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Texto 2 – Desempenho X competência: como preparar o

estudante para o futuro

Vivemos em um mundo hiperconectado, em que a inteligência


artificial, os drones e a nanotecnologia já fazem parte da nossa
realidade. A maioria de nós faz uso de celulares e redes sociais
e nosso consumo via internet, seja de bens e/ou serviços, de
informação ou entretenimento, trouxe mudanças em nossa
forma de nos comunicar e relacionar, comprar e vender,
estudar e trabalhar, exigindo que as escolas se adequassem a
essas novas demandas sociais.

No entanto, um problema acabou sendo escancarado com


a pandemia de covid-19, iniciada em 2019: a exclusão digital e
a falta de acesso à internet. Com o fechamento das escolas,
famílias, professores e estudantes perceberam não estar
acompanhando a velocidade dessa transformação
tecnológica. Esse descompasso torna-se ainda mais
preocupante quando consideramos pesquisas como a do
Fórum Econômico Mundial, que apontam que cerca de 65%
das crianças e jovens de hoje exercerão profissões que ainda
não existem. Portanto, percebemos que muito dos modelos e
metodologias educacionais usados até então já não atendem
mais esses estudantes, que não compreendem a
aplicabilidade de muita coisa do que aprendem na escola nas
suas vidas.ágrafo pronto para conter criatividade, experiências
e grandes histórias.

Como podemos virar o jogo? Como preparar os alunos para


um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo? Como formar
cidadãos para um futuro profissional que ainda não se
definiu? O primeiro passo, sem dúvida, é adequar o currículo,
incluindo
a autonomia, a colaboração e outras competências
fundamentais para superarem desafios de hoje e do futuro.

A BNCC buscou contemplar essas necessidades da sociedade


olhando além das competências cognitivas. A partir das
observações de programas educacionais de outros países,
como os EUA, da análise de dados e pesquisas específicas
sobre a aprendizagem, estabeleceu o mínimo que cada aluno
deve saber em cada etapa do ensino, pautada em uma
educação baseada em competências.

Discutimos anteriormente sobre como a educação baseada


em competências demonstra ser um caminho possível para a
formação integral dos educandos. Nesse sentido, agora
consideraremos outros aspectos essenciais quando se almeja
o desenvolvimento de competências. Um deles é o feedback,
que precisa ser contínuo e específico, indicando com clareza e
objetividade o que se espera do estudante e o que ele precisa
fazer para realizar uma determinada tarefa. Também é preciso
compartilhar previamente os objetivos de aprendizagem,
selecionando quais evidências de aprendizagem deverão ser
produzidas pelos alunos e que instrumentos avaliativos são os
mais adequados para verificar a aprendizagem.

Sobre o processo avaliativo com foco em competências, Lucius


Provase, mestre e doutor em Teoria Literária pela USP,
afirmou em entrevista ao Instituto Singularidades que o
estudante deve:

[...] ter ciência de seu processo de aprendizagem, a


metacognição, deve saber quais são os objetivos de cada etapa
e como será avaliado. Ao se ver envolvido dessa maneira no
processo, a consequência é que o engajamento acontece de
maneira muito mais frequente e até mais naturalmente do que
em outros contextos. (ANA KARLA, 2019)
Apesar de sabermos o quanto uma devolutiva personalizada do professor para o aluno é
necessária e favorece a reflexão sobre a aprendizagem, esse tipo de avaliação ainda não
é usual nas instituições de ensino brasileiras. Estamos mais acostumados com
um conceito, uma nota que pretende indicar se e o quanto um estudante aprendeu um
componente. No entanto, essa prática não favorece a reflexão no processo e nem
oportuniza o aprimoramento de uma tarefa.
Precisamos reforçar o uso desse tipo de feedback, que é uma ferramenta poderosa para
o desenvolvimento/mobilização da metacognição, apoiando o professor em um processo
avaliativo formativo pautado na comunicação. Fica aqui uma reflexão: será que vemos
o feedback mais como uma crítica do que como uma oportunidade de aprender e
avaliar?
Como fazer isso na prática? Como fazer com que a prova e a nota não sejam o norteador
da prática escolar? Como trazer o feedback para um lugar central, e não apenas como
uma atividade extra? São muitas as perguntas e esperamos poder esclarecer algumas
dessas questões. De toda forma, estamos avançando, saindo de uma abordagem mais
conteudista para contemplar um currículo mais flexível e com foco em competências e
habilidades, e a BNCC permite que essa mudança aconteça sem que a escola rompa
com seu projeto pedagógico, já que se trata de um documento norteador. A escola
precisa apenas definir quais competências atravessam áreas de conhecimento e
componentes curriculares e como devem ser avaliadas. Esses ajustes pedem tempo e
devem acontecer de forma democrática, mediante diálogo entre gestão e corpo docente.
Mais à frente, traremos algumas práticas para exemplificar como professores,
coordenadores e gestores conseguem fazer sua parte no microcosmo de sua escola.

Vamos refletir?
Michael Polanyi (1886-1964) trouxe uma analogia marcante para explicar o
que é conhecimento: o iceberg. Nele, uma pequena parte aparece fora da
água, mas uma porção muito maior está imersa. A imagem nos faz
entender que a parte visível se refere aos saberes que podem ser
demonstrados (em palavras, por exemplo). A parte que não vemos são os
saberes tácitos, que, inclusive, sustentam a parte visível da superfície. Na
escola, é mais comum avaliarmos a parte explícita. Precisamos ser mais
atentos a esses saberes implícitos, que podemos também chamar de
competências.

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