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Métodos Laboratoriais em Patologia Molecular

Apoptose

Morte Celular Programada


Caspases
Família Bcl-2
Vias que regulam a apoptose
quarta-feira, 2 de Junho de 2010 1
Objectivos
 Apoptose
 Compreender e contextualizar a morte celular programada.
 Descrever e distinguir os diferentes processos de morte celular
necrótica, autofagia e apoptose.
 Identificar as situações fisiológicas e patológicas a que a apoptose
pode surgir como resposta.
 Identificar as caspases como elementos centrais no processo de
apoptose e compreender o seu funcionamento.
 Identificar a família Bcl-2 como elementos centrais no processo de
apoptose e compreender o seu funcionamento.

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Objectivos
 Apoptose
 Compreender as vias que induzem apoptose:
 quebra de DNA;
 via PI 3-quinase;
 via TNF.
 Compreender e identificar os mecanismos que iniciam a apoptose,
nomeadamente a via intrínseca e extrínseca.
 Compreender a fase de execução da apoptose.

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Morte celular programada
 Descreve um processo regulado de morte celular

 Durante muito tempo foi associada


exclusivamente à apoptose

 Hoje descrevem-se 3 processos:


 Morte celular necrótica
 Autofagia
 Apoptose
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Morte celular programada
 Morte celular necrótica
 Eventos moleculares que levam à morte celular
distinta da apoptose e autofagia.
 Necrose tecidular patológica vista ao microscópio
é o produto tanto de morte por autofagia,
apoptose ou morte celular necrótica.
 Surge quando o rácio de morte celular excede a
possibilidade das células limparem as células mortas
 O somatório das três leva ao surgimento da necrose
tecidular patológica
 É um processo irreversível 5
Morte celular programada
 Autofagia
 É um processo em várias fases que envolve a
captura por vesículas de proteínas citoplasmáticas
e organelos velhos.
 A formação de autofagossomas é seguida de
fusão com lisossomas, e através da acção de
enzimas dependentes de acidez é levada a cabo a
degradação do seu conteúdo.
 É um processo reversível.

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Morte celular programada
 Apoptose
 É uma via de morte celular conservada
geneticamente desde C. elegans até aos
mamíferos
 Foi descrita pela primeira vez em 1972.
 Características comuns:
 Diminuição celular
 Condensação da cromatina
 Formação de corpos apoptóticos
 Fagocitose de células apoptóticas
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Figure 17.1 Apoptosis
Apoptose
 Células que morrem por apoptose são
rapidamente fagocitadas por macrófagos e
células vizinhas
 Esta remoção é levada a cabo pelos sinais
designados “eat me”
 Incluem a apresentação no exterior da célula de
fosfatidilserina
 Encontra-se normalmente na parte interna da
membrana
 Serve de sinalização para receptores das células
fagocíticas 9
Figure 17.2 Phagocytosis of apoptotic cells
Apoptose

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Apoptose
Features of Necrosis and Apoptosis
Feature Necrosis Apoptosis
Cell size Enlarged (swelling) Reduced (shrinkage)
Nucleus Pyknosis → karyorrhexis → Fragmentation into
karyolysis nucleosome size fragments
Plasma membrane Disrupted Intact; altered structure,
especially orientation of
lipids
Cellular contents Enzymatic digestion; may Intact; may be released in
leak out of cell apoptotic bodies
Adjacent inflammation Frequent No
Physiologic or pathologic Invariably pathologic Often physiologic, means of
role (culmination of irreversible eliminating unwanted cells;
cell injury) may be pathologic after
some forms of cell injury,
especially DNA damage
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Apoptose
 Pode surgir como resposta a situações
fisiológicas:
 Destruição celular durante a embriogénese
 Involução dependente de hormonas (ciclo
menstrual)
 Delecção celular em populações celulares em
proliferação (epitélio da cripta intestinal)
 Morte de células do hospedeiro que serviram o
seu propósito (final da resposta imune)
 Morte celular induzida por células T citotóxicas
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Apoptose
 Ou em condições patológicas:
 Morte celular induzida por estímulos lesivos
 Dano celular provocado por doenças virais
(hepatite)
 Atrofia patológica em órgãos parenquimatosos
após obstrução ductal (pâncreas, parótida e rins)
 Morte celular em tumores

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Apoptose
 Características bioquímicas:
 Clivagem proteica
 Acção das caspases
 Estão inactivas e após activação clivam proteínas
celulares vitais

 Quebra de DNA

 Reconhecimento fagocítico

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Caspases
 São uma família de proteases que possuem
resíduos de cisteína no seu centro activo que
clivam proteínas após o ácido aspártico (Asp)
 Têm como alvos perto de 100 proteínas:
 Inibidores de DNAses
 Lamininas nucleares
 Proteínas do citoesqueleto
 São classificadas em:
 Iniciadoras
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 Efectoras
Figure 17.4 Caspase targets
Caspases
 São sintetizadas como percursores inactivos
designados pro-caspases
 São activados por clivagem proteolítica

 A activação de uma caspase iniciadora activa


uma reacção em cadeia levando à activação
das caspases efectoras

 São centrais para determinar a sobrevivência


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celular
Caspases
 Sabe-se que o complexo Apaf-
1 liga-se à pro-caspase 9 e
promove a sua activação
 Apoptosis activating factor-1
 É um heptâmero que com a
pro-caspase 9 (iniciadora) e
citocromo-c formam o
apoptossoma

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Figure 17.5 Caspase activation
A família Bcl-2
 Foi descrito em 1985 como um oncogene que
contribuía para o desenvolvimento de linfoma
das células B
 B-cell lymphoma 2
 Descobriu-se que inibia a apoptose, quando
activo não permite que esta ocorra
 Pertence a uma família com mais de 20
proteínas relacionadas
 É dividida em 3 grupos funcionais
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Figure 17.6 The Bcl-2 family
A família Bcl-2
 O destino da célula é determinado pelo
balanço da actividade dos membros da família
pro-apoptóticos e anti-apoptóticos
 Proteínas pro-apoptóticas de domínio múltiplo (Bax e
Bak) estão inibidos por proteínas anti-apoptóticas (Bcl-
2 e Bcl-xL)
 As proteínas que possuem exclusivamente BH3 (Bid,
Bad, Noxa, Puma, Bim) são activadas apenas mediante
sinais de indução da morte celular
 Quando estão activados antagonizam a acção das proteínas
anti-apoptóticas activando as proteínas pro-apoptóticas de
domínio múltiplo
23
 Levam à activação das caspases e à morte celular
Figure 17.7 Regulatory interactions between Bcl-2 family members
A família Bcl-2
 Estes actuam todos a nível da mitocôndria,
que possui um papel central no controlo da
morte celular programada
 Bax e Bak formam oligómeros na membrana
exterior da mitocondria
 Levam à libertação de citocromo c do espaço
intermembranar
 A libertação do citocromo c leva à activação da
caspase 9 no citoplasma através do apoptossoma

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Figure 17.8 The mitochondrial pathway of apoptosis
A família Bcl-2
 As caspases são também reguladas pelas IAP
 Inhibitor of apoptosis

 Interagem directamente com as caspases de 2


formas:
 Inibindo a sua actividade
 Ubiquitinando a caspase e degradando-a através
de proteossoma

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A família Bcl-2
 A acção de Bax e Bak leva também à
libertação da mitocondria de duas proteínas:
Smac/Diablo e Omi/Htr2
 Estas inibem a acção das IAP, promovendo a
actividade das caspases

 Os IAP e os membros da família Bcl-2 são


alvos das vias que controlam a sobrevivência
das células nos mamíferos
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Figure 17.9 Regulation of caspases by IAPs in Drosophila
Vias que regulam a apoptose
 Uma das causas mais frequentes de activação
da apoptose é a quebra de DNA
 Esta é mediada pelo factor de transcrição p53
 As quinases de proteínas ATM e CHK que são
activadas pela quebra de DNA fosforilam a p53
estabilizando-a
 O aumento da p53 leva à activação transcricional
de genes como o inibidor de Cdk p21 (paragem do
ciclo celular) e proteínas da família Bcl-2 pró-
apoptóticas que possuem exclusivamente BH3
(Puma e Noxa) 30
Figure 17.10 Role of p53 in DNA damage-induced apoptosis
Vias que regulam a apoptose
 A maioria das células nos animais superiores
está programada para entrar em apoptose a
não ser que esteja activamente suprimida por
sinais provenientes de outras células
 A via mais importante é iniciada pela enzima PI 3-
quinase

 Por outro lado existem factores que


promovem a morte celular programada
 Pertencem à família TNF (tumor necrosis factor) 32
Vias que regulam a apoptose
 A PI 3-quinase transforma PIP2 em PIP3
activando a quinase Akt
 Esta fosforila um número de proteínas que
regulam a apoptose:
 Fosforila Bad (pró-apoptótica) que é recrutada pelo
chaperone 14-3-3
 Fosforila FOXO (inactivando-o) que é um factor de
transcrição de Bim (pró-apoptótico)
 Regula GSK-3β que por sua vez regula a transcrição de
genes da p53, do NF-кB, da IAP e da família Bcl-2
 Promove a via mTOR que leva à transcrição genómica
33
Figure 17.11 The PI 3-kinase pathway and cell survival
Vias que regulam a apoptose
 A ligação de TNF aos respectivos receptores
(TNFR) sinalizam a apoptose em vários tipos
celulares
 Um dos receptores mais bem caracterizado
designa-se TNFR-1
 A ligação do ligando promove a trimerização do
receptor
 A porção citoplasmática liga-se a moléculas
adaptadoras que se ligam a uma caspase iniciadora
(pró-caspase 8)
 A caspase 8 após activação activa as caspases efectoras35
Figure 17.12 Cell death receptors
Figure 17.12 Cell death receptors (Part 1)
Figure 17.12 Cell death receptors (Part 2)
Vias que regulam a apoptose
 Em algumas células é necessária amplificação de
sinal
 A caspase 8 activa a proteína pro-apoptótica que possui
exclusivamente BH3, Bid.
 Bid leva à libertação de citocromo c da mitocôndria e à
consequente activação do apoptossoma e activação da
caspase 9
 Levando à amplificação de sinal promovido pela
caspase 8

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Mecanismos da apoptose
 O processo pode ser dividido em duas fases:
 Fase inicial onde as caspases se tornam
cataliticamente activas
 Fase de execução onde as enzimas actuam para
causar a morte celular

 Podemos falar em dois mecanismos principais


para iniciar a apoptose:
 Via extrinseca (ou iniciada por receptor)
 Via intrinseca (ou mitocondrial) 40
Via extrínseca
 É iniciada pela presença de receptores de morte
numa variedade de células
 Estes receptores da família TNFR possuem um
domínio citoplasmático designado death domain
 O receptor Fas é o mais bem descrito
 Aquando a ligação de Fas-L o receptor trimeriza e os seus
death domains ligam-se a uma proteína adaptadora, que
se chama FADD (Fas-associated death domain)
 Assim activado o FADD liga-se a pro-caspase 8 através do
seu death domain.
 Várias pro-caspases 8 são recrutadas promovendo várias
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clivagens gerando caspases 8 activas
Via extrínseca
 A caspase 8 activada vai
clivar caspases
efectoras que iniciam o
processo apoptótico
propriamente dito
 A proteína FLIP pode
inactivar esta via
ligando-se a pro-
caspase 8 impedindo-a
de clivar

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Via intrínseca
 Esta via é o resultado do aumento da
permeabilidade das mitocondrias e libertação
de moléculas pro-apoptóticas
 Factores de crescimento e outros sinais de
sobrevivência estimulam a produção de
proteínas anti-apoptóticas da família Bcl-2
 Estas proteínas anti-apoptóticas estão
normalmente nas membranas das mitocondrias e
no citoplasma
43
Via intrínseca
 Células privadas de sinais de sobrevivência ou
sujeitas a stress
 Perdem Bcl-2 e/ou Bcl-xL da membrana da
mitocôndria e são substituídas por proteínas pro-
apoptóticas da mesma familia, Bak e Bax.
 Estas proteínas promovem a libertação de
citocromo c que forma o apoptossoma e activa a
pro-caspase 9
 Há a libertação de factores de indução da
apoptose que neutralizam inibidores da apoptose
(Smac/Diablo e Omi/Htr2) 44
Via intrínseca
 Esta via vive do balanço entre as moléculas
pro-apoptóticas e as moleculas anti-
apoptóticas que influenciam a permeabilidade
mitocondrial

 Pode haver sobreposção das duas vias


 Nos hepatócitos a sinalização via Fas activa o Bid
que por sua vez activa a via mitocondrial
 Não se sabe se estas vias cooperativas estão
activas noutros tipos celulares 45
Via intrínseca

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Fase de execução
 A fase final é mediada por uma cascata
proteolítica para a qual os mecanismos
convergem
 Estão dependentes de dois tipos de caspases:
 Iniciadoras – Caspases 8 e 9
 Efectoras – Caspases 3, 6 e 7
 Estão no citoplasma na sua forma inactiva de
pro-enzima e podem ser hidrolizadas por
outras caspases ou autocataliticamente
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Fase de execução
 As efectoras têm várias funções:
 Citoplasma - Cliva as proteínas do citoesqueleto
 Núcleo – Cliva proteínas da matriz nuclear,
proteínas de transcrição, replicação e reparação
do DNA
 A caspase 3 cliva um inibidor de uma DNAse activando-
a

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Resumo das vias

49
Outros esquemas

50
Outros esquemas

51
Outros esquemas

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Bibliografia

 Todas as imagens foram retiradas de


 Cooper, G.M.; Hausman, R.E. The Cell: A Molecular Approach (4ª ed.).
Sunderland: Sinauer, 2007
 Kumar, V.; Abbas, A. K.; Fausto, N. Robbins and Cotran Pathologic Basis of
Disease (7ª ed.). Philadelphia: Elsevier Saunders, 2005
 Danial, N. BCL-2 Family Proteins: Critical Checkpoints of Apoptotic Cell
Death. Clin Cancer Res 2007;7263 13(24)

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Síntese
 Apoptose
 Morte celular programada
 Apoptose
 Caspases
 Bcl-2
 Vias que regulam a apoptose: p53, PI3K e TNF
 Mecanismos de apoptose: via extrínseca e via
intrínseca

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