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w de Lingua Portuguesa III
w de Lingua Portuguesa III
Tutor: D Nhatuve
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2. MARCO TEÓRICO
2.1. Mudança do português em Moçambique
No que concerne as questões linguísticas e olhando para o quotidiano detectamos que os
falantes de uma língua há um conhecimento comum que os permite usar a língua e, mais do que
fazer o uso, permite-os distinguir um uso adequado do inadequado (MATEUS; CARDEIRA,
2007, p. 19). Esta capacidade resulta de um reconhecimento de um determinado modo de falar,
que é uma linha comum de toda uma comunidade, a norma, o modo de uso da língua que,
normalmente, se usa na escola. O Português, tal como se referiu anteriormente, tem duas normas,
a norma europeia, originária da LP, e a brasileira, que resultou de fenômenos relacionados com a
variação e da necessidade de se valorizar as particularidades do falar brasileiro.
Entretanto, a situação atual da LP em Moçambique desencadeia várias questões no âmbito
da política linguística nacional. É que, apesar de se ensinar a norma do PE nas escolas, não se
fala um Português que se aproxime daquele padrão. O PM apresenta aspectos que o
particularizam sobremaneira.
A variação é também descrita como um fenômeno pelo qual, na prática corrente de um
dado grupo social, em uma época e em certo lugar, uma língua nunca é idêntica ao que ela é em
outra época e outro lugar, na prática de outro grupo social. O termo variação pode também ser
usado como sinônimo de variante.
Existem diversos fatores de variação possíveis - associados a aspectos geográficos e
sociolinguísticos, à evolução linguística e ao registro linguístico.
Variedade ou variante linguística se define pela forma pela qual determinada comunidade
de falantes, vinculados por relações sociais ou geográficas, usa as formas linguísticas de uma
língua natural. É um conceito mais forte do que estilo de prosa ou estilo de linguagem. Refere-se
a cada uma das modalidades em que uma língua se diversifica, em virtude das possibilidades de
variação dos elementos do seu sistema (vocabulário, pronúncia, sintaxe) ligadas a fatores sociais
ou culturais (escolaridade, profissão, sexo, idade, grupo social etc.) e geográficos (tais como o
português do Brasil, o português de Portugal, os falares regionais, etc). A língua padrão e a
linguagem popular também são variedades sociais ou culturais. Um dialeto é uma variedade
geográfica.Variações de léxico, como ocorre na gíria e no calão, podem ser consideradas como
variedades mas também como registros ou, ainda, como estilos, a depender da definição adotada
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em cada caso. Os idiotismos são às vezes considerados como formas de estilo, por se limitarem a
variações de léxico.
As variações em língua Linguística em Moçambique abrangem dimensões linguísticas, que
incluem aspectos fonético fonológicos, morfossintáticos, semântico pragmáticos e retóricos Um
factor evidente que dá um aspecto único ao português falado em Moçambique é a variação do
sotaque que aparece em todas as línguas maternas de origem bantu e que, muitas vezes, surge em
conexão com uma transferência de propriedades dessas línguas
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Sob ponto de vista fonético-fonológico, Ngunga (2012, p.10) apresenta a inserção da nasal,
tal se pode ver nos seguintes exemplos: convinte* / ‘convite’, enkonomiya* / ‘economia’,
enzagero* / ‘exagero’, enzame* / ‘exame’, enzixte* /‘existe’, etc. Há ainda a o desvozeamento
dos sons consonânticos para falantes do emakhuwa como língua materna: kasa*/‘caça’,
kasa*/‘casa’, kasa*/‘Gaza’, teto*/ ‘dedo’. (Ngunga, 2012, p.11).
Exemplos 2:
a) […] quando eles apresentar o programa…(NHATUVE; FONSECA, 2013).
b) A delimitação das fronteiras […] facilitam o melhor aproveitamento dos recursos
(NHATUVE; FONSECA, 2013).
b) Uso de artigos
No que tange ao uso dos artigos, a variedade moçambicana de Português caracteriza-se
por: 1. tendência para omissão do artigo; – no corpus analisado por Gonçalves (1997, p. 57),
cerca de 80% dos desvios têm a ver com esta tendência; 2. uso do quantificador universal todo e
do dual ambos sem artigos ou demonstrativos; 3. ausência de artigos ou demonstrativos a
precederem os possessivos; e 4. uso de preposições com complementos nominais sem artigos.
(ATANÁSIO, 2002, p. 110-112).
Exemplos 3:
a) …nossos professores estavam animados na festa (ATANÁSIO, 2002).
b) …com governador Mualeia… (ATANÁSIO, 2002).
c) … professores com governador… (ATANÁSIO, 2002).
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E, para além da omissão da preposição (parte do verbo), fica claro o uso do que como um
relativo universal, independentemente da semântica do elemento representado (exemplos 3a, 3b
e 3c).
Exemplos 4:
a) A casa que vivo é grande (NHATUVE; FONSECA, 2013).
b) A moça que te falei ontem chegou (NHATUVE; FONSECA, 2013).
c) A moça que vive o Plebe é Loira (NHATUVE; FONSECA, 2013).
d) Vai entrar onde que a gente dorme (GONÇALVES et al., 1998).
e) Recebi uma proposta por escrito cuja essa proposta era desfavorável (GONÇALVES et
al., 1998).
f) Tenho uma amiga que acontece a mesma coisa com ela (GONÇALVES et al., 1998).
d) Construção de passivas
Na construção das passivas sintáticas, processo que se resume na transformação dos
constituintes sintáticos, registra-se uma escolha aleatória dos elementos sujeitos à transformação,
dando lugar a estruturas como:
Exemplos 5:
a) O Pablo foi oferecido um livro pelo João (NHATUVE; FONSECA, 2013).
b) A criança foi nascido no hospital (NHATUVE; FONSECA, 2013).
c) O professor foi levado o livro pelo João (NHATUVE; FONSECA, 2013).
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2.4. O português de Moçambique e os moçambicanismos
Devido às variáveis sociais, o português falado em Moçambique se distancia do português
europeu, brasileiro, angolano, guineense etc. Segundo Lopes, Sitoe e Nhamuende (2013, p.17)
“em Moçambique vem-se desenvolvendo uma variedade de português que é moçambicana, no
sentido em que há traços, características e realizações formais e contextuais de moçambicanidade
na fala e na escrita...”
Os Moçambicanismos seriam
indícios claros de afirmação de norma própria: na maneira original como adota o
seu vocabulário de origem bantu ao sistema português divergindo inclusivamente
da norma europeia (lusitana), no modo como simplifica a morfologia flexional
do português, como começa a optar pela ordenação dos elementos frásicos na
sequência discursiva e, sobretudo, como força o léxico do português a adaptar-se
à mentalidade africana, tanto nos semas inerentes como semas classemáticos: o
que implica, por vezes, uma reformulação do esquema frásico em alguns dos
seus modelos proposicionais (Vilela, 1995, p.68).
E, assim, houve transporte desse contexto para português: “mata-bicho” que significa “café
da manhã” (no português do Brasil) ou pequeno-almoço (no PE). As palavras e expressões
sograria (casa dos sogros), cortar o ano (réveillon), falar-alto (subornar/corromper), wasso-wasso
(feitiçaria para amar alguém), tchapo-tchapo (rápido), pasta (mochila), machamba (horta, roça),
madala (idoso), baraca (lanchonete) ocorrem no PM e estão intimamente ligados à cultura
moçambicana.
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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
3.1. Conclusão
Depois de ter realizado este trabalho pude concluir que o português de Moçambique (PM)
atingiu níveis de variação na maior parte dos principais aspectos linguísticos: morfológicos,
sintáticos, lexicais, morfossintáticos, fonéticos, fonológicos etc.; todavia, ainda não é objeto de
uma normatização. A discussão acerca deste assunto opõe vários linguistas: uns defendem a
necessidade e a possibilidade de normatização do PM, outros consideram que ainda é cedo para
tal processo. No entanto, sendo verdade que os aspectos que particularizam o PM são claramente
evidentes, constituindo um conhecimento relativamente estável, é legítimo que se comece o
trabalho da sua normatização.
Nenhuma língua permanece a mesma em todo o seu domínio e, ainda num só local,
apresenta um sem-número de diferenciações.[...] Mas essas variedades de ordem geográfica, de
ordem social e até individual, pois cada um procura utilizar o sistema idiomático da forma que
melhor lhe exprime o gosto e o pensamento, não prejudicam a unidade superior da língua, nem a
consciência que têm os que a falam diversamente de se servirem de um mesmo instrumento de
comunicação, de manifestação e de emoção.
E por fim notamos que as variações em língua Linguística em Moçambique abrangem
dimensões linguísticas, que incluem aspectos fonético fonológicos, morfossintáticos, semântico
pragmáticos e retóricos. Um factor evidente que dá um aspecto único ao português falado em
Moçambique é a variação do sotaque que aparece em todas as línguas maternas de origem bantu
e que, muitas vezes, surge em conexão com uma transferência de propriedades dessas línguas
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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS