Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Processo nº 2509/15.2T9ALM.L1-5
Sumário
Texto Integral
I–RELATÓRIO:
1 / 15
sua motivação com as seguintes conclusões (transcrição):
2 / 15
9.º–Apenas se defendeu dizendo que assim pensou até porque “o Tribunal”
(que não individualizou, concretizando que fora o processo 51/14.8PTALM e
não genericamente o tribunal de Almada) já lhe havia devolvido a carta e não
tem de perceber de cúmulo de penas; o tribunal é que tinha de diligenciar por
tudo, nomeadamente por fazer cumprir as suas penas em ambos os processos,
mesmo que apenas em 9 meses e não em 14 meses e meio.
10.º–Não explica porque achou que 14 meses e 15 dias acabaram por ser
apenas 9 meses e não explica porque achou que havia cumprido a pena em
ambos os processos quando foi o J3 do 51/14.8PTALM que lhe devolveu a
carta, depois do cumprimento da pena acessória de 9 meses, sem fazer
qualquer menção ao processo do J1 nº 1464/14.0GCALM.
11.º–Ora, como pode o Tribunal ultrapassar a simples regra da experiência,
radicada na mais elementar consciência de qualquer infractor, segundo a qual,
qualquer pessoa ou homem médio, ou vulgar cidadão, que comete dois crimes
ou duas contra-ordenações ou duas infracções ou dois erros, cumpre
necessariamente dois castigos, duas penas, sofre duas consequências e não
uma?
12.º–O homem médio que tem nove mais cinco meses e meio (9 + 5 meses e
15 dias) de pena para cumprir, que no total são catorze meses e meio de pena
para cumprir (9 + 5 meses e 15 dias = 14 meses e 15 dias), não acredita, sem
mais qualquer outra explicação, que ao fim de apenas nove (9) meses cumpriu
as duas penas, sob pena de ficar totalmente impune no que ao segundo crime
diz respeito.
13.º–Em regra, os arguidos, cumprem os dias de proibição de conduzir em que
foram condenados, apresentando-se para levantar a carta logo e no exacto dia
em que termina o prazo da mesma, tal é a falta que a mesma lhes faz e a
dependência que têm por variadas razões do meio de transporte individual.
(…)
91.º–Nestes termos teria o Tribunal de dar como provado o dolo e condenar o
arguido.
3.–O arguido apresentou resposta em que sustentou que o recurso não merece
provimento.
3 / 15
II–Fundamentação.
4 / 15
- Por decisão transitada em julgado em 26/4/2012, foi condenado pela prática,
em 27/3/2012, de um crime de condução de veículo em estado de embriaguez,
na pena de 60 dias de multa e na pena acessória de proibição de conduzir
veículos com motor pelo período de três meses [processo 488/12.7PFSXL]; as
penas foram declaradas extintas pelo cumprimento;
- Por decisão transitada em julgado em 29/10/2014, foi condenado pela
prática, em 26/9/2014, de um crime de condução de veículo em estado de
embriaguez, na pena de 100 dias de multa e na pena acessória de proibição de
conduzir veículos com motor pelo período de nove meses [processo
51/14.8PTALM]; as penas foram declaradas extintas pelo cumprimento;
- Por decisão transitada em julgado em 13/11/2014, foi condenado pela
prática, em 14/10/2014, de um crime de condução de veículo em estado de
embriaguez, na pena de 100 dias de multa e na pena acessória de proibição de
conduzir veículos com motor pelo período de cinco meses e quinze dias
[processo 1464/14.0GCALM]; as penas foram declaradas extintas pelo
cumprimento.
5 / 15
dos autos que identificou, no cumprimento de uma outra pena acessória em
que havia sido condenado.
Referiu o arguido que foi notificado para vir levantar o aludido documento,
tendo então ficado convencido de que as penas acessórias aplicadas haviam
sido integralmente cumpridas.
O Tribunal considerou ainda a documentação junta aos autos, designadamente
a fls. 94-109, que comprovam os factos objectivos alegados pelo arguido.
A conjugação de tais factos com as regras de experiência comum levam à
conclusão de que o arguido, por ter a carta de condução apreendida num
outro processo, a correr termos também neste Tribunal e ter sido notificado
para proceder ao seu levantamento, não agiu com dolo ao não entregar a carta
de condução, por estar convencido de que a pena já havia sido cumprida.
A matéria relativa aos antecedentes criminais resulta da análise do certificado
de registo criminal, tendo o arguido descrito as suas condições sócio-
económicas.
3.–Apreciando.
6 / 15
imposto pelos n.ºs 3 e 4 do artigo 412.º do C.P. Penal.
Quer isto dizer que enquanto os vícios previstos no artigo 410.º, n.º2, são
vícios da decisão, evidenciados pelo próprio texto, por si ou em conjugação
com as regras da experiência comum, na impugnação ampla temos a alegação
de erros de julgamento por invocação de provas produzidas e erroneamente
apreciadas pelo tribunal recorrido, que imponham diversa apreciação. Neste
caso, o recorrente pretende que o tribunal de recurso se debruce não apenas
sobre o texto da decisão recorrida, mas sobre a prova produzida em 1.ª
instância, alegadamente mal apreciada.
7 / 15
seguinte sentido:
«Visando o recurso a impugnação da decisão sobre a matéria de facto, com
reapreciação da prova gravada, basta, para efeitos do disposto no artigo 412.º,
n.º 3, alínea b), do CPP, a referência às concretas passagens/excertos das
declarações que, no entendimento do recorrente, imponham decisão diversa
da assumida, desde que transcritas, na ausência de consignação na acta do
início e termo das declarações».
Quer isto dizer que a indicação das passagens em que se funda a impugnação
faz-se por referência ao consignado na acta, nos termos do disposto no n.º 2
do artigo 364.º, quando a acta referir o início e o termo da gravação de cada
declaração, ou, alternativamente, se a acta não contiver essa referência,
através da identificação e transcrição das ditas “passagens” dos meios de
prova oral (declarações, depoimentos e esclarecimentos gravados).
8 / 15
declarações do arguido, o que prejudica a argumentação sobre a matéria de
facto a ter em conta neste recurso, prejuízo este que se invoca para os efeitos
tidos por convenientes (Acórdão do STJ n.º 13/2014 de 23 de Setembro,
Processo n.º 419/11.1tafaf.g-A.S1, de Uniformização de Jurisprudência, de que
é relatora Isabel Pais Martins; Acórdão do TRL, Processo:
1400/10.3TBPDL.L1-7, de que é relator Ana Resende, com o N.º do
Documento: RL, de 21-11-2013) ”.
No que toca ao mencionado acórdão desta Relação de Lisboa, foi proferido por
uma Secção Cível, pelo que se estranha a sua invocação no presente recurso,
não havendo qualquer caso omisso que reclame a aplicação das normas do
processo civil ao abrigo do disposto no artigo 4.º do C.P.P.
9 / 15
que a mesma terá de considerar-se sanada.
Fica, assim, inviabilizada a reapreciação da prova gravada e inaudível, o que
dita o destino da impugnação ampla, pois não se alcança que seja viável
reapreciar a prova pessoal num caso em que o elemento dessa prova que foi
julgado pelo tribunal recorrido como o mais relevante e decisivo para a
decisão de facto, não pode ser, efectivamente, reapreciado.
10 / 15
Provados da decisão recorrida, não poderem ser objecto de apreciação por
este Tribunal em sede de impugnação da matéria de facto.
11 / 15
competente e uma disposição legal qualificar essa conduta como
desobediência simples, é punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de
multa até 120 dias se:
a)-Uma disposição legal cominar, no caso, a punição da desobediência simples;
ou
b)-Na ausência de disposição legal, a autoridade ou o funcionário fizerem a
correspondente cominação».
12 / 15
Como disse o S.T.J., no seu Acórdão n.º 14/2014, publicado no Diário da
República, 1.ª série, N.º 203, de 21 de Outubro de 2014, referindo-se ao artigo
348.º, n.º1, al. b) (ainda que a propósito da recolha de autógrafos):
«A lei em obediência ao princípio da tipicidade não prescinde, de forma
exigente, da enumeração clara e precisa dos seus elementos típicos, entre eles
da cominação de crime de desobediência, porém tratando -se de
desobediência simples – n.º 1, b), do art.º 348.º, do CP, e não estando prevista
essa cominação, a exigência legal vai mais longe na medida em que ao
incumprimento do mandado ou ordem legítima proferida no exercício das
funções, para obviar ao arbítrio, não abdica da correspondente cominação
para a ordem ou mandado não observados, como forma de a autoridade se
autolimitar e o visado não se auto -desculpabilizar por ininteligibilidade.»
Depois de largo debate nos Tribunais da Relação, o S.T.J., no seu Acórdão n.º
2/2013, publicado no Diário da República, 1.ª série, N.º 5, de 8 de Janeiro de
2013, fixou a seguinte jurisprudência:
13 / 15
desobediência simples.
Não consta que o arguido haja recorrido da referida sentença, pelo que,
passados os trinta dias do prazo de recurso, a sentença transitou em julgado.
Como é evidente, para a condenação pelo crime imputado não bastava a prova
de que o arguido não entregou o seu título de condução no prazo de 10 dias a
contar do trânsito em julgado da sentença proferida no processo
1464/14.0GCALM. Era necessário, igualmente, que se provasse que o arguido
tinha o dito título de condução em seu poder e podia efectuar a respectiva
entrega dentro daquele prazo.
Extrai-se do recurso que a recorrente entende que o arguido, quando lhe foi
devolvido o seu título de condução, em 10 de Agosto de 2015, após
14 / 15
cumprimento da pena acessória imposta no processo 51/14.8PTALM, deveria
ter entregado esse título, por iniciativa própria e sem necessidade de
notificação para esse efeito, no processo 1464/14.0GCALM.
Não vamos discutir se o arguido tinha ou não esse “dever”: o que importa é
que a não entrega da carta de condução, após 10 de Agosto de 2015, não está
coberta pela cominação de desobediência imposta na sentença, que tem de ser
interpretada nos seus precisos termos, sob pena de atentarmos contra o
princípio da legalidade.
É quanto nos basta para, com segurança, concluirmos que o arguido não podia
deixar de ser, como efectivamente foi (ainda que com diversa fundamentação),
absolvido, sendo desnecessário entrar na análise de todas as demais questões
e argumentos que a recorrente explana ao longo das cinquenta e duas páginas
da motivação de recurso, em que se incluem 91 conclusões.
III–Dispositivo:
15 / 15