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Universidade Federal de Viçosa

Disciplina: Sociologia

Aula 4 – Comte

Professor: Marcelo Ottoni Durante


Curso Sociologia Aula 4: Comte

Bibliografia:

• ARON, Raymond. As Etapas do Pensamento


Sociológico, São Paulo: Martins Fontes, 2008 -
Primeira Parte - Comte

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Curso Sociologia Aula 4: Comte

As Três Etapas do Pensamento


• A evolução do pensamento humano teria passado por três fases sucessivas:
– Idade Teleológica: O espírito humano explica os fenômenos atribuindo-os a
seres comparáveis ao próprio homem.
– Idade Metafísica: O espírito humano explica os fenômenos invocando
entidades abstratas, como a natureza.
– Idade Positiva: O homem se limita a observar os fenômenos e fixar relações
regulares que podem existir entre eles, elaborando as leis. Renúncia à busca
das causas dos fatos e se contenta em estabelecer as leis que os governam.
• A doutrina de Comte se baseia na idéia de que toda sociedade se mantem pelo
acordo dos espíritos e das crenças. É a maneira de pensar que caracteriza as
diferentes etapas da humanidade e a etapa final será marcada pela generalização
do pensamento positivo.
• Os cientistas vão substituir os sacerdotes e teólogos como categoria social que dá
base intelectual e moral da ordem social.
• A partir do momento em que os homens pensam cientificamente, a atividade
principal das coletividades deixa de ser a guerra de homens contra homens para
tomar posse de recursos naturais, para se transformar na exploração racional dos
recursos naturais. 03/10
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Sociedade Industrial
• Traços característicos da sociedade industrial:
(1) Graças a aplicação da ciência à organização do trabalho na indústria,
a humanidade desenvolve prodigiosamente seus recursos.
(2) A produção industrial leva a concentração dos trabalhadores nas
fábricas e nas periferias das cidades levando a formação das massas
operárias e a uma oposição entre empregados e de empregadores.
(3) Enquanto milhões de indivíduos sofrem as carências da pobreza,
graças ao caráter científico do trabalho, a riqueza não para de
aumentar e multiplicam-se crises de superprodução.
(4) O sistema econômico, associado à organização industrial e científica
do trabalho, se caracteriza pela liberdade de trocas e pela busca do
lucro.
• Para Comte, o liberalismo não é a essência da nova sociedade, mas um
momento de crise no desenvolvimento de uma organização que será
muito mais estável do que aquela fundada no livre jogo da concorrência.

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Curso Sociologia Aula 4: Comte

Superação da Sociedade Industrial


• A existência dos individuos não se define apenas pelo lugar que ocupam
na hierarquia econômica e social. Além desta ordem temporal, que
comanda o poder, existe uma ordem espiritual, que é a dos méritos
morais. O objetivo supremo de todos deve ser alcançar o primeiro lugar,
não na ordem do poder, mas na ordem dos méritos.
• A organização temporal seria reformada pelo poder espiritual, que deveria
ser exercido pelos cientistas e filósofos, que substituiriam os sacerdotes. O
poder espiritual deveria regular os sentimentos dos homens e uni-los com
vistas a um trabalho comum.
• As idéias essenciais de Comte sobre a divisão do trabalho são as da
diferenciação das atividades e da cooperação entre os homens. A
organização cientifica da sociedade industrial levaria a atribuir a cada
indivíduo um lugar proporcional à sua capacidade, realizando a justiça
social.

05/10
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Visão Histórica Unificada e Determinista: fetichismo ao positivismo


• O objetivo do devenir social é levar o pensamento humano à coerência. A história
da inteligência vai do fetichismo ao positivismo, isto é, da síntese baseada na
projeção para o mundo exterior de uma realidade semelhante a da consciência, até
a descoberta das leis que comandam os fenômenos. Este devenir da inteligência é
movido pela crítica incessante do positivismo sobre as sínteses provisórias do
fetichismo. Em síntese, para o homem, o positivismo consiste em reconhecer uma
ordem que lhe é exterior, em confessar sua incapacidade de dar uma explicação
última, e em se contentar em buscar decifrá-la.
• Se a história é a da inteligência, a história é apenas de um único povo. As diferentes
partes da humanidade não tiveram o mesmo passado, pois em seu ponto de
partida não tiveram os mesmos dons e tiveram que vencer obstáculos e condições
geográficas distintas.
• Comte possui uma visão da história totalmente unificada, onde os fenômenos
sociais estão sujeitos a um determinismo rigoroso: o método positivo será
estendido a todos os domínios que são deixados a teologia e metafísica. O
paradoxo é que esta ordem fundamental deverá realizar-se por si mesma, pois
segundo Comte é uma ilusão acreditar que um indivíduo pode modificar
substancialmente o curso da história. 06/10
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Natureza Humana e Ordem Social


• A ação humana, sempre animada pela afeição, precisa ser controlada pela
inteligência. O homem é egoísta e a história não altera a natureza humana. O
pensamento positivo não é espontâneo e a história é indispensável para que a
inteligência atinja seu fim imanente, ou seja, fazer com que os homens sejam
movidos, cada vez mais, por disposições altruístas e não por instintos egoístas.
• A ordem social exige o reconhecimento de um princípio de unidade por todos os
indivíduos, isto é, uma religião que comporte três aspectos:
– Intelectual: o dogma transmite o conhecimento,
– Afetivo: o culto regula os sentimentos e
– Prático: o regime regula o comportamento dos crentes.
• Ao recebermos uma linguagem, recebemos uma cultura criada pelos nossos
antepassados, ou seja, a linguagem é uma projeção da inteligência. A humanidade
existe por que há tradição, pois é isto que garante a unidade humana através do
tempo. Na família, os homens têm a experiência da continuidade histórica e
aprendem o que corresponde a dimensão básica da civilização: a transmissão, de
geração para geração, do capital físico e das aquisições intelectuais.

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Papel do Poder Espiritual


• Em contrapartida ao domínio da força, intrinsecamente ligado à natureza
humana, é necessário um poder espiritual, envolvendo tanto a inteligência
quanto a afeição e o sentimento.(Apesar da mulher ser intelectualmente
inferior ao homem, ela possui mais poder espiritual, que é muito mais
importante do que a inteligência)
• O poder espiritual rege a vida interior dos homens, une-os para viverem e
agirem em comum e consagra o poder temporal, mostrando aos indivíduos a
necessidade da obediência: a vida social não é possível sem que alguns
comandem e outros obedeçam. No entanto, a função do poder espiritual é
ainda mais importante, neste contexto, ao lembrar os poderosos de que
devem executar sua função social e que sua situação de comando não implica
superioridade moral ou espiritual.
• Os homens devem aceitar as hierarquias temporais porque terão consciência
da precariedade dessa hierarquia e reservarão seu apreço supremo para a
ordem espiritual, onde o mais importante é a ordem dos méritos . Isto é
condição fundamental para o estabelecimento de um consenso mais estreito
entre os homens.
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O Papel da Ciência na Solução das Crises das Sociedades Modernas


• Convencido de que as sociedades têm o poder público que merecem e que
correspondem ao estado da sua organização social, não acredita que, com
reformas econômicas ou políticas, o homem possa por fim à crise das sociedades
modernas. O fundamental é reformar a maneira de pensar do homem, mostrar a
todos que a organização positivista é racional para a ordem temporal e ensinar-lhes
o altruísmo e o amor na ordem espiritual.
• As leis estabelecidas pelos cientistas são comparáveis a dogmas, devem ser aceitas
de uma vez por todas e não perpetuamente questionadas. Toda ciência que não
tiver o mérito de revelar uma ordem ou de nos permitir agir é inútil e injustificável.
A ciência seria fundamental para visualizar uma estrutura do real: há na natureza
uma estrutura hierárquica dos seres, segundo a qual cada categoria está sujeita a
determinadas leis e o superior condiciona o inferior, mas não o determina.
• A função da sociologia é compreender o devenir inevitável da história para ajudar
na realização da ordem fundamental, fornecendo o sistema de idéias científicas
que presidirá a reorganização social e resolverá a crise do mundo moderno.
• As ciências são espreitadas por um perigo permanente: os cientistas tendem a se
contentar com o trabalho do cientista, sem a ambição de reformar a sociedade.
09/10
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Da Filosofia à Religião
• Comte se proclamava fundador de uma religião:
– A religião corresponde a uma necessidade permanente do homem por que
ele precisa amar algo que é maior do que ele.
– As sociedades têm necessidade da religião porque precisam de um poder
espiritual que consagre e modere o poder temporal e lembre aos homens
que a hierarquia das capacidades não é nada ao lado da hierarquia dos
méritos.
– O Grande Ser, entre os homens, é aqueles que sobrevivem nos seus
descendentes por que viveram de modo que deixaram uma obra ou exemplo.
• Comte não ensina a amar uma sociedade entre outras, mas amar a excelência de
que alguns homens foram capazes. Ele quer que os homens, embora destinados a
viver em sociedades temporais fechadas, estejam unidos por convicções comuns
e um objeto único de amor.

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