas não se


inserem em nenhuma das hipóteses excludentes previstas na súmula 191 do TST e no
§1º do art. 193 da CLT, a base de cálculo do adicional de periculosidade deferido deverá
ser composta não apenas pela parte fixa do salário do empregado, mas também pela
parte variável (comissões) auferida.

Desta forma, ACOLHO a insurgência em apreço, para


DETERMINAR que a Contadoria proceda com a retificação da base de cálculo do
adicional de periculosidade, nos moldes requerido pelo autor.

DA BASE DE CÁLCULO DAS HORAS EXTRAS E INTERVALO


INTRAJORNADA.

Sustenta, o autor, que a decisão embargada restou omissa


quanto ao pedido de inclusão das “Diferenças de Comissão”, “RSRF Face Comissões” e
“Adicional de Periculosidade” na base de cálculos das horas extras, inclusive das
intervalares.

Sem razão.

Da análise da planilha de cálculo, observa-se que a base


utilizada para o cálculo das horas extras e das horas decorrentes da supressão
intervalar foi composta de: comissão, diferença de comissão, RSR sobre comissão,
triênio pago e adicional de periculosidade, conforme demonstrou a contadoria no
parecer de id. bcd2107.

Nada a reparar.

B) DOS EMBARGOS DA RECLAMADA

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DOS EQUÍVOCOS CONTIDOS NOS CÁLCULOS DE LIQUIDAÇÃO –


EMPREGADO COMISSIONISTA MISTO – INOBSERVÂNCIA DA OJ Nº 397 DO C. TST – DO
ERRO MATERIAL – UTILIZAÇÃO DE DIVISOR EQUIVOCADO NA APURAÇÃO DAS HORAS
EXTRAS 

Alega a reclamada que o cálculo das horas extras padece de


vício, pois a Contadoria do juízo deveria ter calculado apenas o adicional de horas
extras em relação à parte variável da remuneração, nos termos da OJ 397 do TST.

Argumenta, ainda, que o setor contábil do juízo utilizou como


divisor o fator “220”, quando deveria ter utilizado o total de horas trabalhadas, a partir
da jornada fixada, na forma da parte final da OJ nº 397 da SDI-1 do TST.

Não há erro de cálculo, na medida em que a contadoria deu o


exato cumprimento ao quanto decidido na Sentença, da qual extraio o seguinte excerto
esclarecedor: 

“Dos valores devidos ao reclamante deverão


ser deduzidos aqueles já pagos sob idêntica titulação, nos moldes
do disposto na OJ 415 da SDI-1, do TST. Ainda, deverá ser
observado o disposto na OJ 397 da SDI-1 do TST, não havendo falar-
se em observância do disposto na súmula 340 do TST, eis que o
reclamante não era comissionista puro.” (destaque ausente no
original)

Nego provimento.

C) DOS EMBARGOS DA UNIÃO

A União requer a complementação do julgado, para suprir


omissão de questão de ordem pública sobre a qual o Juízo devia se pronunciar de
ofício, determinando-se o recálculo das contribuições previdenciárias que integram a

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sentença, nos moldes preconizados pelos itens III, IV e V da Súmula nº 368 do TST,
procedendo-se à apuração pelo regime de competência, com juros de mora pela taxa
SELIC para os serviços prestados a partir de 5/3/2009.

Ao exame.

Na apuração dos valores devidos a título de contribuições


previdenciárias, em caso de Ações Trabalhistas, deve ser utilizado o regime de
competência, considerando-se, assim, como base de cálculo, os valores devidos em
cada mês que se deu a prestação de serviços, momento em que as obrigações
trabalhistas deveriam ter sido satisfeitas, aplicando-se as alíquotas previstas no artigo
198, do Decreto n. 3.048/99, observando-se, ainda, e na forma da Lei, o limite máximo
do salário de contribuição.

Sobre o tema, cabe aqui destacar a Súmula 368, item III, do C.


TST, que assim dispõe:

“DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS E FISCAIS.


COMPETÊNCIA. RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO. FORMA
DE CÁLCULO. 

I - Omissis

II – Omissis

III - Em se tratando de descontos


previdenciários, o critério de apuração encontra-se disciplinado no
art. 276, § 4º, do Decreto nº 3.048/99, que regulamenta a Lei nº
8.212/91 e determina que a contribuição do empregado, no caso
de ações trabalhistas, seja calculada mês a mês, aplicando-se as
alíquotas previstas no art. 198, observado o limite máximo do
salário de contribuição.”

Já no tocante à correção monetária, deverão ser utilizados os


índices previstos na Legislação Trabalhista. No entanto, considerando a nova redação
da Lei n. 8.212/91, estabelecida pela Lei n. 11.941/2009, tem-se que os recolhimentos

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dos valores devidos à Seguridade Social deverão ser efetuados no mesmo em que
devam ser pagos os créditos encontrados em liquidação de sentença. Nestes termos, o
artigo 43, § 3º, da citada Lei n. 8.212/91:

“As contribuições sociais serão apuradas


mês a mês, com referência ao período da prestação de serviços,
mediante a aplicação de alíquotas, limites máximos do salário-de-
contribuição e acréscimos legais moratórios vigentes relativamente
a cada uma das competências abrangidas, devendo o
recolhimento ser efetuado no mesmo prazo em que devam ser
pagos os créditos encontrados em liquidação de sentença ou em
acordo homologado, sendo que nesse último caso o recolhimento
será feito em tantas parcelas quantas as previstas no acordo, nas
mesmas datas em que sejam exigíveis e proporcionalmente a cada
uma delas. (Redação dada ao parágrafo pela Lei nº 11.941, de
27.05.2009, DOU 28.05.2009, conversão da Medida Provisória nº
449, de 03.12.2008, DOU 04.12.2008).” (destaquei)

Considerando, ainda, o novel texto do artigo 35, da Lei n. 8.212


/91, com a redação conferida pela Lei n. 11.941, de 27/05/2009, vê-se quanto à
aplicação da taxa SELIC ou, ainda, da multa de mora, que estas incidem apenas quando
se configurar atraso no recolhimento das contribuições previdenciárias. Assim dispõe o
referido artigo:

“Os débitos com a União decorrentes das


contribuições sociais previstas nas alíneas ‘a’, ‘b’ e ‘c’ do parágrafo
único do art. 11 desta Lei, das contribuições instituídas a título de
substituição e das contribuições devidas a terceiros, assim
entendidas outras entidades e fundos, não pagos nos prazos
previstos em legislação, serão acrescidos de multa de mora e juros
de mora, nos termos do art. 61 da Lei no 9.430, de 27 de dezembro
de 1996.” (destaque nosso)

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Portanto, da exegese do suso artigo 35, combinado com o artigo


43, § 3º, ambos da Lei n. 8.212/91, e considerando tratar os Autos de Sentença Líquida,
considera-se o marco inicial do prazo ao fim do qual configurar-se-á o atraso nos
recolhimentos das contribuições previdenciárias, a data do trânsito em julgado daquela
Decisão.

Assim sendo, no tocante à correção monetária, devem ser


utilizados os índices previstos na Legislação Trabalhista até o trânsito em Julgado da
Decisão, salvo se o Devedor não quitar a obrigação até 48 horas após essa data,
quando, a partir de então, incidirá a aplicação da taxa Selic e dos juros de mora,
conforme o citado artigo 35, da Lei n. 8.212/91.

Observando-se, no entanto, que na Planilha de Cálculos que


acompanha a sentença já fora utilizado, na apuração das contribuições previdenciárias,
o regime de competência, é de ser dado PROVIMENTO PARCIAL aos Embargos da União
apenas para determinar que devem ser utilizados, no tocante à correção monetária, os
índices previstos na Legislação Trabalhista, salvo se o Devedor não quitar a obrigação
até 48 horas do trânsito em julgado da Sentença Líquida, quando, a partir de então,
incidirá a aplicação da taxa Selic e dos juros de mora, nos termos dos artigos 35 e 43, §
3º, da Lei n. 8.212/91, com nova redação dada pela Lei n. 11.941, de 27/05/2009,
ficando, então, a obrigação de responsabilidade exclusiva do Empregador.

III – CONCLUSÃO

Ex Positis, julgo PROCEDENTES EM PARTE os Embargos de


Declaração opostos pelo Reclamante e pela União e IMPROCEDENTES os opostos pela
Reclamada.

Tudo conforme fundamentação supra e a planilha em anexo


que integram este dispositivo e sentença de conhecimento.

Importa o valor da condenação em R$ 506.436,72, conforme


cálculos anexados a presente decisão, de id.8621135.

Mantenho incólumes os demais dispositivos sentenciais.

Intimem-se as partes.

Assinado eletronicamente por: SILVIA HELENA PARABOLI MARTINS MALUF - Juntado em: 12/12/2022 13:33:11 - d7dd85e
Fls.: 17

ARACAJU/SE, 12 de dezembro de 2022.

SILVIA HELENA PARABOLI MARTINS MALUF


Juiz do Trabalho Titular

Assinado eletronicamente por: SILVIA HELENA PARABOLI MARTINS MALUF - Juntado em: 12/12/2022 13:33:11 - d7dd85e
https://pje.trt20.jus.br/pjekz/validacao/22120615544904600000015002781?instancia=1
Número do processo: 0000626-04.2021.5.20.0001
Número do documento: 22120615544904600000015002781

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