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KNELLER, George Frederick.

Arte e ciência da
criatividade. Tradução de J. Reis. 5. ed. São Paulo: Capítulo Um
IBRASA, 1978, p. 13-30.

SENTIDOS

Tão flexível e caprichoso fenômeno é a criativi-


dade, que mal podemos defini-la. Arbitrário e inadequado seria
dar-lhe nome às partes no início de nossa investigação. Necessi-
tamos, entretanto, de alguma idéia a respeito do assunto a discutir ..
Proponho-me, por isso, a fazer cinco coisas neste capítulo: 1. Exa-
i minar algumas definições parciais de criatividade; 2 . Considerar o
seu indispensável núcleo de novidade; 3. Comparar criatividade
com iÓteligência; 4. Assinalar a diferença entre criatividade e
solução de problemas; e 5. Apreciar tanto a faixa de atividades
criadoras quanto os tipos de pessoas nelas interessadas. Esses tó-
picos proporcionam o gênero de definição extensiva que melhor
prepara para os capítulos seguintes.

ALGUMAS DEFINIÇÕES

Segundo um escritor, criatividade é "o processo de mudança,


de desenvolvimento, de evolução, na organização da vida sub-
jetiva." (1) Outro declara que durante o ato criador "manipula-
mos símbolos ou objetos externos para produzir um evento in-

(1) Brewster Ghiselin, The Creatlve Prouss (Berkeley, Calif.: Univcrsity


of California Press, 1952) , p . 2

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comum para nós ou para nosso meio."( 2 ) De acordo com John indicadores de criatividade do que ela mesma. Outros enganam-se
Fletcher, o pensamento criador é desinibido, subjetivo, fluido, ao 'êquãcionando o criativo com o inconvencional. Parecem esque-
'Jpasso que o pensamento reflexivo é estruturado, impessoal e for- ,. ~cer que não existe ninguém menos convencional do que o luná-
~4 malista. Cita Fletcher a divisão de Thomas Carlyle da atividade tico. Vezes sem conta uma criança de primeira série é apontada
mental em pensamento racional (a manipulação consciente de como criativa simplesmente porque fez com os dedos uma pintura
conceitos) e as ações da mente inconsciente, que são apenas va- um pouco diferente da de seus colegas. Esse equívoco de lingua-
gamente percebidas e das quais não temos controle, ou o temos gem..pooe causar mais dano do que bem à criança, iludindo-a com
pouco. Escreveu Carlyle: crença J!:__que a criatividade pode alcançar-se sem""duro tra-

. lJ "A res peito de nosso pensar, diríamos que não passa da s uperfície
superior que plasmamos como pensamentos articulados. Por baix_.Q
- , a- As~ definições corretas de criatividade pertencem a quatro ca-
le'JpJ' da região da argumentação e do discurso consciente fi ca a da medi: tegorias, ao ue arece.( 5 ) Ela pode ser considerada do ponto D~ ...,.,\'
. :;.. tação; aí, em suas calmas e misteriosas profundidades, reside o que de vista da pessoa que cria,. ~ o é, em termos de fisiologia e \
de força vital existe, em nós; aí, se algo há de ser criado e não sp f
-Êt temperamento, m 1 ive atitudes pessoais, hábitos b atores. Pode
t"'"C"" manufaturado e comunicado, deve prosseguir o trabalho. A manufa-
r, Üimbém ser explanada por meio dos {?roe ~s me ais ·- ~ ,..
tura é inteligível po rém trivial; a criação é grande, e não pode ser
compreendida".(ª) - ~ vação, p~cepção, aprendizadq., pensamento e comunicação - que
{ L,..;[.f' o ato de criar .mobiliza. Uma terceira definição focaliza influências
Alguns críticos acham, todavia, que o termo é usado com ' ' - ~ mbienta& e )culturais. 1 Finalmente, a criatividade pode ser enten-
7
excesso de liberdade.(4 ) A criatividade, afirma Jacques Barzun, dida em função de seus produtos, como teorias, invenções, pintu-
,yv-1
torna-se "um dispositivo pelo qual nos propiciamos fáceis satis- ras, esculturas e poema.,,
fações, ao mesmo tempo que evitamos julgamentos necessários." Esta última concepção é que tem predominantemente guiado,
Para muitos, ser criativo nada mais parece do que libertar im- por tradição, o estudo da criatividade. Este é, na verdade, o modo
pulsos ou relaxar tensões. Tomam uma parte desse extraordinário mais óbvio de abordar o assunto, uma vez que os produtos, sendo
fenômeno e identificam-no com o todo. Mas um desinibido bam- públicoS' e prontamente obteníveis, são mais facilmente avaliados
bolear dos quadris dificilmente seria dança criativa, nem o sim- do que personalidades. Mais recentemente, entretanto, a pesquisa: )
ples misturar de tintas numa tela, pintura criadora. Numerosas pe_s- tem-se concentrado de preferência na criatividade como processo
soas confundem, além disso, criatividade e atributos como ha~i- ,j jental e emocional - abordagem sem dúvida mais exigente e
lidades verbais, rapidez mental e senso de ordem, que são antes sutil, porque muito de sua substância se encontra nos estados
., . interiores da pessoa criadora.
(2) Louis A. Fliegler, "l eveis of Creativity", Ed11ca1ional Theory, IX, 2 ~
(abril de 1959), 115.
CRIATIVIDADE E NOVIDADE
(3) Citado em John M. Fletecher, Psycho/ogy in Ed11catio11 witl, Emphasis
011 Creative Thi11ki11g (New York: Doubleday, 1934), pp. 364-365.
(◄) Por exemplo, Jacques Barzun, "The Cults of " Research and Creati- Toda definição de criatividade, porém, há de incluir o ele-
vity", Harpers Magazi11e, outubro de 1960, pp, 69-74. Veja também Norman E .
Walleen, "Creativity-Fantasy and Fact", The Education Digest (setembro de mento essencial de novidade. Criamos quando descobrimos e ex-
1964), pp, 18-20. Outra crítica é a de' que nossas noções de criatividade são de- primimos uma idéia;-um artefatb ou uma forma de comportamento
mas:acfamente moldadas por preconceitos culturais. Veja Geradine Jonchich,
"A Culture-Dound Concept o f Creativity: A Social Historian's Critique, Cente-
ring on a Recent American Research Report", Education Theory, XIV, 3 (5) Veja Mel, Rhodcs, "An Analysis of Creativity", Plii Delta Kappan, abril
(julho de 1964), 133-143.
de 1961), p. 307,

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que seja nova para nós.- Digo "nova para nós" porque a desco-
! º conhecimento. Tal remanejo revela insuspeitado parentesco en-
berta, por uma pessoa, daquilo que foi revelado por outros ainda
tre "fatos de há muito conhecidos, que eram entretanto encarados
representa uma realização criadora. Um dos grandes momentos
erroneamente como estranhos um ao outro."(7) Familiar é o caso
decisivos da pintura ocidental, por exemplo, foi a descoberta, por
da metáfora. Se digo que um avião queima como uma adaga no
Giotto, da terceira dimensão. O estudante precoce de hoje, que
céu do meio-dia, estou relacionando três idéias, em geral não as-
por si mesmo descobre essa terceira dimensão, não deixa de ser
sociadas, de "aeroplano", "~daga" e "queimar" . Tanto quanto sei,
criador porque Giotto já a revelara antes dele. Sua criatividade é, / .
a imagem é original. Por outro lado, a descoberta de uma ima-
porém, de ordem inferior porque o estudante de hoje tem a van- r l',J.t<-ll'Y"'
gem, ainda que corriqueira, por uma criança não deixa de ser
tagem de, ao contrário de Giotto, crescer numa cultura de que ' .A {,~ ,
criativa. O jovem que escreve "As colinas dormem sob o sol
a criação de Giotto já faz parte. 1 v/lf7
quente" faz uma conexão entre colinas e sono que é nova para
Nem todos os autores consideram, todavia, necessariamente ele, embora pareça banal aos outros.
inferior este último tipo de criatividade. Margaret Mead declara,
por exemplo: Este livro é um modesto exemplo de rema~io de conheci-
mento que, espero, acrescerá à soma de conhecimento, revelando
" . .. desde que uma pessoa faz, inventa ou pensa algo que é novo para a interconexão de dados cõIJiidos em muitos campos. TraçaÕ
•JI si mesma, podemos diz.er que realizou ato criador. Segundo esse parentesco entre esses dado~ assentar os alicerces sobre
,... ponto de vista. a criança que em pleno século XX redescobre que o os quais deve construir-se o conhec!lllento da criatividade. Em
quadrado da hipotenusa de um triângulo reto é igual à soma dos seu ensaio On Genius (1832) John Stuart Mill confirma esse
quadrados dos outros dois lados, está realizando ato tão criador como
~ o de Arquimedes, embora as implicações da descoberta para a tradíção entendimento ao observar que "na explicação do desenho e na
cultural sejam nulas, porquo a proposição já é parte da geometria." (6) extração do significado oculto de uma obra de arte há tanto gênio
criador como em criá-la." Assim é porque no ato de criação
Não posso, entretanto, concordar com Mead neste ponto. "a imaginaç.ão é limitada por um conjunto particular de condi-
Pois mesmo que a criança, para tomar o menos provável dos casos, ções, em vez de espraiar-se à vontade dentro dos limites da na-
construísse aquele e outros teoremas exclusivamente por si, ainda tureza humana (como um todo)."
levaria sobre Arquimedes a vantagem de haver absorvido desde o O preço da novidade é na grande maioria das vezes o ceti-
berço uma tradição cultural que se beneficiou dessa e de outras cismo ou a hostilidade dos contemporâneos. Copérnico e Galileu
descobertas matemáticas durante mais de dois mil anos. A mais foram denunciados como blasfemos; a teoria darwiniana da évo-
alta forma de crfação é seguramente aquela que, como a de Giotto, lução desencadeou as iras do clero; Jude the Obscure, de Thomas
-----=-- --
quebra o molde do costume e estende as possibilidades do ~ Hardy, foi punido como pornográfico; Le Sacre du Printemps de
sarnento e da percepção. ~sta é, na verdade, uma das razões pelas Stravinsky provocou um motim. Não raro o inovador, triste dizê-lo,
quais é difícil admirar obras de arte que imitam estilos fora de passa irreconhecido até tarde em sua vida ou depois de morto.
moda. - -- - -- - , Herman Melville morreu ignorado e sem consagração; a falta
'novidade criado~ eme!.&_e2 m grande parte do remanejo de de reconhecimento levou Nietzsche à loucura; morrendo em RoIJ1a,
conhecimento existente - remanejo que é, no fundo, acrésg_mQ_
(7) Henri Poincaré, c'tado por Jerome S. Bruner, ''Tbe Conditions of Crea-
tivity" em Howard E. Gruber, Glenn Terrell e Michael Wertbeimer, cds., Con•
"Crcativity in Cross-Cultural Perspective", em Harold H . Anderson,
(6)
tt mporary Approaches to Creative Thinking (Nova York: Atherton Press, a
ed., Creativity and lts Cu/tivation (Nova York: Harper and Row, 1959) , p. 223. division of Prenticé-Hall, 1962), p. 5.

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r ·.A.t,t.. .19,l,--:i

criatividade, como deve ser, a todas as linhas de empreendimento


/
Keats compôs seu epitáfio "Aqui jaz alguém cujo nome foi escrito
na água". Jamais termina a luta entre a cultura e o criador. Por humano, e não apenas a q~stões estética03) Sü'sãiiiie Langer
que assim ocorre? Não será porque todo inovador tem de criar situa diferentemente o assunto, observando que a maioria das des-
os padrões pelos quais é apreciado? Para exemplificar: certa vez cobertas "são coisas subitamente vistas, que sempre estiveram ali".
Irving Kolodin, crítico musical que admiro, francamente confessou Comparando-se à luz uma idéia acabada de criar, diz ela que essa
sua incapacidade para avaliar uma composição de Lukas Foss, idéia "ilumina presenças que simplesmente não tinham forma para
porque não dispunha dos instrumentos e padrões para fazê-lo. nós antes que a luz incidisse sobre elas. Acendemos a luz aqui,
Foss, ao que parece, abandonara as abordagens convencionais e ali, por toda parte, e os limites de pensamento regridem diante
dela."( 9 ).
criara uma nova espécie de música. Diante de uma obra revo-
lucionária, o mais que podemos afirmar é se gostamos dela ou ~: .
(,
não. Avaliar uma obra por padrões que lhe são alheios outra coisa ~ CRIATIVIDADE E INTELIG8NCIA
não é senão julgar um sistema de valores por outro. O perigo ;
que nisso reside foi percebido por Jonathan Swift, que escreveu: \) 9(_-~ m podemos compreender a criatividade contrastando-a
"Os críticos não têm pontos de vista parciais, exceto se sabem de ., ~ :a•~•:; geralmente é tido como inteligência. O pensament~
quem ridicularizam!" ~ :!iadÔt~ inovador, exploratório, aventuroso,,: Impaciente an e a ~
convenção, é atraído pelo desco hecido e indeterminado. O risco
> _( 1 / A /;;;.,vidáde por si s ' entretanto, não torna criador um ato
•...,
e a incerteza estimulam=no.-ç> ensamento não criador ( o termo
,,.f[r ou uma idéia; relevânci também constitui um fator. Como o
não é desairoso)· é cauteloso, metócfico, conservador. Absorve o
,.,,_ ato criador é resposta a ma situação particular, ele deve resolver,
novo no já conhecido e prefere dilatar as categorias existentes .,,---
~bSf' ou ao menos clarear, a situação que o fez surgi~. Nova, porém a inventar novas. Getzels e Jackson escrevem:
~-f"- , d?ouco criadora, terá sido a idéia do arquiteto que imaginou cobrir
_ ,01 > de camurça verde um bangalô por ele desenhado. Mas se concebe " Um tipo tende para reter o conhecido, aprender o predeterminado e
P um meio de harmonizar o bangalô com a paisagem, então seu conservar o que é. O segundo tende para rever o conhecido, explorar
o indeteroHnado e construir o que possa ser. A pessoa para a qual
pensamento é genu~ente criador. Em suma, um ato ou uma
seja· piimário o primeiro tipo ou processo, tende para o usual e espe-
idéia. é criador não ape s por ser novo mas também porque
rado. A que tenha como primário o segundo modo tende para o novo
consegue (algo adequado a uma dada situação. e especulativo. O primeiro prefere a certeza, o segundo o risco". (10)
J;: evidente- quê uma coisa pode ser criadora sem ser intei-
ramente nova. Até mesmo nas mais talentosas criações sempre Alguns chamam esses dois tipos de pensamento de di-
há algo sugerido por uma fonte ou forma anterior. Essa convic- vergência e convergência (J. P. Guilford); outros, crescimento e
ção inspirou a William Heard Kilpatrick postular uma "escala de
imitação-<:nação", em . cuja extremidade superior estaria o que (8) "The Essentials of the AC1ivity Movement", Progresslve Education,
outubro de 1934, p. 354 esp.
ele sÜgere como "a mais alta proporção conhecida de criação em (11) Philosophy in a New Key (Cambrid~. Mass.: Harvard University
relação ao modelo que existia antes", e em cuja extremidade infe- Press, 1951), p. 8
(10) Jacob W. Getzels e PhiLip W. Jackson, Creativity and Intelllgence:
rior apareceria a mínima parte de criação e a maior quantidade Exp/orations with Gifted Studenrs (Nova York: Wiley, 1962), pp. 13-14, Como
de simples adaptação Q!!. in;iitação. /Cõmo
todos nós cnamos em crítica à idéia de haver apenas duas modalidades cognitivas ou intelectuais, b.ási-
cas, veja Cyril Burt, "Criticai Notice: 'Creativity and Intelligence' por J. W.
grau maior ou 'menor, Kilpatrick concluiu que a escala se apro- Getzels e P. W. Jackson, British lournaJ o/ Educational Psycho/ogy, XXXII
(novembro de 1962), 295-297.
( ximaria da curva de distribuição normal, admit~do aplicar-se a
/ • _-/}-,,......,_, I ( .,-<
18 ~ 1 ~ &-.c..o:-<. ~a.,'-'>-- 19
,. Jolt-
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segurança (A. H. Maslow); ainda outros, abertura e defensiva lectual? Só uma coisa deve ter ocorrido: o potencial foi mal cal-
(Carl R. Rogers). culado. Realmente, em estudo recente na Escola Primária da Uni-
O pensamento não criador ou convergente é em grande parte versidade de Minnesota descobriu-se que das crianças dotadas,
medido pelo teste de inteligência. Este último em geral exige res- quando classificadas apenas segundo o teste de inteligência, cerca
postas únicas e corretas a problemas exatamente definidos. Na de sete, em cada dez, teriam sido excluídas. ( 14 )
maioria dos casos essas respostas são convencionais. A pessoa A correlação entre inteligência e criatividade é alta sem toda-
submetida ao teste deve recordar, reconhecer e resolver, porém via ser absoluta. As crianças de OI baixo ou mesmo médio ten-
não inventar ou explorar. O teste não a convida a especular dem para baixa ou média criatividade. O oposto não é, entre-
ou contribuir com idéias originais dela. tanto, necessariamente verdadeiro. Alto OI não garante al:a cria-
O OI é muito prático como medida de pensamento conver- tividade. Decorre daí ser provável que os OI acima de 135, geral-
gente. Nunca entretanto pretendeu acionar toda a gama das capa- mente utilizados na maioria dos programas para crianças intelec-
cidades mentais. Nos anos recentes os educadores perceberam as tualmente bem dotadas, são altos demais e excluem número exa-
limitações do teste de inteligência como medida da capacidade geradamente elevado de estudantes criativos. Verificou-se, por
I
criadora. As~ente~ motrizes dessa reavalia~ão fora?1 L. ~- Thurs- exemplo, na Minnesota Laboratory Elementary School, que o OI
tone e J. P. GuiHord. Já em í9'40, porém, algumas das hmirações médio de estudantes no quinto superior de inteligência, medida pe-
haviam sido apontadas por Paul A. Witty em "Some Considera- los testes adequados, era vinte e cinco pontos superior ao de estu-
tio.1s in the Education of Gifted Children". ( 11 ) O mau rendimen- dantes situados no quinto superior da escala de capacidade criadora,
to de alguns estudantes de elevado OI na escola, assim como o avaliada pelo Minnesota Test of Creative Thinlcing( 15 ) . Seme-
bom rendimento de outros, de OI inferior, basta para mostrar lhantemente, em investigação numa escola perto de Chicago, Getzels
que~ inteligência, tal como é determinada convencionalmente, não e Jackson encontraram diferença de 23 pontos no OI médio entre
é a única qualidade necessária ao êxito educacional. Na verdade, estudantes de alto OI e outros altamente criativos. ( 16 )
o teste de inteligência raramente explica mais de ·um quarto da Por Óutro lado, embora não constitua por si mesmo condição
variação em fatores cruciais como o rendimento escolar e o de-
suficiente de alta criatividade, um OI elevado parece ser, de um
sempenho acadêmico. ( 12 ) modo geral, necessário. São poucas as pessoas altamente criativas
Deve-se lembrar que crianças sem alto OI muitas vezes têm que também não são altamente inteligentes. ( 17 ) Tem-se de fato
sido classificadas como "super-realizadoras" ( over-achievers) em verificado que para alta criatividade se precisa de OI de pelo
. . ,.. vez de "dotadas" (gifted), porque seu êxito foi interpretado como menos 120, variando o nível conforme a natureza da atividade
~ resultado de motivação em lugar de capacidade intelectual. Algu- criadora( 18 ) . A pessoa altamente criativa parece, pois, pertencer
~ / ·_mas foram até consideradas psicológica ou socialmente desajusta-
"/i~ :r rdas e por isso enviadas ao gabinete de orientação para que suas
,r'_J4 realizações fossem mais uma vez alinhadas com os respectivos ( 1 ◄ ) E. Paul Torrancc, G 11idi11g Creaitive Ta/e111 (Englewood Cliffs, N. J.:
Prcnticc-Hall 1962) , p. 5.
tp'- , QI!( 13) Mas como pode uma criança exceder seu potencial iate- ( u) Torrancc, pp. 44 ff.
(16) P. 24.
(11) Educational Administration a11d Sr,pervision, XXVI (outubro de 1940), (17) Veja E. Paul Torrancc, "Education for C rcativity", em Calvin W.
514-516. T aylor, ed ., Creativity: P rogress a11d Poterrtia/ (Nova York : Me Graw-Hill,
(12) Getzc.1s e Jackson, p. 3. 1964) , p . 89.
(13) Veja Getzels e Jackson, p. 26. (1 8) Compare com Walleen, pp. 18-19.

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:i,~,,~ e.e\;\, \ ~ { . , " ' - ' ~ a _ 21
v
ao décimo superior de inteligência. Do cientista, por exemplo, se Ao contrário, uma pessoa criativa porém não da mais alta inteli-
disse: gência é incapaz de desenvolver plenamente sua elaboração mental
por f a 1 } 3apacidade de prolongado pensamento abstrato.
"há uma alta correlação entre criatividade (pelo menos nas ciências) t\_ crítica que oponho a essa maneira de ver é a de mini-
e proficiência nas tarefas intelectuais mais rotineiras, comumente usa- mizar e nto criador no pensamento criativo. Em primeiro
das para avaliar a inteligência. Não se duvida de que virtualmente
lugar, degradando a criatividade ao simples poder de reconhecer
todas as pessoas que realizaram progressos criativos capitais nas ciên-
cias e na tecnologia, nos tempos históricos, manifestaram grandes a novidade de idéias que a inteligência já produziu, ela conflita
capacidades gerais de solução de problemas." (19) não apenas com o conceito de inteligência que embasa o 01
f· ( que não avalia a fertilidade em idéias como atributo da inteli-
r 1-~(!- Quero corrigir em tempo, eventual impressão que o leitor haja gência) mas também com a noção bem estabelecida de ser essa
11. adquirido, de ser a criatividade uma qualidade única. Definida fertilidade (ver Capítulo 4) uma· das características principais que
UJ f? como processo mental, o termo na realid;1de significa um gr~ distinguem as pessoas altamente criativas das altamente inteli: J
, \ _de capacid~des relacionadas, corr(Ó fluência, originalidade e flexi- gentes.

-
bilidade. Nas respostas aos teste~i:-exemplo, algumas pessoas
-mostram-se acima de tudo fluentes, outras principalmente origi-
--- Em segundo lugar, não percebo como uma pessoa antes
inteligente do que criadora p<?deria ter idéias realmente novas e
ao mesmo tempo não reconhecer essa novidade. Mais razoável pa-
nais, e assim por diante(2º). Somente porque essas capacidades,
ou a maioria delas, costumam agir em conjunto, embora diferindo rece concluir que a pessoa inteligente porém não criativa é aquela
quanto ao grau, é que se torna justificável grupá-las sob um único que malogra na produção de idéias originais. Pois uma pessoa
termo. dotada da capacidade de pensar com originalidade deveria por
A distinção que apresentei entre inteligência e criatividade certo possuir a capacidade, muito menor, de reconhecer uma idéia
não é todavia a única. Outra escola de pensamento, seguindo a original quando a concebe.
definição de inteligência de Terman e Binet, distingue da seguinte Finalmente; do que hoje sabemos decorre claramente que a
maneiríl as duas faculdades. A inteligência, definida como G, é idéia criadora é abraçada, não por ser antes de tudo nova, mas
essencialmente a capacidade de conceituar e explorar abstrações porque resolve o problema que o criador se propôs resolver.
com facilidade. :e, característico da inteligência produzir uma série Aceita, esta solução seria de algum modo original, ao menos para
de idéias com acelerada velocidade. A criatividade, para a mesma o criador, ou não seria criativa. Não obstante, é a aplicabilidade
escola, é o poder de reconhecer idéias novas ou originais, assim da idéia ao problema, e não a sua novidade per se, que leva o
como explorá-las até aos seus limites-. A realização criadora re- criador a adotá-la.
quer, então, criatividade e inteligência, conjuntamente. Uma E_eS-
soa inteligente, porém não criativa, pode ser capaz de continuado
pensamento abstrato, mas produz poucas idéias originai~.
CRIATIVIDADE E SOLUÇÃO-DE-PROBLEMAS ~

(19) Allen Newell, J. C. Shaw e Herbert A. Simon, "The Processes of


Como se acha a criatividade ligada à solução-de-problemas?
Creative Thinking", em Howar'p E. Ó ruber, Glenn Terrell e Michael Werthei- :e, todo pensamento criador uma forma de solução-de-problem·a, ou
mer, eds., Contemporary Approaches to Creative Thinking (Nova York, Atherton assim acontece apenas com parte dele? Alguns psicólogos susten-
Press, a division of Prentice-H all, 1962), p, 66. Como prova, os autores citam
D . M. Johnson, The Pzychology o/ Tho11ght and J11dgeme111 (Nova York: Harper tam que a criatividade é apenas um tipo especial de solução de
and Row, 1955). problema, marcado por traços como novidade, persistência e ex-
(20) Veja Torrance, "Education for Creativity", p. 89.

22 23
trema dificuldade em formular o problema ( 21 ). Para os que assim O ALCANCE DA CRIATIVIDADE
pensam, o processo psicológico de James Joyce ao escrever Fin-
negan' s Wake não difere fundamentalmente dos de um eletricista Ao contrário da opinião corrente, a criatividade não se
ao decidir a melhor maneira de fazer a instalação elétrica de um limita às artes. Tão criador como o artista é, por exemplo, o
cômodo que acaba de ser redecorado. Seriam formas, ambos os cientista. Harry Broudy escreve:
casos, não apenas de pensamento criador mas também de solu-
ção de problema. "Assim a invenção, o pensamento cientifico e a criação estética têm
de comum uma facilidade em remanejar elementos de experiências
Os psicanalistas rejeitam essa opinião, alegando que o pen- prévias, desse modo obtendo novas configurações. Quando Sandburg
samento criador é muito mais sensível do que a solução de pro- escreve que "a rã rasteja com pequeninas pés de gato", e uma criança
blemas aos processos inconscientes ou pré-conscientes. ( 22 ) Mas chama os resíduos que a borracha deixa no papel de "poeira dos
existe outra objeção mais fundamental. Em seu sentido geral, o erros", e um pintor mostra ao mesmo tempo os quatro lados de um
paiol, e um escritor se refere a algo "tão implacável como um taxí-
termo problema é tão vago que não pode ser de muita utilidade
metro", e alguém converte um corredor numa roda, e um Newton vê
ao estudioso da criatividade. Toda situação em que entramos pode analogia entre maçãs e planetas, existe manifesta atividade intelectual
ser considerada problema e cada decisão, solução. Por seu turno, que parece de igual textura, apesar das diferenças de coloração." ( 24 )
os psicólogos tendem para limitar solução de problema a com-
portamento que pode ser observado em certas condições contro- Do mesmo modo que um escritor transforma suas expe-
ladas. Nesse sentido, entretanto, solução de problema é definido riências da cena humana em novela ou peça teatral, o cientista
de maneira tão estreita que não pode ser equivalente de criativi- verifica e aprofunda os dados que adquiriu a fim de produzir uma
dade. (23) nova teoria. Uns e outros rearranjam conhecimento e experiência
Nada se ganha, pois, quando se considera a criatividade como existentes, próprios ou alheios, em nova forma ou novo padrão.
espécie de solução de problema. Para sermos justos com a cria- Diz Bronowski:
tividade, precisamos considerá-Ia como fenômeno, ou grupo de
fenômenos, autônomo. Se o incluímos em outra categoria, aca- "As descobertas da ciência, as obras de arte são explorações - ainda

__ \ baremos enevoando nossa própria visão dos fatos que investiga-


mos. 8 óbvio a qualquer pessoa que há certas soluções de pro-
mais, explosões, de oculta semelhança. O descobridor e o artista
apresentam nelas dois aspectos da natureza e fundem-nos em um
s6. Este é o ato de criação, no qual nasce um pensamento original,
blema que são criativas. Mas é injustificado pressuposto ver em e é o mesmo ato na ciência original e na arte original".( 2 5)

1 toda criatividade um caso de solução de problema.

(21) Por exemplo, Ncwcll, Shaw e Simon, pp. 63-119; e L . L. Thurstonc,


"The Scicntific Study of lnvcntive Talcnt", cm Sidney J. Parncs e Harold F.
Harding, cds., A Source Book for Criatlve Thinking (Nova York : Scribncr's,
1962), pp. 51-62.
Além disso, tanto o escritor quanto o cientista trabalham pela
intuição tanto quanto pelo intelecto. Não apenas o escritor mas
também o cientista tem de caminhar a partir de idéias que são
sentidas mais do que compreendidas, que têm tanto de sensaÇÕ§
(22) Veja B. M. Sprinbctt, J. G. Dark e J. Clakc, "An Approach to thc quanto de pensamentos. Segundo John Dewey,
Measurement of Creativc Thinking", Canadian JournaJ o/ Psycho/ogy (XI março
de 1957), 9-20.
(23) Veja Robert B. Maclcod, "Rctrospcct and Prospcct", em Howard E. (2C) "Some Duties of a Theory of Educational Aesthetics", Educat/onal
Gruber, Glenn Terrell e Michael Wertheimer, cds., Contemporary Approaches Theory, 1, 3 (novembro de 1951), 194.
to Creatlve Thinking (Nova York, Atherton Prcss, a division of Prcnticc-Hall, (2G) 1. Bronowski, Science and Human Va/ues (Nova York : Harpcr and
1962), p. 187. Row, 1956), pp. 30-31.

24 25
"Somente a psicologia que separou coisas que na realidade pertencem que as situadas no terço inferior. Assim ocorria tanto nas seções
ao mesmo conjunto, sustenta que os cientistas e os filósofos pensam, que, segundo se julgava, exigiam pensamento criador, quanto na-
enquanto os poetas e pintores seguem suas sensações. Em ambos, e quelas que os administradores de pessoal encaravam como simples
na mesma extensão na medida em que são de hierarquia comparável, rotina. (27 ) Pelo visto, a criatividade parece entrar em jogo até
existe pensamento emocionalizado e há sentimentos cuja substância
consiste em apreciados sentidos ou idéias." (26) mesmo nas mais desenxabidas situações.
Existem, então, pessoas não criativas? Parece que não. O
Indo mais adiante, podemos dizer que tanto o escritor quanto gênio e o homem médio talvez aparentem pouca\coisa em comum,
o cientista dependem da inspiração, ou a fusão secreta de idéias mas a diferença entre eles deve ser quantitativa. No gênio, a ima-
no subconsciente. ginação, a energia, a persistência e outras qualidades criadoras
são mais altamente desenvolvidas do que no comum de nós, mas
Para proclamar rapidamente o que será mais para diante
felizmente ele não possui monopólio delas. Gardner Murphy es-
explicado pormenorizadamente, a criatividade parece envolver cer-
tas capacidades mentais. Estas abrangem a capacidade de mudar creve:
a maneira pela qual cada pessoa aborda um problema, de produzir " Da observação de crianças em escolas progressivas sabemos que o
idéias relevantes e ao mesmo tempo inusitadas, de ver além da desejo de criar deve ser quase universal, e que quase todas têm alguma
situação imediata e de redefinir o problema ou algum aspecto dose de originalidade que brota de sua fresca percepção e experiência
dele. Essas capacidades podem encontrar-se em todo gênero de da vida, assim como da singularidade de sua própria fantasia quando
atividade. A mãe pode ser original, e portanto criativa, na ma- livres para participar dela." (28)
neira pela qual cria os filhos - estimulando-lhes as perguntas,
por exemplo, ou planejando suas festas. A dona de casa pode E Louis Fliegler afirma:
ser uma cozinheira inventiva, fazendo saladas ou sobremesas in-
"Todos os indivíduos são c.riadores por diversas maneiras e em diversos
comuns. A mulher em geral pode ser criativa na maneira de
graus.' A natureza da criatividade permanece a mesma quer se pro-
desenhar e alterar seus vestidos. O homem pode ser criativo a duza um novo jogo ou uma sinfonia ( ... ) A criatividade situa-se na
respeito de sua casa, em seus passatempos, em seu trabalho. região que em cada indivíduo depende da área de expressão e capa-
Alguns trabalhos oferecem mais campo do que outros à cria- cidade dele." (29)
tividade. A propaganda e o ensino são funções muito mais cria-
tivas do que guiar caminhão e servir _como encanador, porque exi- Se é razoável admitir que até certo ponto todos os homens
gem mais originalidade no pensamento e na ação. Semelhante- são criativos, também é razoável supor que parte da variação 4!!._e )
mente, dentro de uma organização as mais altas posições exigem ocorre na criatividade, resulta do malogro de muitos .-em...exprimir
a maior originalidade e iniciativa. Não obstante, as pesquisas seu potencial criador. Esta é, porém, uma conclusão lógica, e não -
demonstram que a criatividade contribui para o êxito mesmo nas empiricamente derivada, que pode ser levada a absurdos extremos.
mais prosaicas ocupações, como a de balconista numa grande loja. Não temos prova de serem todos os homens igualmente dotados
Em determinado estudo ficou patente que as vendedoras que se
colocavam no terço superior da lista de vendas em suas lojas, (27) H. R. Wallace, "Creative Tbinking: A Factor in Sale Prodúctivity",
Yocarional Guidance Quarterly, 1961, pp. 223-226.
também se saíam melhor em testes de pensamento criador do (28) Persona/ity (Nova York: Harper and Row, 1947), p. 453.
(29) "Dimensions of the Creative Process", em Michael Andrews, ed.
Creaüvity and Psychological Health (Syracuse, N. Y. : Syracuse University Press,
(26) Arr as Experience (Nova York: Minton, Balcb, 1934), p. 73. 1961), p. 14.

26 27
de potencial criador, ou de que, pelo menos, as eventuais dife- ou não considerar criatividade. Não se inventaram testes fidedig-
renças não sejam grandes. Não se demonstrou que as diferenças 'i-ios para avaliar as qualidades criativas dos indivíduos. ( 3 1 ) Além
em realização criadora representem apenas o grau até onde o disso, muito de nossa teoria do aprendizado baseia-se no estudo
indivíduo foi capaz de exprimir seu potencial( 3º). Na verdade, esse de animais inferiores, nos quais praticamente não existe a criati-
ponto de vista é experimentalmente sem valor, uma vez que, seja vidade (32 ). Finalmente, estudar cientificamente a criatividade é
qual fur a diferença em desempenho criador, sempre poderá ele estudar apenas aqueles de seus aspectos que podem ser medidos
ser interpretado como resultado do malogro em exprimir o pleno e observados.
potencial da pessoa, o que não nos leva a parte alguma. Este livro, por tudo isso, examina ao mesmo tempo achados
Não parece haver razão alguma para acreditar, pois, que a científicos e relatos intuitivos ou anedóticos. Na realidade, jamais
natureza seja mais democrática na distribuição de criatividade do se poderá entender a criatividade, em sua natureza mesma, por
que na da inteligência. Aceitamos uma larga faixa de inteligência; meio de termos inteiramente científicos, porque é inconcebível
por que não de criatividade? Não se quer com isso negar que que se possa gerar e controlar uma gama representativa de pro-
os educadores devam cultivar a criatividade latente em cada crian- cessos criativos, medindo-lhes e prevendo-lhes as conseqüências.
ça - pelo contrário, uma das teses deste livro é que eles deve- Como fenômeno natural, pode a criatividade ser passível de in-
riam fazê-lo. O que nego é todavia uma outra versão do erro vestigação científica. Mas sendf também uma forma de com-
sentimental de que a igualdade humana é um fato físico e psi- ,
portamento humano, a liberdade e a singularidade humanas esta-
~

cológico. 8 patente que a natureza fez desiguais os homens; mas belecem limites ao que a c,iência pode realizar. Em outras pala-
é humano tratá-los em certos importantes processos comv se fos- ·vras, a criatividade jamais pode ser totalmente predita porque em
sem iguais: caso no qual a desigualdade não é negada, mas antes cada homem a criação éaté certo grau singular e até certo grau
transcendida. Cada criança deve pois ter a mesma oportunidade produto de livre escolha( 33 ). Não deixa de haver, certamente, no
de exprimir seus dons criadores. Não devemos porém esperar ato de criação um elemento de mistério ~e sempre fugirá à aná-
que todas as crianças sejam igualmente dotadas. lise. ( 34 ) Como escreveu Georges Braque,u ma vez,
Nenhum estudo amplo da criatividade pode limitar-se apenas
aos achados da ciência. Muito temos que aprender das inspira- "Há certos mistérios, certos segredos em minha própria obra que eu
mesmo não consigo entender, e nem tento fazê-lo . . . " Quanto mais
ções dos criadores em face de seus próprios métodos de trabalho,
se sonda, mais se aprofunda o mistério: este fica sempre fora de
assim como das observações de seus biógrafos. Além disso, a alcance. e preciso respeitar os mistérios, se queremos conservar-lhes
psicologia encarregou-se de provar que ela é instrumento limitado a força. A arte perturba; a ciência tranquiliza."
para exploração do processo criador. Por umas tantas razões os
psicólogos conseguiram só poucas conclusões definitivas. Primei- 8 claro que temos de esforçar-nos para abarcar nosso as-
ro, é difícil estabelecer critérios práticos sobre o que se deve sunto cientificamente - mas nesse caso é puramente heurístico

(31) Comparar com Walleen, p. 19.


(-80) Este ponto de vista foi expresso, por exemplo, por John E. Arnold : (82) Veja J. P. Guildorf, "Creativity", The American Psychologist,- V, 9
"Creio ( .. . ) que todos os homens nascem com potencial muito definido para a (setembro de 1950), 444-445.
atividade criadora. Esse potencial pode variar de indivíduo a individuo mas (38) Comparar com Carl R. Rogers "Toward a Theory o{ Creativity", em
as grandes diferenças observadas na vida real são devidas mais ao malogro na Anderson, p. 71.
realização do potencial inerente do que a limitações origina's". "Education for (U) Veja também Alex Osborn, citado em Rhodes, p. 308: "Digo que a
lnnovation", em Sidney J. Parnes e Harold F . Harding, eds., A S011rce Book for .criatividade jamais será uma ciência - na verdade, muito dela permanecerá
Creatlve Thinking (Nova York : Scribner's, 1962), p. 138. mistério" ...

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admitir a onicompetência da ciência. As abordagens científicas
e intuitivas têm de completar-se mutuamente, não apenas agora,
quando a ciência da criatividade está ainda na infância, mas per-
manentemente. Proscrever uma delas será dogmatismo alheio ao Capítulo Dois
sadio espírito de ambas.

TEORIAS
A criatividade, dissemos, é a descoberta e a expressão de
algo que é tanto uma novidade para o criador quanto uma rea-
lização por si mesma. ~ tempo agora de olhar com mais pro-
fundidade para o sentido dessa observação. Não havendo teoria
universalmente aceita sobre a criatividade, consideremos algumas
formulações alternativas, passadas e atuais, tendo em vista o que
cada uma delas pode carrear para nossa compreensão geral do
assunto. Começaremos com várias concepções filosóficas da cria-
tividade comq inspiração divina, loucura e gênio, e continuaremos
até às teorias modernas que a encaram como expressão de forças
cósmicas. Examinaremos depois diversas interpretações psicoló-
gicas. Ao fim do capítulo deveremos ter alcançado uma larga
,v t visão das melhores idéias de que dispomos a respeito, sempre
o ~· ~
(_n, l porém lembrando que nenhuma delas é concludente.
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ov~ - 1/~ TEORIAS FILOSÓFICAS DA CRIATIVIDADE


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..~·i~lf1---~ L...t.).,4.1
\ . ('•
TEORIAS DO VELHO MUNDO

:1-"' \1 Criatividade como Inspiração Divina


Uma das mais velhas concepções de criatividade sustenta que
o criador é divinamente inspirado. ( 1 ) Essa noção sem dúvida sur-

(1) Ralpb J. Hallman, "Can Creativity Be Taugbt?" Educational Thtory,


XIV (janeiro 1964), pp. 15-17.

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