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UNIVERSIDADE ABERTA – ISCED

Faculdade de Ciências de Educação


Curso de Licenciatura em Ensino de Português

Mudança do português em Moçambique

Dina Márcia Mário Samuel - 61230748


Tete, Março de 2024
UNIVERSIDADE ABERTA –ISCED
Faculdade de Ciências de Educação
Curso de Licenciatura em Ensino de Português

Mudança do português em Moçambique

Trabalho de campo a ser submetido na


Coordenação do Curso de Licenciatura
em Ensino de Português da UnISCED.

Tutor: D Nhatuve

Dina Márcia Mário Samuel - 61230748


Tete, Março de 2024
Índice
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO.......................................................................................................1
1.1. Objectivos..............................................................................................................................1
1.2. Objectivo geral......................................................................................................................1
1.3. Objectivos específicos...........................................................................................................1
1.4. Métodos de pesquisa..............................................................................................................1
CAPÍTULO 2: REVISÃO DA LITERATURA................................................................................2
2.1. Mudança do português em Moçambique..................................................................................2
2.2. Mudança do português em Moçambique no léxico...................................................................3
2.3. Mudança do português em Moçambique na morfossintaxe......................................................3
2.4. O português de Moçambique foi resultado de uma Transmissão Linguística Irregular?..........6
2.5. O português de Moçambique e os moçambicanismos..........................................................6
2.6. Variação linguística no português / As variedades nacionais................................................7
CAPÍTULO 3: CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................8
CAPÍTULO 4: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................9
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO
O Português é atualmente falado em várias regiões do mundo, contando já com duas
normas reconhecidas, a do Português Europeu (PE) e a do Português Brasileiro (PB).
Entretanto, algumas entidades moçambicanas não entendem que se trata do momento certo
para discutir a variedade do Português de Moçambique (PM) por ser cedo demais! A presente
pesquisa ruma contrária a essa ideia, demonstrando que a variação do português em Moçambique
nunca avisará a sua chegada.
Obviamente em Moçambique, não há dialetos, mas uma variedade do português que se
distancia do português europeu linguisticamente falando. É necessário evidenciar, portanto, que o
português falado/escrito em Moçambique difere-se do que é escrito/falado em outros países da
lusofonia.
1.1. Objectivos
1.2. Objectivo geral
 Falar sobre a mudança do Português em Moçambique.
1.3. Objectivos específicos
 Descrever a mudança do português em Moçambique na fonética;
 Descrever a mudança do português em Moçambique na sintaxe;
 Descrever a mudança do português em Moçambique no léxico.
1.4. Métodos de pesquisa
De acordo com LAKATOS & MARCONI (1991:p.39) definem “O método como sendo o
caminho pelo qual se chega a determinados resultados, ainda que esse caminho não tenha fixado
de antemão do modo reflectido deliberado”.
Metodologia para a execução deste trabalho foi realizada uma pesquisa bibliográfica a
respeito do assunto nos principais autores da literatura nacional e internacional sobre o tema,
sendo examinados livros, artigos científicos e sites da Internet, constituindo-se um ensaio.

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CAPÍTULO 2: REVISÃO DA LITERATURA
2.1. Mudança do português em Moçambique
No que concerne as questões linguísticas e olhando para o quotidiano detectamos que os
falantes de uma língua há um conhecimento comum que os permite usar a língua e, mais do que
fazer o uso, permite-os distinguir um uso adequado do inadequado (MATEUS; CARDEIRA,
2007, p. 19). Esta capacidade resulta de um reconhecimento de um determinado modo de falar,
que é uma linha comum de toda uma comunidade, a norma, o modo de uso da língua que,
normalmente, se usa na escola.
Entretanto, a situação actual da LP em Moçambique desencadeia várias questões no âmbito
da política linguística nacional. É que, apesar de se ensinar a norma do PE nas escolas, não se
fala um Português que se aproxime daquele padrão. O PM apresenta aspectos que o
particularizam sobremaneira. Desta feita, não são descabidas tais questões, tendo em vista um
contexto em que a escola reconhece e ensina uma norma que muito se distancia da realidade de
seus falantes. A norma não é produto linguístico, nem deve estar totalmente distanciado do falar
de todo um povo, embora possa haver algumas diferenças dialetais.
Além disso, as variações em língua Linguística em Moçambique abrangem dimensões
linguísticas, que incluem aspectos fonético fonológicos, morfossintáticos, semântico pragmáticos
e retóricos. Um factor evidente que dá um aspecto único ao português falado em Moçambique é
a variação do sotaque que aparece em todas as línguas maternas de origem bantu e que, muitas
vezes, surge em conexão com uma transferência de propriedades dessas línguas [...] Ex. a)
Ensurdecimento das oclusivas sonoras, típicas dos falantes nativos do emakhuwa (PE: [bɔla]
“bola”; PM: [bɔla]; Emakhuwa: [pɔla]; (PE: [buʀu] “burro” PM) [buru]; Emakhuwa: puru]).
(Menezes, 2013, p. 9)
Em certa medida, a ideia de uma língua que pela sua prática, vivência e contextos
diferentes gera diversidades e torna a língua portuguesa mais rica e mais dinâmica é
incontestável, e Monjane

Entre os traços que mostram este tipo de transferências incluem-se os seguintes:


Ensurdecimento das oclusivas sonoras, típicas dos falantes nativos do emakhuwa. O sistema
fonológico do emakhuwa só contém oclusivas surdas e, por isso, não contempla uma distinção
fonológica entre oclusivas sonoras e surdas, como o português faz.

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Ex. (PE)/bola/…(PM) /bola/….(emakhuwa) /pola/
(PE) /burro/…(PM) /burro/….(emakhuwa) /purro/
Traços lexicais: surgem através de empréstimos lexicais das línguas maternas no português
falado em algumas zonas de Moçambique:
Ex. Dumba-nengue, palavra de origem ronga, língua moçambicana, que literalmente
significa ‘confie nas suas pernas’, uma expressão usada em referência a um tipo de mercado
informal, na zona sul de Moçambique. A palavra é uma combinação de «kudumba», ‘confiar’ e
«nengue», ‘pé/perna’. Indica o fato de que os mercados informais são ilegais e, por isso, os
vendedores têm que fugir constantemente da polícia, confiando nas suas pernas.

É certo que tal política teria permitido a realização dos objetivos pretendidos, porém, sob o
ponto de vista meramente linguístico, bloqueou significativamente o avanço das línguas bantu
com as quais o Português coabita, e retardou os trabalhos de descrição e prescrição dos
verdadeiros falares moçambicanos. Aliás, em Moçambique, debate-se, atualmente, com a
questão do essencialismo/tradição linguístico/a – atitude que se relaciona com a manutenção e
deificação do PE favorecido pela política linguística do movimento de libertação que o adotou
como instrumento de comunicação e posteriormente o impôs na sociedade em 1975 (SANTANA,
2010) – e o epocalismo – que remete à língua real falada no Moçambique de hoje.

2.2. Mudança do português em Moçambique no léxico


É na área do léxico que mais se revela o processo de nativização do PM (FIRMINO, 2008,
p. 8). Relativamente à formação e introdução dos moçambicanismos – unidades lexicais
neológicas do PM resultantes de diferentes processos de renovação e criação lexical – verifica-se
que todos os processos têm lugar, podendo-se salientar, por um lado, as palavras que passam de
uma modificação parcial (resultando em unidades estruturalmente híbridas), através de uso de
afixos do Português em bases de línguas bantu (khenhar- khenya (Xangana = dar rasteira) + -ar
(sufixo verbal)).

2.3. Mudança do português em Moçambique na morfossintaxe


Na área de morfonsintaxe destacam-se cinco subáreas:
a) Concordância

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O fenômeno de concordância no PM é marcado pela concordância variável no interior do
sintagma nominal (SN) (exemplos 1a,1b, 1c.) (JOHN-AND, 2010; GONÇALVES, 2010;
NHATUVE; FONSECA, 2013) e entre o sujeito e o verbo (exemplos 1d, 1e). A tendência é de se
usar o gênero e o número não marcados (masculino e singular), independentemente dos traços
morfossintáticos do núcleo nominal.
Exemplos 1:
1. Muitos já não respeita a tradição. (PE=respeitam)

Sob ponto de vista fonético-fonológico, Ngunga (2012, p.10) apresenta a inserção da nasal,
tal se pode ver nos seguintes exemplos: convinte* / ‘convite’, enkonomiya* / ‘economia’,
enzagero* / ‘exagero’, enzame* / ‘exame’, enzixte* /‘existe’, etc. Há ainda a o desvozeamento
dos sons consonânticos para falantes do emakhuwa como língua materna: kasa*/‘caça’,
kasa*/‘casa’, kasa*/‘Gaza’, teto*/ ‘dedo’. (Ngunga, 2012, p.11).
Exemplos 2:
a) […] as nossas sinceras desculpa…( NHATUVE; FONSECA, 2013).
b) […] autores mais importante… (NHATUVE; FONSECA, 2013).

b) Uso de artigos
No que tange ao uso dos artigos, a variedade moçambicana de Português caracteriza-se
por: 1. tendência para omissão do artigo no corpus analisado por Gonçalves (1997, p. 57), cerca
de 80% dos desvios têm a ver com esta tendência;
2. uso do quantificador universal todo e do dual ambos sem artigos ou demonstrativos;
3. ausência de artigos ou demonstrativos a precederem os possessivos; e
4. uso de preposições com complementos nominais sem artigos. (ATANÁSIO, 2002, p. 110-112).
Exemplos 3:
a) Recebi telefonema (GONÇALVES, 1997).
b) Vi tua mulher com fulano (GONÇALVES, 1997).

c) Articulação de orações relativas


Na articulação de orações, a subordinação relativa apresenta características peculiares no
PM (NHATUVE; FONSECA, 2013, p.145-156). Os verbos preposicionados tais como gostar de,

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falar de, discutir com, referir-se a, viver com etc. (NHATUVE; FONSECA, 2013), quando
integrados em orações que se articulam com outras por meio de pronomes relativos, perdem as
suas preposições ou a preposição usada é inadequada (exemplos 3a, 3b, 3c), conforme
Gonçalves et al. (1998, p. 98).
E, para além da omissão da preposição (parte do verbo), fica claro o uso do que como um
relativo universal, independentemente da semântica do elemento representado (exemplos 3a, 3b
e 3c).
Brito (2002, p. 303), por sua vez, num estudo sobre o uso do relativo cujo no PM revela os
seguintes casos:
1. relativas de cujo e o determinante demonstrativo esse;
2. relativas de cujo e o artigo definido;
3. relativas de cujo e o determinante possessivo seu etc.
Exemplos 4:
a) A casa que vivo é grande (NHATUVE; FONSECA, 2013).
b) A moça que te falei ontem chegou (NHATUVE; FONSECA, 2013).

d) Construção de passivas
Na construção das passivas sintáticas, processo que se resume na transformação dos
constituintes sintáticos, registra-se uma escolha aleatória dos elementos sujeitos à transformação,
dando lugar a estruturas como:
Exemplos 5:
a) O Pablo foi oferecido um livro pelo João (NHATUVE; FONSECA, 2013).
b) A criança foi nascido no hospital (NHATUVE; FONSECA, 2013).

e) Uso dos clíticos


A pronominalização também apresenta aspectos particulares tais como a lheização6, a
comutação da forma de objeto direto (OD) de terceira pessoa pela forma de sujeito e a seleção de
formas pronominais de OD não previstas no PE em função da terminação verbal
( GONÇALVES, 1996a, p. 313-322).
Exemplos 6:
a) Eu não ajudava a ela (GONÇALVES et al., 1998).

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2.4. O português de Moçambique foi resultado de uma Transmissão Linguística Irregular?
Verdadeiramente a LP em Moçambique chegou por meio da colonização ocorrida nos
séculos XV. A sua implementação encontrou uma resistência profunda por parte dos nativos
devido à existência de uma diversidade linguística enorme em diferentes etnias e regiões
espalhadas pelo extenso país (801.590 km²). As línguas faladas nesse período eram ágrafas, sem
escrita, e a oralidade tinha maior prestígio no seio da população. A chegada dos primeiros
exploradores gerou mudanças consideráveis na vida dos moçambicanos, sobretudo nas suas
línguas nas grandes cidades.

Em Angola e em Moçambique não houve crioulos porque:


a) as línguas africanas (maternas) eram usadas no cotidiano em todos os contextos, para lá
das situações pontuais de comunicação com os portugueses;
b) havia muitos intermediários bilíngues como missionários e mercadores;
c) a extensão territorial é vasta, dado o número diminuto dos seus falantes (portugueses) em
comparação com o número de falantes de LB;
d) a estabilidade e isolamento dos grupos rurais e a pouca mobilidade fortalecia as LB entre
populações autóctones (Pereira, 2006, p.68).

2.5. O português de Moçambique e os moçambicanismos


Segundo Lopes, Sitoe e Nhamuende (2013, p.17) “em Moçambique vem-se desenvolvendo
uma variedade de português que é moçambicana, no sentido em que há traços, características e
realizações formais e contextuais de moçambicanidade na fala e na escrita...”
Os Moçambicanismos seriam
indícios claros de afirmação de norma própria: na maneira original como adota o
seu vocabulário de origem bantu ao sistema português divergindo inclusivamente
da norma europeia (lusitana), no modo como simplifica a morfologia flexional
do português, como começa a optar pela ordenação dos elementos frásicos na
sequência discursiva e, sobretudo, como força o léxico do português a adaptar-se
à mentalidade africana, tanto nos semas inerentes como semas classemáticos: o
que implica, por vezes, uma reformulação do esquema frásico em alguns dos
seus modelos proposicionais (Vilela, 1995, p.68).

Nessa variedade, o que salta mais à vista dos falantes é a variação lexical, fonética e
semântica. Até nos dias de hoje, os falantes da língua xichangana ainda dizem: ku dlaya
nyocana! (matar o bicho!) para se referir à primeira refeição do dia que ocorre antes das 12h. E,

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assim, houve transporte desse contexto para português: “mata-bicho” que significa “café da
manhã” (no português do Brasil) ou pequeno-almoço (no PE). As palavras e expressões sograria
(casa dos sogros), cortar o ano (réveillon), falar-alto (subornar/corromper), wasso-wasso
(feitiçaria para amar alguém), tchapo-tchapo (rápido), pasta (mochila), machamba (horta, roça),
madala (idoso), baraca (lanchonete) ocorrem no PM e estão intimamente ligados à cultura
moçambicana.

2.6. Variação linguística no português / As variedades nacionais


A mudança que se observa numa língua no decorrer do tempo está em paralelo com a
mudança dos conceitos de vida de uma sociedade, na mudança das artes, da filosofia e da ciência
e, até, na mudança da própria natureza.
Essa evolução temporal, essa mudança diacrónica ou histórica é um dos aspectos mais
evidentes da variação inerente à qualquer língua. Mas também a língua varia no espaço, razão
por que o português apresenta as variedades nacionais de Portugal e do Brasil, países em que é
considerado língua nacional, e as de Angola, Moçambique, Cabo-Verde, GuinéBissau, São Tomé
e Príncipe e Timor, em que foi adoptado como língua oficial.

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CAPÍTULO 3: CONSIDERAÇÕES FINAIS
A discussão acerca deste assunto opõe vários linguistas: uns defendem a necessidade e a
possibilidade de normatização do PM, outros consideram que ainda é cedo para tal processo. No
entanto, sendo verdade que os aspectos que particularizam o PM são claramente evidentes,
constituindo um conhecimento relativamente estável, é legítimo que se comece o trabalho da sua
normatização.
Entretanto, implementação do programa de educação bilingue no ensino básico em
Moçambique suscita questões variadas, algumas das quais surgiram em secções anteriores deste
texto.
Finalmente notamos que as variações em língua Linguística em Moçambique abrangem
dimensões linguísticas, que incluem aspectos fonético fonológicos, morfossintáticos, semântico
pragmáticos e retóricos Um factor evidente que dá um aspecto único ao português falado em
Moçambique é a variação do sotaque que aparece em todas as línguas maternas de origem bantu
e que, muitas vezes, surge em conexão com uma transferência de propriedades dessas línguas

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CAPÍTULO 4: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ROMERO, Fernanda Saraiva, (1989) Uma história de outro jeito. São Paulo. Metáfora editora.
SEBASTAO, Lica et al. (1999). Português 11 Classe: Textos e Sugestões de Actividades.
Maputo: Diname.
FERREIRA, M. B. et al. (1996). Variação linguística: perspectiva dialectológica. In: FARIA,
Isabel. et al. (Org.). Introdução à linguística geral e portuguesa. Lisboa: Caminho.
________. (2005). Português de Moçambique: problemas e limites de padronização de uma
variante não-nativa. In: SINNER, Carsten. (Ed.). Norm und Normkonflikte in der
Romanian. Munich: Peniopel, p.184-195.
________. (1996b). Português de Moçambique: uma variedade em formação. Maputo: Livraria
Universitária-UEM.

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