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Bom dia!

Sou a Maria Filipe Alberto, estudante do curso de Licenciatura em Ensino de Língua


Portuguesa, 4º ano.
Tema de debate: Particulares da literatura São-Tomense.
1. Particularidades da literatura são-tomense
A literatura deste pequeno país de duas ilhas no noroeste da costa africana é ainda pouco
representativa no contexto das literaturas africanas de expressão portuguesa. No entanto, e
qualquer que seja o futuro da sua produção poética, São Tomé e Príncipe tem assegurada a
presença na panorâmica histórica da literatura africana. Com efeito, Francisco José
Tenreiro, nascido em São Tomé, em 1921, é um dos marcos da poesia africana de expressão
portuguesa.
Sobre outros poetas, valerá a pena mencionar um dos precursores da negritude lusófona,
Francisco da Costa Alegre, nascido em 1864. A sua única obra, Versos, foi editada
postumamente, em 1916.
Costa Alegre é um dos primeiros poetas africanos que se exprime em língua portuguesa e
que tem a consciência da sua cor. Ele não articula uma resposta à injustiça social que deixa
transparecer em alguns dos seus versos, pelo que a sua poesia se parece mais com um queixume
sobre a sua situação de africano de cor: a minha cor é negra,/Indica luto e pena;/(...)Todo eu sou
um defeito,/Sucumbo sem esperanças,/.
Devemos referir também a poetisa Alda do Espírito Santo que figura em todas as
antologias de poesia africana. A sua poesia, que tem também a diferença racial e a exploração
colonial como pano de fundo, caracteriza-se por uma grande dose de combatividade e
panfletarismo. No entanto, no seu único livro publicado até à data, É Nosso o Solo Sagrado da
Terra: Poesia de protesto e luta, encontramos também os poemas de grande profundidade
lírica, que descrevem com traços de verdadeira sensibilidade artística, a vida dos habitantes de
São Tomé.
Como já nos referimos, o expoente da poesia são-tomense , e da poesia africana, é
Francisco José Tenreiro. Duas razões fundamentais para esta facto. A primeira é uma
razão que se reveste de carácter histórico de muita importância. Francisco José Tenreiro foi, de
parceria com outro importante nome da literatura de Angola( Mário Pinto de Andrade), o autor
do célebre Caderno de Poesia Negra de Expressão Portuguesa, lançado em Lisboa, em 1953. A
publicação, com uma introdução de Mário Pinto de Andrade, é uma pequena antologia de poetas
de Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe e ainda um poema de Nicolás Guillén, a quem o
caderno é dedicado. Tem como objectivo fundamental uma reflexão sobre o que devia
entender por negritude na África sob dominação portuguesa. O último período da introdução é
bem explícito com relação ao propósito da publicação do caderno, que se destina
"fundamentalmente aos que sabem encontrar-se reflectidos nesta poesia, e aos que,
compreendendo a hora presente de formação de um novo humanismo à escala
universal, entendem que os negros exercitam também os seus timbres particulares para cantar a
grande sinfonia humana."
A segunda razão por que Francisco José Tenreiro é um marco de máxima importância na
literatura africana vem resumida na introdução atrás citada. As palavras do poeta angolano
sintetizam, a nosso ver, o conteúdo temático e formal da poesia de Tenreiro. É por tal motivo que
nos permitimos terminar a referência ao grande da negritude em português com as palavras de
Mário Pinto de Andrade: "Quem pela primeira vez exprimiu em língua portuguesa foi
sem sombra de dúvida Francisco José Tenreiro no seu livro Ilha de Nome Santo, datado de 1942.
Devemos assinalar que ele encontrou por si, individualmente, as formas mais autênticas
de expressão subjectiva e objectiva. A Ilha de Nome Santo aparece assim como um feliz
encontro dos temas da sua terra de origem (S. Tomé) e ainda como exaltação do homem
negro de todo o mundo".
A história de São Tomé e Príncipe é um tanto quanto similar à de Cabo Verde, pelo seu
carácter insular. Nos dois territórios verificam-se o chamado fenómeno da crioulização.
No campo literário são-tomense, é a partir de Caetano da Costa
Alegre que a literatura começa a afirmar-se, porém só com Francisco José Tenreiro a literatura
são-tomense se solidifica. (FERREIRA, 1987, p. 38).
A literatura são-tomense apresenta particularidades que reflectem a história, a cultura e as
experiências do povo de São Tome e Príncipe.

2. Temáticas que giram em torno da literatura são-tomense.


As temáticas da literatura são-tomense frequentemente giram em torno de questões
relacionadas à: Identidade cultural, colonialismo, independência, cultura local, tradições,
desigualdades sociais e a luta pela liberdade.
Autores como Alda Espírito Santo e Conceição Lima exploram essas temáticas em suas
obras, oferecendo perspectivas profundas sobre a realidade são-tomense. Muitas obras também
reflectem as influências da cultura africana e da diáspora africana.
3. Papel do escritor francisco tenreiro no contexto da africanidade.
Segundo FERREIRA, (1987), diz que o escritor Francisco José Tenreiro foi um importante
escritor e intelectual são-tomense que desempenhou um papel fundamental na promoção da
africanidade ao se destacar como um dos fundadores do movimento negritude, juntamente com
Aimé Césaire e Léopold Sédar Senghor.
Este movimento literário e cultural reivindicava a valorização da identidade negra e das
culturas africanas, influenciando assim a literatura são-tomense ao promover a valorização da
herança africana e a luta contra o preconceito racial.
Tenreiro ganha destaque por ser o primeiro escritor da África lusófono a cultivar a
negritude na sua criação literária e na luta pela independência de São Tomé e Príncipe. Ele era
membro do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP) e escreveu obras que
destacavam a importância da cultura africana e a resistência do povo são-tomense.

4. Contributos que deram a casa de estudantes do império à literatura são-tomense e


temáticas que abordavam.
A Casa de Estudantes do Império (CEI), uma instituição criada em Lisboa em 1944, foi um
local de encontro e formação para estudantes africanos das colónias portuguesas, incluindo São
Tomé e Príncipe.
Esta Casa teve uma grande importância na formação de intelectuais africanos, incluindo
são-tomenses, que desempenharam papéis relevantes na literatura. Autores como Alda Espírito
Santo e Francisco José Tenreiro foram membros activos da CEI e contribuíram para a
disseminação de ideias sobre africanidade, independência e justiça social.
As temáticas abordadas por esses autores incluíam a valorização das culturas africanas,
críticas ao colonialismo e reflexões sobre a identidade nacional.
Essas são algumas das características marcantes da literatura são-tomense, que reflectem as
experiências únicas desse povo e sua contribuição para o panorama literário africano e global.

5. Referências bibliográficas
FERREIRA, Manuel, No Reino de Caliban II (Angola e S. Tomé e Príncipe), Lisboa, Seara
Nova.
LARANJEIRA, J. L. Pires, Literaturas Africanas de Expressão portuguesa, Lisboa, Universidade
Aberta, 1992.

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